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Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Música

Frederico Gonçalves Pedrosa

Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em


Grupo na Dependência Química (MTDQ)

Belo Horizonte – MG
2023
Frederico Gonçalves Pedrosa

Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em


Grupo na Dependência Química (MTDQ)

Tese de doutorado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Música da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial para para obtenção do título de doutor.
Linha de Pesquisa: Sonologia

Orientadora: Profa. Dra. Cybelle Maria


Veiga Loureiro
Coorientador: Prof. Dr. Frederico Duarte
Garcia

Belo Horizonte
Escola de Música da UFMG
À Ester Gonçalves, Maria Pedrosa e Maíra Campos
AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Cybelle Loureiro pelo aceite do projeto, pela escuta e olhar
atentos, pelo acolhimento nas horas difíceis durante o processo de escrita e pela força que lhe
é característica: aprendi muito contigo e sou muito grato pela convivência! Agradeço também
a coorientação do professor Frederico Garcia, sempre apontado para as melhores práticas!
Agradeço imensamente aos professores membros da banca de qualificação e da banca
final pela leitura atenta, pelos comentários pertinentes e pelos retornos, mesmo fora do
contexto de avaliação: Dra. Karen Szupszynski, Dr. Gustavo Gattino, Dr. Maurício Loureiro,
Dr. Cristiano Gomes, Dra. Verônica Magalhães Rosário e Dr. Valdir Campos. Sou grato
também aos professores do PPG Música e do PPG PsiCogCom, e, em especial, ao apoio do
Dr. Davi Mota.
Sou grato aos professores musicoterapeutas da UFMG, que, além de exemplos
profissionais, foram grandes parceiros nesta caminhada, contribuindo nesta pesquisa de
diversas formas: desde conversas aprofundadas sobre as epistemologias da avaliação em
musicoterapia até com o ombro amigo. Obrigado Renato Sampaio, Verônica Magalhães,
Marina Freire, Igor Ortega e Fernanda Ortins.
Agradeço à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte por permitir que a pesquisa seja
feita em seus aparelhos. Sobretudo, sou grato à gerente Kelly Nilo pela acolhida do projeto no
Centro de Referência em Saúde mental Álcool e Drogas Pampulha Noroeste.
Aos meus pais, irmãos, tios, primos e especialmente à minha filha, pelo incentivo e
por compreender as ausências durante o período desta pesquisa.
Aos amigos/irmãos Guilherme Andrade, Ruth Bueno, Pedro Manoel, Henrique
Ribeiro e Danda Saraiva: tem muito de vocês nestas páginas. Além do mais, o progresso
destes últimos anos não seria possível se não fosse a presença, ainda que distante, de vocês
em minha vida. Muito obrigado!
Sou eternamente grato à Maíra Campos, por me acompanhar com carinho, atenção,
cuidado e humor, se alegrando com minhas conquistas, entre “mísseis” e “érres”. Meu amor
por você e seu amor por mim são um tantão de saúde, “um descanso na loucura”.
RESUMO
A Musicoterapia (MT), no contexto internacional, se insere nos cuidados em saúde mental desde sua
criação. No Brasil, mesmo antes da primeira formação se estabelecer, já existiam profissionais
contratadas como musicoterapeutas. No que pesem estes dados, a maioria das pesquisas em MT na
saúde mental são exploratórias e qualitativas, não fornecendo comprovação de sua eficácia. Uma das
formas de demonstrar a eficácia de tratamentos terapêuticos é a partir de instrumentos de avaliação
que ajuízam a valia de intervenções. A dependência química (DQ) é uma das psicopatologias
atendidas no contexto dos cuidados em saúde mental, e pode ser definida como um transtorno mental
que afeta o usuário em nível cognitivo, social e neurológico, causado pelo abuso de qualquer
substância não produzida pelo organismo que tenha propriedades capazes de atuar sobre um ou mais
de seus sistemas. Desta forma, esta pesquisa tem por objetivo desenvolver uma Escala de Avaliação
dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ). Para tanto, usamos os
caminhos metodológicos para a construção de Instrumentos de Avaliação Psicológica desenvolvido
por Luiz Pasquali (2010) como marco teórico. Esta teoria indica 3 polos, o Teórico, o Empírico e o
Analítico. Realizamos os procedimentos teóricos a partir de 2 estudos. No primeiro artigo, realizamos
uma Revisão Integrativa de literatura, por meio dos descritores Mesh “music therapy” e “drug abuse”,
em busca de literatura científica que evidencie quais desfechos podem ser avaliados através do uso de
testes, em abordagens sistematizadas em MT, no contexto da DQ. Foram identificados 22 textos que
apontaram falta de padronização dos desfechos avaliados pelos estudos, limitando sua
comparabilidade. Ainda assim, puderam-se concluir alguns pontos sobre a ação da musicoterapia em
aspectos psicológicos de pacientes acometidos por uma dependência química. Em um segundo estudo,
apresentamos uma abordagem para tratamentos musicoterapêuticos voltados à população que possui
dependência química, a partir de uma discussão teórica apoiada no Modelo Científico Racional de
Mediação (Rational Scientific Mediating Model – R-SMM) em interface com o Modelo Transteórico
de Mudança (MTM). Assim, discutimos as bases neurofisiológicas do processamento musical bem
como das drogas de abuso, apontamos as técnicas musicoterapêuticas eficientes ao tratamento
musicoterapêutico com tal população, apresentamos o MTM e, por fim, apontamos quais técnicas
podem ser indicadas com mais eficiência para as diferentes fases do tratamento. Posteriormente, no
terceiro artigo, realizamos uma pesquisa metodológica e de desenvolvimento da construção da MTDQ
e buscamos evidências de validade do conteúdo deste instrumento de medida. Para tanto, utilizamos os
procedimentos, chamados Análise Semântica e Análise de Juízes. A MTDQ foi avaliada como
pertinente e adequada à população a que se destina, os itens se conectam teoricamente aos domínios e
todos os domínios e itens a ela ligados são pertinentes para a avaliação de MT em DQ. No quarto
artigo, realizamos estudos de validade estrutural e confiabilidade da MTDQ através da análise fatorial
confirmatória de itens. A amostra por conveniência foi composta por 202 participantes, sendo 154
homens (77,37%) e 45 mulheres, com idade média de 44,7 anos (DP = 12,7, mínimo = 18 e máximo =
69). Testamos 3 modelos, unidimensional, com dois fatores correlacionados e bifatorial. Os
resultados indicam melhor adequação da estrutura bifatorial (CFI = 0,988; RMSEA = 0,048),
composta por dois fatores específicos (processos cognitivos e processos comportamentais) e um fator
geral. Esta tese traz evidências iniciais de que a MTDQ é um instrumento apropriado para medir três
benefícios percebidos pelos pacientes com dependência química sobre a musicoterapia em seus
processos de mudança.

Palavras-chave: Musicoterapia. Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo


na Dependência Química (MTDQ). Dependência Química. Psicometria.
ABSTRACT
Music Therapy (MT) has been a part of mental health care globally since its inception, including in
Brazil where professionals were employed as music therapists before formal training programs were
established. Much of the research on MT in mental health remains exploratory and qualitative, lacking
evidence of its effectiveness. To demonstrate the efficacy of therapeutic treatments, evaluation
instruments that assess the value of interventions can be used. Chemical dependence (DQ) is a
psychopathology treated in the context of mental health care that can significantly impact users at
cognitive, social, and neurological levels. Therefore, this research aims to develop an Assessment
Scale of the Effects of Group Music Therapy on Chemical Dependence (MTDQ). The theoretical
framework for the construction of Psychological Assessment Instruments developed by Luiz Pasquali
(2010) was used in this study. This theory indicates three poles: Theoretical, Empirical, and
Analytical. The theoretical procedures were based on two studies. In the first article, an Integrative
Literature Review was conducted using Mesh descriptors "music therapy" and "drug abuse" to search
for scientific literature that demonstrates which outcomes can be evaluated using tests in systematic
MT approaches in the context of DQ. Twenty-two texts were identified, indicating a lack of
standardization of the outcomes evaluated by the studies, limiting their comparability. Nevertheless,
some points about the action of music therapy on psychological aspects of patients with chemical
dependence could be concluded. In a second study, an approach to music therapy treatments aimed at
the population with chemical dependence was presented, based on a theoretical discussion supported
by the Rational Scientific Mediating Model (R-SMM) in interface with the Transtheoretical Model of
Change (MTM). This study discussed the neurophysiological bases of musical processing as well as
drug abuse, pointed out efficient music therapy techniques for music therapy treatment with this
population, presented the MTM, and finally indicated which techniques can be more efficiently
indicated for different phases of treatment. In a third study, a methodological and developmental
research was carried out on the construction of the MTDQ, seeking evidence of the content validity of
this measurement instrument. Procedures called Semantic Analysis and Judges Analysis were used.
The MTDQ was evaluated as relevant and adequate to the population for which it is intended, with
items that are theoretically connected to the domains, and all domains and items linked to it are
relevant to the evaluation of MT in DQ. Studies of structural validity and reliability of the MTDQ
were carried out through confirmatory factor analysis of items. The convenience sample was
composed of 202 participants, 154 men (77.37%), and 45 women, with a mean age of 44.7 years (SD
= 12.7, minimum = 18 and maximum = 69). Three models were tested: unidimensional, with two
correlated factors, and bifactorial. The results indicate better adequacy of the bifactorial structure (CFI
= 0.988; RMSEA = 0.048), composed of two specific factors (cognitive processes and behavioral
processes) and a general factor. This dissertation provides initial evidence that the MTDQ is an
appropriate instrument for measuring three benefits perceived by patients with chemical dependence
regarding music therapy in their change processes.

Keywords: Music Therapy. Assessment Scale for Group Music Therapy in Chemical Dependence.
Chemical Dependency. Psychometry.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................11
2. OBJETIVO GERAL...........................................................................................................25
2. Objetivos específicos...........................................................................................................25
2. REVISÃO DE LITERATURA..........................................................................................26
3.1. Artigo 1: Musicoterapia na Dependência Química: Uma Revisão Integrativa..........26
4. DISCUSSÃO TEÓRICA....................................................................................................59
4.1. Artigo 2: Abordagem de tratamento musicoterapêutico em Dependência Química
baseado no Modelo Transteórico de Mudança.....................................................................59
5. METODOLOGIA..............................................................................................................79
6. RESULTADOS.................................................................................................................83
6.1. Artigo 3: Desenvolvimento da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em
Grupo na Dependência Química: Análise teórica e semântica...........................................83
6.2. Artigo 4: Estudos de validade e confiabilidade da Escala de Avaliação dos Efeitos da
Musicoterapia em Grupo na Dependência Química..........................................................108
7. CONSIDERAÇÕES GERAIS..........................................................................................121
8. REFERÊNCIAS GERAIS................................................................................................122
APÊNDICES..........................................................................................................................128
Apêndice A: Manual do Protocolo de Avaliação na Terapia de Grupo em Musicoterapia na
Dependência Química para a análise de juízes.......................................................................128
Apêndice B: Manual da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química.............................................................................................................145
Apêndice C: Termo de Consentimento Livre Esclarecido.....................................................160
Apêndice D: Sintaxe...............................................................................................................161
11

1. INTRODUÇÃO

Música e saúde apresentam profundas e históricas conexões, principalmente


quando pensamos em saúde mental. Costa (1989), Wigram, Pedersen e Bonde (2002), e
Puchivailo (2008; 2014) apontam, em uníssono, que as sonoridades fizeram e fazem
parte importante de aspectos emocionais, intelectuais, culturais, espirituais e
terapêuticos de diversas sociedades humanas.
A Musicoterapia (MT) moderna, se estabelece a partir da década de 40 do século
passado, nos Estados Unidos da América, direcionada aos cuidados dos “neuróticos de
guerra”, termo que designava aqueles que retornavam da Segunda Grande Guerra
Mundial com psicopatologias (Puchivaillo, 2008). É também neste período que se inicia
a formação acadêmica para a graduação de musicoterapeutas, na Universidade de
Michigan, em 1946 (Gaston, 1968).
Como se trata de uma profissão multifacetada e plural, com grande diversidade
de práticas clínicas, existem várias formas de defini-la (Bruscia, 2016). Atualmente, a
União Brasileira de Associações de Musicoterapia (UBAM, 2018), entende que a

Musicoterapia é um campo de conhecimento que estuda os efeitos da música


e da utilização de experiências musicais, resultantes do encontro entre o/a
musicoterapeuta e as pessoas assistidas. A prática da Musicoterapia objetiva
favorecer o aumento das possibilidades de existir e agir, seja no trabalho
individual, com grupos, nas comunidades, organizações, instituições de saúde
e sociedade, nos âmbitos da promoção, prevenção, reabilitação da saúde e de
transformação de contextos sociais e comunitários; evitando dessa forma, que
haja danos ou diminuição dos processos de desenvolvimento do potencial das
pessoas e/ ou comunidades.

Uma das primeiras publicações da MT moderna, é o livro Music Therapy de


Thayer Gaston (1968). Em sua introdução, Schneider, Unkefer e Gaston (1968),
comentam que, no momento pós-guerra, os musicoterapeutas fizeram grandes esforços
para avaliar os resultados de suas ações, portanto, a pesquisa se fez de suma importância
no estabelecimento da profissão.
Na parte final da mesma publicação, em Planning and Understanding Research,
Planejando e Entendendo Pesquisa, em tradução livre, Duerksen e Georg (1968)
sumarizam várias diretrizes para pesquisas em MT, principalmente através de métodos
estatísticos. Interessante notar que exemplificam os expostos com duas pesquisas
experimentais realizadas no contexto de saúde mental.
12

Em uma revisão de publicações norte-americanas sobre MT, divulgadas entre


1952 e 1972, Jellison (1973) encontrou 485 textos. Destes classificou 275 como
descritivos, 152 como filosóficos, 53 como experimentais e 5 como históricos,
sinalizando que houve um crescimento gradual de pesquisas experimentais, entre eles
comportamentais e estatísticas.
Em 1987, Bunt e Hoskyns indicam uma evolução na pesquisa e divulgação de
musicoterapeutas de um “estágio anedótico inicial” (Bunt; Hoskyns, 1897, p.3) através
de um período de rigorosa pesquisa comportamental – particularmente nos Estados
Unidos. Propõem uma integração de análises quantitativas e qualitativas e apresentam
direcionamentos para uma prática clínica que colete e apresente dados através de um
quadro experimental. Postulam, também, que antes de empreender qualquer pesquisa, é
importante que musicoterapeutas identifiquem sua linha terapêutica (p.e.,
psicodinâmica, comportamental ou humanística) e sejam claras quais suposições
subjacentes carregam.
O livro A comprehensive guide to Music Therapy: Theory, Clinical Practice,
Research and Training, elucida sobre uma tradição de atendimentos em saúde mental
baseados no modelo Priestley de Musicoterapia, marcadamente psicodinâmico, nos
países escandinavos (Wigram; Pedersen; Bonde, 2002). A produção de dissertações e
teses do Programa de Pós-Graduação apresenta alguns interessantes exemplos (AAU,
2022).
Além da orientação psicodinâmica, Randi Rolvsjord (2010) marca, também, a
existência de uma tradição de Musicoterapia Comunitária nestes mesmos países. Stige
(2002) relaciona sete termos indicativos dos enfoques da Musicoterapia Comunitária,
através do acrônimo “PREPARE”, ao estabelecer que é uma prática Participativa,
orientada por recursos (Resource oriented), Ecológica, Performativa, Ativista,
Reflexiva e Ética.
Levando em conta parte desta tradição, Randi Rolvsjord propõe o modelo de MT
Orientado por Recursos (Resource-oriented Approuch), que, segundo Rolvsjord (2010),
realça o desenvolvimento e estimulação dos pontos fortes e recursos do cliente, possui
foco em experiências positivas e enfatiza a colaboração e o envolvimento do usuário e
seu contexto.
Pesquisadores que se alinham ao modelo de MT Orientada por Recursos
construíram um instrumento de avaliação chamado Interest in Music (Gold et al, 2012).
13

Fundamentalmente, levaram em consideração estudos que indicam que resultados


relacionados à música na vida cotidiana dos clientes estão conectados à promoção de
saúde. Tal escala apresenta duas dimensões principais: 1) Atividade musical e
engajamento emocional com a música; e 2) Evitação social a partir da música. O
primeiro fator é representado por dez itens, enquanto o segundo por dois.
Gold et al (2013), em um ensaio randomizado controlado multicêntrico,
examinaram a eficácia do modelo de MT Orientada por Recursos para clientes de saúde
mental com baixa motivação para outras terapias. Em centros especializados na
Noruega, Áustria e Austrália, 144 adultos com transtornos mentais não orgânicos e
baixa motivação para terapia foram randomizados para 3 meses de MT quinzenal,
individual mais tratamento usual (TU) ou TU sozinho. O TU foi tipicamente intensivo,
já que 71% eram pacientes internados e incluiu a melhor combinação de terapias
disponíveis para cada participante, excluindo MT. Avaliações cegas da Escala para
Avaliação de Sintomas Negativos (Scale for the Assessment of Negative Symptoms –
SANS) e o preenchimento da Interest in Music foram coletados após 1, 3 e 9 meses. O
TU somado à MT foi superior a TU para sintomas negativos totais (SANS, d = 0,54, p <
0,001), bem como funcionamento, impressões clínicas globais, evitação social através
da música e vitalidade (todos p < 0,01) (Gold et al, 2013). Estes resultados indicam que
a MT orientada por recursos é uma adição eficaz aos cuidados habituais para clientes de
saúde mental com baixa motivação.
No contexto estadunidense, Silverman (2009) examinou o trabalho de 149
musicoterapeutas, membros da American Music Therapy Association, AMTA –
Associação Americana de MT - listados no 2007 Member Sourcebook. Estes sujeitos
trabalham com pessoas em tratamento para dependência química e responderam
questionários, desenhados pelo próprio autor. O objetivo principal da pesquisa foi
informar futuras pesquisas realistas, boas práticas clínicas e futuros musicoterapeutas
sobre o que esperar como musicoterapeuta no trabalho com esta população.
Comunicação, habilidades de enfrentamento (coping), expressão emocional,
tomada de decisão e autoestima foram os objetivos clínicos mais abordados. A
abordagem cognitivo-comportamental e os 12 passos (Narcóticos Anônimos) foram as
abordagens de tratamento mais utilizadas, enquanto a análise lírica e o relaxamento
induzido por música foram as intervenções musicoterapêuticas mais utilizadas.
14

No primeiro livro a tratar especificamente sobre MT e DQ, os editores Aldridge


e Fachner (2010), organizaram uma série de estudos localizados em várias partes do
globo. Apresentaram diferentes configurações, modelos e abordagens de MT, como
comunidades terapêuticas, centros de reabilitação, hospitais, instalações e clínicas de
tratamento residencial, com base em modelos holísticos, comportamentais,
psicodinâmicos e biopsicossociais, e abordagens sistêmicas e multimétodos.
Embora as orientações teóricas, modelos, abordagens e técnicas difiram entre os
capítulos, o elemento comum deste livro é a relevância do uso de diversas atividades de
MT e da combinação de técnicas e teorias no tratamento da DQ. Todos esses métodos
focam na comunicação, relaxamento, expressão própria, contato com o próprio corpo e
com outras pessoas no ambiente grupal. Através de técnicas, tais como execução e
composição musical, análise lírica ou relaxamento, o musicoterapeuta pode estimular e
reforçar a conexão saudável do paciente com seu próprio corpo por meio de
representações simbólicas.
Ressaltamos os interessantes capítulos dos finlandeses Marko Punkanen (2010) e
Erkkila e Eerola (2010), que versam sobre o uso do modelo “Físicoacústico” que
demonstrou substancial eficácia no tratamento à DQ (Punkanen, 2006). A MT
Fisioacústica usa uma combinação de vibração sonora de baixa frequência e audição de
música para trabalhar com diferentes níveis de experiência (sensações, emoções,
imagens, memórias e pensamentos). Para tanto utilizam de um dispositivo chamado de
cadeira fisicoacústica, que produz frequências sinusoidais, entre 27 e 113 hz e possui
três principais parâmetros: pulsação, varredura e direção. A pulsação lenta é usada para
relaxamento e a pulsação mais rápida para ativação. A varredura altera a frequência do
som em uma faixa escolhida.
Outro livro que trata especificamente sobre MT e DQ é Case Examples of Music
Therapy for Substance Use Disorders, organizado por Brusica (2012). Dentre os cinco
estudos que compõem o livro vê-se, também, uma variedade de técnicas e abordagens.
Os estudos de caso versam sobre práticas que aconteceram nos EUA, Austrália,
Finlândia e Dinamarca.
No que pese esta diversidade, em 60% dos estudos têm-se a aplicação de
técnicas oriundas do Guided Imagery in Music (GIM); ou ainda todo o tratamento
voltado ao modelo GIM. Jim Borling (2012), por exemplo, apresenta um modelo de
tratamento baseado no humanismo em diálogo com teorias transpessoais e com os 12
15

passos dos Alcoólicos Anônimos, além de uso de técnicas do Guided Imagery and
Music (GIM).
Borling (2012) faz um inventário das técnicas e/ou estratégias mais utilizadas em
cada um dos níveis. No estágio biofísico, o autor aponta que as técnicas utilizadas são
Gerenciamento de Stress, Movimentos Físicos e uso de percussão. No nível
psicossocial, as técnicas são Discussão Lírica; Composição de Canção e Trabalho de
Imagens Estruturadas. Por fim, no último estágio, relata experiências com uso de
técnicas oriundas do GIM, voltadas para o contato com o Poder Maior – expressão
recorrente nos tratamentos do AA.
Em recente Revisão Cochrane, Ghetti et al. (2022) buscaram comparar o efeito
da MT somada ao tratamento padrão versus o tratamento padrão isolado, ou ao
tratamento padrão mais uma intervenção de controle ativo, sobre sintomas psicológicos,
desejo de substância, motivação para tratamento e motivação para ficar limpo/sóbrio.
Os resultados sugerem que a MT como tratamento “adicional” ao tratamento
padrão pode levar a reduções moderadas no desejo por substâncias e pode aumentar a
motivação para tratamento/mudança para pessoas com DQ, recebendo tratamento em
ambientes de desintoxicação e reabilitação de curto prazo. A maior redução no desejo
está associada a MT com duração maior do que apenas uma sessão. No entanto, indicam
confiança moderada a baixa nos achados, já que os estudos incluídos foram rebaixados
em certeza devido à imprecisão e a maioria dos estudos incluídos foi conduzida pelo
mesmo pesquisador na mesma unidade de desintoxicação, afetando consideravelmente a
qualidade dos resultados.
Não pretendemos, aqui, fazer um levantamento aprofundado sobre as pesquisas
em Musicoterapia, ou ainda indicar a miríade de escritos acadêmicos sinalizando a
necessidade de pesquisas que evidenciem a eficácia dos tratamentos musicoterapêuticos
– ainda que isso fosse possível e preciso, como apontam Gold et al (2013), Hohmann et
al (2017), Zmitrowicz e Moura (2018) e Gattino (2020). Queremos, por outro lado,
sinalizar a relevância e a necessidade de estudos robustos, tanto na área de MT de uma
forma geral, como quando direcionada à DQ.
Como o próprio nome da tese sugere, queremos aqui desenvolver um
instrumento de medida que consiga avaliar desfechos padronizados dentro dos cuidados
de MT em grupo em DQ, no contexto brasileiro. Destarte, esta introdução seguirá
realizando um levantamento de um breve panorama sobre os estudos
16

musicoterapêuticos nacionais no campo da saúde mental no Brasil, em geral e a DQ em


específico. Posteriormente, direcionaremos nossos olhares para o contexto da saúde
mental pública no Brasil e, principalmente, em Belo Horizonte – lócus desta pesquisa.
Por fim, faremos breves considerações sobre os instrumentos de avaliação no contexto
musicoterapêutico e apresentaremos os estudos que fazem parte desta tese.

1.1. Produções musicoterapêuticas nacionais em saúde mental

Ainda que pesquisas de musicoterapeutas tenham sido publicadas em revistas,


tanto da própria área quanto de outras, até o princípio do século XXI muito desta
literatura foi apresentada também em livros. Desta forma, faremos um breve
levantamento, que não pretende demonstrar a totalidade dos trabalhos, mas apresentar
algumas informações sobre as pesquisas de musicoterapeutas nacionais em saúde
mental nos últimos 70 anos.
Arndt, Cunha e Volpi (2016), comentam que a prática e o pensamento teórico
musicoterapêutico brasileiro, até fins dos anos 1990, foi orientado por teorias
psicanalíticas advindas da literatura produzida pelo argentino Rolando Benenzon (1981;
1988), pela brasileira Clotilde Leinig (1977) e pelo americano Thayer Gaston (1968).
As musicoterapeutas Clarice Moura Costa e Martha Negreiros, produziram uma série de
pesquisas sobre trabalhos de MT com pacientes psicóticos na década de 80 (Costa;
Vianna, 1982; 1984a; 1984b; 1985; 1989). Esta literatura é marcadamente orientada
pela teoria e literatura psicanalítica.
No interessante trabalho intitulado “Musicoterapia - uma pesquisa sobre sua
utilização para pacientes esquizofrênicos”, Costa e Vianna (1984a) indicam que
pacientes que receberam tratamento padrão e também MT obtiveram maior percentual
de altas médicas e menor evasão e abandono ao tratamento do que os pacientes que
receberam apenas o tratamento padrão. Os atendimentos aconteceram em uma
instituição do Rio de Janeiro; participaram do estudo 131 pacientes.
Abaixo reproduzimos alguns resultados da pesquisa, ao lado da cópia da
imagem original. Nesta imagem “Mt” significa quantidade de pacientes que receberam
MT; “C”, grupo controle e “Demais”, outros pacientes da instituição que não cumpriam
os critérios para participar do grupo controle ou intervenção. “Sob termo” representa os
pacientes retirados da instituição pela família. Nota-se que, mesmo utilizando a teoria
17

psicanalítica como base, as autoras se valeram de métodos experimentais para verificar


os resultados de suas intervenções.

Tabela1: reprodução de Costa e Vianna (1984a, p. 181).


Número Percentual
Mt C Demais Mt C Demais
Altas médicas 59 38 89 86,72 71,69 72,35
Evasões 2 2 27 2,94 9,44 21,95
Sob termo 2 4 4 2,94 7,55 3,25
Abandono 3 5 0 4,41 9,44 -
Remoções 1 1 2 1,47 1,88 1,63
Outras 1 - 1 1,47 - 0,81
Totais 68 53 123 100 100 100

X2 =26,95
G1=10
α ≤ 0,05

Loureiro e Corrêa (2001), a partir de um entendimento aproximado às


neurociências, aplicaram técnicas de MT no setor de Psiquiatria do Hospital de Clínicas
da UFMG. As intervenções alcançaram melhorias em aspectos como assiduidade,
atenção, pensamentos positivos, memória imediata, memória em curto prazo, memória
em longo prazo e percepção motora dos pacientes.
As técnicas utilizadas foram as descritas por Gfaller (1990) e Thaut (1990) para
o trabalho em saúde mental, tais como pensamentos criativos individuais expressados
em títulos, temas e composições musicais; improvisação instrumental ou vocal como
forma de representação não verbal de adjetivos usados como expressão de sentimento.
Para a coleta de dados usaram o Sistema de Coleta de Freqüência e Sistema de Coleta
em Níveis (Wilson, 2005). O primeiro quantifica dois tipos de comportamentos
chamados de Discretos e Contínuos, enquanto o segundo sistema especifica
qualitativamente os diferentes “níveis de participação” nos aspectos cognitivos e
sensório-motores.
Esmiuçamos um pouco mais os trabalhos de Costa e Vianna (1984a) e Loureiro
e Corrêa (2001) justamente por não serem a regra das pesquisas nacionais. De fato,
Puchivailo e Holanda (2014) relatam que a maior parte das publicações de MT na saúde
mental, em Revistas Científicas no âmbito nacional, entre 2001 e 2012 são pesquisas
exploratórias, baseadas em estudos de caso e relatos de experiências.
18

Cláudia Zanini e Clara Márcia Piazzetta (2021) realizaram levantamento de


pesquisas concluídas entre os anos de 2000 a 2020, em Programas de Pós-Graduação
nacionais . Ao total identificaram 139 estudos, entre eles 102 dissertações e 37 teses;
que foram feitas, predominantemente, na área de saúde mental – 87,5% das teses e
57,14% das dissertações. As metodologias de pesquisa utilizadas nos doutorados foram
de pesquisa-ação, pesquisa documental, análise do discurso, observação naturalista,
estudo de caso e múltiplas metodologias. Estes dados informam que a característica
exploratória das pesquisas nacionais em saúde mental, apontados por Puchivailo e
Holanda (2014), se mantiveram, também, nos Programas de Pós-Graduação – pelo
menos até 2020.
Resende e Pedrosa (2021) revisaram a literatura nacional, a partir dos portais
Google Scholar, Revista Incantare e Revista Brasileira de Musicoterapia (BRJMT) a
partir do descritor primário MT ou Música, associado ao descritor secundário DQ.
Encontram, ao todo, oito trabalhos que satisfaziam os critérios de inclusão e exclusão.
Indicaram que a maioria dos trabalhos encontrados comunicaram atendimentos
terapêuticos em grupo e que o uso terapêutico da música objetivou ajudar a
comunicação dos indivíduos, proporcionar acolhimento e espaço para falar de conflitos,
necessidades, lembranças, medos e/ou emoções, provenientes da consequência do uso
das substâncias. Dentre os 8 trabalhos encontrados, 6 são de musicoterapeutas.
Uma das pesquisas levantadas tanto por Resende e Pedrosa (2021) quanto por
Zanini e Piazzetta (2021) é a dissertação de Andressa Toledo Teixeira (2019). A
musicoterapeuta realizou estudo sobre experiências receptivas de MT à mesa-lira,
através de um ensaio randomizado controlado, tendo o total de seis grupos – dois grupos
com intervenção de MT em dias consecutivos; dois grupos com cinco sessões de MT
em dias alternados; e dois controles. Os participantes dos grupos foram submetidos a
um Questionário Sociodemográfico, Escala de Tentação para Uso de Drogas (ESTUD),
Escala de Autoeficácia para Abstinência de Drogas (EAAD), Inventário de Ansiedade-
Traço e Ansiedade-Estado para avaliar o nível de Ansiedade (IDATE). Não houve
diferença significativa em nenhum dos grupos em relação à ansiedade; apresentou-se
um nível de relaxamento significantemente aumentado após cada sessão em comparação
com a avaliação pré-intervenção. As intervenções musicoterapêuticas em dias
intercalados se mostraram mais efetivas em relação às diárias; as sessões de MT se
mostraram importantes para o fortalecimento dos participantes para que pudessem
19

enfrentar os sintomas da abstinência, bem como o desejo pelo uso da droga (Teixeira,
2019).
Interessante notar que muitas pesquisas brasileiras em saúde mental e DQ
adotam 2.000 como ano de base. Isto se deve, em grande medida, pelo fato da política
de cuidados ter se transformado a partir da Reforma Psiquiátrica. Trataremos sobre este
tema no próximo subitem.

1.2. Saúde mental no Brasil e Reforma Psiquiátrica

No contexto brasileiro, pode-se dizer que o cuidado institucionalizado da


loucura começou a partir da segunda metade do século XIX, com a criação do Hospício
Pedro II (Devera; Costa-Rosa, 2007). Nestes mais de 150 anos, o campo da saúde
mental foi palco de diversos desenvolvimentos e lutas sócio-políticas, sendo o mais
recente, a Reforma Psiquiátrica (Pedrosa; Moriá; Cordeiro, 2018).
A Reforma Psiquiátrica brasileira teve início em movimentos sociais e políticos
que “emergiram e convergiram no processo de redemocratização do país, a partir dos
finais da década de 1970” (Nunes; Siqueira-Silva, 2016, p.214). Mesmo contando com
inúmeras práticas descentralizadas, além de congressos que ocorreram a partir dos anos
80, esta política foi oficializada apenas no ano de 2001, com a aprovação da lei 10.216,
projetada pelo deputado Paulo Delgado de Minas Gerais (Devera; Costa-Rosa, 2007).
Propondo tratamento e proteção e dos direitos de pessoas portadoras de
transtornos mentais e redirecionando o modelo assistencial em saúde mental, a lei
referida conseguiu e consegue promover ações como: diminuição de leitos em hospitais
psiquiátricos; abertura de leitos em hospitais gerais; tratamento em rede; humanização,
equidade e desestigmatização dos sujeitos (Devera; Costa-Rosa, 2007). Ações de MT
também fizeram e fazem parte destes processos (Nunes; Siqueira-Silva, 2016; Vidal;
Azevedo; Lugão, 1998).
Desde 1976, com o marco da Lei 6.368, a assistência a pessoas com DQ se
insere no campo da saúde e passa por modificações principalmente no caráter de
tratamento em regime hospitalar e extra-hospitalar. A Política do Ministério da Saúde
para Atenção Integral aos usuários de álcool e outras drogas (Brasil, 2004) especifica
que os serviços para esse tipo de atendimento, no SUS, devem estar interligados e
abrangem aqueles de atenção básica, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas
20

(CAPS AD), ambulatórios e unidades hospitalares especializadas e de referência. Estes


serviços atuam de acordo com as diretrizes do SUS e se conectam aos pressupostos da
reforma psiquiátrica, tais como descentralização e equidade (Machado; Miranda, 2007).
Na capital do estado de Minas Gerais, lócus desta pesquisa, o processo de reformulação
dos atendimentos em saúde mental possui inúmeras particularidades, a começar na
forma como são chamados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs): Centro de
Referência em Saúde mental (CERSAM). A Política de Saúde mental de Belo
Horizonte (BH) data de 1993, ou seja, é anterior à aprovação da Lei 10.216 (Nilo et al,
2008). Atualmente, a cidade conta com vários dispositivos, atuando em rede. Pode-se
encontrar CERSAMs (que funcionam como CAPs III), CERSAMi (infantil), CERSAM
AD (álcool e drogas) e Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), por exemplo (PBH,
2022).
A atuação profissional de musicoterapeutas na rede substitutiva de BH começou
no ano de 2018, em quatro CERSAMs (Pedrosa; Moriá; Cordeiro, 2018). No ano de
2022, a Habilitação em MT do Bacharelado em Música da UFMG abriu estágios em um
CERSAM AD e em duas Residências Terapêuticas (SRT), onde estagiaram, ao todo, 6
alunos, supervisionados pelo autor desta tese e pela prof. Dr. Fernanda Ortins.
Em sua dissertação, Ivan Moriá (2021) aponta que o contexto de atendimentos
musicoterapêuticos em CERSAMs apresentam um “paradoxo de frequência”. O autor
indica que, mesmo que se possibilite várias formas de participação (dado que alguns
usuários são assíduos, outros frequentam apenas algumas atividades, enquanto outros,
ainda, compartilham dos atendimentos a partir da janela da sala) a frequência de
participação, ou a participação em todo o grupo, não indica necessariamente, sucesso
terapêutico.
O autor descreve que

ainda que uma participação assídua possa indicar um bom vínculo do usuário
com a instituição e com o musicoterapeuta, sendo considerado um aspecto
positivo daquele sujeito, sua escolha e forma de explorar o espaço e o que é
ofertado, a redução do número de participações nas sessões podem
representar uma melhora considerável no estado de saúde destes indivíduos
que com isto são encaminhados para centros de saúde ou de convivência para
darem continuidade aos seus projetos existenciais pós-crise.
Desta maneira há um paradoxo entre usuários considerados assíduos
aos atendimentos de MT deste trabalho e que estavam em crise no período de
dois anos e vários outros usuários que frequentaram poucas sessões e que
tiveram melhora da crise, alta e encaminhamento, ou em alguns casos
evadiram do serviço. O ideal seria frequentar as sessões de MT por pouco
21

tempo, a fim de estimular esses sujeitos a ter uma vida ativa na comunidade,
objetivando a cidadania. A constância de alguns usuários nas sessões pode
ser caracterizada por aquele usuário que apresenta dificuldades em assumir
grandes responsabilidades sociais naquele momento, fazendo necessário (sic)
sua permanência prolongada na urgência psiquiátrica (Moriá, 2021, p. 66).

