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19 de fevereiro de 2023
Júlio César Graves
19 de fevereiro de 2023
Graves, Júlio César
Introdução à teoria analítica dos números / Júlio César Graves. –
São José dos Campos, 2023.
xiii, 145f.
iii
Júlio César Graves
Presidente da banca:
Banca examinadora:
iv
Dedico esse trabalho a todos àqueles que perderam entes queridos durante a pandemia em
decorrência da negação da ciência, e luto para que a ciência não seja usada indevidamente
para manipulação da opinião pública.
v
Agradecimentos
Agradeço ao suporte do Prof. Dr. Robson Oliveira da Silva, por suporte semanal no
desenvolvimento do conteúdo apresentado.
Agradeço aos meus pais por terem me apoiado em todas minhas decisões desde a mais tenra
infância.
Agradeço por fim a minha esposa Laís Rangel Tsujimoto pelo apoio incondicional.
vi
Mathematicians have tried in vain to this day to discover some order in the sequence of prime
numbers, and we have reason to believe that it is a mystery into which the human mind will
never penetrate.
Leonhard Euler
viii
Resumo
Esse trabalho trata de noções fundamentais de Teoria Analítica dos Números, cobrindo
tópicos como funções aritmética e algumas propriedades, exemplos de funções aritméticas
relevantes para a teoria dos números, além de funções especiais como zeta de Riemann, gama
e do número harmônico. No trabalho, foram enunciados teoremas e identidades relevantes
para a análise de comportamento assintótico de funções aritméticas como a Identidade de
Abel e Soma de Euler, usando dos conceitos da constante e Euler-Masheroni generalizada
e das notações Big-O. Usando propriedades de grupos, o conceito de Caráter é introduzido
com suas propriedades. Para funções aritméticas periódicas, enunciamos o teorema da
interpolação de Lagrange, as expansões finitas de Fourier, as somas de Ramanujan e as somas
de Gauss. Na sequência, tratamos das séries de Dirichlet, seus semiplanos de convergência,
sua forma exponencial e valor médio. Entao discutimos as funções L de Dirichlet e zeta
de Hurwitz com objetivo de estender analiticamente a função zeta de Riemann, culminando
nos números de Bernoulli. Por fim, introduzimos uma forma não convencional de definir
derivação em funções aritméticas, denominada derivação discreta. Nesse tópico, propomos
métodos para encontrar fórmulas fechadas para somas finitas e convergência para limites
complicados, além de definir somas indefinidas e uma notação diferente para potências. Tal
notação nos permitiu usar propriedades de derivação similares as do cálculo convencional,
mas aplicados a somatórios, parecendo promissor.
Palavras-chave: Teoria Analítica dos números, Cálculo discreto, Caráteres, Funções Aritméticas
ix
Abstract
In this work, the authors present a comprehensive introduction to the fundamental concepts
of number theory. The topics covered include arithmetic functions and their interesting
properties, examples of arithmetic functions relevant to number theory, and special functions
such as Riemann’s zeta, the gamma function, and the harmonic number.
The authors then delve into a set of theorems and identities that allow the analysis of the
asymptotic behavior of arithmetic functions, including Abel’s Identity and Euler’s Sum,
using the concepts of generalized Euler-Masheroni’s constant and Big-O notations. They
also introduce the concept of Characters, including their properties, by taking advantage of
group properties.
For periodic arithmetic functions, the authors present Lagrange’s interpolation theorem,
finite Fourier expansions, and the Ramanujan and Gauss sums. Additionally, they introduce
Dirichlet’s series, covering topics such as the semi-plan of convergence, exponential formu-
lation, and mean value. The authors then introduce Hurwitz’s zeta and Dirichlet L functions,
driving the definition of Bernoulli’s numbers and polynomials, to cover the analytical ex-
tension of Riemann’s zeta.
Finally, the authors present an unconventional way of defining derivation in arithmetic
functions, called discrete derivation. In this topic, they propose methods to find closed
formulas for finite and infinite sums, evaluate complicated limits, and introduce indefinite
sums and a different notation for powers. This notation shows promising properties, creating
a similarity to conventional calculus, but applied to summations.
x
Sumário
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1
7.3 Equações funcionais para zeta de Riemann, zeta de Hurwitz e L de Dirichlet . . 108
REFERÊNCIAS 145
Capítulo 1
Introdução
O objetivo principal deste trabalho é introduzir o leitor à Teoria Analítica dos Números. A
proposta é iniciar com o conceito de funções aritméticas.
"Uma função de uma variável é uma expressão analítica composta por quantidades
variáveis e números ou quantidades constantes."
função capaz de retornar o 𝑛-ésimo primo; entre outras. Essas funções, ao serem analisadas no
contexto de funções multiplicativas, possuem interconexões interessantes.
Em destaque trataremos de algumas funções aritméticas especiais por serem funções re-
correntes em diversas áreas da matemática e física, mas em particular também são funções
aritméticas. Entre elas a função gama (Γ) que generaliza o operador fatorial; a função zeta de
Riemann (𝜁) que generaliza as somas dos recíprocos; o número harmônico generalizado 𝐻 𝑘(𝑚)
como caso particular da função zeta de Riemann quando tratada como série finita; a função zeta
de Hurwitz (𝜁) que é uma versão modificada da zeta de Riemann; entre outras.
As funções aritméticas têm uma importante aplicação nos estudos dos números primos.
Euler mostrou que existe uma importante relação entre a função zeta de Riemann e o conjunto
de números primos. Mas essa relação se tornou bastante especial quando Riemann estendeu
analiticamente a função zeta para o domínio complexo e conjecturou que todos os zeros não
triviais da função estendida estão sobre a linha, denominada crítica, definida por 𝑥 = 1/2. Em
1914, Godfrey Harold Hardy provou que de fato existem infinitos zeros sobre a linha crítica,
mas descobrir se todos estão nessa região é considerado um dos grandes problemas em aberto
da matemática [3].
Por fim, trataremos das derivadas de funções discretas, que podem ser facilmente conectadas
com funções aritméticas. No Capítulo 8 trataremos de tópicos como falling powers, maneiras
semióticas de escrever polinômios tais que a derivação discreta se assemelhe com a derivada
convencional. Com essa técnica definiremos maneiras de encontrar expressões fechadas para
somatórios complicados sem o uso da indução. A conexão das derivadas discretas com as
funções aritméticas se da naturalmente, pois as falling powers podem ser escritas utilizando-se
da função gama. Ainda com esse conceito podemos construir um limite superior para a função
zeta de Riemann, que se utiliza dos números harmônicos generalizados.
"Uma função de uma variável é uma expressão analítica composta por quantidades
variáveis e números ou quantidades constantes.".
Uma função aritmética, além de ser função, respeita uma condição adicional: O mapeamento
deve partir dos inteiros positivos. A definição segue.
Definição 2.1 (Função Aritmética). Seja X ⊂ N. Uma função 𝑓 (𝑛) é dita Aritmética se
𝑓 : X→
− C. Também são ditas Aritméticas 𝑓 : X →
− Y para todo Y ⊂ C.
Ou seja, uma função que mapeia inteiros positivos em qualquer subconjunto dos complexos
é dita aritmética. Essa definição inclui uma grande variedade de funções conhecidas do cálculo,
caso seja feita uma restrição do domínio. Por exemplo, 𝑓 : R →
− R tal que 𝑓 (𝑥) = sen(𝑥) se torna
aritmética se restrita aos inteiros positivos, 𝑓 : N →
− R tal que 𝑓 (𝑛) = sen(𝑛). Por convenção
utilizaremos da variável 𝑛 toda vez que se tratar do domínio restrito.
Essa simples definição traz consigo propriedades diretas. Uma delas é o fato que a com-
binação linear de funções aritméticas também é aritmética assim como o produto de funções
aritméticas.
Lema 2.2. Se 𝛼 e 𝛽 são números complexos e 𝑎(𝑛) e 𝑏(𝑛) funções aritméticas, então são
funções aritméticas:
2.1 Função Aritmética 5
As funções aritméticas podem ser bastante simples e mesmo assim esconder enigmas
interessantes (como veremos mais a frente com a função gama). Mas antes disso, avaliemos
uma função aritmética extremamente simples que possui uma propriedade peculiar. O exemplo
a seguir trata de uma função geradora de primos que para todo entrada menor do que 41, sua
saída é um número primo.
Exemplo 2.3 (Função geradora de primos de Euler). Há registros históricos e muitos artigos
que propõem funções aritméticas como geradoras de primos. Em [1] existe uma grande lista
destas funções. Um exemplo é a seguinte função aritmética:
Note que para todo 𝑛 < 41, 𝑓 (𝑛) é primo. É evidente que para 𝑛 = 41 não, pois 41|𝑛2 e 41|𝑛,
dividindo assim todos os termos que compoem 𝑓 (𝑛).
Tabela 2.1: Exemplos de primos gerados pela função geradora de primos para 𝑛 < 41.
𝒏 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝒇 (𝒏) 43 47 53 61 71 83 97 113 131 151
𝒏 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
𝒇 (𝒏) 173 197 223 251 281 313 347 383 421 461
𝒏 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
𝒇 (𝒏) 503 547 593 641 691 743 797 853 911 971
𝒏 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
𝒇 (𝒏) 1033 1097 1163 1231 1301 1373 1447 1523 1601 1681
Exemplos mais interessantes de funções aritméticas podem envolver somatórios sobre divi-
sores, sobre números primos, números relativamente primos, ou qualquer outro operador sobre
os inteiros positivos. Na próxima seção veremos algumas funções aritméticas que aparecem
com frequência nas literaturas de teoria dos números.
2.2 Algumas funções aritméticas 6
Em teoria dos números, divisibilidade, primalidade relativa, e por fim números primos são
assuntos de extrema relevância. Nesse contexto, funções aritmética que operam sobre nestas
restrições são tópicos de estudo recorrente. O objetivo desta seção é introduzir o leitor à algumas
destas funções.
pois para cada posição ocupada por cada primo 𝑝𝑖 temos 𝑎𝑖 +1 possibilidades de formar diferentes
divisores, ou ainda:
∑︁ 𝑘
Ö
𝜏(𝑛) = 1 = (𝑎 1 + 1) · (𝑎 2 + 1) · . . . · (𝑎 𝑘 + 1) = (𝑎 𝑘 + 1). (2.4)
𝑑|𝑛 𝑖=1
Definição 2.5 (Soma dos divisores positivos). Outra função aritmética interessante, denominada
𝜎(𝑛), é responsável por retornar a soma de todos os números divisores positivos de um dado
inteiro 𝑛. Por definição,
∑︁
𝜎(𝑛) = 𝑑. (2.5)
𝑑|𝑛
𝑎𝑚
Proposição 2.6. Seja 𝑛 = 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚 . A soma de seus divisores pode ser representada
por:
∑︁
𝑑 = (1 + 𝑝 1 + . . . + 𝑝 1𝑎1 ) · (1 + 𝑝 2 + . . . + 𝑝 2𝑎2 ) · (1 + 𝑝 𝑚 + . . . + 𝑝 𝑚
𝑎𝑚
). (2.6)
𝑑|𝑛
Exemplo 2.7. Seja 𝑛 = 126. Decomponha-o em fatores primos temos que 21 · 32 · 71 . Então,
Os números que aparecem no desenvolvimento dos produtos são todos os divisores de 126.
Note ainda que 𝜏(126) = (1 + 1) · (1 + 2) · (1 + 1) = 2 · 3 · 2 = 12, o qual é exatamente a quantidade
de termos da soma, após expandirem-se os produtos.
Note que as soma das potências de primos podem ser simplificadas usando progressão
geométrica e dessa forma podemos transformar uma soma sobre os divisores em um produto
sobre os primos, ou seja,
𝑘=𝑚
𝑝 1𝑎1 − 1 𝑝 2𝑎2 − 1 𝑎𝑚 𝑝𝑎 −1
∑︁ 𝑝𝑚 −1
Ö 𝑘
𝑘
𝑑= · ·...· = . (2.8)
𝑝1 − 1 𝑝2 − 1 𝑝𝑚 − 1 𝑝𝑘 − 1
𝑑|𝑛 𝑘=1
Definição 2.8 (Generalização de 𝝈(𝒏) e 𝝉(𝒏)). Defina a função aritmética 𝜎𝑘 (𝑛) como
∑︁
𝜎𝑘 (𝑛) = 𝑑𝑘 (2.9)
𝑑|𝑛
e repare que ela de fato engloba as duas anteriores, pois 𝜎0 (𝑛) = 𝜏(𝑛) e 𝜎1 (𝑛) = 𝜎(𝑛).
Da mesma forma que a função 𝜎, a sua generalização 𝜎𝑘 pode ser escrita em uma fórmula
fechada pela seguinte proposição:
𝑎𝑚
Proposição 2.9. Seja 𝑛 = 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚 . Então
Uma função aritmética extremamente simples, chamada de unidade, é a função que sempre
retorna 1 independentemente da entrada.
Definição 2.10 (Função unidade). Seja 𝑛 ∈ N. A função unidade 𝑢(𝑛) = 1 para todo 𝑛.
Por outro lado, a função cópia, retorna o mesmo valor de sua entrada, ou ainda
Definição 2.11 (Função cópia). Seja 𝑛 ∈ N. A função cópia 𝑁 (𝑛) = 𝑛 para todo 𝑛.
Todo conjunto de funções possui uma função denominada identidade. Para as funções
aritméticas, a identidade é a função que retorna 1 apenas quando a entrada for 1. Para todos os
outros casos ela retorna 0. Uma maneira diferente para definí-la, sem o uso de condicionais, pode
ser expressa com o uso do operador piso ⌊·⌋ como expresso na definição a seguir (o operador
piso retorna o maior inteiro menor do que o argumento do operador).
Uma função aritmética curiosa é a de Liouville. Esta retorna 1 se o argumento for composto
por uma quantidade par de primos (considerando as repetições) e −1 se por uma quantidade
impar. Essa função é importante, pois sua série de Dirichlet se relaciona com a função zeta de
Riemann (que serão apresentados nos próximos capítulos).
na qual 𝛺(𝑛) é a função que conta o número de fatores primos, com multiplicidade, ou seja, se
𝑎𝑚
𝑛 = 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚 , então:
𝑚
∑︁
𝛺(𝑛) = 𝑎𝑖 . (2.13)
𝑖=1
Por outro lado, uma adaptação da função de Liouville gera a função de Möbius, que segue
a mesma lógica, mas apenas se o argumento for livre de primos com multiplicidade 2 (dita livre
de quadrados). Se possui quadrados, a função de Möbius retorna zero. Essa adaptação adiciona
2.2 Algumas funções aritméticas 9
uma propriedade importante para a função, utilizada para inversão de funções aritméticas (o que
será discutido mais a frente).
Outra função aritmética importante é a função 𝜑 de Euler, 𝜑, que para um dado inteiro
ela retorna a quantidade de inteiros relativamente primos menores do que este. Essa função se
torna relevante nos estudos de caráteres, pois ela indica a quantidade de caráteres para uma dada
classe de resíduos, o que será tratado nos próximos capítulos.
A próxima função aritmética é a função de Hans von Mangoldt cuja importância é sua
relação com a função logaritmo em somatório dos divisores de seu argumento de entrada.
Ainda se relaciona com as funções de Cherbyshev e nas séries de Dirichlet calcula o logaritmo
da função zeta de Riemann (que serão tópicos abordados nos próximos capítulos).
ln( 𝑝)
se 𝑛 = 𝑝 𝑘 é potência de um único primo
Λ(𝑛) = (2.16)
0 caso contrário.
Exemplo 2.18. Por exemplo, veja os valores assumidos para alguns inteiros na Tabela 2.2.
Tabela 2.2: Exemplos de valores assumidos pela função Λ de Mangoldt para 𝑛 ≤ 10.
𝒏 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝚲(𝒏) 0 ln(2) ln(3) ln(2) ln(5) 0 ln(7) ln(2) ln(3) 0
contagem de primos, além de serem usadas na demonstração do teorema dos números primos e
de estar estritamente ligada aos zeros não triviais da função zeta de Riemann.
A próxima função aritmética é a função de contagem de primos. Esta função tem seu
particular interesse no estudo da taxa de surgimento de novos primos ao progredir nos inteiros.
Alguns limites importantes derivam desta função, assim como uma versão do logaritmo da
função zeta de Riemann.
Definição 2.21 (Função 𝝅 para contagem de primos). Dado 𝑛 ∈ N a função 𝜋 para contagem de
primos, é definida por
∑︁
𝜋(𝑛) = 1, (2.19)
𝑝≤𝑛
Contar primos é uma operação bastante interessante, mas como criar uma função que detecte
um primo?
As três próximas definições são funções aritméticas muito importantes e trazem consigo as
maiores perguntas do campo de teoria analítica dos números: o Número Harmônico; a função
gama e a função zeta de Riemann. Elas são funções denominadas especiais, pois aparecem de
maneira recorrente na física e matemática.
A função gama nasce de uma tentativa de construir uma função "comportada" que coincida
com a função fatorial. Essa construção denominada continuação analítica criou uma função
capaz de resolver algumas integrais que tem relações interessantes com a função zeta de Riemann,
com problemas de combinatória, entre outros.
2.2 Algumas funções aritméticas 12
Definição 2.26 (Função gama). Dado 𝑠 ∈ C e para todo 𝑠 tal que ℜ(𝑠) > 0, a função gama (Γ),
é definida por
∫∞
Γ(𝑠) = 𝑥 𝑠−1 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥. (2.25)
0
Por fim, a função zeta de Riemann tem relação com um dos problemas mais importantes
em aberto na matemática que trata da distribuição dos números primos (hipótese de Riemann).
Definição 2.27 (Função zeta de Riemann). Dado 𝑛 ∈ N, 𝑠 ∈ C e para todo 𝑠 tal que ℜ(𝑠) > 0 a
função zeta (𝜁) de Riemann, é definida por
∞
∑︁
1
𝑠
se ℜ(𝑠) > 1
𝑛=1 𝑛
𝜁 (𝑠) = 𝑘
∑︁ (2.26)
1 𝑘 1−𝑠 ª
− ® se 0 < ℜ(𝑠) < 1.
©
lim
𝑛𝑠 1 − 𝑠
𝑘→∞
« 𝑛=1 ¬
Uma variante dessa função é a chamada zeta de Hurwitz, que será importante para relacionar
caráteres de Dirichlet, series de Dirichlet e a função zeta de Riemann.
Definição 2.28 (Função zeta de Hurwitz). Dado 𝑛 ∈ N, 𝑠 ∈ C e para todo 𝑠 tal que ℜ(𝑠) > 1 a
função zeta (𝜁) de Hurwitz é definida por
∞
∑︁ 1
𝜁 (𝑠, 𝑎) = . (2.27)
(𝑛 + 𝑎) 𝑠
𝑛=0
Definição 2.29 (Função zeta de Riemann periódica). Dado 𝑛 ∈ N, 𝑎 ∈ R e para todo 𝑠 tal que
ℜ(𝑠) > 1 a função zeta (𝜁) de Riemann periódica é definida por
∞
∑︁ 𝑒 2𝜋𝑖𝑛𝑎
F (𝑠, 𝑎) = . (2.28)
𝑛𝑠
𝑛=0
Após a apresentação de algumas funções aritméticas vamos para a seção com propriedades
relevantes advindas de suas definições. Iniciaremos introduzindo o conceito de funções multi-
plicativas.
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 13
também é multiplicativa. Porém, note que isso não é sempre verdade se 𝑓 (𝑛) for completamente
multiplicativa.
unidade). É por esse motivo que essa transitividade não é direta para funções completamente
multiplicativas.
3. 𝐼 (𝑛) ≠ 𝐼 (𝑚). Neste caso, apenas um deles equivale a 1. Suponha, sem perda de generali-
dade, que seja 𝑛. Assim 𝑛 · 𝑚 = 𝑚 e 𝐼 (𝑛 · 𝑚) = 𝐼 (𝑚) = 0 = 𝐼 (𝑛) · 𝐼 (𝑚);
𝜆(𝑛 · 𝑚) = (−1) 𝛺(𝑛·𝑚) = (−1) 𝛺(𝑛) · (−1) 𝛺(𝑚) = 𝜆(𝑛) · 𝜆(𝑚). (2.31)
□
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 15
Por outro lado, a função de Möbius é apenas multiplicativa. E essa é uma propriedade
importante que permitirá enunciar o teorema da inversão de Möbius.
Demonstração. Note que 𝜇(𝑛) = 𝜆(𝑛) sempre que 𝑛 é livre de quadrados. Ainda, se 𝑛 · 𝑚
também é livre de quadrados, ou seja (𝑚, 𝑛) = 1, 𝜇(𝑛 · 𝑚) = 𝜇(𝑛) · 𝜇(𝑚). Deste modo é fácil
verificar que 𝜇(𝑛) é multiplicativa e não completamente multiplicativa como a função 𝜆(𝑛) de
Liouville. □
𝑎𝑚
Demonstração. Seja 𝑛 = 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚 , e sabendo que 𝜇(𝑑) será zero sempre que a multi-
plicidade de qualquer primo for maior ou igual a 2, então para todo 𝑛 > 1:
∑︁
𝜇(𝑑) = 𝜇(1) + 𝜇( 𝑝 1 ) + . . . + 𝜇( 𝑝 𝑚 ) + 𝜇( 𝑝 1 𝑝 2 ) + . . . + 𝜇( 𝑝 𝑚−1 𝑝 𝑚 )
𝑑|𝑛
(2.33)
+ . . . + 𝜇( 𝑝 1 · . . . · 𝑝 𝑚 )
𝑚 𝑚 2 𝑚
= 1+ (−1) + (−1) + . . . + (−1) 𝑚 = 0.
1 2 𝑚
O caso remanescente é o caso de 𝑛 = 1 cujo valor é dado por 𝜇(1) = 1, completando a demons-
tração. □
Teorema 2.36 (Fórmula da inversão de Möbius). Sejam 𝑓 (𝑛) e 𝑔(𝑛) duas funções aritméticas.
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 16
Í
Demonstração. Suponha que 𝑓 (𝑛) = 𝑑|𝑛 𝑔(𝑑). Deste modo
∑︁ 𝑛 ∑︁ ∑︁
𝜇(𝑑) 𝑓 = 𝜇(𝑑) 𝑔 (𝑘)
𝑑
𝑑|𝑛 𝑑·𝑞=𝑛 𝑘 |𝑞
∑︁ ∑︁ ∑︁
= 𝜇(𝑑)𝑔 (𝑘) = 𝑔 (𝑘) 𝜇(𝑑)
(2.35)
𝑑·ℎ·𝑘=𝑛 𝑘·𝑚=𝑛 𝑑|𝑚
ℎ·𝑘=𝑞 𝑑·ℎ=𝑚
∑︁
= 𝑔 (𝑘) 𝐼 (𝑚) = 𝑔(𝑛).
𝑘·𝑚=𝑛
Í 𝑛
Suponha que 𝑔(𝑛) = 𝑑|𝑛 𝜇(𝑑) 𝑓 𝑑 . Deste modo
∑︁ ∑︁ ∑︁ ∑︁ ∑︁
𝑔(𝑑) = 𝜇(𝑞) 𝑓 (ℎ) = 𝜇(𝑘) 𝑓 (ℎ)
𝑑|𝑛 𝑑|𝑛 𝑞·ℎ=𝑑 𝑑·𝑞=𝑛 𝑘·ℎ=𝑑
∑︁ ∑︁ ∑︁
= 𝜇(𝑞) 𝑓 (ℎ) = 𝑓 (ℎ) 𝜇(𝑞)
(2.36)
𝑘·ℎ·𝑞=𝑛 ℎ·𝑚=𝑛 𝑞|𝑚
𝑘·ℎ=𝑑
∑︁
= 𝑓 (ℎ)𝐼 (𝑚) = 𝑓 (𝑛).
ℎ·𝑚=𝑛
Demonstração. Seja
∑︁
𝑔(𝑛) = 𝜇(𝑑) 𝑓 (𝑑). (2.38)
𝑑|𝑛
e deste modo: Ö
𝑔(𝑛) = (1 − 𝑓 ( 𝑝)) . (2.40)
𝑝|𝑛
□
Por exemplo, usando o resultado anterior podemos obter o mesmo resultado do Teorema
2.35 de maneira direta da seguinte maneira:
Demonstração. Se 𝑛 = 1
∑︁
𝜇(𝑑) = 𝜇(1) = 1 = 𝐼 (1). (2.42)
𝑑|1
𝜑( 𝑝) = 𝑝 − 1. (2.44)
Demonstração. Como 𝑝 é primo, então nenhum número que o antecede é seu divisor, sendo
todos relativamente primos, assim:
∑︁ 𝑝−1
∑︁
𝜑( 𝑝) = 1= 1 = 𝑝 − 1. (2.45)
(𝑛,𝑝)=1 𝑛=1
1≤𝑛≤ 𝑝
Demonstração. Note que 𝑝 divide exatamente 𝑝 𝑎 /𝑝 números entre 1 e 𝑝 𝑎 . Assim basta subtraí-
los do total, restando apenas os relativamente primos. □
𝑎𝑚
Demonstração. Note que 𝑛 = 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚 e 𝜑(𝑛) é multiplicativa, assim:
𝑎𝑚
𝜑(𝑛) = 𝜑 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚𝑎𝑚
= 𝜑 𝑝 1𝑎1 · 𝜑 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝜑 𝑝 𝑚
𝑎1 1 𝑎𝑚 1
= 𝑝1 1 − · . . . · 𝑝𝑚 1 −
𝑝1 𝑝𝑚 (2.48)
Ö 1
=𝑛 1− .
𝑝
𝑝|𝑛
Os próximos teoremas vão construir essa relação entre as duas funções aritméticas, 𝜑 de
Euler e a de Möbius.
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 19
Note que 𝐴(1) inclui todos os números relativamente primos a 𝑛. 𝐴(𝑑) inclui todos os números
divisíveis por 𝑑 apenas 1 vez. Note que estes conjuntos são disjuntos. Ainda que 𝐴(𝑛) inclui o
𝑛. Deste modo, todos os números menores e iguais a 𝑛 estão inclusos. Logo
∑︁
𝜑(𝑑) = 𝑛, (2.52)
𝑑|𝑛
Note que a função piso retornará 1 apenas se (𝑘, 𝑛) = 1 e 0 para todos os outros casos, assim
os somatórios são equivalentes. □
Por fim, a relação buscada está descrita no próximo teorema. Note que esse resultado pode
ser obtido de forma análoga utilizando-se da Proposição 2.42 e do teorema da inversão.
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 20
A função Λ de Mangoldt tem relação íntima com a função logarítmo neperiano, como sugere
o teorema a seguir.
