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Biografía
Pelo último da sua trajetória política destaca-se por ser ministro de Instrução Pública
(1919 e 1923), criar as Escolas Primárias Superiores, reformar a Biblioteca Nacional,
fundar a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde foi diretor e professor.
Defende, a pesar de toda a polémica gerada, a liberdade do ensino religioso nas escolas
particulares fiscalizadas pelo Estado e ser um dos maiores impulsores do Espiritismo em
Portugal, formando parte da mesa do I Congresso Espiritista Português, desenvolvido em
Lisboa em Maio de 1925. Além de chegar a romper relações com a facção tradicional do
seu partido, o Partido Republicano Português, que acabou por abandonar, ingressou um
grupo dissidente, a Esquerda Democrática.
Das suas amizades em Portugal cumpre salientar a que tinha com Jaime Cortesão, um
médico, político e historiador português. Eles dois juntos formaram e dirigiram uma
revista ilustrada de orientação anarquista e um ano depois eles lançam uma sociedade
chamada ABC na honra dum poeta chamado Victor Marie Hugo. O objetivo desta
sociedade era poder eliminar o analfabetismo e combatê-lo em tudo o possível.
Obra
É autor de vários livros e obras como O pensamento criacionista (1914), A Alegria, a dor
e a graça (1916) e Do amor e a morte (1922). Leonardo Coimbra seguia a corrente
filosófica do criacionismo especificamente de intuição bardonista que é o contato do
pensamento com a hora meridiana do que é (e tem como exigência primária) a
coincidência do que se é com o que se conhece. A intuição do bergsonismo é
originariamente a assistência ao ritmo da sua própria vida, uma intuição de si mesmo,
uma intuição de homem para homem, e para lá dos homens, uma intuição de
ressonâncias humanas, que devem existir em tudo.
Fora de Portugal, salientou a sua relação com a Galiza, onde teve uma relação com o
grupo Nós, pela primeira vez o 30 de Dezembro do ano 1920, no terceiro número da
revista Nós, numas páginas onde encontramos uma carta dedicada para Vicente Risco
onde o português acusa recibo e loa o primeiro número da publicação. Tempo depois
parece ser que no número 7 da mesma revista Nós, num artigo intitulado A embaixada
espiritual de Leonardo Coimbra, fala-se de um vínculo maior entre os portugueses e
galegos depois da visita que foi fazer Leonardo Coimbra à Corunha, lá fizeram um
acordo. Este acordo consiste em que na Galiza se poderá conhecer a cultura portuguesa
do Leonardo Coimbra e em Portugal a galega atravês das revistas galegas, pelo que
vemos um acordo entre galegos e portugueses, obrigado pela visita de Leonardo
Coimbra à Corunha.
Também se diz que o Leonardo deu umas quantas conferências na Galiza e participou nalgum
que outro espectáculo e concerto no teatro Rosalia de Castro. Dizem que numa destas
conferências estavam presentes Carvalho Barbosa, o catedrático da Escola de Comércio do
Porto, o professor Diaz Pereira, da escola Acadêmica, e também participaram dois pintores,
Rebelo Júnior e Peralta, que deram uns quantos concertos na Praça de Toiros.
AQUILINO RIBEIRO
Biografía
Aquilino Ribeiro nasceu numa localidade da Beira Alta. Aos dez anos, os pais mudaram-
se para Soutosa, onde frequentou a escola primária. Depois foi para Lamego e mais
tarde para Viseu, onde entrou no seminário, mas saiu por falta de vocação. Fixa-se em
Lisboa em 1906. Em pleno período de agitação republicana, começa a escrever os
primeiros artigos nalguns jornais e empenha-se na causa da renovação. Em 1907, após
a explosão de uma bomba, ele foi preso, mas conseguiu fugir. Entre 1908 e 1914, andará
entre Paris e Berlim, cidades onde muito expandiu os seus horizontes. Regressou a
Portugal em 1914, no início da Grande Guerra. Em 1918 publicou o seu primeiro
romance, A Vida Sinuosa, que dedicou à memória do pai, Joaquim Francisco Ribeiro.