Além de pontuar a paradoxal relação entre frequência nos grupos


musicoterapêuticos e sucesso terapêutico, no contexto da saúde mental belo-
horizontino, esta descrição denuncia que existem vários tipos de participação em grupos
terapêuticos. Este apontamento será importante para a atual pesquisa.

1.3. Definições para este trabalho

Uma prática ética da MT exige a avaliação do progresso do cliente, bem como


da efetividade das estratégias utilizadas nos atendimentos, segundo Bruscia (2016).
Gattino (2021, p. 15), a partir de vasta revisão da literatura, define a avaliação em MT
como

um processo estruturado de preparação, coleta, análise, interpretação e


elaboração de conclusões sobre os dados avaliados, bem como de
documentação e comunicação de dados musicais e não musicais sobre
processo musicoterapêutico com o objetivo de fornecer informações para
tomar decisões, levantar hipóteses, conhecer melhor o usuário e buscar um
melhor entendimento do processo musicoterapêutico.

A partir desta definição o referido autor pontua quatro etapas básicas para se
avaliar em MT, a saber: 1) preparação; 2) coleta de dados; 3) análise e interpretação de
dados; e 4) documentação e comunicação dos dados ou resultados de uma avaliação.
Importante salientar que a avaliação se direciona ao processo musicoterapêutico por
completo, ou seja: usuário, musicoterapeuta e técnicas musicoterapêuticas (Gatino,
2021).
Na etapa de coleta de dados, Waldon e Gattino (2018) comentam que qualquer
dispositivo usado para coletar informações sobre o usuário podem ser chamados de
ferramentas de avaliação. Em MT, estes aparatos podem ser divididos entre: 1)
ferramentas de observação: testes – tais como escalas, questionários ou checklists; 2)
ferramentas de análise musical; e 3) formulários usados para entrevistas, muitas vezes
nominados questionários.
22

Relativo ao método de avaliação, Wilson (2005), Waldon e Gattino (2018) e


Gattino (2020) apontam quatro categorias a partir do acrônimo RIOT: Reviewing,
Interviewing, Observing, e Testing (Revisar, Entrevistar, Observar e Testar). As
informações referentes às avaliações podem ser obtidas através de métodos informais,
como questionários e entrevistas, ou métodos formais, como índices ou escalas
(Zmitrowicz; Moura, 2018).
Existem, atualmente, alguns estudos traduzindo e validando escalas
internacionais e outros construindo escalas no contexto brasileiro. Como exemplo
indicamos os estudos de Gattino (2012), que traduz e valida a escala Category System
for Music Therapy – KAMUTHE; Silva (2012), que traduz e valida a escala
Individualized Music Therapy Assessment Profile – IMTAP e André (2017) que traduz e
valida a Escala Nordoff Robbins de Comunicabilidade Musical.
Apesar da inserção das atividades musicais e musicoterapêuticas na saúde
mental brasileira datar de antes da formação do primeiro curso de graduação em
Musicoterapia (Costa; Cardeman, 2006) não foram identificados nenhum instrumento
de avaliação nacional que evidencie os benefícios dessa forma de tratamento (Resende;
Pedrosa, 2021).
O documento Outcomes measures in music therapy (Cripps; Tsiris; Spiro, 2016),
importante sistematização de protocolos existentes na área da MT, não apresenta
qualquer ferramenta de mensuração específica para o trabalho com DQ. Isso indica
deficiência de protocolos para esta área, mesmo em âmbito internacional.
Silva (2012) indica que muitos musicoterapeutas utilizam instrumentos de
avaliação de outras áreas, o que pode causar uma avaliação imprecisa pois não há
garantias que meios de avaliação de outras áreas tenham a mesma acuidade necessária
para avaliação musicoterapêutica. Gattino (2020) comenta que uma das características
da avaliação em Musicoterapia é a possibilidade de poder ajudar o paciente a partir de
seu envolvimento com diferentes parâmetros musicais.
Partindo do exposto até aqui, esta pesquisa deseja contribuir para a avaliação
musicoterapêutica a partir do desenvolvimento de uma Escala de Avaliação dos Efeitos
da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ). A tese está estruturada
em artigos que apresentam resultados parciais de etapas distintas da pesquisa já
publicadas ou em vias de publicação em periódicos de impacto na área.
23

O primeiro artigo, “Musicoterapia na Dependência Química: Uma Revisão


Integrativa”, trata-se de um estudo de revisão de literatura, buscando por técnicas e
instrumentos de avaliação usados em trabalhos de Musicoterapia na Dependência
Química. Nesta revisão, publicada pela Revista Música Hodie (Qualis A4), revisamos
integrativamente a literatura nacional e internacional. Para tanto, utilizamos os
descritores MeSH “musictherapy” “and” “drug abuse” em buscas no Portal de
Periódicos CAPES/MEC, nos sites da Cochrane, o Journal of Music Therapy, Voices,
Music Therapy Perspectives e Substance Use & Misuse journal. Acrescentamos as
publicações nacionais com a mesma temática, em uma pesquisa de literatura nas
revistas InCantare (n = 80) e Revista Brasileira de Musicoterapia (n = 224). Foram
identificados 22 textos que apontaram falta de padronização dos desfechos avaliados
pelos estudos, limitando sua comparabilidade. Ainda assim, puderam-se concluir alguns
pontos sobre a ação da musicoterapia em aspectos psicológicos de pacientes acometidos
por uma dependência química.
No segundo artigo, “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em
Dependência Química baseado no Modelo Transteórico de Mudança (MTM)”,
publicado na Revista Per Musi (Qualis B1), apresentamos uma abordagem para
tratamentos musicoterapêuticos voltados para população que possui dependência
química, apoiado no Modelo Científico Racional de Mediação (Rational Scientific
Mediating Model – R-SMM) em interface com o MTM. Assim, discutimos as bases
neurofisiológicas do processamento musical bem como das drogas de abuso, apontamos
as técnicas musicoterapêuticas que apresentam alguma eficácia ao tratamento
musicoterapêutico com tal população, apresentamos o MTM e, por fim, apontamos
quais técnicas podem ser indicadas para as diferentes fases do tratamento.
Posterior ao segundo artigo, de caráter teórico, apresentamos a metodologia
geral da tese. Neste capítulo indicamos qual a amostra, critérios de inclusão e exclusão,
instrumento de avaliação e o procedimentos de análise quantitativa utilizados.
Em um terceiro estudo, “Desenvolvimento da Escala de Avaliação dos Efeitos
da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química: Análise teórica e semântica”,
enviado à revista Percepta (Qualis A3) realizamos uma pesquisa metodológica e de
desenvolvimento (Polit e Beck, 2011) da construção para a Escala de Avaliação dos
Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ). Para tanto,
utilizamos os procedimentos teóricos para construção de Instrumentos de Avaliação de
24

Luiz Pasquali (2010), chamados Análise Semântica e Análise de Juízes. A MTDQ foi
desenvolvida como um instrumento de autorrelato, composto por 20 itens que avaliam a
percepção do paciente sobre os benefícios da musicoterapia em sua mudança pessoal .
Teoricamente, os itens se agruparam em dois fatores provenientes da MTM, Processos
Cognitivos e Processos Comportamentais. A MTDQ foi avaliada como pertinente e
adequada à população a que se destina, que os itens se conectam teoricamente aos
domínios e que todos os domínios e itens a eles ligados são pertinentes para a avaliação
de MT em DQ.
No quarto artigo “Estudos de validade e confiabilidade da Escala de Avaliação
dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química”, enviado para a
Revista Per Musi (Qualis B1), realizamos estudos de validade interna e confiabilidade
de variáveis latentes da MTDQ a partir de uma amostra composta por 202 participantes,
sendo 154 homens (77,37%) e 45 mulheres (destas, uma mulher trans), com idade
média de 44,7 anos (DP = 12,7, mínimo = 18 e máximo = 69). Testamos 3 modelos:
unidimensional; com dois fatores correlacionados; e bifatorial. O modelo bifatorial
apresentou melhores índices de ajuste e boa consistência interna.
A pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil onde foi avaliada pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da UFMG, CAAE 30939720.1.0000.5149 e da Secretaria Municipal
de Saúde de Belo Horizonte, CAAE 30939720.1.3001.5140. Além disso, recebeu
auxílio pelo Programa Institucional de Auxílio à Pesquisa de Docentes Recém-
Contratados pela UFMG - Edital PRPq 07/2020.
25

2. OBJETIVO GERAL

Desenvolver uma Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo


na Dependência Química e realizar estudos iniciais de validade e confiabilidade.

2.1. Objetivos Específicos


a) Revisar bibliografia sobre escalas de avaliação em Musicoterapia na
Dependência Química;
b) Identificar quais aspectos da Dependência Química apresentam potencial de
serem avaliados a partir de técnicas musicoterapêuticas;
c) Desenvolver uma escala de avaliação para grupos musicoterapêuticos na
Dependência Química;
d) Realizar estudos iniciais de validade e confiabilidade do instrumento construído.
26

3. REVISÃO DE LITERATURA

A revisão da literatura na qual esta pesquisa busca se apoiar é apresentada a


seguir, em forma de um artigo. O artigo foi publicado na Revista Hodie n.22.
Errata: na página 28 onde está escrito “763 textos”, lê-se “800 textos”.

3.1. Artigo 1: Musicoterapia na Dependência Química: Uma Revisão


Integrativa
Estudo publicado na Revista Música Hodie (Qualis A4)

Frederico Gonçalves Pedrosa


Frederico Duarte Garcia
Cybelle Maria Veiga Loureiro

Resumo: A dependência química é um transtorno mental que afeta o usuário em níveis


cognitivo, social e neurológico, causada pelo abuso de qualquer substância não
produzida pelo organismo que tenha propriedades de atuar sobre um ou mais de seus
sistemas. Esta revisão integrativa buscou literatura científica que evidencie quais
desfechos podem ser avaliados através do uso de protocolos, em abordagens
sistematizadas em musicoterapia, no contexto da dependência química. Foram
identificados 22 textos que apontaram falta de padronização dos desfechos avaliados
pelos estudos, limitando sua comparabilidade. Ainda assim, pôde-se concluir alguns
pontos sobre a ação da musicoterapia em aspectos psicológicos de pacientes acometidos
por uma dependência química.

Palavras-chave: Musicoterapia. Dependência Química. Instrumentos de Avaliação.

Abstract: Chemical dependencies are cognitive, social and neurological


diseases caused by the abuse of any substance not produced by the organism
that has properties to act on one or more of its systems. This Integrative Review
searched for scientific literature that shows which changes can be evaluated through the
use of protocols, in systematized approaches in music therapy, in the context of
chemical dependency. Twenty-two texts were identified that pointed to a lack of
standardization of the outcomes evaluated by the studies, limiting their
comparability. Even so, it was possible to conclude some points about the action
of music therapy on psychological aspects of patients affected by chemical
dependence.

Keywords: Music therapy. Chemical Dependency. Assessment Instruments.

1. Introdução

Entende-se pelo substantivo droga “qualquer substância não produzida pelo


organismo que tenha propriedades de atuar sobre um ou mais de seus sistemas,
27

causando alterações em seu funcionamento” (Garcia; Alkmin, 2014, p. 14). Não é


todo uso de drogas que se caracteriza como dependência. São três as categorias que
classificam tal ação: 1) a intoxicação, que indica um estado pontual e não recidivante
a partir do uso de alguma substância; 2) o uso nocivo, indicado pelo consumo
esporádico, no qual a capacidade decisional está preservada, ou seja, o indivíduo, apesar
de intoxicado, apresentando consequências físicas, mentais e sociais, tem o controle
sobre a decisão do uso da droga; e 3) a dependência química, que se caracteriza por um
transtorno crônico e recidivante conhecido pela compulsão para procurar e
consumir substâncias psicoativas, com perda de controle em limitar seu consumo e
surgimento de sofrimento físico e emocional quando o acesso à substância é impedido,
configurando crise de abstinência (Garcia; Alkmin, 2014).
A dependência química é um transtorno mental que afeta o usuário em
níveis cognitivo, social e neurológico. O CID-10, Classificação Internacional de
Doenças, propõe que, para se concluir um diagnóstico de dependência química é preciso
apresentar três ou mais dos sintomas a seguir: 1) forte desejo ou senso de compulsão
para consumir a substância; 2) dificuldade em controlar o comportamento de consumir a
substância em termos de seu início, término ou níveis de consumo; 3) síndrome de
abstinência quando o uso da substância cessou ou foi reduzido; 4) evidência de
tolerância, quando doses crescentes são requeridas para alcançar efeitos originais; 5)
abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso de
substâncias psicoativas; 6) persistência no uso da substância, a despeito de evidência
clara de consequências manifestamente nocivas (OMS, 1996).
O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, em sua
quinta edição (DSM 5), atualizou o conceito dos problemas relacionados ao uso de
substâncias, nomeando-os genericamente de “transtorno por uso de substâncias”. Os
critérios diagnósticos são onze e incluem uso em quantidades maiores ou por mais
tempo que o planejado; desejo persistente ou incapacidade de controlar o desejo; gasto
importante de tempo em atividades para obter a substância; fissura importante; deixar de
desempenhar atividades sociais, ocupacionais ou familiares devido ao uso;
continuar o uso apesar de apresentar problemas sociais ou interpessoais; restrição do
repertório de vida em função do uso; manutenção do uso apesar de prejuízos
físicos; uso em situações de exposição a risco; tolerância; e abstinência (American
Psychiatric Association, 2014).
28

O DSM 5 também extinguiu a dicotomia entre os diagnósticos de abuso e de


dependência de substâncias, optando por uma classificação de gravidade do transtorno
por uso de substância da seguinte forma: dependência leve, com a presença de dois ou
três dos onze critérios por um período de um ano; dependência moderada, que
consiste na presença de quatro ou cinco dos onze critérios por um período de um ano;
ou dependência grave, na presença de mais de seis dos onze critérios por um
período de um ano.
A literatura nos indica um déficit na produção de informações sistematizadas
para os tratamentos musicoterapêuticos de pacientes com uma dependência
química. No contexto internacional, Mays, Clark e Gordon (2008) revisaram
sistematicamente a literatura e encontraram 19 trabalhos publicados em musicoterapia.
Esses autores concluíram não ser possível indicar a eficácia do tratamento
musicoterapêutico nas dependências, visto que inexistiam estudos metodologicamente
robustos para avaliar a eficácia e a segurança da musicoterapia neste contexto
terapêutico. Hohmann, Bradt, Stegemann, e Zhang (2017), em nova revisão sistemática,
demonstraram que houve um aumento de estudos randomizados controlados nos últimos
anos, sugerindo um benefício do uso da musicoterapia em pacientes com dependência
química; no entanto, não houve consistência para sistematizar tais resultados, já que
muitos focam apenas no efeito de uma sessão de musicoterapia.
Esses estudos indicam, também, uma ação de diminuição de fissura entre os
participantes dos grupos de Musicoterapia. Podemos conceituar fissura como “o reflexo
de um estado de motivação orientado para o consumo de drogas por pistas ambientais
[...] e internas [...]. É um estado subjetivo que integra o desejo do uso da droga” (Garcia;
Alkmin, 2014, p. 30).
Pesquisadores na área de musicoterapia vêm enfatizando a necessidade de se
produzir evidências sobre os benefícios dos tratamentos em musicoterapia
(Zmitrowicz; Moura, 2018) a partir de estudos metodologicamente robustos, utilizando
instrumentos objetivos de medida, comparação de amostras alocadas aleatoriamente e
controladas por placebo ou um tratamento padrão. Nesta pesquisa bibliográfica,
buscamos identificar estudos que evidenciem quais desfechos podem ser avaliados
através do uso sistematizado de protocolos de musicoterapia em grupo na dependência
química.
29

Este estudo é produzido em um momento histórico significativo, quando a


musicoterapia necessita apresentar evidências de sua eficácia em diversos públicos
clínicos e, especificamente, para o tratamento da dependência química dentro da saúde
pública brasileira, que sofre retrocessos, como os indicados na Nota Técnica nº 11/2019
do Ministério da Saúde (Brasil, 2019). Nesse documento, estão manifestas
preocupações sobre as Políticas de Saúde mental, as quais têm atuado pela contenção de
direitos garantidos desde a Constituição de 1988.
Nossa pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil, onde foi avaliada pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da UFMG, CAAE 30939720.1.0000.5149, e da Secretaria
Municipal de Saúde de Belo Horizonte, CAAE 30939720.1.3001.5140. Além disso,
recebeu apoio do Programa Institucional de Auxílio à Pesquisa de Docentes Recém-
Contratados pela UFMG - Edital PRPq 7/2020.

2. Metodologia

A revisão integrativa é considerada por Souza, Silva e Carvalho (2010) e por


Ercole, Melo e Alcoforado (2014) como uma ampla abordagem metodológica,
dentro das revisões, por permitir a inclusão de estudos experimentais e não
experimentais, e fornecer uma compreensão mais completa do fenômeno analisado.
Os autores também fazem alusão aos dados teóricos e empíricos, e destacam a
possibilidade de incorporar outros propósitos, como revisão de teorias e evidências,
definição de conceitos e análise de problemas metodológicos de um tópico particular. A
escolha por essa metodologia ocorreu a partir de revisões de literatura anteriores, que
demonstraram dificuldade em apresentar dados que nos informassem,
sistematicamente, os resultados terapêuticos produzidos pelas intervenções de
musicoterapia.
Souza, Silva e Carvalho (2010) apresentam seis passos que norteiam a
elaboração de uma revisão integrativa: 1) elaboração da pergunta norteadora; 2) busca
ou amostragem na literatura; 3) coleta de dados; 4) análise crítica dos estudos incluídos;
5) discussão dos resultados; 6) apresentação da revisão integrativa.
A questão que norteia esta pesquisa é a busca de literatura científica que
evidencie quais desfechos podem ser avaliados através do uso de protocolos em
abordagens sistematizadas de musicoterapia no contexto de dependência química.
30

Na busca da literatura, realizada nos dias 22 e 23 de março de 2020, utilizamos


os descritores MeSH “music therapy” “and” “drug abuse”. Pesquisamos no Portal de
Periódicos CAPES/MEC, que fez uma varredura nas revistas OneFile (n = 45),
MEDLINE/PubMed (n = 37), Gale Virtual Reference Library (n = 18), Advanced
Technologies & Aerospace Database (n = 18), Taylor & Francis Online – Journals (n =
16), PMC (PubMed Central) (n = 16), SageJournals (n = 15), Sage Publications (n = 7),
Science Direct (n = 7), Elsevier (n = 7), Directory of Open Access Journals (n = 6),
Springer Link (n = 5), Oxford Journals (n = 5), PsycARTICLES (n = 4), Springer (n =
4), Materials Science & Engineering Database (n = 3), ERIC (U.S. Dept. of Education)
(n = 2), PsycBOOKS (American Psychological Association) (n = 2), CDSR (John
Wiley & Sons) (n = 2) e New England Journal of Medicine (n = 1). Pesquisamos
também os sites da Cochrane (n = 5), o Journal of Music Therapy (n = 184), Voices(n =
3) e Music Therapy Perspectives (n = 51), em publicações internacionais de
musicoterapia e no Substance Use & Misuse journal (n = 4), que é uma importante
publicação sobre dependências químicas.
Acrescentamos publicações nacionais com a mesma temática em uma
pesquisa de literatura, a Revista Brasileira de Musicoterapia (n = 224) e a InCantare
(n = 80), especializadas em musicoterapia. Como elas não possuem sistema de busca,
foi necessário fazer a leitura do título e resumo de todos os artigos para a primeira
seleção. Os dados dessa revisão integrativa estão plotados na figura a seguir.

Figura 1 – Revistas acessadas para a revisão integrativa. Fonte: Elaborada pelos autores.

Fonte: Elaborada pelos autores


31

Como critérios de inclusão na análise, consideramos estudos quantitativos e/ou


qualitativos nos gêneros artigo, dissertação e tese, publicados em periódicos e revistas,
que possuíssem os descritores exigidos no título, resumo ou palavra-chave,
disponíveis para a consulta e que, após a leitura realizada, revelassem o uso de
protocolos e o trabalho clínico na musicoterapia em grupo. Optou-se por
considerar todas as datas de publicação já que algumas leituras prévias, para a
familiarização com o tema, haviam identificado pouca literatura.
Foram considerados os seguintes critérios para exclusão: pesquisas que não
tratavam sobre musicoterapia especificamente; pesquisas que não tratavam de
dependência química especificamente; pesquisas que tratavam de música e dependência
química, mas não de musicoterapia; e pesquisas que tratavam de musicoterapia,
mas não de dependência química. Além disso, foram excluídos textos que não estavam
escritos em português, espanhol ou inglês.

3. Resultados

A Figura 2, a seguir, apresenta o fluxograma do processo de busca e seleção.


Foram identificados 796 artigos, 3 dissertações e 1 resenha de livro, resultando no total
de 763 textos potencialmente relevantes para esta revisão. No filtro 1, excluímos 24
textos duplicados, que não se tratavam de artigos, dissertações ou teses ou que
não apresentavam o texto completo em português, espanhol ou inglês. No filtro 2,
excluímos 718 textos que não falavam especificamente de musicoterapia e dependência
química em seus títulos, resumos ou palavras-chave. Por fim, no filtro 3, excluímos 36
textos que não tratavam do uso de protocolos de avaliação ou cujos protocolos
utilizados não focassem a musicoterapia em grupo. Esse processo gerou um total de
22 estudos, dos quais extraímos os seguintes dados: autor, título e data; objetivo
principal; metodologia; e instrumentos, resultados e fontes. Posteriormente fez-se a
discussão e a revisão integrativa sobre os resultados obtidos, elencados abaixo.
32

Figura 2 – Fluxograma dos artigos identificados, filtrados, elegidos e incluídos a partir dos critérios de inclusão e
exclusão

Fonte: Elaborada pelos autores.

Na figura 3, a seguir, pode-se observar a frequência de publicações dos artigos,


havendo um pico nos anos de 2016 e 2019, com quatro manuscritos, e a carência entre
os anos de 1988 a 2002, com nenhuma publicação que atendesse os critérios desta
pesquisa. Os artigos pesquisados foram publicados entre os anos de 1988 e 2019.
33

Figura 3 – Número de publicações por ano

Fonte: Elaborada pelos autores.

Os artigos encontrados nesta pesquisa estão plotados na Tabela 1, e podem ser


identificados pelo nome dos autores, títulos, ano de publicação, além dos objetivos,
metodologias, instrumentos e resultados de cada artigo.
A pesquisa nas plataformas de publicações científicas relacionando
musicoterapia à dependência química indicou artigos publicados em três países, sendo
dois no Brasil, nove na Inglaterra e onze nos Estados Unidos da América. Foram
encontrados estudos abrangendo os temas supracitados para além da área da
musicoterapia, em jornais que tratam de Medicina, Psicologia, Enfermagem e estudos
sobre as adições.
Silverman (2019a) determinou os efeitos de uma única intervenção de
musicoterapia a partir da técnica de composição musical sobre a percepção da
estigmatização da patologia e do suporte social de adultos dependentes químicos (n =
132) em uma unidade de desintoxicação. O autor hipotetizou que a técnica
musicoterapêutica de composição poderia alterar os escores desses constructos. Para
tanto, os participantes foram randomizados em grupo experimental, que, devido às
limitações de tempo de uma única sessão de terapia na unidade de desintoxicação,
recebeu uma intervenção usando composição de Blues 12 compassos, uma forma
musical altamente estruturada; e grupo-controle, que recebeu uma tarefa usando um
jogo musical. As análises de variância não indicaram diferença significativa entre os
grupos sobre estigma ou no suporte social percebidos (p > 0,1) no que pese a condição
de composição experimental apresentar escores menores sobre o estigma e maiores no
que se refere ao suporte social percebido em relação à condição controle.
34

Taets, Jomar, Abreu e Capella (2019) avaliaram o efeito de uma sessão de


musicoterapia sobre o estresse de pessoas dependentes químicas (n = 18) em tratamento
a partir de análises de cortisol da saliva dos usuários após uma intervenção
musicoterapêutica grupal. Perceberam que, após 60 minutos da intervenção
musicoterapêutica, houve redução estatisticamente significativa nas médias dos níveis
de cortisol salivar (antes da sessão, 0,30; 60 minutos depois, 0,23; 120 minutos depois,
0,19. Com um p < 0,001). Porém, após 120 minutos, houve redução, mas sem
significância estatística (p = 0,139).
Silverman (2019b) explorou a regulação emocional a partir da música, do uso
saudável e não saudável da música e as estratégias de enfrentamento em adultos
dependentes químicos (n = 194) em uma unidade de desintoxicação. Para tanto, realizou
análises correlacionais e de regressão múltipla de escalas preenchidas pelos
participantes para determinar quais fatores de regulação da emoção baseados na música
estavam relacionados à regulação emocional e ao coping – definido como “o conjunto
das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a circunstâncias adversas ou
estressantes” (Antoniazzi; Dell’aglio; Bandeira, 1998, p. 273). O uso saudável da
música ajuda no coping (p = 0,007) e o humor (p = 0,035), enquanto o uso nocivo da
música prevê negação (p < 0,001), desengajamento comportamental (p < 0,001) e a
autoculpa (p < 0,005). Indica-se que a música é um bom regulador emocional entre esta
população.
Silverman (2019c) buscou os efeitos de uma única intervenção de composição
sobre vergonha, culpa e autoestima (orgulho) em adultos dependentes químicos em uma
unidade de desintoxicação. Os participantes (n = 132) do experimento foram
randomizados para grupo de composição de canções baseado em Blues, tratando de
vergonha, culpa e orgulho, e grupo-controle, que receberam intervenção de
musicoterapia recriativa1. Não houve diferença significativa entre os grupos sobre
vergonha ou culpa (p > 0,05), com pontuações médias mais baixas na condição
experimental. Houve uma diferença significativa entre os grupos sobre autoestima (p =
0,012), com os participantes experimentais apresentando escores médios mais altos do
que os participantes do controle.

1
Na terceira edição do Definindo Musicoterapia, Bruscia (2016) comenta que as técnicas
recriativas, ou recriacionais, dizem respeito a quando o cliente aprende, canta, toca ou executa música
composta previamente e/ou reproduz tipos de formas musicais. Também se incluem sob esse nome as
atividades ou jogos musicais.
35

Gutiérrez (2017) realizou a intervenção musicoterapêutica de 19 sessões,


conduzidas duas vezes por semana, tendo dentro da metodologia o uso da abordagem
analítica, em 7 do sexo masculino e 3 do sexo feminino (n = 10). Nas primeiras 8
sessões, foram usadas as técnicas improvisacionais musicoterapêuticas descritas por
Bruscia (2016), focadas na empatia, sincronização e imitação. Posteriormente, entre as
sessões 10 e 18, foram trabalhadas as técnicas de redireção, debate e facilitação. Na 19ª
sessão, foi realizada uma socialização do processo, quando conclusões acerca da
intervenção foram elaboradas e compartilhadas. Identificou-se, por meio do uso do
Teste de variáveis preditoras de tratamento para adições (VPA) e do Teste de
interações musicais (CIM), que o grupo tinha preferência por atividades rítmicas e
que, apesar de os indicadores serem positivos, não há possibilidade de generalização
dos achados da pesquisa.
Silverman (2017) mediu os efeitos de uma única intervenção grupal
musicoterapêutica a partir da técnica de composição educacional sobre a fissura de
pacientes dependentes químicos em uma unidade de desintoxicação. Os participantes (n
= 129) foram randomizados em grupos para uma das três condições: composição
musical visando prevenção e recuperação de recaídas; musicoterapia recriativa visando
ganhos sociais e afetivos; e grupo-controle, que participou de um grupo de “sessão de
bingo de Rock ‘n’ Roll”. Todos os participantes responderam questionários após as
intervenções. Houve diferença significativa (p = 0,033) relacionada à fissura entre os
grupos de composição e controle, o que indica que os grupos de Musicoterapia com
técnicas composicionais foram mais eficientes em reduzir sintomas de fissura do que as
técnicas recriativas.
Silverman (2016a) mediu os efeitos das intervenções musicoterapêuticas de
análise lírica em grupo de sessão única sobre os sintomas de abstinência (withdrawal) e
fissura (craving) em pacientes em uma unidade de desintoxicação; também quis
determinar se existiam relações entre os efeitos do tratamento e a familiaridade dos
participantes com a música. Os participantes (n = 134) foram randomizados em grupos
para a condição experimental (somente pós-teste) ou controle de lista de espera. Embora
os participantes na condição experimental tivessem menores médias de abstinência e
fissura do que os participantes na condição de controle, essas diferenças não foram
significativas, tanto em abstinência com (p = 0,055) quanto em fissura (p = 0,085). A
36

familiaridade da música na análise da letra não estava relacionada à abstinência


(withdrawal) ou fissura (craving).
Stamou et al. (2016) verificaram se a audição de músicas, gravadas e/ou
executadas ao vivo, combinada com dessensibilização sistemática, pode
contracondicionar os gatilhos relacionados às drogas e reduzir as respostas implícitas à
fissura. Os participantes (n = 24) foram randomizados em grupos para condições
experimentais (somente pós-teste) ou controle de lista de espera. Nas condições
experimentais existiram dois grupos que ouviram CDs com músicas e frases
motivacionais; o primeiro foi acompanhado de músicas executadas ao vivo e o segundo
não. O resultado foi positivo, e o grupo que teve a música executada ao vivo apresentou
maior eficiência na redução de sintomas depressivos e respostas à abstinência do que o
grupo-controle (p < 0,001).
Silverman (2016b) diferenciou as intervenções de musicoterapia ao vivo das
intervenções gravadas, bem como as educacionais em oposição às recriacionais, através
de medidas de aliança de trabalho e confiança, com pacientes de uma unidade de
desintoxicação. Os participantes (n = 130) foram aleatoriamente agrupados em um
único projeto pós-teste para uma das quatro condições: musicoterapia educacional ao
vivo, musicoterapia educacional gravada, educação sem música ou musicoterapia
recriativa. Os desfechos avaliados incluíram aliança de trabalho e confiança no
terapeuta. Intervenções educacionais em musicoterapia foram realizadas a partir de um
roteiro de análises líricas. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os
grupos em nenhuma das medidas (p > 0,5 para todas as medidas).
Silverman, Baker e MacDonald (2016) testaram se a fluidez (flow) e a
significância do processo de composição em musicoterapia estavam relacionadas e
funcionavam como preditores de resultado terapêutico nas intervenções de composição
com pacientes adultos internados em uma unidade psiquiátrica de tratamento agudo e
em uma unidade de desintoxicação. A pesquisa foi composta por dois estudos. No
primeiro, os participantes com transtornos mentais agudos (n = 54) foram distribuídos
randomicamente em três grupos: composição, análise lírica e grupo de espera. No
segundo estudo, participantes dependentes químicos (n = 170) foram divididos em dois
grupos: composição e grupo de espera. Após as sessões, os participantes preencheram
escalas sobre fluidez e o significado da composição. Os dados passaram por análises
correlacionais e de regressão múltipla. Houve correlação positiva e significativa entre a
37

fluidez, o significado das composições e os resultados terapêuticos. Análises de


regressão múltipla indicaram que só a fluidez é um preditor significativo do resultado
terapêutico (p = 0,001), em detrimento do processo e do produto da composição.
Baker, Silverman e MacDonald (2015), através de um ensaio clínico controlado
randomizado, composto de estudos, avaliaram psicometricamente a Escala de
Significância da Composição (Meaningfulness of Songwriting Scale - MSS). A escala
foi construída a partir do pressuposto de que “significado” possui componentes
cognitivos, afetivos e relacionais. A MSS pretende medir o significado de um processo
musicoterapêutico de composição em pacientes dependentes químicos e com outras
psicopatologias. No primeiro estudo, pacientes psiquiátricos agudos foram
randomizados aleatoriamente entre três grupos: 1) grupo de composição; 2) grupo de
análise lírica; e 3) bingo “Rock ‘n’ Roll” e, no segundo estudo, pacientes dependentes
químicos foram randomizados aleatoriamente entre dois grupos: 1) grupo de
composição; e 2) bingo “Rock ‘n’ Roll”. Coletaram-se apenas os dados referentes aos
grupos de composição de canções. Os resultados indicaram que a MSS possui boa
validade de conteúdo, forte consistência interna (α = 0,98, grupo psiquiátrico agudo e α
= 0,96, grupo desintoxicação), confiabilidade aceitável de teste-reteste (CCI (2,1) =
0,93, grupo psiquiátrico agudo e CCI (2,1) = 0,89, grupo de desintoxicação) e validade
de construto (o grupo agudo foi r = 0,68, p < 0,001, e o grupo de desintoxicação foi r =
0,56, p < 0,001). O erro de medida foi maior no grupo de desintoxicação (–1,63 ± 6,33).
Short e Dingle (2015) pesquisaram se os indivíduos em tratamento para
transtornos por uso de substâncias mostram respostas emocionais diferentes à música
em comparação ao grupo-controle, e se a escuta pode aumentar e/ou reduzir a fissura
em dependentes químicos. Os participantes (n = 38) responderam questionários depois
de ouvir músicas selecionadas e relacionadas por eles ao uso de substâncias e ao estado
abstêmio. Fizeram-se relações sobre referências musicais, sintomas de abstinência e
emoções ligadas às músicas. Houve diferenças significativas entre os grupos, em
particular os participantes dependentes químicos, que mostraram uma resposta atenuada
à música feliz (p < 0,001), indicando que a música pode atuar como uma sugestão
auditiva moderada para emoções e fissura em adultos com dependência química.
Silverman (2015) realizou um experimento para verificar o efeito de
intervenções de análise lírica na motivação do tratamento em pacientes (n = 104) em
uma unidade de desintoxicação; o grupo-controle participou de sessão com psicoterapia
38

verbal. Além disso, o autor avaliou as diferenças entre os grupos em relação a duas
músicas contrastantes usadas nas sessões. Os participantes foram agrupados
aleatoriamente em um grupo experimental de análise lírica ou grupo-controle de lista de
espera. As canções analisadas foram “Hurt” e “How to Save a Life”. Usaram-se escalas
para medir aspectos da motivação do tratamento, reconhecimento de problemas, desejo
de ajuda, prontidão para o tratamento, pressões para o tratamento e total motivação.
Houve diferenças significativas entre os grupos nas medidas de reconhecimento de
problemas, desejo de ajuda, prontidão para o tratamento e motivação total (p < 0,1 para
todos os construtos), com os participantes do grupo experimental apresentando
maiores níveis de motivação para o tratamento do que os participantes do controle.
Não houve diferença entre as duas intervenções de análise lírica, indicando que o teor
da letra da canção não altera os resultados terapêuticos.
Gardstrom, Bartkowski, Willenbrink e Diestelkamp (2013) exploraram o
impacto da musicoterapia em grupo nos níveis de afeto negativo autorrelatado entre
homens e mulheres em uma unidade residencial de um programa integrado de
tratamento para dependência química com diagnóstico duplo (n = 89). Os pesquisadores
pretenderam determinar se, e em que grau, o envolvimento nas experiências
musicoterapêuticas de composição, escuta, recriação, execução e improvisação
resultariam em diminuição da intensidade dos níveis de afeto negativo autorrelatados.
Foram usadas três adaptações da escala PANAS – X (Positive Affect Negative Affect
Schedule Expanded), com posterior análise de seus resultados. Um terço dos
participantes envolvidos nos grupos de tratamento (n = 49) relatou diminuição na
ansiedade, tristeza e raiva combinadas (p < 0,001). A generalização dos achados é
limitada principalmente pelo uso de instrumento não padronizado (PANAS).
Silverman (2011) pesquisou o efeito de uma intervenção musicoterapêutica
chamada de "rockumentário" na prontidão para mudar e na fissura em pacientes em uma
unidade de desintoxicação utilizando instrumentos psicométricos. Em um design
aleatório, os pacientes (n = 141) foram randomizados por grupo para um
"rockumentário" de musicoterapia, terapia verbal ou musicoterapia recriativa. A
contemplação (p < 0,001) e ação (p < 0,027) foram os constructos mais bem acionados
pelo "rockumentário" e pela musicoterapia recriativa, alcançando melhores escores do
que na terapia verbal. As duas experiências musicoterapêuticas não apresentaram
diferenças estatísticas para alterar as variáveis.
39