Demonstração. Note que apenas os divisores primos e as potências de primos terão valores
𝑎𝑚
diferentes de nulo. Ainda note que se 𝑛 = 𝑝 1𝑎1 · 𝑝 2𝑎2 · . . . · 𝑝 𝑚 , ln( 𝑝𝑖 ) aparece exatamente 𝑎𝑖 vezes
no somatório percorrendo os divisores. Assim
∑︁ 𝑚
∑︁
Λ(𝑑) = 𝑎𝑖 · ln( 𝑝𝑖 ) = ln 𝑝 1𝑎1 · . . . · 𝑝 𝑚
𝑎𝑚
= ln(𝑛). (2.58)
𝑑|𝑛 𝑖=1
As funções de Cherbyshev são o ponto inicial para uma das demonstrações do teorema dos
números primos, que enuncia uma assíntota para a distribuição de números primos entre os
inteiros positivos que pode ser enunciado por:
𝜋(𝑛)
lim 𝑛 = 1, (2.61)
𝑛→∞
ln(𝑛)
Demonstração. Relembrando que Λ(𝑛) admite valores apenas para pontências de primos e
usando a definição 2.19
𝑛
∑︁ ∞ ∑︁
∑︁
𝜓(𝑛) = Λ(𝑘) = Λ( 𝑝 𝑚 )
𝑘=1 𝑚=1 𝑝≤𝑛
∞
∑︁ ∑︁ ∞ ∑︁ ∑︁ (2.63)
= ln( 𝑝) = ln( 𝑝).
𝑚=1 𝑝≤𝑛 𝑚=1 𝑝≤𝑛1/𝑚
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 22
Note que a soma em 𝑚 é finita, uma vez que se 𝑛1/𝑚 se torna pequeno e eventualmente menor
do que 2 e o conjunto 𝑝 < 2 é vazio. Assim se 𝑛1/𝑚 ≥ 2 então 𝑚 ≤ log2 (𝑛), logo:
log2 (𝑛)
∑︁ ∑︁
𝜓(𝑛) = ln( 𝑝)
𝑚=1 𝑝≤𝑛1/𝑚
(2.64)
∑︁ ∑︁
= ln( 𝑝).
𝑚≤log2 (𝑛) 𝑝≤𝑛1/𝑚
Demonstração. Como ϖ(𝑛) indica se 𝑛 é 1 ou primo, contar os primos é o mesmo que operar
a soma sobre a função indicadora para todo inteiro de 2 até 𝑛. □
Em [8] os autores usam essa função para construir uma função que exibe o 𝑛−ésimo primo.
Note que a função √︂
𝑛
𝑛
(2.75)
1 + 𝜋(𝑖)
retorna 1 sempre que 𝑖 for menor do que o 𝑛−ésimo primo. A potência 1/𝑛 é apenas para garantir
que para pequenos valores de 𝑖 a função piso nunca seja maior do que 1.
j√︃ k
3
Tabela 2.3: Exemplos de valores assumidos pela função 3
1+ 𝜋 (𝑖) para 𝑖 ≤ 6 na busca pelo terceiro
primo.
𝒊 1 2 3 4 5 6
√︃ √︃ √︃ √︃ √︃ √︃ √︃
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
1+𝝅(𝒊) 1 =1 2 =1 3
3 =1 3
3 =1 4 =0 4 =0
Veja na Tabela 2.3 que na busca pelo terceiro primo a função avaliada para 𝑖 < 5 sempre
vale 1. Note que o terceiro primo de fato é o número 5. Assim basta avaliar a função anterior
de 1 até um número suficientemente grande para ultrapassar o 𝑛−ésimo primo e somar todos os
resultados para assim obter o número antecessor do 𝑛−ésimo primo.
𝑛 𝑛 1/𝑛
2
∑︁ √︂ 2
∑︁
𝑛 © 𝑛 ª
𝑝𝑛 = 1 + = 1+
𝑛
Í j k ®® . (2.76)
1 + 𝜋(𝑖) 𝑖 ( 𝑗−1)!+1
𝑗=1 cos2 𝜋 ·
𝑖=1 𝑖=1 𝑗
« ¬
A primeira impressão ao se deparar com a equação anterior é que descobrimos uma forma
de exibir todos os primos que quebraria a criptografia atual. Mas note que na prática a função
que exibe o n-ésimo primo é inútil. Primeiro que sua complexidade computacional é absurda.
Temos uma busca em um espaço de 2𝑛 para o qual, cada um de seus termos deve desenvolver um
fatorial. Ademais, o piso envolvendo o cosseno é bastante susceptível à erros de arredondamento
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 25
numérico, sendo praticamente inviável obter exatamente 1. A equação anterior foi motivo de
discussão em um artigo cujo título é "What is an Answer?" [7] no qual os autores discutem a
validade de uma resposta para matemática.
Aqui demonstraremos que a função ϖ como definida, de fato indica se um número é primo.
Iniciemos enunciando o teorema de Wilson.
Demonstração. Se 𝑛 é primo, então todo elemento da classe de resíduos 𝑛 possui a sua inversa
como um único representante distinto, a menos de −1 e 1 que são suas próprias inversas. Deste
modo, o produto de todos os elementos de (𝑛 − 1) até 1 resulta em
(𝑛 − 1)! = 1 · 2 · 3 · . . . · (𝑛 − 1)
≡ 1 · (2 · 2−1 ) · (3 · 3−1 ) · . . . · (𝑛 − 1)(𝑚𝑜𝑑 𝑛)
(2.78)
≡ 1 · 1 · 1 · . . . · 1 · −1(𝑚𝑜𝑑 𝑛)
≡ −1(𝑚𝑜𝑑 𝑛).
Por outro lado, suponha que valha (𝑛 − 1)! ≡ −1(𝑚𝑜𝑑 𝑛). Assumamos que 𝑛 seja composto e
chegar em uma contradição. Se 𝑛 é composto, então existe 𝑎|𝑛. Deste modo 𝑎|((𝑛 − 1)! + 1),
pois 𝑛|((𝑛 − 1)! + 1) e 𝑎|(𝑛 − 1)!, uma vez que 𝑎 < 𝑛 e todos os elementos menores do que 𝑛
aparecem na expansão do fatorial. Deste modo 𝑎|1, o que implica que 𝑎 = 1 e 𝑛 não é composto
como assumido na hipótese, levando a uma contradição. □
2 (𝑛 − 1)! + 1
ϖ(𝑛) = cos 𝜋· . (2.82)
𝑛
𝒏 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
𝛡(𝒏) 1 1 1 0 1 0 1 0 0 0
Teorema 2.55. Seja 𝐻 𝑘(𝑚) o 𝑘−ésimo número harmônico generalizado de grau 𝑚, então:
1
𝐻 𝑘(𝑚) = (𝑚)
+ 𝐻 𝑘−1 . (2.83)
𝑘𝑚
A propriedade da função Gama, decorrente da sua construção, é sua relação com o fatorial.
Demonstração.
∫∞
Γ(𝑠 + 1) = 𝑥 𝑠 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥
0
∞ ∫∞
−𝑥 𝑠
= + 𝑠𝑥 𝑠−1 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥
𝑒𝑥 0
0
(2.86)
∫∞
−𝑥 𝑠
= lim +𝑠 𝑥 𝑠−1 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥
𝑥→∞ 𝑒𝑥
0
∫∞
=𝑠 𝑥 𝑠−1 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥 = 𝑠 · Γ(𝑠).
0
Figura 2.1: Valores de Γ(𝑠) para −4 ≤ 𝑏 ≤ 5. Os pontos são as entradas inteiras para a função.
Observação 2.57. Note que o Teorema anterior evidencia que a função Γ tem o comportamento
idêntico à função fatorial para 𝑠 ∈ N (Figure 2.1). Ou seja:
Perceba que
∫∞ ∫∞
Γ(1) = 𝑥 0 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥 = 𝑒 −𝑥 𝑑𝑥 = −0 + 𝑒 0 = 1. (2.88)
0 0
Ou seja:
Γ(𝑠) = (𝑠 − 1) · (𝑠 − 2) · . . . · 3 · 2 · 1 = (𝑠 − 1)!. (2.89)
Um dos motivos para o estudo da função zeta de Riemann é sua relação com os números
primos. Veja que essa relação aparece de maneira natural e intuitiva. Veja o teorema a seguir e
sua demonstração.
1
∑︁ 1 1 1 1 1
= + + + +··· . (2.92)
2𝑠 𝑛𝑠 1𝑠 · 2𝑠 2𝑠 · 2𝑠 3𝑠 · 2𝑠 4𝑠 · 2𝑠
𝑛∈N
Note que a série da direita não possui mais nenhum termo divisível pelo primo 2. Repetindo
o processo para o próximo primo, 3, teremos:
1
∑︁ 1 1 1 1 1
= + + + +··· . (2.94)
3𝑠 𝑛𝑠 1𝑠 · 3𝑠 2𝑠 · 3𝑠 3𝑠 · 3𝑠 4𝑠 · 3𝑠
𝑛∈N
Logo subtraindo a série que excluía os múltiplos de 3 daquela que excluía os múltiplos de 2
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 29
temos:
∑︁ ∑︁ 1 1 1 1 1
1 1 1
1− 𝑠 − = + + + +···
2 𝑛 𝑠 3𝑠 𝑛 𝑠 1𝑠 5𝑠 7𝑠 11𝑠
𝑛∈N 𝑛∈N
∑︁ (2.95)
1 1 1 1 1 1 1
1− 𝑠 1− 𝑠 𝑠
= 𝑠 + 𝑠 + 𝑠 + 𝑠 +··· .
2 3 𝑛 1 5 7 11
𝑛∈N
Agora a série da direita não possui termos divisíveis por 2 ou 3. Por indução, se repetirmos
o processo para todo 𝑝 primo, então a série da direita deverá excluir todo número divisível por
qualquer primo. Logo a série se reduzirá ao elemento 1. Deste modo:
Ö 1
∑︁
1
1− 𝑠 · = 1. (2.96)
𝑝 𝑛𝑠
𝑝 𝑛∈N
Figura 2.2: Valores de 𝜁 (𝑠) para 𝑠 = 1.6 + 𝑏 · 𝑖 para −15 ≤ 𝑏 ≤ 15. Os pontos são definidos em intervalos
de 0.5
Euler tentou avaliar a função zeta de Riemann para alguns inteiros. Sua intuição para
𝜋2
demonstrar que 𝜁 (2) = 6 será enunciada aqui. Euler supôs que a função sen(𝑥) pudesse ser
escrita como um polinômio a partir do produto de suas raízes. Sem discutir as tecnicalidades
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 30
desta afirmação e notando que se 𝑛 ∈ N então sen(𝑛𝜋) = 0 para todo 𝑛. Deste modo:
𝑥 𝑥 𝑥 𝑥
sen(𝑥) = . . . · 1 − · 1− ·𝑥 · 1+ · 1+ ·...
2𝜋
𝜋 𝜋 2𝜋
𝑥 𝑥 𝑥 𝑥
= 𝑥 · 1− · 1+ · 1− · 1+ ·... (2.97)
𝜋 𝜋 2𝜋 2𝜋
𝑥2 𝑥2 𝑥2
= 𝑥 · 1− 2 · 1− 2 2 · 1− 2 2 ·....
𝜋 2 𝜋 3 𝜋
Note que podemos escrever a função sen 𝑘 (𝑥) como o produtório dos primeiros 𝑘 termos da
seguinte forma:
𝑘
Ö
𝑥2
sen 𝑘 (𝑥) = 𝑥 1− 2 2 . (2.98)
𝑛 𝜋
𝑛=1
𝑥3
sen1 (𝑥) = 𝑥 − 2
𝜋 3
𝑥 𝑥3 𝑥5
sen2 (𝑥) = 𝑥 − 2 + 2 2 + 2 4
𝜋 2 𝜋 2 𝜋
3 3
𝑥 𝑥 𝑥3
sen3 (𝑥) = 𝑥 − 2 + 2 2 + 2 2 + · · ·
𝜋 2 𝜋 3 𝜋 (2.99)
3
𝑥 𝑥3 𝑥3 𝑥3
sen4 (𝑥) = 𝑥 − 2 + 2 2 + 2 2 + 2 2 + · · ·
𝜋 2 𝜋 3 𝜋 4 𝜋
..
.
1 1 1 1 𝑥3
sen𝑛 (𝑥) = 𝑥 − + 2 + 2 + · · · + 2 2 + · · · .
1 2 3 𝑛 𝜋
que
1 1 1 1 1
+ + + · · · =
𝜋 2 1 22 32 3!
∑︁∞
1 𝜋2
= (2.101)
𝑛2 3!
𝑛=1
𝜋2
𝜁 (2) = .
6
Existem outras maneiras para obter o mesmo resultado anterior. Uma interessante, usando
de integração complexa é a seguinte. Seja a integral
∫𝜋/2
ln(2𝑐𝑜𝑠(𝑥))𝑑𝑥. (2.102)
0
Vamos agora avaliar 𝑎 𝑛 para alguns valores de 𝑛 > 1. Os valores estão dispostos na tabela
2.5. Deste modo note que
𝜋
(∫2+ 𝑛1 )
lim 𝑎 𝑛 = lim ln(2𝑐𝑜𝑠(𝑥))𝑑𝑥 = 0. (2.104)
𝑛→∞ 𝑛→∞
0
Agora que sabemos que a integral é definida e converge para zero, avaliaremos sua versão
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 32
Figura 2.3: Integral de ln(2 cos(𝑥)) para 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝜋/2. 𝑎 2 está em azul, enquanto 𝑎 1000 em verde
𝑠2 𝑠3 𝑠4
ln(1 + 𝑠) = 𝑠 − + − +··· . (2.106)
2 3 4
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 33
E deste modo
∫𝜋/2 ∫𝜋/2
𝑒 −2𝑖𝑥2 𝑒 −2𝑖𝑥3 𝑒 −2𝑖𝑥4
ln 1 + 𝑒 −2𝑖𝑥 𝑑𝑥 = 𝑒 −2𝑖𝑥 − + − + · · · 𝑑𝑥
2 3 4
0 0
(2.107)
∫𝜋/2 ∞∑︁ (−1) 𝑛+1 𝑒−2𝑖𝑥𝑛
= 𝑑𝑥.
𝑛
0 𝑛=1
Note que 𝑒 −𝑖𝜋𝑛 = cos(𝑛𝜋) −𝑖sen(𝑛𝜋) e que sen(𝑛𝜋) = 0 para todo 𝑛. Por outro lado, cos(𝑛𝜋)
vale 1 se 2|𝑛 e −1 se 2 ∤ 𝑛. Assim
∞
∑︁ ∑︁ (−1) 𝑛+1 ∑︁ (−1) 𝑛+1
(−1) 𝑛+1 −𝑖𝜋𝑛
𝑒 −1 = [1 − 1] + [−1 − 1]
−2𝑖𝑛2 −2𝑖𝑛2 −2𝑖𝑛2
𝑛=1 2|𝑛 2∤𝑛
∑︁ ∑︁ (2.109)
1 1 1
= = −𝑖 .
𝑖 𝑛2 𝑛2
2∤𝑛 2∤𝑛
∫𝜋/2 ∫𝜋/2
𝜋2
ln(2𝑐𝑜𝑠(𝑥))𝑑𝑥 = 𝑖 + ln 1 + 𝑒 −2𝑖𝑥 𝑑𝑥
8
0 0
(2.110)
𝜋2
∑︁ 1 𝜋2
∑︁ 1ª
=𝑖 −𝑖 = 𝑖 −
©
2
®.
8 𝑛 8 𝑛2
2∤𝑛 « 2∤𝑛 ¬
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 34
Ou ainda,
∞
∑︁ ∞
∑︁ ∞
∑︁ ∞
∑︁
1 1 1 𝜋2 3 1 𝜋2 1 𝜋2
− = =⇒ = =⇒ = . (2.113)
𝑛2 4 𝑛 2 8 4 𝑛2 8 𝑛2 6
𝑛=1 𝑛=1 𝑛=1 𝑛=1
Teorema 2.59. Seja 𝑛 ∈ N então as três seguintes séries possuem limites definidos e equivalentes
à:
∞
∑︁ ∞
∑︁ ∞
∑︁
1 𝜋2 1 𝜋2 1 𝜋2
𝜁 (2) = = = = . (2.114)
𝑛2 6 𝑛2 8 𝑛2 24
𝑛=1 2∤𝑛 2|𝑛
Teorema 2.61. Se 𝑠 ∈ C ∫ ∞
1
Γ(𝑠) · 𝜁 (𝑠) = 𝑥 𝑠−1 𝑑𝑥. (2.118)
0 𝑒𝑥 − 1
2.3 Funções multiplicativas e propriedades de funções aritméticas 35
Teorema 2.63. Se 𝑠 ∈ C
∞
𝑥 𝑠−1 𝑒 −𝑎𝑥
∫
Γ(𝑠) · 𝜁 (𝑠, 𝑎) = 𝑑𝑥. (2.123)
0 1 − 𝑒 −𝑥
A fórmula de Euler para somatórios é uma maneira de descrever o erro entre a integral de
uma função contínua e sua versão discretizada. Essa capacidade é uma ferramenta interessante
para transformar soma em integral e vice-versa.
Teorema 3.1 (Fórmula de Euler para somatórios). Seja 𝑓 uma função com derivada contínua
no intervalo [𝑎, 𝑏], então:
∑︁ ∫𝑏 ∫𝑏 h i𝑏
𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 − (⌊𝑡⌋ − 𝑡) 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 + (⌊𝑡⌋ − 𝑡) 𝑓 (𝑡) . (3.1)
𝑎
𝑎<𝑛≤𝑏 𝑎 𝑎
Demonstração. Note que para todo intervalo unitário, 𝑛 − 1 ≤ 𝑡 ≤ 𝑛, vale (veja Figura 3.1)
∫𝑛 ∫𝑛
′
⌊𝑡⌋ 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 = (𝑛 − 1) 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 = (𝑛 − 1)( 𝑓 (𝑛) − 𝑓 (𝑛 − 1)). (3.2)
𝑛−1 𝑛−1
3.1 Fórmula de Euler para somatórios 37
e pela esquerda
∑︁ ∫𝑛 ∫𝑏
′
⌊𝑡⌋ 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 = ⌊𝑡⌋ 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡. (3.4)
𝑎<𝑛≤𝑏 𝑛−1 𝑎
Deste modo
∫𝑏 ∑︁
′
⌊𝑡⌋ 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 = ⌊𝑏⌋ 𝑓 (𝑏) − ⌊𝑎⌋ 𝑓 (𝑎) − 𝑓 (𝑛), (3.5)
𝑎 𝑎<𝑛≤𝑏
ou ainda
∑︁ ∫𝑏
𝑓 (𝑛) = − ⌊𝑡⌋ 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 + ⌊𝑏⌋ 𝑓 (𝑏) − ⌊𝑎⌋ 𝑓 (𝑎). (3.6)
𝑎<𝑛≤𝑏 𝑎
3.2 Identidade de Abel 38
∫𝑏 ∫𝑏
𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 = − 𝑡 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 + 𝑏 𝑓 (𝑏) − 𝑎 𝑓 (𝑎). (3.7)
𝑎 𝑎
∑︁ ∫𝑏 ∫𝑏 h i𝑏
𝑓 (𝑛) − 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 = (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 − (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 𝑓 (𝑡) , (3.8)
𝑎
𝑎<𝑛≤𝑏 𝑎 𝑎
∑︁ ∫𝑏 ∫𝑏 h i𝑏
𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 + (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 − (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 𝑓 (𝑡) . (3.9)
𝑎
𝑎<𝑛≤𝑏 𝑎 𝑎
pois podemos incluir 𝑓 (𝑎) nos dois lados da equação e para 𝑡 = 𝑎 ou 𝑡 = 𝑏, 𝑡 − ⌊𝑡⌋ = 0, resultando
na igualdade descrita.
Como multiplicatividade é uma propriedade transitiva pela soma sobre uma função aritmé-
tica, seria interessante ter uma versão da soma de Euler para funções geradas por somatórios de
funções aritméticas.
Teorema 3.3 (Identidade de Abel). Para qualquer função aritmética 𝑔(𝑛) e com
∑︁
𝐺 (𝑥) = 𝑔(𝑘) (3.11)
𝑘 ≤𝑥
na qual 𝐺 (𝑥) = 0 para todo 𝑥 < 1 e assumindo que 𝑓 possui derivada contínua no intervalo
[𝑎, 𝑏], então
𝑏
∑︁ ∫ 𝑏
′
𝑔(𝑛) · 𝑓 (𝑛) = 𝐺 (𝑏) · 𝑓 (𝑏) − 𝐺 (𝑎 − 1) · 𝑓 (𝑎) − 𝐺 (𝑡) · 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 (3.12)
𝑎
𝑛=𝑎
3.3 Constante de Euler-Mascheroni generalizada 39
Observação 3.4. Outra formulação comum para este teorema está descrita a seguir
∑︁ ∫ 𝑏
′
𝑔(𝑛) · 𝑓 (𝑛) = 𝐺 (𝑏) · 𝑓 (𝑏) − 𝐺 (𝑎) · 𝑓 (𝑎) − 𝐺 (𝑡) · 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡. (3.14)
𝑎
𝑎<𝑛≤𝑏
Demonstração. A solução advêm de subtrair 𝑔(𝑎) 𝑓 (𝑎) de ambos termos do teorema anterior.
□
A diferença entre a integral da função contínua e sua versão discreta é denominada constante
de Euler-Mascheroni generalizada.
Note que pelo Teorema 3.1 essa definição denota exatamente a diferença entre o cálculo do
3.3 Constante de Euler-Mascheroni generalizada 40
∫𝑘
𝛾𝑘 ( 𝑓 ) = (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 + 𝑓 (1). (3.16)
1
Ao estudar o comportamento dessa função para 𝑘 evoluindo nos inteiros, no limite temos a
definição a seguir.
∫𝑘
𝛾𝑘 ( 𝑓 ) = (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 𝑓 ′ (𝑡)𝑑𝑡 + 𝑓 (1)
1
∫𝑘
(𝑡 − ⌊𝑡⌋)
=− 𝑑𝑡 + 1
𝑡2
1
𝑘−1 ∫𝑛+1
∑︁ (𝑡 − 𝑛)
= 1− 𝑑𝑡
𝑡2
𝑛=1 𝑛
(3.20)
𝑘−1 ∫𝑛+1
∑︁ 1 𝑛
= 1− − 𝑑𝑡
𝑡 𝑡2
𝑛=1 𝑛
𝑘−1
∑︁ 𝑛
= 1− ln(𝑛 + 1) − ln(𝑛) + −1
𝑛+1
𝑛=1
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
1 1
= 1 − ln(𝑘) + = − ln(𝑘) + ,
𝑛 𝑛
𝑛=2 𝑛=1
o que nos permite avaliar todos os termos da fórmula de Euler para somatórios.
3.3 Constante de Euler-Mascheroni generalizada 41
1
O limite do exemplo, 𝛾 𝑘 𝑛 para 𝑘 → ∞, é denominado constante de Euler-Mascheroni,
que é uma constante recorrente na teoria anaítica dos números, e equivale à:
𝑘
∑︁ ∫∞
1 1 (𝑡 − ⌊𝑡⌋)
𝛾 = lim 𝛾 𝑘 = lim − ln(𝑘) = 1 − 𝑑𝑡 = 0.5772156649 · · · . (3.21)
𝑘→∞ 𝑛 𝑘→∞ 𝑛 𝑡2
𝑛=1 1
As duas próximas proposições são simples propriedades que derivam da definição das
constantes de Euler-Mascheroni para soma de funções aritméticas.
Proposição 3.8. Seja 𝑓 uma função aritmética, 𝛼 uma constante e 𝛾 𝑘 a função de Euler-
Mascheroni generalizada, então:
Demonstração.
𝑘
∑︁ ∫𝑘
𝛾 𝑘 ( 𝑓 (𝑛) + 𝛼) = 𝑓 (𝑛) + 𝛼 − 𝑓 (𝑡) + 𝛼𝑑𝑡
𝑛=1 1
∑︁ 𝑘 ∫𝑘 ∫𝑘
= 𝑓 (𝑛) − 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 + 𝑘𝛼 − 𝛼𝑑𝑡 (3.23)
𝑛=1 1 1
= 𝛾 𝑘 ( 𝑓 (𝑛)) + 𝑘𝛼 − (𝑘 − 1)𝛼
= 𝛾 𝑘 ( 𝑓 (𝑛)) + 𝛼.
Demonstração.
𝑘
∑︁ ∫𝑘
𝛾 𝑘 ( 𝑓 (𝑛) + 𝑔(𝑛)) = 𝑓 (𝑛) + 𝑔(𝑛) − 𝑓 (𝑡) + 𝑔(𝑡)𝑑𝑡
𝑛=1 1
𝑘
∑︁ ∫𝑘 𝑘
∑︁ ∫𝑘 (3.25)
= 𝑓 (𝑛) − 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 + 𝑔(𝑛) − 𝑔(𝑡)𝑑𝑡
𝑛=1 1 𝑛=1 1
= 𝛾 𝑘 ( 𝑓 (𝑛)) + 𝛾 𝑘 (𝑔(𝑛)).
□
3.4 Notação assintótica Big-O e comportamento assintótico 42
Agora que entendemos os comportamentos das integrais e dos somatórios sobre funções
aritméticas, usando da notação assintótica Big-O, podemos descrever o comportamento do valor
médio de funções aritméticas para todo valor do domínio nos inteiros positivos. A ideia por trás
dessa representação é construir uma noção de majorante superior e inferior para comportamento
de funções.
Definição 3.10 (Notação assintótica Big-O). Sejam as funções 𝑓 (𝑥) e 𝑔(𝑥). Dizemos que
𝑓 (𝑥) = 𝑂 (𝑔(𝑥)) se existem 𝑁0 , 𝑚 e 𝑀 tal que para todo 𝑛 > 𝑁0
Os próximos teoremas são relações de suporte para calcular o valor médio das funções
aritméticas da próxima seção. O Teorema 3.11 encontra uma aproximação para os 𝑘 primeiro
termos da série zeta de Riemann calculada para 𝑠 = 1. Note que o resultado está relacionado
com a função logaritmo neperiano, com a constante de Euler-Mascheroni e com o Big-O do
recíproco do 𝑘−ésimo termo.
Note que
∫𝑘 ∫∞ ∫∞
(𝑡 − ⌊𝑡⌋) (𝑡 − ⌊𝑡⌋) (𝑡 − ⌊𝑡⌋)
𝑑𝑡 = 𝑑𝑡 − 𝑑𝑡 (3.29)
𝑡2 𝑡2 𝑡2
1 1 𝑘
e ainda que
∫∞ ∫∞
(𝑡 − ⌊𝑡⌋) 1 1 1
𝑑𝑡 ≤ 𝑑𝑡 = = 𝑂 . (3.30)
𝑡2 𝑡2 𝑘 𝑘
𝑘 𝑘
3.4 Notação assintótica Big-O e comportamento assintótico 43
Deste modo:
𝑘
∑︁ ∫∞
1 (𝑡 − ⌊𝑡⌋) 1
= ln(𝑘) + 1 − 2
𝑑𝑡 + 𝑂
𝑛 𝑡 𝑘
𝑛=1 1 (3.31)
1
= ln(𝑘) + 𝛾 + 𝑂 .