Entra em 1919 para trabalhar definitivamente na Biblioteca Nacional; e a partir desse ano
escreveu sem parar: Terras do Demo (1919), O Romance da Raposa (1924), Andam
Faunos Pelos Bosques (1926), A Batalha Sem Fim (1931) e muitos outros títulos. Voltará
a estar envolvido nas revoltas contra a ditadura militar, tanto no Porto como em Viseu.
Por isso, terá que se exilar em Paris duas vezes, em 1927 e em 1928; nesta cidade se
casará pela segunda vez (a primeira mulher falecera). Em 1935 a sua obra literária torna-
se mais fecunda: Volfrâmio (1944), Arcanjo Negro (1947), Malhadinhas (1949), A Casa
Grande de Romarigães (1957), que é a crónica de uma linhagem, traçada desde a sua
origem no século XVII até ao século XIX, e Quando os Lobos Vivem (1958). Este último
livro foi sequestrado pela censura e julgado pelo seu conteúdo. Em seguida, viajou para
o Brasil, Londres e Paris novamente. Em 1963, ficou doente inesperada e gravemente.
Morreu em 7 de Maio de 1963, aos 78 anos. Foi sepultado no Panteão Nacional de
Lisboa.
Aquilino Ribeiro foi um conhecido e aclamado escritor português, que juntamente com
Raúl Brandão e Teixeira Gomes, esteve à frente da revista Seara Nova nos seus
primórdios.
A sua relação com a Galiza, entre outras coisas, deve-se à sua breve estadia em 1981,
onde teve uma relação muito profunda com escritores literários da época.
Noriega Varela (um dos representantes poéticos das Irmandades da Fala), que no seu
livro Do Ermo inclui como homenagem um poema popular português (Andam faunos
pelos bosques), adaptado ao galego, que pertence à obra de Aquilino Ribeiro.
BERNARDINO MACHADO
Biografía
Bernardino Machado nasceu no ano 1851, no Rio de Janeiro. Foi criado numa família
humilde de comerciantes. Obteve a licenciatura de filosofia estudando na Universidade
de Coimbra onde foi também mais tarde professor de Matemática. Foi Ministro de Obras
Públicas, Comércio e Indústria
Actividade política
A época em que viveu Bernardino era uma época de produtos escassos. Em 1921,
proclamou-se Ministro do Interior, Presidente do Governo e Ministro Interino.
Em 1893, durante a monarquia de Carlos I, Machado Guimarães ascendeu ao cargo de
Ministro das Obras Públicas e Comércio.
Em 1910, foi elevado ao cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, o que serviu,
por um lado, para Machado Guimarães tentar pôr em prática as suas ideias políticas de
colaboração económica com outros países europeus.
Machado Guimarães aceitou o cargo de cônsul de Portugal no Brasil, para onde chegou
em 1913. Apenas um ano depois de sua estadia no Brasil, foi chamado para fazer parte
do governo de coligação que procurava a pacificação total do país. Em 1915, com o
gabinete acabado de formar, Machado Guimarães foi empossado como Presidente da
República.
Com o apoio de outros proeminentes republicanos, como Manuel Teixeira Gomes, fê-lo
falar a favor da intervenção portuguesa, sobretudo depois de a Alemanha declarar
oficialmente a guerra em 1916.
A tempestade política suscitada por esta intervenção acabou por conduzir ao golpe de
estado de 1917, perpetrado por Sidónio Pais, em que se instaurou um regime ditatorial.
Machado Guimarães, como Presidente da República, opôs todas as resistências
possíveis, mas acabou por ter de se exilar devido ao risco para a sua integridade física.