Lesiuk (2010) propôs um modelo de reabilitação cognitiva baseada na música


que pode resolver com êxito os déficits de funções executivas em indivíduos
dependentes químicos, reduzindo a probabilidade de recaída. Além de discussão teórica,
a autora utilizou um protocolo de avaliação com o qual concluiu que atividades
musicais voltadas à reabilitação cognitiva podem ajudar os clientes a fortalecer as
habilidades cognitivas necessárias para lidar com os gatilhos situacionais.
Silverman (2009) fez um experimento no qual avaliou os efeitos de uma única
sessão de musicoterapia em clientes fazendo tratamento de desintoxicação. Em um
ensaio clínico randomizado e controlado, usou instrumentos psicométricos que medem a
prontidão para mudar e trabalhar na aliança terapêutica. Os pacientes (n = 37) em
desintoxicação participaram de uma intervenção realizada por um musicoterapeuta. O
grupo experimental participou de uma intervenção de análise lírica, na forma de um
grupo com foco na prevenção de recaídas, enquanto o grupo-controle participou de uma
sessão de terapia verbal em grupo com o mesmo tema. A musicoterapia se mostrou
igualmente eficaz se comparada à terapia verbal nas medidas psicométricas de prontidão
para mudança, para o tratamento e para a aliança de trabalho (p < 0,001).
Cevasco, Kennedy e Generally (2005) investigaram os efeitos de três tipos
diferentes de intervenções de musicoterapia nos níveis de depressão, estresse, ansiedade
e raiva de pessoas do sexo feminino na reabilitação de abuso de substâncias (n = 20) em
um ensaio clínico não controlado e não randomizado. Para tanto, aplicaram-se escalas
de medidas dos níveis de raiva, ansiedade, estresse e depressão em participantes de
atendimentos ambulatoriais de musicoterapia em reabilitação de abuso de substâncias.
Fizeram-se duas semanas de atividades de movimento com música, duas semanas com
atividades de ritmo e mais duas semanas de jogos competitivos. As participantes
relataram diminuição na depressão, estresse, ansiedade e raiva (p < 0,001)
imediatamente após as sessões de musicoterapia e não houve diferença quanto a
efetividade das intervenções.
Jones (2005) investigou qual técnica de musicoterapia – composição ou análise
lírica – seria mais eficaz em promover mudanças emocionais durante uma única sessão
com mulheres diagnosticadas com dependência química (n = 26). O estudo usou testes
para medir os níveis de raiva, ansiedade, estresse e depressão em mulheres participantes
de atendimentos ambulatoriais de musicoterapia em reabilitação de abuso de
substâncias. As participantes engajaram-se em uma sessão grupal de musicoterapia a
40

partir da técnica de composição (n = 13) ou de análise lírica (n = 13). Uma escala visual
analógica de humor contendo 11 variáveis emocionais foi aplicada antes e
imediatamente após as sessões. Não houve diferença significativa sobre as técnicas
utilizadas nos grupos, tanto no pré-teste como no pós-teste (F(1,264) = 1,08; p > 0,05),
mas, sim, sobre as variáveis emocionais em cada uma (F(10, 264) = 3,52; p < 0,05). A
musicoterapia aumentou significativamente sentimentos positivos, como aceitação,
alegria e prazer e reduziu sentimentos negativos, como medo e distração.
Doak (2003) relacionou preferências musicais, preferências de drogas e
diagnósticos de adolescentes, de ambos os sexos, em tratamento por abuso de
substâncias. Os participantes (n = 58) responderam questionários sobre preferências
musicais e de drogas. Buscou-se o coeficiente de contingência para as relações entre
preferências musicais, preferências de drogas e os diagnósticos dos pesquisados. A
análise dos dados indicou correlações significativas entre música preferida e o
diagnóstico (p < 0,01), preferência de drogas e diagnóstico (p < 0,002) e diagnóstico e
razão para o uso de drogas. No entanto, os indicativos são questionáveis, já que o
pesquisador não usou instrumento testado e validado.
Gallagher e Steele (2002) descreveram um modelo de implementação de
musicoterapia como componente integrante do tratamento recebido pelos clientes em
um programa de atendimentos grupais de pessoas que fazem abuso de substâncias. A
partir da análise de questionários, concluiu-se que 82% dos clientes expressaram seus
pensamentos e sentimentos em sessões através de interação com colegas, respostas às
perguntas ou tocando instrumentos e cantando.
James (1988) documentou a influência das atividades de esclarecimento dos
valores da musicoterapia nos níveis de “lócus de controle”. O autor realizou dois
estudos quase-experimentais com adolescentes de ambos os sexos (n = 60) em uma
clínica focada na reabilitação em dependência química. Os grupos experimentais
participaram de sessões de discussão em musicoterapia de uma hora, estruturados de
acordo com a abordagem do “Lócus de Controle”. Os grupos-controle participaram de
outras atividades da instituição. Encontrou-se que o uso de atividades de musicoterapia,
através da análise de letras com foco no esclarecimento de valores, permitiu que clientes
adolescentes desenvolvessem atitudes positivas e saudáveis em relação a si mesmos e
sobre a recuperação da dependência química [t(18) = 1,87, p < 0,05].
41

Tabela 1- Dados extraídos para análise da revisão bibliográfica que contém autor, data, objetivo, metodologia, protocolos de avaliação e resultados.

Autor e data Objetivo Metodologia Protocolos de avaliação Resultados

Silverman (2019a) Determinar os efeitos deOs participantes foram Perceived Stigma of As análises de variância não
uma única intervenção randomizados em grupo Addiction Scale (PSAS), indicaram diferença significativa
de musicoterapia a partir
experimental e grupo-controle. O Multidimensional Scale of entre os grupos sobre estigma ou no
da técnica degrupo experimental recebeu uma Perceived Social Support suporte social percebidos (p > 0,1).
composição musicalintervenção usando composição (MSPSS). No entanto, em todas as variáveis, a
sobre a percepção da de blues altamente estruturada, condição de composição terapêutica
estigmatização dana qual os participantes experimental apresentou escores
patologia e do suporte escreveram letras descrevendo o menores sobre o estigma e maiores
social de adultosestigma contra o vício como um no que se refere ao suporte social
dependentes químicos constructo social inadequado e percebido em relação à condição
em uma unidade de falso no primeiro verso e controle.
desintoxicação. enfrentando o estigma usando
apoios sociais no segundo verso.
O grupo-controle recebeu como
tarefa um jogo musical.
Taets et al (2019) Avaliar o efeito da Estudo quase experimental Coletor de saliva Após 60 minutos da intervenção
musicoterapia sobre o realizado com 18 dependentes Salivette. A dosagem de musicoterapêutica, houve redução
estresse de dependentes químicos em tratamento. O cortisol nas amostras foi estatisticamente significante nas
químicos. cortisol salivar foi coletado antes, realizada através de médias dos níveis de cortisol
60 e 120 minutos após única imunoensaio por salivar (p < 0,001). Após 120
intervenção musicoterapêutica em eletroquimioluminescência. minutos, também houve redução,
grupo. Foram realizados testes mas sem significância estatística (p =
não paramétricos de Wilcoxon e 0,139).
de Kruskal-Wallis.
42

Silverman (2019b) Explorar a regulação Estudo transversal por meio de Brief Music in Mood Há inúmeras relações sobre as
emocional a partir do análises correlacionais e de Regulation Scale (B- variáveis, entre elas a de que o
uso saudável e não regressão múltipla de escalas MMR), Healthy-Unhealthy uso saudável da música ajuda no
saudável da música e as preenchidas por 194 participantes Music Scale (HUMS), Brief enfrentamento (p = 0,007) e o humor
estratégias de para determinar quais fatores de COPE Inventory. (p = 0,035), enquanto o uso nocivo
enfrentamento em regulação da emoção baseados da música prevê negação (p <
adultos dependentes na música estavam relacionados à 0,001), desengajamento
químicos em uma regulação emocional e ao coping. comportamental (p < 0,001) e a
unidade de autoculpa (p < 0,005). Indica que a
desintoxicação. música é um bom regulador
emocional entre esta população.

Silverman (2019c) Determinar os efeitos de Os participantes foram State Shame and Guilt Não houve diferença significativa
uma única intervenção randomizados para condição de Scale (SSGS). entre os grupos sobre vergonha ou
musicoterapêutica de grupo de composição de canções ou culpa (p > 0,05), com pontuações
composição sobre controle. Neste estudo de sessão médias mais baixas na condição
vergonha, culpa e única, os participantes experimental. Houve uma diferença
orgulho em adultos experimentais receberam um significativa entre os grupos sobre o
dependentes químicos protocolo de composição de blues orgulho (p = 0,012), quando os
em uma unidade de em grupo, tratando de vergonha, participantes experimentais
desintoxicação. culpa e orgulho e, em seguida, apresentaram escores médios mais
preencheram o questionário. Os altos do que os participantes do
participantes do controle controle.
preencheram o questionário após
intervenção de musicoterapia
recriativa.
43

Gutiérrez (2017) Identificar o impacto do Descrição de atendimentos e uso de Teste de variáveis O grupo tinha predileção por
trabalho de escalas para avaliar a efetividade do preditoras de tratamento atividades rítmicas e a descrição das
musicoterapia na adesão tratamento de musicoterapia com o para adições (VPA) e Teste atividades permitiu reflexões sobre o
ao tratamento dos objetivo de adesão de pacientes de interações musicais porquê do abandono de quatro dos
pacientes diagnosticados dependentes químicos. (CIM). pacientes.
com dependência
crônica e descrever a
interação musical e as
mudanças no grupo de
intervenção durante o
processo.

Silverman (2017) Medir os efeitos de uma Os participantes foram The Alcohol Craving Houve diferença significativa (p =
única intervenção grupal randomizados em grupos para uma Questionnaire-Short Form 0,033) relacionada à fissura entre os
musicoterapêutica a das três condições: composição (ACQ-SF-R). grupos de composição e controle.
partir da técnica de musical visando prevenção e Embora nenhuma outra diferença
composição educacional recuperação de recaídas, tenha atingido significância
sobre a fissura de musicoterapia recriativa visando estatística, os participantes da
pacientes dependentes ganhos sociais e afetivos e grupo- composição tiveram escores médios
químicos em uma controle que participou de um de fissura mais baixos do que os
unidade de grupo de “sessão de bingo de Rock participantes nas condições de
desintoxicação. ‘n’ Roll”. Todos os participantes controle e recriação.
responderam a questionários após
as intervenções.
44

Silverman (2016a) Medir os efeitos das Os participantes foram Adjective Rating Scale for Embora os participantes na condição
intervenções randomizados em grupos para Withdrawal (ARSW), Brief experimental tivessem menores
musicoterapêuticas de condições experimentais (somente Substance Craving Scale médias de abstinência e fissura do
análise lírica em grupo pós-teste) ou controle de lista de (BSCS). que os participantes na condição de
de sessão única sobre os espera. controle, essas diferenças não foram
sintomas de abstinência significativas tanto em abstinência (p
(withdrawal) e fissura = 0,055) quanto em fissura (p =
(craving) em pacientes 0,085). A familiaridade da música na
de uma unidade de análise da letra não estava
desintoxicação. relacionada à abstinência
Também se quis (withdrawal) ou fissura (craving).
determinar se existiam
relações entre os efeitos
do tratamento e a
familiaridade dos
participantes com a
música.
Stamou et al Verificar se duas Estudo de intervenção com 24 Symptoms Checklist-90-R O resultado foi positivo, sendo que a
(2016) modalidades musicais pacientes divididos Derogatis(SCL-90-R), música executada ao vivo apresentou
diferentes, ao vivo e pré randomicamente em três grupos, Craving Reactivity Scale mais eficiência em redução de
gravada, combinadas sendo um destes o grupo controle. (CRS), Permissive sintomas depressivos e respostas à
com a técnica de Thoughts Questionnaire abstinência em relação ao grupo
dessensibilização (ICT), Participation controle (p < 0,001).
sistemática, podem evaluation questionnaire
contra condicionar os (PEQ).
sinais relacionados às
drogas e reduzir as
respostas implícitas ao
desejo.
45

Silverman (2016b) Diferenciar as Os participantes foram Working Alliance Não houve diferença estatisticamente
intervenções de aleatoriamente agrupados em um Inventory—Short Form significativa entre os grupos em
musicoterapia ao vivo único projeto pós-teste para uma (WAI-S), Wake Forest nenhuma das medidas (p > 0,05).
das gravadas, bem como das quatro condições: Physician Trust Scale.
as educacionais em musicoterapia educacional ao vivo,
oposição às musicoterapia educacional gravada,
recriacionais, através de educação sem música ou
medidas de aliança de musicoterapia recriativa. As
trabalho e confiança, medidas incluíram aliança de
com pacientes de uma trabalho e confiança no terapeuta.
unidade de Intervenções educacionais em
desintoxicação. musicoterapia foram realizadas a
partir de um roteiro de análises
líricas.
Silverman; Baker; Determinar se a fluidez Pesquisa que contém dois estudos, Short State Flow Scale Houve correlação positiva e
MacDonald (flow) e a significância no primeiro os participantes com (SSF), Meaningfulness of
(2016) do processo de transtornos mentais agudos foram Songwriting Scale (MoSS), significativa entre fluidez e
composição em distribuídos randomicamente em State Hope Scale (SHS), significado das composições e
musicoterapia estavam três grupos: composição, análise Readiness to Change
relacionados e lírica e grupo de espera. No Questionnaire – Treatment resultados. O primeiro estudo
funcionavam como segundo estudo, participantes Version (RTCQ-TV). indicou fortes relações entre o
preditores de resultado dependentes químicos foram
terapêutico nas divididos em dois grupos: fluxo, a significância do processo
intervenções de composição e grupo de espera. de composição, o produto da
composição com Após as sessões os participantes
pacientes adultos preencheram escalas sobre fluidez e composição e os resultados
internados em uma significância da composição. Os clínicos (todas p ≤ 0,016). O
unidade psiquiátrica de dados passaram por Análises
tratamento agudo e em correlacionais e de regressão segundo indicou que o fluxo era
uma unidade de múltipla. o único preditor terapêutico
desintoxicação.
significativo, em detrimento ao
46

processo e produto da
composição.
Baker; Silverman; Avaliar Testes de validação do conteúdo e MSS e Short State Flow Os resultados indicaram que a
MacDonald (2015) psicometricamente a de construto, consistência interna, Scale. MSS possui boa validade de
Escala de Significância confiabilidade teste-reteste, erro de conteúdo, forte consistência interna
da Composição (MSS) medição. A MSS e a escala Short (α = 0,98, no grupo psiquiátrico
como uma medida de State Flow foram preenchidas logo agudo e α = 0,96, para grupo
significado de um após o atendimento e depois de 6 desintoxicação), confiabilidade
processo horas. aceitável de teste-reteste CCI (2,1)
musicoterapêutico de = 0,93, no grupo psiquiátrico agudo e
composição. CCI (2,1) = 0,89 para o grupo de
desintoxicação) e validade de
construto (o grupo agudo foi r = 0,68,
p < 0,001, e o grupo de
desintoxicação foi r = 0,56, p <
0,001). O erro de medida foi maior
no grupo de desintoxicação (– 1.63 ±
6.33).
Short; Dingle Pesquisar se os Experimento no qual os Alcohol Urge Houve diferenças significativas entre
(2015) indivíduos em participantes responderam Questionnaire adaptado, os grupos. Em particular, os
tratamento de questionários, depois de ouvir uma Geneva Emotions in Music participantes dependentes químicos
transtornos por uso de música selecionada e relacionada, Scale (GEMS), Valência mostraram uma resposta atenuada à
substâncias mostram por eles, ao uso de substâncias, e ao emocional e Excitação música feliz (p < 0,001). A música
respostas emocionais estado abstêmio. Fez-se relações emocional foram avaliadas pode atuar como uma sugestão
diferentes à música em sobre preferências musicais, por uma pergunta auditiva moderada para emoções e
comparação a um grupo sintomas de abstinência e emoções respondida em escala fissura em adultos com dependência
controle e se a escuta ligadas às músicas. Likert. química.
pode aumentar ou
reduzir o desejo de usar
substâncias em
47

dependentes químicos.

Silverman, (2015) Determinar o efeito de Os participantes foram agrupados Texas Christian University Houve diferenças significativas entre
intervenções aleatoriamente em grupo Treatment Motivation Scale os grupos nas medidas de
musicoterapêuticas de experimental de análise lírica ou - Client Evaluation of Self reconhecimento de problemas, desejo
análise lírica na grupo controle de lista de espera. at Intake (CESI). de ajuda, prontidão para o tratamento
motivação para o As canções analisadas foram e motivação total (p < 0,01 para
tratamento em pacientes “Hurt” e “How to Save a Life”. todos os construtos), com os
de uma unidade de Usaram-se escalas para medir participantes do grupo experimental
desintoxicação e avaliar aspectos da motivação do tendo maiores motivações para o
as diferenças entre tratamento, reconhecimento de tratamento do que os participantes do
grupo experimental e problemas, desejo de ajuda, controle. Não houve diferença entre
controle em relação a prontidão para o tratamento, as duas intervenções de análise lírica.
duas músicas pressões para o tratamento e total
contrastantes usadas nas motivação.
sessões.

Gardstrom; Explorar o impacto da Determinar se, e em que grau, o Três adaptações do PANAS Um terço dos participantes
Willenbrink; musicoterapia em grupo envolvimento nas experiências – X (Positive Affect envolvidos nos grupos de tratamento
Diestelkamp sobre o afeto negativo musicoterapêuticas de composição, Negative Affect Schedule relataram diminuição na ansiedade,
(2013). auto relatado (NA) entre escuta, recriação, execução e Expanded). tristeza e raiva combinadas (p <
homens e mulheres em improvisação resulta em 0,001). A generalização dos achados
uma unidade residencial diminuição da intensidade dos é limitada principalmente pelo uso de
de um programa níveis de afeto negativo auto um instrumento não padronizado.
integrado de tratamento relatados.
para diagnóstico duplo.
48

Silverman (2011) Determinar o efeito de Um design aleatório onde 141 Readiness to Change Contemplação (p < 0,001), e ação (p
uma intervenção pacientes foram randomizados por Questionnaire-Treatment < 0,027) foram os constructos mais
musicoterapêutica grupo para um "rockumentário" de Version (RTCQ-TV), Brief bem acionados no “rockumentário” e
chamada musicoterapia, terapia verbal ou Substance Craving Scale na musicoterapia recriativa do que na
"rockumentário" sobre a musicoterapia recriativa. (BSCS), questionários de terapia verbal. As duas ações
prontidão para mudar e avaliação e de pós-teste musicoterapêuticas não apresentaram
a fissura de pacientes de contendo escalas Likert. diferenças estatísticas para alterar as
uma unidade de variáveis.
desintoxicação
utilizando instrumentos
psicométricos.

Lesiuk (2010) Descrever como a Descrição de um modelo baseado Sound Training for Atividades musicais voltadas à
reabilitação cognitiva em estudos de cognição para o Attention and Memory reabilitação cognitiva podem ajudar
baseada na música pode cuidado de pessoas com protocol (STAM). os clientes a fortalecer as habilidades
resolver com êxito os dependência química a fim de cognitivas necessárias para lidar com
déficits da função prevenir recaídas. os gatilhos situacionais.
executiva em indivíduos
dependentes de drogas,
reduzindo, assim, a
probabilidade de
recaída.
49

Silverman (2009) Avaliar os efeitos de Ensaio clínico randomizado Stages of Change A musicoterapia pode ser tão eficaz
uma única sessão de controlado em que pacientes em Readiness and Treatment quanto à terapia verbal em medidas
musicoterapia em desintoxicação participaram de uma Eagerness Scale psicométricas de prontidão para
clientes de uma unidade intervenção realizada por um (SOCRATES), Helping mudança para o tratamento e para a
de desintoxicação musicoterapeuta. O grupo Alliance Questionnaire aliança de trabalho (p < 0,001).
usando instrumentos experimental participou de uma (HAQ-II).
psicométricos que intervenção de análise lírica em
medem a prontidão para grupo com foco na prevenção de
mudar e a aliança recaídas, enquanto o grupo controle
terapêutica. participou de uma sessão de terapia
verbal em grupo com o mesmo
tema.

Cevasco; Kennedy; Investigar os efeitos de Aplicaram-se testes para medição Inventário de Ansiedade A medida ANOVA não indicou
Generally (2005) três tipos diferentes de dos níveis de raiva, ansiedade, Traço-Estado (IDATE – diferenças significativas para os três
intervenções de estresse e depressão em mulheres State Trait Anxiety tipos de intervenções de
musicoterapia sobre participantes de atendimentos Inventory) e Novaco Anger musicoterapia, no entanto, as
depressão, estresse, ambulatoriais de musicoterapia em Inventory Short Form. pacientes relataram diminuição na
ansiedade e raiva de reabilitação de abuso de depressão, estresse, ansiedade e raiva
clientes do sexo substâncias. Fizeram-se duas (p < 0,001) imediatamente após as
feminino em semanas de atividades de sessões de musicoterapia e não houve
reabilitação de abuso de movimento com música, duas diferença no que tange a efetividade
substâncias. semanas com atividades de ritmo e das intervenções.
mais duas semanas de jogos
competitivos.
50

Jones (2005) Determinar qual técnica Os participantes se engajaram em Uma escala visual Não houve diferença significativa
de musicoterapia foi uma sessão grupal de musicoterapia analógica de humor sobre as duas técnicas utilizadas nos
mais eficaz em a partir da técnica de composição (n (VAMS), adaptada pelo grupos, no pré teste como assim
promover mudanças = 13) ou de análise lírica (n = 13). pesquisador, como uma como no pré teste (F(1,264) = 1,08;
emocionais com pessoas Uma escala visual analógica de medida dependente e p > 0,05), mas sim sobre as variáveis
que são quimicamente humor contendo 11 variáveis Significant Moments in emocionais em cada uma (F(10, 264)
dependentes durante emocionais foi aplicada antes e Treatment Questionnaire. = 3,52; p < 0,05). A musicoterapia
uma única sessão. imediatamente após as sessões. aumentou significativamente
sentimentos positivos, como
aceitação, alegria e prazer e reduziu
sentimentos negativos, como medo e
distração.

Doak (2003) Investigar as relações Cinquenta e oito adolescentes Questionário desenvolvido A análise dos dados indicou
entre preferências responderam questionários sobre pelo pesquisador para esta correlações significativas entre
musicais, preferências preferências musicais e de drogas. pesquisa, baseado em suas música preferida e diagnóstico (p <
de drogas e diagnósticos Buscou-se o coeficiente de fichas de avaliação inicial. 0,01), droga de preferência e
de adolescentes em contingência para as relações entre diagnóstico (p < 0,002) e diagnóstico
tratamento por abuso de preferências musicais, preferências e razão para o uso de drogas (p <
substâncias. de drogas e diagnósticos. 0,02). No entanto, o instrumento de
avaliação psicológica usado não foi
testado e validado.
51

Gallagher (2002) Descrever um modelo Texto descritivo. CMSS group data chart e A participação ativa (interagindo
de implementação de Happy/Sad Faces com colegas, comentando,
musicoterapia como Assessment Tool. respondendo a perguntas,
componente integrante contribuindo para a atividade,
do tratamento recebido tocando instrumentos, cantando,
pelos clientes em um escrevendo letras de músicas etc.)
programa de abuso de nas sessões teve uma média de 91% e
substâncias e doenças 82% dos clientes expressou seus
mentais. Técnicas de pensamentos e sentimentos em
avaliação também são sessões.
descritas.

James (1988) Documentar a influência Dois estudos quase-experimentais Abbreviated Internal O uso de atividades de
das atividades de com 60 adolescentes em uma External Locus of Control musicoterapia, através da análise de
esclarecimento dos clínica focada na reabilitação em Scale. letras, com foco no esclarecimento de
valores em dependência química. Os grupos valores permitiu que clientes
musicoterapia nos níveis experimentais participaram de adolescentes desenvolvessem
avaliados de “Lócus de sessões de discussão em atitudes positivas e saudáveis em
Controle”. musicoterapia de uma hora, relação a si mesmos e sobre a
estruturados de acordo com a recuperação da dependência química
abordagem do "Lócus de Controle". [t(18) = 1.87, p < 0,05].
O Grupo controle participou de
outras atividades da instituição.
52

4. Conclusões

Os principais temas presentes nas pesquisas identificadas abordam a eficácia dos


tratamentos de musicoterapia em relação à fissura (craving), habilidades de
enfrentamento (coping skills), sintomas de abstinência, ansiedade, além do uso da
música para autorregulação emocional. As filtragens excluíram 778 publicações. Dentre
elas, muitas pesquisavam a musicoterapia em tratamentos para controle da dor,
substituindo opioides e em tratamentos de outras populações que se correlacionam com
a dependência química, crianças moradoras de rua, crianças em situação de risco e
pessoas abusadas sexualmente.
Há literatura suficiente para concluírem-se alguns pontos acerca da ação da
musicoterapia sobre aspectos psicológicos de pacientes acometidos por dependência
química, sobretudo, quando intervenções musicoterapêuticas são associadas às
abordagens cognitivas, comportamentais e neurológicas para o tratamento.
Apesar dessa conclusão geral, os estudos são limitados por questões
metodológicas como: 1) a diversidade dos desfechos avaliados e a falta de avaliação
de desfechos duros; 2) a diversidade de intervenções testadas; 3) o pequeno número de
sessões de intervenção de musicoterapia usado nos estudos; 4) a falta de avaliação dos
efeitos no longo prazo; 5) os controles usados no estudo; e 6) a falta de padronização
dos tratamentos auxiliares usados concomitantemente à intervenção de musicoterapia.
Há falta de padronização dos desfechos avaliados pelos estudos, o que limita sua
comparabilidade. Nos estudos ora analisados, foram usadas várias escalas, protocolos,
instrumentos e questionários de avaliação psicológica para medição de constructos
relacionados ao tratamento de dependentes químicos a partir da música. São elas
Meaningfulness of Songwriting Scale (MSS), Motives for Listening to Music
Questionnaire (MLMQ), Sound Training for Attention and Memory protocol (STAM),
Geneva Emotions in Music Scale (GEMS), Meaningfulness of Songwriting Scale
(MoSS), Brief Music in Mood Regulation Scale (B-MMR) e Healthy-Unhealthy
Music Scale (HUMS). De forma geral, as pesquisas não identificaram diferenças sobre
eficácia das experiências musicoterapêuticas nos desfechos duros do tratamento da
dependência de drogas (como abstinência em um ano ou número de recaídas), mas, sim,
sobre quais variáveis essas experiências mobilizaram. Isso é de importância na medida
em que se observa que as intervenções musicais utilizadas têm mais ação sobre aspectos
53

secundários ao diagnóstico de dependência química e não diretamente sobre esse


transtorno. Esse é um aspecto importante, pois, mesmo não interferindo diretamente na
doença, a musicoterapia é, possivelmente, capaz de melhorar o humor, a percepção de
bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes em tratamento.
Há ainda uma diversidade de argumentos justificando as intervenções e na
estruturação das intervenções avaliadas. Dentre elas, as principais experiências
musicoterapêuticas foram: 1) A recriação, a partir de análise lírica, os jogos rítmicos e
a confecção de "rockumentário"; 2) a composição de canções; 3) a escuta musical; e 4)
atividades voltadas para a reabilitação cognitiva.
As experiências de recriação a partir da análise lírica conseguiram melhores
escores em relação ao esclarecimento de valores, aumento de sentimentos positivos,
reconhecimento de problemas, desejo de ajuda, prontidão para o tratamento e
motivação; além disso, proporcionaram uma diminuição significativa de estresse logo
após a atividade, funcionando como um bom regulador emocional, atuando,
principalmente, no humor e no enfrentamento (coping). Já as atividades de jogos
rítmicos proporcionaram diminuição de sintomas depressivos, ansiedade, raiva e
fissura. O rockumentário melhorou os escores sobre contemplação e ação, atributos da
prontidão para a mudança, e diminuiu sintomas de fissura.
As experiências de composição aumentaram a autoestima (orgulho) e
conseguiram bons escores para diminuição de fissura. É interessante notar que o fluxo
(flow) do processo de composição mostrou-se mais importante do que o significado da
letra. Verificou-se ainda que as experiências composicionais não alteraram
significativamente as variáveis de culpa, vergonha, estigma e suporte social dos
pacientes dependentes químicos.
As experiências de escuta musical ao vivo apresentaram mais eficácia do que as
experiências envolvendo músicas gravadas, porém, ambas indicaram bons escores
sobre redução de probabilidade de recaída, dessensibilização sistemática, e na relação
de música considerada saudável pelo paciente sobre a possibilidade de uso em seu
tratamento. Nota-se que as pesquisas apontaram divergências sobre o que é considerada
música saudável ou nociva, porém, de forma geral, as músicas saudáveis predisseram
melhor o coping, a aceitação e a regulação de humor. Por outro lado, as músicas
consideradas nocivas predisseram a negação, o desabafo e a culpa. Músicas “saudáveis”
ou “nocivas” não predisseram sobre abuso de substância, suporte emocional,
54

desengajamento comportamental, planejamento ou elaboração positiva, o que indica


que tais características não são condições importantes para o trabalho com tais
variáveis.
As atividades de reabilitação cognitiva que usam de todas as experiências
musicais são boas alternativas para o aprendizado de estratégias para lidar com
situações de gatilho situacionais.
A maior parte dos estudos usou apenas uma sessão de musicoterapia e uma
medida do desfecho estudado. Isso permite avaliar o efeito da intervenção no curto
prazo, mas não na determinação dos efeitos a médio e longo prazo, tanto nos desfechos
avaliados quanto nos desfechos duros da dependência química.
Outro ponto a ser considerado são os grupos-controle usados pelos estudos.
Como nos estudos avaliando as intervenções psicológicas, os estudos avaliados
utilizaram ou uma fila de espera ou uma sessão “branca” (Sham), onde acontecia uma
intervenção outra que as de musicoterapia estudadas. Deve-se considerar que, apesar de
terem alguma validade interna na comparação de intervenções de musicoterapia, essas
formas de controle também produzem algum efeito nos pacientes, o que limita a
interpretação do tamanho do impacto da intervenção de musicoterapia. Contudo, deve-
se reconhecer quão difícil é a utilização de outras modalidades de placebo ou controle
nos estudos que envolvem intervenções de musicoterapia.
Cabe ainda avaliar que a maioria dos estudos realizou as intervenções de
musicoterapia como tratamento auxiliar dos pacientes com dependência e que não
houve uma padronização dos tratamentos para dependência nesses estudos. Dessa
forma, fica difícil avaliar quanto do efeito da intervenção deve-se exclusivamente à
musicoterapia ou a outros tratamentos.
Esta revisão aponta, portanto, a necessidade de um maior aprimoramento dos
futuros estudos clínicos por meio da avaliação dos efeitos da musicoterapia em
pacientes com dependência química. É importante que os estudos sigam os critérios de
melhores práticas clínicas, que determinem desfechos claros e clinicamente
significativos, que tenham amostras que assegurem o poder das comparações
estatísticas, e que utilizem intervenções bem embasadas teoricamente e controles
fiáveis, além de avaliar os impactos das intervenções a curto e médio prazo.
Por fim, dada a quantidade e densidade de informações que conseguimos retirar
dos estudos selecionados, indicamos que o uso de protocolos de avaliação psicológica
55

são importantes ferramentas para entender como os tratamentos de musicoterapia atuam


no cuidado aos pacientes dependentes químicos. Assim, valendo dessas ferramentas,
conseguiremos avaliar melhor as nossas conquistas e insucessos musicoterapêuticos.

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Acesso em: 3 dez. 2020.
59

4. DISCUSSÃO TEÓRICA

O segundo artigo tem o propósito de discutir sobre quais formas


musicoterapeutas podem tratar pacientes com DQ a partir de técnicas que apresentam
alguma evidência de eficácia no contexto da MT e de outras teorias e práticas já mais
estabelecidas neste campo.

4.1. Artigo 2: Abordagem de tratamento musicoterapêutico em Dependência


Química baseado no Modelo Transteórico de Mudança
Artigo publicado na Revista Per Musi (Qualis B1)

Frederico Gonçalves Pedrosa


Frederico Duarte Garcia
Cybelle Maria Veiga Loureiro

Resumo: O Modelo Transteórico de Mudança (MTM) foi criado por Prochaska e DiClemente,
em 1982, e sustenta trabalhos clínicos em Dependência Química desde sua origem, a partir dos
Estágios de Mudança. O presente texto apresenta uma abordagem para tratamentos
musicoterapêuticos voltados à população que possui dependência química, apoiado no Modelo
Científico Racional de Mediação (Rational Scientific Mediating Model – R-SMM) em interface
com o MTM. Assim, discutimos as bases neurofisiológicas do processamento musical bem
como das drogas de abuso, apontamos as técnicas musicoterapêuticas já comprovadamente
eficientes no tratamento musicoterapêutico com tal população, apresentamos o MTM e, por fim,
apontamos quais técnicas possuem mais eficiência para as diferentes fases do tratamento. Esta
pesquisa servirá de sustentação para a criação de um instrumento de avaliação que informe se o
processo musicoterapêutico auxilia na evolução de pacientes dependentes químicos.