𝑘
□
Já o Teorema 3.12 diz respeito a soma dos 𝑘−ésimos primeiros termos da série de Riemann
para toda entrada maior do que 1. Dessa vez ela depende da própria função zeta de Riemann,
novamente do recíproco do 𝑘−ésimo termo com o expoente devido, e de um termo que depende
de 𝑘 e do expoente escolhido, não dependendo mais da função logaritmo ou da constante de
Euler-Mascheroni.
Note que se 𝑠 ≠ 1
𝑘
∑︁
1 𝑘 1−𝑠 ª
𝜁 (𝑠) = lim −
©
1−𝑠
®
𝑘→∞ 𝑛𝑠
« 𝑛=1 ¬
∫𝑘
© 𝑠 (𝑡 − ⌊𝑡⌋)
= lim − −𝑠
ª (3.34)
𝑑𝑡 ®
𝑘→∞ 1−𝑠 𝑡 𝑠+1
« 1 ¬
∫∞
𝑠 (𝑡 − ⌊𝑡⌋)
=− −𝑠 𝑑𝑡
1−𝑠 𝑡 𝑠+1
1
3.4 Notação assintótica Big-O e comportamento assintótico 44
e ainda
∫∞ ∫∞
(𝑡 − ⌊𝑡⌋) 1 1 1
𝑠 𝑑𝑡 < 𝑠 𝑑𝑡 = = 𝑂 (3.35)
𝑡 𝑠+1 𝑡 𝑠+1 𝑘𝑠 𝑘𝑠
𝑘 𝑘
Assim:
𝑘
∑︁
1 𝑘 1−𝑠 1
= + 𝜁 (𝑠) + 𝑂 𝑠 . (3.36)
𝑛𝑠 1−𝑠 𝑘
𝑛=1
Já o Teorema 3.13 trata da cauda da função zeta de Riemann quando iniciada no termo 𝑘 + 1,
ao contrário dos teoremas anteriores que se preocupavam com os primeiros termos da série.
Note que dessa vez a cauda é majorada apenas pelo recíproco 𝑘 ao expoente da zeta de Riemann
subtraído de 1.
Finalmente, o Teorema 3.14 é construído para tratar as somas não mais dos recíprocos, mas
das potências. Assim, todos os casos necessários para o estudo do valor médio da função sigma
3.5 Valor médio de uma função aritmética 45
Note que
∫𝑘 ∫𝑘
𝑚−1
1+𝑚 (𝑡 − ⌊𝑡⌋)𝑡 𝑑𝑡 < 1 + 𝑚 (1)𝑡 𝑚−1 𝑑𝑡 = 1 + 𝑘 𝑚 − 1𝑚 = 𝑘 𝑚 = 𝑂 (𝑘 𝑚 ) (3.42)
1 1
e deste modo:
𝑘
∑︁
𝑚 𝑘 𝑚+1 1 𝑚 𝑘 𝑚+1
𝑛 = − +𝑂 (𝑘 ) = + 𝑂 (𝑘 𝑚 ) . (3.43)
𝑚 +1 𝑚 +1 𝑚 +1
𝑛=1
Para algumas funções aritméticas, principalmente aquelas que se relacionam com os nú-
meros primos, não existem valores exatos para sua média e predizer seu comportamento seria
desvendar o mistério dos números primos. Deste modo, podemos aproximar suas médias usando
a notação big-O. Primeiro vamos definir valor médio.
Definição 3.15 (Valor médio de uma função aritmética). Sejam 𝑓 uma função aritmética.
Definimos o valor médio de 𝑓 , denotado por 𝑓˜, por:
1
∑︁
𝑓˜(𝑛) = 𝑓 (𝑛). (3.44)
𝑛
𝑘 ≤𝑛
3.5 Valor médio de uma função aritmética 46
˜
𝜏(𝑛) = ln(𝑛) + 𝑂 (1) . (3.45)
Note que a menos de um erro majorado por 𝑂 (1), a média de 𝜏(𝑛) se comporta como a
função ln(𝑛).
Para 𝜎, curiosamente, sua média depende da função 𝜁 (2) com o erro majorado por algo não
maior do que 𝑂 (ln(𝑛)).
˜ 0 (𝑛) = 𝜏(𝑛)
𝜎 ˜ = ln(𝑛) + 𝑂 (1) . (3.52)
Para 𝑘 < 0:
𝑛
∑︁ 𝑛 ∑︁
∑︁ 𝑛/𝑑
𝑛 ∑︁
∑︁
1 1 1 1 1
˜ 𝑘 (𝑛) =
𝜎 𝜎𝑘 (𝑚) = |𝑘 |
=
𝑛 𝑛 𝑑 𝑛 𝑑 |𝑘 |
𝑚=1 𝑚=1 𝑑|𝑚 𝑑=1 𝑞=1
𝑛
∑︁ 𝑛/𝑑
∑︁ 𝑛
∑︁
1 1 1 1 h𝑛 i
= 1= + 𝑂 (1)
𝑛 𝑑 |𝑘 | 𝑛 𝑑 |𝑘 | 𝑑
𝑑=1 𝑞=1 𝑑=1 (3.55)
𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁
1 1 1 1 1 © 1 ª
= |𝑘 |+1
+ 𝑂 (1) = + 𝑂
𝑑 |𝑘 | 𝑑 |𝑘 |+1 𝑛 𝑑 |𝑘 |
®
𝑑 𝑛
𝑑=1 𝑑=1 𝑑=1 « 𝑑=1 ¬
∑︁𝑛 𝑛
∑︁
1 1 © 1 ª
= + 𝑂 ®,
𝑑 |𝑘 |+1 𝑛 𝑑 |𝑘 |
𝑑=1 « 𝑑=1 ¬
3.5 Valor médio de uma função aritmética 49
se 𝑘 = −1:
𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁
1 1 © 1 ª
˜ −1 (𝑛) =
𝜎 + 𝑂
𝑑 |−1|+1 𝑛 𝑑 |−1|
®
𝑑=1 « 𝑑=1 ¬
𝑛
∑︁ 1 1 (3.56)
= + 𝑂 (ln(𝑛))
𝑑2 𝑛
𝑑=1
ln(𝑛)
= 𝜁 (2) + 𝑂 ,
𝑛
e se 𝑘 ≠ −1:
𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁
1 1 © 1 ª
˜ 𝑘 (𝑛) =
𝜎 + 𝑂
𝑑 |𝑘 |+1 𝑛 𝑑 |𝑘 |
®
𝑑=1
« 𝑑=1 ¬
1 1 1
= 𝜁 (𝑘 + 1) + 𝑂 + 𝑂 |𝑘 | + 𝑂 |𝑘 |−2 (3.57)
𝑛 𝑛 𝑛
= 𝜁 (𝑘 + 1) + 𝑂 𝑛 𝑘 + 𝑂 𝑛−1
= 𝜁 (𝑘 + 1) + 𝑂 𝑛𝛿
Apesar de possuir muitos casos, o valor médio para 𝜎𝑘 também depende da função 𝜁, assim
como 𝜎 e no caso que esta colapsa com 𝜏, a média se mantêm.
∑︁ ∑︁ ∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛/𝑑
∑︁
1 1 1
= 𝜇(𝑑)𝑞 = 𝜇(𝑑) 𝑞= 𝜇(𝑑) 𝑞
𝑛 𝑛 𝑛
𝑞·𝑑≤𝑛 𝑑≤𝑛 𝑞≤𝑛/𝑑 𝑑=1 𝑞=1
𝑛 𝑛
1
∑︁ 1 𝑛2 𝑛 ∑︁
1 𝑛
1
= 𝜇(𝑑) 2
+𝑂 = 𝜇(𝑑) 2
+𝑂
𝑛 2𝑑 𝑑 2𝑑 𝑑 (3.59)
𝑑=1 𝑑=1
𝑛 𝑛
∑︁ 𝜇(𝑑) ∑︁ 𝑛
∑︁ 𝜇(𝑑)
𝑛 1 𝑛
= + 𝑂 = + 𝑂 (ln(𝑛))
2 𝑑2 𝑑 2 𝑑2
𝑑=1 𝑑=1 𝑑=1
∞
∑︁
𝑛 𝜇(𝑑) 1 𝑛 6
= +𝑂 + 𝑂 (ln(𝑛)) = + 𝑂 (ln(𝑛))
2 𝑑2 𝑛 2 𝜋2
𝑑=1
3
= 𝑛 + 𝑂 (ln(𝑛)) .
𝜋2
□
Observe que a estimativa da média para a função 𝜑 não é apenas curiosamente depende do
número 𝜋, mas também é irracional. É evidente que o valor correto é racional, mas a estimativa
como construída, assim como as de 𝜎 e 𝜎𝑘 , que dependem de 𝜁, também são irracionais.
Agora que entendemos função aritmética, comportamento assintótico, média, e temos al-
gumas propriedades como ferramentas algébricas, podemos navegar mais a fundo na teoria
que suporta o estudo analítico da teoria dos números. Para isso necessitamos de um conceito
denominado caráter, tratado no próximo capítulo.
Capítulo 4
Caráteres e Caráteres de Dirichlet
Definição 4.1 (Grupos). Um grupo 𝐺 é um conjunto não vazio munido de uma operação binária,
denotada por "·", que satisfaz as seguintes propriedades:
Teorema 4.2 (Propriedades de grupos). Este teorema anuncia algumas propriedades de ele-
mentos em grupos. Sejam 𝑎, 𝑏 e 𝑐 elementos de 𝐺, 𝑚 e 𝑛 inteiros e 𝑒 o elemento neutro de 𝐺,
temos:
(1) 𝑎𝑐 = 𝑏𝑐 ou 𝑐𝑎 = 𝑐𝑏 =⇒ 𝑎 = 𝑏 (Lei cancelamento)
(2) 𝑒 = 𝑒 −1 (Inversa do elemento neutro)
−1
(3) 𝑎 −1 =𝑎 (Inversa da inversa)
(4) (𝑎𝑏) −1 = 𝑏 −1 𝑎 −1 (Inversa do operador binário)
associativa,
𝑎𝑐 = 𝑏𝑐 =⇒ 𝑎𝑐𝑐−1 = 𝑏𝑐𝑐−1 =⇒ 𝑎 𝑐𝑐−1 = 𝑏 𝑐𝑐−1 =⇒ 𝑎𝑒 = 𝑏𝑒 =⇒ 𝑎 = 𝑏
(4.1)
−1 −1 −1 −1
𝑐𝑎 = 𝑐𝑏 =⇒ 𝑐 𝑐𝑎 = 𝑐 𝑐𝑏 =⇒ 𝑐 𝑐 𝑎 = 𝑐 𝑐 𝑏 =⇒ 𝑒𝑎 = 𝑒𝑏 =⇒ 𝑎 = 𝑏.
𝑒 = 𝑒𝑒 =⇒ 𝑒 = 𝑒 −1 . (4.2)
Note que as propriedades (1), (2), (3) e (4) são equivalentes à definição de grupos. Ainda as
propriedades (1) e (4) demonstradas anteriormente decorrem das propriedades (2) e (3), assim
de maneira geral, demonstrar que um conjunto 𝐺 munido de um operador binário admitindo-se
as propriedades (2) e (3) equivale à definição de grupo.
Definição 4.4 (Subgrupos). Um subconjunto não vazio 𝐺 ′ do grupo 𝐺 que admite todas as
propriedades de grupo sobre a mesma operação binária é denominado sub-grupo de 𝐺.
Exemplo 4.5 (Subgrupos triviais). Todo grupo 𝐺 possuí pelo menos 2 subgrupos: o grupo
formado por todos os elementos de 𝐺 e o formado apenas pelo elemento neutro {𝑒}.
Exemplo 4.6 (Subgrupo complexo unitário). Seja o grupo 𝐺 cujos elementos são todos com-
plexos não nulos e munidos da multiplicação usual. O conjunto 𝐺 ′ de elementos de 𝑧 ∈ 𝐺 tais
que |𝑧| = 1 é um subgrupo de 𝐺, denominado subgrupo complexo unitário. Note que se 𝑎 + 𝑏𝑖 e
4 Caráteres e Caráteres de Dirichlet 53
𝑐 + 𝑑𝑖 ∈ 𝐺 ′ então
Exemplo 4.7 (Subgrupos das 𝒏-ésimas raízes da unidade). Um exemplo de grupo finito são
as raízes da unidade. Seja o grupo 𝐺 formado com os elementos {1, 𝜀, 𝜀 2 , . . . , 𝜀 𝑛−1 } tal que
𝜀 = 𝑒 2𝜋𝑖/𝑛 e munido com a multiplicação usual. Note o elemento neutro de 𝐺 é 1 e que
𝐺 munido com a multiplicação usual é grupo, pois para todo 𝑘 ∈ {0, . . . , 𝑛 − 1} os possíveis
elementos do grupo são da forma
𝑘 𝑘 𝑘
𝑒 2𝜋𝑖 𝑛 · 1 = 1 · 𝑒 2𝜋𝑖 𝑛 = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑛 (4.6)
𝑘1 𝑘2 𝑘1 +𝑘2
𝑒 2𝜋𝑖 𝑛 𝑒 2𝜋𝑖 𝑛 = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑛 (4.7)
se 𝑘 1 + 𝑘 2 < 𝑛 então é fácil notar que o produto está em 𝐺. Se 𝑘 1 + 𝑘 2 ≥ 𝑛 então basta notar
𝑘 1 + 𝑘 2 = 𝑞 · 𝑛 + 𝑘 3 com 𝑘 3 < 𝑛 e que 𝑒 2𝜋𝑖𝑞·𝑛 = 1 para todo 𝑞 ∈ Z. Deste modo 𝐺 é grupo. 𝐺
também é um subgrupo finito do subgrupo complexo unitário (Figura 4.1).
Exemplo 4.10. Inteiros com adição é um grupo abeliano, no qual 0 é o elemento neutro e a
inversa de 𝑎, 𝑎 −1 = −𝑎. Note que
e ainda
𝑎 · 𝑎 −1 = 0 =⇒ 𝑎 + 𝑎 −1 = 0 =⇒ 𝑎 −1 = −𝑎. (4.10)
Exemplo 4.11. Os complexos não nulos com a multiplicação usual é um grupo abeliano, no
qual 1 é o elemento neutro e a inversa de 𝑠, 𝑠−1 = 1𝑠 . Note que
e ainda
1
𝑠 · 𝑠−1 = 1 =⇒ 𝑠−1 = . (4.12)
𝑠
Definição 4.12 (Potências em elementos de grupos). Se 𝑎 ∈ 𝐺, 𝑎 𝑛 é definido por
(1) 𝑎0 = 𝑒
(2) 𝑎 𝑛 = 𝑎𝑎 𝑛−1 se 𝑛 > 0
𝑎 (−𝑛) = 𝑎 −1 𝑛
(3) se 𝑛 > 0
Demonstração. Como o grupo é finito, existe uma quantidade finita de possibilidades para 𝑎 𝑥
suponha que para algum 𝑥, {𝑎 𝑦 |𝑦 ≤ 𝑥} é um conjunto com todos os elementos distintos. Pelo
4 Caráteres e Caráteres de Dirichlet 55
𝑎 𝑥 𝑎 = 𝑎 𝑠 =⇒ 𝑎 −𝑠 𝑎 𝑥 𝑎 = 𝑎 −𝑠 𝑎 𝑠 =⇒ 𝑎 −𝑠 𝑎 𝑥 𝑎 = 𝑒 =⇒ 𝑎 𝑥−𝑠 𝑎 = 𝑒 =⇒ 𝑘 = 𝑥 − 𝑠 + 1. (4.13)
Como 𝑥 ≤ 𝑛, 𝑠 ≥ 0 então 𝑘 ≤ 𝑛. □
Definição 4.14 (Subgrupo ⟨·⟩). Seja 𝐺 um grupo finito e seja ⟨𝑎⟩ o grupo formado pelo mesmo
operador binário de 𝐺, mas com o conjunto de elementos {𝑎, 𝑎 1 , . . . , 𝑎 𝑛 = 𝑒} tal que 𝑎 ∈ 𝐺.
Dizemos que a ordem de 𝑎 no grupo 𝐺 é igual ao menor inteiro 𝑛 tal que 𝑎 𝑛 = 𝑒. Note que ⟨𝑎⟩
é de fato subgrupo de 𝐺 com exatamente 𝑛 elementos.
𝐺 ′′ = ⟨𝐺 ′, 𝑎⟩ (4.16)
o que indica que ele foi construído a partir de 𝐺 ′, com a adição do elemento 𝑎 ∈ 𝐺.
Demonstração. Basta mostrar que as propriedades de grupo são atendidas. É evidente que 𝐺 ′′
é fechado. Elementos do tipo 𝑥 · 𝑦 com 𝑥 ∈ 𝐺 ′ e 𝑦 ∈ ⟨𝑎⟩ só podem gerar elementos do mesmo
tipo. Sejam dois elementos do tipo 𝑥 1 · 𝑦 1 e 𝑥 2 · 𝑦 2 com 𝑥1 e 𝑥2 ∈ 𝐺 ′ e 𝑦 1 e 𝑦 2 ∈ ⟨𝑎⟩ então
(𝑥 1 · 𝑦 1 ) · (𝑥 2 · 𝑦 2 ) = (𝑥 1 · 𝑥 2 ) · (𝑦 1 · 𝑦 2 ) = 𝑥 · 𝑦 (4.17)
O teorema da representação de grupos é uma ferramenta que nos permite avaliar todos os
possíveis subgrupos obtidos a partir de um grupo. Essa maneira se inicia pela construção de
subgrupos, elemento a elemento, usando subgrupos do tipo ⟨·⟩ e a seguinte estratégia.
𝐺 0 = {𝑒}
𝐺 1 = 𝐺 0, 𝑔𝑘1
.. (4.21)
.
𝐺 𝑚 = 𝐺 𝑚−1 , 𝑔 𝑘 𝑚 = 𝐺.
|𝐺 0 | = 1
|𝐺 1 | = |𝐺 0 | · 𝑔 𝑘 1 = 𝑔 𝑘 1
|𝐺 2 | = |𝐺 1 | · 𝑔 𝑘 2 = 𝑔 𝑘 1 · 𝑔 𝑘 2 (4.23)
..
.
|𝐺 | = |𝐺 𝑚 | = |𝐺 𝑚−1 | · 𝑔 𝑘 𝑚 = 𝑔 𝑘 1 · 𝑔 𝑘 2 · . . . · 𝑔 𝑘 𝑚 .
□
4.2 Caráteres e caráteres em grupos abelianos finitos 57
Neste ponto estamos prontos para apresentar o conceito de caráter. Caráter é basicamente
uma função complexa multiplicativa cujo domínio é um grupo de interesse e a imagem são os
complexos. Essa definição tem uma série de implicações, que serão discutidas nessa seção.
Note que para os grupos finitos, a definição de caráter cria uma restrição no comportamento
da função caráter.
Demonstração. Para o item (1), tome 𝑐 ∈ 𝐺 tal que 𝑓 (𝑐) ≠ 0. Neste caso, 𝑐 = 𝑐 · 𝑒 e
Deste modo, a função caráter deve pertencer à classe de funções homomorfas à 𝑈 (1), ou
seja, 𝑓 : 𝐺 → 𝑈 (1) na qual,
𝑈 (𝑛) = {𝑧 ∈ C : |𝑧| = 𝑛} . (4.26)
Note que apenas assumir que o grupo 𝐺 é finito impõe uma restrição importante sobre as
funções caráteres. Neste caso apenas as funções complexas multiplicativas cuja imagem está
contida no círculo unitário são candidatas. Uma função que trivialmente respeita essa condição
é aquela que mapeia todos os elementos do grupo em 1. Esse mapeamento é denominado caráter
principal.
Definição 4.19 (Caráter principal). Seja 𝐺 um grupo. A função 𝑓 (𝑔) = 1 para todo 𝑔 ∈ 𝐺 é
denominada caráter principal de 𝐺.
4.2 Caráteres e caráteres em grupos abelianos finitos 58
Note que 𝑓 (𝑥) = 1 é de fato caráter, pois por um lado se 𝑎 e 𝑏 ∈ 𝐺 e (𝑎, 𝑏) = 1 então
𝑓 (𝑎 · 𝑏) = 𝑓 (𝑎) · 𝑓 (𝑏) = 1 · 1 = 1. Por outro 𝑐 = 𝑎 · 𝑏 está em 𝐺 pela definição de grupo e 𝑓 (𝑐) = 1
pela definição de 𝑓 . O caráter principal usualmente denominado 𝑓1 . Ainda podemos relacionar a
quantidade possível de funções caráteres distintas com a ordem do grupo pelo seguinte teorema.
Teorema 4.20 (Ordem e caráter de grupos abelianos finitos). Um grupo 𝐺 abeliano e finito de
ordem 𝑛 possui exatamente 𝑛 caráteres distintos.
Pelo teorema anterior, as escolhas possíveis para 𝑓2 são as raízes da unidade e existem
exatamente 𝑔 𝑘 escolhas para o caráter 𝑓2 de 𝐺 2 . Denotemos o número de possíveis escolhas
1
# 𝑓1 = 1
# 𝑓2 = 𝑔 𝑘 1 · # 𝑓1 = 𝑔 𝑘 1
# 𝑓3 = 𝑔 𝑘 2 · # 𝑓2 = 𝑔 𝑘 2 · 𝑔 𝑘 1 (4.28)
..
.
# 𝑓 = 𝑔 𝑘 𝑚 · # 𝑓𝑚 = 𝑔 𝑘 𝑚 · . . . · 𝑔 𝑘 1 = |𝐺 | = 𝑛.
Denotaremos essas possibilidades como 𝑓𝑖, 𝑗 tal que 𝑖 diz respeito ao nível do subgrupo e 𝑗
a escolha desse nível dentre as possíveis. □
Com o entendimento de caráteres, definiremos operações com estas funções. Para tal,
introduziremos o conceito de multiplicação de caráteres.
Com a multiplicação bem definida para caráteres, podemos questionar o conjunto de todos
os caráteres de um grupo munido do operador binário anterior também forma um grupo.
Teorema 4.22. Sejam 𝐺
b = 𝑓𝑖, 𝑗
𝑐 𝑚 ,𝑚
tal que 𝑚 descreve o nível do subgrupo e 𝑐 𝑚 as possíveis
escolhas de caráter para tal subgrupo, ou seja, o conjunto de todos caráteres de um grupo
abeliano finito 𝐺. 𝐺
b munido com o operador binário da multiplicação de caráteres é um grupo.
na qual 𝑓𝑖 (𝑎) é a conjugada complexa de 𝑓𝑖 calculada em 𝑎. Para garantir que a conjugação faz
parte de 𝐺,
b basta notar que para o elemento neutro de 𝐺, denotado por 1, temos que:
𝑓𝑖 (1) = 1 =⇒ 1 = 𝑓𝑖 𝑎 · 𝑎 −1 = 𝑓𝑖 (𝑎) · 𝑓𝑖 𝑎 −1 =⇒ 𝑓𝑖 𝑎 −1 = 𝑓𝑖 (𝑎). (4.31)
Teorema 4.23. Seja 𝐺 um grupo abeliano finito tal que |𝐺 | > 1 e considere o grupo 𝐺. Então
b
𝐺𝐺 b e portanto |𝐺 | = 𝐺
b.
Demonstração. Pelo Teorema 4.20 fica evidente que |𝐺 | = 𝐺
b
. Para mostrar o homomorfismo
basta criar uma função 𝜙 : 𝐺 → 𝐺
b tal que 𝜙 seja não nula e multiplicativa. Usando o Teorema
4.16
𝐺 = 𝑔𝑘1 × 𝑔𝑘2 × · · · × 𝑔𝑘 𝑚 (4.33)
no qual 𝑔 𝑘 𝑖 = 𝑛𝑖 . Assuma que para quaisquer dois elementos 𝑎 e 𝑏 ∈ 𝐺 temos
𝑒 𝑒 𝑒
𝜙 𝑔 𝑘𝑒11 · 𝑔 𝑘𝑒22 · . . . · 𝑔 𝑘𝑒 𝑚𝑚 : 𝑔 𝑘𝑒11 , 𝑔 𝑘𝑒22 , · · · , 𝑔 𝑘𝑒 𝑚𝑚 ↦→ 𝑓1 𝑔 𝑘 1 1 · 𝑓2 𝑔 𝑘 2 2 · . . . · 𝑓𝑚 𝑔 𝑘 𝑚 𝑚 (4.34)
4.2 Caráteres e caráteres em grupos abelianos finitos 60
= 𝜙(𝑎) · 𝜙(𝑏)
Sabendo-se que os caráteres trazem consigo propriedades do grupo original, vale o estudo
de algumas de suas propriedades, por exemplo, ortogonalidade. Estudaremos uma matriz
interessante que relaciona os elementos de 𝐺 com os caráteres definidos de 𝐺.
Definição 4.24 (Caráteres avaliados para todos os elementos do grupo de origem). Sejam
os grupos abelianos de ordem 𝑛, 𝐺 com os elementos {𝑎 1 , · · · , 𝑎 𝑛 } e 𝐺
b com os caráteres
construídos a partir de 𝐺 cujos elementos são { 𝑓1 , · · · , 𝑓𝑛 } munidos de seus operadores binários
correspondentes. Defina a matriz 𝐴 pertencente ao espaço de matrizes 𝑛 × 𝑛 cujos elementos
são calculados pela aplicação de cada um dos caráteres sobre cada um dos elementos de 𝐺, ou
seja, 𝐴(𝐺) = 𝑓𝑖 (𝑎 𝑗 ) 𝑖 𝑗 , ou ainda,
𝑓1 (𝑎 1 ) 𝑓1 (𝑎 2 ) · · · 𝑓1 (𝑎 𝑛 ) 1 ···
1 1
𝑓2 (𝑎 1 ) 𝑓2 (𝑎 2 ) · · · 𝑓2 (𝑎 𝑛 ) 𝑓2 (𝑎 1 ) 𝑓2 (𝑎 2 ) · · · 𝑓2 (𝑎 𝑛 )
𝐴(𝐺) = . .. = ..
.. .. .. .. .. . (4.37)
.. . . . . . . .
𝑓𝑛 (𝑎 1 ) 𝑓𝑛 (𝑎 2 ) · · · 𝑓𝑛 (𝑎 𝑛 ) 𝑓𝑛 (𝑎 1 ) 𝑓𝑛 (𝑎 2 ) · · · 𝑓𝑛 (𝑎 𝑛 )
A primeira constatação interessante é que a soma de qualquer linha dessa matriz deve ser
zero, a menos daquela que contém o caráter principal, no caso a primeira.