Regressou a Portugal em 1921 e, tal como já o tinha feito em 1914, presidiu o governo
provisório republicano até à constituição definitiva da República, sendo nomeado o seu
presidente em 1925. Um ano depois, o golpe militar despoletado por António Carmona
instaurou uma ditadura militar em que uma Junta de Oficiais monopolizava todos os
poderes do Estado. Forçado ao exílio pelo regime de Carmona, morreu numa localização
não totalmente precisam parece ser que em Paris, em 1944.
Foi exilado na Galiza primeiro e depois na França. As forças nazis invadiram a França e
teve de ficar lá. Finalmente, em 1944 fixou residência no Alto Douro.
Alguns dos seus livros: O ensino (1898), O ensino primario e secundario (1899),
Homenagens (1903), A Universidade de Coimbra (1905), Pela República (1908) e Rui
Barbosa (1923).
MANUEL RODRIGUES LAPA
Biografía
Foi preso em 6 de Janeiro de 1949. Em 1957 exilou-se no Brasil, onde impartiu aulas em
diferentes universidades e realizou pesquisas sobre o século XVIII no estado de Minas
Gerais. Regressou a Portugal após a revolução dos cravos.
Em 1965, a sua edição das cantigas de escarnho e maldizer foi impressa em Vigo. Em
1973, publicou um artigo na revista lisboeta Colóquio/Letras, onde se declarou a favor de
que o galego fosse escrito com ortografia portuguesa. O artigo foi republicado na revista
Grial, gerando polêmica, na qual se posicionaram contra intelectuais galegos como
Ramón Piñeiro, Álvaro Cunqueiro ou Ramón Otero Pedrayo e a favor Valentín Paz
Andrade, Ernesto Guerra da Cal, ou Ricardo Carvalho Calero.
Em 1981 fez a sua última visita à Galiza, para apresentar um livro do seu amigo Ricardo
Carvalho Calero. Em 1989 faleceu na sua casa em Anadia.
Lapa e o galeguismo
1. Sempre considerei a Galiza, essa terra maravilhosa, desgraçada e incompreendida, como sendo a
minha própria terra; e historicamente e geograficamente assim é, pois estou dentro dos limites da velha
Galécia, que chegava pelo sul ao rio Mondego.
2. Pergunto daqui ao meu querido amigo Ramón Piñeiro, que na dedicatória do seu Cancioeiro da
Poesia Céltiga [sic] (1952) me considerou “o mais ilustre galego de aquém-Minho”, o seguinte: -Se eu
tenho orgulho em ser galego desta Galiza de aquém-Minho, e não é a primeira vez que o manifesto (sou
de Anadia, nos limites da Galiza anterga, por que razões ele, homem de Lugo, que pertencia à
metrópole de Braga, não há-de ter orgulho em ser português? Dizendo melhor: por que não havemos
todos de ter muita honra em ser galego-portugueses?
Por isso foi, e é, querido na Galiza por pessoas, entre as mais novas, para quem a raia
não é fronteira linguística. E por isso foi, e é, odiado na Galiza por pessoas, entre mais
velhas, para quem a raia não só é fronteira linguística mas também política: o limite de
quatro províncias do Estado espanhol, a que chamam “Galicia”.
Cedo começou Rodrigues Lapa a dar amostras desse seu amor magistral. Já nos anos
30, do século passado, as páginas da revista galega Nós ecoavam as suas iniciativas
sobre um acordo luso-galaico para uma reforma ortográfica, considerada indispensável
pelos redactores da revista. Só um exemplo do que ele opinava naquela altura: O acordo
filológico entre as duas regiões seria coisa facílima, não precisando sequer da
intervenção oficial: bastava um entendimento entre o Centro de Estudos Filológicos e o
Seminário de Estudos Galegos.
