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“ alaremos aos descendentes a
respeito do poder de Deus” (Salmo 78.4)
Anselmo Ernesto Graff1
Introdução
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Este artigo é resultado de palestra proferida no Congresso Nacional da Liga de Servas Lutera-
nas do Brasil (LSLB), em Toledo, PR, em 14 de janeiro de 2010.
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Em 2003 uma televisão alemã colocou Martinho Lutero em 2º lugar dentre os personagens
de maior influência entre os alemães de todos os tempos. Em 1º lugar está Konrad Adenauer,
Primeiro Ministro durante 14 anos da República Federativa Alemã, na época da reconstrução
do país logo após o regime nazista. Disponível em <http://german.about.com/cs/culturre/a/
bestger.htm>. Acesso em setembro de 2009.
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Artigos
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KOLB, Robert. Speaking the Gospel Today. Revised Edition. Saint Louis: Concordia Pub-
lishing House, 1995. pp. 74-76
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Idem, p.76
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Artigos
O Salmo 78
Há uma concordância geral quanto à natureza do Salmo 78, embora
existam diferentes formas de denominá-lo. Alguns o designam como um
descritivo hino de louvor, com um texto de introdução característico da
literatura sapiencial. Outros intitulam esse Salmo como um “Salmo his-
tórico”, o que significa que seu conteúdo é uma recitação da história de
Israel. Há ainda aqueles que atribuem ao Salmo traços históricos, bem
como de sabedoria, pois em seu conteúdo há características da narrativa
e propósitos de ensinar as próximas gerações. O Salmo também é con-
siderado como sendo de natureza didática. Nesse caso, todos os relatos
históricos não visariam apenas apresentar uma lista de eventos, mas é
uma oportunidade para louvar ao Senhor através da meditação na his-
tória do seu povo, como apresentada ao longo do salmo. Meditação na
Palavra por sua vez gerará frutos do Espírito, confissão, reconhecimento
do amor e da misericórdia de Deus, consolo, conforto e louvor ao Senhor
de nossas vidas.
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Lutero, Martinho. Lectures on the Psalms II – Psalm 76-126. Hilton C. Oswald, editor.
Luther`s Works, Volume 11. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1976, p.45.
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ROSIN, Robert. Luther Discovers the Gospel: Coming to the Truth and Confessing the
Truth. Concordia Journal, Volume 32, April 2006, Number 2, p.148.
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Outras alusões do Salmo 78 no Novo Testamento: v.3, 1 Jo 1.1-4; vv.18-19, 1 Co 10.9-10;
v.24, Jo 6.31; v.37, At 8.21; v.44, Ap 16.4.
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Lutero, op. cit., p. 51
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2.4; At 11.18; 2 Tm 2.25). Porém, não dá para afirmar que sua atitude
tenha sido completamente negativa, pois lembraram de Deus como seu
redentor e fonte de segurança. Só que Deus, que esquadrinha corações
e mentes (Salmo 139.23-24; Jr 17.10; Pv 15.11), viu sua atitude como
falsa. “Quando os fazia morrer, então, o buscavam; arrependidos, pro-
curavam a Deus. Lembravam-se de que Deus era a sua rocha e o Deus
Altíssimo, o seu redentor. Lisonjeavam-no, porém de boca, e com a língua
lhe mentiam” (vv.34-36; cf. Is 29.13).
Mais uma vez aparece o grande problema do ser humano diante de
Deus: a falta de confiança. O coração não se firmava. Os olhos, que de-
veriam ficar abertos diante de Deus, insistiam em sonolentamente fechar.
Nesses episódios se confirma a mesma postura de Adão e Eva: não levar
as palavras de Deus a sério. Mesmo assim, Deus não se esquece de seus
filhos. Esse é o outro grande mistério da história e é a maior de todas as
maravilhas. A verdade mais profunda e significativa e que se torna con-
creta no fato de que “Deus corre atrás de seus filhos”. Definitivamente não
dá para enxergar o fim da sua misericórdia, que se renova a cada novo
dia, com os seres humanos que ele conhece (Salmo 103.14). Pode não
haver uma resposta sobre razões que motivam Deus a ser misericordioso,
mas o certo é que a característica do ser humano é a sua instabilidade
(v.39) e Deus, em sua graça, faz de tudo para reconduzi-lo ao caminho
da confiança.
Santo Agostinho de Hipona foi um dos pais da igreja que foi conver-
tido por Deus já depois de adulto. De pagão ele passou a ser um teólogo
cristão renomado e defensor da Teologia Cristã. Um estudioso deste
patriarca afirmou que ele “cria que o amor de Deus forma a rocha sob
as areias movediças da história da salvação”,11 e que a vinda do Senhor
Jesus foi tornar visível esse misterioso amor de Deus. “E brilhantemente
o demonstrou, pois éramos ainda pecadores quando Cristo morreu por
nós”12 (Rm 5.8).
Esta proposição é perfeitamente verdadeira, se observarmos as rebe-
liões em série do povo de Deus ao longo de sua caminhada no deserto.