Teorema 4.25. A soma 𝑆𝑖 dos elementos da linha 𝑖 da matriz 𝐴(𝐺) é dada por
𝑛
se 𝑖 = 1
∑︁ 𝑛
𝑆𝑖 = 𝑓𝑖 (𝑎𝑟 ) = (4.38)
𝑟=1
0
caso contrário.
4.2 Caráteres e caráteres em grupos abelianos finitos 61
Í𝑛
Demonstração. Se 𝑖 = 1, 𝑓1 (𝑎𝑟 ) = 1 para todo 𝑟, então 𝑆1 = 𝑟=1 1 = 𝑛. Se 𝑖 ≠ 1 escolha algum
elemento 𝑔 ∈ 𝐺 tal que 𝑓𝑖 (𝑔) ≠ 1. Note que percorrer o somatório para todos os elementos de 𝐺
é equivalente a percorrer o somatório para os elementos do tipo 𝑔 · 𝑎𝑟 , assim
𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁
𝑆𝑖 = 𝑓𝑖 (𝑔 · 𝑎𝑟 ) = 𝑓𝑖 (𝑔) · 𝑓𝑖 (𝑎𝑟 ) = 𝑓𝑖 (𝑔) 𝑓𝑖 (𝑎𝑟 ). (4.39)
𝑟=1 𝑟=1 𝑟=1
Logo,
𝑛
∑︁
𝑆𝑖 = 𝑓𝑖 (𝑔) 𝑓𝑖 (𝑎𝑟 ) =⇒ 𝑆𝑖 = 𝑓𝑖 (𝑔)𝑆𝑖 =⇒ 𝑆𝑖 (1 − 𝑓𝑖 (𝑔)) = 0 =⇒ 𝑆𝑖 = 0, (4.40)
𝑟=1
Agora definiremos a matriz conjugada transposta de 𝐴(𝐺) e observar como elas se relacio-
nam.
Note que as duas matrizes, 𝐴(𝐺) e 𝐴∗ (𝐺), como definidas, são inversas uma da outra, a
menos de uma escala.
Teorema 4.27. Seja 𝐴(𝐺), 𝐴∗ (𝐺) e 𝐼𝑛 a matriz diagonal composta com elementos neutros de
𝐺, então
𝐴𝐴∗ = 𝑛𝐼 = 𝐴∗ 𝐴. (4.42)
4.2 Caráteres e caráteres em grupos abelianos finitos 62
Demonstração.
𝑓1 (𝑎 1 ) 𝑓1 (𝑎 2 ) · · · 𝑓1 (𝑎 𝑛 ) 𝑓1 (𝑎 1 ) 𝑓2 (𝑎 1 ) · · · 𝑓𝑛 (𝑎 1 )
𝑓2 (𝑎 1 ) 𝑓2 (𝑎 2 ) · · · 𝑓2 (𝑎 𝑛 ) 𝑓1 (𝑎 2 ) 𝑓2 (𝑎 2 ) · · · 𝑓𝑛 (𝑎 2 )
∗
𝐴𝐴 = . .. = ..
.. .. ... .. ... ..
. . . . .
𝑓𝑛 (𝑎 1 ) 𝑓𝑛 (𝑎 2 ) · · · 𝑓𝑛 (𝑎 𝑛 ) 𝑓1 (𝑎 𝑛 ) 𝑓2 (𝑎 𝑛 ) · · · 𝑓𝑛 (𝑎 𝑛 )
Í𝑛 𝑛
Í 𝑛
Í
𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓2 (𝑎𝑖 ) ··· 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 )
𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1
𝑛 𝑛 𝑛
Í Í Í
𝑓2 (𝑎𝑖 ) 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓2 (𝑎𝑖 ) 𝑓2 (𝑎𝑖 ) ··· 𝑓2 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 )
= 𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1
.. .. .. ..
(4.43)
. . . .
Í𝑛 𝑛
Í 𝑛
Í
𝑓𝑛 (𝑎𝑖 ) 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 ) 𝑓2 (𝑎𝑖 ) ··· 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 )
𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1
Í𝑛 𝑛
Í 𝑛
Í
𝑓1 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓1 𝑓2 (𝑎𝑖 ) ··· 𝑓1 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 )
𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1
𝑛 𝑛 𝑛
Í Í Í
𝑓2 𝑓1 (𝑎𝑖 ) 𝑓2 𝑓2 (𝑎𝑖 ) ··· 𝑓2 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 )
= 𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1 .
.. .. ... ..
. . .
Í𝑛 𝑛
Í 𝑛
Í
𝑓 𝑓
𝑛 1 (𝑎 𝑖 ) 𝑓 𝑛 2 (𝑎 𝑖 )
𝑓 ··· 𝑓𝑛 𝑓𝑛 (𝑎𝑖 )
𝑖=1 𝑖=1 𝑖=1
Assim, pelo Teorema 4.25
0 · · · 0 0 · · · 0
𝑛 1
∗
0 𝑛 · · · 0 0 1 · · · 0
𝐴· 𝐴 = . .. . . .. = 𝑛 · .. .. . . .. = 𝑛 · 𝐼.
(4.44)
.. . . . . .
. .
0
0 · · · 𝑛 0
0 · · · 1
𝐴 · 𝐴∗ = 𝑛 · 𝐼 = 𝐴∗ · 𝐴. (4.45)
Note ainda que para todo par 𝑎𝑖 e 𝑎 𝑗 de elementos de 𝐺, somando sobre todos os caráteres o
produto entre cada caráter e seu conjugado calculados respectivamente sobre 𝑎𝑖 e 𝑎 𝑗 , o somatório
admite apenas dois valores, 0 ou 𝑛.
4.3 Caráteres de Dirichlet 63
Demonstração. Se 𝑖 = 𝑗 então
𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁
𝑓𝑟 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑟 (𝑎 𝑗 ) = 𝑓𝑟 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑟 (𝑎𝑖−1 ) = 𝑓𝑟 (𝑎𝑖 · 𝑎𝑖−1 ) = 𝑓𝑟 (𝑒) = 𝑛. (4.47)
𝑟=1 𝑟=1 𝑟=1 𝑟=1
Se 𝑖 ≠ 𝑗 então
𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁ 𝑛
∑︁
𝑓𝑟 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑟 (𝑎 𝑗 ) = 𝑓𝑟 (𝑎𝑖 ) 𝑓𝑟 (𝑎 −1
𝑗 ) = 𝑓𝑟 (𝑎𝑖 · 𝑎 −1
𝑗 ) = 𝑓𝑟 (𝑎 𝑘 ) = 0 (4.48)
𝑟=1 𝑟=1 𝑟=1 𝑟=1
pois todos os 𝑓𝑟 são simétricos sobre o círculo unitário, portanto, a soma resulta em zero. □
Como estamos desenvolvendo toda teoria de caráteres sobre grupos finitos, uma maneira
simples de construir grupos finitos é utilizar classes de resíduos associadas com a multiplicação
usual. Portanto, definiremos clásse de resíduos e como construir grupos finitos com elas.
Definição 4.29 (Classe de resíduo). Para cada inteiro 𝑎, a classe de resíduo [𝑎] 𝑘 é definida como
o conjunto de todos os inteiros congruentes ao inteiro 𝑎 módulo 𝑘, ou seja,
ou ainda
[𝑎] 𝑘 = {𝑘 · 𝑧 + 𝑎 : 𝑧 ∈ Z}. (4.50)
Para duas classes de resíduo [𝑎] 𝑘 e [𝑏] 𝑘 , a multiplicação entre elementos 𝑎 ∈ [𝑎] 𝑘 e 𝑏 ∈ [𝑏] 𝑘
4.3 Caráteres de Dirichlet 64
𝑎 · 𝑏 = (𝑘 · 𝑧1 + 𝑎)(𝑘 · 𝑧2 + 𝑏)
= 𝑘 2 · 𝑧1 · 𝑧2 + 𝑘 · 𝑧1 · 𝑏 + 𝑘 · 𝑧2 · 𝑎 + 𝑎 · 𝑏
= 𝑘 (𝑘 · 𝑧 1 · 𝑧2 + 𝑧 1 · 𝑏 + 𝑧2 · 𝑎) + 𝑎 · 𝑏 (4.52)
= 𝑘 ·𝑧+𝑎·𝑏
≡ 𝑎 · 𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑘)
o conjunto formado por todos os elementos das duas classes de resíduo multiplicados entre sí
escolhendo-se exatamente um elemento de cada classe.
Note que para a multiplicação de classes de resíduo a classe [1] é o elemento neutro. Para
uma classe de resíduos [𝑎] 𝑘 , se (𝑎, 𝑘) = 1, então, existe um único 𝑏 tal que
Agora construiremos uma função caráter que considere elementos relativamente primos
de modo que existam tantos caráteres quanto a ordem dos grupos formados pelas classes de
resíduos e a multiplicação definida. Esses caráteres são denominados caráteres de Dirichlet.
Definição 4.33 (Caráteres de Dirichlet). Seja 𝐺 o grupo formado pelas classes de resíduo
módulo 𝑘 com a múltiplicação definida. Para cada caráter 𝑓𝑖 de 𝐺, defina o caráter de Dirichlet
4.3 Caráteres de Dirichlet 65
se (𝑛, 𝑘) = 1
1
𝜒𝑘,1 (𝑛) = (4.57)
0 caso contrário
que pela definição de produtos sobre caráteres, define o elemento neutro, pois
para todo 𝑖 e 𝑛.
Pela construção sobre as classes de resíduo é evidente que existem 𝜑(𝑘) caráteres de Dirichlet
módulo 𝑘, mais ainda, estas são funções completamente multiplicativas e periódicas.
Teorema 4.35. Existem 𝜑(𝑘) caráteres de Dirichlet módulo 𝑘, as quais são completamente
multiplicativos e periódicos de período 𝑘. Assim para todo 𝑚 e 𝑛
Demonstração. A propriedade multiplicativa segue de que 𝜒𝑘,𝑖 é definida por meio de 𝑓𝑖 , que
são multiplicativas e completamente multiplicativas se (𝑛, 𝑘) = 1. A periodicidade advêm de
que existe 𝑎 ≡ 𝑏 (𝑚𝑜𝑑 𝑘) tal que 𝑏 ≡ 𝑛𝑘 + 𝑎 (𝑚𝑜𝑑 𝑘) e deste modo 𝜒𝑘,𝑖 (𝑎) = 𝜒𝑘,𝑖 (𝑏). A recíproca
é óbvia pela definição de caráter de Dirichlet. □
Exemplo 4.36 (Caráter de Dirichlet para a classe de resíduos módulo 4). Note que 𝜑(4) = 2,
logo, existem apenas 2 caráteres de Dirichlet módulo 4. O caráter principal é um deles. Note
que 𝜒4,2 (1) = 1, pois 1 é o elemento neutro. Ainda que 𝜒4,2 (2) = 𝜒4,4 (4) = 0, pois não pertencem
à classes de resíduo relativamente primos à 4. Pela propriedade das somas das linhas da matriz
𝐴(𝐺), 𝑆𝑖 , ser zero para todo 𝑖 ≠ 1, descobrimos que 𝜒4,2 (3) = −1. Veja Tabela 4.1a. Note a
periodicidade da função.
Exemplo 4.37 (Caráter de Dirichlet para a classe de reíduos módulo 5). Note que 𝜑(5) = 5−1 = 4,
logo, existem apenas 4 caráteres de Dirichlet módulo 5. As possibilidades são as 4 raízes da
unidade que são: {1, −1, 𝑖, −𝑖}. O caráter principal é um dos caráteres tal que 𝜒𝑘,𝑖 (1) = 1 para todo
𝑖. Pela propriedade da multiplicação e da periodicidade, 𝜒𝑘,𝑖 (2) 𝜒𝑘,𝑖 (3) = 𝜒𝑘,𝑖 (6) = 𝜒𝑘,𝑖 (5 + 1) =
𝜒𝑘,𝑖 (1). Isso indica que eles são recíprocos um do outro. Ainda 𝜒𝑘,𝑖 (2) 𝜒𝑘,𝑖 (2) = 𝜒𝑘,𝑖 (4). Deste
modo conseguimos construir os 4 possíveis caráteres. Veja a Tabela 4.1b.
(b) módulo 5
Teorema 4.38. Sejam 𝜒𝑘,1 , · · · , 𝜒𝑘,𝜑(𝑘) os 𝜑(𝑘) caráteres de Dirichlet módulo 𝑘. Sejam 𝑚 e 𝑛
inteiros, com 𝑛 ∈ [𝑁] 𝑘 tal que (𝑁, 𝑘) = 1. Então
𝜑(𝑘)
se 𝑚 ≡ 𝑛 (𝑚𝑜𝑑 𝑘)
∑︁
𝜑(𝑘)
𝜒𝑘,𝑟 (𝑚) 𝜒𝑘,𝑟 (𝑛) = (4.59)
𝑟=1
0
caso contrário.
Note que no caso particular de 𝑛 = 𝑚 com 𝑛 ∈ [𝑁] 𝑘 tal que (𝑁, 𝑘) = 1 então:
𝜑(𝑘)
∑︁
𝜒𝑘,𝑟 (𝑛) 𝜒𝑘,𝑟 (𝑛) = 𝜑(𝑘) (4.63)
𝑟=1
= 𝜒5,1 (3) 𝜒5,1 (3) + 𝜒5,2 (3) 𝜒5,2 (3) + 𝜒5,3 (3) 𝜒5,3 (3) + 𝜒5,4 (3) 𝜒5,4 (3)
(4.64)
= (1 · 1) + (−1 · −1) + (−𝑖 · −𝑖) + (𝑖 · 𝑖)
= (1 · 1) + (−1 · −1) + (−𝑖 · 𝑖) + (𝑖 · −𝑖)
= 1 + 1 + 1 + 1 = 4 = 𝜑(5)
ou ainda,
𝜑(5)
∑︁ 4
∑︁
𝜒5,𝑟 (3) 𝜒5,𝑟 (3) = 𝜒5,𝑟 (3) 𝜒5,𝑟 (3−1 )
𝑟=1 𝑟=1
4
∑︁
= 𝜒5,𝑟 (3) 𝜒5,𝑟 (2)
(4.65)
𝑟=1
= 𝜒5,1 (3) 𝜒5,1 (2) + 𝜒5,2 (3) 𝜒5,2 (2) + 𝜒5,3 (3) 𝜒5,3 (2) + 𝜒5,4 (3) 𝜒5,4 (2)
= (1 · 1) + (−1 · −1) + (−𝑖 · 𝑖) + (𝑖 · −𝑖)
= 1 + 1 + 1 + 1 = 4 = 𝜑(5).
Com a capacidade de determinar totalmente os valores dos caráteres de Dirichlet para classes
4.3 Caráteres de Dirichlet 68
Neste capítulo trataremos de uma classe relevante de funções aritméticas, as periódicas, nas
quais se incluem os caráteres de Dirichlet. Iniciando pela definição:
Definição 5.1 (Funções periódicas). Uma função aritmética 𝑓 é dita periódica se existe 𝑘 tal
que
𝑓 (𝑛 + 𝑘) = 𝑓 (𝑛) (5.1)
Por exemplo, a função 𝜒𝑘,𝑖 (𝑛) é periódica de período 𝑘, ou seja, 𝜒𝑘,𝑖 (𝑛) = 𝜒𝑘,𝑖 (𝑛 + 𝑘) para
todo 𝑛 ∈ Z. Um exemplo interessante é a função (𝑛, 𝑘) que também é periódica de período 𝑘, ou
𝑚
seja, (𝑛, 𝑘) = (𝑛 + 𝑘, 𝑘). Outro exemplo trivial é função 𝑓 (𝑛) = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 que é periódica de peíodo
𝑘, pois
𝑚 𝑚 𝑚
𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛 + 𝑘) = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 (𝑛+𝑘) = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 𝑒 2𝜋𝑖𝑚 = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 . (5.2)
Este último exemplo foi escolhido propositalmente, pois descreve as raízes da unidade, que
são todos os possíveis valores para os caráteres de Dirichlet para a classe de resíduo módulo 𝑘
para 𝑘 primo, nos permitindo escrever o teorema a seguir.
𝑚
Teorema 5.2. Seja 𝑘 ≥ 1 e 𝑓 (𝑛) = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 então
𝑘 𝑘
∑︁ ∑︁
2𝜋𝑖 𝑚
0
se 𝑘 ∤ 𝑛
𝑔(𝑛) = 𝑓 (𝑛) = 𝑒 𝑘𝑛 = (5.3)
𝑚=1 𝑚=1
k
se 𝑘 |𝑛.
𝑚
Demonstração. Se 𝑘 |𝑛, então 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 = 1 para todo 𝑚 e
𝑘
∑︁
𝑔(𝑛) = 1 = 𝑘. (5.4)
𝑚=1
5.1 Teorema da interpolação de Lagrange 70
𝑚
Agora se 𝑘 ∤ 𝑛, então, 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 representam as raízes da unidade para 𝑚 = 1 até 𝑘. Como as
raízes da unidade são caráter de Dirichlet, então:
𝑘
∑︁ 𝑚
𝑔(𝑛) = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 = 0. (5.5)
𝑚=1
As funções periódicas não se resumem aos caráteres de Dirichlet. Para qualquer conjunto
de números podemos construir funções aritméticas periódicas. Essa propriedade é garantida
pelo teorema da interpolação de Lagrange.
𝐴𝑚 (𝑧) (𝑧 𝑚 − 𝑧 𝑚 )(𝑧 − 𝑧1 ) · (𝑧 − 𝑧2 ) · . . . · (𝑧 − 𝑧 𝑚 ) · . . . · (𝑧 − 𝑧 𝑘 )
=
𝐴𝑚 (𝑧 𝑚 ) (𝑧 − 𝑧 𝑚 )(𝑧 𝑚 − 𝑧 1 ) · (𝑧 𝑚 − 𝑧2 ) · . . . · (𝑧 𝑚 − 𝑧 𝑚 ) · . . . · (𝑧 𝑚 − 𝑧 𝑘 )
(5.7)
(𝑧 − 𝑧1 ) (𝑧 − 𝑧2 ) (𝑧 − 𝑧 𝑘 )
= · ·...· , 𝑘 ≠𝑚
(𝑧 𝑚 − 𝑧 1 ) (𝑧 𝑚 − 𝑧2 ) (𝑧 𝑚 − 𝑧 𝑘 )
Assim 𝐴𝑚 (𝑧)/𝐴𝑚 (𝑧 𝑚 ) vale 0 para todo 𝑧 𝑗 se 𝑗 ≠ 𝑚 e 1 se 𝑗 = 𝑚. Deste modo a combinação
linear
𝑘
∑︁ 𝐴𝑚 (𝑧)
𝑃(𝑧) = 𝑤𝑚 (5.8)
𝐴𝑚 (𝑧 𝑚 )
𝑚=1
é o polinômio de grau 𝑘 − 1 tal que 𝑃(𝑧𝑖 ) = 𝑤 𝑖 para todo 𝑖 ∈ {1, 2, · · · , 𝑘 }. A unicidade decorre
da existência de 𝑘 − 1 zeros distintos em um polinômio de grau 𝑘 − 1, pois se existisse 𝑄(𝑧) com
os mesmos zeros e com o mesmo grau, ele seria de fato 𝑃(𝑧). □
5.2 Expansão finita de Fourier 71
Agora podemos aplicar esse conceito para mapear, por meio das raízes da unidade, qualquer
conjunto finito em escalas sobre as raízes da unidade.
1
Demonstração. Usando o teorema anterior, e adotando 𝑧 𝑚 = 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑚 para todo 𝑚 ∈ {1, · · · , 𝑘 }
teremos:
𝑘
∑︁ 𝑛
𝑤𝑚 = 𝑎 𝑛 · 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑚 . (5.11)
𝑛=1
𝑟
Multiplicando ambos os lados por 𝑒 −2𝜋𝑖 𝑘 𝑚 e somando para todo 𝑚
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
−2𝜋𝑖 𝑚 −2𝜋𝑖 𝑚 2𝜋𝑖 𝑛𝑘 𝑚 𝑚
𝑤𝑚 𝑒 𝑘𝑟 = 𝑒 𝑘𝑟 𝑎𝑛 · 𝑒 = 𝑎𝑛 · 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 (𝑛−𝑟) . (5.12)
𝑚=1 𝑚=1 𝑛=1 𝑛=1 𝑚=1
Pela direita e pelo Teorema 5.2, os termos somados são 0 se 𝑘 ∤ (𝑛 − 𝑟) e são 1 apenas se
𝑛 = 𝑟, assim,
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
−2𝜋𝑖 𝑚 1 𝑚
𝑤𝑚 𝑒 𝑘𝑟 = 𝑘𝑎𝑟 =⇒ 𝑎 𝑛 = 𝑤 𝑚 𝑒 −2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 . (5.13)
𝑘
𝑚=1 𝑚=1
□
Teorema 5.5 (Expansão finita de Fourier). Dada a função aritmética 𝑓 periódica módulo 𝑘,
5.2 Expansão finita de Fourier 72
Demonstração. Uso direto do teorema anterior construindo 𝑓 (𝑖) = 𝑤 𝑖 e 𝑔(𝑖) = 𝑎𝑖 . A soma que
descreve 𝑓 em função de 𝑔 é denominada expansão finita de Fourier de 𝑓 , na qual 𝑔 são os
coeficientes de Fourier de 𝑓 . □
Usando a periodicidade das funções 𝑓 e 𝑔, o teorema anterior pode ser escrito por
∑︁ ∑︁
2𝜋𝑖 𝑛𝑘 𝑚 𝑚
𝑓 (𝑚) = 𝑔(𝑛) · 𝑒 e 𝑔(𝑛) = 𝑓 (𝑚) · 𝑒 −2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 . (5.16)
𝑛 𝑚𝑜𝑑 𝑘 𝑚 𝑚𝑜𝑑 𝑘
Uma aplicação interessante é observar a expansão finita de Fourier para função denominadas
produto de Dirichlet.
Note que
∑︁ 𝑛 ∑︁ 𝑛
𝑠𝑛,𝑛 ( 𝑓 , 𝑔) = 𝑓 (𝑑) · 𝑔 = 𝑓 (𝑑) · 𝑔 = 𝑓 ∗ 𝑔(𝑛) (5.19)
𝑑 𝑑
𝑑|(𝑛,𝑛) 𝑑|𝑛
Assim podemos escrever a expansão finita de Fourier para qualquer produto de Dirichlet de
forma que:
5.3 Soma de Ramanujan 73
Teorema 5.8 (Expansão finita de Fourier para o produto de Dirichlet generalizado). Sejam 𝑓
e 𝑔 funções aritméticas e 𝑠 𝑘,𝑛 ( 𝑓 , 𝑔) o produto de Dirichlet generalizado entre elas. Então a
expansão finita de Fourier de 𝑠 𝑘,𝑛 ( 𝑓 , 𝑔) é dada por
𝑘
∑︁ 𝑚
𝑠 𝑘,𝑛 ( 𝑓 , 𝑔) = 𝑎 𝑘,𝑚 · 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 (5.20)
𝑚=1
na qual
∑︁
𝑘 𝑑
𝑎 𝑘,𝑚 = 𝑔(𝑑) 𝑓 (5.21)
𝑑 𝑘
𝑑|(𝑚,𝑘)
escrevendo 𝑛 = 𝑐 · 𝑑
∑︁ 𝑘/𝑑
∑︁
1 𝑘 𝑐𝑑
𝑎 𝑘,𝑚 = 𝑓 (𝑑)𝑔 𝑒 −2𝜋𝑖 𝑘 𝑚 . (5.23)
𝑘 𝑑
𝑑|𝑘 𝑐=1
Substituindo 𝑘/𝑑 por 𝑑 e notando que a soma em 𝑐 é zero a menos que 𝑑|𝑚 e nesse caso vale 𝑑,
logo,
∑︁ 𝑑
∑︁
1 𝑘 𝑐
𝑎 𝑘,𝑚 = 𝑓 𝑔(𝑑) 𝑒 −2𝜋𝑖 𝑑 𝑚
𝑘 𝑑
𝑑|𝑘 𝑐=1
∑︁ (5.24)
1 𝑘
= 𝑓 𝑔(𝑑)𝑑.
𝑘 𝑑
𝑑|(𝑚,𝑘)
Note que se 𝑘 |𝑛 então 𝑐 𝑘 (𝑛) = 𝜑(𝑘), pois será somado 1 toda vez que (𝑚, 𝑘) = 1. Ainda,
se 𝑛 = 1 então 𝑐 𝑘 (1) = 𝜇(𝑘). Veja que o produto de Ramanujan não passa de um produto de
Dirichlet de duas função 𝑘 · 𝜇(𝑘). Se 𝑓 (𝑘) = 𝑘 e 𝑔(𝑘) = 𝜇(𝑘) então:
∑︁ ∑︁ ∑︁
𝑘 2𝜋𝑖 𝑛𝑘 𝑚 1 𝑘
𝑓 (𝑑)𝑔 = 𝑎 𝑘 (𝑚) · 𝑒 =⇒ 𝑎 𝑘 (𝑚) = 𝑓 𝑔(𝑑)𝑑 (5.26)
𝑑 𝑘 𝑑
𝑑|(𝑛,𝑘) 𝑚 𝑚𝑜𝑑 𝑘 𝑑|(𝑚,𝑘)
ou ainda,
se (𝑚, 𝑘) = 1
∑︁ ∑︁
1 𝑘 1
𝑎 𝑘 (𝑚) = 𝜇(𝑑)𝑑 = 𝜇(𝑑) = (5.27)
𝑘 𝑑
0 se (𝑚, 𝑘) > 1
𝑑|(𝑚,𝑘) 𝑑|(𝑚,𝑘)
logo,
∑︁ ∑︁ 𝑘
∑︁
𝑘 2𝜋𝑖 𝑚 𝑚
𝑑·𝜇 = 𝑒 𝑘𝑛 = 𝜒𝑘,1 (𝑚)𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 = 𝑐 𝑘 (𝑛). (5.28)
𝑑
𝑑|(𝑚,𝑘) 𝑚 𝑚𝑜𝑑 𝑘 𝑚=1
(𝑚,𝑘)=1
A soma de Ramanujan utiliza como base o caráter principal de Dirichlet, mas o que
aconteceria se tal soma fosse generalizada para um caráter qualquer. Isso define o próximo
conceito, a soma de Gauss.
