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Aspectos Históricos e

Culturais do povo
Karajá – Xambioá

Francisco Edviges Albuquerque e Adriano Dias Gomes Karajá (Orgs.)

2016
Reitora
Isabel Cristina Auler Pereira

Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários - PROEX


Abraham Damian Giraldo Zuniga

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - PROPESQ


Waldecy Rodrigues

Diretor do Campus de Araguaína


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Coordenação do Projeto de Educação Escolar Indígena Krahô Bilíngue e Intercultural


Francisco Edviges Albuquerque

Diretora de Formação de Professores da Educação Básica / CAPES


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Coordenação Regional/FUNAI/ Palmas


Eduardo Macedo Machado

Chefe do NPPDS/FUNAI/ Palmas


Raimunda Brasil Macuxi

Coordenação Técnica da FUNAI/ Arguaína


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Diretoria Regional de Gestão e Formação de Araguaína


Maria Florismar Espírito Santos

Supervisor de Educação Escolar Indígena/DREA


Nelder Chaves

Líder de Grupo de Trabalho de Educação Indígena/SEDUC


Cleide Araújo Barbosa Mecenas
Aspectos Históricos e
Culturais do povo
Karajá – Xambioá

Francisco Edviges Albuquerque e Adriano Dias Gomes Karajá (Orgs.)


Projeto de Educação Escolar Indígena Krahô Bilíngue e Intercultural
A publicação deste livro foi viabilizada com apoio do Programa do Observatório da Educação, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES / Brasil - Edital 049/2012/OBEDUC - Projeto 11395.

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / Capes / Brasil

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá. Francisco Edviges
Albuquerque e Adriano Dias Gomes Karajá (Orgs.)
Campinas/SP : Pontes Editores, 2016, 103p.
ISBN: 9788571136960
1. Educação Escolar Indígena – Karajá-Xambioá – História – 371.32
2. Diversidade Cultural – Interculturalidade – 306
I. Francisco Edviges Albuquerque e Adriano Dias Gomes Karajá (Orgs.).
II. Título.
Impresso no Brasil - 2015

A organização deste livro contou com a participação do bolsista de PIBIC, Adriano Dias Gomes Karajá e dos professores
Karajá-Xambioá: Augusto Kuraha Karajá, Ijeressi Karajá, Luiz Kurikala Karajá, Jucelino Achurê Karajá.

Todos os direitos reservados aos Karajá-Xambioá: Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio de processo, es-
pecialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos, internet, notebook.
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com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (art. 102, 103 parágrafo único,
104, 105, 106 e 107 itens 1, 2 e 3 da Lei nº 9.610 de 19/06/98. Lei dos Direitos Autorais).
Professores Indígenas
Karajá-Xambioá Augusto Kuraha Karajá, Ijeressi Karajá, Luiz Kurikala Karajá, Jucelino
colaboradores do Achurê Karajá
Projeto:
Adriana Kahereru Karajá, Marlene kutaharu Karajá, Dacimar Achurê Karajá,
Colaboradores:
Mª. Violeta Achurê Karajá, Josué Txebuarè Karajá
Professores Indígenas
Augusto Kuraha Karajá, Ijeressi Karajá, Kurikala Karajá, Jucelino Achurê
Karajá-Xambioá
Karajá
Revisores:
Desenhistas Indígenas
Adriano Dias Gomes Karajá, Wendel Silva Sousa
Karajá-Xambioá:
Assessoria Linguística: Francisco Edviges Albuquerque.

Coordenação: Francisco Edviges Albuquerque.


Professores
Miguel Pacífico Filho, Sinval de Oliveira e Thelma Pontes Borges.
Colaboradores:
Adriano Dias Gomes Karajá, Alisson Almeida dos Santos, Ana Beatriz Sena
da Silva, Clarise Cardoso Leal, Danilo Soares de Souza, Jhon Silva de Moura,
Bolsistas de Graduação:
Lucieny de Castro Borba, Marcela Pereira de Assis, Marcos Dione da Silva,
Morganna Gomes Vasconcelos Moreira, Weslane de Oliveira Silva
Bolsista de Doutorado: Elisa Augusta Lopes Costa.

Bolsistas de Mestrado: Renato Yahé Krahô e Simara de Sousa Muniz.

Capa: Adriano Dias Gomes Karajá, Wendel Silva Sousa


Diagramação e
Wagner José Pires
Digitação:
Francisco Edviges Albuquerque, Luiz Kurikala Karajá e Adriano Dias Gomes
Revisão:
Karajá.
Adaptação Gráfica: Wagner José Pires
CONSELHO EDITORIAL

Clarissa Menezes Jordão (UFPR – Curitiba)


Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva ( UFMG – Belo Horizonte )
Maria Luisa Ortiz Alvarez (UNB – Brasília)
Edleise Mendes ( UFBA – Salvador )
Eni Puccinelli Orlandi ( Unicamp – Campinas )
Angela B. Kleiman ( Unicamp – Campinas )
José Carlos Paes de Almeida Filho (UNB – Brasília )
COMITÊ CIENTÍFICO

Josebel Akel Fares

Marcilene de Assis Alves Araújo

Raimunda Benedita Cristina Caldas

Rosineide Magalhães de Sousa

Severina Alves de Almeida

Sinval de Oliveira
APRESENTAÇÃO

A elaboração deste Livro surgiu como forma de desafio para registrar os aspec-
tos históricos, socioculturais e linguístico do povo Karajá-Xambioá no momento atual,
visto que os livros do povo estão se fechando e com eles todos os história e conhecimento
tradicional desse povo. Os livros e as bibliotecas para os povos Indígenas são os anciões,
portanto diante desses acontecimentos, observa-se que os mais novos não conhecem a
sua própria historia, não sabem nem mesmo preparar um prato típico do povo. Para isso
surge então esse projeto como ferramenta, que tem como objetivo registrar todos os dados
colhidos durante a pesquisa, como forma de contribuir com a cultura desse povo que vem
passando por um longo processo de revitalização.
Este acervo trará para as escolas do povo Karajá-Xambioá uma excelente fonte
de pesquisa, que irá auxiliar os professores indígenas e não indígenas, nas aulas, bem
como também tem um papel importante para comunidade, na revitalização de parte de
sua história, receitas medicinais, culinária, mitos e lendas, pinturas corporais, entre ou-
tros. Os temas contidos neste livro são trabalhados sem perder a essência dos aspectos
culturais de meu povo. Para isso, durante a realização da pesquisa, houve uma entrega
total e empenho dos anciões, aliados aos anseios dos demais colaboradores para que esse
material pudesse atender às expectativas do povo Karajá-Xambioá.
Não podemos falar que um povo perdeu sua história, podemos apenas falar
que sua história ficou parada no tempo. O povo Karajá-Xambioá caminha na linha da
revitalização de sua língua e cultura. Uma caminhada longa e difícil, diante dos recursos
tecnológicos apresentados pela sociedade não indígena. Assim, a cultura foi se perdendo
com o passar dos anos, em decorrência do contato permanente com a sociedade envolven-
te e esse material chega à proporção de registrar e guardar uma pequena parte da grande
história do povo Karajá-Xambioá que até o presente momento não havia sido registrada
em livros.
Adriano Dias Gomes Karajá
SUMÁRIO

Introdução ...............................................................................................................................................13
Calendário do povo Xambioá ...............................................................................................................28
História das Lendas Karajá-Xambioá ..................................................................................................29
A Lenda do Açaí .....................................................................................................................................30
Surgimento do Arco e Flecha................................................................................................................32
Surgimento do Karajá-Xambioá ...........................................................................................................33
Homem que virou Boto .........................................................................................................................35
A luta do jabuti com a Anta ..................................................................................................................37
O Jabuti e o Veado ..................................................................................................................................39
Origem da pintura corporal Xambioá .................................................................................................40
História do Jacaré ...................................................................................................................................42
Pinturas Corporais Karajá-Xambioá ...................................................................................................44
Pinturas Corporais Karajá-Xambioá ..................................................................................................48
Hawyynimaraha .....................................................................................................................................49
Rarajie ......................................................................................................................................................50
Òma ..........................................................................................................................................................51
Txuxò nõheraru ......................................................................................................................................52
Harabó ruweru........................................................................................................................................53
Haru .........................................................................................................................................................54
Òe Òe .......................................................................................................................................................55
Txaõhi òbirariti .......................................................................................................................................56
Anõti kyre ................................................................................................................................................57
Kure Wokudi de ......................................................................................................................................58
Hãwyy yri ................................................................................................................................................59
Hãwyy yri riti ..........................................................................................................................................60
Dòre ry .....................................................................................................................................................61
Òròruuteti................................................................................................................................................62
NOVAS PINTURAS KARAJÁ-XAMBIOÁ ........................................................................................65
RECEITAS MEDICINAIS .....................................................................................................................73
CANA DE MACACO ............................................................................................................................74
RAIZ DE FEDEGOSO ...........................................................................................................................75
FEDEGOSO ............................................................................................................................................76
BANHA DE TARTARUGA...................................................................................................................77
COMO EXTRAIR A BANHA DE TARTARUGA .............................................................................78
HÀLÀE TÒBÒ (azedinho) ...................................................................................................................79

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 11


TALO DE NAJÁ .....................................................................................................................................80
HÀDÒÒRA (batatinha) ........................................................................................................................81
FLOR DE ABÓBORA............................................................................................................................82
OWORU HÀDI (pódoi) ........................................................................................................................83
ANTIBIÓTICO NATURAL..................................................................................................................84
FOLHA DE ALGODÃO ........................................................................................................................85
CULINÁRIA KARAJÁ-XAMBIOÁ .....................................................................................................86
RECEITA DA CULINÁRIA KARAJÁ-XAMBIOÁ ...........................................................................88
Kobiku hera .............................................................................................................................................88
Anõnanõna ..............................................................................................................................................88
Calugi de arroz........................................................................................................................................89
Makixõmõ iwèru ...................................................................................................................................89
Calugi de Banana ....................................................................................................................................90
BORORÒ .................................................................................................................................................91
Anõnanõna ..............................................................................................................................................91
BERETI ....................................................................................................................................................92
Anõnanõna ..............................................................................................................................................92
PEIXE COM BANANA .........................................................................................................................93
Anõnanõna ..............................................................................................................................................93
BERARUBU ............................................................................................................................................94
anõnanõna ...............................................................................................................................................94
Cabeça de Porção Assada e Cozida .....................................................................................................95
PEIXE ASSADO .....................................................................................................................................96
BOLO DE BANANA..............................................................................................................................97
BOLO DO OVO DE TRACAJÁ ...........................................................................................................98
CALUGI DE ABOBORA ......................................................................................................................99
CALUGI DE MACAÙBA....................................................................................................................100
RELEMYHῩRE ....................................................................................................................................101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................102

12 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


INTRODUÇÃO

O povo Karajá-Xambioá também conhecido como Karajá do Norte está locali-


zado à margem direita do rio Araguaia, no município de Santa Fé do Araguaia, com uma
área de 3.326.3502 ha, demarcada em 03 de novembro de 1997, distribuído em quatro
aldeias a saber: Aldeia Xambioá, Aldeia Kurehê, Aldeia Wary-Lỹtỹ e Aldeia Hawa Tãma-
ra. Esse povo possui uma população aproximada de 593 habitantes, segundo dados do
DSEI/FUNASA (2010). O povo Karajá-Xambioá é classificado por Rodrigues (1986)
como pertencente ao Tronco Linguístico Macro-Jê e à Família Lingüística Karajá, falante
do iny rybè (fala do povo Iny).
O povo Xambioá preserva o meio em que vive, utilizando recursos naturais
necessários para sua sobrevivência; com um solo propício para a agricultura de subsistên-
cias, utilizando o sistema de roça de toco, a coleta de frutos, a caça e pesca são atividades
essenciais para a alimentação do povo,
Os Xambioá em sua história tiveram contanto com diversos grupos indíge-
nas, Kayapó, Xikrin, Metuktire, com os já extintos Irã-amrãire, os Apinayé e os akwẽm
(Xerente) no século XIX, conforme Toral (1982). Atualmente entre o período de julho a
agosto, o povo Xambioá deixa suas casas na aldeia e passa a residir na praia, localizada
no meio do rio Araguaia, mantendo viva uma cultura milenar, desde o período das guerras
entre outros povos indígenas pela as margens do rio Araguaia. O povo Xambioá utilizava
as praias como mecanismos de defesas, pois sabia nadar, enquanto os outros povos não.
Com isso, os Xambioá passavam a residir nas praias para se protegerem dos ataques dos
inimigos. Mesmo assim, hoje muitas anos depois, ainda preservam esse relato na história.
O povo Xambioá na década de 40 quase foi extinto, mas hoje conta com uma
população numerosa e continua lutando pela revitalização de sua língua e cultura. O
avanço desenfreado da tecnologia dentro das aldeias passou a ser uma preocupação e uma
ameaça, visto que os indígenas mais novos já estavam deixando seu passado cultural e
cultivando uma nova cultura. Diante de tamanho problema, era preciso fazer algo para
mudar esse panorama. Foi então que surgiu o projeto de revitalização da cultura Xambioá,
visto que é um povo que traz em sua história muitas lutas pela as margens do rio Araguaia,
na luta para preservar essa historia. Devido ao intenso decréscimo populacional, bem
como os contatos intensos com regionais, os Xambioá passaram por mudanças culturais
importantes, mas devido a tudo isso, atualmente há um consenso entre eles quanto a ne-
cessidade de implantar iniciativa destinada a prestigiar os aspectos mais tradicionais de
sua língua e cultura, como forma de afirmar sua identidade étnica, (Toral 1882).