Palavras-chave: Musicoterapia; Dependência Química; Modelo Transteórico de Mudança.

Abstract: The Transtheoretical Model of Change (TMC) was created by Prochaska and
DiClemente in (1982), and has supported clinical work on Chemical Dependence since its
origins from Stages of Change. This text presents a rationale for music therapy treatment in
chemical dependency supported by the Rational Scientific Model of Mediation in interfaces
with the TMC. Thus, we discuss the neurophysiological bases of music processing as well as
drugs abuse, we point out as already proven effective music therapy techniques for music
therapy treatment with such a population, we present the TMC and, finally, we point out which
techniques are more efficient for the different phases of treatment. This research will support the
creation of an assessment instrument that informs whether the music therapy process helps in
the evolution of chemically dependent patients.

Keywords: Music therapy; Chemical Dependence; Transtheoretical Model of Change.


60

1. Introdução

Em busca de melhores práticas de tratamento musicoterapêutico para pessoas


com dependência química, Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021) não encontraram um
protocolo cientificamente comprovado para tal intuito que considere o uso da música.
Assim, nos valemos aqui do Modelo Científico Racional de Mediação (Rational
Scientific Mediating Model – R-SMM), para indicar caminhos metodológicos que visem
a criação de práticas musicoterapêuticas, mirando a construção de um Protocolo de
Avaliação para Musicoterapia em Grupo na Dependência Química.
Dentro do referido modelo, a música é entendida como uma linguagem
biológica do cérebro. O cérebro, por sua vez, ao se engajar em uma atividade musical,
também é mudado por esta experiência. Portanto, a música é uma linguagem importante
e mediadora de terapia (Hodges 2000; Zatorre; Salimpoor, 2013; Thaut, 2014). O
conjunto de sistemas que compõem o cérebro é ativado multimodalmente, desde a
produção até a percepção musical, envolvendo áreas de linguagem, memória, atenção,
funções executivas e afetivas (Sloboda 2008; Zatorre 2019; Thaut 2005b). Assim,
alguns processamentos cerebrais se conectam intimamente à música e despertam,
orientam, organizam, focalizam e modulam a percepção, a atenção e o comportamento
nos domínios afetivos, cognitivos e sensório-motores (Thaut, 2005a).
O R-SMM se propõe a mostrar caminhos epistemológicos para gerar
conhecimentos, partindo do estudo de mecanismos envolvidos no processamento
neurológico da música que produzem efeitos terapêuticos, em uma estrutura sistemática
e lógica, dando suporte para pesquisas e construções teóricas coerentes (Thaut, 2005b;
2014). A sua estrutura se baseia nos seguintes passos:

1- Modelos de respostas musicais: investigar as bases neurológicas, fisiológicas


e psicológicas dos comportamentos musicais em relação aos aspectos
cognitivos, afetivos, de fala, linguagem e controle motor;
2- Modelos de respostas paralelas não-musicais: investigar sobreposições e
processos compartilhados entre funções cerebrais e comportamentos
musicais e não musicais, em áreas semelhantes de cognição, fala, linguagem
e controle motor;
61

3- Modelos mediadores: investigar onde processos compartilhados e


sobrepostos são encontrados e se a música pode influenciar nas funções
cerebrais e comportamentais paralelas não-musicais;
4- Modelos de pesquisa clínica: investigar onde se encontram os modelos de
mediação, se a música pode influenciar a (re)aprendizagem e (re)treinamento
em terapia e reabilitação.

Sublinhamos, desta forma, que este modelo se vale de evidências de pesquisas


neurocientíficas para identificar processos cerebrais paralelos, entre comportamentos
musicais e comportamentos não-musicais. Esses processos estabelecem uma base
científica para a pesquisa aplicada subsequente, esclarecendo como as intervenções da
Musicoterapia funcionam em termos de função cerebral – aqui direcionadas para a área
da Saúde mental nos estudos na Dependência Química e suas características.
Com o intuito de ajudar os musicoterapeutas a selecionar e fornecer as
intervenções mais eficazes e baseadas em evidências para seus pacientes (L’Etoile et al,
2015), indicaremos a seguir, como se dão os processamentos cerebrais da música, das
drogas e suas possíveis sobremodalizações. Apontaremos, também, quais experiências
musicais já foram pesquisadas e entendidas como capazes de mobilizar aspectos de
(re)aprendizagem e (re)treinamento relacionados à dependência química.
Ao fim, apresentaremos um modelo para prática e pesquisa clínica, a partir do
Modelo Transteórico de Mudança (Prochaska; DiClemente, 1982). Este modelo se
mostrou eficiente em embasar processos terapêuticos (Szupszynski, 2012; Oliveira et al,
2017), musicoterapêuticos (Silverman, 2009, 2011, 2015) bem como intervenções
médicas (Garcia, 2012), no contexto de cuidados em dependência química. O rationale
aqui exposto pretende ser a sustentação de uma etapa futura da mesma pesquisa.
Produziremos uma escala de avaliação que informe se o processo musicoterapêutico
auxilia na evolução dos Estágios de Mudança, a partir da prática clínica focada em
técnicas que mobilizem os Processos de Mudança.
Esta pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil, onde foi avaliada pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da UFMG, CAAE 30939720.1.0000.5149 e da Secretaria
Municipal de Saúde de Belo Horizonte, CAAE 30939720.1.3001.5140. Além disto, esta
pesquisa recebeu auxílio pelo Programa Institucional de Auxílio à Pesquisa de Docentes
Recém-Contratados pela UFMG - Edital PRPq 07/2020.
62

2. Processamento Musical e Prazer

A primeira fase do processamento da música se dá pelos ouvidos: externo,


médio e interno. Resumidamente, pode-se indicar que as funções de cada parte deste
aparelho são: 1) o ouvido externo – composto de orelha e canal auditivo: amplifica e
direciona os sons percebidos; 2) o ouvido médio – formados por tímpano e ossículos:
faz o “casamento” da impedância do ar ao fluido da cóclea e 3) o ouvido interno –
labirinto e cóclea: transforma o sinal mecânico gerado pelos ouvidos anteriores, em
sinal elétrico que é direcionado para o processamento no cérebro (Lent, 2002).
A cóclea faz uma codificação complexa das alturas e intensidades dos sons
percebidos, realizando uma codificação temporal (a partir das vibrações dos seus cílios,
que conseguem responder às vibrações sonoras de 20 a 20.000hz) e codificação de
espacialidade, relacionando a amplitude das ondas que chegam até elas (Stainsby;
Cross, 2016; Lent, 2002). Em seguida apresentaremos, de forma resumida, o
processamento de elementos musicais isolados (p.e. notas, ritmos, timbres) já que
entendemos a música enquanto “entidade complexa”, como também a entende Douglas
(2002). Como nos informa Concetta Tomaino (2015) a música é assim muito mais do
que a soma de suas partes.
Posterior à passagem do sinal pelo ouvido interno, lugar que as frequências são
processadas muito precisamente, o sinal sonoro passa pelo tálamo, em diversos núcleos
relativos à sensibilidade, incluindo o núcleo intralaminar e o da linha média. Dos
neurônios talâmicos, se orientam preferencialmente para o córtex auditivo, continuando
a manipulação neuronal da informação musical, de forma mais complexa (Lent, 2002;
Stainsby; Cross, 2016).
No córtex auditivo se detecta a presença de três áreas auditivas: no lobo
correspondente ao córtex temporal, reconhecidas como área auditiva primária, área
secundária, imediatamente próxima e superior à anterior e a terciária, de menor massa
neural. Esta distribuição anatômica pode ser percebida na figura abaixo, mais à
esquerda. Na direita, podem ser reconhecidas as áreas corticais principais referentes ao
seguimento do processo auditivo, que inicia o processo nervoso da música (Douglas,
2002).
63

A área auditiva primária é aquela que estabelece o reconhecimento individual


dos sons, como características de intensidade (loudness), frequência
(agudeza/gravidade) e localização da fonte produtora da vibração. Deste modo, há a
análise dos sons isoladamente, mas de modo sequencial, experimentando um
armazenamento pelo córtex temporal, determinando a memorização das notas (Douglas,
2002; Zatorre; Salimpoor, 2013; Tomaino, 2014). A área auditiva secundária do córtex
auditivo, excitada pela primária, segue o curso sequencial do tratamento musical,
integrando os sons individuais em grupos maiores ou blocos de notas, através do qual se
pode gerar a percepção da harmonia, melodia e ritmo; fenômenos que também sofrem
acúmulo ou armazenamento informativo na memória temporal.
Finalmente, a área terciária (de nosso maior interesse), integra os blocos de notas
musicais em temas maiores, mecanismo que já poderia ser estimado como representação
interna da música (Sloboda, 2008), esquemas ou conceito musicais (Hargreaves;
Zimmerman, 2006). Ao mesmo tempo em que os interpreta, ou seja, outorgando
hierarquização, ponderação, organização temporal, de modo que na última, incorpora-se
o ritmo. Nesta área os elementos sonoros e musicais perdem sua individualidade para
dar lugar a uma percepção mais generalizada (Douglas, 2002).
Abaixo temos uma ilustração que contempla as áreas corticais e subcorticais
envolvidas na percepção musical (A) e as áreas do córtex auditivo relacionadas às
outras estruturas cerebrais que também reagem ao estímulo musical (B).

Figura 1 – (A) Áreas corticais e subcorticais envolvidas na sensação musical e (B) áreas do córtex auditivo em
relação a outras estruturas participantes da recepção cerebral perante o estímulo musical (Retirado de Douglas [2002,
p. 185] e modificado pelos autores).
64

O processamento musical se dá em um circuito (loop) das áreas auditivas para as


áreas mais frontais do cérebro. Esses loops funcionais permitem a integração de
informações auditivas com outras modalidades; também permitem interações entre o
sistema auditivo e o sistema motor, relacionados à ação e ao planejamento e
organização da ação, e aos sistemas de memória. Essas interações resultam na
capacidade de fazer previsões com base em eventos passados (Zatorre; Salimpoor,
2013).
Os loops entre os córtices temporal e frontal também desempenham um papel
particularmente importante na memória de trabalho – uma forma de memória a curto
prazo que se presta ao armazenamento e a manipulação temporária de informações.
Concatenar eventos auditivos requer um sistema de memória operacional que possa
armazenar informações para um processamento adicional. Seres humanos possuem uma
capacidade excelente de manter informações auditivas assim que são percebidas, o que
explica nossa capacidade de relacionar um som com outro que veio muitos segundos ou
minutos antes e até mesmo entender longas sentenças e construções sonoras maiores
(Zatorre; Salimpoor, 2013).
O processamento musical envolve mais do que um processamento de partes
separadas da música (elementos musicais e sonoros), apresenta também um componente
que se refere às expectativas geradas com base no conhecimento implícito de um
ouvinte, sobre regras musicais que foram adquiridas pela exposição anterior a uma
música da cultura (Douglas, 2002; Sloboda, 2008; Tomaino, 2014). Independente de
características individuais, a resposta sempre presente é emocional ou afetiva. O sistema
nervoso central outorga um valor global através do qual passa a experimentar prazer ou,
inversamente, sofrer desagrado e repulsa. Em termos gerais, o sistema nervoso entende
a música como indutora de respostas prazerosas ou provocadora de respostas de rejeição
– respostas estas, sempre afetivas (Lent2002; Douglas, 2002; Thaut, 2005c; Zatorre;
Salimpoor, 2013).
Em um experimento, Zatorre e Salimpoor (2013) descobriram que ao escutar
música de gosto pessoal, os ouvintes usufruiam experiências altamente prazerosas,
vivenciavam níveis crescentes de atividade do sistema nervoso simpático, na frequência
cardíaca, na taxa de respiração, na condutância da pele, na amplitude de pulso de
temperatura e no volume de sangue. Os resultados revelaram uma correlação positiva
robusta entre classificações de prazer e aumentos mensurados de maneira simultânea na
65

atividade do sistema nervoso simpático, apontando uma ligação entre índices objetivos
de excitação e sentimentos subjetivos de prazer.
Em um segundo momento, se voltaram para os mecanismos pelos quais as
emoções e a excitação podem se tornar gratificantes. Partiram da hipótese de que, se as
respostas emocionais à música são alvo da atividade dopaminérgica nos circuitos de
reforço do cérebro, deve haver um mecanismo através do qual essas respostas são
consideradas gratificantes. Demonstrou-se que o estriado ventral (striatum) e outras
regiões do cérebro associadas à emoção foram operacionalizadas em resposta às
músicas de preferência. Essa descoberta identificou, assim, que o sistema de
recompensa mesolímbico poderia ser recrutado por um estímulo estético abstrato.
Demonstrou-se, por fim, através da comparação entre a liberação de dopamina
em resposta a música agradável versus música neutra, que fortes emoções em resposta à
música levaram à liberação de dopamina no sistema mesolímbico estriado, que pode
ajudar a explicar por que a música é considerada recompensadora2, vinculando-a
diretamente a outros estímulos biologicamente recompensadores, como sexo, drogas e
comida (Zatorre; Salimpoor, 2013; Zatorre, 2019).
Assim, apoiados em Zatorre e Salimpoor (2013), Rocha e Boggio (2013) e
Zatorre (2019), dizemos que a percepção do som envolve uma série de estruturas
cerebrais, tais como córtex pré-frontal, córtex pré-motor, córtex motor, córtex
somatossensorial, lobos temporais, córtex parietal, córtex occipital, cerebelo, áreas do
sistema límbico, incluindo a amígdala, tálamo e estriado bem como a liberação de
dopamina. A seguir, discutiremos como se dá o processamento das drogas de abuso de
forma geral no cérebro humano a fim de apontar possibilidades de modelos mediadores.

3. Processamento neurológico das substâncias de abuso – o Sistema de


Recompensa

Os mecanismos envolvidos no processamento neurobiológico das drogas de


abuso têm sido alvo de diversos estudos, atualmente, levando a novos desenvolvimentos
em tratamentos para a dependência química (Almeida; Bressan; Lacerda, 2011). Ao
considerarmos que cada substância psicoativa possui uma ação específica no cérebro
2
Existem vários estudos que utilizam a música como elemento reforçador, incluindo uma abordagem
musicoterapêutica comportamentalista, como pode serem vistos em Barmann, Croyle-Barmann eMcLain
(1980), Hume e Crossman (1992) e Otsuka, Yanagi e Watanabe (2009).
66

humano, podemos dizer que, na dependência química, existe uma forte atuação dessas
drogas no sistema de recompensa ou via mesocorticolímbica. A estimulação constante
deste sistema conduz a uma sensação de bem‑estar e euforia, levando a um aumento do
desejo de repetir tais sensações; o que faz com que o sistema de recompensa
desempenhe um papel central no desenvolvimento da patologia (Garcia; Alkimin, 2013;
Senad, 2019).
O sistema límbico é composto por projeções dopaminérgicas que iniciam na
Área Tegmentar Ventral e chegam, principalmente, ao núcleo accumbens. A Área
Tegmentar Ventral é onde se localizam os corpos neuronais dopaminérgicos e é
responsável também pelas projeções desses neurônios para as demais estruturas do
sistema de recompensa. Já o núcleo accumbens é responsável pelo aprendizado e pela
motivação, bem como pela valorização de cada estímulo (Garcia; Alkimin, 2013; Senad,
2019).
Outras estruturas cerebrais também recebem projeções dopaminérgicas, como o
hipocampo, estrutura associada com a aprendizagem e memória; e a amígdala, estrutura
responsável pelo processamento do conteúdo emocional de estímulos ambientais. O
sistema mesolímbico está relacionado ao mecanismo de condicionamento ao uso da
substância, bem como à fissura, à memória e às emoções ligadas ao uso (Senad, 2019).
Amplamente associada à via mesolímbica e também compondo o sistema de
recompensa, o sistema mesocortical é responsável pela memória, motivação e resposta
emocional, também acionado pelo uso das drogas de abuso. Fazem parte deste sistema o
córtex pré-frontal, responsável pelas funções cognitivas superiores e pelo controle do
sequenciamento de ações; o giro do cíngulo, que tem conexões com diversas estruturas
do sistema límbico com as seguintes funções: atenção, memória, regulação da atividade
cognitiva e emocional; o córtex orbitofrontal, responsável pelo controle do impulso e da
tomada de decisão (Senad, 2019).
Almeida, Bressan e Lacerda (2011) indicam que todo o sistema dopaminérgico é
potencialmente envolvido nos mecanismos que desempenham papel central nas
síndromes de dependência química. Assim, os autores supracitados postulam que estes
circuitos são: 1) o sistema de recompensa cerebral, localizado no nucleus accumbens; 2)
a região envolvida com a motivação, localizada no córtex orbitofrontal; 3) o circuito
responsável pela memória e aprendizagem, localizado na amígdala e no hipocampo; e 4)
67

a região que se direciona ao controle e planejamento, localizados no córtex pré‑frontal e


no giro do cíngulo anterior.
Além do prazer gerado pela estimulação da via dopaminérgica a evitação dos
sintomas desagradáveis, como a disforia, a ansiedade e a irritabilidade, é um grande
propulsor para o uso compulsivo de drogas de abuso (Garcia; Alkimin, 2013). O córtex
pré-frontal, envolvido na via mesocorticolímbica, exposta acima, é responsável por
várias funções cognitivas, tais como atenção, memória, tomada de decisão e
autocontrole (Jaeger; Rigoni; Argimon, 2017). Em pessoas dependentes, todas estas
funções estão comprometidas e se relacionam à dificuldade em reconhecer e admitir que
possuam uma doença, bem como à dificuldade em controlar ou inibir um
comportamento (Almeida; Bressan; Lacerda, 2011; Garcia; Alkimin, 2013; Jaeger;
Rigoni; Argimon, 2017).

4. Modelo mediador entre música e dependência química

Como indicado na revisão acima, existem áreas comuns ao processamento


musical relacionadas às drogas de abuso. Viu-se que ambos os processamentos
envolvem os córtices de pré-frontal, pré-motor, motor, temporal, mesolímbico, bem
como a ativação dopaminérgica, dos sistemas de recompensa, da amígdala, do tálamo e
do estriado. Aponta-se, assim, que ambas as atividades envolvem a ativação de
memória, motricidade, planejamento, cognição, afetividade e prazer.
A partir de uma Revisão Integrativa Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021)
demonstraram que se podem concluir alguns pontos sobre a ação da Musicoterapia em
aspectos psicológicos de pacientes acometidos por uma dependência química,
sobretudo, quando estas intervenções são associadas às abordagens cognitivas,
comportamentais e neurológicas para o tratamento. No entanto, Pedrosa, Loureiro e
Garcia (2021) indicaram limitações por diversas questões metodológicas, por não
identificar diferenças sobre a eficácia das experiências musicoterapêuticas nos
desfechos duros do tratamento da dependência de drogas, mas sobre as variáveis que
estas experiências mobilizaram. Isto é de fundamental importância, à medida que se
observa que as intervenções musicais utilizadas nos tratamentos musicoterapêuticos
com esta população têm mais ação sobre aspectos secundários ao diagnóstico de
dependência química e não diretamente sobre esse transtorno. Isto é um aspecto
68

importante, pois, mesmo que a Musicoterapia não interfira diretamente na doença, ela é
capaz de melhorar o humor, a percepção de bem-estar e a qualidade de vida dos
pacientes em tratamento (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2021).
As principais experiências musicoterapêuticas utilizadas nos estudos revisados
foram: 1. A recriação, a partir de análise lírica, dos jogos rítmicos e da confecção de
“rockumentário3”; 2. A composição de canções, 3. A escuta musical e 4. As atividades
voltadas para a reabilitação cognitiva.
As experiências de recriação a partir da análise lírica conseguiram melhores
escores4 em relação ao esclarecimento de valores, aumento de sentimentos positivos,
reconhecimento de problemas, desejo de ajuda, prontidão para o tratamento e
motivação. Os participantes apresentaram diminuição significativa de estresse logo
após a atividade, funcionando como um bom regulador emocional e atuando,
principalmente, no humor e no enfrentamento (coping). Já as atividades de jogos
rítmicos proporcionaram diminuição de sintomas depressivos, ansiedade, raiva e
fissura. O rockumentário melhorou os escores sobre contemplação e ação, atributos da
prontidão para a mudança e diminuiu sintomas de fissura.
As experiências de composição aumentaram a autoestima (orgulho) e
conseguiram bons escores para diminuição da fissura. É interessante notar que o fluxo
(flow) do processo de composição se mostrou mais importante do que o significado da
letra e que as experiências composicionais não alteraram significativamente as variáveis
de culpa, vergonha, estigma e suporte social dos pacientes dependentes químicos.
As experiências de escuta musical ao vivo apresentaram mais eficácia do que as
experiências envolvendo músicas gravadas, porém, ambas indicaram bons escores sobre
redução de probabilidade de recaída, dessensibilização sistemática e a relação de música
considerada saudável pelo paciente sobre a possibilidade de uso em seu tratamento.
Nota-se que as pesquisas apontaram divergências sobre o que é considerada música
“saudável” ou “nociva”5. Entretanto, de maneira geral, as músicas saudáveis

3
Rockumentary, que traduzimos como rockumentário, é uma técnica criada por Silverman (2011 p.512) e
é definida como “análise lírica juntamente com uma história detalhada da banda e seu abuso de
substâncias”.
4
Como os estudos têm análises quantitativas de escalas de avaliação psicológica, o termo escore se refere
a qual construto psicológico as técnicas musicoterapêuticas conseguiram mobilizar.
5
Saarikalio, Gold e McFerran (2015) ao desenvolverem a escala de avaliação psicológica Healthy-
Unhealthy Music Scale (HUMS) associam a escuta da música a ações mais positivas, tais como coping e
regulação de humor ou mais negativos, tais como ruminação e alienação social. As escutas positivas
denominam-se saudáveis e as negativas, nocivas.
69

predisseram melhor o coping, a aceitação e a regulação de humor. Por outro lado, as


músicas consideradas nocivas predisseram a negação, o desabafo e a culpa. Músicas
saudáveis ou nocivas não predisseram sobre abuso de substância, suporte emocional,
desengajamento comportamental, planejamento ou elaboração positiva, o que indica que
tais características não são condições importantes para o trabalho com tais variáveis.
As atividades de reabilitação cognitiva que usam de todas as experiências
musicais são boas alternativas para o aprendizado de estratégias para lidar com
situações de gatilho situacionais. Abaixo segue uma síntese das técnicas
musicoterapêuticas, suas variações, possíveis objetivos terapêuticos e observações
importantes sobre estas técnicas.

Quadro 1 – Técnicas musicoterapêuticas associadas aos comportamentos não musicais.

Técnicas Comportamentos não musicais Observações


associados
Análise Lírica - Esclarecimento de valores; - não houve investigação sobre os efeitos em
- Aumento de sentimentos positivos; longo prazo destas ações.
- Reconhecimento de problemas;
- Desejo de ajuda;
- Prontidão para o tratamento;
- Motivação;
- Diminuição de estresse logo após a
atividade;
- Regulação emocionalmente;
- Enfrentamento (coping).
Jogos Rítmicos - Diminuição sintomas depressivos, de
ansiedade, raiva e fissura.
Rockumentary - Melhora de escores de contemplação e
ação,
- Prontidão para a mudança,
- Diminuição de sintomas de fissura.
Composição com - Aumento da autoestima; - fluxo do processo de composição é mais
estrutura pré- - Diminuição da fissura. importante do que o significado da letra nos
estabelecida estágio iniciais de tratamento;
- experiências composicionais não alteraram
significativamente variáveis de culpa,
vergonha, estigma e suporte social.
70

Escuta de música - Redução da probabilidade de recaída; - músicas consideradas saudáveis predisseram


executadas ao vivo - Dessensibilização sistematicamente; melhor coping, aceitação e regulação de
- Diminuição do estresse; humor;
- músicas consideradas nocivas predisseram a
negação, o desabafo e a culpa;
- Músicas “saudáveis” ou “nocivas” não
predisseram sobre abuso de substância,
suporte emocional, desengajamento
comportamental, planejamento ou elaboração
Escuta de músicas positiva.
gravadas - músicas executadas ao vivo são mais
eficientes para o tratamento.

Associação estímulo- - aprendizado de estratégias para lidar com Vincular estímulos sonoros específicos com
movimento. situações de gatilho situacionais; movimentos corporais específicos.
Reação a estímulos - prevenção de recaídas.
acústicos.
Mudança de atenção (1)
Mudança de atenção (2)
Repetição ordenada e
invertida.

Este quadro se refere às técnicas verificadas em estudos que mensuraram a sua


eficácia relacionada a comportamentos não musicais. Porém, indicamos que outras
técnicas também podem ser utilizadas, tais como as de reabilitação cognitiva, ou ainda
as Técnicas da Musicoterapia nas Desordens Mentais (Unkefer, 1990) e as 20 Técnicas
da Musicoterapia Neurológica (Thaut, 2008) – que apresentam fortes evidências de
aplicabilidade em outras populações –, bem como as técnicas descritas por Bruscia
(2002).
A seguir propomos um protocolo, específico para esta pesquisa, para o uso das
técnicas musicoterapêuticas elencadas acima, que, como foi verificado, mobilizaram
positivamente diferentes aspectos relacionados aos tratamentos específicos em
dependência química na terapia de grupo, tais como motivação, redução de estresse e
estratégias de enfrentamento.

5. Modelo de pesquisa clínica

Um dos modelos de terapia usado nos textos revisados por Pedrosa, Garcia e
Loureiro (2021) e amplamente utilizado nos tratamentos em dependência química se
71

chama Modelo Transteórico de Mudança (MTM) (Prochaska; DiClemente, 1982). Tal


modelo tem sido foco de diversas pesquisas nas últimas décadas, pois a comprovação
empírica de seus construtos é amplamente divulgada (Velasquez et al, 2001;
Szupszynski, 2012; Oliveira et al, 2017; Santos et al, 2018). O MTM propõe que a
mudança pode ser entendida como um processo em que a pessoa cria novos
comportamentos, modifica os existentes ou cessa comportamentos problemáticos
(DiClemente 2005). Reconhece que as pessoas são distintas e estão em fases diferentes
e que as intervenções apropriadas devem ser desenvolvidas de acordo com essas
diferenças (Szupszynski, 2012).
Tais fases são divididas em cinco Estágios de Mudança, que são

1. Pré-contemplação: a pessoa não percebe os benefícios da mudança e, portanto,


não está disposta a mudar. Mostra-se resistente e não colaborativa.
2. Contemplação: a pessoa percebe alguns benefícios da mudança, mas os custos
associados à mudança superam os benefícios. Os contempladores mostram
ambivalência.
3. Determinação (ou preparação): uma pessoa percebe mais benefícios na
mudança do que os custos associados à mudança, mas não mudou ativamente
nenhum comportamento. Nesse estágio, a pessoa planeja sua mudança.
4. Ação: uma pessoa está realmente se comportando de maneiras diferentes,
congruentes com a mudança. É o estágio no qual o cliente faz algumas
mudanças.
5. Manutenção: a pessoa trabalha a prevenção à recaída e a consolidação dos
ganhos obtidos durante a ação.

⮚ A recaída é considerada como um evento (e não um estágio) que marca o final


do estágio de ação ou manutenção, e deve ser encarada como um estado de
transição. É o modo como a pessoa aprende e recomeça de uma forma mais
consciente.

Abaixo se vê uma figura que informa a relação entre esses estágios:


72

Figura 2 – Estágios de Mudança. Figura retirada de Garcia (2014, p. 226).

Além dos Estágios de Mudança, fazem parte da construção teórica da MTM os


Mecanismos de Mudança, divididos entre as várias dependentes, Balança Decisional,
Autoeficácia e Tentação, e as variáveis independentes conhecidas como Processos de
Mudança. Aqui, enfocaremos os Processos de Mudança dado que podemos perceber as
interações entre os estágios a partir de quantos processos de mudança que cada pessoa
aciona – mecanismos que podem ser medidos através da Escala de Processos de
Mudanças, apresentada abaixo.
Os Processos de Mudança são os mecanismos que promovem o movimento
entre os Estágios de Mudança (Velasquez et al, 2001). Os primeiros cinco processos –
Ampliação de Consciência, Alívio Emocional, Reavaliação Circundante, Deliberação
Social e Autorreavaliação – envolvem uma reestruturação experiencial (cognitiva) e são
chamados de Processos Cognitivos. Já os demais processos estão relacionados a
comportamentos observáveis e específicos e são chamados de Processos
Comportamentais.
São eles:

(1) Ampliação da consciência: aumento da conscientização sobre as causas e as


consequências que envolvem um comportamento problema;
(2) Alívio Emocional: sensibilização emocional provada aos pacientes, fazendo com
que eles reflitam verdadeiramente sobre o comportamento-problema;
73

(3) Reavaliação Circundante: o reconhecimento de como um comportamento pode


gerar conflitos com valores pessoais ou objetivos de vida. Também envolve a
percepção sobre como o comportamento afeta seu convívio social;
(4) Deliberação Social: reconhecimento ou criação de alternativas sociais que
possam favorecer a mudança. Reavaliação dos ambientes que frequenta e a
escolha por ambientes mais saudáveis;
(5) Autorreavaliação: cognitiva e afetiva, perpassa a avaliação da autoimagem, o
resgate de valores, a obtenção de modelos mais saudáveis e o reconhecimento de
prejuízos que causa para si e para pessoas próximas a ele;
(6) Autodeliberação: combinação entre a crença de que é possível mudar e o
comprometimento para colocar essa crença em prática;
(7) Contracondicionamento: reaprendizagem de comportamentos saudáveis que
podem substituir os comportamentos-problema;
(8) Controle de estímulos: possui o intuito de remover estímulos que indiquem
hábitos pouco saudáveis, acrescentando alternativas mais saudáveis;
(9) Gerenciamento de reforço: a pessoa prevê as consequências das escolhas que
tem feito;
(10) Relações de Ajuda: objetivam combinar carinho, confiança, aceitação e suporte
para a mudança para hábitos saudáveis.

Escalas foram construídas para avaliar os constructos dessa teoria desde sua
origem. Entre elas estão a University of Rhode Island Change Assesment Scale
(URICA) que avalia os Estágios de Mudança; a Escala de Autoeficácia (Abstinence
Self-efficacy Scale); a Escala de Tentação para uso da droga (Temptation to Use Scale);
e a Escala de Prós e Contras que avalia a Balança Decisional (Decisional Balance
Scale); e a Escala de Processos de Mudança (Processes of Change Questionnaire) todas
traduzidas para o português brasileiro e validadas, exceção à Escala de Prós e Contras
(Oliveira et al, 2017).
No quadro abaixo, baseado em Szupszynski (2012), relacionamos os Processos
de Mudança acionados nas articulações dos Estágios de Mudança.
74

Quadro 2 – Interação entre os Estágios de Mudança e os Processos de Mudança.

A partir do exposto até aqui e seguindo os passos do Modelo Científico Racional


de Mediação (Rational Scientific Mediating Model – R-SMM), levando em
consideração os mecanismos de processamento cerebral da música, bem como das
drogas de abuso e seus danos ao organismo e a psique humana, propomos um rationale
para tratamento de Musicoterapia para Dependência Química baseado nos Estágios e
Processos de Mudança, pertencentes ao Modelo Transteórico de Mudança,
comprovadamente eficiente nos tratamentos em Dependência Química.
Como no estágio de Pré-Contemplação os pacientes ainda estão resistentes ao
tratamento, com reduzida percepção da necessidade da mudança. Indica-se que o
trabalho, a partir das técnicas de Jogos Rítmicos, Análise Lírica, Escuta Musical,
Composição Musical (focando no fluxo do processo) com objetivos de diminuir níveis
de estresse e fissura, aumenta a prontidão para o tratamento, a motivação e ajuda com a
regulação emocional.
No estágio de Contemplação, dado que os pacientes já percebem benefícios da
mudança de forma incipiente, ainda que mostrando indecisão. O trabalho indica, a partir
da Análise Lírica, “Rockumentário” e da Composição Musical (focando no fluxo do
processo) a possibilidade de auxiliar na autopercepção, ajudando no começo da
formulação de estratégias de ação e aumentando a autoestima. Técnicas de Reabilitação
75

Cognitiva podem também auxiliar no aprendizado de estratégias, para lidar com


situações de gatilho situacionais.
Já no estágio de Determinação (ou preparação) a pessoa percebe mais
benefícios na mudança do que os custos associados, não mudando ativamente nenhum
comportamento. Aqui, as Análises Líricas objetivando a motivação e indicando
estratégias de enfrentamento, bem como as Composições Musicais com vias de
autoestima e exercícios de Reabilitação Cognitiva voltados à prevenção de recaídas,
podem auxiliar em vivificar e materializar as estratégias de mudança ensejadas.
Quando a pessoa se comporta de maneiras novas e congruentes com a mudança
objetivada, identificamos o estágio de Ação. Aqui, principalmente as atividades de
Reabilitação Cognitiva poderão assessorar no comprometimento para se colocar as
crenças em prática, reaprender comportamentos saudáveis e buscar carinho, confiança,
aceitação e suporte para a mudança para hábitos saudáveis. “Rockumentário” também
se mostrou uma importante estratégia para esta etapa.
Por fim, já no estágio de Manutenção, indicam-se todas as experiências e
exercícios musicais propostos aqui, com objetivos de prevenção à recaída e promovendo
reforços aos comportamentos adquiridos, consolidando os ganhos obtidos durante a
ação e promovendo momentos de alívio emocional, bem como fortalecendo os aspectos
sociais conquistados.

6. Considerações Finais

No presente texto partimos da estrutura epistemológica do RSMM, a fim de


utilizar uma metodologia científica para construir um modelo clínico de intervenções
musicoterapêuticas. Para tanto, verificamos que existem estruturas cerebrais que
participam tanto do processamento das drogas de abuso, quanto do material sonoro-
musical, hipotetizando que o trabalho musicoterapêutico possa ser mais efetivo em
cuidados de dependência química, tal como anteriormente fizeram Daniel Campos
(2002) e Stamou et al (2016).
Retomando as técnicas musicoterapêuticas utilizadas pelas pesquisas revisadas
em Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021) verificaram quais são as técnicas que já
apresentaram resultados positivos em tratamentos em dependência química.
76

Posteriormente, relacionamos essas técnicas aos Estágios e Processos de Mudança,


construtos do Modelo Transteórico de Mudança.
O rationale aqui exposto pretende ser a sustentação de uma etapa futura da
mesma pesquisa. Produziremos uma escala de avaliação que informe se o processo
musicoterapêutico auxilia na evolução dos Estágios de Mudança, a partir da prática
clínica focada em técnicas que mobilizem os Processos de Mudança.

7. Referências

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79

5. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento de uma escala de avaliação dos efeitos da musicoterapia


em grupo na dependência química utilizamos os procedimentos metodológicos
indicados por Luiz Pasquali (2010) como marco teórico, a saber: 1) procedimentos
teóricos; 2) procedimentos empíricos (experimentais); e 3) procedimentos analíticos
(estatísticos).
Dentro do polo teórico focaliza-se a teoria que fundamenta o empreendimento
psicométrico, ou seja, a explicitação da teoria sobre “o objeto psicológico para o qual se
quer desenvolver um instrumento de medida, bem como a operacionalização do
construto em itens” (Pasquali, 2010, p.165). A fim de cumprir esta etapa, fizemos o
artigo 3 em que realizamos uma pesquisa metodológica e de desenvolvimento (Polit e
Beck, 2011) da construção da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em
Grupo na Dependência Química (MTDQ) bem como buscamos evidências de validade a
partir da análise de seu conteúdo. Além de apresentar as definições constitutivas e
operacionais do construto e a elaboração dos itens, conduzimos a análise de conteúdo a
partir da análise semântica e avaliação de juízes. A análise semântica verifica a
compreensão dos itens pelo próprio público alvo e a avaliação de juízes examina a
pertinência dos itens ao construto que representam (Pasquali, 2010).
A análise semântica foi realizada por meio de três atendimentos de MT em
grupo, em um Centro de Referência em Saúde mental – Álcool e Drogas (CERSAM
AD). Os usuários foram convidados verbalmente pelo pesquisador e aluno voluntário
nas dependências da instituição. Para a análise de juízes foram chamados peritos na área
a fim de avaliar se os itens se referem às dimensões do objeto psicológico em questão.
O grupo de juízes é composto 20 musicoterapeutas com experiência de trabalho em DQ
e/ou instrumentos de avaliação, os quais receberam, por e-mail, um link de Google
Forms com um questionário no qual foram inquiridos sobre a pertinência do
instrumento de avaliação, dos itens que o compõe, das dimensões que explicam estes
itens e o manual para aplicação da escala (Apêndice A). Os procedimentos relacionados
à análise de juízes foram baseados na metodologia articulada por André (2021).
Os procedimentos empíricos e analíticos estão expostos no artigo 4, em que
realizamos estudos de validade estrutural bem como investigamos a confiabilidade da
MTDQ. Usuários do referido CERSAM AD participaram de atendimentos
80

musicoterapêuticos, conduzidos por alunos estagiários da Habilitação em Musicoterapia


do Bacharelado em Música da UFMG, a partir da abordagem discutida no artigo 2 e
responderam a MTDQ, ao final do atendimento. As sessões aconteceram entre os meses
de maio e novembro de 2022. Estes alunos receberam treinamento e supervisão do autor
da tese durante todo o processo de aplicação das sessões de musicoterapia e da MTDQ.
Para avaliação da estrutura interna e da confiabilidade da MTDQ utilizamos a
análise fatorial confirmatória, descrita no item 5.5.

5.1. Amostra

Os participantes desta pesquisa constituíram dois grupos:


a) Musicoterapeutas, de ambos os sexos. que formaram o grupo de Juízes da Escala
de Avaliação; e
b) Duzentas e vinte e sete pessoas de ambos os sexos (com identificação de
qualquer gênero), maiores de idade, frequentadores dos grupos de musicoterapia
ofertados em atendimentos do Centro de Referência em Saúde mental Noroeste, da
Rede de Saúde mental de Belo Horizonte/MG. Tais sujeitos foram convidados
verbalmente e formalmente para as atividades de pesquisa e puderam decidir se
participariam ou não, desde o primeiro momento – relativo ao convite – até a resposta
dos questionários.
Dada a qualidade do público alvo a amostra se deu por conveniência no segundo
grupo. Todos os participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (TCLE) (Apêndice C). A pesquisa envolveu riscos mínimos aos
participantes, como, por exemplo, desconforto ao participar de sessões de musicoterapia
e/ou responderem às questões sensíveis. Os participantes puderam se desligar ao menor
desejo de interrupção.

5.2. Coleta de dados

Os dados foram coletados em dois procedimentos: 1) envio de formulário virtual


com questões para os juízes sobre a Escala de Avaliação e o manual que a acompanha,
e; 2) participação dos usuários do CERSAM AD ao discutirem os itens da MTDQ e/ou
a preencherem.
81

5.3. Instrumento

A Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência


Química (MTDQ) foi desenvolvida, inicialmente como um instrumento de autorrelato,
composto por 20 itens, cujas respostas são dadas numa escala tipo Likert de cinco
pontos, que variam entre: “nunca” (um ponto), “raramente” (dois pontos), “às vezes”
(três pontos), “frequentemente” (quatro pontos) e “sempre” (cinco pontos). Os itens
tratam dos efeitos percebidos por pacientes adultos com dependência química
participantes de atendimentos de musicoterapia em seus processos de mudança, e são
agrupados, teoricamente, nos domínios Processos Cognitivos (10 itens) e Processos
Comportamentais (10 itens).

5.4. Critérios de inclusão e exclusão

O grupo “a” foi formado por musicoterapeutas graduados, especialistas e


mestres com experiência em atendimentos à pessoas com DQ, bem como
musicoterapeutas doutores com conhecimento de aplicação de instrumentos de
avaliação, mesmo que sem experiência na área de DQ. Essa estratégia foi adotada, dado
que são raras as intersecções de musicoterapeutas com experiência em trabalhos em DQ
e com a aplicação de instrumentos de avaliação. Foram excluídas pessoas que não eram
graduadas ou pós-graduadas em musicoterapia e que não desejassem participar.
O grupo “b” se constituiu de usuários e as usuárias do serviço do CERSAM AD
Noroeste, em Belo Horizonte, maiores de 18 anos, que almejassem participar dos
grupos de musicoterapia, preencher a MTDQ e que consintissem com o TCLE
(Apêndice C). Não fizeram parte deste grupo pessoas menores de 18 anos, que não
frequentassem o referido CERSAM e que não desejam preencher a MTDQ ou o TCLE.

5.5. Análise e interpretação dos dados

Os dados referentes às respostas dadas pelos usuários do CERSAM AD à


MTDQ foram analisados a fim de buscar evidências de sua validade da estrutura interna
e de sua confiabilidade. Para estas análises utilizamos o R v. 4.2.0 (R Core Team,
2022). Inicialmente fizemos o teste de Mardia (Mardia, 1970) para avaliar a
82

normalidade multivariada dos itens da escala por meio do pacote MVN v. 5.9 (Korkmaz
et al, 2014). Essa análise tem a finalidade de embasar a seleção do estimador adequado.
Como o dado não apresentou normalidade, o método de estimação utilizado foi o
Robust Weighted Least Square (WLSMV) (Li, 2016).
A análise fatorial confirmatória dos itens foi utilizada para testar a estrutura
fatorial da MTDQ, utilizando o pacote lavaan v. 0.6.12 (Rosseel et al, 2022), e a
confiabilidade foi examinada com o pacote semTools v. 0.5.6 (Jorgensen et al, 2021).
Foram testados os modelos: unidimensional, com dois fatores correlacionados, e o
bifatorial. A qualidade do ajuste dos modelos foi avaliada por meio do índice de ajuste
comparativo (comparative fit index, CFI) e do erro médio quadrado de aproximação
(root mean square error of approximation, RMSEA). Os modelos seriam rejeitados
caso apresentassem CFI < 0,90 ou RMSEA > 0,10 (Thakkar, 2020).
O teste de diferença do χ2 escalonado de Satorra (2000) foi utilizado para
comparar os modelos, caso eles não sejam rejeitados.
83

6. RESULTADOS

Nos dois próximos artigos, exporemos o desenvolvimento da MTDQ. No artigo


3, além da construção da escala, buscaremos evidências de validade a partir do conteúdo
da escala. Já no artigo 4, buscaremos evidências de validade a partir do estudo da
estrutura interna da MTDQ, bem como de sua confiabilidade.

6.1. Artigo 3: Desenvolvimento da Escala de Avaliação dos Efeitos da


Musicoterapia em Grupo na Dependência Química: Análise teórica e semântica
(MTDQ)
Estudo enviado para a revista Percepta (Qualis A3)

Frederico Gonçalves Pedrosa


Frederico Duarte Garcia
Cybelle Maria Veiga Loureiro

Resumo

Este texto trata de uma pesquisa metodológica e de desenvolvimento da Escala de Avaliação


dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ). Para tanto,
utilizamos os procedimentos teóricos para construção de Instrumentos de Avaliação Psicológica
elencados por Luiz Pasquali, chamados Análise Semântica e Análise de Juízes. Encontramos
que MTDQ foi avaliada como pertinente e adequada à população a que se destina, que os itens
se conectam teoricamente aos domínios respectivos e que todos os domínios são pertinentes
para a avaliação de MT em DQ. Indicamos, por fim, que mais estudos serão feitos para verificar
a validade estrutural bem como a confiabilidade do teste construído.

Palavras-chave: Musicoterapia. Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias. Psicometria.

Abstract
This text discusses a methodological and developmental research on the Assessment Scale of
the Effects of Group Music Therapy on Chemical Dependence (MTDQ). To do so, we used the
theoretical procedures for the construction of Psychological Assessment Instruments outlined by
Luiz Pasquali, namely Semantic Analysis and Judges Analysis. We found that the MTDQ was
evaluated as relevant and appropriate to the population for which it is intended, that the items
are theoretically connected to their respective domains, and that all domains are pertinent for the
evaluation of MT in CD. Finally, we indicate that further studies will be conducted to verify the
structural validity as well as the reliability of the constructed test.

Keywords: Music Therapy. Chemical Dependency. Psychological Assessment Instrument.

1. Introdução

O Relatório Mundial sobre Drogas de 2022, elaborado pelo Escritório das


Nações Unidas sobre Drogas e Crime (United Nation Office on Drugs and Crime –
84

UNODC) informou aumento da aceleração do uso diário de cannabis e seus impactos


relacionados à saúde na última década, em todo o mundo. Além disso, o relatório
também detalha aumentos recordes na fabricação de cocaína, a expansão de drogas
sintéticas para novos mercados e lacunas contínuas na disponibilidade de tratamentos
para pessoas dependentes de drogas, especialmente para mulheres (UNODC, 2022).
Ghada Waly, diretora executiva do UNODC, indica que é preciso lançar esforços para
abordar todos os aspectos do problema mundial das drogas, incluindo o fornecimento de
cuidados baseados em evidências e melhores entendimentos sobre como as drogas
ilícitas se relacionam com outros desafios urgentes, como conflitos e degradação
ambiental (Hansford, 2022).
A musicoterapia (MT) pode ser definida como “o uso clínico e baseado em
evidências de intervenções musicais para atingir objetivos individualizados, dentro de
um relacionamento terapêutico, por um profissional credenciado, que concluiu um
programa de musicoterapia aprovado” (AMTA, 2005, s/p, tradução nossa). Embora a
avaliação tenha sido parte integrante da prática da MT desde o início dos anos 1960
(Gaston, 1968; Jellison, 1973), o impulso para usar medidas padronizadas na pesquisa e
prática da musicoterapia aumentou nos últimos anos (Bunt; Hoskyns, 1987; Wheeler,
2015). Isso foi incentivado por várias mudanças no campo, incluindo o
desenvolvimento de práticas baseadas em evidências e a expectativa de que o uso de
instrumentos de medidas possam contribuir para o entendimento sobre os efeitos e a
eficácia das intervenções musicoterapêuticas (Cripps; Tsiris; Spiro, 2016).
Segundo o Standards for Educational and Psychological Testing, produzido pela
American Educational Research Association (AERA)¸ American Psychological
Association (APA) e National Council on Measurement in Education (NCME) um

teste é um dispositivo ou procedimento no qual uma amostra do


comportamento de um examinado, em um domínio específico, é obtida e
subsequentemente avaliada e pontuada usando um processo padronizado.
Enquanto o termo teste às vezes é reservado para instrumentos nos quais as
respostas são avaliadas quanto à sua correção ou qualidade, e os termos
escala e inventário são usados para medidas de atitudes, interesses e
disposições, o Standards usa teste como termo único para se referir a todos
esses dispositivos avaliativos (AERA, APA, NCME, 2014, p.2, tradução
nossa).

Entende-se, assim, que uma variedade de instrumentos de medida, vinculados a


diferentes metodologias de aplicação podem ser chamadas de teste. Em MT, os testes
85

têm sido nominados instrumentos de avaliação (Wilson, 2005; Cripps; Tsiris; Spiro,
2016; Zmitrowicz; Moura, 2018; Gattino, 2021). Zmitrowicz e Moura (2018) comentam
que instrumentos bem construídos e com evidências de validade, permitem uma
avaliação com base científica em meio à subjetividade da música e das emoções.
Validade diz respeito ao grau em que as interpretações propostas para os escores de um
teste encontram respaldo em evidências científicas sólidas. A validade de um teste é um
parâmetro contínuo que depende da quantidade e da qualidade das evidências que a
suportam. Os referidos Standards (AERA, APA, NCME, 2014) enumeram que as
evidências de validade podem se basear: 1) no conteúdo do teste; 2) em processos de
resposta, 3) na estrutura interna; e 4) em relações com outras variáveis. A evidência
baseadas conteúdo no conteúdo do teste dizem respeito aos temas, redação e formato
dos itens, tarefas ou perguntas que compõe um teste; podem incluir análises lógicas ou
empíricas da adequação com que o conteúdo do teste representa o domínio do conteúdo
e da relevância do domínio do conteúdo para a interpretação proposta das pontuações do
teste; e pode vir de julgamentos de especialistas sobre a relação entre as partes do teste e
o construto (AERA, APA, NCME, 2014).
Cripps, Tsiris e Spiro (2016) realizaram um levantamento dos instrumentos de
medida feitos por musicoterapeutas disponíveis na literatura e informam que metade
destes não passou por estudos de validade e confiabilidade. Apontam, ainda,
inexistência de um instrumento de medida que avalie especificamente resultados do
tratamento musicoterapêutico na DQ. Tal déficit na literatura musicoterapêutica também
foi percebido na revisão sistemática de Ghetti et al (2022) e na revisão integrativa de
Pedrosa, Garcia e Loureiro (2022a).
Desta forma, esta pesquisa objetivou desenvolver uma Escala de Avaliação dos
Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química e realizar estudo de sua
validade baseada no conteúdo, a partir da avaliação de juízes e da análise semântica
(AERA, APA, NCME, 2014; Pasquali, 2010). Abaixo apresentaremos os procedimentos
metodológicos que envolveram o desenvolvimento da escala e as análises supracitadas.

2. Metodologia

Este estudo obedece ao modelo de pesquisa metodológico e de desenvolvimento


da construção de um instrumento de avaliação do trabalho musicoterapêutico na área da
86

DQ. Polit e Beck (2011) conceituam a pesquisa metodológica como aquela que
investiga, organiza e analisa dados para construir, validar e avaliar instrumentos e
técnicas de pesquisa, centrada no desenvolvimento de ferramentas específicas de coleta
de dados com vistas a melhorar a confiabilidade e a validade desses instrumentos.
Para tal intento a pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil onde foi avaliada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG, CAAE 30939720.1.0000.5149 e da
Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, CAAE 30939720.1.3001.5140. Além
disto, esta pesquisa recebeu auxílio do Programa Institucional de Auxílio à Pesquisa de
Docentes Recém-Contratados pela UFMG - Edital PRPq 07/2020.
Borsa e Seize (2017), comentam não haver consenso na literatura sobre as etapas
da construção de instrumentos de medida. Assim, para a construção deste teste,
seguimos o referencial teórico de Pasquali (2010), para o qual o processo é dividido em
três momentos: 1) teórico; 2) empírico; e 3) analítico. Para os fins deste trabalho usamos
apenas os procedimentos teóricos, apresentados no seguinte quadro.

Quadro 3: Procedimentos teóricos para construção de Instrumentos de Avaliação Psicológica (Pasquali, 2010, p.
167).

No eixo teórico se concentram as etapas de conceituação do construto,


elaboração dos itens e análise dos itens (Pasquali, 2010; Borsa; Seize, 2017). Indicamos,
assim, que o Objeto Psicológico é o processos de mudança mediado pela MT; o
Atributo é a percepção do paciente sobre os efeitos da MT em sua mudança pessoal
geral; a Dimensionalidade dos Processos de Mudança: 1) Processos Cognitivos e 2)
Processos Comportamentais. As definições e operacionalizações serão explanadas no
subitem 3.1 e as Análises dos Itens nos subitens 3.2 e 3.3.
Pasquali (2010) comenta que, operacionalizado o construto por intermédio dos
itens, faz-se necessário avaliar a opinião de outros, a fim de se assegurar que estes
87

apresentam garantias de validade. Tal análise é divida entre análise semântica e análise
por juízes. A análise semântica verifica a compreensão dos itens pelo próprio público.
É importante, neste ponto, observar se os itens são compreensíveis para toda a
população (Pasquali, 2010). Nesta etapa realizamos três grupos abertos de MT, em um
Centro de Referência em Saúde Mental – Álcool e Drogas (CERSAM AD). Nestes
aparelhos públicos da Rede de Saúde Mental da capital mineira, propusemos
atendimentos musicoterapêuticos em grupo, conduzidos pelo primeiro autor e um
estudante de MT da UFMG. Os usuários foram convidados verbalmente pelo
pesquisador e aluno voluntário nas dependências da instituição. A estrutura da sessão
foi: 1) recepção dos usuários e de suas musicalidades; 2) discussão sobre os itens da
escala: de 1 a 6 na primeira sessão, de 7 a 12 na segunda sessão e de 13 a 20 na terceira;
3) finalização do atendimento a partir uma canção importante para o grupo. Todos os
participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
exposto no Apêndice C.
A análise de juízes examina a pertinência dos itens ao construto que
representame. Compõem o grupo de juízes peritos na área, já que sua tarefa consiste em
avaliar se os itens estão se referindo ou não às dimensões do objeto psicológico em
questão (Pasquali, 2010). Neste trabalho o grupo de juízes é composto 20
musicoterapeutas com experiência de trabalho em DQ e/ou instrumentos de avaliação,
os quais receberam o questionário enviado, por e-mail, contendo um link de Google
Forms com um questionário, exposto a seguir, no qual foram inquiridos sobre a
pertinência do instrumento de avaliação, dos itens que o compõe, das dimensões que
explicam estes itens e o manual para aplicação da escala (Apêndice A). Os
procedimentos relacionados à análise de juízes foram baseados na metodologia
articulada por André (2021).
Para a análise estatística bem como a confecção dos gráficos usamos o R v. 4.2.0
(Core Team, 2022a) a partir do seus pacotes stats v. 4.3.0 (Core Team, 2022b), graphics
v. 4.2.0 (Core Team, 2022c) e psych v. 2.1.6 (Revelle, 2020). Os resultados da
construção do teste de avaliação e das análises serão apresentados a seguir.

3. Resultados
88

3.1. Desenvolvimento da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em


Grupo na Dependência Química (MTDQ)

Para operacionalizar o construto em itens utilizamos o Rational-Scientific


Mediating Model (R-SMM) (Thaut, 2000) como referencial. O R-SMM se propõe a
mostrar caminhos epistemológicos para gerar conhecimentos, partindo do estudo de
mecanismos envolvidos no processamento neurológico da música que produzem
mudanças terapêuticos (Thaut, 2005b; 2014). Os passos para uso desta abordagem são
1) perquirir modelos de respostas musicais a partir de suas bases neurológicas,
fisiológicas e psicológicas; 2) pesquisar modelos de respostas paralelas não-musicais,
sobreposições e processos compartilhados entre funções cerebrais e comportamentos
musicais e não musicais; 3) investigar onde processos compartilhados e sobrepostos são
encontrados e se a música pode influenciar nas funções cerebrais e comportamentais
paralelas não-musicais; e 4) buscar onde se encontram os modelos de mediação, ou seja,
se a música pode promover mudanças em terapia e reabilitação.
Em Pedrosa, Garcia e Loureiro (2022b) investigamos as bases neurológicas,
fisiológicas e psicológicas envolvidas nos comportamentos musicais e de dependência
química em relação aos aspectos cognitivos e comportamentais. Relacionamos tais
bases, apontando sobreposições e processos compartilhados que geram mudanças
levando em consideração estudos levantados em revisão integrativa anterior (Pedrosa;
Garcia; Loureiro, 2022b), tais como

1) técnicas composicionais alcançaram escores estatisticamente significativos


relativos ao aumento de orgulho e de autoestima (Silverman, 2019b) e à
diminuição de sintomas de fissura (Silverman, 2017). Viu-se, também, que a
fluidez é preditora significativo para o processo de composição – em
detrimento do significado do produto composicional (Silverman; Baker;
MacDonald, 2016);
2) técnicas de escuta musical, por meio de: a) música new age: diminuíram
significativamente sintomas depressivos e de abstinência (Stamou et al,
2016) e; b) de músicas selecionadas pelos próprios pacientes como
relacionadas ao uso de drogas aumentaram significativamente a fissura,
enquanto músicas relacionadas com abstinência diminuíram
89

significativamente a fissura (Short; Dingle, 2016). Em contrassenso,


Silverman (2019a) indicou que, apesar de pessoas com dependência química
comunicarem que a música pode funcionar como um "gatilho" para o uso de
substâncias, nenhuma variável baseada em música previu significativamente
o abuso de substâncias, planejamento ou a reafirmação positiva; no entanto,
percebeu que o usos saudáveis da música melhoram, significativamente, o
coping e o humor, enquanto o uso nocivo da música previu,
significativamente, negação, desengajamento comportamental e a autoculpa;
3) técnicas recriativas reduziram significativamente o stress após 60 minutos
da sessão, mas sem relevância estatística após 120 minutos (Taets et al,
2019); são mais indicadas para as fases iniciais do tratamento (Silverman,
2011); e podem ser tão eficazes como terapia verbal em relação à prontidão
para o tratamento e aliança de trabalho (Silverman, 2009)

Estes achados foram relacionados com o Modelo Trasnteórico de Mudança


(MTM) (Prochaska; Diclemente, 1982; Prochaska et al, 1988) que reconhece que as
pessoas utilizam de diferentes estratégias para mudar comportamentos, podendo estar
em fases diferentes e que as intervenções apropriadas devem ser desenvolvidas de
acordo com essas diferenças (Szupszynski, 2012). Essas fases são chamadas de Estágios
de Mudança, e os motores que fazem com que as pessoas mudem entre as fases são
chamados Processos de Mudança (Prochaska, 2014).
Os Processos de Mudança indicam meios emocionais, comportamentais e
cognitivos de mudança comportamental que variam de pessoa para pessoa (Szupizinsky,
2012). A Ampliação de Consciência, o Alívio Emocional, a Autorreavaliação, a
Reavaliação Circundante e a Deliberação Social compõem os Processos Cognitivos
(Experienciais), pois suas utilizações indicam que as pessoas reestruturam sua
experiência cognitivamente (Prochaska et al, 1988). Além disso, Prochaska e colegas
esclarecem que alguém pode empregar vários ou todos os cinco Processos Experienciais
de Mudança simultaneamente para mudar um comportamento alvo (Prochaska;
DiClemente, 1982; Prochaska et al, 1988).
Os outros cinco Processos de Mudança são de natureza comportamental:
Autoliberação, Contracondicionamento, Controle de Estímulos, Gerenciamento de
Reforço e Relações de Ajuda. Esses Processos de Mudança foram rotulados de
90

Comportamentais, porque são ações para mudar, sobretudo, comportamentos claros,


enquanto os Processos de Mudança Experienciais referem-se a processos de pensamento
(Prochaska et al, 1988).
Existe um teste para avaliar os processos de mudança chamado Processes of
Change Questionnaire-PCQ (Prochaska et al, 1988) que, em sua versão traduzida para
português brasileiro, é denominada Escala de Processos de Mudança (EPM;
Szupszynski, 2012). Composta de 20 itens que são explicados por 10 fatores de primeira
ordem (cada um dos 10 processos de mudança) e 2 fatores de segunda ordem (processos
cognitivos e processos comportamentais).
Tal instrumento tem por finalidade verificar quais são os Processos de Mudança
que os indivíduos articularam na última semana. Para tanto, respondem os itens em uma
escala Likert de 1 a 5, em que 1 indica nunca; 3 representa ocasionalmente e 5
repetidamente. Por meio deste preenchimento, os indivíduos informam se estão
acionando mais processos experienciais (relativos à pré-contemplação e contemplação)
ou processos comportamentais (relacionados à ação e manutenção).
Hair et al (2009, p.594) indica que “um construto deve ser refletido por um
mínimo de três itens”, o que aponta uma fraqueza na construção da EPM em relação aos
fatores de primeira ordem. Além disso, a confiabilidade, indicada pelo Alpha de
Cronbach, da escala geral e do fator Processos Comportamentais foram satisfatórios (α
= 0,775 e 0,721, respectivamente), porém do fator processos cognitivos foi insatisfatório
(α = 0,535)6 (Szupizinksy, 2012). A MTDQ a partir de um novo corpus de itens,
baseados na PCQ, operacionaliza comportamentos musicais que produzem mudanças
terapêuticas discutidos a partir do R-SMM.
Assim, a MTDQ é um instrumento de medida de autorrelato, composto por 20
itens que avaliam o efeitos da musicoterapia percebidos por pacientes adultos com
dependência química (DQ) em seus processos de mudança. Estes efeitos são agrupados,
teoricamente, em dois domínios: processos experienciais (ou cognitivos); e processos
comportamentais – construtos provenientes do Modelo Transteórico de Mudança
(MTM) (Prochaska; DiClemente, 1988; Prochaska, 2014). Teoricamente entendemos
que os itens se agrupam em dois fatores, formados por: a) processos cognitivos, que
versam sobre uma reestruturação experiencial dos pacientes a partir da MT; e b) processos

6
É comum considerar como aceitáveis valores do ponto de corte dos coeficientes de confiabilidade entre
0,6 e 0,7 (Bagozzi; Yi,1988; Hair et al, 2009; Valentini; Damásio, 2016)
91

comportamentais, que tratam de ações concretas, observáveis e específicas. Em estudo


posterior investigaremos a estrutura interna deste instrumento, a partir de análise fatorial
confirmatória, para verificar se, de fato, os dados são melhor explicados por um modelo
com um fator (efeitos da musicoterapia percebidos por pacientes adultos com
dependência química (DQ) em seus processos de mudança); dois fatores
correlacionados (processos cognitivos e processos comportamentais) ou ainda em dois
fatores e mais um geral, todos ortogonalizados entre si (bifatorial).
A sua aplicação se dará após atendimentos de musicoterapia nos quais serão
usadas técnicas de escuta, recriação e composição musical – técnicas que apresentam
evidências de eficácia para este trabalho (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2022a). Os
usuários responderão itens relacionados aos atendimentos e a autopercepção dos efeitos
da musicoterapia para seus processos de mudança. Cada item será respondido em escala
Likert de 1 a 5, onde 1 = nunca; 3 = ocasionalmente; 5 = repetidamente.
Utilizamos o modelo R-SMM para formular declarações a respeito da percepção
dos efeitos das técnicas musicoterapêuticas nos processos de mudança dos usuários,
envolvendo o processo musicoterapêutico (p.e. item 15), práticas relacionadas à
inserção da música na vida diária (p.e. item 1) e os efeitos de músicas que versam sobre
drogas e seu consumo serem gatilhos (p.e. item 12).
Os itens que compõe a MTDQ, em sua versão piloto, estão expostos no
questionário que segue.

Quadro 1: Versão piloto da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia de Grupo na Dependência Química.
1) Eu uso música para me recompensar quando eu não cedo ao meu desejo de usar drogas.
2) O grupo de musicoterapia me ajuda a me expressar sobre os meus problemas com drogas.
3) O grupo de musicoterapia me faz pensar sobre as possíveis doenças causadas pelo consumo de drogas.
4) O grupo de musicoterapia me faz perceber que as pessoas à minha volta seriam melhores comigo se eu
não tivesse problemas com drogas.
5) Li notícias de que a música pode me ajudar a parar de usar drogas.
6) A música me ajuda a pensar em outras coisas quando eu começo a pensar em usar drogas.
7) Acho que a sociedade está criando alternativas terapêuticas que facilitam a superação do meu problema
com drogas, como a musicoterapia.
8) O grupo de musicoterapia me faz perceber como eu fico decepcionado comigo mesmo quando dependo
de drogas.
9) Eu procuro no grupo de musicoterapia informações relacionadas ao meu problema com as drogas.
10) As músicas e a musicoterapia são lembretes de ajuda sobre o meu problema com drogas.
11) Encontro no grupo de musicoterapia pessoas com as quais eu posso contar para me ajudar quando eu
estou tendo problemas com drogas.
12) Músicas sobre drogas e seus efeitos me incomodam.
13) Nas minhas composições musicais eu falo para mim mesmo que se eu tentar com empenho, posso
92

deixar de usar drogas.


14) O grupo de musicoterapia me ajuda a pensar em como o meu uso de drogas está magoando as pessoas
à minha volta.
15) O grupo de musicoterapia me faz sentir mais competente na decisão de não usar drogas.
16) O grupo de musicoterapia me ajuda a me distanciar dos locais que geralmente estão associados ao
meu uso das drogas.
17) Eu acho que escutar ou fazer música é um bom substituto para o uso de drogas.
18) Eu participo do grupo de musicoterapia e me sinto recompensado por não usar drogas.
19) O grupo de musicoterapia me ajuda a me comprometer comigo mesmo a não usar drogas.
20) Discutimos no grupo de musicoterapia como a sociedade tenta ajudar as pessoas a não usar drogas.

Utilizamos a versão piloto composta pelos itens acima para a análise semântica e
de juízes. Enviamos a escala juntamente com um manual (Apêndice A) para os juízes e,
além disso, realizamos a análise semântica em grupos com usuários do referido
CERSAM AD. Apresentaremos, a seguir, os resultados das análises da versão piloto do
instrumento de avaliação.

3.2. Análise Semântica

No modelo de atendimento em grupos terapêuticos no CERSAM AD


pesquisado, os usuários do serviço tem a possibilidade entrar e sair quando desejarem
(Moriá, 2021). Desta forma, é complexo precisar quantos usuários participaram ao todo
dos grupos, a não ser por uma estimativa dos respondentes do Termo de Consentimento
Livre Esclarecido, os quais somam vinte e dois participantes, cinco na primeira sessão,
nove na segunda, e dez na terceira. Além dos usuários, contamos com valiosas
participações de uma Técnica de Enfermagem no primeiro grupo, dois técnicos no
segundo e uma no terceiro.

3.2.1. Primeira sessão


Na primeira sessão, executada dia 05/03/2022, percebemos que as perguntas da
escala funcionaram como disparadoras de questões pessoais e que os usuários logo as
traziam para a fala. Isto nos informou que os usuários conseguiam entender os itens.
Porém, informou também que o cabeçalho deveria apresentar informações com
entendimento mais intuitivo como, por exemplo, marcar X ao invés de círculos na
escala Likert.
Por fim, algo que chamou a atenção neste atendimento foi que um usuário levou
uma composição sua, a qual executamos como finalização do atendimento; fato
93

interessante, considerando que a abordagem que indicamos em Pedrosa, Garcia e


Loureiro (2022b) aponta as técnicas composicionais como adequadas aos tratamentos de
MT em DQ.

3.2.. Segunda sessão


A segunda sessão aconteceu no dia 12/03/2022, com a participação de oito
usuários e dois técnicos. A participação de um desses técnicos foi importante já que o
mesmo deu uma relevante contribuição, indicando a possibilidade de se colocar ponto
de interrogação nos itens, a fim de que o respondente entendesse que precisava marcar
alguma das respostas.
Também perguntaram quando seria preenchida aquela escala O primeiro autor
respondeu que seria feita sempre após os grupos musicoterapêuticos. Um interessante
comentário nessa ocasião, veio de um usuário, que disse que “fazer música e droga não
funciona”.

3.2.3. Terceira sessão


No dia 19/03/2022 aconteceu a última sessão em que participaram 10 usuários e
foram levantadas questões mais pontuais sobre os itens. A questão de número 17 foi
apontada como difícil de entender dada a palavra “substituto”, mas ao ler em conjunto
os usuários a compreenderam bem. A questão de número 18 também foi indicada como
complexa dada a palavra “recompensado”, que lida em voz alta pelo grupo, foi
compreendida. Por fim, na questão 18 foi sugerida alteração de “me comprometer
comigo mesmo” para “fazer um compromisso comigo mesmo”.

3.3. Análise dos juízes

O grupo de juízes foi composto por 20 musicoterapeutas graduados, especialistas


e mestres com experiência em atendimentos em DQ bem como musicoterapeutas
doutores com conhecimento de aplicação de instrumentos de avaliação. Essa estratégia
foi adotada dado que são raras as intersecções de musicoterapeutas com experiência em
trabalhos em DQ e com a aplicação de testes.
Ao todo 10 dos juízes responderam o questionário. Os juízes se dividiram em 8
mulheres e 2 homens, dentre os quais 5 são doutores, 3 graduados, 1 especialista e 1
94

mestre. 3 residem em Belo Horizonte/MG, 3 em Curitiba/PR, 1 em Goiânia/GO, 1 em


São José dos Pinhais/PR, 1 em São Pedro da Aldeia/RJ e 1 em São Paulo/SP.
Interessante notar que, 40% dos juízes são professores universitários.
Além de um cabeçalho perguntando nome, profissão, sexo, cidade que mora
atualmente e maior titulação, perguntamos:

1 - Levando em consideração sua experiência profissional no contexto brasileiro, como


você avalia de modo geral os itens da “Escala de Avaliação para Musicoterapia em
Grupo na Dependência Química”?
2 - Como você avalia o domínio Ampliação da Consciência?
2.1 - O item "Li notícias de que a música pode me ajudar a parar de usar drogas" é
pertinente ao domínio Ampliação da Consciência?
2.2 - O item "Eu procuro no grupo de musicoterapia informações relacionadas ao meu
problema com as drogas" é pertinente ao domínio Ampliação da Consciência?
3 - Como você avalia o domínio Alívio Emocional?
3.1 - O item "O grupo de musicoterapia me faz pensar sobre as possíveis doenças
causadas pelo consumo de drogas." é pertinente ao domínio Alívio Emocional?
3.2 - O item "Músicas sobre drogas e seus efeitos me incomodam" é pertinente ao
domínio Alívio Emocional?
4 - Como você avalia o domínio Reavaliação Circundante?
4.1 - O item "O grupo de musicoterapia me faz perceber que as pessoas à minha volta
seriam melhores comigo se eu não tivesse problemas com drogas" é pertinente ao
domínio Reavaliação Circundante?
4.2 - O item "O grupo de musicoterapia me ajuda a pensar em como o meu uso de
drogas está magoando as pessoas à minha volta" é pertinente ao domínio Reavaliação
Circundante?
5 - Como você avalia o domínio Deliberação Social?
5.1 - O item "Acho que a sociedade está criando alternativas terapêuticas que facilitam a
superação do meu problema com drogas, como a musicoterapia" é pertinente ao
domínio Deliberação Social?
5.2 - O item "Discutimos no grupo de musicoterapia como a sociedade tenta ajudar as
pessoas a não usar drogas" é pertinente ao domínio Deliberação Social?
6 - Como você avalia o domínio Autorreavaliação?
95

6.1 - O item "O grupo de musicoterapia me faz sentir mais competente na decisão de
não usar drogas" é pertinente ao domínio Autorreavaliação?
6.2 - O item "O grupo de musicoterapia me faz perceber como eu fico decepcionado
comigo mesmo quando dependo de drogas" é pertinente ao domínio Autorreavaliação?
7 - Como você avalia o domínio Autodeliberação?
7.1 - O item "Nas minhas composições musicais eu falo para mim mesmo que se eu
tentar com empenho, posso deixar de usar drogas" é pertinente ao domínio
Autodeliberação?
7.2 - O item "O grupo de musicoterapia me ajuda a me comprometer comigo mesmo a
não usar drogas" é pertinente ao domínio Autodeliberação?
8 - Como você avalia o domínio Contracondicionamento?
8.1 - O item "A música me ajuda a pensar em outras coisas quando eu começo a pensar
em usar drogas" é pertinente ao domínio Contracondicionamento?
8.2 - O item "Eu acho que escutar ou fazer música é um bom substituto para o uso de
drogas" é pertinente ao domínio Contracondicionamento?
9 - Como você avalia o domínio Controle de Estímulos?
9.1 - O item "O grupo de musicoterapia me ajuda a distanciar dos locais que geralmente
estão associados ao meu uso das drogas" é pertinente ao domínio Controle de
estímulos?
9.2 - O item "As músicas e a musicoterapia são lembretes de ajuda sobre o meu
problema com drogas" é pertinente ao domínio Controle de Estímulos?
10 - Como você avalia o domínio Gerenciamento de Reforço?
10.1 - O item "Eu uso música para me recompensar quando eu não cedo ao meu desejo
de usar drogas" é pertinente ao domínio Gerenciamento de Reforço?
10.2 - O item "Eu participo do grupo de musicoterapia e me sinto recompensado por
não usar drogas." é pertinente ao domínio Gerenciamento de reforço?
11 - Como você avalia o domínio Relações de Ajuda?
11.1 - O item "O grupo de musicoterapia me ajuda a me expressar sobre os meus
problemas com drogas" é pertinente ao domínio Relações de Ajuda?
11.2 - O item "Encontro no grupo de musicoterapia pessoas com as quais eu posso
contar para me ajudar quando eu estou tendo problemas com drogas." é pertinente ao
domínio Relações de Ajuda?
12 - Como você avalia a linguagem do manual da “Escala de Avaliação para
96

Musicoterapia em Grupo na Dependência Química”?


