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Hilton P. Silva
PPGSAS
10.37885/210504445
RESUMO
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Pesquisa em Saúde & Ambiente na Amazônia: perspectivas para sustentabilidade humana e ambiental na região
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o município de Barcarena, Estado do Pará, tem se tornado conhecido
pelos problemas socioambientais em decorrência dos inúmeros acidentes ocorridos na área
industrial e portuária, e da acumulação de conflitos que iniciaram com a implantação dos
Grandes Projetos de desenvolvimento no final da década de 1970 (NASCIMENTO, 2019;
COELHO et al., 2017; CASTRO; CARMO, 2020).
O local tem como característica marcante o crescimento populacional acelerado e
desorganizado, motivado pela implantação sem o adequado planejamento de projetos in-
dustriais e da área portuária que serve à exportação. Nas três últimas décadas a população
se expandiu mais de sete vezes, saltando de 17.498 habitantes em 1970, para 127.027 de
população estimada no ano de 2020 (IBGE, 2021).
Em outubro de 1985 foi inaugurada em Barcarena a fábrica da empresa Alumínio
Brasileiro S/A – ALBRAS, para produção de alumínio primário. Em 1995 começou a funcionar
a fábrica da Alumina do Norte do Brasil S/A – ALUNORTE, que produz alumina, matéria-prima
do alumínio. O Complexo ALBRAS/ALUNORTE resultou da associação da Companhia Vale
do Rio Doce – CVRD com a Nippon Amazon Aluminiun Company LTDA – NAAC, consórcio
estabelecido por empresas e pelo governo japonês. Do ponto de vista da história socioeco-
nômica da Amazônia a empresa destaca-se por ser considerada como um empreendimento
de grande relevância no planejamento do desenvolvimento da região, mas também geradora
de grandes impactos sociais e ambientais, pois a geração de empregos é mínima nesse tipo
de indústria e os custos ambientais são altos (CARMO, 2000; FEARNSIDE, 2019).
A lógica seguida pelas empresas parte da apropriação dos imensos recursos naturais
da região, os quais são transformados, via grande capital, em divisas para o país. A Alumina
do Norte do Brasil S/A (HYDRO ALUNORTE) é atualmente a maior usina de beneficiamen-
to de bauxita do mundo. Estão instaladas também no distrito industrial de Barcarena duas
fábricas de beneficiamento de caulim da Imerys Rio Capim Caulim (IRCC), que contribuem
para o aumento da poluição ambiental na área e nos últimos anos tem crescido as opera-
ções portuárias voltadas para o mercado externo (AGUIAR et al., 2016; SAAVEDRA, 2019).
Diante do crescimento populacional, muitas áreas urbanas foram ocupadas em locais
inadequados, ocasionando situações de exposição à poluição ambiental e o aumento de
agravos relacionados a esses fatores, principalmente na ocorrência de acidentes industriais
com danos ambientais, bem como, ao processo cumulativo de poluição atmosférica, hídrica
e do solo (SILVA, 2012; COELHO et al., 2017).
Couto (2020) ressalta que a Amazônia é submetida à exploração predatória de seus re-
cursos naturais, o que implica em problemas ambientais e impactos na saúde decorrentes dos
projetos de desenvolvimento como hidrelétricas, mineração, ferrovias, portos e infraestrutura.
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Pesquisa em Saúde & Ambiente na Amazônia: perspectivas para sustentabilidade humana e ambiental na região
Este capítulo analisa os impactos na saúde decorrentes da poluição ambiental na área
da barragem de rejeitos de uma mineradora instalada no polo industrial de Barcarena, a
partir do levantamento dos principais agravos à saúde na comunidade rural do Bom Futuro
ocorridos após acidente industrial, enfatizando os fatores de risco relacionados com a vei-
culação hídrica na ocorrência do extravasamento de resíduos em 2018.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto
de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará, recebendo o Parecer
Consubstanciado Nº 3.040.640, em 27 de novembro de 2018.