O cenário posto ao fundo eram os atos graciosos e amorosos de Deus,
mas a cena que se enxergava eram atitudes rebeldes das pessoas e que
ofenderam e magoaram ao Senhor Deus.
11
Harmless, William. Augustine and the Catechumenate. Collegeville, Minnesota: Liturgical
Press [Pueblo Book], 1995, p. 129.
12
Agostinho. A Instrução dos Catecúmenos – Teoria e Prática da Catequese. Tradução
de Maria da Glória Novak. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1978, p.41.
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Algumas reflexões
Deus pede para olhar para as estrelas, mas não para consultá-las e
receber algum tipo de ensinamento. Deus pede que olhemos para cima e
admiremos a beleza do firmamento. Seu desejo é que fiquemos espantados
pela sua enormidade e passemos a apreciar a maravilha dessa criação.
Deus conhece cada uma das estrelas e as chama pelo seu nome, como
não saberá o nosso nome (Is 40.26-27) e que está tatuado nas palmas
de suas mãos? (Is 49.14-16)
Deus também pede que olhemos para sua palavra a fim de descobrir
tantas outras maravilhas do seu poder e amor para com seu querido povo.
A fé e a confiança de um cristão que crê num Deus amoroso é um assunto
pessoal, do coração, e devem ser atribuídas à ação do Espírito Santo. Po-
rém, isto também está relacionado ao saber e ao ensino. Primeiro somos
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KOLB, op. cit., p. 76.
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Idem, pp.79-80.
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ÖBERG, Ingemar. Luther and World Mission. A Historical and Systematic Study.
Tradução de Dean Apel. Saint Louis: Concordia Publishing House, 2007, pp. 18-19.
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Artigos
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KOLB, op. cit. p.76.
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SIGGINS, Ian D. Kingston. Martin Luther`s Doctrine of Christ. Eugene: Wipf & Stock
Publishers, 2003, pp. 245-246.
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inimigos muito mais vezes que possamos reconhecer. É ele que também
nos consola e nos estimula a nos manter confiantes ainda que haja mil
razões para duvidarmos. Confiança que é confiança não pede e não pre-
cisa sinais. Apenas crê que está nas mãos de Jesus, o Senhor que exerce
o supremo poder (At 2.36; Rm 10.9; 1 Co 12.3; Fp 2.11), não como um
déspota ou ditador, mas como um amoroso Senhor.
Martinho Lutero resume em sua explicação deste Mandamento o que
significa esperar ou confiar em Deus: “toma cuidado no sentido de ape-
nas eu ser o teu Deus e de forma nenhuma procures outro. Isto é: o que
te falta em matéria de coisas boas, espera-o de mim e procura-o junto
a mim, e se sofres desdita e angústia, arrasta-te para junto de mim e
apega-te comigo. EU, eu te quero dar o suficiente e livrar-te de todo o
aperto. Tão só não prendas a nenhum outro o coração, nem o deixes em
outro descansar”.18 Falar do poder e das maravilhas de Deus é nos devolver
essa cega confiança em nosso Pai celestial.
A fé e a confiança cristã, uma parte da dobradiça, não é, pelo menos em
primeiro lugar, um consentimento intelectual a idéias a respeito de Deus.
Elas são antes de tudo uma atitude de confiança e dependência completa
dele (Salmo 131; Mt 19.3; Tg 4.6; 1 Pe 5.5), ligadas a fatos históricos
presentes no Salmo 78. É verdade, esse salmo lida com histórias muito
feias do povo de Deus. Todos os tipos de pecados se manifestaram: falta
de confiança, desobediência, rebelião, petulância. Mas ele também fala
dos grandes milagres da graça de Deus, chamada até de irracional, pois
Deus faz de tudo para compreender e perdoar o seu povo. Isto não pode
ficar guardado, é preciso contar e recontar às próximas gerações.
Ao mesmo tempo em que nos vemos como pecadores, porque perde-
mos nossa devoção espontânea a Deus e sua vontade, ainda assim Jesus
Cristo faz de nós heróis. Mães heroínas, pais heróis, super amigos e super
amigas, trabalhadores incansáveis, servos, servas, vizinhos e vizinhas,
filhos e filhas que cuidam de seus pais idosos, noras e genros que se juntam
nessa missão, de todos o Espírito Santo empresta ombros, mãos, bocas
e vidas, para consolar, ajudar e cuidar da boa criação de Deus. Ao olhar
para as histórias de Deus, podemos ter certeza do que vai acontecer no
futuro. Deus vai continuar nos amando e cuidando aqui e recebendo com
a festa dos anjos na eternidade. Amém.
Metodologia
18
Lutero, Martinho. Catecismo Maior, 1ª parte, Dos Mandamentos, Livro de Concórdia,
p.395.4.
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Artigos
Referências bibliográficas
ROSIN, Robert. Luther Discovers the Gospel: Coming to the Truth and
Confessing the Truth. Concordia Journal, Volume 32, April 2006, Number
2, pp.147-160.
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