13 - Como você avalia a linguagem utilizada na “Escala de Avaliação para a
Musicoterapia em Grupo na Dependência Química”?
14 - Você considera que a “Escala de Avaliação para a Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química” pode contribuir para a musicoterapia no contexto brasileiro?
15 - Você considera que a “Escala de Avaliação para Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química” pode contribuir para outras pesquisas brasileiras?
16 - Você considera a validação da “Escala de Avaliação para Musicoterapia em Grupo
na Dependência Química” relevante para a musicoterapia no Brasil?
17 - Você considera que a "Escala de Avaliação para Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química” pode auxiliar na avaliação de pessoas com Dependência
Química no contexto brasileiro?
18 - Você considera que a "Escala de Avaliação para Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química” pode auxiliar na avaliação de pessoas com outras condições
médicas?
19 - Você considera que a "Escala de Avaliação para Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química” pode auxiliar na avaliação de pessoas com outras condições
sociais?
20 - Você considera que a "Escala de Avaliação para Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química” pode auxiliar na avaliação de pessoas com outras condições
psiquiátricas?
21 - Se você marcou sim na questão anterior indique quais condições.
22 - Espaço aberto para quaisquer comentários.

Segundo Pasquali (2010) uma concordância de, pelo menos, 80% entre os juízes
pode servir de critério de decisão sobre a pertinência do item ao domínio a que se refere
teoricamente. As questões de 1 a 13, possuíam 3 possibilidades de resposta “totalmente
pertinente”, “parcialmente pertinente”, “não pertinente”. As subquestões de 2.1 a 11.2
tinham apenas as opções “sim” e “não”. As questões de 1 a 11 receberam respostas com
100% de concordância, informando que as dimensões eram relevantes para o trabalho
da MT na DQ. As subquestões de 2.1 a 11.2 obtiveram concordância entre 80% a 100%
dos juízes. A seguir, na Figura 2, vermos um gráfico que tabula a porcentagem média de
concordância dos juízes sobre todas as questões objetivas, à exceção das questões 12 e
97

13, que foram representadas na figura 3, dado que as respostas de suas categorias não
foi unânime.

Figura 2: Média das respostas das questões objetivas, à exceção das questões 12 e 13.

Figura 3: Respostas às questões 12 e 13.

A primeira questão teve total concordância sobre a relevância dos itens da


EAMGDQ. As questões que vão de 2 a 11.2 interrogavam sobre a pertinência dos
domínios, e dos itens ligados aos domínios. Todos os domínios e itens foram
considerados totalmente pertinentes com concordância que variou de 80% a 100% dos
juízes. Esta informação confirma que os itens são intimamente conectados aos
domínios.
A questão 12, sobre a linguagem do Manual, informou que 50% dos consultados
98

o acharam compreensível, enquanto 50% informou ser apenas parcialmente


compreensível. A questão 13 informou que 70%, apenas, dos consultados entenderam
que a linguagem da escala está totalmente compreensível, enquanto 30% dos juízes
informaram ser apenas parcialmente compreensível. Estas informações fora relevantes
para se realizar nova versão do manual para a aplicação da escala (Apêndice B).
Questões que apresentaram total concordância entre os juízes foram a 14 que,
interrogou se a MTDQ pode contribuir para a MT no contexto brasileiro; a 15, que
investigou se a escala pode contribuir para outras pesquisas brasileiras; a 16 que
perguntou sobre a relevância da escala para a MT do Brasil; a 17, que avaliou se a
escala pode auxiliar na avaliação de pessoas com DQ no contexto brasileiro; e a 19, que
perguntou se a MTDQ pode auxiliar na avaliação de pessoas com outras condições
sociais.
A questão 18, que questionava sobre a aplicabilidade desta escala para outras
condições médicas, dividiu opiniões, já que 50% dos juízes concordaram que poderia
ser aplicada a outras populações, enquanto os outros 50% informaram que não
avaliavam desta forma. Também a questão 20, que investigava sobre a possibilidade da
escala ser usada em avaliação de outras condições psiquiátricas, informou que 60% dos
juízes consideravam tal possibilidade. Estas duas questões informaram que a MTDQ se
direciona, muito exclusivamente para o trabalho de MT na DQ.
Os juízes que informaram que a MTDQ pode auxiliar na avaliação de pessoas
com outras condições psiquiátricas e nominaram, na questão 21, as seguintes patologias:
transtornos relacionados à personalidade; mau funcionamento cognitivo; sofrimento
mental; alguns transtornos psiquiátricos, principalmente transtornos compulsivos;
transtornos mentais decorrentes da DQ; transtornos de humor; transtorno obsessivo
compulsivo (TOC; e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Sugeriram também que a escala possa trazer dados sobre o quanto a pessoa está
suscetível à DQ e “como está o seu autocontrole” (sic).
Um importante comentário apontou que, do modo que a escala está formulada,
só pode ser utilizada na DQ; dado que se emprega de termos com o termo "usar drogas".
No entanto, este juiz acredita que a MTDQ pode contribuir para outras condições
parecidas, ao adotar uma linguagem mais geral, ou se fossem elaboradas versões com
outras expressões relacionadas a outras dependências “como o caso de jogos ou outros
comportamentos que influenciam na qualidade de vida e saúde das pessoas”.
99

Por fim, a questão 22, que tratava de um espaço aberto destinado a comentários
dos juízes, reuniu algumas indicações relacionadas abaixo:

1) No texto do manual, apresentar as seguintes informações: a) quem irá preencher


a escala; b) Em qual momento do processo a escala será preenchida; c) quantas
vezes durante o processo a escala será preenchida; d) a duração do processo de
MT; e) a quantidade (mínima e máxima) de participantes no grupo; f) o gênero
das pessoas participantes; g) quem lançará aos participantes o convite para
preenchimento da escala; h) em qual contexto da DQ a aplicação da Escala
ocorrerá; i) se é destinada a atendimentos em Centros de Atenção Psicossocial,
Clínicas particulares, Centros que atendem pessoas em situação de rua, ou
outros; j) as formas de preenchimento da Escala de modo a considerar o possível
comportamento manipulador das pessoas participantes;
2) Considerar a possibilidade de tradução da Escala para o espanhol;
3) Esclarecer o porquê da MTDQ só poder ser utilizado seguindo o planejamento
de sessão proposto pelo manual;
4) Incluir "Funk" nos estilos musicais possíveis de serem trabalhados;
5) Indicar quais seriam as formas de contabilização dos escores e apresentação dos
dados;
6) Incluir também críticas ao grupo de MT, por exemplo, sobre os danos que os
grupos de MT podem ter causado (p.e. gatilhos e fissura);
7) Explicar melhor o que são as técnicas nominadas "jogos rítmicos",
"rockumentário" e reabilitação cognitiva de forma que o leitor entenda como as
desenvolve, e quais seus objetivos de sua proposta;
8) No item 5, “Li notícias de que a música pode me ajudar a parar de usar drogas”,
sugeriu-se substituir o verbo ler por algum verbo que contemple outras formas
de acesso à notícia, tais como escutar ou assistir. Algumas alternativas são:
“Tive acesso....”, “Soube por meio de notícias ...”, “Tomei conhecimento de
notícias que...”;
9) Uma das juízas fez correções no próprio material e mandou ao primeiro autor
por e-mail com várias considerações tanto sobre o manual quanto da escala. No
que concerne aos itens, além da concordância com a juíza que fez a comentário
anterior, sugeriu: a) alterar o item 1 para “escutar música me ajuda a diminuir
100

(ou acabar) com o meu desejo incontrolável de usar drogas”; b) alterar o item 2
para “o grupo de musicoterapia me ajuda a expressar sobre os meus problemas
relacionados com drogas”; c) deixar os itens 10 e 12 mais claros; d) alterar o
item 14 para “o grupo de musicoterapia me ajuda a refletir sobre o quanto as
pessoas que estão a minha volta sofrem com o meu uso de drogas”; e) alterar o
item 15 para “o grupo de musicoterapia me faz sentir mais forte e competente
para decidir abandonar as drogas; e f) alterar o item 19 para “O grupo de
musicoterapia me ajuda a me comprometer comigo mesmo a parar de usar
drogas”.

4. Considerações finais

A MTDQ foi avaliada, neste estudo de validade de conteúdo, como pertinente e


adequada à população a que se destina. Os juízes entenderam que todos os itens se
conectam teoricamente aos domínios e que todos os domínios são pertinentes para a
avaliação de Musicoterapia em Dependência Química. Além disso, os juízes
entenderam que a escala pode contribuir para a MT no contexto brasileiro; contribuir
para outras pesquisas brasileiras; auxiliar na avaliação de pessoas com DQ no contexto
brasileiro e auxiliar na avaliação de pessoas com outras condições sociais. Indicou-se
que, para ser utilizada para outras condições médicas, psiquiátricas e sociais a escala
precisa passar por mudança de palavras em seus itens, dado que se direcionam muito
exclusivamente às dependências químicas. Porém, segundo o nosso referencial teórico
(Pasquali, 2010), a concordância sobre esta questão não é significativa. Ainda sobre a
escala, duas juízas e um Técnico em Enfermagem fizeram considerações para melhoria
da apresentação dos itens, que se modificaram e ganharam ponto de interrogação ao
final de cada sentença. Levando em consideração todas estas indicações, fizemos
versão 1 da escala apresentada no questionário 1.
Fomos questionados, tanto pela equipe do CERSAM quanto pelos juízes sobre
quando se dariam as aplicações da escalas, quem as preencheria, com qual frequência,
em qual momento do processo, quantas vezes durante o processo, a duração do processo
de MT, a quantidade (mínima e máxima) de participantes no grupo, o gênero das
pessoas participantes, quem lançará aos participantes o convite para preenchimento da
escala, e em qual contexto da DQ a aplicação da Escala ocorrerá.
101

Em que pese estas considerações serem pertinentes ao Manual, que foi


atualizado (Anexo B), indicamos que esta escala é autorrelatada, ou seja, o próprio
paciente a preenche. É aconselhado que seja preenchida uma vez por semana, ao final
de uma sessão de musicoterapia. Não temos indicação de duração do processo,
quantidade mínima ou máxima de participantes ou gênero, dado que ainda não testamos
estas variáveis. Contudo, é importante realizar mais de uma avaliação por paciente (ou
usuário), como indicado pela revisão de Ghetti et al (2022).
Sobre o Manual, fomos informados que sua linguagem se apresenta parcialmente
compreensível. Uma das juízas fez várias considerações no próprio Manual, fato que
levamos em consideração em sua segunda versão. Questão interessante levantada por
esta e outra juíza foi a indagação do motivo de se levar em consideração a abordagem,
exposta em Pedrosa; Duarte e Loureiro (2022b), para planejar sessões de Musicoterapia.
Esta asserção se dá porque a MTDQ foi elaborada de forma que os pacientes
entrem em contato com as técnicas musicoterapêuticas que apresentam evidências de
eficácia pelos estudos encontrados em Pedrosa, Garcia e Loureiro (2022a). Ainda que a
própria pesquisa aponte uma falta de padronização dos desfechos avaliados pelos
estudos, limitando sua comparabilidade, indicaram que, as técnicas de Análise Lírica,
por exemplo, conseguiram melhores escores em relação ao esclarecimento de valores,
aumento de sentimentos positivos, reconhecimento de problemas, desejo de ajuda,
prontidão para o tratamento e motivação, apresentando uma diminuição significativa de
estresse logo após a aplicação desta técnica, funcionando como um bom regulador
emocional e atuando, principalmente, no humor e no enfrentamento (coping). Sobre a
eficácia de tais técnicas, estas são as melhores evidências disponíveis.
Para a pontuação da escala indicamos: 1) a soma das pontuações de todos os
itens e sua divisão por 20 para o escore geral; 2) a soma das pontuações dos itens 3, 4,
5, 7, 8, 9, 12, 14, 15 e 20 e sua divisão por 10 para obter pontuação média de Processos
Cognitivos; e 3) a soma dos itens 1, 2, 6, 10, 11, 13, 16, 17, 18 e 19 e a sua divisão por
10 para obter a pontuação média do Processo Comportamental. A seguir apresentamos a
primeira versão da escala, elaborada a partir de todas as considerações elencadas até
aqui.
Por fim, indicamos que futuros estudos serão realizados levando em
consideração os Procedimentos Experimentais e Analíticos indicados por Pasquali
(2010), que incluem, análises de estrutura interna do instrumento bem como de sua
102

confiabilidade.

Questionário 1: Versão 1 da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia de Grupo na Dependência Química.
Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (Versão 1) 103
INSTRUÇÕES
Por favor, leia cada afirmação abaixo e marque um X na coluna a direita que indique com qual frequência você se enquadra nessas situações.
Lembre que estas descrições se referem a atitudes ou pensamentos que você pode ter passado nos últimos dias.

Nome: ________________________________________

1) Eu uso música para me recompensar quando eu abro mão do meu desejo de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

2) O grupo de musicoterapia me ajuda a me expressar sobre os meus problemas relacionados com drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

3) O grupo de musicoterapia me faz pensar sobre as possíveis doenças causadas pelo consumo de drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

4) O grupo de musicoterapia me faz perceber que as pessoas à minha volta seriam melhores comigo se eu não tivesse Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
problemas com drogas?
5) Ouvi falar que a música pode me ajudar a parar de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

6) A música me ajuda a pensar em outras coisas quando eu começo a pensar em usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

7) Acho que a sociedade está criando alternativas terapêuticas que facilitam a superação do meu problema com drogas, como a Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
musicoterapia?
8) O grupo de musicoterapia me faz perceber como eu fico decepcionado comigo mesmo quando dependo de drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

9) Eu procuro no grupo de musicoterapia informações relacionadas ao meu problema com as drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

10) Algumas músicas me ajudam a lembrar de não usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

11) Encontro no grupo de musicoterapia pessoas com as quais eu posso contar para me ajudar quando eu estou tendo Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
problemas com drogas?
12) Músicas sobre drogas e seus efeitos me incomodam? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

13) Nas minhas composições musicais eu falo para mim mesmo que se eu tentar com empenho, posso deixar de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

14) O grupo de musicoterapia me ajuda a pensar sobre o quanto as pessoas que estão a minha volta sofrem com meu uso de Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
drogas?
15) O grupo de musicoterapia me faz sentir mais forte e competente para decidir abandonar as drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

16) O grupo de musicoterapia me ajuda a distanciar dos locais que geralmente estão associados ao meu uso das drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

17) Eu acho que escutar ou fazer música é um bom substituto para o uso de drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

18) Eu participo do grupo de musicoterapia e me sinto recompensado por não usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

19) O grupo de musicoterapia me ajuda a fazer um compromisso comigo mesmo de parar de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

20) Discutimos no grupo de musicoterapia como a sociedade tenta ajudar as pessoas a não usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
104

5. Referências

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Acesso 14/06/2022.
108

6.2. Artigo 4: Estudos de validade e confiabilidade da Escala de Avaliação dos


Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química
Estudo enviado para a revista Per Musi (Qualis B1)

Frederico Gonçalves Pedrosa


Frederico Duarte Garcia
Cristiano Mauro Assis Gomes
Cybelle Maria Veiga Loureiro

Resumo
A Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência
Química (MTDQ) é um teste de autorrelato composto por 20 itens que avaliam os
benefícios percebidos por pacientes adultos com dependência química sobre os efeitos
da musicoterapia em grupo em seus processos de mudança. A MTDQ possui evidências
de validade de conteúdo, mas carece de análises sobre outros aspectos da validade de
um teste. Este estudo objetivou avaliar a validade estrutural e a confiabilidade da
MTDQ. Através da análise fatorial confirmatória de itens, três modelos foram testados:
unidimensional, dois fatores correlacionados e bifatorial. A amostra possui 202 adultos
(44,7±12,7; 23,37%, mulheres) com dependência química que participaram de grupos
de musicoterapia e responderam a MTDQ em um Centro de Referência de Saúde mental
Álcool e Drogas na cidade de Belo Horizonte/MG. Os resultados indicam adequação da
estrutura bifatorial, composta por dois fatores específicos (processos cognitivos e
processos comportamentais) e um fator geral. Este estudo traz evidências iniciais de
que a MTDQ é um instrumento apropriado para medir três benefícios percebidos pelos
pacientes com dependência química sobre a musicoterapia em seus processos de
mudança.

Palavras-chave: Análise fatorial; Musicoterapia; Transtornos Relacionados ao Uso de


Substâncias.

Abstract
The Assessment Scale for the Effects of Group Music Therapy on Chemical
Dependence (MTDQ) is a self-report test, consisting of 20 items that assess the benefits
perceived by adult patients with chemical dependency participating in group music
therapy sessions and has evidence of content validity. This study aimed to evaluate the
internal structure and reliability of the MTDQ. Through confirmatory factor analysis,
three models were tested: unidimensional, two correlated factors and bifactorial. The
sample has 202 adults (44.7±12.7; 23.37%, women) with chemical dependence who
participated in music therapy groups and answered the MTDQ in a Reference Center for
Mental Health, Alcohol and Drugs in the city of Belo Horizonte/MG. The results
demonstrate the adequacy of the bifactorial structure, composed of two specific factors
(cognitive processes and behavioral processes) and a general factor. Evidence of the
structural validity of this study provides initial evidence that the MTDQ is an
appropriate instrument to measure aspects of the benefits perceived by patients with
chemical dependence on music therapy.

Keywords: Factor Analysis; Music Therapy; Substance-Related Disorders.


109

1. Introdução

A Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência


Química (MTDQ) foi desenvolvida, inicialmente, como um instrumento de medida de
autorrelato, composto por 20 itens que avaliam os efeitos percebidos por pacientes
adultos com dependência química (DQ) participantes de atendimentos de musicoterapia
(MT) em grupo (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2023). Estes efeitos são agrupados,
teoricamente, em dois domínios: processos experienciais (ou cognitivos); e processos
comportamentais – construtos provenientes do Modelo Transteórico de Mudança
(MTM) (Prochaska; DiClemente, 1982; Prochaska, 2014). Os Processos de Mudança
indicam meios emocionais, comportamentais e cognitivos de mudança que variam de
pessoa para pessoa (Prochaska et al, 1988). Eles são divididos em: 1) Processos
Cognitivos (Experienciais), composto por Ampliação de Consciência, Alívio
Emocional, Autorreavaliação, Reavaliação Circundante e Deliberação Social, e 2)
Processos Comportamentais, integrados por Autoliberação, Contracondicionamento,
Controle de Estímulos, Gerenciamento de Reforço e Relações de Ajuda. Processos de
Mudança Experienciais referem-se a processos relacionados ao pensamento, enquanto
os Comportamentais são assim chamados dado que são ações para mudar, sobretudo,
envolvendo comportamentos claros (Prochaska et al, 1988; Szupszynski, 2012).
A análise semântica e a dos juízes (Pasquali, 2010), compondo a análise da
validade da MTDQ, indicaram que todos os itens se conectam teoricamente aos
domínios e que todos os domínios são pertinentes para a avaliação de MT em DQ.
Ademais, indicou-se que a MTDQ pode contribuir para a MT, de uma forma geral,
auxiliar na avaliação de pessoas com DQ a partir de práticas musicoterapeuticas e
auxiliar outras pesquisas nacionais (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2023).
A despeito da validade de conteúdo ser uma análise relevante da validade de um
teste, ela é um passo inicial que demanda a análise de outros aspectos de validade, como
é o caso da validade estrutural (Alves; Souza; Baptista, 2013). A validade de um teste
diz respeito ao grau em que as interpretações propostas para os seus escores encontram
respaldo em evidências científicas sólidas, dependendo da quantidade e da qualidade
das evidências que a suportam (AERA; APA; NCME, 2014).
Ainda que não haja consenso na literatura sobre as etapas do processo de
construção de testes – usualmente chamados instrumentos de avaliação, no contexto da
MT (Gattino, 2021) –, é recorrente que estudos de validade de conteúdo precedam
110

estudos empíricos relacionados à validade estrutural, bem como estudos de


confiabilidade (Pasquali, 2010; Borsa; Seize, 2017). A análise da validade estrutural
avalia se as variáveis observáveis de um teste se correlacionam adequadamente às
variáveis latentes que representam os construtos os quais o teste propõe mensurar
(AERA; APA; NCME, 2014). Se há uma associação apropriada, diz-se que há
evidências de validade estrutural. Com o uso de análises estatísticas, como o análise
fatorial confirmatória, é possível avaliar a validade estrutural (Alves; Souza; Baptista,
2013).
A confiabilidade, também chamada precisão ou fidedignidade, diz respeito à
capacidade do teste de gerar escores próximos ao escore verdadeiro das variáveis
latentes medidas por ele (Cunha; Almeida Neto; Stackfleth, 2016). Assim como na
validade, a confiabilidade não é uma propriedade fixa de um teste, mas depende da
função do instrumento, da população em que é administrado, das circunstâncias e do
contexto de aplicação (Keszei; Novak; Streiner, 2010; AERA; APA; NCME, 2014). A
confiabilidade pode ser avaliada a partir da consistência interna (Polit; Beck, 2011;
Cunha; Almeida Neto; Stackfleth, 2016). É comum que pesquisadores avaliem a
consistência interna de instrumentos por meio do coeficiente alfa de Cronbach (Polit;
Beck, 2011; Souza; Alexandre; Guirandello, 2017), mas atualmente a literatura indica
outros índices, como o ômega de McDonald (Revelle; Zinbarg, 2009). As estimativas
do coeficiente ômega de McDonald são mais apropriadas quando as cargas fatoriais dos
itens nas variáveis latentes são diferentes entre elas (Reise 2012; Valentini et al, 2015).
Outros dois coeficientes também bastante recomenados são o alfa ordinal, indicado para
variáveis categóricas e calculado em adição ao alfa padrão, que trata as variáveis
ordinais como numéricas (Zumbo et al, 2007) e a confiabilidade composta, que em seu
cômputo, possibilita a variação das cargas ou pesos fatoriais dos itens, similar ao ômega
de McDonald (Valentini; Damásio, 2016).
Considerando que a MTDQ possui evidências de validade de conteúdo, mas
carece de outras análises de validade, este estudo tem como objetivo apresentar as
primeiras análises sobre a validade estrutura deste instrumento, a partir de análise
fatorial confirmatória de itens. Neste estudo, testamos um modelo com um fator
(unidimensional), um modelo com dois fatores correlacionados (bidimensional) e um
modelo bifatorial com dois fatores específicos e um fator geral, todos ortogonalizados
111

em si, buscando verificar qual seria mais apropriado para representar a medida do
MTDQ
Cada um dos modelos testados indica que o teste mede benefícios percebidos
distintos. O modelo com um fator pressupõe que a MTDQ apenas mede a percepção dos
pacientes adultos com dependência química sobre os benefícios da musicoterapia em
seu processo geral de mudança. O modelo com dois fatores correlacionados baseia-se
no modelo transteórico de mudança. Esse modelo assume que a MTDQ mede uma
percepção do paciente sobre os benefícios da musicoterapia em seus processos
cognitivos e em seus processos comportamentais de mudança, cada um desses
processos representando os dois fatores do modelo e explicando, respectivamente 10
itens do instrumento. Por fim, o modelo bifatorial corresponde a junção dos dois
modelos. Ele assume que a MTDQ mede tanto um fator geral como dois fatores
específicos. O fator geral representa a percepção do paciente sobre os benefícios da
musicoterapia em sua mudança pessoal geral e os fatores específicos representam a
percepção do paciente sobre os benefícios da musicoterapia em seus processos
cognitivos e comportamentais de mudança pessoal
Assim, este estudo tem o intuito de levantar evidências de validade estrutural da
MTDQ, bem como analisar a confiabilidade deste instrumento de avaliação. A seguir,
descrevemos as escolhas metodológicas, bem como apresentamos e discutimos os
resultados de nossas análises.

2. Metodologia

Este é um estudo que faz parte de uma pesquisa doutoral do primeiro autor. A
pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil onde foi avaliada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da UFMG, CAAE 30939720.1.0000.5149 e da Secretaria Municipal de Saúde
de Belo Horizonte, CAAE 30939720.1.3001.5140. Além disto, esta pesquisa recebeu
auxílio do Programa Institucional de Auxílio à Pesquisa de Docentes Recém-
Contratados pela UFMG - Edital PRPq 07/2020.
Seis estagiários (dois homens e quatro mulheres) de musicoterapia, atuantes na
área de DQ, receberam treinamento e supervisão do primeiro autor sobre as técnicas que
apresentaram melhor eficácia para este tratamento (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2022a),
sobre a abordagem criada a partir da aproximação destas técnicas musicotrapêuticas
112

com o Modelo Transteórico (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2022b) e sobre a forma de


aplicar a MTDQ. Estes atendimentos foram planejados a partir do modelo presente no
manual exposto no Apêndice B. Os atendimentos aconteceram entre os meses de maio e
novembro de 2022 em um Centro de Referência em Saúde mental Álcool e Drogas
(CERSAM AD), aparelho da Rede de Atenção Psicossocial que funciona como um
CAPs AD III, na cidade de Belo Horizonte /MG.

2.1. Amostra

Uma amostra de conveniência foi constituída por 202 participantes, sendo 154
homens (77,37%) e 45 mulheres (destas, uma mulher trans), com idade média de 44,7
anos (DP = 12,7, mínimo = 18 e máximo = 69). Porém, devido aos dados faltantes
(missing values), as análises foram realizadas com 141 participantes. Todos os
participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
exposto no Apêndice B.

2.2. Instrumento

O único instrumento utilizado foi a Escala de Avaliação dos Efeitos da


Musicoterapia em Grupo na Dependência Química, um instrumento de autorrelato
composto por 20 itens que avaliam os benefícios percebidos por pacientes adultos com
dependência química a respeito dos efeitos da musicoterapia em grupo em seus
processos de mudança. Os usuários respondem os itens em uma escala Likert em que
Nunca = 1; Raramente = 2; Às vezes = 3; Muitas vezes = 4; Sempre = 5.
Informações sobre idade e gênero foram fornecidas pela gerência do CERSAM,
a partir de seu sistema.

2.3. Procedimentos e análises estatísticas

A fim de obter evidências de validade estrutural e da confiabilidade da MTDQ


realizamos as análises no R v. 4.2.0 (R Core Team, 2022)7. Inicialmente fizemos o teste
de Mardia (Mardia, 1970) para avaliar a normalidade multivariada dos itens por meio do

7
A sintaxe está disponível no Apêndice D.
113

pacote MVN versão 5.9 (Korkmaz et al, 2014). Essa análise foi realizada com a
finalidade de embasar a seleção do estimador adequado para a análise fatorial
confirmatória de itens. Caso a hipótese da normalidade multivariada fosse rejeitada, o
método de estimação Robust Weighted Least Square Mean and Variance (WLSMV)
seria utilizado (Li, 2016).
A análise fatorial confirmatória dos itens foi aplicada via o pacote lavaan v.
0.6.12 (Rosseel et al, 2022) e a confiabilidade foi examinada com o pacote semTools v.
0.5.6 (Jorgensen et al, 2021). Os modelos testados foram: modelo unidimensional,
com um fator geral carregando os itens 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 ,10, 11, 12, 13, 14, 15, 16,
17, 18, 19, 20; modelo com dois fatores correlacionados, com processos cognitivos
carregando os itens 3, 4, 5, 7, 8, 9, 12, 14, 15, 20 e processos comportamentais
carregando os itens 1, 2, 6, 10, 11, 13, 16, 17, 18 e 19; e modelo bifatorial, contendo
processos cognitivos, processos comportamentais e o fator geral, todos ortogonalizados
entre si.
A qualidade do ajuste dos modelos foi avaliada por meio do índice de ajuste
comparativo (comparative fit index, CFI) e do erro médio quadrado de aproximação
(root mean square error of approximation, RMSEA). Os modelos seriam rejeitados
caso apresentassem CFI < 0,90 ou RMSEA > 0,10 (Thakkar, 2020).
O teste de diferença do χ2 escalonado de Satorra (2000) foi utilizado para
comparar os modelos, caso eles não fossem rejeitados.

3. Resultados

O teste de Mardia (curtose = 10,76; p < 0.0001 e assimetria = 2487,78; p <


0.0001), indicou que os itens não apresentam evidências de normalidade multivariada.
Por isso, a análise fatorial confirmatória de itens foi realizada com o estimador
WLSMV. Os índices de ajustes dos três modelos testados são apresentados, abaixo, na
Tabela 1. Nenhum dos modelos foi rejeitado.

Tabela 1 - Ajuste dos modelos testados.

RMSEA
Modelo χ²[df] CFI RMSEA
[IC 90%]
Unidimensional 283,290[170] 0,968 0,073 [0,058; 0,087]
Dois fatores correlacionados 267,859[169] 0,972 0,068 [0,052; 0,083]
Bifatorial 188,811[150] 0,989 0,045 [0,020; 0,064]
114

Por meio da Tabela 1 observamos que o modelo bifatorial apresentou índices de


ajuste superiores quando comparado aos outros modelos. De acordo com Rios e Wells
(2014), um ∆CFI superior 0,01 já seria indicativo de que determinado modelo é superior
a outro. Isso ocorre com o modelo bifatorial, que possui um ∆CFI > 0,01 em relação aos
modelos unidimensional e dois fatores correlacionados. Por sua vez, o teste de diferença
do χ2 escalonado de Satorra (2000) corrobora esse resultado, também indicando que o
modelo bifatorial é superior ao modelo unidimensional (∆ χ²[df] = 13.562[1], p =
0,0002308) e ao modelo com dois fatores correlacionados (∆ χ²[df] = 64,202[19], p =
0,0000009). As cargas fatoriais dos itens no modelo bifatorial estão apresentadas na
Tabela 2.

Tabela 2 - Cargas fatoriais dos itens no modelo bifatorial.

Itens Processos Processos Fator Média Desvio


Cognitivos Comportamentais Geral padrão
3 0,133 0,464 3,75 1,14
4 0,442 0,262 3,99 1,27
5 -0,280 0,644 3,80 1,17
7 0,183 0,553 3,77 1,10
8 0,584 0,280 3,80 1,18
9 0,014 0,670 3,61 1,25
12 0,467 -0,061 3,12 1,61
14 0,424 0,522 4,11 1,04
15 0,012 0,760 4,10 0,94
20 0,143 0,566 4,00 1,04
1 0,236 0,357 3,52 1,27
2 -0,010 0,724 4,05 1,12
6 0,198 0,608 3,84 1,05
10 0,284 0,454 3,73 1,11
11 0,274 0,500 3,84 1,08
13 0,475 0,407 3,79 1,19
16 0,363 0,627 3,86 1,08
17 0,675 0,559 4,07 1,12
18 0,137 0,767 4,21 1,05
19 0,403 0,640 4,12 0,98

As cargas fatoriais tendem a ser mais elevadas no fator geral quando comparadas
às cargas fatoriais nos fatores específicos. Contudo algumas exceções foram observadas
nos itens 4, 8, 12, 13, 17. Destacamos em negrito na Tabela 2 o fato dos itens 2, 9 e 15
não apresentarem carga fatorial igual ou superior a 0,1 no respectivo fator específico,
115

apresentando boas cargas fatoriais no fator geral. O item 12, por outro lado, apresenta
boa carga fatorial no item específico, mas com um valor abaixo de 0,1 no fator geral. O
item 5 foi o único apresentou carga fatorial negativa no fator específico (- 0,280) com
um valor expressivo (> 0,1).
A carga negativa nos itens 2, 5 e 12 indica que o fator geral ou o fator específico
explicou toda a sua variância comum desses itens, levando em consideração que no
modelo bifatorial os fatores são ortogonalizados e a variância explicada dos itens sofre
uma competição entre o fator geral e o fator específico. Isso é comum de ocorrer em
modelos bifatoriais e, em função disso, deve-se constrangir essas cargas negativas para
o valor zero para se ter uma estimativa adequada da confiabilidade dos fatores do
modelo. Um novo modelo bifatorial foi rodado, constrangindo à zero todas as cargas
negativas. Esse modelo foi denominado modelo bifatorial de cargas negativas
constrangidas e apresentou bom ajuste aos dados, χ²[df] = 199.079[155]; CFI = 0,988;
RMSEA = 0,048; RMSEA [IC 90%] = [0.025; 0.066].
A Tabela 3 apresenta a média das cargas fatoriais, bem como a confiabilidade
das variáveis latentes do modelo bifatorial de cargas negativas constrangidas, medida
por alpha de Cronbach, alpha ordinal, ômega de McDonald e confiabilidade composta.
Os dois fatores específicos do modelo bifatorial tiveram médias de cargas fatoriais
consideravelmente mais baixas, o que provavelmente se dá pelo fato dos mesmos itens
serem mais explicados pelo fator geral.