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 13


Contexto Histórico
Os Karajá do Norte, o mais setentrional dos três grupos da tribo Karajá, são
tradicionais habitantes da região do baixo Araguaia. No século XIX, quando surgem as
primeiras notícias esclarecedoras sobre sua localização, encontravam-se definitivamente
separados dos demais Karajá (apenas alguns bandos percorriam a região ao norte da ponta
setentrional da Ilha) e das suas grandes aldeias. Segundo Ehrenreich (1948), os contatos
entre os Karajá do Norte, os Karajá e Javaé, já nesse período, eram bastante raros, mas
não inexistentes, devido à sua alta mobilidade. Até o séc.XIX, os Karajá do Norte ha-
viam tido contato com “brancos” através dos assaltos de paulistas às suas aldeias ocorri-
das durante o séc.XVII e cuja relação está nos registros de expedições escravagistas no
séc.XVIII. Durante o governo de Fernando Delgado (1809-1820) em Goiás, eles teriam
enviado emissários à capital da província, “mostrando as melhores disposições para se
submeterem ao regime dos aldeamentos”. Alencastre, lamentando o fim da política de
aldeamentos governamentais adotado durante a época de vigência do diretório pombalino
afirma que o governador “não lhes deu a menor importância” (1865,100-101). Mantinham
relações alternativamente hostis ou de intercâmbio com grupos Kaiapó Ira Ãmrãire, os
Apinayé e Tapirapé, cujas aldeias encontravam-se instaladas em pontos do baixo Ara-
guaia. A primeira avaliação da população Karajá do Norte foi feita em 1844 e indicava a
existência de 2.500 pessoas aproximadamente, vivendo em três grandes aldeias. Dados
posteriores, obtidos em 1847, 1859 e 1887 apontam sempre a existência de 3 a 4 aldeias,
a maior parte delas nos mesmos lugares e com os mesmos nomes. Sua área de ocupação,
no séc.XIX, abrangia mais de 240 km de rio, dos 7º.30’ até 5º. 50’ de latitude sul, segundo
(Ehrenreich (1948), eram referidos por todos os que os visitavam como o mais próspero
dos grupos Karajá, com as maiores e mais populosas aldeias.
A partir do final do séc. XIX em diante, os efeitos dos choques com guarnições
militares dos “presídios” construídos na região para vigiá-los e garantir a navegação, da
repressão promovida por missionários capuchinhos aliados à violenta aparição de epi-
demias causaram o desmoronamento de sua população e uma mudança na composição
dos grupos. Cerca de aproximadamente 2.000 pessoas em 1842 declinam para 1.350 em
1887, 60 em 1940 e 40 pessoas em 1959, o número mais baixo que jamais atingiram.
Segundo esse autor (idem),em 1930 as “grandes aldeias” dos antigos “Xam-
bioá” encontravam-se reduzidas a 08 grupos locais, uma quarta parte dos quais vivendo
próximos a núcleos regionais. A tendência dos remanescentes, como se vê, foi de espa-
lharem-se em pequenos grupos, basicamente compostos por apenas uma família extensa.
Havia, no entanto, visitas e intenso intercambio entre eles. Por volta de 1920/30 a popu-
lação Karajá do Norte encontrava-se vivendo nos seguintes grupos locais: grupos Locais
Karajá do Norte em 1920/1930.

14 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


Manamyry P.I. Xambioá Kabitxaná Araguanã Xiwahatí São Domingos Koro
Itaipavas Tomare faz. Santa Rita Haririwa Cinzeiro Berorehe Liberano ou S. Francisco
Kabiriry Foz do Cabiruru. Além desses, os Karajá do Norte me relataram a existência de
diversos outros grupos locais, que não sei se constituem aldeamentos de ocupação contí-
nua ou temporária, apenas para manter relações com os adventícios. É o caso, por exem-
plo, dos arranchamentos estabelecidos provisoriamente junto ao garimpo Pedra Pretos,
no local conhecido como Karabitxaná. Além de contarem com uma população de trinta
(30) pessoas, bem reduzida os remanescentes encontravam-se dispersos em locais distan-
tes uns dos outros, como Araguanã e a aldeia da foz do Kabiriry. A partir da década de 40,
os representantes do Serviço de Proteção aos Índios passam a atuar no sentido de reunir
a população dispersa nas proximidades do local denominado Água Fria, que é o nome
de um tributário da margem esquerda do Araguaia, ao norte dos limites da atual reserva,
onde o órgão pretendia estabelecer um posto (Mensageiro do Santo Rosário: junho de
1944, (Ehrenreich: 1948, 21).
Karajá-Xambioá em 1920/1930
Nome da aldeia Nome atual do local
manamyry P.I Xambioá
Kabitxaná Aruguanã
Xiwahati São Domingos
Koro Itaipava
Tomaré Faz. Santa Rita
Haririwa Cinzeiro
Berorehe Liberando ou S. Francisco
Kabiriry Foz do Cabiruru
Fonte: Ehrenreich, 1948

Os Karajá-Xambioá ou Karajá do norte relatavam a existência de diversos ou-


tros grupos locais, que não se constituía aldeamentos de ocupação contínua ou temporá-
ria, apenas para manter relações com os adventícios. É o caso, por exemplo, dos arrancha-
mentos estabelecidos provisoriamente junto ao garimpo Pedra Pretos, no local conhecido
como Karabitxaná. Além de contarem com uma população de trinta (30) pessoas redu-
zidas aos remanescentes, encontravam-se dispersos em locais distantes uns dos outros,
como Araguanã e a aldeia da foz do Kabiriry.
Já na década de 40, os representantes do SPI - Serviço de Proteção aos Índios
passam a atuar no sentido de reunir a população dispersa nas proximidades do local de-
nominado Água Fria, que é o nome de um tributário da margem esquerda do Araguaia,
ao norte dos limites da atual reserva, (Mensageiro do Santo Rosário: junho de 1944,(

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 15


Ehrenreich: 1948, 21).
Essa tentativa do SPI teria se seguido outra, junto à aldeia Kabiriry (“ca-
minho da bacaba”), situada próximo à foz do rio de mesmo nome, no limite sul da atual
reserva. Essas primeiras tentativas do S.P.I. De reunir o grupo parecem ter sido inviabili-
zadas pela dificuldade de convivência dos diversos remanescentes numa única aldeia. As
diversas famílias, cada uma com lideranças independentes, passaram a entrar em atritos,
que se traduziam em brigas, discussões, acusações de feitiçaria e assassinatos, agravados
por doenças e alcoolismo (que atingia o grupo devido principalmente à atuação dos rega-
tões que compravam pirarucu salgado e couros de índios que “aviavam”, freqüentemente
a troco de cachaça). Segundo depoimento de Lao, cacique do grupo em 1982, num só dia
foram mortos dois velhos, uma mulher e uma criança. A quase impossibilidade de conví-
vio, aliada a impraticabilidade do porto da aldeia Kabiriry à atracassem de grandes em-
barcações, foram suficientes para seu abandono pela quase totalidade de seus habitantes,(
EHRENREICH. 1948).

As brigas pela Liderança do povo Xambioá


Ainda na década de 40, a facção liderada pelo capitão Manuel Achurê, originá-
rio de Araguanã, tornou-se predominante no controle da política interna e no controle da
relação com o S.P.I. e posteriormente com a FUNAI controlavam não só o fluxo de bens,
oportunidades de empregos e vantagens proporcionadas pelo órgão federal, mas também
os assuntos que dizia a toda comunidade como: venda de madeira da AI Xambioá (terri-
torialmente definida desde 1960), comércio com regatões conduzidos pela facção Achurê,
eram conflitantes com as dos representantes do S.P.I./Funai, em especial os “negócios”
envolvendo venda de madeira e terras “indígenas”. A “facção” Achurê engloba os descen-
dentes de Antonio Achurê (pai de Manuel).
Em 1984, a facção Achurê sentiu-se prejudicada em função de haver perdido
a chefia formal para outra, liderada pelo cacique Borori txebuware, escolhido em “vota-
ção”. As tensões decorrentes da utilização da verba, destinada ao Posto pela 16ª Delegacia
Regional da Funai pelo cacique eleito tornaram-se insuportáveis. Em 1985 o cacique Bo-
rori, liderando um grupo de dissidentes, funda a aldeia Kurehe, ou “Nova”, a apenas 3 km
da antiga. Nessa última permanecem apenas aqueles que faziam parte da facção Achurê,
então agrupada em torno a Txukodese (Txukó ou Maria Floripes), neta de Antonio Achu-
rê e filha de Manuel Achurê. Txukodese, professora bilíngüe assalariada da Funai, embo-
ra não fosse líder formalmente reconhecida como “cacique” possuía influência decisiva
na política interna.
Mesmo sendo o cacique escolhido através de um mecanismo inédito (voto se-
creto!) e sendo “reconhecido” pela Funai, ainda assim a facção Achurê teve força sufi-

16 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


ciente para permanecer dominante na aldeia e a não dar outra alternativa para os descon-
tentes que não fosse a fundação de uma nova.
Com a morte prematura de Txukodese em 1988, aos 35 anos, a liderança da
facção Achurê na aldeia “do Posto” ficou difusa entre seus diversos membros, nenhum
deles com temperamento e energia para impor a restrição estabelecida pelo grupo haven-
do em 1985, as relações entre as duas aldeias, que têm populações numericamente equi-
valentes, encontram-se praticamente normalizadas. (Maia:1987).