MANUEL RODRIGUES LAPA
Veio depois a guerra civil espanhola, que esmagou todo projeto possível, pela via
simples de matar os seus promotores, e até os que mais não tinham que atitude aberta e
ideias livres. (Aqui cumpre anotar que não é verdade que a mal chamada “guerra civil”
tivesse poupado a Galiza; é verdade que as grandes frentes de batalha [nas que
valentemente combateram galegos, como R. Carvalho Calero e E. Líster, por só citar
dous] estiveram noutras partes do Estado espanhol; mas na Galiza as frentes foram mais
insidiosas que as militares: as terríveis vinganças pessoais e interesseiras; as repressões
das pessoas independentes na política ou na cultura; os fuzilamentos sumaríssimos ou
os simples passeios da porta da casa à valeta mais próxima, para ali deixar o cadáver à
vista e infundir terror; a caça à guerrilha nos montes galegos; enfim a sanha do fascismo
bruto [galego também: é preciso dizê-lo], que durou e perdurou na “longa noite de pedra”
que cantará anos depois Celso Emílio).
Nos anos 50, é Rodrigues Lapa quem ecoa, ele próprio no exílio no Brasil, as propostas
do também exilado galego Ernesto Guerra da Cal, encaminhadas a fazer uma reunião
entre portugueses, brasileiros e galegos, para lançar as bases de uma reforma
ortográfica. E, do ponto de vista filológico, lembra: Uma das grandes dificuldades para
quem se ocupa dos trovadores é e continua a ser a determinação dos seus lugares de
origem, da sua pátria, digamos, no fraseado de hoje, que não correspondia ao de então.
É, em muitos casos, uma tarefa vã; e isso mesmo tem um significado lisonjeiro, porque
revalida a ideia de uma perfeita identidade entre as duas Galizas, a de além e a daquém
Minho.
Foi assim como ele veio a redigir e publicar o seu soado artigo A recuperação literária do
galego, que foi considerado uma ingerência na Galiza pelos servidores do Estado
espanhol, mas que não foi mais do que a sua resposta a uma carta aberta do citado
Ramón Piñeiro na revista Colóquio/Letras, e já anunciada à redação do Boletim do Grupo
de Trabalho Galego de Londres. Nele resume assim a sua clara posição: Nada mais
resta senão admitir que, sendo o português literário actual a forma que teria o galego se
o não tivessem desviado do seu caminho próprio, este aceite uma língua que lhe é
brindada numa salva de prata.
São ideias que sintetizam as por ele já de sempre sustidas: Falta ao galego de hoje a
consciência de que galego e português foram e são ainda a mesma língua, apesar das
diferenças que a uma delas imprimiu o contacto com outra língua, culta e dominadora.
[...] Por isso, quaisquer que sejam as vicissitudes que o destino e a cobardia dos homens
reservem ao idioma galego, uma coisa temos como certa: esse doce linguajar não
morrerá, pois se ouve e se lê em Portugal, onde é uma língua de cultura [...] De qualquer
maneira, estamos a braços com um dilema, que exige uma opção crucial: ou o galego se
perde, submergido pelo castelhano; ou se salva, apoiando-se na força duma língua em
ascensão como é o português.
O nosso homem não foi ouvido, e não admira: a máquina do denominado isolacionismo
linguístico, sempre fortemente apoiada e financiada pelo EE, ganhou essa pírrica
batalha, e instalou (se bem timidamente), na administração autonómica e no ensino, o
que o perspicaz Rodrigues Lapa não duvidou em qualificar de “castrapo”: o galego de
hoje é um composto de formas arcaicas e populares do galego-português com mistura
aberrante de castelhanismos de toda a espécie. A este idioma desgraçadamente poluído
dá-se o nome de ‘castrapo’.
O resultado é tristemente fácil de se ver: gerações inteiras desertam desse galego “que
não serve para nada”, como é o dito corrente. Há outras causas da desfeita (como nós
dizemos à derrota ou ruína): mas essa é fundamental, porque está no alicerce mesmo da
consideração da língua própria: como um idioma regional, co-oficial na “Galicia”,
considerado como “también español” pela Constituição do Estado espanhol, e tolerado
desde que permaneça em estado de hibernação que “não cria problemas” e do que se
podem aproveitar todo tipo de políticos e intelectuais, com dinheiros públicos; ou então
como a língua nacional da Galiza, que também é internacional, assim considerada hoje
por academias de Portugal e do Brasil, e já desde as negociações dos Acordos
Ortográficos (do 86 e do 90), nas que participou extra-oficialmente como observadora,
mas com pleno direito.