Tabela 3 – Média das cargas fatoriais e confiabilidade das variáveis latentes.

min
Modelo Variável latente α
M (DP) αord Ω cc
max
Processos 0,24 0,00
0,63 0,69 0,33 0,48
cognitivos (0,22) 0,60
Processos 0,30 0,00
Bifatorial 0,81 0,86 0,22 0,62
comportamentais (0,19) 0,67
0,52 0,00
Fator geral 0,87 0,90 0,80 0,90
(0,19) 0,78
Nota. M = média, DP = desvio-padrão, min = mínimo, max = máximo, α = alfa de
Cronbach, αord = alfa ordinal, Ω = ômega de McDonald, cc = confiabilidade composta

Analisando a distribuição dos itens em relação ao modelo bifatorial, tem-se que


17 dos 19 itens relacionados ao fator geral apresentam médias entre 3,6 e 4,2. O item 18
apresenta uma média levemente maior, com 4,21 e o item 1 levemente menor, com
116

3,52. A média das médias dos itens relacionados ao fator geral é de 3,85 e o desvio
padrão de 1,14. A média das médias dos itens explicados pelo fator específico processos
cognitivos foi de 3,8 e o desvio padrão de 1,17, enquanto a média das médias dos itens
explicados pelo fator específico processos comportamentais foi de 3,9 e o desvio padrão
de 1,11. Podemos concluir que tanto os itens explicados pelo fator geral quanto os
explicado pelos fatores específicos apresentam distribuição bastante similar.
Ainda que não haja um consenso sobre o valor do ponto de corte dos
coeficientes de confiabilidade é comum considerar valores entre 0,6 e 0,7 como
aceitáveis (Bagozzi; Yi,1988; Hair et al, 2009; Valentini; Damásio, 2016). No entanto,
esses valores de corte não são adequados para modelos bifatoriais em que o fator geral é
ortogonal aos fatores específicos. Modelos com essa característica tendem a tornar as
cargas fatoriais dos fatores específicos muito mais baixas já que sofrem a concorrência
do fator geral para a explicação da variância comum dos itens. Nesse sentido, é
apropriado considerar um valor de corte de 0,40 para os índices omega ou
confiabilidade composta. Considerando que todos os fatores apresentaram adequado
valor de corte no alfa, alfa ordinal e confiabilidade composta, concluimos que todos eles
apresentam confiabilidade adequada. No entanto, é relevante melhorar a confiabilidade
dos fatores específicos, já que esses processos específicos de mudança são relevantes
para a prática da musicoterapia. Uma maneira de melhorar essa confiabilidade envolve
comprender melhor quais são as características dos itens que melhor carregaram esses
fatores no modelo bifatorial e elaborar novos itens tomando essas características como
referência.

4. Considerações Finais

Esta pesquisa teve como objetivo levantar evidências de validade estrutural da


MTDQ, bem como analisar a confiabilidade deste instrumento de avaliação. Para tanto,
recorreu-se a verificação dos índices de ajuste de três diferentes estruturas fatorais,
aventadas em Pedrosa, Garcia e Loureiro (2023), modelo unidimensional, modelo com
dois fatores correlacionados e modelo bifatorial. Os resultados indicaram a melhor
adequação da estrutura bifatorial da MTDQ, composta por dois fatores específicos
Processos Cognitivos e Processos Comportamentais e fator geral. Vale ressaltar que os
dois fatores específicos correspondem ao modelo transteórico de mudança (Prochaska et
117

al, 1988).
Nesta pesquisa o fator geral representa a percepção do paciente sobre os
benefícios da musicoterapia em sua mudança pessoal geral. Como o MTM não indicou
teoricamente, ainda, um fator geral, teorizamos que, se os pacientes percebem os
benefícios da musicoterapia como relevantes para sua mudança, eles tendem a se
envolver mais ativamente no tratamento, a seguir as recomendações e a trabalhar mais
para alcançar seus objetivos terapêuticos. Por outro lado, se os pacientes não percebem
os benefícios da musicoterapia ou os percebem como irrelevantes, eles podem
desmotivar-se ou perder o interesse no tratamento, prejudicando o seu sucesso
terapêutico. Esta discussão se comunica com o MTM (Prochaska et al, 1988; Prochaska,
2014), dado que os Processos de Mudança indicam que a percepção dos próprios
processos cognitivos relativos à mudança, podem levar a mudanças comportamentais.
Futuras pesquisas, com uma amostra consideralvemente maior, devem avaliar a
pertinência dos itens 2, 5, 9 e 15 aos seus respectivos fatores específicos, bem como a
pertinência do item 12 para o fator geral. Novas pesquisas se fazem necessárias, a fim
de estabelecer normas de interpretação dos escores brutos da escala, imputando assim
significado aos resultados obtidos através da aplicação da MTDQ. Estudos futuros
deverão investigar evidências de validade desta escala, baseadas em processos de
resposta aos itens, em relações com outras variáveis, e/ou na consequência da testagem
(AERA, APA, & NCME, 2014). Por fim, é importante continuar a avaliação do
desempenho do instrumento com amostras clínicas e mais diversificadas regionalmente.
Em suma, concluimos que o instrumento apresentou boas propriedades psicométricas de
validade estrutural com a amostra pesquisada, mostrando-se promissor para o uso
profissional.

7. Referências

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18/12/2022.
121

7. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Esta pesquisa se iniciou com o objetivo de construir e verificar indícios de


validade e confiabilidade de uma escala de avaliação sobre os efeitos da MT em grupo
na DQ. Através dos resultados publicados nos artigos expostos, e por meio da
metodologia utilizada, evidenciamos que os objetivos pretendidos foram alcançados.
A própria pesquisa, descrita nos artigos que compõem esta tese, especificamente
os juízes que participaram do artigo 3, apontaram possibilidades para a MTDQ, como a
utilização do instrumento em outros contextos, para outras populações e com diferentes
faixas etárias. Destarte, acreditamos que, embora as escalas tenham sido desenvolvidas
para avaliação de adultos que apresentam DQ, provavelmente a MTDQ apresentará
bons resultados para avaliação de pacientes crianças e adolescentes com os mesmos
diagnósticos.
É interessante ressaltar que as escalas foram desenvolvidas para avaliar um
paciente em comparação com ele mesmo. Nesse contexto, a validação estrutural das
escalas para um indivíduo contribui para esse objetivo ao permitir diversas avaliações
do mesmo paciente. A MTDQ pode ser utilizada em diferentes abordagens de
atendimento, desde que a sessão seja planejada de modo que o paciente se engaje em
técnicas de composição, escuta e análise lírica. Isto porque a escala avalia os pacientes a
partir de sua prática nestas técnicas musicoterapêuticas.
Futuras pesquisas, com uma amostra consideralvemente maior, devem avaliar a
pertinência dos itens 2, 9, 5 e 15 aos seus respectivos fatores específicos, bem como a
pertinência do item 12 para o fator geral. Novas pesquisas se fazem necessárias, a fim
de estabelecer normas de interpretação dos escores brutos da escala, imputando assim
significado aos resultados obtidos através da aplicação da MTDQ. Além disso, estudos
futuros podem objetivar ou contemplar a tradução da escala para o inglês e espanhol.
Por fim, é importante continuar a avaliação do desempenho do instrumento com
amostras clínicas e mais diversificadas regionalmente. Em suma, concluimos que o
instrumento apresentou boas propriedades psicométricas de validade estrutural com a
amostra pesquisada, mostrando-se promissor para o uso profissional.
122

8. REFERÊNCIAS GERAIS

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Apêndice A

Universidade Federal de Minas Gerais


Programa de Pós-Graduação em Música

Frederico Gonçalves Pedrosa

Manual do Protocolo de Avaliação na Terapia de Grupo em


Musicoterapia na Dependência Química para a análise de juízes

Texto integrante da pesquisa de doutorado


Protocolo de Avaliação na Terapia de Grupo
em Musicoterapia na Dependência Química.
Esta pesquisa é realizada no Programa de
Pós-Graduação em Música da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Linha de Pesquisa: Sonologia
Orientação: Cybelle Maria Veiga
Loureiro

Coorientação: Frederico Duarte Garcia

Belo Horizonte
2021
129

1. Introdução

O desenvolvimento da utilização da música na área da saúde se deu,


majoritariamente, dentro de espaços destinados aos adoecidos mentalmente (Tyson,
1981). Neste mesmo trilho, a musicoterapia acaba por se estabelecer como profissão e
ciência a partir da década de 40. Teve como berço os Estados Unidos da América, onde
foi empregada nos cuidados dos “neuróticos de guerra,” termo que designava aqueles
que retornavam com psicopatologias da segunda grande guerra (Puchivaillo, 2008). É
neste período, na Universidade de Michigan, em 1944, onde se inicia a primeira
formação acadêmica para a graduação em musicoterapia (Costa, 1989).
A formação em Musicoterapia no contexto brasileiro se dá, em um primeiro
momento, como especialização a partir dos esforços da professora Clotilde Leinig
(1977) na Faculdade de Educação Musical do Paraná (FEMP), em 1971. No entanto,
anteriormente a esta data já existiam práticas de educadoras musicais que flertavam com
a Musicoterapia no Brasil. Ruth Loureiro Parames, educadora musical carioca, foi
contratada, em 1955, pelo Centro Psiquiátrico Nacional, como Técnica em
Musicoterapia, lá ficando até 1987. Outros nomes importantes para a fase anterior ao
advento das formações acadêmicas são Liddy Mignone, Helena Antipoff e Cecília
Conde que também realizaram trabalhos em contextos de saúde mental (Costa;
Cardeman, 2006).
Puchivailo e Holanda (2014) afirmam que desde o início da implantação da
Musicoterapia enquanto carreira acadêmica no Brasil tem-se produções literárias sobre
as interfaces entre esta profissão e a saúde mental. Ainda no ano de 2001 é sancionada a
Lei 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais – incluindo aí a dependência química – redirecionando o modelo
assistencial em saúde mental. Tendo esse marco em mente, Puchivailo e Holanda (2014)
revisam a produção acadêmica nacional, entre 2001 e 2012, e constatam que as
pesquisas em Musicoterapia relacionadas à saúde mental se caracterizam por serem
principalmente qualitativas, de campo e exploratórias.
Uma das formas atuais utilizadas para se produzir evidências sobre os benefícios
dos tratamentos em Musicoterapia são os Instrumentos de Avaliação validados que
coletam dados quantificáveis. Em contrassenso, Gattino (2016) relata que a maior parte
das publicações em Musicoterapia, no âmbito nacional, são estudos de caso e relatos de
130

experiência o que identificamos também no estudo de Puchivailo e Holanda (2013).


Desta forma, este manual propõe um Protocolo de Avaliação na Terapia de
Grupo em Dependência Química, a fim de gerar dados que evidenciem quais mudanças
são alcançadas com os atendimentos musicoterapêuticos no contexto brasileiro. Fazem
parte a explanação de uma abordagem teórica musicoterapêutica a partir do Modelo
Transteórico de Mudança (MTM) e o direcionamento de técnicas musicoterapêuticas
que precisam ser empregadas a fim de que o Instrumento de Avaliação apresentado ao
final seja aplicado em toda sua potência.
Tal protocolo é produzido no momento histórico significativo, em que: 1) se
encontra pouca literatura sobre Musicoterapia em Dependência Química; 2) a
Musicoterapia necessita produzir evidências de sua eficácia com essa população, 3)
existe um déficit de protocolos validados para a prática clínica musicoterapêutica no
Brasil, 4) não se encontram protocolos internacionais específicos para o trabalho
musicoterapêutico nas dependências químicas possíveis de se traduzir e validar, e 5) o
tratamento das Dependências Químicas, no contexto de saúde pública brasileira, sofre
retrocessos, como os indicados na Nota Técnica Nº 11/20191 do Ministério da Saúde
(Resende; Pedrosa, 2021).
A seguir iremos descrever o modelo teórico deste protocolo, as técnicas
revisadas anteriormente e que demonstraram eficácia em modular comportamentos não
musicais, os modelos de planejamento de sessão, ficha musicoterapêutica e, por fim, a
escala que compõe o referido protocolo.

2. Modelo Transteórico de Mudança

Um dos modelos de terapia que mais embasam as práticas musicoterapêuticas revisados


por Mays, Clark e Gordon (2008); Hohmann et al. (2017) e Pedrosa, Garcia e Loureiro
(2021), amplamente utilizado nos tratamentos em dependência química, entitulado
Modelo Transteórico de Mudança (MTM) (Prochaska; Diclemente, 1982). Tal
abordagem tem sido foco de diversas pesquisas nas últimas décadas, pois a
comprovação empírica de seus construtos é amplamente divulgada (Velasquez et al.,
2001; Szupszynski, 2012; Olivera et al, 2017). O MTM propõe que a mudança pode ser
entendida como um processo em que a pessoa cria novos comportamentos, modifica
comportamentos existentes ou cessa comportamentos problemáticos (Diclemente,
131

2005). Reconhece que as pessoas são diferentes, estão em fases diferentes e que as
intervenções apropriadas devem ser desenvolvidas de acordo com essas diferenças
(Szupszynski, 2012). Os Estágios de Mudança são divididos em cinco:
1. Pré-contemplação: a pessoa não percebe os benefícios da mudança e, portanto,
não está disposta a mudar. Mostra-se resistente e não colaborativa.
2. Contemplação: a pessoa percebe alguns benefícios da mudança, mas os custos
associados à mudança superam os benefícios. Os contempladores mostram
ambivalência.
3. Determinação (ou preparação): uma pessoa percebe mais benefícios na
mudança do que os custos associados à mudança, mas não mudou ativamente
nenhum comportamento. Nesse estágio, a pessoa planeja sua mudança.
4. Ação: uma pessoa está realmente se comportando de maneiras diferentes,
congruentes com a mudança. É o estágio no qual o cliente faz algumas
mudanças.
5. Manutenção: a pessoa trabalha a prevenção à recaída e a consolidação dos
ganhos obtidos durante a ação.
6. A recaída é considerada como um evento que marca o final do estágio de ação
ou manutenção, e deve ser encarada como um estado de transição. É o modo
como a pessoa apreende e recomeça de uma forma mais consciente.

Abaixo se vê uma figura que informa a relação entre esses estágios.

Figura 1 – Estágios de Mudança. Figura retira de Garcia (2014, p. 226).

Além dos Estágios de Mudança, fazem parte da construção teórica da MTM os


132

Mecanismos de Mudança, divididos entre as várias dependentes, Balança Decisional,


Autoeficácia e Tentação, e as variáveis independentes conhecidas como Processos de
Mudança. Aqui, enfocaremos nos Processos de Mudança dado que podemos perceber as
interações entre os estágios a partir de quantos processos de mudança cada pessoa
aciona – mecanismos que podem ser medidos através da Escala de Processos de
Mudanças (Szupszynski, 2012), inspiração para a Escala apresentada neste manual.
Os Processos de Mudança são os mecanismos que promovem o movimento entre
os Estágios de Mudança (Velasquez et al., 2001). Os primeiros cinco processos
envolvem uma reestruturação experiencial e são chamados de Processos Cognitivos. Já
os últimos cinco processos citados estão relacionados a comportamentos observáveis e
específicos e são chamados de Processos Comportamentais. São eles:
(1) Ampliação da consciência: aumento da conscientização sobre as causas e as
consequências que envolvem um comportamento problema;
(2) Alívio Emocional: sensibilização emocional provada aos pacientes, fazendo com
que eles reflitam verdadeiramente sobre o comportamento-problema;
(3) Reavaliação Circundante: o reconhecimento de como um comportamento pode
gerar conflitos com valores pessoais ou objetivos de vida. Também envolve a
percepção sobre como o comportamento afeta seu convívio social;
(4) Deliberação social: reconhecimento ou criação de alternativas sociais que
possam favorecer a mudança. Reavaliação dos ambientes que frequenta e a
escolha por ambientes mais saudáveis;
(5) Autorreavaliação: cognitiva e afetiva, perpassa a avaliação da autoimagem, o
resgate de valores, a obtenção de modelos mais saudáveis e o reconhecimento de
prejuízos que causa para si e para pessoas próximas a ele;
(6) Autodeliberação: combinação entre a crença de que é possível mudar e o
comprometimento para colocar essa crença em prática;
(7) Contracondicionamento: reaprendizagem de comportamentos saudáveis que
podem substituir os comportamentos-problema;
(8) Controle de estímulos: tem o intuito de remover estímulos que indiquem hábitos
pouco saudáveis, acrescentando alternativas mais saudáveis;
(9) Gerenciamento de reforço: a pessoa prevê as consequências das escolhas que
tem feito;
133

(10) Relações de Ajuda: objetivam combinar carinho, confiança, aceitação e suporte


para a mudança para hábitos saudáveis.
No quadro abaixo, baseado em Szupszynski (2012) relacionamos os Processos
de Mudança acionados nas articulações dos Estágios de Mudança.

Quadro 1 – Interação entre os Estágios de Mudança e os Processos de Mudança.

As Escalas foram construídas para avaliar os constructos dessa teoria desde sua
origem. Entre elas estão a University of Rhode Island Change Assesment Scale
(URICA) que avalia os Estágios de Mudança; a Escala de Autoeficácia (Abstinence
Self-efficacy Scale); a Escala de Tentação para uso da droga (Temptation to Use Scale);
e a Escala de Prós e Contras que avalia a Balança Decisional (Decisional Balance
Scale); e a Escala de Processos de Mudança (Processes of Change Questionnaire) todas
traduzidas para o português brasileiro e validadas, com exceção a Escala de Prós e
Contras (Oliveira et al., 2017).

3. Técnicas Musicoterapêuticas

A partir de uma Revisão Integrativa, Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021)


demonstraram que se podem concluir alguns pontos sobre a ação da musicoterapia em
aspectos psicológicos de pacientes acometidos por uma dependência química,
134

sobretudo, quando estas intervenções são associadas às abordagens cognitivas,


comportamentais e neurológicas para o tratamento.
No entanto, os estudos em Musicoterapia e Dependência Química são limitados
por diversas questões metodológicas não identificando diferenças sobre eficácia das
experiências musicoterapêuticas nos desfechos duros do tratamento da dependência de
drogas, mas sobre quais variáveis estas experiências mobilizaram. Isto é de importância
à medida que se observa que as intervenções musicais utilizadas nos tratamentos
musicoterapêuticos com esta população têm mais ação sobre aspectos secundários ao
diagnóstico de dependência química e não diretamente sobre esse transtorno. Isto é um
aspecto importante, pois, mesmo que a musicoterapia não interfira diretamente na
doença, ela é capaz de melhorar o humor, a percepção de bem-estar e a qualidade de
vida dos pacientes em tratamento (PEDROSA; GARCIA; LOUREIRO, 2021).
As principais experiências musicoterapêuticas utilizadas nos estudos
identificados foram: 1. a recriação, a partir de análise lírica, dos jogos rítmicos e da
confecção de “rockumentário”; 2. a composição de canções, 3. a escuta musical e 4.
atividades voltadas para a reabilitação cognitiva.
Nos estudos identificados as experiências de recriação a partir da análise lírica
conseguiram melhores escores em relação ao esclarecimento de valores, aumento de
sentimentos positivos, reconhecimento de problemas, desejo de ajuda, prontidão para o
tratamento e motivação, apresentando uma diminuição significativa de estresse logo
após a atividade, funcionando como um bom regulador emocional e atuando,
principalmente, no humor e no enfrentamento (coping) (Silverman, 2009; 2015; 2016a).
Já as atividades de jogos rítmicos proporcionaram diminuição de sintomas depressivos,
ansiedade, raiva e fissura (Bruscia, 2016). O rockumentário, definido pelo autor como
análise das letras juntamente com uma história detalhada da banda e seu abuso de
substâncias, melhorou escores sobre contemplação e ação, atributos da prontidão para a
mudança, e diminuiu sintomas de fissura (Silverman, 2011).
As experiências de composição aumentaram a autoestima (orgulho) e
conseguiram bons scores para diminuição de fissura. É interessante notar que o fluxo
(flow) do processo de composição se mostrou mais importante do que o significado da
letra e que as experiências composicionais não alteraram significativamente variáveis de
culpa, vergonha, estigma e suporte sociais dos pacientes dependentes químicos
(Silverman; Baker; Macdonald, 2016; Silverman, 2017; 2019a; 2018b).
135

As experiências de escuta musical ao vivo apresentaram mais eficácia do que as


experiências envolvendo músicas gravadas, porém, ambas indicaram bons scores sobre
redução de probabilidade de recaída, dessensibilização sistemática, e a relação de
música considerada saudável pelo paciente sobre a possibilidade de uso em seu
tratamento. Nota-se que as pesquisas apontaram divergências sobre o que é considerada
música saudável ou nociva, porém, de forma geral, as músicas saudáveis predisseram
melhor o coping, a aceitação e a regulação de humor. Por outro lado, as músicas
consideradas nocivas predisseram a negação, o desabafo e a culpa. Músicas “saudáveis”
ou “nocivas” não predisseram sobre abuso de substância, suporte emocional,
desengajamento comportamental, planejamento ou elaboração positiva, o que indica que
tais características não são condição importante para o trabalho com tais variáveis
(Sewak; Spielholz, 2018; Short; Dingle, 2015; Silverman, 2016b; Stamou et al, 2016).
As atividades de reabilitação cognitiva que usam de todas as experiências
musicais são boas alternativas para o aprendizado de estratégias para lidar com
situações de gatilho situacionais. Abaixo segue uma síntese das técnicas
musicoterapêuticas, suas variações, possíveis objetivos terapêuticos e observações
importantes sobre estas técnicas (Lesiuk, 2010).

Quadro 2 – Técnicas musicoterapêuticas associadas aos comportamentos não musicais.

Técnicas Comportamentos não musicais Observações


associados
Análise Lírica - Esclarecimento de valores; - não houve investigação sobre os efeitos em
- Aumento de sentimentos positivos; longo prazo destas ações.
- Reconhecimento de problemas;
- Desejo de ajuda;
- Prontidão para o tratamento;
- Motivação;
- Diminuição de estresse logo após a
atividade;
- Regulação emocionalmente;
- Enfrentamento (coping).
Jogos Rítmicos - Diminuição de sintomas depressivos, de
ansiedade, raiva e fissura
Rockumentary - Melhora de escores de contemplação e
ação,
- Prontidão para a mudança,
- Diminuição de sintomas de fissura.
Composição com - Aumento da autoestima; - fluxo do processo de composição é mais
estrutura pré- - Diminuição da fissura. importante do que o significado da letra nos
estabelecida estágio iniciais de tratamento;
- experiências composicionais não alteraram
significativamente variáveis de culpa,
vergonha, estigma e suporte social.
136

Escuta de música - Redução da probabilidade de recaída; - músicas consideradas saudáveis predisseram


executadas ao vivo - Dessensibilização sistematicamente; melhor coping, aceitação e regulação de
- Diminuição do estresse; humor;
- músicas consideradas nocivas predisseram a
negação, o desabafo e a culpa;
- Músicas “saudáveis” ou “nocivas” não
predisseram sobre abuso de substância,
suporte emocional, desengajamento
comportamental, planejamento ou elaboração
Escuta de músicas positiva.
gravadas - músicas executadas ao vivo são mais
eficientes para o tratamento.

Associação estímulo- - aprendizado de estratégias para lidar com Vincular estímulos sonoros específicos com
movimento. situações de gatilho situacionais; movimentos corporais específicos.
Reação a estímulos - prevenção de recaídas.
acústicos.
Mudança de atenção (1)
Mudança de atenção (2)
Repetição ordenada e
invertida.

Esta lista evidencia técnicas verificadas em estudos que realizaram mensuração


de sua eficácia (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2021). No entanto, indicamos que outras
técnicas de reabilitação cognitiva como as Técnicas da Musicoterapia nas Desordens
Mentais (Houghton et al., 2005) e as 20 Técnicas da Musicoterapia Neurológica (Thaut,
2008) – que apresentam fortes evidências de aplicabilidade em outras populações –
podem ser usadas, bem como as técnicas descritas por Bruscia (2016). Rockumentário,
por exemplo, é uma técnica que é relatada por Silverman (2011), mas que pode ser
entendida dentro das técnicas Recriativas (BRUSCIA, 2016); ou ainda as composições
que podem ser feitas a partir da técnica de Treinamento Musical de Funções Executivas
(Musical Executive Function Training – MEFT) (Thaut, 2008).
A seguir propomos uma relação entre os Estágios e Processos de Mudança com
as técnicas musicoterapêuticas elencadas acima, já que, como verificado, têm a
tendência de mobilizar positivamente diferentes aspetos relacionados aos tratamentos
em dependência química, tais como motivação, redução de estresse e estratégias de
enfrentamento.
137

4. Técnicas Musicoterapêuticas relacionadas aos Estágios e Processos de


Mudança

No estágio de Pré-Contemplação os pacientes ainda estão resistentes ao


tratamento, com reduzida percepção da necessidade da mudança. Indica-se,
inicialmente, que o trabalho seja a partir das técnicas de Jogos Rítmicos, Análise Lírica,
Escuta Musical, Composição Musical (focando no fluxo do processo) com objetivos de
diminuir níveis de estresse e fissura e aumentar a prontidão para o tratamento, a
motivação e ajudar na regulação emocional.
No estágio de Contemplação, dado que os pacientes já percebem benefícios da
mudança de forma incipiente, porém mostrando indecisão, indica-se o trabalho a partir
análise lírica, “rockumentário” e composição Musical (focando no fluxo do processo)
talvez possam auxiliar na autopercepção, ajudando no começo da formulação de
estratégias de ação e aumentando a autoestima. Técnicas de Reabilitação Cognitiva têm
desmostrado auxiliar no aprendizado de estratégias para lidar com situações de gatilho
situacionais.
Já no estágio de Determinação (ou preparação) a pessoa percebe mais
benefícios na mudança do que os custos associados, mas não mudou ativamente
nenhum comportamento. Aqui, Análises Líricas objetivando motivação e indicando
estratégias de enfrentamento, bem como Composições Musicais com vias da autoestima
e exercícios de Reabilitação Cognitiva voltados à prevenção de recaídas podem vir à
auxiliar em vivificar e materializar as estratégias de mudança ensejadas.
Quando a pessoa se comporta de maneiras novas e congruentes com a mudança
objetivada, identificamos o estágio de Ação. Aqui, principalmente as atividades de
Reabilitação Cognitiva poderão assessorar no comprometimento para se colocar as
crença em prática, reaprender comportamentos saudáveis e buscar carinho, confiança,
aceitação e suporte da mudança para hábitos saudáveis. “Rockumentário” também se
mostrou importante estratégia para esta etapa.
Por fim, já no estágio de Manutenção, indicam-se todas as experiências e
exercícios musicais propostos aqui, com objetivos de prevenção à recaída e promovendo
reforços aos comportamentos adquiridos, consolidando dos ganhos obtidos durante a
ação e promovendo momentos de alívio emocional bem como fortalecendo os aspectos
sociais conquistados.
138

5. Modelo de Planejamento de Sessão

Para que a escala de avaliação proposta neste trabalho tenha eficácia é preciso
que se faça um planejamento de sessão que contemple as técnicas musicoterapêuticas e
musicais utilizadas como disparadores para os itens. Os grupos de Musicoterapia, desta
forma, precisam ser estruturados em sessões que perpassem por técnicas de Escuta
Musical, Análise Lírica e Composição.
Desta forma, baseando-nos em Moriá e Cordeiro (2017, p.70), apresentamos um
modelo de planejamento que informa a necessidade de uso destas técnicas. No entanto,
a ordem destas (sublinhadas no quadro abaixo) pode intercambiar a cada sessão, de
acordo com as colocações dos participantes. Além disto, é importante que as ações
planejadas encorajem: 1) o uso de música na rotina diária; 2) estimulem a manifestação
de opinião sobre a sociedade e dos próprios sentimentos e 3) direcionem reflexão e
discussões sobre temas tratados nas músicas utilizadas.
Ao final, apresentamos um formato de relatório sucinto que possibilita registros
mais qualitativos das do grupo bem como o registro da fundamentação teórica que
embasaram as intervenções musicoterapêuticas.

Plano de atendimento em Musicoterapia na Dependência Química

Condutor: Apoio:
Data:

Participantes:

Objetivo da Sessão:

Materiais:

Técnicas Descrição Objetivos

Aquecimento

Escuta Musical

Análise Lírica

Composição Musical
139

Finalização

Relatório

Observações

Fundamentação teórica

Responsável pelo relatório

Referências Bibliográfica

6. Ficha musicoterapêutica e Escala de Avaliação dos Efeitos da


Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (AMTDQ)

Procedimento comum aos atendimentos musicoterapêuticos é o preenchimento


da Ficha Musicoterapêutica, a fim de se ter dados sócio demográficos, bem como o
histórico de saúde dos pacientes. Abaixo um modelo de ficha que deve ser aplicada
conjuntamente à Escala.

Nome Completo:
Data de Nascimento: Idade:
Cidade: Estado:
Escolaridade:
Possui alguma religião? Sim ( ) Não ( ) Qual?
Participa ou já participou de outras Quais?
terapias?
Já participou da MT antes? Sim ( ) Não ( Quanto tempo?
)
Músicas da infância que recorda:

Tem algum tipo de estudo musical?


Já esteve em algum Hospital Psiquiátrico, Comunidade terapêtica ou CERSAM
anteriormente?
140

Possui outras doenças?

Estilos Musicais: Mpb ( ) Samba ( ) Pop( Forró ( ) Pagode ( ) Axé ( ) Sertanejo ( )


)
Rock ( ) Religiosa ( ) Música Clássica ( Marchinha ( ) Música Caipira ( ) Rap ( )
)
Reggae ( ) Eletrônica ( ) Outras:
Preferências Instrumentais:

Cantores(as)/grupos/bandas preferidas:

Músicas preferidas:

Rechaço/desagrado musical e instrumental:

Preferencia musical dos pais:

Constituição Familiar:

Observações:

Como dito anteriormente a Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em


Grupo na Dependência Química foi baseada na versão brasileira da Processes of
Change Questionnaire-PCQ (Prochaska et al., 1988) chamada Escala de Processos de
Mudança (Szupszynski, 2012). Composta de 20 itens tal instrumento verifica quais são
os processos de mudança que os indivíduos articularam na última semana e, por tanto,
informam em qual Estágio de Mudança estes se encontram.
141

Escala de Avaliação de Musicoterapia em Grupo na Dependência Química

INSTRUÇÕES

Existem cinco respostas possíveis para cada um dos itens do questinonário:


1 = Nunca; 2 = Raramente; 3 = Ocasionalmente; 4 = Frequentemente; 5 = Repetidamente

Por favor, leia cada afirmação e marque o número à direita que indique qual a frequência em que você se enquadra nessas situações.
As situações referem-se a atitudes ou pensamentos que ajudam você a não usar drogas.

1) Eu uso música para me recompensar quando eu não cedo ao meu desejo de usar drogas. 1 2 3 4 5
2) O grupo de musicoterapia me ajuda a me expressar sobre os meus problemas com drogas. 1 2 3 4 5
3) O grupo de musicoterapia me faz pensar sobre as possíveis doenças causadas pelo consumo de drogas. 1 2 3 4 5
4) O grupo de musicoterapia me faz perceber que as pessoas à minha volta seriam melhores comigo se eu não tivesse problemas com drogas. 1 2 3 4 5
5) Li notícias de que a música pode me ajudar a parar de usar drogas. 1 2 3 4 5
6) A música me ajuda a pensar em outras coisas quando eu começo a pensar em usar drogas. 1 2 3 4 5
7) Acho que a sociedade está criando alternativas terapêuticas que facilitam a superação do meu problema com drogas, como a musicoterapia. 1 2 3 4 5
8) O grupo de musicoterapia me faz perceber como eu fico decepcionado comigo mesmo quando dependo de drogas. 1 2 3 4 5
9) Eu procuro no grupo de musicoterapia informações relacionadas ao meu problema com as drogas. 1 2 3 4 5
10) As músicas são lembretes de ajuda sobre o meu problema com drogas. 1 2 3 4 5
11) Encontro no grupo de musicoterapia pessoas com as quais eu posso contar para me ajudar quando eu estou tendo problemas com drogas. 1 2 3 4 5
12) Músicas sobre drogas e seus efeitos me incomodam. 1 2 3 4 5
13) Nas minhas composições musicais eu falo para mim mesmo que se eu tentar com empenho, posso deixar de usar drogas. 1 2 3 4 5
14) O grupo de musicoterapia me ajuda a pensar em como o meu uso de drogas está magoando as pessoas à minha volta. 1 2 3 4 5
15) O grupo de musicoterapia me faz sentir mais competente na decisão de não usar drogas. 1 2 3 4 5
16) O grupo de musicoterapia me ajuda a distanciar dos locais que geralmente estão associados ao meu uso das drogas. 1 2 3 4 5
17) Eu acho que escutar ou fazer música é um bom substituto para o uso de drogas. 1 2 3 4 5
18) Eu participo do grupo de musicoterapia e me sinto recompensado por não usar drogas. 1 2 3 4 5
19) O grupo de musicoterapia me ajuda a me comprometer comigo mesmo a não usar drogas. 1 2 3 4 5
20) Discutimos no grupo de musicoterapia como a sociedade tenta ajudar as pessoas a não usar drogas. 1 2 3 4 5
142

6. Referências bibliográficas

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144

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Stamou, Vasileios; Chatzoudi, Theano; Stamou, Lelouda; Romo, Lucia; & Graziani, Pierluigi.
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drug-conditioned cues: a pilot study. The Arts in Psychotherapy. Disponível em:
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Szupszynski, Karen Priscila el Rio. (2012). Estudo dos processos de mudança em usuários de
substâncias psicoativas ilícitas. Tese. Porto Alegre: PUC/RS.

Thaut, M.; Hoemberg, V. (2008). Handbook of neurologic music therapy. Nova York: Oxford
University Press.

Velasquez, M.; Maurer, G.; Crouch, C.; Diclemente, C. (2001). Group treatment for
substance abuse: a stages-of- change therapy manual. New York: The Guilford Press.
145

Apêndice B

Universidade Federal de Minas Gerais


Programa de Pós-Graduação em Música

Frederico Gonçalves Pedrosa

Manual da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em


Grupo na Dependência Química

Manual integrante da pesquisa de doutorado Escala


de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em
grupo na Dependência Química. Esta pesquisa foi
realizada no Programa de Pós-Graduação em
Música da Universidade Federal de Minas Gerais.

Linha de Pesquisa: Sonologia


Orientação: Cybelle Maria Veiga Loureiro
Coorientação: Frederico Duarte Garcia

Belo Horizonte
2023
146

1. Introdução

Este manual propõe um Protocolo de Avaliação em Musicoterapia de Grupo em


Dependência Química, a fim de gerar dados que evidenciem quais mudanças são
alcançadas com os atendimentos musicoterapêuticos no contexto brasileiro. Fazem parte
a explanação de uma abordagem teórica musicoterapêutica a partir do Modelo
Transteórico de Mudança (MTM) e o direcionamento de técnicas musicoterapêuticas
que precisam ser empregadas a fim de que o Instrumento de Avaliação apresentado, ao
final, seja aplicado em toda sua potência.
A seguir descreveremos o modelo teórico deste protocolo, as técnicas revisadas
que demonstraram eficácia em modular comportamentos não musicais, os modelos de
planejamento de sessão, ficha musicoterapêutica e, por fim, a escala que compõe o
referido protocolo e como realizar a pontuação da mesma.