Designação do Nome Karajá-Xambioá


A referência a esse passado “congelado”, segundo Maia (1987), no caso especí-
fico da construção dos nomes dos atuais Karajá-Xambioá, parece seguir o mesmo tipo de
raciocínio que utilizaram para “redefinir” sua identidade étnica, essa ligação aos antigos
grupos locais, geralmente compostos por uma única família extensa, permaneceu através
da preservação dos nomes de seus líderes, agora transformados em “sobrenome” dos atu-
ais Karajá-Xambioá. Um nome completo típico, hoje em dia, compõe-se de: (1) prenome
em português, (2) prenome em Karajá, (3)”sobrenome”familiar (o nome do líder familiar
ancestral) e (4)”sobrenome” étnico (“Karajá”).
Por exemplo, temos os nomes das duas principais lideranças em 1988: Maria
Floripes Txukodese Achurê Karajá e Josué Borori Txebuware Karajá, descendentes dos
antigos chefes de família chamados, respectivamente, Achurê e Txebuware. Os líderes
fundadores dos grupos de descendência atuais nasceram por volta do final do século pas-
sado, como o pai de Manuel Achurê, Antonio Achurê.
A utilização dos nomes dos antigos líderes familiares, para esse autor (idem),
reflete uma tentativa de remissão a uma comunidade “original”, fundadora e legitima-
dora da identidade e “cidadania política” dos atuais Karajá-Xambioá. Fora do recurso
à utilização dos nomes desses ancestrais não existe “cidadania política” suficiente para
reivindicação de direitos à participação e à voz na disputa entre famílias e indivíduos
Karajá-Xambioá.
No passado distante esse povo era conhecido por “Karajá do Norte” e hoje se
autodenominam “Xambioá” sugere, num momento que o grupo valoriza sua condição
de “índios”, um esforço em identificar-se prioritariamente com a macro-etnia Karajá, em
detrimento de sua micro-identidade (Maia:1987). Sua atual denominação não os coloca
como um grupo cultural e linguisticamente divergente em relação aos demais Karajá (e
Javaé), a cultura e linguisticamente definido e que, ao contrário deles mesmos, em função
de uma brutal perda de população e de casamentos mistos.
Os demais grupos inỹ (Karajá e Javaé) continuam a referir-se a eles como ixy-

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 17


biowa, “amigo do pessoal” (nome de uma antiga aldeia que existia próxima á foz do rio
de mesmo nome, à montante das atuais aldeias, e que, especulativamente, pode ter sido
estendido a todos os Karajá do Norte) ou iraru mahãdu, “o pessoal de baixo”, em opo-
sição aos demais karajá, ibòò mahãdu, “os de cima”, ou do alto e médio Araguaia. No
passado e no presente a denominação é dada, fundamentalmente, pela sua localização ao
longo de um eixo, o rio Araguaia. Os Karajá-Xambioá tentam “congelar” seu passado,
temendo não poder reproduzi-lo no futuro.

Povo Xambioá Hoje


Hoje o povo Xambioá está localizado às margens do rio Araguaia, já não está
em conflito com nenhum outro povo, procurando manter sempre a harmonia com todos os
parentes (nome referente a outros indígenas), buscando viver em um futuro tecnológico,
sem esquecer suas raízes tradicionais, as casas cobertas de palhas com paredes de barro
estão deixando de existir e dando espaço às casas cobertas de telhas com paredes de tijo-
los (alvenaria), algumas outras feitas de tábua.
Dividido atualmente em quatro aldeias, o povo Xambioá ainda preserva tra-
ços das duas famílias que por muito tempo ficaram no poder, a família achurê e txebu-
aré, na aldeia Xambioá estão no poder, bem como a família Temassari, além dessas há
também vestígio das famílias Achurê e Txebuaré. Na aldeia Kurehê não há vestígios
das grandes famílias do povo Xambioá, já na aldeia Wari-lỹtỹ o poder está nas mãos da
família Lawari. Nesta mesma aldeia encontram-se remanescentes da família Achurê e
família Mahunawi. A aldeia Hawa Tamara está no poder da família Txebuaré, além dos
descendentes da família Achurê.
Os Karajá-Xambioá, ou Karajá do Norte constituem um povo que, como
seus parentes Karajá e Javaé são classificados pela linguística hegemônica ocidentais
como pertencentes ao tronco linguístico Macro-Jê, à família linguística Karajá e como
falantes da língua Karajá (RODRIGUES, 1986). Em suas próprias designações, entre-
tanto, constituem o Iny mahãdu (povo Iny) e são falantes do iny rybè (nossa fala, fala do
povo Iny). Tradicionalmente por habitarem às margens do baixo curso do Berohokỹ (Rio
Grande ou Rio Araguaia), de fundamental importância para sua existência física e cosmo-
lógica. Por isso, são conhecidos entre os povos Iny (Karajá e Javaé) como Iraru Mahãdu
(povo de baixo) ou como Ixỹ biawa, ou ainda Ixỹbiòwa (povo amigo, povo companheiro),
de onde proviria a denominação Xambioá (RODRIGUES, 2008, p. 28).
A Terra Indígena Xambioá, além de considerável extensão do rio Araguaia,
de todo o território de matas e cerrado circundantes, é composta atualmente por quatro al-
deias: Aldeia Xambioá, Aldeia Wary-Lỹtỹ, Aldeia Kurehê e a Aldeia Hawa-Tymara, cons-
tituídas predominantemente por famílias Karajá-Xambioá, mas também por um grande

18 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


número de famílias Guarani Mbyá. Muitas são ainda as famílias constituídas através de
casamentos interétnicos entre indígenas e não indígenas. A presença de não indígenas,
assim como a do povo Guarani foi, em determinado momento, crucial para o restabeleci-
mento quantitativo do povo Karajá-Xambioá, quando de sua maior redução populacional,
em 1960, quando chegaram a apenas 40 pessoas (TORAL, 2001, p. 4). Contudo, se por
um lado a presença não indígena contribuiu com a manutenção física do povo Karajá-
-Xambioá, através de casamentos interétnicos, por outro lado, contribuiu também com
mudanças significativas em seus costumes e tradições culturais (TORAL, 1992, p. 31).

Língua Karajá-Xambioá
A Língua do povo Xambioá é a mesma utilizada pelos Karajá e Javaé. Nessa
língua entre os Karajá-Xambioá encontram-se poucas diferenças na pronúncia, tanto na
fala masculina como na feminina. O nome das letras em Karajá se aproxima do Portu-
guês, embora haja exceções para as seguintes letras: j se pronuncia como d antes da letra
i; a letra k se pronuncia como c antes de a; e o r se pronuncia como r, mesmo no início
de palavras. S se pronuncia com a língua entre os dentes. T se pronuncia com a língua na
mesma posição que o d . X possui apenas um som de ch na palavra “chá”. À é um som
neutro, que se forma no meio da boca. Ò se pronuncia como ó (aberto). È se pronuncia
como é (aberto). Y representa um som entre o i e o u, que se pronuncia com a língua
elevada no centro da boca e com os lábios não arredondados. As palavras Karajá são oxí-
tonas, com exceção dos verbos que se acentuam na raiz. Tanto a grafia das palavras em
Karajá como a descrição dos sons da língua foi realizada de acordo com Fortune (1963,
1964).
O alfabeto Xambioá possui 28 letras sendo, 14 consoantes; B, D, H, J, K, L,
M, N, R, S, T, TX, X e W, e 14 vogais. Destas, 10 são vogais orais: A, À, E, È, O, Ò,
I, U, Y, ù, e o T nasais: Ã, Ĩ, Õ, Ỹ , visto que na escrita Xambioá, o acento cai na última
silaba, quando não é verbo. Na grafia Xambioá há diferença entre a fala feminina e fala
masculina, sendo que a maioria das palavras são diferentes ou modificadas, uma vez que
a única exceção e a citação direta, quando estão contando uma história tanto o homem
quanto a mulher empregam a fala um do outro, a diferença apresentada está na presença
da letra “K” na fala feminina, enquanto este não aparece na fala masculina;
CONSOANTE KARAJÁ-XAMBIOÁ;
B, D, H, J,K, L, M, N, R, S, T, TX, X, W.
vogais Orais: A, À, E, È, O, Ò, I, U, Y, ù.
Vogais Nasais: Ã, Ĩ, Õ, Ũ, Ỹ

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 19


Relação grafema/fonema - Karajá-Xambioá
Letra Iny Fonologia Português
a abòròrò / abɔɾɔɾɔ / jacaré-açu
abòtò / abɔtɔ / coruja
ara /aɾa / inhame
à hài /ɦai / perereca
hàri /ɦaɾi / pajé
ãdàhà /ãdaɦa / cará/inhame
e bero /bɛɾɔ / rio
berohokỹ / bɛɾɔɦɔkə̃ / rio Araguaia
bedero /bɛdɛɾɔ / varjão
è nawii-dè /nawii-dɛ / carne de pássaro
nawii-dè /nawii-dɛ / carne de pássaro
utura-dè / utuɾa-dɛ / carne de peixe
o kaiboho /kaibɔɦɔ / vocês
inyboho /inəbɔɦɔ / nós
tiiboho / tiibɔɦɔ / eles/elas
ò òtuni /ɔtuni / tracajá
òtu /ɔtu / tartaruga
bòrò /bɔɾɔ / arraia
i tai /tai / por isso
ini /ini / nome dele ou dela
kai / kai / você
u txuu / ʧuu / sol
juhuu / ʤuɦuu / faz tempo
ruuni / ɾuuni / melancia
y inỹ /inə̃ / Karajá
tyby / təbə / pai dele/dela
ilyby /iləbə / preto
ù bùù /buu / seu pai
ùrile / uɾilɛ / grátis
bùtùmy / butumə̃ / todos

20 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


ĩ ĩhĩ /ĩɦĩ / irmão dela mais velho
ãhĩ /ãɦĩ / mosquito
tỹhĩna / təɦ̃ ĩna / dormida
ã tainã /tajnə̃ / estrela
mõnã / mõnə̃ / remédio
womã / wɔmə̃ / machado
õ õri / õɾi / anta
õritxi / õɾiʧi / mutum
ijõ /iʤõ / outro
ỹ ỹỹ /əə̃ ̃ / caldo
ỹnỹna /ə̃nə̃na / praia
rỹna /ɾə̃na / cadeira
b buhã /buɦə̃ / boto
byrena / bɨɦɛnə / comida
boro / bɔɾɔ / arraia
d dòròtò / dɔɾɔtɔ / língua
debò / dɛbɔ / dedo
dedesi / dɛdɛsi / pataca
m mõbo / mõbɔ / quem?
mai /mai / milho
mãnã / mãnə̃ / pedra
h hãbu /ɦãbu / homem
ɦãwyy / ɦãɨɨ / mulher
horeni / ɦɔɾɛni / coco
j jiãrỹ /ʤiãɾə̃ / eu
iyja / iɨʤa / pequeno
jyrè / ʤɨɾɛ / ariranha
K kau /kau / ontem
kai /kai / você
kohe /kɔɦɛ/ se
l hemylàlà / ilyby / ɦɛmɨlala /ilɨbɨ / hemylàlà / cobra / preto
lamamy /laməmɨ / em pé

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 21


n noijàà /nɔiʤaa / flor
narihi /naɾiɦi / remo
nõnõè / nõnõɛ / sereno
r rara /ɾaɾə / foi em bora
rareri /ɾaɾɛɾi / vem vindo
rõrõra / ɾõɾõɾə / dormiu
s sihò / siɦɔ / pente
samõ /samõ / oiti
sowemy /sɔwɛmɨ / muito
t tii /tii / ele/ela
tainã /tajnã / estrela
tori / toɾi / não-índigena
tx txitxitxitxi /ʧiʧiʧiʧi / joão-de barro
oritxi /ɔɾiʧi / mutum
itxò /iʧɔ / porta
w wabiòwa / wabiɔwə / meu amigo
wahõrõ /waɦõɾõ / meu
womã /wɔmã / machado
x otxixa / ɔʧiʃa / borboleta
bexi / bɛʃi / bofe
bexixake / bɛʃiʃakɛ / acorda

Exemplos de fala masculina e feminina;


Ex: BIKU__ fala feminina a presença do “K,” BIU__ fala masculina sem a
presença do “K”.
Há também situações quando ocorre duas vogais nalizadas, “Ô e “Õ” a fala
feminina recebe um acréscimo da letra “N” entre as duas vogais;
Ex: AÕBO__ fala masculina, ANOBO__ fala feminina e nota se a presença
da letra “N”.