MANUEL RODRIGUES LAPA
Ele sentiu-se então defraudado pelos seus amigos do grupo Galaxia, como escrevia a
outros amigos: Com a teimosia, levada ao paroxismo, o Galego sofre hoje de outro mal,
o complexo da singularidade; e isso leva-o a recusar o retorno à tradição comum. Não
viu cumpridos os seus anseios. Hoje está, com Guerra da Cal, com Carvalho Calero,
com Bóveda e Castelao, entre os nossos bons e generosos. Mas agora uma nova
geração, sem medo, desconstrói o mal construído, e desoculta o propositadamente
ocultado, assentando nas bases que ele em parte delineou. Sejam dele as derradeiras
palavras:
No 1930 Lapa pública: Os vilancicos: o vilancico galego nos séculos XVII e XVIII, obra na
que estuda os vilancicos galegos, dois anos depois vai á Galiza por vez primeira.
Durante o tempo do exílio, Lapa volta a escrever sobre a literatura e língua galega, em
1965 edita-se em Vigo a sua edição das Cantigas de Escarnho e Maldizer.
Em 1973, publica um artigo na revista lisboeta Colóquio/Letras, onde ele comenta que a
língua galega deveria ser escrita à portuguesa, posicionando-se em contra de Cunqueiro,
Otero Pedrayo e Ramon Piñeiro e a favor Carvalho Calero, Paz Andrade e Ernesto
Guerra.
O acordo filológico entre as duas regiões seria coisa facílima, não precisando sequer da
intervenção oficial: bastava um entendimento entre o Centro de Estudos Filológicos e o
Seminário de Estudos Galegos.
A paixão (ele próprio a qualificou de vício, aí sim talvez exagero) do mestre Manuel
Rodrigues Lapa pela língua da Galiza era algo incrível: uma e outra vez demostrada, com
persistência, com amor, com teimosia galega até, ao longo de muitos anos. Ele sentia
como seus os problemas da língua ao norte da Raia, a sua prostração, os ataques do
espanholismo, e certeiramente prévia muitos dos desvios daqueles que se diziam
“galeguistas”, como também os perigos do colaboracionismo linguístico e os pequenos
frutos que depois deu.
A amizade de Fernández del Riego e Rodrigues Lapa durou muito tempo e foi muito
próxima. Começou nos anos trinta, quando Lapa veio à Galiza para investigar a origem
do trovador Soares de Taveirós que poderia ter nascido na Estrada. Ali estava de juiz o
escritor Fermín Bouza Brei que foi quem o apresentou a Del Riego. Juntos, eles vão a
uma homenagem em 1932 Castelao em Lugo, Nadela, e os dois aparecem no grupo
fotográfico desse dia.
MANUEL RODRIGUES LAPA
Com Rodrigues Lapa, Del Riego visitou Coimbra e a Costa da Caparica, onde tinha casa,
e todos os anos passava oito dias na quinta da Anadia. Quando lhe pagaram os
‘royalties’ das Cantigas, decidiu investi-los em conhecer a Galiza quando a sua mulher e
o seu filho e Del Riego amostrou-lhes o seu país.
Reencontrará-se algum tempo depois em São Paulo para onde se mudou Rodrigues
Lapa e também foi o melhor anfitrião do galego. Nos anos cinquenta, Del Riego
entrevista a Rodrigues Lapa para a revista Galiza Emigrante dentro de uma coleção de
entrevistas com a cultura galega.
A relação tem muitos episódios de interesse. Assim, o investigador português foi quem
deu a conferência inaugural da Fundação Penzol, em Vigo, tão ligada à biografia de Del
Riego, e àquela entidade que lhe deu em herança a sua biblioteca filológica.
