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LAURA CANDIA DUARTE FRAGA - 1º ANO BACH.

EM CANTO

Dossiê 1º Semestre

Finalidade:

Os Dossiês de Repertório possuem como objetivo fundamental possibilitar aos


estudantes uma oportunidade de aprofundamento prático-teórico a respeito do
repertório a ser executado em suas bancas individuais de canto .

● Chiquinha Gonzaga - Lua Branca


● Noel Rosa e Vadico - Conversa de Botequim
● Noel Rosa e Vadico - Feitio de Oração
● Henricão e Rubens Campos / Ernesto Nazareth (Arranjo Luís Leite) -
Marambaia/Odeon

Chiquinha Gonzaga - Lua Branca


Letra de autor desconhecido

Oh! Lua branca de fulgores e de encanto


Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar esta paixão que anda comigo
Ai, por quem és, desce do céu… Oh! Lua branca,
Essa amargura do meu peito… Oh! Vem, arranca
Dá-me o luar da tua compaixão
Oh! Vem, por Deus, iluminar meu coração.
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
A sua luz, então, me surpreendia
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo.
Ela partiu, me abandonou assim…
Oh! Lua Branca, por quem és, tem dó de mim.

Características estilísticas e contexto histórico-social:

“Lua Branca" é uma das composições mais conhecidas de Chiquinha Gonzaga. Essa música
tem uma história cercada de mistério. Ela foi escrita para a peça burlesca chamada
Forrodobó, que foi apresentada no Teatro São José em junho de 1912. Era uma modinha
cantada pelas personagens Sá Zeferina e Escandanhas, mantendo o tom caricato da peça.
Em 1929, apareceu uma versão romântica com o título "Lua branca", gravada pelo cantor
Gastão Formenti, mas até hoje não se sabe ao certo quem escreveu a letra e deu o novo
título. Entre essas duas versões, houve um "arranjo" em disco intitulado "Lua de fulgores",
pelo cantor R. Ricciardi (pseudônimo do paulista Paraguassu). No entanto, a versão gravada
por Gastão Formenti, acompanhado ao piano pelo professor J. Otaviano, e a edição das
Irmãos Vitale com a harmonização feita pelo pianista se tornaram as mais famosas.
Chiquinha Gonzaga teve que reclamar a autoria da modinha, denunciando o plágio e
obtendo a vitória através da SBAT, entidade fundada por ela. A versão original foi gravada
como cena cômica por Pinto Filho e Maria Vidal em 1930, com o título de "Sá Zeferina".
Além disso, a melodia original com versos de Paulo César Pinheiro, intitulada "Serenata de
uma mulher", foi gravada por Olívia Hime em 1998. A versão canonizada como "Lua branca"
possui inúmeros registros fonográficos por cantores e instrumentistas, incluindo Paulo
Tapajós, Paulo Fortes, Maria Bethânia Rosemary, Vânia Carvalho, Maria Bethânia, Verônica
Sabino, Leila Pinheiro, Joana, Alessandra Maestrini, Antonio Adolfo, Eudóxia de Barros,
Rosária Gatti, Marcus Vianna, Maria Teresa Madeira e Leandro Braga.

Noel Rosa e Vadico - Conversa de Botequim

Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa


Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

Se você ficar limpando a mesa


Não me levanto nem pago a despesa
Vá pedir ao seu patrão
Uma caneta, um tinteiro
Um envelope e um cartão
Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro
Que me empreste umas revistas
Um isqueiro e um cinzeiro

Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa


Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

Telefone ao menos uma vez


Para três quatro, quatro, três, três, três
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório
Seu garçom me empresta algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure esta despesa
No cabide ali em frente

Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa


Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol

Características estilísticas e contexto histórico-social:

“Conversa de Botequim" é um samba-canção composto por Noel Rosa e Vadico, lançado em


1935. A música retrata a atmosfera de um botequim, abordando de forma irônica as
conversas e fofocas que ocorrem nesses ambientes, com destaque para os dramas
amorosos. No contexto histórico-social, foi lançada durante a "Era de Ouro do Rádio",
período de efervescência cultural no Brasil. Reflete a realidade social da época, abordando a
vida boêmia e os relacionamentos instáveis. Tornou-se um clássico do cancioneiro
brasileiro, obra-prima de Noel Rosa e Vadico.
Ref:
https://revistadochoro.com/artigos/nao-e-conversa-de-botequim-seu-garcom-leonor-bianchi
-este-ano-celebramos-os-110-anos-de-um-dos-maiores-colaboradores-para-a-construcao-do-
samba-tal-qual-conhecemos-hoje-e-tambem-do-samba-de-breque/

Feitio de oração - Noel Rosa e Vadico

Quem acha vive se perdendo


Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que, por infelicidade,
Meu pobre peito invade
Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha
Vou mandar minha morena
Pra cantar com satisfação
E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba em feito de oração
O samba na realidade não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce do coração.

"Feitio de Oração" é uma das composições mais emblemáticas da parceria entre Noel Rosa
e Vadico. Lançada em 1933, a música é um exemplo do estilo característico do samba de
partido alto. Com uma melodia envolvente e letras bem-humoradas, a música retrata a vida
boêmia e as relações amorosas do Rio de Janeiro da época. O "feitio de oração"
mencionado na música pode ser interpretado como uma metáfora para a irresistível atração
que uma mulher exerce sobre o protagonista, levando-o a uma devoção apaixonada.

No contexto histórico-social, é importante destacar que a década de 1930 foi marcada por
transformações políticas e sociais no Brasil. O país estava sob o regime de Getúlio Vargas,
que implementava políticas de modernização e centralização do poder. No campo cultural,
havia um intenso movimento de renovação da música popular brasileira, com a valorização
do samba como expressão genuína da identidade nacional.

Com um estilo característico do samba de partido alto, a música se destaca pela melodia
envolvente e letras bem-humoradas. No contexto histórico-social da época, a música refletia
as transformações políticas e sociais do país, ao mesmo tempo em que valorizava a cultura
popular e o samba como expressão da identidade brasileira.

Marambaia/Odeon
Henricão e Rubens Campos / Ernesto Nazareth (Arranjo Luís Leite)

Eu tenho uma casinha lá na Marambaia


Fica na beira da praia
Só vendo que beleza
Tem uma trepadeira que na primavera
Fica toda florescida de brincos de princesa

Quando chega o verão, eu sento na varanda


Pego o meu violão e começo a cantar
E o meu moreno, que tá sempre bem disposto
Senta ao meu lado e começa a cantar

Eu tenho uma casinha lá na Marambaia


Fica na beira da praia
Só vendo que beleza
Tem uma trepadeira que na primavera
Fica toda florescida de brincos de princesa

Quando chega o verão, eu sento na varanda


Pego o meu violão e começo a cantar
E o meu moreno, que tá sempre bem disposto
Senta ao meu lado e começa a cantar

Quando chega a tarde um bando de andorinhas


Voa em revoada fazendo verão
E lá na mata, o sabiá gorjeia
Linda melodia pra alegrar meu coração

Às seis horas o sino da capela


Toca as badaladas da Ave-Maria
A lua nasce por detrás da serra
Anunciando que acabou o dia

Ai, quem me dera o meu chorinho


Tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
Quando ouvia ele fazer tanto chorado
Ai, nem me lembro há tanto, tanto
Todo o encanto de um passado
Que era lindo, era triste, era bom
Igualzinho a um chorinho chamado Odeon

"Só Vendo Que Beleza" é um samba-exaltação lançado em 1952, que reflete o contexto
sociopolítico da época. Com uma melodia alegre e ritmo contagiante, a música exalta as
belezas do Brasil, destacando sua natureza exuberante e diversidade cultural. A década de
1950 foi marcada pelo otimismo e desenvolvimento do país, com o governo de Juscelino
Kubitschek e a "Era Vargas" de industrialização. A canção celebra as virtudes do Brasil e
reflete o momento de euforia nacionalista e progresso econômico.

Já "Odeon", composta por Ernesto Nazareth em 1910, também tem suas raízes
histórico-sociais. O choro, gênero musical característico do Brasil, representava a cultura
popular em meio ao florescimento da Belle Époque no país. Ernesto Nazareth, com sua
composição, contribuiu para a consolidação do choro como um gênero musical
genuinamente brasileiro. O contexto histórico da época foi marcado por uma fase de
prosperidade econômica e transformações culturais.

Em junho de 2019, Mônica Salmaso e Luis Leite realizaram uma apresentação marcante,
resgatando essas composições e levando-as ao público. A interpretação de "Marambaia" e
"Odeon" destacou a riqueza da música brasileira e a habilidade artística de Salmaso e Leite.
O evento aconteceu na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, e trouxe à tona a
importância histórica e sociopolítica dessas canções, reforçando sua relevância cultural até
os dias atuais.

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