Pronomes Possessivos
Wa = meu, minha
A = seu, sua

22 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


I = dele, dela
Reny = deles, delas

a) Lahi – avó
Walari - minha avó
Alahi - sua avó
Ilahi - avó dela
Lahireny - avó delas

b) Labié – avô
Walabié - meu avô
Alabié - seu avô
Ilabié - avô dele
Labiéreny - avô deles

Palavras em inỹ rube


Awire - bom
Boholake – escute
Bunyké - sente
Rara – foi embora
Rareri – vem vindo
Makè – vai
Mobo– quem
Kõre – não
Kohe – sim
Mynake – vem cá
Kôikè – não mexa
Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 23
NOMES DE FAMÍLIA
Waha – pai
Nadi – mãe
Lahi – avó
Labié – avô
Seriore – irmão
helỹỹna – irmão mais novo
umydela – irmão mais velho
labry – tio paterno mais novo
buura – tio paterno mais velho
lerỹ - prima
exi – primo mais velho
wahî – primo mais velho
nyrỹ- prima mais velha
esoru – prima mais nova
ladirà – tia materna
rioreriore – neto
riore – filho
birena – namorada
wahãbu – meu esposo
wahawyy – minha esposa

NOMES DE ANIMAIS
Hãlòè – onça
Òtu - tracajá

24 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


Òtuni – tartaruga
Haniè – galinha
Hajù – paca
Ijoròsa – cachoro
Òròbi – macaco
Bodòè – viado
ixỹ - porco
Óròwete – rã
Waririmy – tamanduá bandeira
Òhã – tatu
Làwyty – rato
Wari – maguari
Òhòrati – mosca
Abóróró – jacaré
Asara – lagarto
Õri – anta
Waririni ijyy – tamanduá

NOMES DE AVES
Õritxi – mutum
Waka – mergulhão
Dòre – papagaio
Nawikie – ema
Werumysasa – passarinho
Warare – colhereiro
Wari – maguari
Kujakuja – seriema
Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 25
Toso – pica-pau
Wakòreheky – jaburu moleque
Hãnie – galinha
Rara – urubu

NOMES DE PEIXES
Hãti – mandi
Ryri – piranha preta
Ῡnahakỹ- Curimatá
Juata – piranha vermelha
Womõ – piau cabeça gorda
Hãriwa – pacu branca
Mytỹhỹwe – piau flamengo
Hãriwa – bire – pacu ferrada
Ryrie – cari/cascudo
Ryrajuè – pacu dente seca
Hãretu – surubim
Mananatiru – barbado
Hãriwa – pacu
Myriwe – piabinha
Benõra – tucunaré
Turè – pirarára
Irajò – aruanã
Ῡnadura – bicuda
Ehy – cuiú-cuiú
Bywi – piau vara
Bòrò – arraia
26 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá
Bòdòlèè – pirarucu
Txyry – cara pirosca
Bedò – filhote
Hàriiri – caranha
Ῡnana – jaraqui
Myrina hakỹ - tubarana
Burã – boto

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 27


CALENDÁRIO DO POVO XAMBIOÁ

Janeiro – debò ahãdu – mês do início do ano.


Fevereiro – beèmyhỹkỹ ahãdu – mês das grandes enchentes.
Março – beòra tya ahãdu – mês da média enchente.
Abril – behetxi ahãdu - mês em que o rio começa a baixar.
Maio – wyra tỹmyra ahãdu – mês do início do verão.
Junho – wyra tỹmyra ahãdu – mês do início do verão.
Julho – otu sina dele ahãdu – mês em que o tracajá começa a botar ovos na praia.
Agosto – oturiore beresèna ahãdu – mês de desova dos tracajás.
Setembro – asideriò nõirasa ahãdu – mês em que o ipê amarelo floresce.
Outubro – biu delè ahãdu – início as primeiras chuvas.
Novembro – hãbunõetè sòna ahãdu –mês do caju.
Dezembro – ura nõirasa ahãdu – mês em que as mangabas estão florescendo.

28 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HISTÓRIA DAS LENDAS KARAJÁ -XAMBIOÁ

O povo Xambioá preserva suas histórias há gerações. Os mais velhos (anciões)


são os contadores de suas histórias, assim como dos mitos, lendas as histórias são repas-
sadas para os mais novos, do meado de junho a agosto. Quando o povo Xambioá acampa
na praia, os anciões reúnem todos em volta do fogo e contam as histórias.
Os anciões do povo Xambioá são visto dentro da aldeia como um “livro”, uma
biblioteca. Esses livros estão sendo recolhidos pelo Kanaxiwe (Deus) e estão levando
juntos a história do povo. Os mais novos não conhecem sua própria origem, os mitos, as
lendas; e as histórias ficaram paradas no tempo, assim, os mais novos não conhecem sua
história porque já não são mais contadas nos acampamento nas praias e pouco contadas
nas escolas.
Depois de muitos anos, o passado histórico do povo Xambioá vai à linha da
contra mão, com os novos recursos apresentados pela sociedade não indígena, as histórias
cederam espaços para tecnologia.

Adriano Dias Gomes Krahô

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 29


A LENDA DO AÇAÍ

Há muito tempo havia neste lugar um povo indígena bastante numeroso. Esse
povo era bastante guerreiro, sempre defendendo seu território. Havia em sua reserva bas-
tante comida e viviam felizes com tudo que a natureza os oferecia para se alimentarem,
mas com o passar do tempo, esse povo foi cada vez mais aumentando sua população, po-
rém quando havia bastantes pessoas e a alimentação não era o suficiente para alimentar
todos da aldeia.
Como a alimentação ficou muito pouca, os índios começaram a morrer de
fome, visto que os peixes que pescavam já não eram o suficiente. As frutas colhidas não
davam para saciar fome de todos, uma vez que o problema só aumentava. O cacique
então criou uma lei, “que a partir daquele dia, as crianças que nascessem seriam sacrifi-
cadas e, assim o povo não aumentaria mais”. Então essa lei passou a valer, o povo já não
aumentava mais e, mesmo assim, o problema da alimentação continuava.

30 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


O cacique tinha uma filha por nome IAÇA, uma índia muito bela, que se casou
e logo engravidou. Todos ficaram muitos felizes pela criança que iria chegar, e seria o
primeiro neto do cacique. A aldeia estava em festa, mas o tempo passou, a criança nas-
ceu; logo o cacique pegou-a nos braços, feliz ergueu a criança para o auto, a felicidade
era muito grande, mas logo bateu uma tristeza. O cacique então se lembrou da lei que ele
mesmo criou e, como ele era o chefe maior do povo, teria que cumprir a lei também, então
teve que sacrificar seu neto.
A lei foi cumprida. Com a morte de seu filho, IAÇA passou a chorar, chorava
dia e noite sem descanso. Todos na aldeia ficaram com uma tristeza profunda, então o
cacique nada pode fazer por sua filha, apenas cumpriu a lei que ele mesmo criou. Passa-
vam-se os dias e IAÇA chorava a perda de seu filho, certa noite de lua clara, IAÇA olha
para fora de sua casa e viu uma criança deitada no chão, ela corre para pegar, logo viu
que era seu filho que havia morrido e, rapidamente, IAÇA pegou a criança, abraçou forte
e começou a chorar.
No dia seguinte IAÇA é encontrada morta abraçada a uma palmeira de frutos
roxos. Seu pai pediu que retirassem os frutos, depois extraíssem o suco, todos observan-
do que aquele suco era muito gostoso e dava para alimentar seu povo. O cacique então
retirou a lei que ele tinha criado, e em homenagem a sua filha IAÇA, ele deu o nome ao
frutinhos roxos de AÇAI, apenas mudando de lugar a primeira letra do nome IAÇA.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 31


SURGIMENTO DO ARCO E FLECHA

Assa arma surgiu há muitos anos, quando Kanaxiwe (Deus) convidou um Ka-
rajá para caminhar. Chegaram a uma casa onde tinha muitas armas e então Kanaxiwe
perguntou para o Karajá: “você pode escolher uma arma?” O Karajá olhou, olhou e
Kanawixe perguntou; qual dessas armas poderosa você vai querer? No meio das armas
havia uma borduna, um arco e flecha. Do lado havia uma arma de fogo (espingarda), mas
a arma estava toda enferrujada. O Karajá não quis porque era difícil o manuseio dessa
arma. Então escolheu o arco com a flecha e a borduna, mas o arco estava sem corda, en-
tão o Karajá caminhou mais o Kanaxiwe. Chegando à beira do rio o Karajá perguntou: o
que ele iria usar como corda para o arco? Kanaxiwe respondeu: no começo do verão não
dá aquele vento forte, então você olha para a beira do rio e vê a árvore que vira a folha;
tire as tiras grandes de embira, em forma de fiapo. Esse fiapo será a corda que você irá
usar para seu arco. Daí então o Karajá passou a usar o arco e flecha nas suas caçadas e
pescadas.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Josué Txebuaré Karajá

32 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


SURGIMENTO DO KARAJÁ-XAMBIOÁ

Há muito tempo, os Karajá moravam num lugar onde não tinha morte e nem
doenças. Esse lugar era no fundo do rio, mas certo dia um jovem Karajá casou-se e, de-
pois de certo tempo, esse jovem teve um filho. Na cultura Xambioá o mijo (urina) do bebê
era feito de mel de abelha, então o jovem saiu em busca de mel.
Depois de uma longa caminhada, ele encontrou um buraco e do outro lado do
buraco, ele viu que estava claro. Então ele entrou, saiu do outro lado em uma praia, viu
que era muito bonito aquele lugar e logo ele encontrou o mel num buraco de árvore. Ele
retornou para sua aldeia, quando chegou, falou de sua descoberta para a comunidade.
No dia seguinte saíram para ver o buraco, quando chegaram decidiram entrar,
mas o Koboi era gordo não conseguiu sair ficou. Porém, do lado de dentro do buraco, ele
observou que, do outro lado, havia doença, porque as árvores estavam secando; outras
morrendo com suas folhas secas. Ela perguntou aos demais indígenas: vocês irão sair para
esse mundo de morte? Eu vou ficar aqui, mas fiquem sabendo que vocês não irão mais
retornar, porque eu irei tapar este buraco e vocês ficarão para sempre desse lado.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 33


Até hoje os Karajá habitam às margens do rio e, no meado de junho e julho,
eles acampam na praia acreditando que um dia poderão retornar para sua terra nas pro-
fundezas do rio.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Josué Txebuaré Karajá

34 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HOMEM QUE VIROU BOTO

Havia um homem na aldeia que brincava de Aruanã. Certo dia ele dançando o
Aruanã entrou dentro dele. Ele ficou doido e saiu correndo para dentro da água. Seus
pais ficaram à beira do rio a chamar por ele, mas nada de ele responder.
O pajé falou para os pais do índio que eles deveriam se preparar porque ele iria
voltar e seus pais teriam que segurá-lo com bastante força para ele não voltar. Então os
pais ficaram esperando, quando, de longe, o avistaram junto com os botos. Ele aboiava e
afundava como um boto, fazendo movimento dentro da água.
Quando ele se aproximou da praia, onde estavam seus pais, o pajé falou; quan-
do ele chegar vocês segurem-no com bastante força, não o deixem retornar para a água.
Quando a água o trouxe, os pais agarram-no e viram que a saia de Aruanã, que ele estava

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 35


usando, estava adentrando o corpo dele, por isso ele estava bastante liso.
Tentaram o segurar, mas ele estava muito liso. Então os botos vendo aquilo
que estava acontecendo, voltaram para o fundo do rio e deixaram-no para trás. Então o
índio falou: segurem com força não me deixem voltar para a água, pois os botos vão me
levar de volta. Quando ele deu um salto, caiu na água e se transformou em boto.
Os outros botos vieram ao encontro do índio boto, deram a ele uma coité (ca-
baça) para ele colocar em sua cabeça e até hoje esse índio nada por essas águas com os
outros botos.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Mª Violeta Achurê Karajá

36 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


A LUTA DO JABUTI COM A ANTA

Certo dia a Anta combinou uma luta com jabuti.


A anta falou:
Amigo jabuti, é verdade que você é muito forte?
O jabuti respondeu:
É verdade sim, eu sou muito forte.
A anta falou:
Então vamos lutar para ver quem é mais forte.
O Jabuti respondeu:
Hoje não, mas vamos marcar para outro dia. Precisamos convidar todos os ani-
mais para assistir à nossa luta.
O jabuti saiu pela floresta, convidando os animais para assistir à luta dele com a

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 37


Anta, depois foi até a casa da Anta para marcar o horário da luta. Depois de uma conversa
entre eles, a luta ficou marcada para meio dia do dia seguinte. Nesse horário, todos os
animais estão parados sem fazer nada.
A anta sorriu e falou para o jabuti que ela era a mais forte e iria arrastar ele para
o meio do pátio para todos os animais verem.
O jabuti respondeu: Veremos então no dia da luta.
No dia da luta; a Anta entregou um lado da corda para o Jabuti e ficou com o
outro. O Jabuti então falou que iria puxar de dentro da água.
A luta começou, a Anta na terra com um lado da corda e o Jabuti dentro da água
com o outro lado. Mas como o Jabuti já tinha falado, que ele iria conseguir arrastar a Anta
até a água e, assim, mostrou que ele era o mais forte.
O que a Anta não sabia era que o Jabuti, antes da luta tinha combinado com o
peixe filhote, um dos peixes maiores do rio Araguaia. Assim, foi feito, o Jabuti amarrou
a corda no filhote que o ajudou a puxar a corda, dessa forma o Jabuti ganhou a luta e foi
coroado como o animal mais forte da natureza.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Jucelino Achurê Karajá

38 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


O JABUTI E O VEADO

Certo dia, o Jabuti vendo o Veado correndo pela floresta falou: amigo Veado, eu
sou mais rápido que você.
O veado olhou para o Jabuti com um sorriso no rosto e respondeu: você meu
amigo Jabuti, não é mais rápido que eu. Assim ficaram discutindo por um longo período
até que o Macaco não suportou mais as provocações e propôs que fosse feita uma corrida
entre os dois para ver quem, realmente, era o mais rápido da floresta.
Os dois aceitaram a sugestão do Macaco e fizeram um pedido, para que todos
os animais fossem convidados para assistir à corrida.
No dia da corrida, todos os animais já estavam à espera, quando Jabuti chegou,
juntamente com o Veado. O Macaco falou que a corrida era até a água e, aquele que ca-
ísse na água primeiro, ganharia a corrida. Depois de tudo combinado, o Jabuti foi para
seu lado e o Veado ficou do outro lado da pista. O Macaco deu início a corrida e o Veado
correndo, dava um grito, o Jabuti respondia sempre na frente. O Veado acelerou, gritou
novamente e mais uma vez o Jabuti respondeu na frente.
Até que o Jabuti caiu na água e o Veado estava próximo e não acreditou que
perdeu a corrida para Jabuti. Antes da corrida, o Jabuti chamou outros Jabutis e ficou na
pista, com isso toda vez que o veado gritava, o Jabuti respondia sempre na frente, então
foi, dessa forma, que o Jabuti ganhou a corrida e se tornou o animal mais rápido da flo-
resta.
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 39


ORIGEM DA PINTURA CORPORAL XAMBIOÁ

Há muitos anos o povo inỹ não tinha pintura corporal, mas conhecia a técnica
de preparação da tinta preta que era extraída do jenipapo. Não havia ainda o que pintar
nem mesmo o que fazer no corpo, mas uma família que morava numa aldeia, teve que
deixar sua aldeia devido a um terrível atentado. Essa família tinha duas filhas, a mais ve-
lha gostava de fazer medo às crianças. Ela fazia isso para se sentir feliz, vendo as crianças
chorando com os sustos que ela fazia a elas.
Um dia um pai não gostou do susto que a menina tinha dado ao seu filho e
começou a espancar a menina. Bateu tanto que a menina acabou falecendo. A família da
menina temendo que algo pudesse acontecer com eles, em razão do medo e do aconteci-
do, a família deixou a aldeia e saiu em busca de um novo lugar que fosse bem distante.
Depois de muitos dias de caminhada, chegaram a um lugar muito lindo e fizeram sua casa.
A família todas as noites ouvia cantos e vozes em direção ao córrego que ficava
próximo da casa. Isso acontecia sempre no período de cheia do córrego, até que um dia o
chefe da família resolveu ver o que estava acontecendo. Saiu em direção ao córrego bem

40 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


devagar para que não fosse visto, chegando perto do córrego, ele viu peixes de todas as
espécies e de cores diferentes nadando em dupla. A alegria dos peixes era contagiante e o
índio não sabia de onde vinha tanta animação.
O índio olhou para o lado e viu que todos os animais da floresta estavam ob-
servando a festa dos peixes. Foi então que o índio percebeu que cada peixe e cada animal
ali presente tinham uma pintura em seu corpo. Com base neles surgiu a pintura corporal
do povo Xambioá, feito por traços no corpo e esses traços recebem os nomes de pássa-
ros, peixes, e outros espécie de animais, pois os fatores socioculturais que determinam as
pinturas do povo inỹ.
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 41


HISTÓRIA DO JACARÉ

Numa aldeia há muitos anos, havia umas mulheres que todos os dias saíam
para colher pequi e deixavam seus maridos em suas casa. Todos os dias elas saíam e
colhiam bastante pequi, descascavam, chegavam à beiro do lago e começava a chamar
o jacaré. Jacaré!! jacaré ùù!!, jacaré!! jacaré ùù!!. Logo o jacaré boiava no meio do lago
e vinha ao encontro das mulheres. Elas davam pequi ao jacaré, namoravam um certo
tempo com ele, depois de retornavam à aldeia. Deixavam para seus maridos somente as
cascas dos pequis.
Certo dia, o marido de uma das mulheres já desconfiado, pediu para seu filho
chorar para poder ir com a mãe dele. Então a mulher levou seu filho junto. Elas falaram
para o menino não falar nada do que via para os homens. O menino ficou escondido, logo
as mulheres começaram a chamar: jacaré!!!! jacaré úú!!!, jacaré !!!, jacaré úú!!, o jacaré
veio ao encontro a elas, tudo se repetia e o menino viu tudo escondido.
Ao retornar à aldeia, os homens perguntaram ao menino o que ele tinha visto.
Ele falou tudo o que tinha visto; então os homens se reuniram e, no dia seguinte, saíram

42 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


bem cedinho antes das mulheres, ao chegar ao lago fizeram igual as mulheres. O jacaré
apareceu, então com suas lanças e flechas os homens matam o jacaré. Quando as mulhe-
res foram para o lago e começaram a chamar o jacaré, mas nada de jacaré. Ele não apare-
ceu e elas começaram a procurar para saber o que havia acontecido, mas logo avistaram
o jacaré morto.
Daí as mulheres já com muita raiva, começaram a fazer bastantes flechas para
poder guerrear com os homens. Elas cortaram o peito (seio) direito para não atrapalhar
jogar a flecha, logo começaram a lutar e mataram todos os homens da aldeia, surgindo,
assim, o povo das mulheres guerreiras de um peito (seio).
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Mª Violeta Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 43


PINTURAS CORPORAIS KARAJÁ-XAMBIOÁ

Os índios foram os primeiros habitantes do território brasileiro. São formados


por povos de diferentes culturas, costumes e línguas. A pintura, corporal para os índios,
possui sentidos diversos, não somente na vaidade, ou na busca pela estética perfeita, mas
pelos valores que são considerados e transmitidos através desta arte. Entre muitas povos,
a pintura corporal é utilizada como uma forma de distinguir a divisão interna dentro de
uma determinada sociedade indígena, como uma forma de indicar os grupos sociais nela
existentes, embora existam tribos que utilizam a pintura corporal, segundo suas preferên-
cias. (Maristela 2012)
Diante dos últimos acontecimentos do povo Xambioá, com a partida de alguns
aciões para o outro mundo, junto com eles vão toda uma história cultural do povo. Com
isso, surge então a preocupação de resgatar a pintura corporal do povo Karajá-Xambioá,
uma vez que as pinturas corporais se baseiam nos elementos da natureza. O grafismo,
por sua vez, representa a pele de animais existentes na região. Todas elas possuem histó-
rias próprias de um povo. São distribuídas entre homens, mulheres e crianças. Cada um
com sua própria pintura corporal. Depois de sofrer um forte impacto, através do contato
com a sociedade não indígena, esse povo quase perdeu sua língua materna e sua cultura,
deixando de praticar seus rituais, dentre eles, a sua pintura corporal, depois do contato, os
indígenas mais novos já não pintavam mais seu corpo e, assim, algumas dessas pinturas
desapareceram.
Ao longo dos dezessete anos, vem acontecendo o processo de revitalização da
cultura e da língua Karajá-Xambioá, nota-se que caminha a passos lentos, mas é possível
verificar que houve algumas mudanças, embora ainda há muito o que ser feito. É preciso
intensificar os trabalhos usados para o processo de revitalização, uma vez que as pinturas
corporais foram esquecidas por falta de registro. Hoje necessita-se de uma atenção espe-
cial, pois muitas pinturas corporais do povo Xambioá foram esquecidas, enquanto outras
foram criadas. Diante desse fato, levantou-se uma preocupação em identificar e resgatar
as pinturas já esquecidas, catalogar e registras as criadas atualmente.
A pintura corporal do povo Karajá-Xambioá não é divida por clãs, como ocorre
entre outros povos indígenas, ela e divida entre feminino e masculino, identificando quem
é quem entre o povo. Em um ritual de Aruanã uma criança tem seu corpo pintado com a
tinta extraída do jenipapo e, assim, todos sabem que aquela criança é responsável por bus-
car a alimentação do Aruanã, visto que somente ela tem acesso à casa dos homens. Então
quando um Xambioá faz uma listra sobre seus olhos, significa que ele está preparado para
a guerra e essa pintura, por sua vez, já não é usada mais.

44 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


O menino Karajá quando deixa a infância tem que participar do Hetohokỹ. En-
tão ele passa a usar uma única pintura durante a festa. Ele pinta todo o corpo com tinta de
jenipapo e raspa seus cabelos. Isso significa que o menino passar a ser conhecido como
jyre. Dessa forma as pessoas com quem ele está participando da festa, não o consideram
mais um weryry (menino). Ele passa a ser considerado jyre (menino jovem). Assim, a
pintura que ele usa significa pintura da Ariranha. No período em que a criança está em
jyre possui funções. Enquanto os homens estão na casa do Hetohokỹ, faz todos os ser-
viços para os mais velhos, como buscar água, lenha, comida. Já as mulheres da aldeia
mandam recado para os homens através jyre. Enquanto o menino estiver no período de
jyre, é proibido o uso de outra pintura, porque para o Karajá, Javaé e Xambioá é o período
em que o menino está terminando a infância. (SINVALDO KARAJÁ 1994)

Modo de preparar a tinta de jenipapo


10 – jenipapos verdes
01 – ralo
01 – cuité (cabaça)
Pó de carvão
Em seguida, retire a casca do jenipapo e rale. Depois de todos os jenipapos ra-
lados, junte a massa na cuité e acrescente um pouco de pó de carvão, amasse bem com
as mãos até a tinta ficar preta, depois de preta a tinta, estará pronta para ser usada.
O povo Xambioá usa atualmente mais de trinta modelos de pinturas corporais,
dividas entre masculinas e femininas. São grafismos que traz uma história de representa-
tividade de natureza. Esse povo não é reconhecido só por sua pintura corporal, mas tam-
bém pelo seu adorno que envolve todo o seu corpo, visto que há uma grande diferença
entre os adornos masculinos e os femininos; conforme apresentaremos a seguir:

Adornos masculinos
Raòtue – é usado amarrado nos cabelos e é feito de algodão.
Dohorywe – (brinco) é feito com penas de arara, amarrado com fios de algodão,
com uma haste de madeira e uma casca de conchinha (molusco).
Dexi – é feito de algodão e é usado nos braços.
Woudexi – é feito também de algodão, tingido de urucum e é usado nos braços.
Wetakana – (cinto). Feito de seda de buriti com penas de arara e colhereiro. É
usado no quadril.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 45


Deobute – é usado nas pernas e é feito de algodão, tingido com urucum.
Ixiura – (colar). É feito de miçangas e traz sempre um desenho de uma pintura
do povo Karajá.
Rahetô – (cocar). Feito da tala de buriti, coberto com algodão, com penas de
jaburu, arara e urubu.

Adornos femininos
Kue – (capivara). Brinco feito de penas de arara amarela com um fios de algo-
dão, espinhos e um dente de capivara.
Ixiura – (colar). Feito de miçanga e é usado no pescoço.
Dexi – É feito de algodão e usas nos pulsos.
Deobute – É feito de algodão tingido com urucum e é usado nas pernas.
Dexiraru – É feito de penas de arara amarela e é usado nos braços.
Wylairi – É feito de algodão tingido com urucum e é usado nas pernas.
Nohõsa – É feito de algodão e é usado nas costas.
Dohoboraty – É feito de penas de arara vermelha e é usado nas orelhas.
Txubola – É feito de algodão e é usado no quadril.
Tuu – (cinto). Feito com a entrecasca para cobrir o sexo das moças.
Os adornos típicos do povo Inỹ ( Karajá, Javaé e Xambioá) são usados duran-
tes as festividades desse povo. Segundo ( Ribeiro. 1989), a arte indígena está presente no
adorno do corpo com pinturas, no uso de penas, ossos e dentes de animais, na decoração
de utensílios domésticos, como na pintura da cerâmica e no trançado de cestos e redes,
dentre outros. A aplicação de cada uma destas expressões artísticas tem um contexto, que
é particular de cada povo. Este contexto está relacionado a diversos fatores do universo
indígena, como a esfera social, planos mitológicos e religiosos. (Ribeiro 1989)
Já Edna Luísa Taveira (2002, p. 25) observou que:
são vários os padrões usados caracterizando-se pela combinação de linhas horizontais e
verticais, numa composição geométrica de gregas quátricas. Os desenhos, pelos nomes
que lhes são dados, representam partes do corpo, da fauna terrestre e aquática: formiga,
cobra, urubu, morcego, peixe, tartaruga, mas nunca o animal no todo. Podem ocorrer
também motivos ornamentais interpretados como elementos da natureza: “caminho sem
fim”, “forquilha”, etc. O único motivo ornamental que foge a essa regra encontra-se na

46 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


decoração de alguns potes, pratos cerimoniais, figuras fantásticas e maracás nos quais
aparece representada a máscara de Aruanã. (EDNA LUÍSA TAVEIRA. 2002).

A prática do desenho, portanto, se insere no processo educativo Karajá, que


impõe normas de uso conforme idade, sexo e papel social. Segundo Taveira ( 2002), no
que se refere à reprodução da memória coletiva, é importante reportar Toral (1992), que
chama a atenção para o fato de que a pintura corporal, por exemplo, estaria a princípio
inspirada em um tempo mítico ideal dos “antigos”. Pois os desenhos teriam sido obtidos
pelo herói mitológico Kynyxiwe que tem um papel central na mitologia Karajá. O conjun-
to de mitos envolvendo esse personagem é fundamental para o entendimento das figuras
modeladas e pintadas pelas ceramistas (TORAL, 1992).

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 47


PINTURAS CORPORAIS KARAJÁ-XAMBIOÁ

aõti
txuxo noheraru
harabo ruwery
urè woti
walubrò
rarajie tiwyèdi
hãrabò
rarajiè
urè oti
òè òè
òma
dòrery
rarajiè tiweò ure
hãru
hajuju
hawyymi bòròriti
òtubàna bòròriti
txaõhi obirariti
hawyy uri riti
oròruuteti
dòrõ ry

Texto: Luiz Pereira Kurikala Karajá

48 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HAWYYNIMARAHA

Wawyynimaraha yri rauhemyhỹre narihi riti-ò tule-sỹ umy riti-ònrauhe-


lemyhỹre, riti heka anõni awi rare, aõriti-ki, hawyy ruriti-ò rauhemyhỹre, tule-sỹ bòti
riti-ò rauhelemyhỹre, bese riti-ò rakuhelemyhỹre.

Hawyynimaraha (jibóia)
Essa é a pintura da jibóia, que é usada para a pintura corporal feminina. Pode
ser usada também para pintar remos ou qualquer tipo de cerâmica, bonecas, tigelas e
potes.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 49


RARAJIE

Kaa heka riti rarajie riti rare, ijadòòma idi rayrimyhỹre ijasò brò-ò resekre-
-my, tasỹ narihi idi raritilemyhỹre, weryrybò mahãdu hetohokỹ-u bededỹỹanana-u idi
rayrimyhỹre.

Rarajie
Essa pintura é usada pelas moças, que pintam todo o corpo, quando vão parti-
cipar da dança com o Aruanã. Essa pintura é usada também para pintar os remos, embora
os rapazes também usem quando vão participar da festa do Hetohokỹ.

50 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


ÒMA

Òma heka weriri riti-ki iny riwinymyhỹre, tule narihi ruriti-ki iny riwinymyhỹre,
ta tule ijadòòma tuu raruritilemyhỹre, byre tuu hãwyy riritinylemyhỹre, kie tuijyy.

Òma
Òma é uma pintura que pode ser usada em balaios. Também é usada para pintar
uma moça, embora seja usada para pintar esteiras e remos.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 51


TXUXÒ NÕHERARU

Kaa riti heka txuxò nõheraru inire, ibutu-my iny tuu rayrimyhỹre, hãbu, hãwyy,
uladu tule, kaa yri heka ihetxi-u mahãdu uri rare tai tahe wijina mahãdu tusadỹỹ-ò rii-
jõnymyhỹre, tule txuxò nõheraru uri ruxerahakỹ rare, tule ibutu-my aõkõ iny iwidỹy
rierymyhỹre, kie txuxò nõreraru-my ijyy.

Txuxò nõheraru
Esta pintura se chama ‘rabo de quati’. Essa é uma pintura usada por todos,
seja homem, mulher e criança. É uma pintura muito antiga, muito bonita e poucos sabem
fazê-la.

52 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HARABÓ RUWERU

Harabó ruwery heka yri riti rare, iny mahadu, ijadòòma riuhemyhỹre, tule-sỹ
ijasò òriti-my ryimyhỹre, aõtxile aõkõ, xibure ijasò òriti-my roimyhỹre, Harabò ruwery
heka, riti mahadu-ribi worenare, ruti yri-ki tuxiobyre.

Harabó Ruweru
Harabó Ruweru é uma pintura corporal do povo iny, que é usada para pintar a
moça, mas só pode pintar as pernas, que ficam muito bonitas. É usada também para pintar
o Aruanã. É exclusivamente do Aruanã chamado Xiburé. Harabó é uma das pinturas mais
bonitas e clássicas.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 53


HARU

Haru yrini rare, aõtyhytyhy kibo rauhemyhỹ re my arelyyrenykre, kaa heka


uri tiú heka iny tuu rayriõmyhỹre, iwese weryrybò ijadòòma, yri-di rayrimyhỹre wese,
ijõ debòrati riti-ò riuhemyhỹre-my tuu rabimyhỹre. Tule-sỹ ritxoo, yri-ki aõnityhy-my
relemyhỹre watxiwyla, bese yri-ki tule kaa yri heka irutaõre iwidỹy, aõtama aõkõ iny
rierymyhỹre rihumyhỹỹ, aõna aõna yri-ki ratximyhỹre, tarutaõ-ki.

Haru
Essa pintura não é usada no corpo. Ela é usada nas costas das mãos. É usada
principalmente para pintar cerâmica e bonecas. É uma pintura bastante fácil de fazer, de
aprender, por isso, é usada no dia a dia.

54 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


ÒE ÒE

òe òe heka narihi ruritina-ki awire, tule, hãwyy byre riti-my riwinymyhỹre tule
iny riwinymyhỹre ixiwidỹỹna ritina-my weru òhòte, tõnõri kie.

Òe Òe
Essa pintura é usada para pintar remos. As mulheres também usam para fazer
desenhos nas esteiras ou pintar qualquer tipo de artesanato, como maracá, borduna e
lanças. Pode ser feita tanto pelo homem quanto pela mulher.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 55


TXAÕHI ÒBIRARITI

Txaõhi òbirariti heka riti awi soe rare, tii heka txaõhi òbitityhy rare tule ibu-
tu-my aõnaõna riti-ki awi rare, ijadòòma riti-ki weryrybò riti-ki narihi riti-ki, sihò rit-ki,
ah`te riti-ki byre riti-ki, wetaana, weru, tule iny tyyriti-ò riwinymyhỹre, irulybyna awire
ilybyhỹỹ awire tule iritina-ki ilyby awire, iny bidina riymyhỹre iny idi rayrikre-my tule
narihi ritina-ki awi rare bidina, iwitxira aõnaõna-ò tahe awiõre, iny aõtxile aõkõ heka
riwinymyhỹre aõtxile riti xiery heka riwinymyhỹre hãbu, hãwyy aõbo kie.

Txaõhi òbirariti
Txaõhi é uma pintura muito bonita, usada para pintar artesanato. É usada para
pintar também a moça, o rapaz, o remo, o pente, a borduna, a esteira, o cinto e a cabaça.
O Karajá que não sabe fazer a pintura, desenha no papel, depois cobre, para desenhar. A
cor dessa pintura é preta e é muito bonita. O Karajá mastiga o jenipapo para preparar a
tinta, depois disso, a tinta está pronta. O jenipapo serve para desenho no remo. Somente
os homens e mulheres que entendem de pintura, podem fazê-la.

56 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


ANÕTI KYRE

Aõti yre heka yri rare ibutu-my eryna àxiò yri-ki heka awire, tuxiobyre aõriti-
-ki awire, weru riti-ki butxi weriti-ki tule, walu riti-ki ijasó òriti-ki tule tuxiobyre, kawiji
mahadu, tiki diritinymyhỹde kiehe.

Anõti kyre
Anõti yri é uma das pinturas mais fáceis e conhecidas pelos Karajá. Ela é mais
usada na parte do braço das mulheres, embora hoje seja usada nas pernas. Também é
usada para pintar enfeites ou utensílios de uso doméstico, além do Aruanã, uma dança
tradicional do povo Karajá.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 57


KURE WOKUDI DE

Ure woti de heka riti-õ iruxera rare, ibutu-my iny mahãdu tai awi-my
rahamyhỹre, tii tule narihi ruti-my rauhemyhỹre, tule-sỹ iny mahãdu tuu rayrimyhỹre,
ijadòma weryrybò ijoityhy mahãdu.

Kure Wokuti de
Ure woti é uma pintura corporal muito bonita. Todos os Karajá falam que essa
é pintura que possui o maior destaque. É uma pintura usada tanto para pintar remo, como
também as moças, os rapazes e mulheres casadas.

58 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HÃWYY YRI

Kaheka yri hãwyyle tuu rayrimyhỹre, iti-ribi raórarunymyhỹre terá-òhòkỹle


raonananymyhỹre, tasỹ tule ixiwidỹỹ ritina-my relemyhỹre bòti weritina-my byre tule
weru, karitina-ò heka hawy riwinymyhỹre, weriri narihi tahe hãbu riwinymyhỹỹre.

Hãwyy yri
Esta pintura só poderá ser usada pelas mulheres. Ela inicia nas pernas e termina
nos braços. Também serve para pintar potes, esteiras e maracás. Somente as mulheres a
fazem. Os homens usam nas pinturas de remos e balaios.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 59


HÃWYY YRI RITI

Hãwyy yri riti heka ijadòma tuu rayrimyhỹre ijasò-ò resekre-my hirari sỹ tuu
rayrilemyhỹre ijadòma-my rùnymyhỹre narihi yri-my tule rauhemyhỹre, hãwyy tuu rayri-
dỹỹmyhỹre, tule hãbu riwinylemyhỹre kie.

Hãwyy uri riti


Essa pintura é usada pelas moças na dança do Aruanã. Também é usada na
passagem da menina para moça. Os homens usam para se pintarem, assim como as mu-
lheres.

60 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


DÒRE RY

Dòre ry heka aõtxi ritina reuhemyhỹrenyre, narihi, byre riti-ò ijadòòma umy
yri-ò weryrybò umy yri-ò weru tuu ritinadu hawyy habu tule kie.

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 61


ÒRÒRUUTETI

Òròruuteti heka riti-ki ruti-ò xiery relemyhỹre, tasỹ tule ijõ aõnaõna-ò iny
riwinymyhỹre, iny iery heka riwinymyhỹre weriri riti-my òhòte, weru riti-ki, tahe Kia
òròruutrti riti heka hãbu aõnaõna-ò byre riti-ki tahe hãwyy riwinymyhỹre hãbu Dori
byre riyrinyõmyhỹre iny wii riyrinymyhỹre-wana tahe aõtxile riwinymyhỹre, hãbu aõbp
hãwyy aõbo ao iny aõtxile aõkõ kỹnyhe iery heka riwinymyhỹre.

62 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


Walubro

Aòti

Otubunỹ

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 63


Ure woti

Hanabo

64 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


NOVAS PINTURAS KARAJÁ - XAMBIOÁ

A pintura corporal define quem é a pessoa dentro do seu povo. Cada pintura
possui um significado e todos os traços uma história do povo Xambioá. Elas são divididas
e classificadas de acordo com gênero, sendo masculina e feminina. Ao longo do tempo
os grafismos do povo Karajá-Xambioá mantiveram estáveis. Os desenhos que eram pro-
jetados no corpo dos indígenas em período de festividades eram sempre os mesmos. O
povo Xambioá não é dividido por clã como ocorre em outros povos indígenas, por isso as
pinturas corporais são livres para uso de qualquer indígena de nosso povo.
Atualmente novos grafismos foram apresentados ao povo Xambioá. Esses gra-
fismos são unificações de duas ou mais pinturas, dando surgimento a outra pintura corpo-
ral. Há também os grafismos emprestados. Essas são pinturas corporais de outro povo
indígena que sofreram pequenas modificações e, por esse motivo, ainda são pouco co-
nhecidas dentro do povo Xambioá. Esses novos grafismos ainda não receberam nomes e
nem suas classificações (masculino e Feminino). São os anciões encarregados de nomear
e classificar cada pintura corporal.
É importante ressaltar o trabalho do prof. Luiz Kurikala, que foi apresentado ao
povo Xambioá depois da implantação do um projeto de revitalização da língua e da cultu-
ra, no qual o povo Xambioá está atravessando até os dias de hoje. Esse professor chegou
onde já não se tinha mais interesse dos mais novos pela sua cultura de origem. Ao longo
dos anos, os grafismos foram apresentados aos mais novos, em seguida veio a língua ma-
terna e as cantigas tradicionais. Assim, não podemos deixar de registrar a contribuição do
Profº. Natanael Karajá, filho de Luiz Kurikala que passou a auxiliar seu pai nesse projeto,
incentivando os indígenas mais jovens a manterem a língua e cultura Xambioá.
Os trabalhos desses dois professores vêm colhendo resultados positivos até
hoje. Com isso, os jovens passaram a conhecer sua história. Atualmente estão cantando
suas cantigas tradicionais e sabem o significado de cada grafismo. Hoje o povo Xambioá
recebe o professor Idjeressi Karajá, que veio com o intuito de contribuir para revitaliza-
ção da língua e da cultura de nosso povo. Temos certeza de que ainda há muito o que ser
feito. Esses grafismos que foram recentemente apresentados ao povo Xambioá deverão
ser nomeados e classificados por esses professorem e anciões.

Texto: ADRIANO DIAS GOMES KARAJÁ

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 65


66 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá
Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 67
68 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá
Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 69
70 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá
Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 71
72 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá
RECEITAS MEDICINAIS

Ao longo dos séculos, o povo Xambioá trava uma batalha para preservar suas
tradições culturais, dentre elas estão as receitas medicinais, retirando da natureza como
um dos seus recursos naturais para o uso das receitas e remédios usados para tratar desde
uma simples dor de cabeça a uma diabetes, usando cascas, folhas, flores, raízes das árvo-
res e ervas, além daquelas retiradas dos animais abatidos durante uma caçada ou de uma
pescaria, que também se retira matéria prima para execução de remédios caseiros.
Atualmente o povo Xambioá trata a maiorias de suas doenças com remédios
industrializados. Por isso os pajés foram trocados por uma equipe multidisciplinar com-
posta por um médico que, uma vez por semana, vai até a aldeia, acompanhado também de
uma enfermeira, um dentista que reside na aldeia, bem como os técnicos de enfermagens,
agentes de saúde e os agentes de saneamento responsável pela manutenção da água ser-
vida ao povo e responsável pela locomoção dos indígenas, bem como os barqueiros que
transportam pelas águas os indígenas e toda a equipe de saúde. Além dessa equipe, exis-
tem também os motorista que levam até a cidade mais próxima das aldeias a um posto de
saúde. Toda essa estrutura é para cuidar da saúde do povo Xambioá.
Os remédios industrializados ganharam espaço, e os remédios tradicionais ca-
seiros foram sendo esquecidos. Portanto, atualmente são poucos os indígenas que ainda
usam remédios tradicionais extraídos da natureza. Para tanto, é preciso criar uma far-
mácia tradicional para manter viva cada receita medicinal do povo Xambioá. O Cacique
Bòròri afirma que a utilização do remédio dos não indígenas, com os remédios tradicio-
nais indígenas, por isso estamos sofrendo com a falta de remédio (cacique bòròri 2010).

Texto: ADRIANO DIAS GOMES KARAJÁ

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 73


CANA DE MACACO

Indicação – Dores nos rins

Ingredientes:
- Cana de macaco/caninha do mato
- Água

Modo de preparar:
Vá à mata, colha a cana de macaco, junte com água, amasse bem, ponha numa
vasilha. Só pode ser consumido no dia seguinte, tome um copo três vezes ao dia.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Jucelino Achurê Karajá

74 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


RAIZ DE FEDEGOSO

Indicação: febre

Ingredientes:
- raiz de fedegoso
- água

Modo de preparar:
Pegue a raiz do fedegoso, amasse bem. Coloque numa vasilha e deixe ferve por
dez minutos. Espere esfriar e tome ( uma única porção).

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Dacimar Uaritax Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 75


FEDEGOSO

Indicação: gripe

Ingredientes:
- Raiz de fedegoso
- Banha de tartaruga
- Água

Modo de preparar:
Retire a raiz do fedegoso, limpe e amasse. Em seguida deixe ferve por trinta
minutos. Depois aqueça a banha de tartaruga, junte tudo num copo e tome uma única vez.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Dacimar Uaritax Achurê Karajá

76 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


BANHA DE TARTARUGA

Indicação; queimadura e arranhões.

Ingrediente:
- banha de tartaruga

Modo de preparar:
Pegue a banha de tartaruga, aplique três vezes ao dia no local do ferimento.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Dacimar Uaritax Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 77


COMO EXTRAIR A BANHA DE TARTARUGA

Modo de preparar:
Tire a gordura da tartaruga. Coloque numa vasilha. Em seguida leve ao fogo,
deixe fritar até que saia um óleo na vasilha. Depois colha esse óleo, coloque numa vasilha
e está pronto para ser usado.

Indicação:
Ferimento, queimaduras, gripe, tosse forte, hidratante de pele, creme para os
cabelos, manteiga para consumo e óleo para consumo.

Texta: Dacimar Uaritax Achurê Karajá

78 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HÀLÀE TÒBÒ (AZEDINHO)

Indicação; Diarréia

Modo de preparar:
Pegue o azedinho, descasque depois amasse em cima de uma pedra. Em segui-
da coloque dentro de uma vasilha com água morna e tome três vezes ao dia.

Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 79


TALO DE NAJÁ

Indicação: Estancar sangue.

Modo de preparar:
Pegue um talo do coco najá seco, raspe, em seguida coloque sobre a ferida que
está sagrando. Logo o sangue para de sair.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Dacimar Uaritax Achurê Karajá

80 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


HÀDÒÒRA (BATATINHA)

Indicação: Dor de ouvido.

Modo de preparar:
Colha a batatinha na roça, em seguida amasse, leve ao fogo e amorne. Depois
de morna, pegue o líquido e coloque no ouvido duas ou três vezes ao dia.

Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 81


FLOR DE ABÓBORA

Indicação: Dor de ouvido

Modo de preparar:
Pegue uma flor de abóbora, leve ao fogo, deixe uns segundo até que a flor co-
mece a murchar. Depois que tiver murcha, pegue a flor, amasse-a na mão até que saia um
líquido. Esse líquido deverá ser colocado no ouvido doente. Repetir esse mesmo proces-
so duas vezes ao dia.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Dacimar Uaritax Achurê Karajá

82 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


OWORU HÀDI (PÓDOI)

Indicação: Dor de cabeça

Modo de preparar:
Faz se um corte de baixo para cima na árvore do pódoi. Depois de extrair o
óleo ou a embira da árvore, tome uma gota do óleo. Pegue a embira de pódoi e amarra na
cabeça até a dor ser aliviada.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 83


ANTIBIÓTICO NATURAL

Indicações: fratura, cortes, feridas e impingem.

Ingredientes:
- folhas de canafístula
- água

Modo de preparar:
Lava bem as folhas, coloca no triturador ou pilão, soca ou tritura bem. À medi-
da que estiver socando ou triturando, acrescente água até formar uma pasta. Dessa pasta
extraia o suco, tome três vezes ao dia. A pasta será usada para colocar sobre o ferimento

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Jucelino Achurê Karajá

84 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


FOLHA DE ALGODÃO

Indicação: dordoi (conjuntivite)

Ingrediente:
- folhas de algodão bravo
- água

Modo de preparar:
Colher entre sete(07) a dez (10) folhas de algodão bravo com o talo. Colocar
na água num recipiente um (copo), lavar bem as folhas com os talos, e colocar no copo
com os talos para baixo. Após alguns minutos, observe se há um lime na ponta dos talos
das folhas, caso haja, aplique o lime (gosma) no canto do olho doente, repita várias vezes
ao dia.

Texto: Jucelino Achurê Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 85


CULINÁRIA KARAJÁ-XAMBIOÀ

Há muito tempo o povo Karajá-Xambioá retira da natureza seus sustentos, por


meio da caça, da pesca e da coleta de frutos silvestres, procurando sempre viver em har-
monia com a natureza. Esse povo preserva há anos seus meios de produção agrícola,
habitando às margens do rio Araguaia, numa reserva com florestas preservadas, ambiente
propício para manejo sustentável dos recursos naturais, sem agredir o meio ambiente.
A culinária do povo Karajá-Xambioá apresenta diversos pratos típicos, receitas
milenares que atravessam gerações, mantendo sempre preservada. Desde início do surgi-
mento do povo Karajá-Xambioá, esses pratos típicos já eram feito pelas mulheres desse
povo. Atualmente muitos desses pratos ficaram perdidos no tempo, segundo relatos do
professor indígena Jucelino Achurê Karajá. Assim, é interessante, quando ele fala que o
casco da tartaruga era usado de um ano para o outro, mesmo quando era retirando todos
os dejetos do casco. Ele era guardado de um ano para o outro, e nesse intervalo, eles ex-
traíam do casco um óleo e esse óleo era usado para prepara a alimentação.
Cada prato preparado pelo povo Xambioá traz uma história. A criação veio
através da necessidade de manter os pratos sempre prontos para ser consumidos, em um
passado de conflitos com outros povos, pelo direito de ficar com as margens do rio Ara-
guaia. O povo Xambioá mudava bastante de um lugar a outro, com isso tivera que criar
pratos que fossem rápidos para preparar e que demorassem para estragarem. Todos esses
pratos deveriam ser preparados com o que o natureza lhe oferecia naquele momento, sur-
gem, então, alguns pratos típicos do povo Xambioá.
Segundo relato do professor Augusto Kuraha(2010), “ procurei entender o mo-
tivo pelo qual o povo Xambioá deixou de usar as comidas tradicionais do povo iny. Vejo
que uma das razões foi o contato direto e indireto como a sociedade não indígena, dentro
da comunidade indígena. Há muitos anos a alimentação do povo Xambioá era a base de
massas devido às plantas naquela época, batata doce, inhame, macaxeira e também as
frutas melancia e banana”. (augusto Kuraha 2010).
O povo Xambioá possuía seu calendário anual de duas temporadas de alimen-
tação, sendo elas inverno e verão. No período de seca do rio Araguaia, era conhecido
como verão, nesse período, a base da alimentação era a mandioca, a macaxeira que
serviam para fazer a farinha, grolado e a puba, para comer com tartaruga, tracajá, peixe e
caça do mato.
Já a batata doce, inhame, cará eram servidos pela manhã junto com a calugi de
arroz. No inverno, período de cheia do rio Araguaia, a alimentação era a base de milho,
banana, caça, pesca e a coleta de frutos silvestres.
86 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá
Algumas das receitas de culinária do povo Xambioá leva sal e o açúcar. O sal
era extraído do aguapé (murere), uma planta que em período de cheia do rio Araguaia,
desce junto com a água e o povo Xambioá, no verão, no período das praias, colhia esses
aguapés e deixava secar no sol. Daí se extraía o sal das raízes dos aguapés. Já o açúcar
era extraído da rapadura onde eles plantavam a cana de açúcar e depois faziam a rapadura.
Texto: Adriano Gomes Krarajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 87


RECEITA DA CULINÁRIA KARAJÁ-XAMBIOÁ
KOBIKU HERA

INGREDIENTES:
- peixe com escama
- mandioca
- água
- sal

MODO DE PREPARAR:
Descasque a mandioca, corte, cozinhe e asse o peixe. Depois de assado, colo-
que o peixe junto com a mandioca cozida, adicione água e sal a gosto. Deixe ferver por
quarenta minutos, depois é só servir.
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Adriana Kahereru Karajá

ANÕNANÕNA

- ùtura itykydi
- hirà_irà
- bèè
- jykyra

RELEMYHῩRE
Ùtura kobiku hera, relemyhỹ, hira/irà, bêdi jỹky, radi rakuridỹkỹmyhỹre tahi
ratotekedỹkỹmỹre_di taxe iny riromyhỹre.
Texto: Idjeressi Karajá

88 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


CALUGI DE ARROZ

INGREDIENTES:
1 – quilo de Arroz
4 – litros de água
1 – rapadura
2 – batata doce

MODO DE PREPARAR
Deixe o arroz de molho por trinta minutos, depois pile no pilão. Em seguida po-
nha a água para ferver, acrescente o arroz, deixe no fogo por aproximadamente quarenta
minutos, quando estiver quase pronto, acrescente a batata doce ralada e a rapadura. Retire
do fogo e sirva no dia seguinte.
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Marlene Kutaharu Karajá

MAKIXÕMÕ IWÈRU
Anõnanõna
1 Lt – sohoji kurihixina hyme-my makixõmõ
4 Lt – inakubikòwa kurihixina – my bèè
1 – sohoji bidira
2 – inatxi kòtèruti

RELEMYHῩRE
Makixõmõ bèdi roimyhỹre, imyrahudi kowokudi rasy myhỹre, tahe bèdi rato-
tekedỹkỹmy relemyhỹre, tura ikohodi taxe koterute, bidira kysedi rakeridỹkymyhỹre,hékò-
tyrebi rasemy ijõ biurasomy iny tuu riõmyhỹre.

Texto: Idjeressi Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 89


CALUGI DE BANANA

INGREDIENTES:
4 – banana da terra
1/5 copo de açúcar
1 – lt de água

MODO DE PREPARAR:
Descasque a banana e leve ao fogo. Cozinhe por vinte e cinco minutos. Em
seguida amasse a banana já cozida na própria água, acrescente o açúcar e está pronto para
ser servido.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Adriana Kahereru karajá

90 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


BORORÒ

INGREDIENTES:
1 – casco de tartaruga
1 – lt de farinha
2 – lt de Agua
- Miúdos da tartaruga
- Sal

MODO DE PREPARAR:
Ferva os miúdos da tartaruga por vinte minutos. Em seguida limpe o casco da
tartaruga, adicione os miúdos já fervidos dentro do casco junto com a água. Pegue a fari-
nha molhe e faça uma massa. Pegue essa massa, passe nos lados do casco, evitando que
saia o caldo do bororò. Quando os miúdos dentro do casco estiverem fervendo, adicione
um pouco de farinha até formar um caldo grosso, depois é só colocar um pouco de sal.
Está pronto para ser servido.
Texto: Adriana Kahereru Karajá

ANÕNANÕNA
1 – kòtuni tàlà sohoji
1 – inatxi kurihixinamy kynydè
2 – inatxi kurihixinamy bèè
- kòtunidè somõ sõmõ
- jykyra

RELEMYHῩRE
Kòtunidè somõ-sõmõ rahomy raheradỹkỹ myhỹre hitximy, tahe tule ítàlà
rahomyhỹre kòtunidè sõmõ-sõmõ tamy ratxiwimyhỹre idi tahe rabòròrònymyhỹre, kyny-
dè-di rauridỹkỹnymyhỹre iwéramy tahe iỹ ixemy relemyhỹre tahe ruamyhỹre taxe iny
ritomyhỹre.
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Idjeressi Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 91


BERETI

INGREDIENTES:
1 - casco de tartaruga (peito)
Carne do lombo da tartaruga
1 – Litro de farinha
Sal

MODO DE PREPARAR:
Pegue o casco do peito da tartaruga, limpe bem, deixando apenas a gordura.
Coloque as carnes do lombo da tartaruga cortadas em pequenos pedaços. Ponha no casco
para ser frito, depois de certo tempo, quando a carne frita, adicione a farinha. Retire do
fogo, misture a farinha com a carne e está pronto para ser servido.

Texto: Marlene Kutaharu karajá

ANÕNANÕNA

1 – òtuni dereti sohoji


1 – sohoji kurihinamy kỹnỹdè
- jikyra

RELEMYHῩRE
Kòtuni bereti rahomy tahe ide bereti rakoromy tamy ratidimy idi ruakeremy
kỹnyde di rakurimy idi rakuxemy kuka myhỹre tahe iny riromyhỹre.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Idjeressi karajá

92 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


PEIXE COM BANANA

INGREDIENTES:
- peixe
- banana da terra (comprida)

MODO DE PREPARAR:
Asse a banana verde com a casca. Depois coloque o peixe para cozinhar. Após
três minutos, quando o peixe estiver no fogo, acrescente a banana assada e deixe cozinhar
por mais cinco minutos. Retire do fogo e está pronto para ser servido.

Texto: Mª Violeta Karajá

ANÕNANÕNA
- utura
-ijàtà

RELEMYHῩRE
Utura kurimy eakamyhỹe ijõtatyhy wewosimy, elemyhỹre utura dè rahe-
ranymyhỹre, taita utura aheranymyhỹre ijõta wewòsidi rikurinymyhỹre.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Idjeressi Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 93


BERARUBU

INGREDIENTES:
-massa de mandioca
-palha de banana
- peixes
-água
- sal

MODO DE PREPARAR:
Coloque a mandioca de molho por três dias, até ela ficar mole. Então retire a
massa, coloque para secar ao sol. Depois de seca, pile no pilão até a massa ficar bem fina.
Pegue a massa, adicione água, depois espalhe sobre as palhas de banana. Acrescente o
peixe e amarre o berarubu. Faça um buraco no chão, usando lenha. Faça um fogo e deixe
formar brasas. Afaste as brasas, coloque a massa do berarubu dentro do buraco. Coloque
as brasas em cima da massa, espere por 40 minutos. Depois, retire do fogo e sirva.

Texto: Mª Violeta Karajá

ANÕNANÕNA
- bèrò kynysi
- ijata jiru
- utura
- bèè
- jikura

RELEMYHῩRE
Bèrò inatão txumy rumyhỹre, raixinykeremy, tahe txu-ò ratidimyhỹ re rate-
renykeremy, imyrahudi tahe kowokudi rasy myhỹre raruxumyny keremy tahe kutura tyre
iny ritxiwimyhỹre ijata jirudi iny ritakamyhỹre, haluku iny riwinymy tamy ritidimyhỹreri
halukunymy hèè tamy ritidimy idi Ru kakeremy iribi taxe iny rikymyhỹre riromyhỹre.
Desenho: Wendel Silva Sousa
Texto: Idjeressi Karajá

94 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


CABEÇA DE PORÇÃO ASSADA E COZIDA

Ingredientes:
- cabeça de porção (porco do mato)
- água
- sal

Modo preparar:
Pegue a cabeça de porção, limpe e deixe sem o couro. Leve ao fogo para assar.
Depois de assada, guarde a cabeça em um cofo por três dias. Após esses dias, quebre a
cabeça em pedaços pequenos e certifique de que os pedaços estão limpos. Depois de la-
vados os pedaços, leve ao fogo, deixe cozinhar por uma hora até ficar bem cozida. Depois
de pronto, é só chamar o povo para comer.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Augusto Kuraha Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 95


PEIXE ASSADO

MODO DE FAZER:
Pegue os peixes e deixe apenas com as escamas, faça um jirau por cima do fogo
e ponha os peixes para assar. Depois retire do fogo, ponha numa vasilha e está pronto
para ser consumido com grolado ou farinha.

RELEMYHῩRE
Kutura bimyke idita bikuwosinyke, iribita bineranyke, Kia heka obiu rare be-
rokynyde-di ira heradi iny rirysymyhỹre.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Augusto Kuraha Karajá

96 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


BOLO DE BANANA

Ingredientes:
- banana verde
- sal

Modo de preparar:
Pega umas 10 bananas verdes, tire a casca e ponha no fogo para assar na brasa.
Depois de assada, leve ao pilão, amasse até formar uma massa. Acrescente o sal, e com as
mãos, faça o bolo. Está pronto para ser consumido com peixe cozido.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Augusto Kuraha Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 97


BOLO DO OVO DE TRACAJÁ

Ingredientes:
1 – copo de açúcar
2 – copo de farinha seca ou trigo
15 – ovos de tracajá
- óleo

MODO DE FAZER:
Bata os ovos jutos com o açúcar. Depois acrescente a farinha seca ou o trigo.
Em seguida leve ao fogo com um pouco de óleo, deixe assar por 10 minutos, está pronto
para ser servido.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto: Adriana Kahereru Karajá

98 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


CALUGI DE ABOBORA

Ingredientes:
Uma abóbora
água
açúcar

Modo de preparar:
Corte a abóbora em pequenos pedaços e deixe cozinhar por 30 minutos. Após
cozida, pegue os pedaços da abóbora, retire a massa, coloque dentro de uma vasilha, adi-
cione a água e o açúcar. Está pronto para ser consumido.

Desenho: Wendel Silva Sousa


Texto; Deuzuita Dias Karajá

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 99


CALUGI DE MACAÙBA

MODO DE PREPARAR:
Para fazer o calugi, coloca-se no fogo uma panela grande cheia de macaúba
com cascas. Após alguns minutos, retire a macaúba do fogo, e em seguida, amasse as ma-
caúbas, depois de tirar as cascas, coloque novamente para cozinhar, acrescente o açúcar e
quando o caldo ficar grosso, está pronto para ser consumido.
Texto: Maria Violeta

100 Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá


RELEMYHῩRE

Eryri bimyke, heradena-o bitilike, idita, biheranyke rabororo ronikeu biheke,


idita inatxi mana bimyke bihetenykemy ide bihetenyke biherenyke iribita ixyby herade-
na-o bitilike raheranykemy, raboroborony keu biheke ixỹhy.

Texto: Idjeressi Karajá


Desenho: Wendel Silva Sousa

Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 101


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Aspectos Históricos e Culturais do povo Karajá – Xambioá 103

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