Definição 5.10 (Soma de Gauss). Para cada caráter 𝑗 de uma classe de resíduo módulo 𝑘, 𝜒𝑘, 𝑗
a soma de Gauss é então definida por
𝑘
∑︁ 𝑚
𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑚)𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 (5.29)
𝑚=1
𝑘
∑︁ 𝑚
𝐺 𝜒𝑘,1 (𝑛) = 𝜒𝑘,1 (𝑚)𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛 = 𝑐 𝑘 (𝑛). (5.30)
𝑚=1
5.4 Soma de Gauss associada aos caráteres de Dirichlet 75
Teorema 5.12. Se 𝜒𝑘, 𝑗 é o caráter 𝑗 de Dirichlet para a classe de resíduo módulo 𝑘 então a
soma de Gauss associada ao caráter
Demonstração. Toda vez que (𝑛, 𝑘) = 1 o produto 𝑛𝑟 percorre um sistema de resíduos módulo
𝑘. Ainda,
| 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛)| 2 = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 1 =⇒ 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛𝑟). (5.33)
Logo a soma de 𝑚 = 1 até 𝑘, da definição da soma de Gauss, pode ser reescrita por:
𝑘
∑︁ 𝑟
𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟)𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛
𝑟 𝑚𝑜𝑑 𝑘
𝑘
∑︁ 𝑟
= 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛𝑟)𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 𝑛
(5.34)
𝑟 𝑚𝑜𝑑 𝑘
𝑘
∑︁ 𝑚
= 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑚)𝑒 2𝜋𝑖 𝑘
𝑚 𝑚𝑜𝑑 𝑘
Como a condição de separabilidade exige que (𝑛, 𝑘) = 1, se 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 for tal que para todo 𝑛 tal
que (𝑛, 𝑘) > 1, 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑚) = 0, então 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 é separável para todo 𝑛.
Teorema 5.13. Se 𝜒𝑘, 𝑗 é o caráter 𝑗 da classe de resíduo módulo 𝑘, então a soma de Gauss
𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) é sepáravel para todo 𝑛 se, e somente se, 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 0 sempre que (𝑛, 𝑘) > 1.
Demonstração. A prova é evidente. Usando o teorema anterior e notando que sempre que
(𝑛, 𝑘) > 1, 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 0. □
5.4 Soma de Gauss associada aos caráteres de Dirichlet 76
valem zero para todo 𝑟 ≠ 1, e exatamente 𝑘 para 𝑟 = 1. Logo temos que somar apenas os termos
para 𝑟 = 1, ou seja,
5.5 Módulo induzido e caráter primitivo 77
𝑘
∑︁ 𝑚
|𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (1)| 2 = 𝜒𝑘, 𝑗 (1) 𝑒 2𝜋𝑖 𝑘 (1−1)
𝑚=1
𝑘
∑︁
= 𝜒𝑘, 𝑗 (1) 1 (5.38)
𝑚=1
= 𝜒𝑘, 𝑗 (1)𝑘
= 𝑘.
Até aqui estudamos caráteres para classes de resíduos módulo 𝑘, no entanto, conseguimos
inferir propriedades de caráteres para classes de resíduo módulo de qualquer divisor positivo de
𝑘, o que chamaremos de módulo induzido.
Definição 5.15 (Módulo induzido). Seja 𝜒𝑘, 𝑗 um caráter de Dirichlet módulo 𝑘 e 𝑑 um divisor
positivo de 𝑘. Chamaremos 𝑑 de módulo induzido pelo caráter 𝑗 se
ou seja, 𝑑 é módulo induzido, se o caráter 𝜒𝑘, 𝑗 se comporta como caráter principal na classe de
resíduo 𝑑 para entradas congruentes à 1 no módulo 𝑑.
Note que 𝑘 sempre é um módulo induzido por 𝜒𝑘, 𝑗 . Caso 𝑘 seja o único módulo induzido
por 𝜒𝑘, 𝑗 , chamaremos 𝜒𝑘, 𝑗 de caráter primitivo.
Definição 5.16 (Caráter primitivo). O caráter de Dirichlet 𝜒𝑘, 𝑗 módulo 𝑘 é dito primitivo, se
𝑘 é o único módulo induzido, ou ainda, se para todo divisor 𝑑|𝑘 tal que 0 < 𝑑 < 𝑘, existe
𝑎 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑑), com (𝑎, 𝑘) = 1 tal que 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎) ≠ 1.
Uma consequência dessa definição é que 𝜒𝑘,1 nunca é primitivo, para qualquer 𝑘 > 1, pois
1 sempre é um módulo induzido de 𝜒𝑘,1 e 1 ≠ 𝑘. Por outro lado, podemos descrever o seguinte
teorema quando o caráter não for principal.
Teorema 5.17. Todo caráter não principal em uma classe de resíduo de módulo primo, 𝜒 𝑝, 𝑗
com 𝑗 ≠ 1, é caráter primitivo.
5.5 Módulo induzido e caráter primitivo 78
Demonstração. (a) é evidente pelo Teorema 4.25; (b) deriva de (a) com o Teorema 5.13; (c)
deriva de (b) com o Teorema 5.14. □
Agora trataremos de algumas outras implicações do módulo induzido que nos ajudam a
construir os caráteres com base em caráteres de classes de resíduo menores. Por exemplo,
Teorema 5.19. Seja 𝜒𝑘, 𝑗 um caráter de Dirichlet módulo 𝑘 e 𝑑 um divisor positivo de 𝑘. Então
𝑑 é módulo induzido pelo caráter 𝜒𝑘, 𝑗 , se a somente se,
𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑏) sempre que (𝑎, 𝑘) = 1 = (𝑏, 𝑘) e 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑑), (5.40)
e basta tomar 𝑏 = 1. Por outro lado, se 𝑎 ≡ 𝑏(𝑚𝑜𝑑 𝑑) e (𝑎, 𝑘) = 1 = (𝑏, 𝑘) então os recíprocos
de 𝑎 e 𝑏 existem e 𝑎𝑎 −1 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 𝑑) então:
ou seja, 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑏𝑎 −1 ) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎𝑎 −1 ) = 1 e 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑏) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎 −1 ) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎 −1 ) = 1, ou ainda,
𝜒𝑘, 𝑗 (𝑏) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑎). □
Veja a Tabela 5.1 com todos os caráteres da classe de resíduo módulo 9, 6 e 3. Veja que
𝜒9,1 (𝑛) = 𝜒3,1 (𝑛) e 𝜒9,4 (𝑛) = 𝜒3,2 (𝑛). Como 3|9, pela tabela, fica evidente que existem dois
caráteres induzidos. Por outro lado, chamamos 𝜒9,1 (𝑛) extensão de 𝜒3,1 (𝑛) e 𝜒9,4 (𝑛) extensão
de 𝜒3,2 (𝑛).
5.5 Módulo induzido e caráter primitivo 79
Porém, para o módulo 6, mesmo que 3|6, e 3 seja módulo induzido de 6 pois 𝜒6,2 (𝑛) = 𝜒3,2 (𝑛)
para todo (𝑛, 6) = 1 e 𝑛 ≡ 1(𝑚𝑜𝑑 3), 𝜒6,2 (𝑛) não é uma extensão de 𝜒3,2 (𝑛) pois não são iguais
para todo 𝑛. No entanto, note que 𝜒6,2 = 𝜒6,1 · 𝜒3,2 . Essa observação nos permite escrever o
próximo teorema.
𝜑(9) = 6 1 2 3 4 5 6 7 8 9
𝜒9,1 (𝑛) 1 1 0 1 1 0 1 1 0
𝜋 2𝜋 𝜋 2𝜋
𝜒9,2 (𝑛) 1 𝑒 3𝑖 0 𝑒 3 𝑖 𝑒− 3 𝑖 0 𝑒− 3 𝑖 −1 0
2𝜋 2𝜋 2𝜋 2𝜋
𝜒9,3 (𝑛) 1 𝑒 3 𝑖 0 𝑒− 3 𝑖 𝑒− 3 𝑖 0 𝑒 3 𝑖 1 0
𝜒9,4 (𝑛) 1 −1 0 1 −1 0 1 −1 0
2𝜋 2𝜋 2𝜋 2𝜋
𝜒9,5 (𝑛) 1 𝑒− 3 𝑖 0 𝑒 3 𝑖 𝑒 3 𝑖 0 𝑒− 3 𝑖 1 0
𝜋 2𝜋 𝜋 2𝜋
𝜒9,6 (𝑛) 1 𝑒− 3 𝑖 0 𝑒− 3 𝑖 𝑒 3𝑖 0 𝑒 3 𝑖 −1 0
𝜑(3) = 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9
𝜒3,1 (𝑛) 1 1 0 1 1 0 1 1 0
𝜒3,2 (𝑛) 1 −1 0 1 −1 0 1 −1 0
𝜑(6) = 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9
𝜒6,1 (𝑛) 1 0 0 0 1 0 1 0 0
𝜒6,2 (𝑛) 1 0 0 0 −1 0 1 0 0
Teorema 5.20. Seja 𝜒𝑘, 𝑗 um caráter de Dirichlet módulo 𝑘 e 𝑑 um divisor positivo de 𝑘. Então
as duas assertivas são equivalentes:
Demonstração. Suponha que (b) seja válida. Logo 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 𝜒𝑑,𝑖 (𝑛) para todo (𝑛, 𝑘) = 1,
pois 𝜒𝑘,1 = 1 para todas essas condições, logo 𝑑 é módulo induzido de 𝜒𝑘, 𝑗 e (b) implica (a).
Suponha que (a) seja válida. Basta exibir um caráter 𝜒𝑑,𝑖 tal que valha (b). Vamos escolhê-lo de
tal maneira que para todo (𝑛, 𝑑) > 1, 𝜒𝑑,𝑖 (𝑛) = 0. Os remanescentes são do tipo (𝑛, 𝑑) = 1. Note
que se (𝑛, 𝑑) = 1 então (𝑛, 𝑘) = 1, assim, eles coincidem, logo 𝜒𝑑,𝑖 (𝑛) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑚) para algum
𝑛 ≡ 𝑚(𝑚𝑜𝑑 𝑑), garantindo a periodicidade. te modo o caráter está definido e (b) vale. □
5.6 Condutor de um caráter 80
Observação 5.21. Quando tivermos interesse em especificar de qual caráter induzido da classe
de resíduos 𝑑 estamos falando, denotaremos 𝜒𝑑,𝑖 . Quando não, denotaremos 𝜓 𝑗 para identificar
o caráter induzido de 𝜒𝑘, 𝑗 .
Agora que sabemos o que são caráteres de Dirichlet, caráteres induzidos e caráteres princi-
pais, definiremos o menor moódulo induzido por um caráter por condutor.
Definição 5.22 (Condutor de um caráter). Seja o caráter de Dirichlet módulo 𝑘, 𝜒𝑘, 𝑗 . O menor
módulo induzido 𝑑 de 𝜒𝑘, 𝑗 é dito condutor de 𝜒𝑘, 𝑗 .
Teorema 5.23. Todo caráter de Dirichlet para uma classe de resíduos módulo 𝑘, 𝜒𝑘, 𝑗 pode ser
expresso como o produto
𝜒𝑘, 𝑗 = 𝜒𝑑,𝑖 𝜒𝑘,1 para todo 𝑛, (5.44)
Demonstração. De fato, como o Teorema 5.20 é válido para um módulo induzido qualquer, ele
também o é para o menor deles, definido por condutor. Note que podemos escrever a igualdade
por 𝜒𝑘, 𝑗 = 𝜓 𝑗 𝜒𝑘,1 quando não tivermos interesse específico no caráter da classe induzida. □
Séries de Dirichlet é uma das ferramentas mais importantes na teoria analítica dos números,
por isso dedicaremos esse capítulo para explorar suas propriedades.
A série de Dirichlet é uma função geradora. Ou seja, dada uma sequência de números, ela
mapeia tal sequência em uma função. As funções aritméticas geram uma sequência de números
quando avaliada nos inteiros. Esse mapeamento pode, portanto, ser escrito como um operador
sobre as funções aritméticas.
Definição 6.1 (Série de Dirichlet). Seja 𝑓 (𝑛) uma função aritmética. A série
∞
∑︁ 𝑓 (𝑛)
(6.1)
𝑛𝑠
𝑛=1
é definida por série de Dirichlet com coeficientes 𝑓 (𝑛), na qual 𝑠 denota uma variável complexa
que será representada por sua parte real 𝜎 e sua parte complexa 𝑡, ou seja,
𝑠 = 𝜎 + 𝑖𝑡, (6.2)
Como no denominador da série de Dirichlet aparece o termo 𝑛 𝑠 , vamos observá-lo com mais
cuidado. Note que para todo 𝑛 inteiro positivo o módulo de 𝑛 𝑠 , |𝑛 𝑠 |, só depende da componente
real de 𝑠, 𝜎, pois
𝑠
𝑛 𝑠 = 𝑒 ln(𝑛) = 𝑒 (𝜎+𝑖𝑡) ln(𝑛) = 𝑒 𝜎 ln(𝑛) 𝑒𝑖𝑡 ln(𝑛) (6.3)
6 Convergência, Série de Dirichlet e Produto de Euler 82
e portanto
|𝑛 𝑠 | = 𝑒 𝜎 ln(𝑛) 𝑒𝑖𝑡 ln(𝑛) = 𝑒 𝜎 ln(𝑛) 𝑒𝑖𝑡 ln(𝑛) = 𝑛𝜎 ,
(6.4)
pois 𝑒𝑖𝑡 ln(𝑛) = 1 para todo 𝑡 e para todo 𝑛.
Definição 6.2 (Série convergente). Uma série é dita convergente se a sequência das somas
parciais é uma sequência convergente. No contexto de funções aritméticas, a sequência de
somas parciais, 𝑆𝑛 , da sequência definida pela função aritmética 𝑓 (𝑛),
𝑛
∑︁
𝑆𝑛 = 𝑓 (𝑖) (6.5)
𝑖=1
Definição 6.3 (Série absolutamente convergente). Uma série é dita absolutamente convergente se
a sequência das somas parciais do valor absoluto dos seus termos é uma sequência convergente.
No contexto de funções aritméticas, a sequência de somas parciais, 𝑆𝑛 , da sequência definida
pela função aritmética 𝑓 (𝑛),
𝑛
∑︁
𝑆𝑛 = | 𝑓 (𝑖)| (6.7)
𝑖=1
deve ser uma sequência convergente, ou seja, o limite
𝑛
∑︁
𝑆 = lim | 𝑓 (𝑖)| (6.8)
𝑛→∞
𝑖=1
Definição 6.4 (Série uniformemente convergente). Uma série é dita uniformemente convergente
se a sequência das somas parciais de seus termos satisfaz: Dado 𝜖 > 0, existe 𝑁0 tal que para
todo 𝑛 > 𝑁0 vale |𝑆𝑛 − 𝑆 𝑁0 | < 𝜖.
No caso particular das séries de Dirichlet, se uma série não converge absolutamente, nem
diverge absolutamente para todo 𝑠, então existe um número real 𝜎𝑎 que define uma assintota
6 Convergência, Série de Dirichlet e Produto de Euler 83
vertical na imagem da série tal que se 𝜎 > 𝜎𝑎 a série converge absolutamente e para 𝜎 < 𝜎𝑎 a
série não converge absolutamente. Essa característica é enunciada pelo seguinte teorema.
Demonstração. Como a série não diverge para todo 𝑠, então existe um valor para 𝑠𝑎 para o qual
ela se torna convergente. Como a convergência é absoluta e o módulo de 𝑠 depende apenas de
sua parte real, 𝜎, então para todo 𝑠 tal que sua parte real é igual à parte real de 𝑠𝑎 , 𝜎𝑎 , a série
também é absolutamente convergente. Note que essa propriedade é obtida em uma assintota
vertical no plano complexo tal que a parte real seja 𝜎𝑎 . Se ela converge absolutamente para todo
𝑠 tal que |𝑠| = |𝑠𝑎 | então para todo 𝑠 tal que |𝑠| > |𝑠𝑎 | ela também converge absolutamente, pois
a divisão é feita por parcelas maiores do que |𝑠𝑎 | impossibilitando que a soma seja maior do
que a soma definida em 𝑠𝑎 , limitando superiormente a sequência das somas parciais para todo
|𝑠| > |𝑠𝑎 |. □
O teorema anterior pode ser generalizado admitindo-se que se a série de Dirichlet convergir
absolutamente para todo 𝑠, então a assíntota é dada por 𝜎𝑎 = −∞ e se a série de Dirichlet não
convergir absolutamente para todo 𝑠, então a assíntota é dada por 𝜎𝑎 = ∞. Mas a demonstração
anterior também vale para o caso de convergência para o caso não absoluta.
Agora para os planos definido pela assintota de convergência absoluta, podemos definir
funções com a série de Dirichlet.
6 Convergência, Série de Dirichlet e Produto de Euler 84
Definição 6.7 (Função definida pela série de Dirichlet). Se a série de Dirichlet de 𝑓 (𝑛) convergir
absolutamente para 𝜎 > 𝜎𝑎 então denotaremos por
∞
∑︁ 𝑓 (𝑛)
𝐹 (𝑠) = (6.11)
𝑛𝑠
𝑛=1
a função definida pela série de Dirichlet sempre que essa for absolutamente convergente.
É fácil mostrar que se duas séries de Dirichlet coincidirem para uma sequência infinita {𝑠 𝑘 }
tal que 𝜎𝑘 → ∞ então a sequência que definem as séries são iguais para todo 𝑛.
ambas absolutamente convergentes para 𝜎 > 𝜎𝑎 . Se 𝐹 (𝑠) = 𝐺 (𝑠) para cada 𝑠 em uma sequência
infinita {𝑠 𝑘 } tal que 𝜎𝑘 → ∞ quando 𝑘 → ∞, então 𝑓 (𝑛) = 𝑔(𝑛) para todo 𝑛.
Demonstração. Construiremos ℎ(𝑛) = 𝑓 (𝑛) − 𝑔(𝑛) e seja 𝐻 (𝑠) = 𝐹 (𝑠) − 𝐺 (𝑠) então 𝐻 (𝑠 𝑘 ) = 0
para todo 𝑘. Admitiremos para algum 𝑛, ℎ(𝑛) ≠ 0. Seja 𝑁 o menor inteiro tal que ℎ(𝑛) ≠ 0 e
escreva 𝐻 (𝑠) por:
∞
∑︁ ℎ(𝑛)
𝐻 (𝑠) =
𝑛𝑠
𝑛=1
∞ (6.13)
ℎ(𝑁)
∑︁ ℎ(𝑛)
= + ,
𝑁𝑠 𝑛𝑠
𝑛=𝑁+1
ou ainda,
∞
∑︁
𝑠 𝑠 ℎ(𝑛)
ℎ(𝑁) = 𝑁 𝐻 (𝑠) − 𝑁 . (6.14)
𝑛𝑠
𝑛=𝑁+1
Note que a expressão pode ser dividida em duas componentes, uma que depende de 𝑘 e a
outra independente de 𝑘. Como 𝜎𝑘 → ∞ quando 𝑘 → ∞ então
𝑁 𝜎𝑘
lim = 0. (6.17)
𝑘→∞ (𝑁 + 1) 𝜎𝑘
Logo existe 𝑁 tal que ℎ(𝑁) = 0, o que contradiz a hipótese de que 𝑁 era o menor inteiro tal
que ℎ(𝑁) ≠ 0, nos levando a uma contradição. □
Com mesmo argumento usado pelo teorema anterior podemos mostrar que 𝜎𝑎 delimita um
semi-plano no qual 𝐹 (𝑠) nunca é nulo. Além disso, uma função definida por uma série de
Dirichlet converge para seu primeiro termo, quando 𝜎 → ∞.
Teorema 6.9. Seja 𝐹 (𝑠) uma função definida por uma série de Dirichlet, então
≤ 0.
Agora que tratamos da abscissa de convergência absoluta e do limite das séries de Dirichlet
para 𝜎 → ∞, enunciaremos algumas relações entre séries de Dirichlet.
A primeira relação entre as séries é a multiplicação entre duas séries. Essa relação se torna
interessante, pois relaciona o produto das séries de Dirichlet com o produto de Dirichlet das
funções aritméticas geradoras das séries. Veja o teorema a seguir.
Teorema 6.10. Sejam 𝐹 (𝑠) e 𝐺 (𝑠) funções definidas por séries de Dirichlet, tais que as abscissas
de convergência são definidas por 𝜎𝑎 e 𝜎𝑏 respectivamente, então para a região que ambas
sejam absolutamente convergentes em simultâneo, 𝜎𝑐 > max(𝜎𝑎 , 𝜎𝑏 ), então
∞
∑︁ 𝑓 ∗ 𝑔(𝑛)
𝐹 (𝑠)𝐺 (𝑠) = . (6.21)
𝑛𝑠
𝑛=1
Mais ainda, se a série de Dirichlet 𝐻 (𝑠) for equivalente ao produto 𝐹 (𝑠)𝐺 (𝑠) para todo 𝑠 em
uma sequência {𝑠 𝑘 } com 𝜎𝑘 → ∞ para 𝑘 → ∞, então a sequência que gera a série de Dirichlet
é gerada pela função aritmética resultante do produto de Dirichlet das funções 𝑓 (𝑛) e 𝑔(𝑛), ou
seja ℎ(𝑛) = 𝑓 ∗ 𝑔(𝑛).
Demonstração. Basta mostrar a primeira assertiva, pois com a primeira e o Teorema da unicidade
6.2 Produto de Euler 87
Note que todas as manipulações nas ordens dos somatórios só são possíveis, pois 𝐹 (𝑠) e
𝐺 (𝑠) são ambas absolutamente convergentes. □
No caso particular, se utilizarmos 𝑓 (𝑛) e 𝑔(𝑛) igual à inversa de Dirichlet de 𝑓 (𝑛), 𝑔(𝑛) =
𝑓 −1 (𝑛), então teremos:
∞ ∞ 1
𝑓 ∗ 𝑓 −1 (𝑛)
∑︁ ∑︁
𝑛
𝐹 (𝑠)𝐺 (𝑠) = = =1
𝑛𝑠 𝑛𝑠
𝑛=1 𝑛=1 (6.23)
1
𝐺 (𝑠) = .
𝐹 (𝑠)
Teorema 6.11 (Versão analítica do teorema fundamental da aritmética). Seja 𝑓 (𝑛) uma função
Í
aritmética multiplicativa tal que a série 𝑓 (𝑛) seja absolutamente convergente. Então a soma
dos termos da série pode ser expressa como um produto infinito absolutamente convergente da
seguinte forma:
∞
∑︁ Ö
𝑓 (𝑛) = 1 + 𝑓 ( 𝑝) + 𝑓 ( 𝑝 2 ) + · · · . (6.24)
𝑛=1 𝑝
6.2 Produto de Euler 88
Ainda, para o caso de 𝑓 (𝑛) ser completamente multiplicativa, o produto pode ser simplifi-
cado por:
∞
∑︁ Ö 1
𝑓 (𝑛) = . (6.25)
1 − 𝑓 ( 𝑝)
𝑛=1 𝑝
na qual 𝐴(𝑥) representa o conjunto de todos os números cujos fatores primos são todos menores
do que 𝑥. Deste modo,
∞
∑︁ ∑︁
𝑓 (𝑛) − 𝑃(𝑥) = 𝑓 (𝑛), (6.28)
𝑛=1 𝑛∈𝐵(𝑥)
tal que 𝐵(𝑥) é o conjunto de todos números nos quais pelo menos um fator primo é maior do
que 𝑥. Assim, ∞
∑︁ ∑︁ ∑︁
𝑓 (𝑛) − 𝑃(𝑥) ≤ | 𝑓 (𝑛)| ≤ | 𝑓 (𝑛)|. (6.29)
𝑛∈𝑥
𝑛=1 𝑛∈𝐵(𝑥)
De maneira direta, podemos aplicar o teorema anterior nas séries de Dirichlet da seguinte
forma.
Agora que sabemos escrever as séries de Dirichlet de duas formas, pelo produto de Euler e
pela forma explicita, estudaremos propriedades dos semiplanos de convergência.
𝑓 (𝑛)𝑛−𝑠0 seja
Í
Teorema 6.13. Seja 𝑠0 = 𝜎0 + 𝑖𝑡0 e que a soma parcial da série de Dirichlet
limitada, ou seja,
∑︁
𝑓 (𝑛)
≤ 𝑀,
𝑠0
(6.34)
𝑛≤𝑥 𝑛
para todo 𝑥 ≥ 1. Então, para cada 𝑠 com 𝜎 > 𝜎0 teremos:
∑︁
𝑓 (𝑛) 2𝑀 |𝑠 − 𝑠0 |
≤ 1+ . (6.35)
𝑛 𝑠 𝑎 𝜎−𝜎0 𝜎 − 𝜎0
𝑎<𝑛≤𝑏
6.3 Relação entre os semiplanos de convergência e convergência absoluta. 90
𝑓 (𝑛) 1 1
∑︁ ∑︁ 𝑓 (𝑘)
𝑔(𝑛) = 𝑠 , ℎ(𝑛) = 𝑠−𝑠 , ℎ′ (𝑡) = (𝑠0 − 𝑠) 𝑠−𝑠 +1 , e 𝐺 (𝑛) = 𝑔(𝑘) = (6.36)
𝑛0 𝑛 0 𝑡 0 𝑘 𝑠0
𝑘 ≤𝑛 𝑘 ≤𝑛
teremos que
𝑏
∑︁ ∫ 𝑏
′
𝑔(𝑛) · ℎ(𝑛) = 𝐺 (𝑏) · ℎ(𝑏) − 𝐺 (𝑎 − 1) · ℎ(𝑎) − 𝐺 (𝑡) · ℎ (𝑡)𝑑𝑡
𝑎
𝑛=𝑎
𝑏
∑︁ 𝑓 (𝑛) ∫ 𝑏
1 1 1 1
· = 𝐺 (𝑏) · − 𝐺 (𝑎 − 1) · − 𝐺 (𝑡) · (𝑠0 − 𝑠) 𝑑𝑡 (6.37)
𝑛𝑠
0
𝑛 𝑠−𝑠0 𝑏 𝑠−𝑠0 𝑎 𝑠−1−𝑠0 𝑎 𝑡 𝑠−𝑠0 +1
𝑛=𝑎
𝑏
∑︁ ∫ 𝑏
𝑓 (𝑛) 𝐺 (𝑏) 𝐺 (𝑎 − 1) 𝐺 (𝑡)
= 𝑠−𝑠 − − (𝑠0 − 𝑠) 𝑑𝑡.
𝑛𝑠 𝑏 0 (𝑎 − 1) 𝑠−𝑠0 𝑎 𝑡 𝑠−𝑠0 +1
𝑛=𝑎
∑︁
𝑓 (𝑛) 2𝑀 |𝑠 − 𝑠0 |
≤ 1+ . (6.39)
𝑛 𝑠 𝑎 𝜎−𝜎0 𝜎 − 𝜎0
𝑎<𝑛≤𝑏
□
Ou seja, se a soma parcial de 𝑓 (𝑛) for limitada, então a série de Dirichlet converge. Logo
Agora podemos claramente estudar a relação entre os planos de convergência. Note que as
abscissas não distam mais do que uma unidade.