2. Modelo Transteórico de Mudança

Um dos modelos de terapia que mais embasam as práticas psicoterapêuticas em


DQ é o MTM, de autoria de Prochaska e Diclemente (1982). Os estudos revisados por
Mays, Clark e Gordon (2008); Hohmann et al. (2017) e Pedrosa, Garcia e Loureiro
(2021), também indicam práticas musicoterapêuticas inspiradas por este modelo. Tal
abordagem tem sido foco de diversas pesquisas nas últimas décadas, pois a
comprovação empírica de seus construtos é amplamente divulgada (Velasquez et al.,
2001; Szupszynski, 2012; Olivera et al, 2017). O MTM propõe que a mudança pode ser
entendida como um processo em que a pessoa cria novos comportamentos, modifica
comportamentos existentes ou cessa comportamentos problemáticos (Diclemente,
2005). Reconhece que as pessoas são diferentes, estão em fases distintas, bem como o
fato de que as intervenções apropriadas devem ser desenvolvidas de acordo com essas
diferenças (Szupszynski, 2012). Os Estágios de Mudança são divididos em cinco:

1. Pré-contemplação: a pessoa não percebe os benefícios da mudança e,


portanto, não está disposta a mudar. Mostra-se resistente e não colaborativa.
147

2. Contemplação: a pessoa percebe alguns benefícios da mudança, mas os


custos associados à mudança superam os benefícios. Os contempladores
mostram ambivalência.
3. Determinação (ou preparação): uma pessoa percebe mais benefícios na
mudança do que os custos associados à mudança, mas não mudou
ativamente nenhum comportamento. Nesse estágio, a pessoa planeja sua
mudança.
4. Ação: uma pessoa está realmente se comportando de maneiras diferentes,
congruentes com a mudança. É o estágio no qual o cliente faz algumas
mudanças.
5. Manutenção: a pessoa trabalha a prevenção à recaída e a consolidação dos
ganhos obtidos durante a ação.

⮚ A recaída é considerada como um evento que marca o final do estágio de ação ou


manutenção, e deve ser encarada como um estado de transição. É o modo como a
pessoa apreende e recomeça de uma forma mais consciente.

Abaixo se vê uma figura que informa a relação entre esses estágios.

Figura 1 – Estágios de Mudança. Figura retirada de Garcia (2014, p. 226).

Além dos Estágios de Mudança, fazem parte da construção teórica da MTM os


Mecanismos de Mudança, divididos entre as várias dependentes, Balança Decisional,
148

Autoeficácia e Tentação, e as variáveis independentes conhecidas como Processos de


Mudança. Aqui, enfocaremos nos Processos de Mudança dado que podemos perceber as
interações entre os estágios a partir de quantos processos de mudança cada pessoa
aciona – mecanismos que podem ser medidos através da Escala de Processos de
Mudanças (Szupszynski, 2012), inspiração para a Escala apresentada neste manual.
Os Processos de Mudança são os mecanismos que promovem o movimento entre
os Estágios de Mudança (Velasquez et al., 2001). Os primeiros cinco processos
envolvem uma reestruturação experiencial e são chamados de Processos Cognitivos. Já
os últimos cinco processos citados estão relacionados a comportamentos observáveis e
específicos e são chamados de Processos Comportamentais. São eles:
(1) Ampliação da consciência: aumento da conscientização sobre as causas e as
consequências que envolvem um comportamento problema;
(2) Alívio Emocional: sensibilização emocional provada aos pacientes, fazendo com
que eles reflitam verdadeiramente sobre o comportamento-problema;
(3) Reavaliação Circundante: o reconhecimento de como um comportamento pode
gerar conflitos com valores pessoais ou objetivos de vida. Também envolve a
percepção sobre como o comportamento afeta seu convívio social;
(4) Deliberação social: reconhecimento ou criação de alternativas sociais que
possam favorecer a mudança. Reavaliação dos ambientes que frequenta e a
escolha por ambientes mais saudáveis;
(5) Autorreavaliação: cognitiva e afetiva, perpassa a avaliação da autoimagem, o
resgate de valores, a obtenção de modelos mais saudáveis e o reconhecimento de
prejuízos que causa para si e para pessoas próximas a ele;
(6) Autodeliberação: combinação entre a crença de que é possível mudar e o
comprometimento para colocar essa crença em prática;
(7) Contracondicionamento: reaprendizagem de comportamentos saudáveis que
podem substituir os comportamentos-problema;
(8) Controle de estímulos: tem o intuito de remover estímulos que indiquem hábitos
pouco saudáveis, acrescentando alternativas mais saudáveis;
(9) Gerenciamento de reforço: a pessoa prevê as consequências das escolhas que
tem feito;
(10) Relações de Ajuda: objetivam combinar carinho, confiança, aceitação e suporte
para a mudança para hábitos saudáveis.
149

No quadro abaixo, baseado em Szupszynski (2012), relacionamos os Processos


de Mudança acionados nas articulações dos Estágios de Mudança.

Quadro 1 – Interação entre os Estágios de Mudança e os Processos de Mudança.

As Escalas foram construídas para avaliar os constructos dessa teoria desde sua
origem. Entre elas estão a University of Rhode Island Change Assesment Scale
(URICA) que avalia os Estágios de Mudança; a Escala de Autoeficácia (Abstinence
Self-efficacy Scale); a Escala de Tentação para uso da droga (Temptation to Use Scale);
e a Escala de Prós e Contras que avalia a Balança Decisional (Decisional Balance
Scale); e a Escala de Processos de Mudança (Processes of Change Questionnaire) todas
traduzidas para o português brasileiro e validadas, com exceção a Escala de Prós e
Contras (Oliveira et al, 2017).

3. Técnicas Musicoterapêuticas direcionadas aos atendimentos a pessoas com


dependência química

A partir de uma Revisão Integrativa, Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021)


demonstraram que se podem concluir alguns pontos sobre a ação da musicoterapia em
aspectos psicológicos de pacientes acometidos por uma dependência química,
150

sobretudo, quando estas intervenções são associadas às abordagens cognitivas,


comportamentais e neurológicas para o tratamento. Os principais temas presentes nas
pesquisas identificadas tratam da eficácia dos tratamentos de musicoterapia em relação
à fissura (craving), habilidades de enfrentamento (coping skills), sintomas de
abstinência, ansiedade, além do uso da música para auto regulação emocional
As principais experiências musicoterapêuticas utilizadas nos estudos
identificados foram: 1. A recriação, a partir de análise lírica, dos jogos rítmicos e da
confecção de “rockumentário”; 2. A composição de canções, 3. A escuta musical e 4.
Técnicas musicoterapêuticas voltadas para a reabilitação cognitiva.
Nos estudos identificados as experiências de recriação a partir da análise lírica
conseguiram melhores escores em relação ao esclarecimento de valores, aumento de
sentimentos positivos, reconhecimento de problemas, desejo de ajuda, prontidão para o
tratamento e motivação, apresentando uma diminuição significativa de estresse logo
após a atividade, funcionando como um bom regulador emocional e atuando,
principalmente, no humor e no enfrentamento (coping) (SILVERMAN, 2009; 2015;
2016ª). Já as atividades de jogos rítmicos proporcionaram diminuição de sintomas
depressivos, ansiedade, raiva e fissura (BRUSCIA, 2016). O rockumentário melhorou
os escores sobre contemplação e ação, atributos da prontidão para a mudança, e
diminuiu sintomas de fissura (Silverman, 2011).8
As experiências de composição aumentaram a autoestima (orgulho) e
conseguiram bons escores para a diminuição de fissura. É interessante notar que o fluxo
(flow) do processo de composição se mostrou mais importante do que o significado da
letra e que as experiências composicionais não alteraram significativamente variáveis de
culpa, vergonha, estigma e suporte sociais dos pacientes dependentes químicos
(Silverman; Baker; Macdonald, 2016; Silverman, 2017; 2019a; 2018b).
As experiências de escuta musical ao vivo apresentaram mais eficácia do que as
experiências envolvendo músicas gravadas, porém, ambas indicaram bons scores sobre
redução de probabilidade de recaída, dessensibilização sistemática, e a relação de
música considerada saudável pelo paciente sobre a possibilidade de uso em seu
tratamento. Nota-se que as pesquisas apontaram divergências sobre o que é considerada
música saudável ou nociva, porém, de forma geral, as músicas saudáveis predisseram

8
Rockumentário é uma técnica de análise de letras de canções em conjunto com a história detalhada da
banda e seu abuso de substâncias (Silverman, 2011).
151

melhor o coping, a aceitação e a regulação de humor. Por outro lado, as músicas


consideradas nocivas predisseram a negação, o desabafo e a culpa. Músicas “saudáveis”
ou “nocivas” não predisseram sobre abuso de substância, suporte emocional,
desengajamento comportamental, planejamento ou elaboração positiva, o que indica que
tais características não são condição importante para o trabalho com tais variáveis
(Sewak; Spielholz, 2018; Short; Dingle, 2015; Silverman, 2016b; Stamou et al, 2016).
As atividades de reabilitação cognitiva que usam de todas as experiências
musicais são boas alternativas para o aprendizado de estratégias para lidar com
situações de gatilho situacionais. Abaixo segue uma síntese das técnicas
musicoterapêuticas, suas variações, possíveis objetivos terapêuticos e observações
importantes sobre estas técnicas (Lesiuk, 2010).

Quadro 2 – Técnicas musicoterapêuticas associadas aos comportamentos não musicais.

Técnicas Comportamentos não musicais Observações


associados
Análise Lírica - Esclarecimento de valores; - não houve investigação sobre os efeitos em
- Aumento de sentimentos positivos; longo prazo destas ações.
- Reconhecimento de problemas;
- Desejo de ajuda;
- Prontidão para o tratamento;
- Motivação;
- Diminuição de estresse logo após a
atividade;
- Regulação emocionalmente;
- Enfrentamento (coping).
Jogos Rítmicos - Diminuição sintomas depressivos, de
ansiedade, raiva e fissura.
Rockumentary - Melhora de escores de contemplação e
ação,
- Prontidão para a mudança,
- Diminuição de sintomas de fissura.
Composição com - Aumento da autoestima; - fluxo do processo de composição é mais
estrutura pré- - Diminuição da fissura. importante do que o significado da letra nos
estabelecida estágio iniciais de tratamento;
- experiências composicionais não alteraram
significativamente variáveis de culpa,
vergonha, estigma e suporte social.
152

Escuta de música - Redução da probabilidade de recaída; - músicas consideradas saudáveis predisseram


executadas ao vivo - Dessensibilização sistematicamente; melhor coping, aceitação e regulação de
- Diminuição do estresse; humor;
- músicas consideradas nocivas predisseram a
negação, o desabafo e a culpa;
- Músicas “saudáveis” ou “nocivas” não
predisseram sobre abuso de substância,
suporte emocional, desengajamento
comportamental, planejamento ou elaboração
Escuta de músicas positiva.
gravadas - músicas executadas ao vivo são mais
eficientes para o tratamento.

Associação estímulo- - aprendizado de estratégias para lidar com Vincular estímulos sonoros específicos com
movimento. situações de gatilho situacionais; movimentos corporais específicos.
Reação a estímulos - prevenção de recaídas.
acústicos.
Mudança de atenção (1)
Mudança de atenção (2)
Repetição ordenada e
invertida.

Esta lista evidencia técnicas verificadas em estudos que realizaram mensuração


de sua eficácia (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2021). No entanto, indicamos que outras
técnicas de reabilitação cognitiva como as Técnicas da Musicoterapia nas Desordens
Mentais (Houghton et al., 2005) e as 20 Técnicas da Musicoterapia Neurológica (Thaut,
2008) – que apresentam fortes evidências de aplicabilidade em outras populações –
podem ser usadas, bem como as técnicas descritas por Bruscia (2016). O
Rockumentário, por exemplo, é uma técnica que é relatada por Silverman (2011), mas
que pode ser entendida dentro das técnicas Recriativas (Bruscia, 2016); ou ainda as
composições que podem ser feitas a partir da técnica de Treinamento Musical de
Funções Executivas (Musical Executive Function Training – MEFT) (Thaut, 2008).
A seguir propomos uma relação entre os Estágios e Processos de Mudança com
as técnicas musicoterapêuticas elencadas acima, já que, como verificado, têm a
tendência de mobilizar positivamente diferentes aspetos relacionados aos tratamentos
em dependência química, tais como motivação, redução de estresse e estratégias de
enfrentamento.
153

4. Técnicas Musicoterapêuticas relacionadas aos Estágios e Processos de Mudança

No estágio de Pré-Contemplação os pacientes ainda estão resistentes ao


tratamento, com reduzida percepção da necessidade da mudança. Indica-se,
inicialmente, que o trabalho seja a partir das técnicas de Jogos Rítmicos, Análise Lírica,
Escuta Musical, Composição Musical (focando no fluxo do processo) com objetivos de
diminuir níveis de estresse e fissura e aumentar a prontidão para o tratamento, a
motivação e ajudar na regulação emocional.
No estágio de Contemplação, dado que os pacientes já percebem benefícios da
mudança de forma incipiente, porém mostrando indecisão, indica-se o trabalho a partir
análise lírica, “rockumentário” e composição Musical (focando no fluxo do processo)
talvez possam auxiliar na autopercepção, ajudando no começo da formulação de
estratégias de ação e aumentando a autoestima. Técnicas de Reabilitação Cognitiva têm
demonstrado auxiliar no aprendizado de estratégias para lidar com situações de gatilho
situacionais.
Já no estágio de Determinação (ou preparação) a pessoa percebe mais
benefícios na mudança do que os custos associados, mas não mudou ativamente
nenhum comportamento. Aqui, Análises Líricas objetivando motivação e indicando
estratégias de enfrentamento, bem como Composições Musicais com vias da autoestima
e exercícios de Reabilitação Cognitiva voltados à prevenção de recaídas podem vir a
auxiliar em vivificar e materializar as estratégias de mudança ensejadas.
Quando a pessoa se comporta de maneiras novas e congruentes com a mudança
objetivada, identificamos o estágio de Ação. Aqui, principalmente as atividades de
Reabilitação Cognitiva poderão assessorar no comprometimento para se colocar as
crenças em prática, reaprender comportamentos saudáveis e buscar carinho, confiança,
aceitação e suporte da mudança para hábitos saudáveis. O “Rockumentário” também se
mostrou uma importante estratégia para esta etapa.
Por fim, já no estágio de Manutenção, indicam-se todas as experiências e
exercícios musicais propostos aqui, com objetivos de prevenção à recaída e promovendo
reforços aos comportamentos adquiridos, consolidando os ganhos obtidos durante a
ação e promovendo momentos de alívio emocional bem como fortalecendo os aspectos
sociais conquistados.
154

5. Planejamento de sessão para a aplicação da Escala de Avaliação dos Efeitos da


Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ)

Para a aplicação da escala de avaliação proposta neste trabalho contemple as


técnicas indicadas. Sugerimos que se faça um planejamento de sessão que contemple as
técnicas musicoterapêuticas e musicais utilizadas como disparadores para os itens. Estas
técnicas já foram testadas e revisadas em Pedrosa, Garcia, Pedrosa (2022a) e – no que
pese não ser possível generalizar os dados encontrados pelos estudos – apresentaram
bons indícios de aplicabilidade.
Desta forma, baseando-nos em Moriá e Cordeiro (2017, p.70), apresentamos um
modelo de planejamento que informa a necessidade de uso destas técnicas. No entanto,
a ordem destas, sublinhadas no quadro abaixo, pode ser alterada a cada sessão, de
acordo com as colocações dos participantes. Além disso, é importante que as ações
planejadas encorajem: 1) o uso de música na rotina diária; 2) estimulem a manifestação
de opinião sobre a sociedade e dos próprios sentimentos e 3) direcionem a reflexão e
discussões sobre temas tratados nas músicas utilizadas.
Ao final, apresentamos um formato de relatório sucinto que possibilita registros
mais qualitativos das do grupo, bem como o registro da fundamentação teórica que
embasaram as intervenções musicoterapêuticas.

Plano de atendimento em Musicoterapia na Dependência Química

Data: Condutor: Apoio:

Participantes:

Objetivo da Sessão:

Materiais:

Técnicas Descrição Objetivos

Aquecimento

Escuta Musical
155

Análise Lírica

Composição Musical

Finalização

Relatório

Observações

Fundamentação teórica

Responsável pelo relatório

Referências Bibliográfica

6. Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência


Química (MTDQ)

A Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência


Química foi baseada na versão brasileira da Processes of Change Questionnaire-PCQ
(PROCHASKA et al., 1988), chamada Escala de Processos de Mudança
(SZUPSZYNSKI, 2012) composta de 20 itens. Tal instrumento verifica quais são os
processos de mudança que os indivíduos articularam na última semana e, portanto,
informam em qual Estágio de Mudança estes se encontram.
Abaixo segue o modelo do questionário. Para a pontuação da escala, indicamos a
mesma fórmula da escala original (UMBC, 2022), ou seja:
1) Para obter uma pontuação média do fator geral do Processo de Mudança,
some as pontuações de todos os itens, com exceção ao item 12, e divida por 19;
2) Para obter uma pontuação média dos Processos Experienciais, some as
pontuações dos itens pestencentes ao fator Processos Cognitivos e divida por 7. Isso
inclui os itens 3, 4, 7, 8, 12, 14, e 20;
3) Para obter uma pontuação média dos Processos Comportamentais, some as
pontuações dos itens pertencentes ao fator Processos Comportamentais e divida por 9.
Isso inclui os itens 1, 6, 10, 11, 13, 16, 17, 18 e 19.

Questionário 2: Versão 1 da Escala de Avaliação para Musicoterapia de Grupo na Dependência Química.


Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (Versão 1)
156
INSTRUÇÕES
Por favor, leia cada afirmação abaixo e marque um X na coluna a direita que indique com qual frequência você se enquadra nessas situações.
Lembre que estas descrições se referem a atitudes ou pensamentos que você pode ter passado nos últimos dias.

Nome: ________________________________________

1) Eu uso música para me recompensar quando eu abro mão do meu desejo de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

2) O grupo de musicoterapia me ajuda a me expressar sobre os meus problemas relacionados com drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

3) O grupo de musicoterapia me faz pensar sobre as possíveis doenças causadas pelo consumo de drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

4) O grupo de musicoterapia me faz perceber que as pessoas à minha volta seriam melhores comigo se eu não tivesse Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
problemas com drogas?
5) Ouvi falar que a música pode me ajudar a parar de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

6) A música me ajuda a pensar em outras coisas quando eu começo a pensar em usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

7) Acho que a sociedade está criando alternativas terapêuticas que facilitam a superação do meu problema com drogas, como a Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
musicoterapia?
8) O grupo de musicoterapia me faz perceber como eu fico decepcionado comigo mesmo quando dependo de drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

9) Eu procuro no grupo de musicoterapia informações relacionadas ao meu problema com as drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

10) Algumas músicas me ajudam a lembrar de não usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

11) Encontro no grupo de musicoterapia pessoas com as quais eu posso contar para me ajudar quando eu estou tendo Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
problemas com drogas?
12) Músicas sobre drogas e seus efeitos me incomodam? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

13) Nas minhas composições musicais eu falo para mim mesmo que se eu tentar com empenho, posso deixar de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

14) O grupo de musicoterapia me ajuda a pensar sobre o quanto as pessoas que estão a minha volta sofrem com meu uso de Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
drogas?
15) O grupo de musicoterapia me faz sentir mais forte e competente para decidir abandonar as drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

16) O grupo de musicoterapia me ajuda a distanciar dos locais que geralmente estão associados ao meu uso das drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

17) Eu acho que escutar ou fazer música é um bom substituto para o uso de drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

18) Eu participo do grupo de musicoterapia e me sinto recompensado por não usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

19) O grupo de musicoterapia me ajuda a fazer um compromisso comigo mesmo de parar de usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre

20) Discutimos no grupo de musicoterapia como a sociedade tenta ajudar as pessoas a não usar drogas? Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Sempre
157

7. Referências bibliográficas

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Souza, C. D. (2017). Instrumentos de avaliação do Modelo Transteórico de Mudança. In: Por
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comportamento na prática vlínica e na Promoção de Saúde. Novo Hamburgo:Sinopsys.

Pedrosa, F. G..; Garcia, F.G.; Loureiro, C.M.V. (2022). Musicoterapia na Dependência


Química: Uma Revisão Integrativa. In: Revista Música Hodie. No prelo.

Prochaska, J.O.; DiClemente, C. (1982).Transtheoretical therapy: Toward a more integrative


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and Craving With Inpatients on a Detoxification Unit: A Cluster-Randomized Effectiveness
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drug-conditioned cues: a pilot study. The Arts in Psychotherapy. Disponível em:
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Thaut, M.; Hoemberg, V. (2008). Handbook of neurologic music therapy. Nova York: Oxford
University Press.

Velasquez, M.; Maurer, G.; Crouch, C.; Diclemente, C. (2001). Group treatment for
substance abuse: a stages-of- change therapy manual. New York: The Guilford Press.
160

Apêndice C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Prezado(a) Senhor(a),

O(a) Sr(a). está sendo convidado a participar da pesquisa: “Protocolo de Avaliação na Terapia de Grupo em
Musicoterapia na Dependência Química” que tem por objetivo construir um instrumento de avaliação de grupos de
Musicoterapia nos tratamentos de Dependência Química.
Essa pesquisa será realizada com pessoas adultas de ambos sexos (com identificação de qualquer gênero),
diagnosticados com dependência química, maiores de idade, frequentadores dos grupos de musicoterapia ofertados
em atendimentos da rede de saúde mental de Belo Horizonte/MG . Não participarão da pesquisa pessoas que não se
enquadram no referido diagnóstico ou que, a qualquer momento e por qualquer motivo, não queiram participar da
pesquisa.
Sua participação no estudo se dará em grupos de atendimentos musicoterapêuticos e ao responder algumas
questões sobre tais atendimentos. Os grupos terão duração de, mais ou menos, 50 minutos. Os riscos com essa
pesquisa são mínimos, sendo que o sr. pode se sentir desconfortável em responder alguma pergunta ou com a
participação nos grupos de musicoterapia, mas o(a) sr(a). tem a liberdade de não responder ou interromper a
entrevista e/ou participação em qualquer momento, sem nenhum prejuízo para seu atendimento. É garantido o
direito a indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa, pelo pesquisador. Sua participação no
estudo não implicará em custos adicionais, não terá qualquer despesa com a realização dos procedimentos previstos
neste estudo. Também não haverá nenhuma forma de pagamento pela sua participação.
O(a) Sr(a). tem a liberdade de não participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer momento,
mesmo após o início da entrevista ou dos grupos de musicoterapia, sem qualquer prejuízo. Está assegurada a garantia
do sigilo das suas informações. O(a) Sr(a). não terá nenhuma despesa e não há compensação financeira relacionada à
sua participação na pesquisa.
Caso tenha alguma dúvida sobre a pesquisa o(a) sr(a). poderá entrar em contato com o coordenador
responsável pelo estudo: Frederico Gonçalves Pedrosa, que pode ser localizado no Escola de Música da UFMG (31-
3409-4700) das 14 às 22h ou pelo e-mail frederico.musicoterapia@gmail.com.
Em caso de dúvidas éticas, o participante pode se dirigir ao COEP/UFMG localizado à Av. Presidente Antônio
Carlos, 6627, Pampulha - Belo Horizonte - MG - CEP 31270-901, Unidade Administrativa II - 2º Andar - Sala: 2005,
acessar através do e-mail coep@prpq.ufmg.br ou telefone (31) 3409-4592. Também poderá acessar o CEP/SMSA,
localizado à Rua Frederico Bracher Junior, 103 – 3º andar/sala 2 – Padre Eustáquio – CEP: 30.720-000, com o horário
de funcionamento: 9h às 15h - (31) 3277-5309, através do e-mail coep@pbh.gov.br ou pelo site
https://prefeitura.pbh.gov.br/saude/informacoes/educacao-em-saude/comite-de-etica-em-saude.
Sua participação é importante e voluntária e vai gerar informações que serão úteis para indicar melhores
tratamentos musicoterapêuticos para tratar das dependências químicas.
Este termo será assinado em duas vias, pelo senhor e pelo responsável pela pesquisa, ficando uma via em seu
poder.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito do que li ou foi lido para mim, sobre a pesquisa:
"Protocolo de Avaliação na Terapia de Grupo em Musicoterapia na Dependência Química". Discuti com o
pesquisador Frederico Gonçalves Pedrosa ou com seu substituto, responsável pela pesquisa, sobre minha decisão
em participar do estudo. Ficaram claros para mim os propósitos do estudo, os procedimentos, garantias de sigilo, de
esclarecimentos permanentes e isenção de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo.

_____________________________ __/__/____
Assinatura do entrevistado

Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deste
entrevistado para a sua participação neste estudo.

________________________________ __/____/____
Assinatura do responsável pelo estudo.
161

Apêndice D: Sintaxe

# Carregar e preparar os dados -----------------------------


library(readxl)
dado <- read_excel("dados.xlsx")
names(dado) <- c("id", paste0("i", c(1:20)) , "idade", "genero")
library(dplyr)
glimpse(dado)

# Participantes -----------------------------
nrow(dado)

library(psych)
describe(dado$idade)
# Media = 44.7, DP = 12.7, min = 18 e max = 69. Obs: 12 missings nesta variavel

describe(dado$genero)
#77% homens

#Distribuicao dos itens


media_itens_FG <- mean(describe(dado[c(-1, -22, -23)])$mean)
media_itens_cog <- mean(describe(dado[c(4, 5, 6, 8, 9, 10, 13, 15, 16, 21)])$mean)
media_itens_com <- mean(describe(dado[c(2, 3, 7, 11, 12, 14, 17, 18, 19, 20)])$mean)

# Analise de normalidade multivariada -----------------------------


library(MVN)
mvn(dado[2:21], mvnTest = "mardia")

# AFC: modelo unidimensional de um fator geral -----------------------------


library(semTools)
library(lavaan)

modelo_uni <- '


geral =~ i1 + i2 + i3 + i4 + i5 + i6 + i7 + i8 + i9 + i10 +
i11 + i12 + i13 + i14 + i15 + i16 + i17 + i18 + i19 + i20'

fit_modelo_uni <- cfa(modelo_uni, data = dado, ordered = T,


estimator = "WLSMV", std.lv=TRUE)

fitMeasures(fit_modelo_uni, fit.measures = c("chisq","df","cfi", "rmsea",


"rmsea.ci.lower", "rmsea.ci.upper"))

summary(fit_modelo_uni, fit.measures = TRUE, standardized = T)

# Estatisticas descritivas das cargas fatoriais:


cargas_modelo_uni <- standardizedsolution(fit_modelo_uni, type = "std.all")
round(cargas_modelo_uni[1:20, ] %>% select("est.std") %>%
summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

# Confiabilidade
round(reliability(fit_modelo_uni), 2)
source("comp_reliability.R")
comp_reliability(fit_modelo_uni)

# Plot do modelo
library(semPlot)
png("plot_modelo1.png", height = 12, width = 15, units = 'cm', res=600)
par(mfrow=c(1,1))
semplot_modelo <-
semPaths(fit_modelo_uni,"std",layout="circle",residuals=F,sizeLat=14,sizeLat2=14,edge.co
162

lor="black",edge.label.cex=1.4,
mar=c(2.0, 2.0, 2.0, 2.0),esize=7,curvePivot = F,
intercepts=F,thresholds = F,
nCharNodes=0,sizeMan=8, edge.label.position=0.5,
nodeLabels = c("1" , "2", "3", "4", "5","6","7", "8", "9",
"10",
"11", "12", "13", "14", "15", "16", "17",
"18",
"19", "20", "geral"))
dev.off()

# AFC: modelo com os dois fatores correlacionados -----------------------------

modelo_2f <- '


cog =~ i3 + i4 + i5 + i7 + i8 + i9 + i12 + i14 + i15 + i20
com =~ i1 + i2 + i6 + i10 + i11 + i13 + i16 + i17 + i18 + i19
'
fit_modelo_2f <- cfa(modelo_2f, data = dado, ordered = T,
estimator = "WLSMV", std.lv=TRUE)

fitMeasures(fit_modelo_2f, fit.measures = c("chisq","df","cfi", "rmsea",


"rmsea.ci.lower", "rmsea.ci.upper"))

summary(fit_modelo_2f, fit.measures = TRUE, standardized = T)

# Estatisticas descritivas das cargas fatoriais:


cargas_fit_modelo_2f <- standardizedsolution(fit_modelo_2f, type = "std.all")
round(cargas_fit_modelo_2f[1:10, ] %>% select("est.std") %>%
summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

round(cargas_fit_modelo_2f[11:20, ] %>% select("est.std") %>%


summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

# Confiabilidade
round(reliability(fit_modelo_2f), 2)
source("comp_reliability.R")
comp_reliability(fit_modelo_2f)

# Plot do modelo
library(semPlot)
png("plot_modelo2.png", height = 12, width = 15, units = 'cm', res=600)
par(mfrow=c(1,1))
semplot_modelo <-
semPaths(fit_modelo_2f,"std",layout="circle",residuals=F,sizeLat=14,sizeLat2=14,edge.col
or="black",edge.label.cex=1.4,
mar=c(2.5, 2.5, 2.5, 2.5),esize=7,curvePivot = T,
intercepts=F,thresholds = F,
nCharNodes=0,sizeMan=8, edge.label.position=0.5,
nodeLabels = c("3", "4", "5", "7", "8",
"9","12","14","15","20",
"1", "2","6","10", "11", "13", "16", "17",
"18", "19",
"COG", "COM"))
dev.off()

# AFC: modelo bifatorial com todos os fatores ortogonalizados entre si -----------------

modelo_bifatorial <- '


163

cog =~ i3 + i4 + i5 + i7 + i8 + i9 + i12 + i14 + i15 + i20


com =~ i1 + i2 + i6 + i10 + i11 + i13 + i16 + i17 + i18 + i19

geral =~ i1 + i2 + i3 + i4 + i5 + i6 + i7 + i8 + i9 + i10 +
i11 + i12 + i13 + i14 + i15 + i16 + i17 + i18 + i19 + i20

'

fit_modelo_bifatorial <- cfa(modelo_bifatorial, data = dado, ordered = T, orthogonal =


T,
estimator = "WLSMV", std.lv=T)

fitMeasures(fit_modelo_bifatorial, fit.measures = c("chisq","df","cfi", "rmsea",


"rmsea.ci.lower", "rmsea.ci.upper"))

summary(fit_modelo_bifatorial, fit.measures = TRUE, standardized = T)

# Estatisticas descritivas das cargas fatoriais:


cargas_fit_fit_modelo_bifatorial <- standardizedsolution(fit_modelo_bifatorial, type =
"std.all")
round(cargas_fit_fit_modelo_bifatorial[1:10, ] %>% select("est.std") %>%
summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

cargas_fit_fit_modelo_bifatorial <- standardizedsolution(fit_modelo_bifatorial, type =


"std.all")
round(cargas_fit_fit_modelo_bifatorial[11:20, ] %>% select("est.std") %>%
summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

round(cargas_fit_fit_modelo_bifatorial[21:40, ] %>% select("est.std") %>%


summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

# Confiabilidade das variaveis latentes do modelo


round(reliability(fit_modelo_bifatorial), 2)
source("comp_reliability.R")
comp_reliability(fit_modelo_bifatorial)

# Plot do modelo
library(semPlot)
png("plot_modelo_bifatorial.png", height = 12, width = 15, units = 'cm', res=600)
par(mfrow=c(1,1))
semplot_modelo <-
semPaths(fit_modelo_bifatorial,"std",layout="tree2",residuals=F,sizeLat=10,sizeLat2=10,e
dge.color="black",edge.label.cex=0.8,
mar=c(2, 2, 2, 2),esize=4,curvePivot = F,
intercepts=F,thresholds = F,
nCharNodes=0,sizeMan=3.5, edge.label.position=0.85, bifactor
= "geral",)
dev.off()

######### correcao das cargas fatoriais negativas para zero no modelo bifatorial########
########################################################################################

# AFC: modelo bifatorial com todos os fatores ortogonalizados entre si -----------------


------------
modelo_bifatorial <- '
cog =~ i3 + i4 + 0*i5 + i7 + i8 + 0*i9 + i12 + i14 + 0*i15 + i20
com =~ i1 + 0*i2 + i6 + i10 + i11 + i13 + i16 + i17 + i18 + i19
geral =~ i1 + i2 + i3 + i4 + i5 + i6 + i7 + i8 + i9 + i10 +
164

i11 + 0*i12 + i13 + i14 + i15 + i16 + i17 + i18 + i19 + i20
'

fit_modelo_bifatorial <- cfa(modelo_bifatorial, data = dado, ordered = T, orthogonal =


T,
estimator = "WLSMV", std.lv=T)

fitMeasures(fit_modelo_bifatorial, fit.measures = c("chisq","df","cfi", "rmsea",


"rmsea.ci.lower", "rmsea.ci.upper"))

summary(fit_modelo_bifatorial, fit.measures = TRUE, standardized = T,rsquare = T)

# Estatisticas descritivas das cargas fatoriais:


cargas_fit_fit_modelo_bifatorial <- standardizedsolution(fit_modelo_bifatorial, type =
"std.all")
round(cargas_fit_fit_modelo_bifatorial[1:10, ] %>% select("est.std") %>%
summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

cargas_fit_fit_modelo_bifatorial <- standardizedsolution(fit_modelo_bifatorial, type =


"std.all")
round(cargas_fit_fit_modelo_bifatorial[11:20, ] %>% select("est.std") %>%
summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

round(cargas_fit_fit_modelo_bifatorial[21:40, ] %>% select("est.std") %>%


summarise(media = mean(abs(est.std)), sd = sd(abs(est.std)),
min = min(abs(est.std)), max = max(abs(est.std))), 2)

# Confiabilidade das variaveis latentes do modelo


round(reliability(fit_modelo_bifatorial), 2)
source("comp_reliability.R")
comp_reliability(fit_modelo_bifatorial)

# Plot do modelo
library(semPlot)
png("plot_modelo_bifatorial.png", height = 12, width = 15, units = 'cm', res=600)
par(mfrow=c(1,1))
semplot_modelo <-
semPaths(fit_modelo_bifatorial,"std",layout="tree2",residuals=F,sizeLat=10,sizeLat2=10,e
dge.color="black",edge.label.cex=0.8,
mar=c(2, 2, 2, 2),esize=4,curvePivot = F,
intercepts=F,thresholds = F,
nCharNodes=0,sizeMan=3.5, edge.label.position=0.85, bifactor
= "geral",)
dev.off()

# Teste de Satorra (2000)


lavTestLRT(fit_modelo_uni, fit_modelo_2f, fit_modelo_bifatorial)

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