Rodrigues Lapa, segundo Del Riego, viveu na Galiza, em Portugal e no Brasil um vasto
mundo com diferenças fonéticas e grandes semelhanças. Quando pôde, abriu a porta à
cultura galega e, desta forma, à revista Seara Nova, que dirigiu, a muitos dos galegos
que colaboraram.
Del Riego colocou a Lapa com as figuras mais comprometidas com a Galiza como
Teixeira de Pascoaes ou Leonardo Coimbra e disse que foi um homem de total
honestidade.
Montero afirma que a proposta do professor Rodrigues Lapa provocou uma reação
inesperada em Ramón Piñeiro que a interpretou como um ataque ao galicismo oficial que
representava. O Rodrigues Lapa ficou muito surpreendido com aquela reacção, como me
confessou. Montero diz que a resposta nada teve a ver com a proposta feita pelo
professor português que sempre se destacou pelo apoio ao galeguismo na década de
1930, quando conheceu Castelao. Diz Martinho Montero que Carvalho Calero foi o único
que recebeu o artigo como um choque. Isso o fez refletir se o que eles estavam fazendo
estava no caminho certo e se era útil.
Lapa e Galaxia
Manuel Rodrigues Lapa, crítico literário, escritor e tradutor português, tinha uma ligação
com Francisco Fernández del Riego através do interesse comum pela literatura da
Galiza. Ambos os indivíduos foram figuras influentes em suas respectivas comunidades
literárias e contribuíram para a promoção e desenvolvimento de suas respectivas línguas
e culturas, mas mantinham uma forte ligação por meio da língua galega.
Embora não disponha de informações concretas sobre uma relação direta entre a
Editorial Galaxia e Manuel Rodrigues Lapa, é possível que os seus caminhos se tenham
cruzado através do seu envolvimento na cena literária. De notar que a Editorial Galaxia,
fundada por Francisco Fernández del Riego e outros em 1950, visava a promoção da
literatura e da cultura galega, o que poderá ter implicado colaborações e contatos com
escritores e intelectuais de outras regiões, incluindo Portugal.
LUÍS CÂMARA REIS
Biografía
No campo da crítica literária deixou também obra significativa, com destaque para a sua
obra As questões morais e sociais da literatura. Também produziu manuais escolares e
publicou obras de ficção, especialmente contos.
Obra
Para além de vasta obra dispersa por periódicos, é autor das seguintes obras:
Paris!(1907)
O melhor caminho (1907)
Cartas de Portugal (1906-1907)
A ilha Terceira pitoresca (março de 1907)
Contos de Março (1909)
Vida política (1913)
Natal (1921)
Os quarenta imortais (1921)
Conferência sobre a peça Adão e Eva de Dr. Jaime Cortesão (1921)
Cidades antigas, terras mortas (1926)
Petits essais litteraires (1930)
As questões morais e sociais na literatura, Seara Nova (1941-1946)
Poucos conhecem os Açores (1942)
As questões morais e sociais na literatura (1943)
Divagações musicais : dos trovadores a Vila-Lôbos (1944)
Costa do Sol (1958)
Raúl Proença (1985)
TEIXEIRA DE PASCOAES
Biografía
Um ano antes das conferências, em 1917, outro lusófilo apaixonado, Andrés González
Blanco, tradutor de poetas como Antero de Quental, Gomes Leal, Eugénio de Castro ou
Camões, dedicou um extenso artigo a Pascoaes e ao Saudosismo na revista Estúdio, em
que estabelece um diálogo entre o futurismo de Marinetti e o saudosismo. Desta,
apresenta os seus fundamentos étnicos, históricos e filológicos, bem como a sua
presença na literatura e na política e as suas ligações com Espanha, num amplo texto
por onde circulam os nomes de Francisco Villaespesa (tão próximo do espírito lusitano
em livros como Saudades) e a do próprio Fernando Pessoa, impressa pela primeira vez
em Espanha.
Pessoa definiu o nosso escritor como um dos maiores poetas vivos e o maior poeta lírico
da Europa hoje.