0 ≤ 𝜎𝑎 − 𝜎𝑐 ≤ 1. (6.43)
𝑓 (𝑛)
Demonstração. Como a série converge para 𝜎𝑐 , então 𝑛 𝑠𝑐 é limitado superior e inferiormente.
Seja 𝑀 um limitante superior para o módulo e 𝑠 tal que 𝜎 > 𝜎𝑐 + 1. Logo,
𝑓 (𝑛) 1 𝑓 (𝑛) 𝑀
𝑛 𝑠 𝑛 𝑠−𝑠𝑐 𝑛 𝑠𝑐 ≤ 𝑛𝜎−𝜎𝑐 ,
= (6.44)
assim,
∞
∑︁ ∞
∑︁
𝑓 (𝑛) 1
𝑛𝑠 ≤ 𝑀
𝑛𝜎−𝜎𝑐
𝑛=1 𝑛=1
∞ (6.45)
∑︁ 1
≤𝑀
𝑛𝑎
𝑛=1
6.4 Propriedades das Séries de Dirichlet 92
com 𝑎 > 1. Garantindo a convergência absoluta para todo 𝑠 tal que 𝜎 > 𝜎𝑐 + 1, logo 𝜎𝑎 >
𝜎𝑐 + 1. □
Após entender a convergência das séries de Dirichlet, exploraremos mais propriedades nos
próximos capítulos.
Definição 6.17 (Função analítica). Uma função 𝑓 (𝑧) é dita analítica em uma região 𝐶 do plano
complexo se 𝑓 (𝑧) tem derivada em todos os pontos e para cada 𝑧, 𝑓 (𝑧) possui valor único.
O próximo teorema sobre funções analíticas vai nos permitir estender o conceito de derivação
para as séries de Dirichlet.
Teorema 6.18. Seja { 𝑓𝑛 } uma sequência de funções analíticas sobre um aberto 𝐶 nos complexos
e suponha que { 𝑓𝑛 } converge uniformemente em todo subconjunto compacto de 𝐶 para a função
limite 𝑓 . Então 𝑓 é analítica em 𝐶 e a sequência de derivadas { 𝑓𝑛′ } converge uniformemente
em todo subconjunto compacto de 𝐶 para a 𝑓 ′.
o que implica que 𝑓 (𝑎) é analítica. Agora podemos fazer o mesmo para as derivadas, resultando
em
𝑓𝑛′ (𝑧)
∫
1
𝑓𝑛′ (𝑎) = 𝑑𝑧 (6.49)
2𝜋𝑖 𝜕𝐷 𝑧−𝑎
e
𝑓𝑛′ (𝑧)
∫
1
lim 𝑓 ′ (𝑎) = lim 𝑑𝑧. (6.50)
𝑛→∞ 𝑛 𝑛→∞ 2𝜋𝑖 𝜕𝐷 𝑧−𝑎
Portanto,
𝑓 ′ (𝑧)
∫
1
lim 𝑓 ′ (𝑎)
= 𝑑𝑧 (6.51)
𝑛→∞ 𝑛 2𝜋𝑖 𝜕𝐷 𝑧 − 𝑎
o que nos permite mostrar que 𝑓𝑛′ (𝑎) converge uniformemente para 𝑓 ′ (𝑎) em todo compacto 𝐷
subconjunto de 𝐶, assim:
𝑓 ′ (𝑧)
∫
′ 1
𝑓 (𝑎) = 𝑑𝑧. (6.52)
2𝜋𝑖 𝜕𝐷 𝑧−𝑎
□
Agora, sabendo-se que a convergência uniforme vale para as séries de Dirichlet na região
de convergência, podemos estabelecer a seguinte identidade.
Í 𝑓 (𝑛)
Teorema 6.19. A série de Dirichlet 𝐹 (𝑠) = 𝑛𝑠 é analítica no semiplano de convergência e
sua derivada é definida por
∞
∑︁ 𝑓 (𝑛) ln(𝑛)
𝐹 ′ (𝑠) = − (6.53)
𝑛𝑠
𝑛=1
Demonstração. Basta aplicar o teorema 6.18 e derivar a soma termo a termo. Note que a
derivada é em 𝑠, ou seja,
∞
∑︁ ∞
∑︁ ∞
∑︁
𝑑 𝑑 𝑓 (𝑛) 𝑑 𝑓 (𝑛) 𝑑 1
𝐹 (𝑠) = = = 𝑓 (𝑛)
𝑑𝑠 𝑑𝑠 𝑛𝑠 𝑑𝑠 𝑛 𝑠 𝑑𝑠 𝑛 𝑠
𝑛=1 𝑛=1 𝑛=1
∞
∑︁ 𝑓 (𝑛) ln(𝑛)
=− (6.54)
𝑛𝑠
𝑛=1
∞
𝑓 ′ (𝑛)
∑︁
=−
𝑛𝑠
𝑛=1
para 𝜎 > 𝜎𝑐 .
e
∞
𝑓 ′ ∗ 𝑓 −1 (𝑛)
∑︁
𝐺 (𝑠) = ln( 𝑓 (1)) + . (6.57)
ln(𝑛)𝑛 𝑠
𝑛=2
Demonstração. Como 𝐹 (𝑠) ≠ 0 é possível escrever 𝐹 (𝑠) = 𝑒 𝐺 (𝑠) . Vamos explicitar 𝐺 (𝑠).
Derivando 𝐹 (𝑠)
′ 𝐺 (𝑠) ′ ′ 𝐹 ′ (𝑠)
′
𝐹 (𝑠) = 𝑒 𝐺 (𝑠) = 𝐹 (𝑠)𝐺 (𝑠) =⇒ 𝐺 (𝑠) = . (6.58)
𝐹 (𝑠)
na qual 𝐶 representa uma das possíveis soluções na família de respostas. Lembre que
Uma maneira alternativa de escrever o teorema anterior para funções completamente mul-
tiplicativas, 𝑓 (1) = 0, segue:
∑︁ 𝑛 𝑛
′ −1
𝑓 ∗𝑓 (𝑛) = ln(𝑑) 𝑓 (𝑑)𝜇 𝑓
𝑑 𝑑
𝑑|𝑛
∑︁ 𝑛 𝑛
= ln 𝑓 𝜇(𝑑) 𝑓 (𝑑)
𝑑 𝑑
𝑑|𝑛
∑︁ 𝑛 𝑛 (6.62)
= 𝜇(𝑑) ln 𝑓 𝑓 (𝑑)
𝑑 𝑑
𝑑|𝑛
∑︁ 𝑛
= 𝜇(𝑑) ln 𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛)Λ(𝑛).
𝑑
𝑑|𝑛
Deste modo,
∞
∑︁ 𝑓 (𝑛)Λ(𝑛)
𝐺 (𝑠) = . (6.63)
ln(𝑛)𝑛 𝑠
𝑛=2
Se 𝑓 (𝑛) = 1 teremos,
∞
∑︁ ∞
1 Í∞ Λ(𝑛) ∑︁ Λ(𝑛)
=𝑒 𝑛=2 ln(𝑛)𝑛𝑠 =⇒ ln(𝜁 (𝑠)) = . (6.64)
𝑛𝑠 𝑛=2
ln(𝑛)𝑛 𝑠
𝑛=1
Assim com fizemos com as funções aritméticas, enunciaremos o valor médio das séries de
Dirichlet.
Í Í
Teorema 6.21. Sejam duas séries de Dirichlet 𝐹 (𝑠) = 𝑓 (𝑛)/𝑛 𝑠 e 𝐺 (𝑠) = 𝑔(𝑛)/𝑛 𝑠 com
abscissas de convergência absoluta 𝜎𝑎 𝑓 e 𝜎𝑎 𝑔 . Para 𝑎 > 𝜎𝑎 𝑓 e 𝑏 > 𝜎𝑎 𝑔 , temos
∫ ∞
∑︁
𝑇
1 𝑓 (𝑛)𝑔(𝑛)
lim 𝐹 (𝑎 + 𝑖𝑡)𝐺 (𝑏 − 𝑖𝑡)𝑑𝑡 = (6.65)
𝑇→∞ 2𝑇 −𝑇 𝑛𝑎+𝑏
𝑛=1
e 𝑓 (𝑛) e 𝑔(𝑛) são absolutamente convergentes. Agora separaremos o integrando em duas partes,
uma estritamente real e outra complexa da seguinte forma:
∞
∑︁ ∞
∑︁
𝑓 (𝑛) 𝑔(𝑛)
𝐹 (𝑎 + 𝑖𝑡)𝐺 (𝑏 − 𝑖𝑡) =
𝑛𝑎+𝑖𝑡 𝑛 𝑏−𝑖𝑡
𝑛=1 𝑛=1
∞ ∞
∑︁ ∑︁ ∞ ∑︁
∑︁ ∞
𝑓 (𝑛)𝑔(𝑚) 𝑓 (𝑛)𝑔(𝑚) 𝑚 𝑖𝑡
= = (6.67)
𝑛𝑎+𝑖𝑡 𝑚 𝑏−𝑖𝑡 𝑛𝑎 𝑚 𝑏 𝑛
𝑛=1 𝑚=1 𝑛=1 𝑚=1
∞ ∞ ∑︁
∑︁ 𝑓 (𝑛)𝑔(𝑛) ∑︁ ∞
𝑓 (𝑛)𝑔(𝑚) 𝑚 𝑖𝑡
= + .
𝑛𝑎+𝑏 𝑛𝑎 𝑚 𝑏 𝑛
𝑛=1 𝑛=1 𝑚=1
𝑚≠𝑛
Observe que 𝑇 aparece apenas em uma das parcelas da expressão. Resolveremos separada-
mente o termo dependente. Dessa forma note que
Demonstração. Basta usar o teorema anterior com admitindo que 𝐺 é o complexo conjugado
de 𝐹. □
Se 𝐹 = 𝐺 = 𝜁 (𝑛)
∫ ∞
∑︁
𝑇
1 1
lim |𝜁 (𝜎 + 𝑖𝑡)| 2 𝑑𝑡 = = 𝜁 (2𝜎) (6.72)
𝑇→∞ 2𝑇 −𝑇 𝑛2𝜎
𝑛=1
Se 𝐹 = 𝐺 = 𝜁 (𝑘) (𝑛)
∫ ∞
∑︁
1 𝑇
ln2𝑘 (𝑛)
lim |𝜁 (𝑘) (𝜎 + 𝑖𝑡)| 2 𝑑𝑡 = = 𝜁 (2𝑘) (2𝜎) (6.73)
𝑇→∞ 2𝑇 −𝑇 𝑛2𝜎
𝑛=1
A integral do valor médio da série de Dirichlet de 𝑓 (𝑛) pode ser usada para recuperar os
termos da série 𝑓 (𝑛) da seguinte forma:
Í
Teorema 6.23. Seja a série de Dirichlet 𝐹 (𝑠) = 𝑓 (𝑛)/𝑛 𝑠 com abscissa de convergência
absoluta 𝜎𝑎 e 𝜎 > 𝜎𝑎 . Então podemos recuperar os termos de 𝑓 (𝑛) resolvendo a seguinte
integral ∫ 𝑇
1
𝑓 (𝑛) = lim 𝐹 (𝑠)𝑛 𝑠 𝑑𝑡. (6.74)
𝑇→∞ 2𝑇 −𝑇
A integral que aparece na expressão anterior já foi resolvida na Equação 6.69 e para todo 𝑘
diferente de 𝑛, temos:
∫ ∞
∑︁ ∫
𝑇 𝑇
1 𝜎+𝑖𝑡 𝑛𝜎 𝑓 (𝑘) 𝑛 𝑖𝑡
lim 𝐹 (𝜎 + 𝑖𝑡)𝑛 𝑑𝑡 = 𝑓 (𝑛) + lim 𝑑𝑡 = 𝑓 (𝑛). (6.76)
𝑇→∞ 2𝑇 −𝑇 𝑇→∞ 2𝑇 𝑘𝜎 −𝑇 𝑘
𝑘=1
𝑘≠𝑛
Agora que conseguimos recuperar a série 𝑓 (𝑛) da série de Dirichlet 𝐹 (𝑠) mostraremos
como recuperar a soma parcial de 𝑓 (𝑛) por meio da série de Dirichlet. Para tal enunciaremos o
seguinte teorema.
Demonstração. Se 0 < 𝑎 < 1, como 𝑐 > 0 então para todo 𝑏 > 𝑐 não há polos no contorno
𝑐 − 𝑖𝑇 → 𝑐 + 𝑖𝑇 → 𝑏 + 𝑖𝑇 → 𝑏 − 𝑖𝑇 → 𝑐 − 𝑖𝑇, logo
∫ 𝑐+𝑖𝑇 ∫ 𝑏+𝑖𝑇 ∫ 𝑏−𝑖𝑇 ∫ 𝑐−𝑖𝑇
+ + + = 0. (6.79)
𝑐−𝑖𝑇 𝑐+𝑖𝑇 𝑏+𝑖𝑇 𝑏−𝑖𝑇
6.6 Valor médio das séries de Dirichlet 99
Assim,
∫ 𝑐+𝑖𝑇
∫ 𝑏−𝑖𝑇 ∫ 𝑏+𝑖𝑇 ∫ 𝑐+𝑖𝑇
𝑧 𝑑𝑧 𝑑𝑧 𝑑𝑧 𝑑𝑧
𝑧 𝑧 𝑧
𝑎 = 𝑎 + 𝑎 + 𝑎
𝑐−𝑖𝑇 𝑧 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 𝑏−𝑖𝑇 𝑧 𝑏+𝑖𝑇 𝑧
∫ 𝑏−𝑖𝑇 ∫ 𝑏+𝑖𝑇 ∫ 𝑐+𝑖𝑇
𝑧 𝑑𝑧 𝑧 𝑑𝑧 𝑧 𝑑𝑧
≤ 𝑎 + 𝑎 + 𝑎
𝑐−𝑖𝑇 𝑧 𝑏−𝑖𝑇 𝑧 𝑏+𝑖𝑇 𝑧
∫ 𝑏 𝑏
∫ 𝑇
∫ 𝑏
𝑧 𝑑𝑧 𝑎 𝑖𝑧 𝑑𝑧 𝑑𝑧
≤ 𝑎 + 𝑎 + 𝑎𝑧 (6.80)
𝑐 𝑇 𝑏 −𝑇 1 + 𝑖𝑧/𝑏
𝑐 𝑇
∫ ∞ 𝑏
∫ 𝑇
2 𝑎
≤ 𝑎 𝑧 𝑑𝑧 + 𝑑𝑧
𝑇 𝑐 𝑏 −𝑇
2 −𝑎 𝑐 2𝑇 𝑎 𝑏
≤ + .
𝑇 ln(𝑎) 𝑏
Fazendo 𝑏 → ∞ temos:
∫
1 𝑐+𝑖𝑇 𝑧 𝑑𝑧 −𝑎 𝑐 𝑎𝑐
𝑎 ≤ = . (6.81)
2𝜋 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 𝜋𝑇 ln(𝑎) 𝜋𝑇 ln(1/𝑎)
Se 𝑎 > 1, como 𝑐 > 0 então para todo 𝑏 > 𝑐 há apenas 1 polo no contorno 𝑐 − 𝑖𝑇 → 𝑐 + 𝑖𝑇 →
−𝑏 +𝑖𝑇 → −𝑏 −𝑖𝑇 → 𝑐 −𝑖𝑇. Esse polo é em 0 com resíduo 1, pois 𝑎 𝑧 = 𝑒 𝑧 ln(𝑎) = 1+ 𝑧 ln(𝑎) +𝑂 (𝑧2 )
em torno de 𝑧 = 0. Logo,
∫ 𝑐+𝑖𝑇 ∫ −𝑏+𝑖𝑇 ∫ −𝑏−𝑖𝑇 ∫ 𝑐−𝑖𝑇
+ + + = 1, (6.82)
𝑐−𝑖𝑇 𝑐+𝑖𝑇 −𝑏+𝑖𝑇 −𝑏−𝑖𝑇
e assim,
−𝑏−𝑖𝑇 −𝑏+𝑖𝑇
∫ 𝑐+𝑖𝑇
∫ ∫ ∫ 𝑐+𝑖𝑇
𝑧 𝑑𝑧 𝑧 𝑑𝑧 𝑧 𝑑𝑧 𝑧 𝑑𝑧
𝑎 − 1 = + 𝑎 𝑎 + 𝑎
𝑐−𝑖𝑇 𝑧 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 −𝑏−𝑖𝑇 𝑧 −𝑏+𝑖𝑇 𝑧
(6.83)
2 𝑎𝑐 2𝑇 𝑎 −𝑏
≤ + .
𝑇 ln(𝑎) 𝑏
usando-se dos mesmos artifícios anteriores. Ao fazer 𝑏 → ∞ temos
∫
1 𝑐+𝑖𝑇 𝑧 𝑑𝑧 𝑎𝑐 𝑎𝑐
𝑎 ≤ = . (6.84)
2𝜋 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 𝜋𝑇 ln(𝑎) 𝜋𝑇 ln(𝑎)
Se 𝑎 = 1,
∫ 𝑐+𝑖𝑇 ∫ 𝑇 ∫ 𝑇 ∫ 𝑇
𝑑𝑧 𝑖 𝑖(𝑐 − 𝑖𝑥) 𝑖𝑐 + 𝑥
= 𝑑𝑥 = 𝑑𝑥 = 𝑑𝑥
−𝑇 𝑐 + 𝑖𝑥 −𝑇 (𝑐 + 𝑖𝑥)(𝑐 − 𝑖𝑥) −𝑇 𝑐 + 𝑥
𝑧 2 2
𝑐−𝑖𝑇
∫ 𝑇 ∫ 𝑇 ∫ 𝑇
1 𝑥 1
= 𝑖𝑐 𝑑𝑥 + 𝑑𝑥 = 2𝑖𝑐 𝑑𝑥 + 0 (6.85)
−𝑇 𝑐 + 𝑥 −𝑇 𝑐 + 𝑥 0 𝑐 +𝑥
2 2 2 2 2 2
𝑇
= 2𝑖 arctan ,
𝑐
6.6 Valor médio das séries de Dirichlet 100
então
∫ 𝑐+𝑖𝑇 𝑐
1 𝑑𝑧 2𝑖 𝑇 1 𝑇 1 1
= arctan = arctan = − arctan , (6.86)
2𝜋𝑖 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 2𝜋𝑖 𝑐 𝜋 𝑐 2 𝜋 𝑇
e deste modo:
∫ 𝑐+𝑖𝑇
𝑐
1 𝑑𝑧 1 1
− = arctan ≤ 𝑐 . (6.87)
2𝜋𝑖 𝑧 2 𝜋 𝑇 𝜋𝑇
𝑐−𝑖𝑇
Finalmente podemos enunciar a fórmula de Perron, que nos permitirá recuperar a soma
parcial de uma série conhecendo apenas sua série de Dirichlet.
Í∞
Teorema 6.25 (Fórmula de Perron). Seja 𝐹 (𝑠) = 𝑛=1 𝑓 (𝑛)/𝑛 𝑠 absolutamente convergente para
𝜎 > 𝜎𝑎 , 𝑐 > 0 e 𝑥 > 0 reais. Então se 𝜎 > 𝜎𝑎 − 𝑐 temos:
∑︁ 𝑓 (𝑛) ∫ 𝑐+𝑖𝑇
1 1 ⌊𝑥⌋ 𝑓 (𝑥)
𝑧 𝑑𝑧
= lim 𝐹 (𝑠 + 𝑧)𝑥 − . (6.88)
𝑛𝑠 2𝜋𝑖 𝑇→∞ 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 2 𝑥 𝑥𝑠
𝑛<𝑥
Note que a soma pode ser dividida em 3 somas, uma somando os termos menores do que 𝑥,
outra somando os termos maiores do que 𝑥 e uma terceira para quando 𝑛 = 𝑥, então
∞
∑︁ ∫ ∑︁ ∑︁ ∑︁ ∫
𝑐+𝑖𝑇 𝑐+𝑖𝑇
1 𝑓 (𝑛) 𝑥 𝑑𝑧 1 ª 𝑓 (𝑛) 𝑥 𝑑𝑧
= + +
©
lim lim ® 𝑠 . (6.90)
2𝜋𝑖 𝑇→∞ 𝑛𝑠 𝑐−𝑖𝑇
𝑧
𝑛 𝑧 2𝜋𝑖 𝑇→∞ 𝑛 𝑐−𝑖𝑇 𝑛𝑧 𝑧
𝑛=1 « 𝑛<𝑥 𝑛=𝑥 𝑛>𝑥 ¬
Como 𝑥 admite qualquer valor real, usaremos a função piso para zerar tal termo quando 𝑥 não
for inteiro e os resultados do Teorema 6.24 para resolver as integrais, assim,
∞
∑︁ ∫ ∑︁ 𝑓 (𝑛) ∑︁ 𝑓 (𝑛) ∑︁ 𝑓 (𝑛)
𝑐+𝑖𝑇
1 𝑓 (𝑛) 𝑥 𝑑𝑧 1
lim =1 + +0
2𝜋𝑖 𝑇→∞ 𝑛𝑠 𝑐−𝑖𝑇 𝑛𝑧 𝑧 𝑛𝑠 2 𝑛𝑠 𝑛𝑠
𝑛=1 𝑛<𝑥 𝑛=𝑥 𝑛>𝑥
∑︁ 𝑓 (𝑛) 1 ⌊𝑥⌋ (6.91)
𝑓 (𝑥)
= + .
𝑛𝑠 2 𝑥 𝑥𝑠
𝑛<𝑥
6.6 Valor médio das séries de Dirichlet 101
Para o caso particular de 𝑠 = 0 podemos recuperar a soma parcial de 𝑓 (𝑛) ao invés da soma
parcial de sua série de Dirichlet da seguinte forma:
Í∞
Corolário 6.26. Seja 𝐹 (𝑠) = 𝑛=1 𝑓 (𝑛)/𝑛 𝑠 absolutamente convergente para 𝜎 > 𝜎𝑎 , 𝑐 > 0 e
𝑥 > 0 real. Então se 𝜎 > 𝜎𝑎 − 𝑐 e 𝑠 = 0, temos:
∑︁ ∫ 𝑐+𝑖𝑇
1 1 ⌊𝑥⌋
𝑧 𝑑𝑧
𝑓 (𝑛) = lim 𝐹 (𝑧)𝑥 − 𝑓 (𝑥) (6.92)
2𝜋𝑖 𝑇→∞ 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 2 𝑥
𝑛<𝑥
ou ainda,
∑︁ 1
∫ 𝑐+𝑖𝑇
𝑑𝑧 1
𝑓 (𝑛) = lim 𝐹 (𝑧)𝑥 𝑧 + 𝑓 (𝑥). (6.94)
2𝜋𝑖 𝑇→∞ 𝑐−𝑖𝑇 𝑧 2
𝑛≤𝑥
O que termina este capítulo mostrando que podemos usar as séries de Dirichlet para calcular
somas parciais ou recuperar termos de 𝑓 (𝑛). Após entender as Séries de Dirichlet e produtos
de Euler, assim como suas regiões de convergência, valores médios e outras propriedades
introduziremos novas funções, as L de Dirichlet.
Capítulo 7
Função 𝑳 de Dirichlet e zeta de Hurwitz
No Teorema 2.63 vemos uma indicação da relação entre a função gama e a função zeta de
7 Função 𝐿 de Dirichlet e zeta de Hurwitz 103
Hurwitz e aqui com a 𝐿 de Dirichlet. No entanto, naquela ocasião não cobrimos a convergência.
Por esse motivo vamos re-enunciar os Teoremas 2.63 e 2.61.
Demonstração. De fato já fizemos a demonstração para 𝑠 real (Teoremas 2.63 e 2.61). Estende-
remos para todos os complexos tais que 𝜎 > 1. Seja 1 + 𝛿 ≤ 𝜎 ≤ 𝑐 no qual 𝑐 > 1 e 𝛿 > 0, assim:
∫ ∞ 𝑠−1 −𝑎𝑥 ∫ ∞ 𝜎−1 −𝑎𝑥
𝑥 𝑒 𝑥 𝑒
𝑑𝑥 ≤ 𝑑𝑥
1 − 𝑒 −𝑥 1 − 𝑒 −𝑥
0 0
∫ 1 𝜎−1 −𝑎𝑥 ∫ ∞ 𝜎−1 −𝑎𝑥 (7.6)
𝑥 𝑒 𝑥 𝑒
≤ 𝑑𝑥 + 𝑑𝑥.
0 1 − 𝑒 −𝑥 1 1 − 𝑒 −𝑥
o que garante a convergência uniforme da expressão 7.4 para a faixa definida pelo intervalo
1 + 𝛿 ≤ 𝜎 ≤ 𝑐. □
Por continuidade analítica a convergência uniforme é valida para o semiplano definido para
𝜎 > 1. Agora, como estender essa função para além desse plano?
7.1 Representação por integral de contorno da função zeta de Hurwitz 104
Para estender a função para além do plano 𝜎 > 1 temos que usar uma função I (𝑠, 𝑎) que é
uma integral de contorno sobre os complexos. Para definir esse contorno usaremos a variável
auxiliar 𝑧 = 𝑟 · 𝑒 𝜋𝑖 , parametrizando o plano complexo na forma polar.
na qual 𝑧 𝜃 = 𝑐𝑒 𝜃𝑖 , ou seja,
∫ ∞ 𝑠−1 𝑎𝑟 ∫ 𝜋
sen(𝜋𝑠) 𝑟 𝑒 𝑐𝑠 𝑒 𝜃𝑖𝑠 𝑒 𝑎𝑧 𝜃
I (𝑠, 𝑎) = 𝑑𝑟 + 𝑑𝜃. (7.12)
𝜋 𝑐 1 − 𝑒𝑟 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒𝑧 𝜃
7.1 Representação por integral de contorno da função zeta de Hurwitz 105
Agora para 𝑐 → 0
∫ ∞ 𝑠−1 𝑎𝑟 ∫ 𝜋
sen(𝜋𝑠) 𝑟 𝑒 𝑐𝑠 𝑒 𝜃𝑖𝑠 𝑒 𝑎𝑧 𝜃
I (𝑠, 𝑎) = lim 𝑑𝑟 + lim 𝑑𝜃 , (7.13)
𝑐→0 𝜋 𝑐 1 − 𝑒𝑟 𝑐→0 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒𝑧 𝜃
por um lado
por outro,
∫ 𝜋 𝑠 ∫ 𝜋 𝜃𝑖𝑠 𝑎𝑧
𝑐𝑠 𝑒 𝜃𝑖𝑠 𝑒 𝑎𝑧 𝜃 𝑐 𝑒 𝑒 𝜃
lim 𝑑𝜃 ≤ lim 𝑑𝜃
𝑐→0 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒𝑧 𝜃 𝑐→0 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒 𝑧 𝜃
∫
𝑐 𝜎 𝜋 𝑒 𝑎𝑧 𝜃
≤ lim 𝑑𝜃
𝑐→0 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒 𝑧 𝜃
∫
𝑐 𝜎 𝜋 𝑒 𝑎𝑐
≤ lim 𝑑𝜃 (7.15)
𝑐→0 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒 𝑐
∫
𝑐 𝜎 𝑒 𝑎𝑐 𝜋
≤ lim 𝑑𝜃
𝑐→0 2𝜋 1 − 𝑒 𝑐 −𝜋
𝑐 𝜎 𝑒 𝑎𝑐
≤ lim+ 𝑐 .