Trata-se de um estudo de caso, conforme Gil (1999) que caracteriza como o estudo
profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir seu conhecimento
amplo e detalhado. Quanto à abordagem metodológica do problema foi de cunho qualitativo,
utilizando o método observacional, entrevistas semi-estruturadas, observação participante
e análise documental.
Foram entrevistados 6 (seis) informantes-chave selecionados entre os gestores e traba-
lhadores de saúde do município. O critério de escolha dos informantes baseou-se na atuação
que os mesmos tiveram nas ações de saúde na época do extravasamento em análise e a
relevância das informações que os mesmos poderiam fornecer. A análise e discussão dos
dados das entrevistas se deu por meio da técnica de análise de conteúdo. Esta técnica segue
as etapas de pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e
interpretação dos dados coletados (BARDIN, 2006).
Outra etapa do percurso metodológico foi o levantamento sobre os principais agravos
sofridos pela população quando ocorrem os acidentes ambientais, a partir da investigação
junto às unidades de saúde que prestaram assistência à comunidade. Também foram anali-
sados os relatórios da Vigilância em Saúde estadual e municipal e dos institutos de pesquisa
que atuaram após os desastres. Finalmente, houve participação em audiências públicas e
reuniões técnicas que aconteceram durante o processo de investigação dos danos ambien-
tais para coletar informações, a partir da técnica da observação participante (WHYTE, 2005;
FERNANDES, 2015).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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Figura 1. Localização da comunidade Bom Futuro às proximidades da barragem de rejeitos.
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Quadro 1. Cronologia dos acidentes ambientais em Barcarena de 2001 a 2018.
ANO OCORRÊNCIA
Carreamento de efluentes da produção de alumina para o Rio Murucupi.
Mortandade de peixes na praia de Itupanema.
2003
Carreamento de efluentes da produção de alumínio.
Nuvem de fuligem sobre Vila do Conde.
2004 Lançamento de efluentes da produção de caulim nos igarapés Curuperé e Dendê.
Floração de algas no igarapé Mucuruçá e Praia do Caripi.
2006 Contaminação de poços no Bairro Industrial com efluentes da produção de caulim.
Lançamento excessivo de fuligem das indústrias sobre o Bairro Industrial.
Carreamento de efluente ácido para os igarapés Curuperé, Dendê Rio Pará.
2007
Mortandade de peixes no Rio Arienga.
2008 Vazamento de óleo combustível no Rio Pará após naufrágio de rebocador da balsa Miss Rondônia.
2009 Carreamento de efluentes da produção de alumina para o Rio Murucupi.
2010 Nuvem de fuligem sobre o Bairro Industrial.
2011 Rompimento de duto com efluentes de caulim atingindo os igarapés Curuperé e Dendê.
2012 Fissura no mineroduto de caulim atingiu igarapés da região.
2014 Rompimento de duto de efluentes de caulim atingiu os igarapés Curuperé e Dendê.
2015 Naufrágio do Navio Haidar com vazamento de combustível, ração com base em feno e carga viva, no Porto de Vila do Conde.
2016 Lançamento de caulim no Rio Pará.
Carreamento de efluente da produção de alumina na Praia de Conde.
2017
Possível deposição de poeira vermelha sobre população no Trevo do Peteca.
Mortandade de peixes no igarapé Maricá, próximo à fábrica de fertilizantes.
Carreamento de efluentes de caulim para o Rio Murucupi.
2018
Carreamento de efluentes do processamento de alumina para o Rio Pará.
Carreamento de efluentes de caulim para os igarapés Curuperé e Dendê.
Fonte: Adaptado de Instituto Evandro Chagas (BRASIL, 2018c).
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tóxica, conforme explicado na Nota Técnica SAMAM-IEC 002/2018, apontando indícios de
extravasamentos para o ambiente externo à área da empresa (BRASIL, 2018a).
No levantamento de informações sobre a situação de saúde da comunidade foi identifi-
cado, a partir dos atendimentos realizados na época do extravasamento, que muitas pessoas
procuraram os serviços de saúde queixando-se de sintomas atribuídos à poluição ambien-
tal. Tais informações foram obtidas na análise dos relatórios de atendimentos realizados
nas unidades de saúde, consolidados pelo Departamento de Atenção Básica e Centro de
Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Barcarena - SEMUSB.
O levantamento demonstrou o quantitativo consolidado dos atendimentos segundo os
sinais e sintomas prevalentes relatados aos profissionais de saúde no período de fevereiro
a abril de 2018, durante as ações emergenciais realizadas na área (BARCARENA, 2019).
As dores abdominais foram as principais queixas verificadas nos atendimentos (669),
que representaram 25% das queixas, seguidas por cefaleia (523), que corresponderam a
19,5% dos atendimentos; as alterações de pele (446) que representaram 17% das queixas;
diarreia (392), com 15% das aferições e vômito/náusea (360), com 13%, também foram sinais
e sintomas prevalentes nos atendimentos, bem como, outras dermatoses (244), representan-
do 9% dos atendimentos; outros sinais e sintomas como dermatite (10), irritação ocular (08),
vertigem (03) e alterações respiratórias (21) representaram 1,5% dos atendimentos. No caso
da Comunidade Bom Futuro foram realizados 223 atendimentos em moradores da área que
procuraram tanto a Unidade Móvel, oferecida pela Secretaria Estadual de Saúde quanto as
demais unidades de saúde, o que significa 8% dos atendimentos registrados no período
emergencial (BARCARENA, 2019).
Nos dias iniciais dos atendimentos a Secretaria de Estado de Saúde do Pará (SESPA)
identificou que “duas comunidades foram potencialmente atingidas, denominadas de Bom
Futuro e Vila Nova, ambas localizadas nas imediações das bacias de resíduos e por onde
escoam igarapés usados para lazer, pescas de subsistência e possivelmente consumo”
(PARÁ, 2018, p. 2).
É importante destacar que a contaminação da água após o extravasamento é oriunda
de rejeitos da barragem, mais conhecidos como “lama vermelha”. O principal insumo utili-
zado no processo industrial é a soda cáustica, cuja principal característica é a alcalinidade,
que faz com que a lama seja corrosiva e tóxica. Na empresa são produzidas anualmente
cerca de 6 milhões de toneladas de rejeitos que contem cloreto de sódio (BRASIL, 2018b).
Na análise de conteúdo das entrevistas realizadas com os profissionais de saúde en-
volvidos nas ações e serviços após o extravasamento foi possível inferir quatro categorias:
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I - Situação da saúde após o extravasamento
Ainda não temos um perfil desses impactos na saúde humana devido a Vigi-
lância em Saúde Ambiental ainda ser uma Vigilância relativamente nova, por
exemplo, em casos de intoxicação exógena por metais pesados e/ou agrotóxi-
cos observamos: dor de cabeça, irritação na pele, coceiras, vômitos, diarreias,
cólicas abdominais; estes sintomas citados foram após notificações realizadas
no ano de 2018 quando houve o acidente ambiental da Hydro em Barcarena;
pela literatura sabe-se do potencial risco de possíveis efeitos carcinogênicos e
mutagênicos pela exposição e/ou intoxicação por metais pesados, porém não
temos esse perfil ainda de estudo da população de Barcarena. (E3).
Para dar uma resposta imediata ao problema instalado após o extravasamento foi
constituída uma Sala de Situação envolvendo a Secretaria de Estado de Saúde Pública
(SESPA), Secretaria Municipal de Saúde de Barcarena (SEMUSB), Secretaria Municipal
de Assistência Social de Barcarena (SEMAS), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento (SEMADE), Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade
(SEMAS/PA), a empresa Hydro Alunorte, Defesa Civil, dentre outras instituições que se re-
uniam diariamente pela manhã e à tarde para atualizar as informações e planejar as ações
emergenciais necessárias na comunidade.
Conforme recomendação do Instituto Evandro Chagas (IEC) ao emitir a Nota Técnica
SAMAM-IEC 002/2018, apontando indícios de extravasamentos para o ambiente ex-
terno à área da empresa Hydro Alunorte e no Relatório Técnico 02-2018/IEC-SAMAM
foi informado que:
As principais ações foram: evitar que as pessoas bebessem água dos poços
através de distribuição de água mineral e caixas d’águas abastecidas com
água de carros pipas (foram realizadas analises de água que evidenciaram
contaminação em alguns locais), consultas médicas e realização de exames
laboratoriais de rotina, se necessário, exames especializados como endos-
copia. (E3).
Com o desdobramento das ações emergenciais de saúde foi necessário realizar tria-
gem de pacientes que relataram sinais e sintomas possivelmente relacionados à exposição
de contaminantes ambientais para que os mesmos fossem encaminhados a especialistas e
realizassem exames de cabelo e sangue, para detecção de metais pesados. Os excertos a
seguir mostram as dificuldades do manejo clínico dos pacientes que tiveram alterações nos
resultados dos exames realizados:
E fizemos uma parceria também com o Estado, que ele veio e mandou uma
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equipe pra cá do Lacen pra fazer essa coleta também. Então quer dizer foi uma
equipe que veio dar um suporte pra gente, que era a coleta dos exames de
sangue, então duas vezes na semana tinha coleta de sangue aqui, justamente
desse pessoal acometido. (E2).
Quando foi no final do ano passado, quase no início deste ano a gente começou
a receber o resultado dos exames e aí a gente saiu numa busca incessante
atrás de toxicologista. Porque tinha que dar o segmento e o médico que tinha
que dar um parecer daqueles resultados que não eram laudos eram resultados
com algumas alterações que precisavam ser analisadas por um especialista.
A gente procurou, foi no Barros Barreto, foi no CRM, no Sindicato dos Médi-
cos, onde falavam que poderia ter, IML, a gente não conseguiu encontrar, foi
quando a gente decidiu contratar um médico do trabalho seguindo orientação
do Estado. (E5).
Outra questão levantada junto aos profissionais de saúde diz respeito às medidas
adotadas para a prevenção de problemas de saúde na comunidade principalmente quanto
aos cuidados com a água. Foi identificada a possibilidade de vários fatores de risco à saúde
humana relacionados à veiculação hídrica, principalmente no período chuvoso, no qual au-
mentam as inundações nas áreas mais próximas ao Rio Murucupi. Os excertos abaixo de-
monstram algumas ações preventivas de saúde ambiental efetivadas após o extravasamento:
Fornecer água potável para esta população para não correr o risco de tomar
água possivelmente contaminada; fornecer atendimento de saúde e monitorar
através de exames específicos (detecção de metais pesados no sangue) se
estas pessoas estão ou não intoxicadas e não esperá-las simplesmente adoe-
cerem; fazer que as empresas adotem sistemas de Vigilância para evitar e/ou
minimizar transbordamentos e/ou acidentes dos seus rejeitos para rios. (E3).
Silva (2012, p. 106) entende Rota de Exposição como “um processo que permite o
contato dos indivíduos com as substâncias químicas originadas de uma fonte de contami-
nação.” A Rota de Exposição é composta por cinco elementos que são: fonte de contami-
nação, compartimento ambiental e mecanismos de transporte, ponto de exposição, via de
exposição e população receptora. Uma população é considerada exposta se existiu, existe
ou existirá uma Rota de Exposição completa que ligue o contaminante químico com a po-
pulação receptora.
Em pesquisa sobre populações expostas a substâncias químicas provenientes de lixões,
Silva (2012) identificou que na Rota de Exposição podem ocorrer contaminações da água
para consumo humano, contaminação das águas subterrâneas, contaminação do solo, além
de alimentos contaminados por bioacumulação, embora nem sempre seja uma tarefa fácil
estabelecer uma conexão direta entre contaminação ambiental e efeitos na saúde.
