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Biopirataria é o nome dado à exploração e utilização de recursos naturais ou conhecimento

tradicional a respeito desses recursos de forma ilegal. O tráfico de animais, a extração de


princípios ativos e a utilização do conhecimento da população indígena sem autorização são
exemplos de biopirataria.

A biopirataria no Brasil teve início na época do descobrimento, quando ocorreu uma intensa
exploração de pau-brasil, uma espécie de porte médio da família das leguminosas. Essa
espécie, que era usada pelos indígenas para a fabricação de corantes, foi levada para a Europa
pelos portugueses. Iniciou-se aí a exploração da planta e a utilização do conhecimento
tradicional.

Por ter uma grande biodiversidade, ainda hoje há uma grande exploração dos recursos
naturais sem autorização no nosso país. Com os avanços na área da biotecnologia, a
exploração tornou-se ainda maior, uma vez que transportar material genético é mais “simples”
do que transportar um animal ou uma planta, por exemplo.

A exploração ilegal dos recursos naturais e do conhecimento tradicional gera grandes prejuízos
para um país, tanto econômicos quanto ambientais. No que diz respeito à economia, o país é
prejudicado porque a comercialização dos produtos gera lucros que não são repartidos de
forma justa para o país detentor do recurso e para as comunidades tradicionais.

A biopirataria também causa danos ao meio ambiente, pois coloca em risco a biodiversidade
de uma área. Ao explorar fortemente uma espécie, sua população diminui e,
consequentemente, elevam-se os riscos de extinção.

→ Convenção sobre Diversidade Biológica

Em 1992, durante a ECO-92, foi estabelecida a Convenção sobre a Diversidade Biológica, que
tem como objetivo “ a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus
componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos
recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a
transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre
tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado”.

De acordo com essa convenção, também ficou estabelecido que cada país tem direito sobre
seus recursos naturais, podendo explorá-los, desde que esse ato não cause danos ao meio
ambiente que afetem outros países. Fica claro, portanto, que os recursos naturais não são
patrimônio da humanidade e nenhum outro país pode explorar uma área sem a devida
autorização.

→ Alguns casos importantes de biopirataria no Brasil

- Em 1746, o cacau foi levado da Bahia para a África e Ásia, onde o produto começou a ser
utilizado e vários derivados foram produzidos. Diante do sucesso das plantações, a produção
do cacau tornou-se uma das principais atividades econômicas nesses locais.

- Em 1876, várias sementes de seringueira foram levadas para Inglaterra e distribuídas para
colônias asiáticas. Quando as árvores cresceram nesses locais, cerca de 40 anos depois, eles se
tornaram os maiores produtores de látex.

- O cupuaçu, fruta típica da Amazônia e da mesma família do cacau, também foi alvo de
exploração. Empresas japonesas patentearam o fruto e registraram um chocolate feito com o
caroço de cupuaçu (cupulate). Diante disso, nosso país não podia exportar o produto utilizando
o nome cupuaçu e cupulate sem o pagamento de royalties. Entretanto, esse produto já havia
sido criado pela Embrapa e uma grande mobilização foi feita para quebrar a patente.
Felizmente, a patente japonesa foi quebrada em 2004.

- Uma espécie de rã da Amazônia (Epipedobates tricolor) também foi alvo da biopirataria.


Cientistas obtiveram rãs de forma ilegal, estudaram seu veneno e produziram um produto com
propriedades analgésicas, o qual patentearam.

A melhor forma de combater a biopirataria na Amazônia é conseguir transformar os recursos


da biodiversidade em atividades econômicas para gerar renda e emprego para a sua
população. A fragilidade da economia extrativa em que se baseia a maioria dos produtos da
biodiversidade amazônica constitui em um convite a biopirataria. A formação de um parque
produtivo local competitivo e a sua verticalização inibiria a sua transferência para outras partes
do mundo. Há necessidade de desmistificar a biodiversidade potencial, dar maior atenção para
a biodiversidade do passado e do presente (fontes da biopirataria) e, entender as limitações da
economia extrativa. A conservação e a preservação da biodiversidade amazônica vai depender
da utilização das áreas já desmatadas, da recuperação das áreas que não deveriam ter sido
destruídas, de maiores investimentos em C&T e de infra-estrutura social. Os recursos da
biodiversidade amazônica com maior interesse econômico seriam as plantas medicinais,
aromáticos, inseticidas e corantes naturais. Dessa forma, a histeria com relação a biopirataria
na Amazônia esconde dois graves problemas: ocultar a gravidade real do problema e a outra
buscar uma efetiva solução.

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