𝑐→0 𝑒 − 1
Por L’Hospital,
∫ 𝜋
𝑐𝑠 𝑒 𝜃𝑖𝑠 𝑒 𝑎𝑧 𝜃 𝜎𝑐 𝜎−1 𝑒 𝑎𝑐 + 𝑎𝑐 𝜎 𝑒 𝑎𝑐
lim 𝑑𝜃 ≤ lim
𝑐→0 2𝜋 −𝜋 1 − 𝑒𝑧 𝜃 𝑐→0+ 𝑒𝑐
≤ lim+ 𝜎𝑐 𝜎−1 𝑒 (𝑎−1)𝑐 + 𝑎𝑐 𝜎 𝑒 (𝑎−1)𝑐
𝑐→0 (7.16)
≤ lim+ 𝑐 𝜎−1 (𝜎 + 𝑎𝑐)𝑒 (𝑎−1)𝑐
𝑐→0
≤ 0,
sen(𝜋𝑠)
I (𝑠, 𝑎) = Γ(𝑠)𝜁 (𝑠, 𝑎)
𝜋
1
I (𝑠, 𝑎) = Γ(𝑠)𝜁 (𝑠, 𝑎) (7.17)
Γ(𝑠)Γ(1 − 𝑠)
𝜁 (𝑠, 𝑎) = Γ(1 − 𝑠)I (𝑠, 𝑎).
Deste modo, podemos usar essa relação para definir a função zeta de Hurwitz para todo 𝑠,
mas antes introduziremos o conceito de resíduo para uma função complexa.
7.2 Continuidade analítica das funções zeta de Riemann, zeta de Hurwitz e 𝐿 de Dirichlet 106
Nesta seção demonstraremos a continuidade analítica das funções zeta de Hurwitz, zeta de
Riemann, mas para tal introduziremos o conceito de resíduo para funções complexas.
Definição 7.4. Seja 𝑓 (𝑠) uma função complexa. O resíduo de 𝑓 (𝑠) em torno de uma singulari-
dade 𝑠0 , denotado por 𝑅𝑒𝑠 𝑓 (𝑠) é definido por
𝑠=𝑠0
Teorema 7.5. A função 𝜁 (𝑠, 𝑎), definida no Teorema 7.3, é analítica em todo plano complexo,
exceto em um polo em 𝑠 = 1 cujo resíduo é 1.
Demonstração. No Teorema 7.2 vimos que para todo 𝜎 > 1 a expressão Γ(𝑠)𝜁 (𝑠, 𝑎) é analítica
para todo 𝜎 > 1. Por outro lado, I (𝑠, 𝑎) também é analítica. Logo, os únicos possíveis polos
advêm da função Γ(1 − 𝑠). Para 𝜎 > 1 não há polos. Assim nos resta testar apenas 𝑠 = 1. Para
𝑠=1
Teorema 7.6. A função 𝜁 (𝑠) é analítica em todo plano complexo, exceto em um polo em 𝑠 = 1
cujo resíduo é 1.
𝑘
∑︁
1 𝑟
𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠) = 𝑠 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟)𝜁 𝑠, (7.24)
𝑘 𝑘
𝑟=1
Demonstração. Por óbvio 𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 possui polo apenas em 𝑠 = 1, pois 𝜁 (𝑠, 𝑎) possuí polo apenas
em 𝑠 = 1, logo calcularemos o seu resíduo.
Se 𝑗 = 1, então
𝑘
∑︁
1 𝜑(𝑘)
𝑅𝑒𝑠 𝐿 𝜒𝑘,1 (𝑠) = 𝜒𝑘,1 (𝑟) = . (7.26)
𝑠=1 𝑘 𝑘
𝑟=1
Se 𝑗 ≠ 1, então
𝑘
∑︁
1
𝑅𝑒𝑠 𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠) = 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟) = 0. (7.27)
𝑠=1 𝑘
𝑟=1
7.3 Equações funcionais para zeta de Riemann, zeta de Hurwitz e L de Dirichlet 108
Agora que verificamos que as funções são analíticas e entendemos seus polos e resíduos,
introduziremos as equações funcionais para zeta de Riemann, de Hurwitz e 𝐿 de Dirichlet.
As equações funcionais são relações que devem ser respeitadas para que uma função esteja
bem definida. Por exemplo,
𝐹 (𝑖) = 𝐹 (𝑖 − 1) + 𝐹 (𝑖 − 2) (7.28)
é uma equação funcional, na qual uma das soluções é a função de Fibonacci. Outro exemplo, a
equação funcional para a função gama é dada por:
Note que as equações funcionais não são necessariamente únicas, por exemplo:
𝜋
Γ(𝑠)Γ(1 − 𝑠) = ; (7.30)
sen(𝜋𝑠)
e
𝑚−1
Ö
𝑘
Γ 𝑠+ = (2𝜋) (𝑚−1)/2 𝑚 1/2−𝑚𝑠 Γ(𝑚𝑠); (7.31)
𝑚
𝑘=0
Ambas válidas para todo 𝑠 e todo 𝑚 ≥ 1 e também são equações funcionais para a função
gama. Por exemplo, se 𝑚 = 2 teremos:
1
Γ (𝑠) Γ 𝑠 + = (2𝜋) 1/2 21/2−2𝑠 Γ(2𝑠). (7.32)
2
Até o momento temos uma função bem definida para zeta de Hurwitz quando 𝜎 > 1 e
sabemos que ela é analítica para todo plano a menos para 𝑠 = 1. Nesta seção construiremos
equações funcionais para zeta de Riemann, Hurwitz e L de Dirichlet. Começaremos pela
zeta de Hurwitz. Mas antes estudaremos uma função que aparece com alguma frequência nas
demonstrações (inclusive já apareceu no capítulo anterior).
é limitada em 𝑆(𝑟), que denota a região definida pelo plano complexo, excluindo-se todos os
discos de raio 𝑟, 0 < 𝑟 ≤ 𝜋, centrados em 𝑧 = 2𝑛𝜋𝑖 para 𝑛 ∈ Z.
Nessa região 𝑔(𝑧) é limitada, pois 𝑄(𝑟) é compacto. Levando a região para os limites
verticais, ou seja, uma faixa furada, definida por:
A função 𝑔(𝑧) também é limitada, pois |𝑔(𝑧 + 2𝜋𝑖)| = |𝑔(𝑧)|. Agora basta mostrar que 𝑔(𝑧)
é limitada fora dessa região. Para 𝑥 ≥ 1
𝑎𝑧 𝑥
≤ 𝑒 = 1 ≤ 1 = 𝑒 ;
𝑒
|𝑔(𝑧)| = (7.36)
1 − 𝑒 𝑧 𝑒 𝑥 − 1 1 − 𝑒 −𝑥 1 − 𝑒 −1 𝑒 − 1
para 𝑥 ≤ −1 𝑎𝑧 𝑥
≤ 𝑒 ≤ 1 = 𝑒 .
𝑒
|𝑔(𝑧)| = (7.37)
1 − 𝑒 𝑧 1 − 𝑒 𝑥 1 − 𝑒 −1 𝑒 − 1
Assim se |𝑥| ≥ 1
𝑒
|𝑔(𝑧)| ≤ , (7.38)
𝑒−1
completando a demonstração. □
Teorema 7.9 (Equação funcional da função zeta de Hurwitz). Se 0 < 𝑎 ≤ 1 e 𝜎 > 1 temos
Γ(𝑠) −𝜋𝑖𝑠/2 𝜋𝑖𝑠/2
𝜁 (1 − 𝑠, 𝑎) = 𝑒 F (𝑠, 𝑎) + 𝑒 F (𝑠, −𝑎) (7.39)
(2𝜋) 𝑠
na qual F (𝑠, 𝑎) é a função zeta de Riemann periódica (Definição 2.29). Se 𝑎 ≠ 1 a representação
também é válida para 𝜎 > 0.
A única diferença entre I𝑁 (𝑠, 𝑎) e 𝐼 (𝑠, 𝑎) é o contorno 𝐶4 (𝑁), então basta mostrar que a
integral em 𝐶4 (𝑁) vale zero para 𝑁 → ∞.
logo
∫ ∫
1 𝑧 𝑠−1 𝑒 𝑎𝑧 (2𝑁 + 1) 𝜎−1 𝜋 𝜎−1 𝑒 𝜋|𝜎| 𝑒 𝑎𝑧
lim 𝑑𝑧 ≤ lim 𝑑𝑧
𝑁→∞ 2𝜋𝑖 𝐶4 (𝑁) 1 − 𝑒𝑧 𝑁→∞ 2𝜋𝑖 𝐶4 (𝑁) 1 − 𝑒
𝑧
(7.43)
(2𝑁 + 1) 𝜎−1 𝜋 𝜎−1 𝑒 𝜋|𝜎|
≤ lim 2𝜋𝑖 𝐴
𝑁→∞ 2𝜋𝑖
com 𝐴 limitado, pelo Teorema 7.8. Deste modo
ou ainda
Por outro lado, essa mesma integral pode ser resolvida pelo resíduo em todos os polos da
função I𝑁 (1 − 𝑠, 𝑎). No Teorema 7.8 vimos que esses polos estão sobre a abscissa do plano
7.3 Equações funcionais para zeta de Riemann, zeta de Hurwitz e L de Dirichlet 111
complexo, ou seja,
𝑁
𝑧−𝑠 𝑒 𝑎𝑧
∑︁
I𝑁 (1 − 𝑠, 𝑎) = − 𝑅𝑒𝑠
𝑧=2𝜋𝑛𝑖 1 − 𝑒 𝑧
𝑛=−𝑁
𝑛≠0
𝑁
𝑧 −𝑠 𝑒 𝑎𝑧
∑︁
=− lim (𝑧 − 2𝜋𝑛𝑖)
𝑧→2𝑛𝜋𝑖 1 − 𝑒𝑧
𝑛=−𝑁
𝑛≠0
𝑁
(7.46)
∑︁ (𝑧 − 2𝜋𝑛𝑖)
=− (2𝑛𝜋𝑖) −𝑠 𝑒 𝑎2𝑛𝜋𝑖 lim
𝑧→2𝑛𝜋𝑖 1 − 𝑒𝑧
𝑛=−𝑁
𝑛≠0
𝑁 𝑁 𝑁
𝑒 −𝑎2𝑛𝜋𝑖
∑︁ 𝑒 𝑎2𝑛𝜋𝑖
∑︁ 𝑒 𝑎2𝑛𝜋𝑖
∑︁
= = + .
(2𝑛𝜋𝑖) 𝑠 (2𝑛𝜋𝑖) 𝑠 (−2𝑛𝜋𝑖) 𝑠
𝑛=−𝑁 𝑛=1 𝑛=1
𝑛≠0
e no limite
𝑁 𝑁
𝑒 −𝜋𝑖𝑠/2 𝑒 −𝑎2𝑛𝜋𝑖
∑︁ 𝑒 𝑎2𝑛𝜋𝑖 𝑒 𝜋𝑖𝑠/2
∑︁
I (1 − 𝑠, 𝑎) = lim +
𝑁→∞ (2𝜋) 𝑠 𝑛𝑠 (2𝜋) 𝑠 𝑛𝑠
𝑛=1 𝑛=1 (7.48)
𝑒 −𝜋𝑖𝑠/2 𝑒 𝜋𝑖𝑠/2
= F (𝑠, 𝑎) + F (𝑠, −𝑎)
(2𝜋) 𝑠 (2𝜋) 𝑠
com o uso do Teorema 7.3 concluímos
𝜁 (1 − 𝑠, 𝑎) = Γ(𝑠)I (1 − 𝑠, 𝑎)
Γ(𝑠) −𝜋𝑖𝑠/2 (7.49)
𝜋𝑖𝑠/2
= 𝑒 F (𝑠, 𝑎) + 𝑒 F (𝑠, −𝑎) .
(2𝜋) 𝑠
□
Note que com o teorema anterior podemos obter os zeros triviais da função zeta de Riemann.
Teorema 7.11 (Zeros triviais da função zeta de Riemann). A função zeta de Riemann vale zero,
𝜁 (𝑠) = 0, sempre que 𝑠 = −2𝑛 para 𝑛 = 1, 2, 3, · · · . Esses zeros são denominados zeros triviais.
Demonstração.
−2𝑛−1 −2𝑛𝜋
𝜁 (−2𝑛) = 2(2𝜋) Γ(1 + 2𝑛)sen 𝜁 (1 + 2𝑛)
2 (7.52)
−2𝑛−1
= 2(2𝜋) Γ(1 + 2𝑛) · 0 · 𝜁 (1 + 2𝑛) = 0
Podemos explorar um pouco mais o Teorema 7.10, com auxílio das identidades das Equações
7.30 e 7.32 e chegar na seguinte equação funcional para zeta de Riemann.
Teorema 7.12 (Equação funcional da função zeta de Riemann). A menos dos polos em 𝑠 = 0 e
𝑠 = 1 a seguinte equação
Φ(𝑠) = Φ(1 − 𝑠) (7.53)
com
𝑠
Φ(𝑠) = 𝜋 −𝑠/2 Γ 𝜁 (𝑠) (7.54)
2
é uma equação funcional para zeta de Riemann.
Note que a equação funcional possui polos em 𝑠 = 0 e 𝑠 = 1. Para eleminá-los basta definir
uma nova equação funcional da seguinte maneira:
Teorema 7.13 (Equação funcional da função zeta de Riemann para todo 𝒔). Para todo 𝑠, a
equação
ξ(𝑠) = ξ(1 − 𝑠) (7.59)
com
1
ξ(𝑠) = 𝑠(1 − 𝑠)Φ(𝑠) (7.60)
2
é uma equação funcional para zeta de Riemann.
A equação funcional para zeta de Riemann é o caso particular da zeta de Hurwitz, enuncia-
remos o caso geral.
𝑘
∑︁
ℎ 2Γ(𝑠) 𝜋𝑠 2𝜋𝑟 ℎ 𝑟
𝜁 1 − 𝑠, = cos − 𝜁 𝑠, . (7.61)
𝑘 (2𝜋𝑘) 𝑠 2 𝑘 𝑘
𝑟=1
∞
∑︁ ∑︁ ∞
𝑘 ∑︁ 𝑘
∑︁ ∞
∑︁
ℎ 𝑒 2𝜋𝑖𝑛ℎ/𝑘 𝑒 2𝜋𝑖(𝑞𝑘+𝑟)ℎ/𝑘 2𝜋𝑖𝑟 ℎ/𝑘 1
F 𝑠, = = = 𝑒
𝑘 𝑛𝑠 (𝑞𝑘 + 𝑟) 𝑠 (𝑞𝑘 + 𝑟) 𝑠
𝑛=1 𝑟=1 𝑞=0 𝑟=1 𝑞=0
(7.62)
∑︁𝑘 ∞
∑︁ ∑︁ 𝑘
1 1 1 𝑟
= 𝑒 2𝜋𝑖𝑟 ℎ/𝑘 𝑠 = 𝑠 𝑒 2𝜋𝑖𝑟 ℎ/𝑘 𝜁 𝑠, .
𝑘𝑠 (𝑞 + 𝑟/𝑘) 𝑘 𝑘
𝑟=1 𝑞=0 𝑟=1
Primeiro mostraremos que podemos definir a equação funcional apenas para os caráteres
primitivos, pois todos os não primitivos podem ser obtidos por meio dos primitivos. Esse é o
resultado do seguinte teorema.
7.3 Equações funcionais para zeta de Riemann, zeta de Hurwitz e L de Dirichlet 115
Teorema 7.15. Seja 𝜒𝑘, 𝑗 um caráter de Dirichlet para a classe de resíduos 𝑘 e seja 𝜓 𝑗 um
caráter induzido qualquer de 𝜒𝑘, 𝑗 , ou seja, 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) = 𝜓 𝑗 (𝑛) 𝜒𝑘,1 (𝑛). Assim
Ö 𝜓 ( 𝑝)
𝑗
𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠) = 𝐿 𝜓 𝑗 (𝑠) 1− . (7.64)
𝑝𝑠
𝑝|𝑘
Agora reescreveremos o produto anterior para todo 𝑝, considerando que aqueles divisores
de 𝑘 geram produtos sucessivos de 1, sem modificar o resultado anterior, da seguinte forma:
Ö 1
𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠) = 𝜓 𝑗 ( 𝑝)
𝑝∤𝑘
1− 𝑝𝑠
Ö 1
Ö 𝜓 𝑗 ( 𝑝)
= 𝜓 𝑗 ( 𝑝)
· 1 − (7.66)
𝑝𝑠
𝑝 1 − 𝑝𝑠 𝑝|𝑘
Ö 𝜓 ( 𝑝)
𝑗
= 𝐿 𝜓 𝑗 (𝑠) · 1− .
𝑝𝑠
𝑝|𝑘
Deste modo fica evidente que, a menos de uma quantidade finita de termos multiplicativos,
provar uma equação funcional para um caráter primitivo é suficiente. Assim,
Teorema 7.16. Seja 𝜒𝑘, 𝑗 um caráter primitivo na classe de resíduos 𝑘. Para 𝜎 > 1 teremos:
𝑘
∑︁
ℎ
𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (1)𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠) = 𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)F 𝑠, , (7.67)
𝑘
ℎ=1
na qual 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) é a soma de Gauss associada ao caráter 𝜒𝑘, 𝑗 (Definição 5.10).
Demonstração. Basta multiplicar a função zeta periódica pelo conjugado do caráter e somar
7.3 Equações funcionais para zeta de Riemann, zeta de Hurwitz e L de Dirichlet 116
para todo h,
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁ ∞
∑︁
ℎ 𝑒 2𝜋𝑖𝑛ℎ/𝑘
𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)F 𝑠, = 𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)
𝑘 𝑛𝑠
ℎ=1 ℎ=1 𝑛=1
∞
∑︁ ∑︁ 𝑘 ∞
∑︁ 𝑘
∑︁
𝑒 2𝜋𝑖𝑛ℎ/𝑘 1
= 𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ) = 𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)𝑒 2𝜋𝑖𝑛ℎ/𝑘 (7.68)
𝑛𝑠 𝑛𝑠
𝑛=1 ℎ=1 𝑛=1 ℎ=1
∞
(𝑛)
∑︁ 𝐺𝜒 𝑘, 𝑗
= .
𝑛𝑠
𝑛=1
Como 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) é separável, pois 𝜒𝑘, 𝑗 é primitivo (Teorema 5.18), teremos:
𝑘 ∞ ∞
𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛) 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (1) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑛)
∑︁ ∑︁ ∑︁
ℎ
𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)F 𝑠, = =
𝑘 𝑛𝑠 𝑛𝑠
ℎ=1 𝑛=1 𝑛=1
∞
(7.69)
𝑘, 𝑗 (𝑛)
∑︁ 𝜒
= 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (1) = 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (1)𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠).
𝑛𝑠
𝑛=1
Teorema 7.17 (Equação funcional das funções 𝑳 de Dirichlet). Seja 𝜒𝑘, 𝑗 um caráter primitivo
na classe de resíduos 𝑘, então para todo 𝑠 teremos:
Γ(𝑠) −𝜋𝑖𝑠/2 𝜋𝑖𝑠/2
𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (1 − 𝑠) = 𝑒 + 𝜒 𝑘, 𝑗 (−1)𝑒 𝐺 𝜒𝑘, 𝑗 (1)𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑠). (7.70)
𝑘 1−𝑠 (2𝜋) 𝑠
Demonstração. Usando o Teorema 7.9, multiplicando pelo caráter 𝜒𝑘, 𝑗 e somando para todo ℎ
com 𝑎 = ℎ/𝑘, teremos:
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
ℎ Γ(𝑠) −𝜋𝑖𝑠/2 ℎ 𝜋𝑖𝑠/2 ℎ
𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)𝜁 1 − 𝑠, = 𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ) 𝑒 F 𝑠, + 𝑒 F 𝑠, − . (7.71)
𝑘 (2𝜋) 𝑠 𝑘 𝑘
ℎ=1 ℎ=1
teremos
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
ℎ ℎ
𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)F 𝑠, − = 𝜒𝑘, 𝑗 (−1) 𝜒𝑘, 𝑗 (−ℎ)F 𝑠, −
𝑘 𝑘
ℎ=1 ℎ=1
𝑘
∑︁
𝑘−ℎ
= 𝜒𝑘, 𝑗 (−1) 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑘 − ℎ)F 𝑠, (7.72)
𝑘
ℎ=1
𝑘
∑︁
ℎ
= 𝜒𝑘, 𝑗 (−1) 𝜒𝑘, 𝑗 (ℎ)F 𝑠, ,
𝑘
ℎ=1
Usando-se do Teorema 7.16 e dividindo-se ambos os termos por 𝑘 1−𝑠 , finalizamos a de-
monstração. □
Nesta seção avaliaremos a função zeta de Hurwitz para inteiros negativos e definir os
números de Bernoulli. Note que para todo inteiro não negativo 𝑛,
ainda,
𝑧 −𝑛−1 𝑒 𝑎𝑧
I (−𝑛, 𝑎) = 𝑅𝑒𝑠 . (7.75)
𝑧=0 1 − 𝑒𝑧
Definição 7.18. Para qualquer complexo 𝑠 definimos os polinômios de Bernoulli, 𝐵𝑛 (𝑠), pela
equação
∞
∑︁
𝑧𝑒 𝑠𝑧 𝐵 𝑛 (𝑠) 𝑛
= 𝑧 , (7.76)
𝑒𝑧 − 1 𝑛!
𝑛=0
7.4 Polinômios de Bernoulli e a função zeta de Hurwitz 118
na qual |𝑧| < 2𝜋, ou seja, os coeficientes para a expansão polinomial de 𝑧𝑒 𝑠𝑧 /(𝑒 𝑧 − 1) em torno
do zero. O caso particular de 𝑠 = 0 define os números de Bernoulli,
∞
∑︁
𝑧 𝐵 𝑛 (0) 𝑛
= 𝑧 , (7.77)
𝑒 −1
𝑧 𝑛!
𝑛=0
Em particular,
𝑛
∑︁ 𝑛
𝐵𝑛 = 𝐵𝑘 . (7.79)
𝑘
𝑘=0
Dessa maneira podemos relacionar os polinômios de Bernoulli com a função zeta de Hurwitz
pelo seguinte teorema.
𝑧 −𝑛−1 𝑒 𝑎𝑧
𝜁 (−𝑛, 𝑎) = Γ(1 + 𝑛)I (−𝑛, 𝑎) = Γ(1 + 𝑛) 𝑅𝑒𝑠
𝑧=0 1 − 𝑒𝑧
𝑧−𝑛−1 𝑒 𝑎𝑧
= −Γ(1 + 𝑛) lim 𝑧 𝑧
𝑧→0 𝑒 −1
∞
∑︁ (7.83)
−𝑛−1 𝐵 𝑘 (𝑎) 𝑘
= −Γ(1 + 𝑛) lim 𝑧 𝑧
𝑧→0 𝑘!
𝑘=0
𝐵𝑛+1 (𝑎) 𝐵𝑛+1 (𝑎) 𝐵𝑛+1 (𝑎)
= −Γ(1 + 𝑛) = −𝑛! =− .
(𝑛 + 1)! (𝑛 + 1)! 𝑛+1
□
ainda se 𝑛 ≥ 2
𝐵𝑛 (0) = 𝐵𝑛 (1). (7.85)
𝑒 (𝑠+1)𝑧 𝑒 𝑠𝑧
𝑧 − 𝑧 = 𝑧𝑒 𝑠𝑧 , (7.86)
𝑒𝑧 − 1 𝑒𝑧 − 1
então,
∞
∑︁ ∞
∑︁ ∞
∑︁
𝐵 𝑛 (𝑠 + 1) 𝑛 𝐵 𝑛 (𝑠) 𝑛 𝑠𝑛
𝑧 − 𝑧 =𝑧 𝑧𝑛 . (7.87)
𝑛! 𝑛! 𝑛!
𝑛=0 𝑛=0 𝑛=0
𝐵0 𝐵1 𝐵2 𝐵3 𝐵4 𝐵5 𝐵6 𝐵7 𝐵8 𝐵9 𝐵10 𝐵11
1 − 12 1
6 0 1
− 30 0 1
42 0 1
− 30 0 5
66 0
𝐵0 (𝑠) = 𝐵0 = 1
1
∑︁
1 1−𝑘 1 1 1 1
𝐵1 (𝑠) = 𝐵𝑘 𝑠 = 𝐵0 𝑠 + 𝐵1 = 𝑠 −
𝑘 0 1 2 (7.89)
𝑘=0
2
∑︁ 2
2−𝑘 2 2 2 1 2 1
𝐵2 (𝑠) = 𝐵𝑘 𝑠 = 𝐵0 𝑠 + 𝐵1 𝑠 + 𝐵2 = 𝑠 2 − 𝑠 +
𝑘 0 1 2 6
𝑘=0
3
∑︁ 3
3−𝑘 3 3 3 2 3 1 3 3 1
𝐵3 (𝑠) = 𝐵𝑘 𝑠 = 𝐵0 𝑠 + 𝐵1 𝑠 + 𝐵2 𝑠 + 𝐵3 = 𝑠 3 − 𝑠 2 + 𝑠
𝑘 0 1 2 3 2 2
𝑘=0
Agora estamos áptos à relacionar os polinômios de Bernoulli com a função zeta de Riemann
com o seguinte teorema:
𝐵𝑛+1 (1)
𝜁 (−𝑛, 1) = 𝜁 (−𝑛) = − (7.91)
𝑛+1
e o valor de 𝐵2𝑛+1 = 0 advêm da identidade anterior e dos zeros triviais da zeta de Riemann. □
(2𝜋) 2𝑛 𝐵2𝑛
𝜁 (2𝑛) = (−1) 𝑛+1 . (7.92)
2(2𝑘)!
7.5 Polinômios de Bernoulli e a função zeta de Riemann 121
Pelo teorema anterior notamos que, 𝐵2𝑛 é alternado e os números 𝐵2𝑛+1 = 0. Mais ainda,
|𝐵2𝑛 | → ∞ quando 𝑛 → ∞, pois,
2(2𝑛)!𝜁 (2𝑛)
(−1) 𝑛+1 𝐵2𝑛 =
(2𝜋) 2𝑛
𝑛+1
2(2𝑛)!𝜁 (2𝑛)
(−1) 𝐵2𝑛 =
(2𝜋) 2𝑛
2(2𝑛)!𝜁 (2𝑛) (7.94)
lim |𝐵2𝑛 | = lim
𝑛→∞ 𝑛→∞ (2𝜋) 2𝑛
2(2𝑛)!
lim |𝐵2𝑛 | = lim =∞
𝑛→∞ 𝑛→∞ (2𝜋) 2𝑛
no qual Z∗ é o conjunto dos inteiros excluindo-se o zero. Como casos particulares temos
∞
∑︁
2(2𝑛)! cos(2𝜋𝑖𝑘𝑥)
𝐵2𝑛 (𝑥) = (−1) 𝑛+1 , (7.96)
(2𝜋) 2𝑛 𝑘 2𝑛
𝑘=1
e também
∞
∑︁
2(2𝑛 + 1)! sen(2𝜋𝑖𝑘𝑥)
𝐵2𝑛+1 (𝑥) = (−1) 𝑛+1 . (7.97)
(2𝜋) 2𝑛+1 𝑘 2𝑛+1
𝑘=1
7.6 Fórmula para 𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (0) 122
Definição 7.25 (Polinômio periódico de Bernoulli). Para todo 0 < 𝑥 ≤ 1 definiremos o polinômio
periódico de Bernoulli, 𝐵¯ 𝑛 (𝑥), por
Teorema 7.26. Seja 𝜒𝑘, 𝑗 o caráter 𝑗 de Dirichlet para a classe de resíduos modulo 𝑘. Assim:
Demonstração. Pelo Teorema 7.7 e pela Equação 7.99, para 𝑗 ≠ 1 temos que
𝑘
∑︁
1
𝑟
𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (0) = 0 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟)𝜁 0,
𝑘 𝑘
𝑟=1
∑︁ 𝑘
1 𝑟
= 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟) −
2 𝑘
𝑟=1
(7.101)
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
1 1
= 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟) − 𝑟 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟)
2 𝑘
𝑟=1 𝑟=1
∑︁ 𝑘
1
=− 𝑟 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟)
𝑘
𝑟=1
7.6 Fórmula para 𝐿 𝜒𝑘, 𝑗 (0) 123
Í𝑘
pois 𝑟=1 𝜒𝑘, 𝑗 (𝑟) = 0. Para 𝑗 = 1, e pelo Teorema 6.11, podemos transformar 𝐿 𝜒𝑘,1 (0) em
produtos de zeros e uns, que é zerado ao encontrar o primeiro termo em zero. □
Derivação sobre funções aritméticas usualmente não são definidas como apresentado neste
capítulo. A definição adotada parte do trabalho de [5]. Com essa definição encontramos maneiras
de encontrar limites de séries complicadas, e métodos para obter fórmulas fechadas para séries
convergentes com uma quantidade finita de termos, desde que elas possam ser expressas em
função das falling powers, que será definida a frente. Aqui faremos a introdução da derivada
discreta e suas propriedades, definir falling powers de expoente positivo e negativos de modo
que as propriedades conhecidas de integração e derivação do cálculo se assemelhem para essa
noção de derivada, além de definir um conceito de soma indefinida e propor uma maneira
de operar sobre ela como se fossem integrais indefinidas. Vamos ainda enunciar o teorema
fundamental do cálculo discreto. Nos exemplos cobriremos algumas séries interessantes, que
majoram constantes da matemática e suas propriedades.
Definição 8.1 (Derivada Discreta). Seja 𝑓 uma função aritmética. Segundo [5] a derivada
discreta de 𝑓 , denotada por Δ 𝑓 , é definida por:
Δ1 𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛 + 1) − 𝑓 (𝑛)
Δ2 𝑓 (𝑛) = Δ1 𝑓 (𝑛 + 1) − Δ1 𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛 + 2) − 𝑓 (𝑛 + 1) − 𝑓 (𝑛 + 1) + 𝑓 (𝑛)
= 𝑓 (𝑛 + 2) − 2 𝑓 (𝑛 + 1) + 𝑓 (𝑛) (8.3)
Δ3 𝑓 (𝑛) = Δ2 𝑓 (𝑛 + 1) − Δ2 𝑓 (𝑛)
= 𝑓 (𝑛 + 3) − 3 𝑓 (𝑛 + 2) + 3 𝑓 (𝑛 + 1) − 𝑓 (𝑛),
e por fim,
Seguem os exemplos:
Δ1 𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛 + 1) − 𝑓 (𝑛)
= (𝑛 + 1) − 𝑛 = 1 (8.5)
Δ2 𝑓 (𝑛) = 1 − 1 = 0,
logo, Δ1 𝑛 = 1 e Δ2 𝑛 = 0.
Δ1 𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛 + 1) − 𝑓 (𝑛)
= (𝑛 + 1) 2 − 𝑛2 = 𝑛2 + 2𝑛 + 1 − 𝑛2 = 2𝑛 + 1
Δ2 𝑓 (𝑛) = 2(𝑛 + 1) + 1 − (2𝑛 + 1) (8.6)
= 2𝑛 + 3 − 2𝑛 − 1 = 2
Δ3 𝑓 (𝑛) = 0
logo, Δ1 𝑛2 = 2𝑛 + 1, Δ2 𝑛2 = 2 e Δ3 𝑛2 = 0.
8.1 Derivada Discreta 126
Δ1 𝑓 (𝑛) = 𝑓 (𝑛 + 1) − 𝑓 (𝑛)
= (𝑛 + 1) 3 − 𝑛3 = 𝑛3 + 3𝑛2 + 3𝑛 + 1 − 𝑛3 = 3𝑛2 + 3𝑛 + 1
Δ2 𝑓 (𝑛) = 3(𝑛 + 1) 2 + 3(𝑛 + 1) + 1 − (3𝑛2 + 3𝑛 + 1)
= 6𝑛 + 6 (8.7)
Δ3 𝑓 (𝑛) = 6(𝑛 + 1) + 6 − (6𝑛 + 6)
=6
Δ4 𝑓 (𝑛) = 0
logo Δ1 𝑛3 = 3𝑛2 + 3𝑛 + 1, Δ2 𝑛3 = 6𝑛 + 6, Δ3 𝑛3 = 6 e Δ4 𝑛3 = 0.
Note que o termo de maior grau das funções obtidas por derivadas discretas sucessivas se
comportam exatamente como as derivadas de funções contínuas. Veja que para uma função
exponencial o comportamento é definido pelo seguinte teorema.
𝑘
∑︁
𝑘 𝑘 𝑘 𝑘 𝑘−1 𝑘 1 𝑘 𝑘 𝑖
(𝑛 + 1) = 𝑛 + 𝑛 +...+ 𝑛 + = 𝑛 (8.12)
𝑘 𝑘 −1 1 0 𝑖
𝑖=0
logo,
Δ1 𝑓 (𝑛) = 𝑎 𝑘 · 𝑘𝑛 𝑘−1 + 𝑐 𝑘−2 · 𝑛 𝑘−2 + . . . + 𝑐 1 · 𝑛1 + 𝑐 0 (8.14)
8.2 Falling Powers de expoente positivo 128
e por indução,
Δ 𝑘 𝑛 𝑘 = 𝑘!
(8.16)
Δ 𝑘+𝑖 𝑛 𝑘 = 0 para todo 𝑖 > 0.
Note que o processo de derivação é bastante complicado, mesmo para polinômios simples.
Para tentar aproximar esse conceito com a semiótica operacional do cálculo para derivações sobre
funções contínuas, [5] criou o conceito de Falling Powers apresentado no próximo capítulo.
Em seu trabalho [5] o autor define o conceito de falling powers para aproximar as proprie-
dades de derivada discreta com o que fora construído em cálculo.
Definição 8.7 (Falling Powers). Seja o polinômio de grau 𝑚 denotado por 𝑛𝑚 o seguinte
polinômio,
𝑛𝑚 = 𝑛 · (𝑛 − 1) · (𝑛 − 2) · . . . · (𝑛 − 𝑚 + 1). (8.17)
Qualquer polinômio cujos expoentes são todos positivos podem ser escrito utilizando-se da
notação proposta. Isso é bastante fácil de verificar. Veja o exemplo com o processo de obtenção
dessa nova representação polinomial.
Exemplo 8.8. Seja 𝑓 (𝑛) = 𝑛2 + 5𝑛 + 1. Reescrevendo 𝑓 (𝑛) com a notação anterior teremos:
𝑓 (𝑛) = 𝑛2 + 5𝑛 + 1 = 𝑎 2 𝑛2 + 𝑎 1 𝑛1 + 𝑎 0 𝑛0
= 𝑎 2 𝑛(𝑛 − 1) + 𝑎 1 𝑛 + 𝑎 0 = 𝑎 2 𝑛2 + (𝑎 1 − 𝑎 2 )𝑛 + 𝑎 0 (8.18)
= 𝑛2 + 6𝑛1 + 1𝑛0 .
8.3 Falling Powers de expoente negativo 129
Essa notação não fora proposta por acaso. Veja como ela torna o conceito da derivação
bastante intuitivo e a notação semioticamente ativa.
Δ𝑛 𝑘 = (𝑛 + 1) 𝑘 − 𝑛 𝑘
= (𝑛 + 1)(𝑛)(𝑛 − 1) · . . . · (𝑛 − 𝑘 + 2) − (𝑛)(𝑛 − 1) · . . . · (𝑛 − 𝑘 + 1)
(8.20)
= ((𝑛 + 1) − (𝑛 − 𝑘 + 1))((𝑛)(𝑛 − 1) · . . . · (𝑛 − 𝑘 + 2))
= 𝑘𝑛 𝑘−1 .
Assim como a derivação contínua, a derivada discreta como proposta também possuí pro-
priedade de linearidade.
Até o momento, tratamos de potências positivas. Mas o mesmo conceito pode ser estendido
para potências negativas introduzindo-se as falling powers de expoente negativo.
Definição 8.11 (Negative Falling Powers). Em seu trabalho [5] o autor define o conceito de
Negative falling powers para tratar o caso de polinômios com expoentes negativos da seguinte
forma
1
𝑛−𝑚 = . (8.23)
(𝑛 + 1) · (𝑛 + 2) · . . . · (𝑛 + 𝑚)
8.4 Somas Indefinidas 130
Tal definição é suficiente para recuperar as propriedades de derivada e integral para funções
contínuas. Veja o teorema a seguir.
Δ𝑛−𝑘 = (𝑛 + 1) −𝑘 − 𝑛−𝑘
1 1
= −
(𝑛 + 2) · . . . · · · (𝑛 + 𝑘 + 1) (𝑛 + 1) · . . . · · · (𝑛 + 𝑚)
(𝑛 + 1) − (𝑛 + 𝑘 + 1)
= (8.25)
(𝑛 + 1) · . . . · · · (𝑛 + 𝑘 + 1)
−𝑘
=
(𝑛 + 1) · . . . · · · (𝑛 + 𝑘 + 1)
= −𝑘𝑛−𝑘−1 .
Do mesmo modo que definimos derivadas, definiremos operadores que se comportem como
integrais definidas e indefinidas.
Definição 8.13 (Integral indefinida discreta, soma indefinida, ou anti-derivada discreta). Sejam
𝑓 e 𝑔 funções aritméticas tais que Δ 𝑓 (𝑛) = 𝑔(𝑛). Note que para um dado 𝑔(𝑛) existe uma classe
de funções que respeitam a relação anterior. Denotaremos essa classe de funções por
∑︁
𝑔(𝑥)𝛿𝑥 = 𝑓 (𝑛) + 𝐶 (8.26)
Í
na qual 𝐶 é uma constante arbitrária. Assim 𝑔(𝑥)𝛿𝑥 é dita soma indefinida de 𝑔.
Assim como as integrais definidas, podemos colocar intervalos para o somatório de modo
que a constante arbitrária 𝐶 colapse para a diferença de 𝑓 (𝑛) de modo que.
Definição 8.14 (Integral definida discreta). Sejam 𝑓 e 𝑔 funções aritméticas tais que Δ 𝑓 (𝑛) =
𝑔(𝑛), então
𝑏
∑︁
𝑔(𝑥)𝛿𝑥 = 𝑓 (𝑏) − 𝑓 (𝑎) (8.27)
𝑎
é definida como a integral definida de 𝑔(𝑛).
8.4 Somas Indefinidas 131
Teorema 8.15 (Teorema fundamental do cálculo discreto). Sejam 𝑓 e 𝑔 funções aritméticas tais
que Δ 𝑓 (𝑛) = 𝑔(𝑛), então
𝑏
∑︁ 𝑏−1
∑︁
𝑔(𝑥)𝛿𝑥 = 𝑔(𝑛) (8.28)
𝑎 𝑛=𝑎
para todo 𝑎 e 𝑏.
= 𝑓 (𝑎 + 1) − 𝑓 (𝑎) + 𝑓 (𝑎 + 2) − 𝑓 (𝑎 + 1) + . . . (8.29)
. . . + 𝑓 (𝑏 + 1) − 𝑓 (𝑏) + 𝑓 (𝑏) − 𝑓 (𝑏 − 1)
= 𝑓 (𝑏) − 𝑓 (𝑎).
□
𝑛
Teorema 8.19. Seja 𝑓 (𝑛) = 𝑘 um binômio, então
𝑛 𝑛
Δ 𝑓 (𝑛) = Δ = . (8.36)
𝑘 𝑘 −1
𝑥 𝑛 = 𝑥 · (𝑥 − 1) · . . . · (𝑥 − 𝑛 + 1)
𝑥 · (𝑥 − 1) · . . . · 1
= (8.42)
(𝑥 − 𝑛)(𝑥 − 𝑛 − 1) · . . . · 1
Γ(𝑥 + 1)
= ,
Γ(𝑥 + 1 − 𝑛)
e que
1
𝑥 −𝑛 =
(𝑥 + 1) · (𝑥 + 2) · . . . · (𝑥 + 𝑛)
1·2·...·𝑥
= (8.43)
1 · 2 · . . . · (𝑥 + 𝑛)
Γ(𝑥 + 1)
= .
Γ(𝑥 + 1 + 𝑛)
□
ou ainda,
Teorema 8.23 (Derivada discreta do produto parametrizada em 𝒏). Sejam 𝑓 e 𝑔 funções arit-
méticas, então
Δ ( 𝑓 (𝑛)𝑔(𝑛)) = Δ 𝑓 (𝑛)Δ𝑔(𝑛) + Δ 𝑓 (𝑛)𝑔(𝑛) + 𝑓 (𝑛)Δ𝑔(𝑛). (8.47)
Do mesmo modo podemos escrever a versão utilizada para resolver integrais por partes da
seguinte forma:
Exemplo 8.26. Suponha que queremos obter uma fórmula fechada para o seguinte somatório
𝑘
∑︁
𝑛2 . (8.51)
𝑛=1
= (𝑘 − 2)2 𝑘 + 2.
Exemplo 8.28. Suponha que queremos obter uma fórmula fechada para o seguinte somatório:
𝑘
∑︁ 1
. (8.55)
𝑛2 + 3𝑛 + 2
𝑛=1
Note que 1
𝑛2 +3𝑛+2
= 𝑛−2 , e logo,
𝑘
∑︁ 𝑘+1
∑︁
1
= 𝑥 −2 𝛿𝑥
𝑛2 + 3𝑛 + 2
𝑛=1 1
𝑘+1
𝑥 −1
= (8.56)
−1 1
1 1
=− +
𝑘 +2 1+1
1 1
=− + .
𝑘 +2 2
Exemplo 8.29. Suponha que queremos calcular o seguinte limite
𝑘
∑︁ 1
lim . (8.57)
𝑘→∞ 𝑛2 + 3𝑛 + 2
𝑛=1
Exemplo 8.32. Suponha que queremos obter uma fórmula fechada para o seguinte somatório
𝑘
∑︁ 1
. (8.63)
𝑛 2 − 22
𝑛=3
Note que
3
∑︁
1 1
= (𝑥 − 𝑖) −2 , (8.64)
𝑛 −2
2 2 4
𝑖=0
pois,
3
∑︁
1 −2 1 1 1 1 1
(𝑥 − 𝑖) = + + +
4 4 (𝑥 + 1)(𝑥 + 2) 𝑥(𝑥 + 1) (𝑥 − 1)𝑥 (𝑥 − 2)(𝑥 − 1)
𝑖=0
1 𝑥(𝑥 − 1)(𝑥 − 2) + (𝑥 2 − 22 )2𝑥 + (𝑥 + 1)(𝑥 + 2)𝑥
=
4 𝑥(𝑥 − 1)(𝑥 + 1)(𝑥 − 2)(𝑥 + 2)
2
1 (𝑥 − 3𝑥 + 2) + (𝑥 2 − 22 )2 + (𝑥 2 + 3𝑥 + 2)
=
4 (𝑥 2 − 12 )(𝑥 2 − 22 ) (8.65)
2
1 2𝑥 + 4 + 2𝑥 2 − 8
=
4 (𝑥 2 − 12 )(𝑥 2 − 22 )
1 4(𝑥 2 − 12 )
=
4 (𝑥 2 − 12 )(𝑥 2 − 22 )
1
= 2 2 ,
(𝑥 − 2 )
8.6 Cálculo discreto e aplicação 139
e logo,
𝑘
∑︁ 3
𝑘+1 ∑︁
∑︁
1 1
= (𝑥 − 𝑖) −2 𝛿𝑥
𝑛 2 − 22 4
𝑛=3 3 𝑖=0
𝑘+1
∑︁
1
= 𝑥 −2 + (𝑥 − 1) −2 + (𝑥 − 2) −2 + (𝑥 − 3) −2 𝛿𝑥
4
3
𝑘+1
1 𝑥 −1 (𝑥 − 1) −1 (𝑥 − 2) −1 (𝑥 − 3) −1
= + + +
4 −1 −1 −1 −1 3
−1 −1 𝑘+1
𝑥 + (𝑥 − 1) −1 + (𝑥 − 2) −1 + (𝑥 − 3) −1 3
=
4
𝑘+1
−1 1 1 1 1
= + + +
4 (𝑥 + 1) (𝑥) (𝑥 − 1) (𝑥 − 2) 3 (8.66)
3 𝑘+1
∑︁
1
= −
(𝑥 + 𝑖 − 2)
𝑖=0 3
3
∑︁ 3
∑︁
1 1 1 1
= −
4 (𝑖 + 1) 4 (𝑘 + 𝑖 − 1)
𝑖=0 𝑖=0
1 1 1 1 1 1 1 1 1
= 1+ + + − + + +
4 2 3 4 4 (𝑘 − 1) (𝑘) (𝑘 + 1) (𝑘 + 2)
2
∑︁
25 1
= − .
48 4(𝑘 + 𝑖)
𝑖=−1
Note que
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
1 1 1 1
+ + > , (8.67)
12 22 𝑛 − 22
2 𝑛2
𝑛=3 𝑛=1
e portanto,
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
1 1 1 1 1 25 37 1
lim 2 + 2 + = 2+ 2+ = 1+ > lim . (8.68)
𝑘→∞ 1 2 𝑛 −2
2 2 1 2 48 48 𝑘→∞ 𝑛2
𝑛=3 𝑛=1
conseguimos construir um limite superior para a soma dos quadrados dos recíprocos. Note que
a expansão também permite construir um limite inferior, pois,
𝑘
∑︁
1 1 25 37 1 1 1
2
+ 2+ = 1+ > 2 + 2 + lim , (8.69)
1 2 48 48 1 2 𝑘→∞ 𝑛2
𝑛=3
8.6 Cálculo discreto e aplicação 140
e assim,
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
1 1 1 1 1 1 37
+ < lim < + + lim = 1 + = 1.7708. (8.70)
12 22 𝑘→∞ 𝑛2 12 22 𝑘→∞ 𝑛 2 − 22 48
𝑛=1 𝑛=3
Usando o mesmo procedimento anterior, mas utilizando mais termos na soma inicial,
𝑘
∑︁ 𝑘 ∑︁
∑︁ 𝑧+1
1 1
= (𝑥 − 𝑖) −2 (8.71)
𝑛2 − 𝑧2 2𝑧
𝑛=𝑧+1 𝑛=𝑧+1 𝑛=2−𝑧
podemos escrever:
𝑘
∑︁ 𝑘
∑︁
1 1 1 1 1 1 1 1
+ 2 + . . . + 2 < lim < 2 + 2 + . . . + 2 + lim
2
1 2 𝑧 𝑘→∞ 𝑛 2 1 2 𝑧 𝑘→∞ 𝑛2 − 𝑧 2
𝑛=1 𝑛=𝑧+1
∑︁𝑘
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2
+ 2 + . . . + 2 < lim < + +...+ 2 + + +...+
1 2 𝑧 𝑘→∞ 𝑛2 12 22 𝑧 2𝑧 1 2 2𝑧
𝑛=1
𝑧
∑︁ ∑︁𝑘 𝑧
∑︁ 2𝑧
∑︁
1 1 1 1 1 (8.72)
< lim < +
𝑛2 𝑘→∞ 𝑛2 𝑛2 2𝑧 𝑛
𝑛=1 𝑛=1 𝑛=1 𝑛=1
∑︁𝑘
1 1 (1)
𝐻𝑧(2) < lim 2
< 𝐻𝑧(2) + 𝐻2𝑧
𝑘→∞ 𝑛 2𝑧
𝑛=1
1 (1)
𝐻𝑧(2) < 𝜁 (2) < 𝐻𝑧(2) + 𝐻 .
2𝑧 2𝑧
Por outro lado,
1 (1)
0 < 𝜁 (2) − 𝐻𝑧(2) < 𝐻
2𝑧 2𝑧
∞
∑︁ 1 1 (1)
0< < 𝐻
𝑛2 2𝑧 2𝑧 (8.73)
𝑛=𝑧+1
∑︁∞ 2𝑧
∑︁
1 1 1
0< < .
𝑛2 2𝑧 𝑛
𝑛=𝑧+1 𝑛=1
indicando um limitante superior para a cauda da série com uma quantidade finita de termos.
seja mínimo? Como vimos 𝑔(𝑧) ≥ 0, portanto, seu menor valor é zero. Logo
(2) 𝐴(𝑧) (1)
𝐻𝑧 + 𝐻 = 𝜁 (2)
2𝑧 2𝑧
(8.75)
𝜁 (2) − 𝐻𝑧(2)
𝐴(𝑧) = 2𝑧 (1)
.
𝐻2𝑧
A pergunta faz sentido, pois como 𝐻𝑧(2) é um limitante inferior e 𝐻𝑧(2) + 𝐻2𝑧
(1)
/2𝑧 um limitante
superior para o valor de 𝜁 (2) então, se 0 < 𝐴(𝑧) < 1, então existe um valor de 𝐴(𝑧) tal que para
cada 𝑧 a aproximação é a melhor possível.
Observação 8.34. Note que as duas aproximações para 𝜁 (2), a inferior e a superior podem ser
combinadas para gerar aproximações diferentes. Seja a candidata que considera metade de cada
aproximação
1 (2) 1 1 (1) 1 (1)
𝜁 (2) ≈ 𝐻𝑧 + 𝐻𝑧 + 𝐻2𝑧 = 𝐻𝑧(2) + 𝐻2𝑧
(2)
. (8.76)
2 2 2𝑧 4𝑧
Observe na Figura 8.1 o comportamento dessa aproximação para todo 𝑧.
Figura 8.1: Comparação entre as aproximações utilizando-se dos limitantes inferior e superior e a
aproximação gerada pela média.
(2) 1 (1)
A aproximação 𝐻13 + 4·13 𝐻2·13 usando a forma anterior é melhor do que a aproximação
8.6 Cálculo discreto e aplicação 142
(2)
inferior 𝐻12020 (Figura 8.2). Ou seja, a forma racional a seguir
793494602079869 311132122280669
𝜁 (2) ≈ = 1+ (8.77)
482362479799200 482362479799200
é uma boa aproximação para 𝜁 (2).
Figura 8.2: Comparação entre o erro da estimativa em função do número de termos da série.
com 𝑘 ∈ Q. Note que as curvas propostas sempre cruzam o valor de 𝜁 (2) para algum 𝑘 ∈ (0, 1)
uma vez que por um lado ponderamos a combinação por uma série que majora por baixo, e
por outro por uma que majora por cima o valor desejado. Uma propriedade interessante seria
promover a intersecção para poucas iterações. Para verificar essa possibilidade constate na
Figura 8.3 alguns valores de 𝑘.
Fazendo uma busca exaustiva no espaço 𝑘 = 𝑟/𝑞, 𝑟, 𝑞 ∈ {1, · · · , 100} e buscando apenas
soluções com menos do que 10 termos, tais que
𝑟 1 (1)
𝜁 (2) ≈ 𝐻𝑧(2) + 𝐻 . (8.79)
𝑞 2𝑧 2𝑧
Temos as soluções apresentadas na Tabela 8.1.
8.6 Cálculo discreto e aplicação 143
Figura 8.3: Comparação para a família de correções considerando 𝑘 ∈ {0/10, 1/10, · · · , 5/10}.
Tabela 8.1: Melhores aproximações para 𝜁 (2) usando diferentes ganhos de correção para cada quantidade
fixa de termos.
O texto cobriu uma abundância de tópicos essenciais para o estudo da Teoria Analítica dos
números, em particular, funções aritméticas. Desde as definições de funções aritméticas, até
suas extensões analíticas. Cobrindo tópicos como apresentações de funções aritméticas usuais,
especiais e consequências das propriedades multiplicativas; Identidade de Euler e Abel para
comutar entre o domínio contínuo e discreto; grupos e a consequência de criar grupos finitos
multiplicativos; Caráteres de Dirichlet e suas propriedades; Séries de Dirichlet; funções zeta de
Hurwitz e L de Dirichlet; Continuidade analítica e resíduos de integrais complexas; Números e
polinômios de Bernoulli; e diversas outras propriedades conectando essa lista de tópicos. Ainda
tratamos de um tópico um pouco incomum, denominado cálculo discreto, no qual introduzimos
um método para obter fórmulas fechadas para somatórios complicados, além de obter limitantes
superiores e inferiores para os números harmônicos e boas aproximações para a série harmônica
usando somas finitas com poucos termos, tópico que pode gerar diversos desdobramentos para
pesquisa.
Referências
[4] Apostol, T. M. Introduction to analytic number theory. Springer, New York, New York,
2000.
[5] Boole, G. Calculus of finite differences. Chelsea Publishing Company, New York, New
York, 1860.
[6] Lang, S. Real and Functional Analysis. Springer, New York, New York, 1993.
[8] Willans, C. P. On formulae for the nth prime number. The Mathematical Association
(1964).