No caso de Barcarena, os sinais e sintomas relatados pelos pacientes atendidos du-
rante as ações emergenciais de saúde podem ser relacionados à exposição química de-
vido à veiculação hídrica causada pelo extravasamento, bem como, à situação crônica do
lixão a céu aberto nas imediações da comunidade. Embora não seja possível assegurar
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que os agravos identificados no levantamento da situação de saúde da Comunidade Bom
Futuro tenham sido causados direta ou imediatamente pela recorrente poluição ambiental
existente na área, já demonstrada pelas análises de água realizadas pelos órgãos oficiais,
deve-se levar em conta os níveis consideráveis de exposição a metais pesados apontados
nos resultados dos exames de sangue e cabelo de moradores locais. Este fato pode ser um
indicador de alteração nos fatores de riscos ambientais e na saúde dessa população que
precisa ser melhor investigado em estudos mais profundos sobre a situação, haja vista que
existe pouca informação sobre a contaminação por elementos químicos tóxicos nos rios da
região (PEREIRA, 2019).
CONCLUSÕES
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exames e encaminhamentos especializados, pois foram constatados indícios de exposição
química nos exames toxicológicos de sangue e cabelo.
Gouveia e Prado (2010) consideram que aterros sanitários são potenciais fontes de
exposição humana a substâncias tóxicas através do solo e ar contaminados, percolação e
lixiviação de chorume. Estudos indicam níveis elevados de compostos orgânicos e metais
pesados no sangue de indivíduos que residem perto de aterros e apontam risco aumentado
de câncer de fígado, estômago, pulmão, rim, próstata, pâncreas e linfoma nesses indiví-
duos, além de possível associação com a ocorrência de anomalias congênitas, baixo peso
ao nascer, abortos e mortes neonatais. No entanto, as evidências dessa associação ainda
são controversas e insuficientes para confirmar o risco aumentado de câncer associado
a essa exposição.
Beltrami e colaboradores (2012) apontam que os acidentes com produtos perigosos no
Brasil têm apresentado importante potencial de causar impactos ao meio ambiente e riscos
na saúde como traumas, doenças e óbitos. Sendo que, “os efeitos dessas exposições ma-
nifestam-se desde a forma subclínica até os mais intensos, como as intoxicações agudas;
ou ainda, tomam a forma de doenças crônicas ou mesmo carcinogênese, mutagênese e
teratogênese” (p. 440).
Pesquisas realizadas pelo Instituto Evandro Chagas apontaram a alteração de nove
vezes nos níveis de chumbo no sangue de moradores de uma das comunidades localizadas
na área industrial de Barcarena, indicando a contaminação das pessoas submetidas a um
longo processo de exposição ambiental, sendo estes considerados os primeiros estudos
que evidenciam a exposição industrial a poluentes ambientais na Amazônia e demonstrando
os impactos ambientais e humanos dos grandes projetos minerários (QUEIROZ et al, 2019;
BRASIL, 2009; PEREIRA, 2019).
Sobre isto Castro e Carmo (2020, p. 11) enfatizam que: “A dor, o medo, a insegurança,
a mudança no quadro de saúde dos moradores, com doenças que se manifestam (respira-
tórias, de pele, gastrointestinais, além de outras mais graves que os moradores associam à
contaminação)” são consequências do processo histórico de desastres e crimes da mineração
na área industrial de Barcarena.
Desastres ambientais continuam a ocorrer com frequência em diversos polos industriais
brasileiros. A maioria desses eventos pode ser prevenida com medidas técnicas adequadas
(FONSECA, 2019, BARCELOS; CHAIN; MOTA; CAMARGO, 2021). Porém, como ocorrem
em áreas rurais, onde residem pequenos grupos populacionais, em sua maioria pretos e
pardos, socioeconomicamente vulnerabilizados, com pouco poder de pressão sobre as
empresas, as autoridades legais e sem visibilidade na mídia, as vidas das pessoas conti-
nuam a ser colocadas em risco impunemente e interesses privados suplantam interesses
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coletivos. Assim como ocorreu em Mariana e Brumadinho, no estado de Minas Gerais,
também em Barcarena os casos das comunidades da área industrial têm sido exemplos
similares de grandes impactos na saúde e da dificuldade da implementação adequada de
políticas de saúde ambiental, uma vez que a vigilância ambiental ainda é deficiente em mui-
tas regiões, se tratando de uma ecologia política da tragédia (MILANEZ, 2019; FABRÍCIO;
FERREIRA; BORBA, 2021).
AGRADECIMENTOS
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