A grande simpatia que surgiu entre os dois poetas, Noriega e Teixeira, e que se
transformou numa amizade fraterna, estendeu-se aos seus familiares e amigos mais
próximos. Assim, Noriega mantém uma prolífica relação epistolar com Maria da Glória,
irmã de Teixeira e também poetisa: elogia o irmão pelo livro Horas de Deus e descreve-o
como Rosalía de Lusitânia, em identificação com a grande artífice das letras, Rosalia de
Castro.
Nas suas cartas, Noriega faz muitas referências à mulher e às quatro filhas, a quem lê
por vezes poemas de Teixeira, como A minha aldeia. Em carta de maio de 1923, ela
confessa que as suas filhas já ouviram esse pequeno poema três vezes. Nela, Teixeira
fala da emigração dos homens da aldeia em relação à natureza, às árvores que são
arrancadas, mas carregam a terra grudada na pele e no coração. Noriega compreendeu
bem a profundidade destes sinceros versos portugueses, pois os galegos partilharam o
sofrimento da dura emigração. Há também espaço para petições, como a de Noriega a
Teixeira, já em dezembro de 1921, sobre prefácios à obra literária de um amigo seu, o
procurador da Audiência de Orense, Sr. Francisco Salgado López-Quiroga. Pedido que
Pascoaes não hesitou em aceitar e cujas palavras preliminares foram impressas no livro
Cantares d'a Terra do referido Salgado, publicado em Ourense por La Región em 1922.
TEIXEIRA DE PASCOAES
Ambos compartilham a dor de Teixeira pela morte do pai no Natal de 1921. Pascoaes
afirma que só ameniza o sofrimento refugiando-se na evocação de amigos poetas, como
o próprio Noriega, e ousa oferecer-lhe repouso por um tempo na sua humilde casa em
Trasalba, para que se afaste da casa do pai de Amarante e goce da sua companhia e da
mulher e das filhas, que o adoram sem o conhecer. Teixeira, juntamente com a irmã,
retribuem o convite e decidem que Noriega e a família serão os únicos a ficar na casa da
família Amarante, pois querem agradecer-lhes o carinho nestes tempos difíceis e honrar
a sua amizade fazendo a homenagem do pai na casa própria de Noriega Varela, tal
como Teixeira afirma: também me considero galego. O carinho é tanto que Pascoaes diz
a Noriega Há almas, como a dele, que afirmam a existência de Deus, como há outras
que o negam, infelizmente. Por fim, Noriega proporá a hospedagem de Pascoaes, não
na sua humilde casa, que não considera condizente com a estatura de seu hóspede,
mas na casa senhorial de seu amigo Otero Pedrayo, o Pazo de Cimadevila, para que se
torne um ponto de encontro e encontro literário e familiar. Noriega aceita o convite dos
irmãos Amarante, e anuncia que irá sozinho ou com uma das filhas.
São muitos os sinais de intimidade familiar entre os dois poetas, galego e lusitano, que
transparecem nas suas cartas, dedicatórias e conversas.
A relação entre Nogueira e Teixeira é muito grande, difícil de resumir, embora poderia
fazer-se com estas palavras: a relação pessoal e literária entre Noriega Varela e
Pascoaes começou com o romance de Varela pela admiração lírica deste por Pascoaes.
Essa admiração transformou-se numa profunda amizade fraternal que ambos cultivavam
nos seus poemas, dedicatórias e cartas. Teixeira esteve muito presente na cultura
galega, o seu nacionalismo levou-o a dizer que esta terra do Noroeste era Uma mordida
de Portugal nas patas do leão castelhano. A Galiza é a nossa Alsácia!.
Saudosismo
Teixeira expressou a sua metafísica saudosista em livros de poemas como Vida Etérea
(1906), As sombras (1907), Senhora da noite (1909), Maranus (1911) e Regresso ao
Paraíso (1912), entre outros. A seguir, podemos ler um fragmento de Vida Etérea: