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A Queda do Homem

Marcelo Berti / 5 abril , 2010

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Falar na Queda do Homem é tratar do mais trágico evento da história da humanidade, pois todas as
tragédias posteriores são devidas a essa. Nenhuma forma de ação humana contrária ao caráter de
Deus pode ser encontrada fora das origens do pecado na história do homem. Nenhuma forma de mal
vista na história do homem é mais trágica do que a que vemos aqui, pois é aqui que nascem todas as
desventuras da humanidade.

Alguns objetariam a isso por ser demais simplista com a realidade, uma vez que grandes e terríveis
males tem se sucedido à humanidade, especialmente na história recente. Contudo, o defeito
fundamental do ser humano e do mundo é demonstrado em sua desconexão com Seu Criador e com
sua Rejeição à Sua Palavra. Tal atitude vista em Adão e Eva, repetida diariamente é a evidência
fundamental dessa desconexão do homem com o Seu Criador. Por isso, o evento narrado aqui é o
mais trágico evento da humanidade.

É interessante que é nesse capítulo que encontramos razões para entender como aquela Criação Boa
dos capítulos anteriores se tornou aquela criação sujeita à vaidade que encontramos nos capítulos
seguintes. Sobre isso, Calvino nos instrui:

Neste capítulo, Moisés explica que o homem depois de ter sido enganado por Satanás se rebelou
contra o seu Criador, tornou-se totalmente mudado e degenerado, a ponto de a imagem de Deus, no
qual ele tinha sido formado, ter sido destruída. Ele, então, declara que o mundo inteiro, que tinha
sido criado para o bem do homem, caiu junto com ele da sua posição primária, e que neste estado
muito de sua excelência natural foi destruída[1]

Alguns têm dito que tal capítulo não tem um compromisso com fatos (como os anteriores), pois a
intenção não é descrever um evento, mas explicar um fato por meio de uma história fictícia. Por
outro lado, já temos demonstrado como as escrituras tratam de Adão e sua história de modo a
considerá-lo uma pessoal real. Também já temos demonstrado que o as verdades expostas nos
primeiros capítulos, se acompanhadas de uma boa leitura, não oferecem problemas à mente
inquieta do homem contemporâneo.

Introdução

Antes de tratarmos do conteúdo do capítulo, chamo sua atenção para três detalhes importantes, que
não foram examinados com atenção até aqui: (1) A Serpente; (2) A árvore do conhecimento do bem
e do mal e (3) a Lei de Deus no Éden.
1. Serpente:

A nova personagem que aparece no relato de Gênesis três é a serpente. Muitas interpretações têm
sido dadas a ela. Alguns pensam que ela é uma apenas uma alusão a Satanás, entretanto, a
condenação feita à serpente inclui o animal (rastejar). Outros defendem que, como esse relato é um
mito, a serpente simboliza a maldade oposta ao criador, por outro lado, as escrituras se referem a
esse evento como fato. Outros preferem supor que a Serpente é de fato um animal que teria sido
possuído por Satanás. Gaebelein defende essa posição, observe:

É evidente que essa criatura não era, então, um réptil, como a serpente de hoje. A maldição da
serpente a coloca no pó. Esta criatura que Satanás possuía era talvez ainda mais bonita, de modo a
ser de grande atração para a mulher[2].

Particularmente, não tenho problemas com a idéia de que a serpente seja de fato um animal
possuído por Satanás, e provavelmente essa é a forma mais simples de se compreender o texto. O
termo hebraico “n¹µ¹sh” significa basicamente “serpente”, e é utilizada cerca de 54 vezes em todo o
AT. O autor que mais usa o termo é Moisés (9x em Gen e 5x em Num). Desses usos, cinco deles estão
no terceiro capítulo de Gênesis (3.1, 2, 4, 13, 14).

Todas as ocorrências desse termo nesse capítulo fazem referência ao animal com quem Eva inicia
uma conversa em 3.1. O termo empregado pela LXX para serpente é “ofis”, que Paulo usa para aludir
a esse evento em 2Co.11.3:

Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja
corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo.

Esse termo no NT é usado literalmente e com sentido figurado, como por exemplo, na ocasião em
que Jesus chama os fariseus de víboras (Mt.23.33). Do mesmo modo que seu cognato hebraico,
apenas poucas vezes o sentido do tempo é positivo (Sl 54:4-5; Ec 10:11; Jr 8:17).

Outro detalhe que merece nossa atenção é que “n¹µ¹sh” também é o termo que descreve, em Jó e
em Isaías o que conhecemos como leviatã ou dragão (Jo.26.13; Is.27.1), dependendo da tradução.
Mais interessante ainda é que em Apocalipse, ambas as descrições são dadas a Satanás:

E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o
mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos (Ap.12:9)
Assim, podemos ter certeza que o Moisés aqui faz uma simples referência a Satanás que
posteriormente é ampliada nas escrituras. Por outro lado, não posso deixar de compreender que tal
serpente seja de fato uma espécie de animal, tal como descrito em Gênesis 3.1. Muito embora tal
declaração pareça mais uma vez simplista, entendo que a condenação da serpente por Deus inclui
tanto ao animal (rastejarás) como à Satanás (este te ferirá a cabeça).

Concordam com essa opinião Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, observe:

“Que a serpente é um animal real é evidente pelo modo simples e não artístico da história e pelas
muitas alusões a ela feitas no Novo Testamento. Mas, a serpente foi um instrumento, ou ferramenta
de um agente maior, Satanás ou o Diabo, a quem os autores sagrados aplicam, a partir desse
incidente, o reprovável nome de dragão, a antiga serpente[3]”

2. A árvore do conhecimento do bem e do mal:

As opiniões sobre a árvore do bem e do mal são diversas e provavelmente não há consenso entre
teólogos sobre sua natureza. Alguns comentaristas preferem entende-las como um símbolo. E.F.
Kevan, defende:

”Não se trata de árvores misteriosas, capazes de comunicar vida ou conhecimento, mas sim de
símbolos das realidades espirituais. A árvore do conhecimento do bem e do mal foi a árvore que
serviu de prova à lealdade e à obediência do homem a vontade do Seu Criador, dando-lhes pelo
menos a entender a diferença entre o bem e o mal[4]”.

É bem verdade que o literalismo aqui parece tratar com extrema simplicidade tão controvertido
tema, mas há de se convir que o autor parece considerá-lo um fato. Seja como for, temos que
reconhecer que o próprio Deus criou tal árvore e, Ele mesmo, a plantou no Éden:

“E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia
formado. Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para
alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do
mal (Gen 2:8 ARA)”

Mais controvertida que a própria árvore e sua natureza, é a questão do por que seria necessária a
existência de tal árvore? Nesse momento, descartamos a possibilidade de que o autor falasse em um
símbolo, pois entendemos que tais árvores foram plantadas por Deus. Isso acentua a dificuldade em
se responder a pergunta já lançada: Se não trata-se de um símbolo, mas de uma árvores real, por que
o Yahweh Elohim (Senhor Deus) plantaria no Éden (paraíso) e a colocaria à disposição do homem que
havia criado à Sua Imagem e Semelhança? Ao refletir sobre o assunto, Adam Clarke escreveu:
“Mas como poderia a aquisição de tal faculdade ser um pecado? Ou podemos supor que faculdade
poderia faltar-lhe quando o homem estava em um estado de perfeição? Para isso, podemos
responder: A proibição se destina a exercer a faculdade [moral] do homem, e isto deve
constantemente ensinar-lhe esta lição de moral, que havia algumas coisas que são adequadas e
outras inadequadas para se realizar, e que, em referência a este ponto, a própria árvore deve ser
tanto um professor como monitor constantemente. A ingestão de seu fruto não teria aumentado
essa faculdade moral, mas a proibição se destina a exercer a faculdade que ele já possuía[5]”

Em outras palavras, Clarke demonstra que a questão não era acrescer nada ao homem como está,
pois entende que o homem estava em estado de perfeição. Desse modo, nada lhe faltava, exceto a
perseverança, que é uma faculdade a ser exercida. A santidade original do homem estava completa
na criação original, mas a possibilidade de desenvolvimento moral e espiritual lhe foi concedida com
a criação de tal árvore. Sem ela, o desenvolvimento seria inviável.

Impressiona-me o fato de que Clarke perceba um sentido positivo à árvore, pois ela lhe ensinaria
constantemente a necessidade de se confiar nas palavras de Deus e lhe monitoraria suas disposições
mentais. Entretanto, as escrituras defendem que a apresentação de tal árvore pela serpente foi tão
efetiva que o desejo de ter entendimento tomou conta do ser humano.

Bom, que podemos aprender com a árvore do conhecimento do bem e do mal? Com isso, Clyde
Francisco nos ajuda:

“Freqüentemente, o homem moderno é inclinado a pensar que o conhecimento (cultura) resolverá


os seus problemas. Contudo, com toda a cultura que a nossa geração obteve, não somos na maioria,
tão realizados quanto os nossos antepassados. Gênesis está dizendo que quando a buscado
conhecimento substitui a confiança na palavra de Deus, o naufrágio é inevitável. O conhecimento,
que é potencialmente bom, destruirá o homem que não tem a fé, para entendê-lo ou direcioná-
lo[6]”.

3. A Lei de Deus no Éden:

Uma das informações mais importantes que encontramos no início de Gênesis é o conceito legal que
a Palavra de Deus tem. Por ser Ele Criador de todas as coisas, é também Juiz de Todos os atos e por
isso, a expressão da Sua vontade constituísse como Regra, Padrão, Canon, Lei para a Criatura.

É interessante notar que o conceito de Lei sempre exige o reconhecimento de um Legislador que tem
pode para Impor e que com tal imposição demonstra seu caráter. Para ilustrar esse fato, o convido a
imaginar por um momento um síndico de um condomínio que o permite legislar com bem quiser.
Após pouco tempo, tal síndico teria prescrito algumas regras para o condomínio, e tais regras falam
sobre quem ele é. Se ele defendesse a lei do silêncio, saberíamos que ele tem preferência ao bom
convívio, que é reservado, ou até que prefere dormir cedo. Se ele defendesse a lei da não entrada de
visitantes após as 22h no condomínio, poderíamos inferir que ele tem excessiva preocupação com
segurança, ou que é xenofóbico. De qualquer forma, as leis que prescrever irão falar adequadamente
sobre seu caráter e pessoa.

Esse mesmo sentido é expresso por diferentes terminologias em diferentes idiomas. Seja em grego,
hebraico ou latim, os termos que descrevem o conceito de lei pressupõe um legislador que tem
poder/autoridade para impor e que tal imposição demonstra seu caráter. Observe:

Conceituação Hebraica: A terminologia hebraica para descrever Lei favorece nossa compreensão de
que Lei exige um legislador. Três palavras são principalmente usadas em Hebraico para descrever
uma lei/legislação:

Mitsvah: O termo é originado de “tsavah” que significa basicamente ordenar. Observe que Deus
ordenou a existência do mundo (Sl.33.9; Is.45.12) e por essa razão todas as criaturas e elementos lhe
obedecem as ordens (1Re.17.4; Jó.37.12; Sl.78.23). Deus dirige o curso da história, pois ordenas os
eventos (Lm.3.37) e providencia meios para que seja realizado o que Ele determina (Ex.31.6; 36.1).
Esse é o termo usado em 2.16. Assim, o termo “Mistvah” assume clara conotação de ordem, como
estipulações específicas da Aliança (Ex.24.12) e por isso violá-los implica em culpa (Lv.4).

Chuq: É normalmente traduzido como estatuto decretos, ordenanças, dever e obrigação. É visto
como uma regra ou prescrição imposta por Deus (Ex.18.16), embora homens também possam
decretar seus estatutos (Gn..47.26; 2Cr.35.25; Jz.11.39; Ez.20.18; 1Sm.30.25). Em geral implica em
deveres e direitos (Sl.2.27).

Torah: O sentido básico do termo é ensinar. Em função da relação com “yarah”, diversas vezes
retrata o ensino de Deus para com seus servos (Ex.4.15; Sl.25.8; 27.11; 86.11; 119.33). Tal sentido
aproxima ainda mais o conceito de que a Palavra, que deve ser ensinada (Lv.10.11; Dt.33.10), e a Lei
que provém de Deus (Is.1.10).

Em todos os casos, Lei pressupõe um Legislador, e as palavras Hebraicas utilizadas para descrever a
ação de Deus em ordenar refletem o caráter Legal da Vontade de Deus.

Conceituação Grega: Em grego, fenômeno similar acontece, pois os termos que descrevem o
conceito de Lei também carregam em si uma designação de Vontade Pessoa e Poder/Autoridade
para impor Sua Vontade. Três termos são considerados:

Prostagma: Significa basicamente ordem, mandamento. É utilizada na LXX para traduzir Choq no
Hebraico. O termo provém de “prós” (ante de) e “tagma” (ordem, organizar – 1Co14.40)
evidenciando mais uma vez a idéia de que Lei é uma declaração de vontade imposta com poder para
ordenar.
Nomós: Esse é o termo mais usado no NT para descrever Lei. Provém do termo Nemo, e é usado de
cinco modos diferentes:

De modo genérico, pode se referir a qualquer lei judicial (Rm 7.1);

Como regra que coordena ações e princípios (Rm.7.23)

Refere-se ao sistema de leis do AT (Jo.18.31; At.23.29), ou ainda mais especificamente para a Torá, a
Lei de Moisés (Lc.2.22);

Refere-se especificamente aos cinco primeiros livros do AT (Mt 12.5; Gl 3.10b) ou até mesmo a todos
os livros do AT (Mt.5.18; Rm.3.19);

Pode também se referir figuradamente à Nova Aliança, o Evangelho Cristão estabelecendo novos
princípios para governar a vida espiritual (Rm 8.2a; Hb 10.16)

Nemo: O significado básico do termo é dispensar ou atribuir no grego clássico, mas é usado
freqüentemente na LXX como descrição da ação do Pastor ao cuidar de suas ovelhas: Apascentar.
Seja como for, a ação pressuposta por esse verbo sugere capacidade para cuidar, exercer poder,
orientar e dispensar, atribuir, todas características volitivas pessoais.

Conceituação Latina: Em Latim o termo básico para descrever Lei é a palavra Lex. Tal termo provém
do termo grego “lego” (eu digo) como algo dito por alguém. Ou seja, em Latim, uma Lei sempre
pressupõe um legislador pessoal que tem autoridade para impor. É um dito autoritário que
representa de forma escrita a vontade de um legislador.

Tendo observado em diferentes idiomas o conceito de Lei, observa-se alguns princípios essenciais
que constroem o conceito do termo:

Lei implica na existência moral e volitiva do Legislador

Lei é a expressão da vontade do legislador;

Lei é a expressão do caráter do legislador;

Lei é a determinação moral que tem poder para impor limites morais.

Tendo isso em mente, podemos dizer que o termo Lei não está presente na cena da Criação, mas o
conceito de Lei permeia todas as atividades de Deus na Criação e no Seu relacionamento com Adão e
Eva. O fato de que Deus, com sua palavra, ordena e tudo vem a existência indica que tipo de poder
para ordenar esse Deus tem. Por isso, sua legislação deve se leva à sério.

Em outras palavras, podemos encontrar na cena da Criação evidências da manifestação da vontade


restritiva e permissiva de Deus e que a omissão ou violação dessa vontade implica em violação do
Caráter do Criador, e, por conseguinte, em pecado.

Ordens e Responsabilidades: Todas as declarações abaixo são descrições das bênçãos de Deus para a
humanidade e por conseguinte o estabelecimento de um padrão moral esperado da humanidade.
Portanto,digo mais uma vez, a violação desses princípios seria considerados como violação do
Caráter e da Vontade de Deus, e portanto, pecado:

Sede fecundos e multiplicai: É interessante que a violação da fertilidade ordenada por Deus foi a
razão pelo qual Deus matou Onã: “Sabia, porém, Onã que o filho não seria tido por seu; e todas as
vezes que possuía a mulher de seu irmão deixava o sêmen cair na terra, para não dar descendência a
seu irmão. Isso, porém, que fazia, era mau perante o SENHOR, pelo que também a este fez morrer”
(Gn.38.8-9)

Enchei a terra: Note que a violação desse mandamento foi a razão pela qual Deus proferiu o juízo
contra Babel: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e
tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn.11.4).
“Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade”
(11.8).

Sujeitai a terra: Em função do cuidado realizado pelo homem no jardim, conforme esperado por
Deus (Gn.2.5, 15), me sugere que tal expectativa (ou até mesmo descrição de propósito), caso não
fosse cumprida, também seria uma violação da vontade de Deus.

Dominai sobre a Criação: Na descrição dessa bênção/responsabilidade Deus evidencia que o domínio
do homem deveria ser sobre os peixes (seres aquáticos), aves (seres que voam) e por todos os que
estão em terra, cobrindo assim todas as áreas que o homem deveria, mas a expressão “sobre todo
animal que rasteja pela terra” (v.28) me sugere uma antecipação aos eventos narrados no início do
capítulo 3.

Liberdade: Esse conceito de duas declarações de Deus sobre a alimentação do homem, a primeira
como permissão (Gn.1.19-30) e outra como ordem (Gn.2.16). Essa declaração de liberdade
pronunciada pelo Criador é compatível com Seu Caráter de oferecer às suas criaturas um ambiente
de que lhe permitisse e a escolha e a preferência para a alimentação. Corromper tal liberdade seria
um pecado, e limitá-la uma manifestação da punição de Deus ao homem (Gn.3.19, 23).

Chama-me a atenção o fato de que todas as essas declarações tem tom de ordem, por serem
descritas no imperativo, ou por virem acompanhadas pela palavra ordem (tsavah – Gn.2.16). Por
isso, considero que todas as essas declarações falam sobre a Lei de Deus no Éden, como
demonstração do Seu Caráter e Pessoa, mas não como única manifestação de si mesmo, pois
sabemos que ele também se manifestava pessoalmente a Adão e Eva (Gn.3.8)

Contudo, devemos ter atenção àquela declaração que Deus acusa o homem de ter violado. Embora
pudéssemos até considerar que o domínio do homem sobre a criação não tenha sido realizado na
cena da queda, ou que eles não estavam preparados para agir de acordo com a expectativa de Deus
para a situação, o que se tem por certo é que queda de fato ocorreu na violação da ordem negativa
de Deus.

Proibição e Conseqüências:
Não coma da árvore do bem e do mal: Essa declaração é clara, mas seu conteúdo parece não ter sido
bem absorvida por Eva, como veremos com mais atenção à frente. Mas, a intensidade da frase
demonstra claramente uma lei, uma ordem (hb. tsavah).

Certamente morrerás: É importante demonstrar o modo como se entende essa frase. Literalmente
lemos assim: “no dia em que dele comer, morrendo morrerás” (hb. muth thmuth). O uso seguido do
mesmo termo demonstra claramente o sentido da expressão: Morte certa. Outro já inferem no fato
de que aqui Deus preanuncia a Morte Eterna, uma vez que parece existir uma morte após essa. Por
outro lado, é mais natural esperar da língua hebraica a repetição de idéias como ênfase da
mensagem.

Com isso podemos afirmar com certeza que a o Pecado poderia ter-se encontrado na Violação da
Proibição ou na Omissão das Obrigações. Ou seja, caso o homem deixasse de realizar aquilo que
tinha sido chamado para realizar (multiplica, encher a terra) também seria considerado uma violação
da Vontade de Deus para o homem, e por conseguinte, uma violação do Caráter Moral do Criador e,
é claro, pecado passível de morte.

Assim, iniciamos nossas observações a esse capítulo, considerando as seguintes palavras de


Deffinbaug:

“Ele descreve a entrada do pecado na raça humana e a gravidade das conseqüências da


desobediência do homem. Mas, além da pecaminosidade do homem e das penalidades que ela
exige, há a revelação da graça de Deus. Ele busca o pecador e lhe providencia uma vestimenta por
causa do pecado. Ele promete um Salvador através do qual todo este trágico evento será tornado em
triunfo e salvação[7]”

A. Três passos para a Queda

O texto de Gênesis capítulo 3 inicia com a aproximação da Serpente, que temos demonstrado, trata-
se de um animal usado por um agente maior, que nesse caso as Escritura indicam Satanás. As
características apresentadas aqui para descrever tal ser merecem ser observadas:

Mais sagaz: As Escrituras entendem que tal serpente tinha uma característica interessante, ela era
sagaz. O termo hebraico “’arum” significa basicamente astuto. O sentido normalmente é positivo
(Pv.12.23; Jo.15.5), como sensato, prudente, mas é consenso entre os comentaristas que nessa
ocasião o sentido é negativo (Jo.5.12; 15.20). Derek Kidner define a expressão com “malévolo
brilhantismo[8]”, em função da relação do termo com a conotação de brilho. A LXX traduz esse termo
por “fronimós” e a Vulgata “callidus”, ambos termos de conotação positiva.

Por outro lado, é interessante que Paulo tenha usado o termo grego “panourgia” para descrever a
serpente em 1Co.11.3. Tal termo tem apenas o sentido negativo, muito embora o termo “astúcia”,
um termo neutro nesse sentido, tenha sido usado como tradução. Embora a Vulgata tenha optado
por “astutia” o termo latino que melhor descreve tal termo grego é “malitia”, de onde obtemos
malícia.

Dos animais do campo: A expressão usada para descrever um animal do campo é “chit eshde”,
ambos termos comuns ao vocabulário de Moisés (77x chay – Animal; 43x sadeh – do campo – Apenas
em Gênesis). O termo “campo” em nossa tradução é uma preferência pela distinção entre água e
céu, como Moisés costuma fazer nos primeiros capítulos. É bem verdade que o termo poderia ter
sido entendido como da terra, no sentido que estava se locomovendo na terra, ou que viesse da
terra, ou até mesmo com sentido mais genérico como a LXX (Gr. gês) e a Vulgata (lt. terrae) fizeram.

Que o Senhor Deus tinha feito: É interessante a opção de Moisés em acrescer o nome sagrado de
Deus para descrever a criação de tão vil personagem: Yahweh é o Criador de tal animal. Aqui mais
uma vez a pergunta relativa a permissividade de Deus ao mal insurge: Por que Deus criaria tal animal
que mais tarde viria a ser usado por Satanás para tentar o homem?

Ao considerarmos a mesma questão com relação à árvore, adotamos a opinião de Clarke que sugeriu
que tal criação permitia o homem exercitar as faculdades recebidas por Deus na criação. O ambiente
criado por Deus incluía uma dinâmica de desenvolvimento que se opõe ao que muitos pensam sobre
a perfeição na qual o Éden foi criado.

Tal descrição da serpente fez com que Calvino defendesse que a serpente tinha por criação a astúcia
e sagacidade, e que se aproveitando de tais características, Satanás as usou para seu fim destrutivo.
Em suas palavras, “Satanás perverteu para seus próprios fins fraudulentos o dom que tinha sido
divinamente à serpente[9]”.

Essa serpente, brilhantemente malévola, cujas características naturais foram deturpadas e usadas
por Satanás é o pivô daquele incidente que temos chamado Queda do Homem. Seu modo de dirigir-
se à mulher é tão incisivo e sagazmente convincente, que o que era proibido tornou-se desejável.
Assim, nesse pequeno diálogo vemos: (1) A ação de Satanás em deturpar as escrituras e a má
compreensão da verdade de Eva; (2) A permissividade de Eva em deixar-se seduzir pela proposta da
serpente e (3) a aproximação de Eva do fruto proibido, sua queda e corrupção de Adão.

1. Deturpe/Ignore as Escrituras

É-me interessante que a Queda tenha acontecido exatamente por essa razão. A investida da
serpente, sagaz é claro, foi adulterar a Lei de Deus no Éden de tal forma que a violação de tal ordem
tornou-se menos preocupante que o seguir a Lei. Os impulsos do homem em seu estado de perfeição
foram de tal modo aguçados que, por um momento (o momento anterior a queda) aquele fruto
tornou-se mais importante do que Deus.
É assim que Deus disse: A sentença principal da serpente é a questão sobre o que diz a Palavra de
Deus. As escrituras não dizem que a serpente estava com Adão quando a ordem de Deus foi dada, o
que sugere que, ou a criação estava a par desta ordem, ou Satanás estava. Seja como for, essa foi a
primeira vez que se duvidou das palavras de Deus[10]. Kidner nos diz que tal proposta do tentador “é
ao mesmo tempo perturbador e lisonjeiro; procura impingir a idéia a falsa idéia de que a Palavra de
Deus está sujeita ao nosso julgamento[11]”.

Não comereis e qualquer árvore: A proposta da serpente aqui é interessante, não é apenas
questionar, mas averiguar que tipo de entendimento Eva tinha da Lei de Deus. A proposta de Satanás
inclui um grande exagero, mas ele inicia a conversa por estabelecer seu padrão de questionamento:
A insinuação. Nesse momento a serpente está a colocar em dúvida o caráter de Deus, ao criar um
jardim e privar o homem do desfrute de tal benefício.

A resposta esperada a uma pergunta como essas era um simples não, e Eva inicia muito bem sua
resposta. Observe que ela é consciente de sua liberdade como criatura para fazer tudo que estivesse
a seu alcance no Éden, exceto comer da árvore que está no meio do Jardim.

Está no meio do Jardim: Alguns comentaristas têm optado por imaginar Eva em algum lugar próxima
a àrvore quando é primeiramente abordada pela serpente. Entretanto, pela resposta que oferece, é
bem possível que pelo seu zelo estivesse distante. Note que ela usa a expressão “está no meio do
jardim” e não “menos essa aqui”. Como o texto não nos oferece um ponto referencial no tempo para
distinguirmos quanto tempo se sucedeu entre a proposta da serpente e a queda, é possível que logo
Eva tenha se achegado para ver o fruto proibido.

Disse Deus… nem tocareis nele: É interessante que Eva é capaz de descrever a ordem de Deus com
suas palavras. Entretanto, tal citação parece acrescer às Palavras de Deus aquilo que Ele não teria
dito. C.H. Mackintosh, sobre isso disse:

“Deus não tinha dito nada acerca de tocar no fruto; de modo que, quer a sua má citação fosse efeito
da ignorância, ou da indiferença ou o desejo de representar a Deus de um o modo arbitrário, ou
devido às três coisas, é evidente que ela estava fora do verdadeiro terreno da confiança simples em
sujeição à Palavra de Deus[12]”.

O modo como Mackintosh trata a posição de Eva é certamente severo, contudo, sua declaração está
em conformidade com sua visão das escrituras e certamente orientada aos seus leitores que estavam
sendo grandemente influenciados pela desconfiança na palavra de Deus, vinda da teologia alemã,
que anos mais tarde seria conhecida na Escola da Tübingen.

Por outro lado, o acréscimo de informação debaixo da expressão “Deus disse” nos faz pensar que Eva
teria desenvolvido um zelo pela ordem de Deus que optava por manter-se tão afastado da
possibilidade de erro que acresceu tal informação. Essa era, ao menos, a visão dos fariseus: por seu
zelo preferiam tornar mais abrangente suas leis para não correr em risco contra a Lei de Deus.

Na tradução de J.W. Etheridge do Targum de Onkelos[13] nesse trecho é bem interessante, ele traz a
seguinte leitura para a frase de Eva: “O Senhor disse: Não como do dele [o fruto da árvore do meio
do jardim], nem se aproxime dele, para que não morrais” (PJE Gn.3.3). O mesmo acontece com o
suposto Targum de Jonatas Bem Uziel[14], que opta pela expressão “nem se aproxime dele” em lugar
de “nem toque nele” do texto hebraico.

A diferença entre os textos é simples: Enquanto o texto hebraico traz naga`, ambos os traguns
trazem qarav. Enquanto o sentido básico de naga` é é tocar, alcançar, ele também tem o sentido de
aproximar e nesse sentido é usado cerca de 38x no Antigo Testamento. Deve-se a isso, talvez, a
preferência dos targuns por um sinônimo como uma forma de explicação ao sentido entendido do
texto. Por outro lado, a LXX traz “optö” que literalmente se entende por “tocar”. A Vulgata optou por
“tangere” que, como a LXX, se entende primariamente como tocar. Daí nossa as nossas traduções
tiraram a idéia de tocar. Seja como fora, Eva adaptou o entendimento da Lei de Deus a uma versão
que lhe fosse mais agradável. Tal acréscimo, pode ter muitas fontes, mas o fato é certo: Não era bem
isso que Deus havia dito.

Uma vez que Eva não estava com Adão quando a ordem lhe foi dada, supomos que ela mesma tenha
ouvido dele. Por outro lado, se a presença de Deus na viração do dia era uma rotina no Éden, é bem
provável que ela tenha ouvido do próprio Deus. O que é certo, todavia, é que não sabemos como
essa transmissão aconteceu, exceto que ela não foi capaz de citá-la adequadamente. Mais uma vez,
Mackintosh pode nos ajudar:

“Se a Palavra de Deus estivesse escondida no coração de Eva, a sua resposta podia ter sido direta,
simples e concludente. O verdadeiro meio de enfrentar as perguntas e insinuações de Satanás é
tratá-las como suas com suas e repeli-las com a Palavra de Deus[15]”

É interessante a opção e Mackintosh, pois tendo por padrão o todo das escrituras, sabemos que era
expectativa de Deus que seus filhos tivessem suas palavras na memória. Assim, imaginamos que
mesmo fosse o caso com Adão e Eva: Deveriam ser cônscios de suas responsabilidades perante Deus,
o que Eva não parece demonstrar nesse diálogo. Deve ser por isso que foi tão suscetível às investidas
de Satanás.

Certamente não morrereis: Essa é a sentença final. A mesma reduplicação de idéias para enfatizar a
força da punição estabelecida por Deus (morrendo morrerás) foi usada pela serpente, entretanto,
acompanhada do advérbio “não”. Nesse passo a serpente não mais colocou a mulher em dúvida
sobre o que Deus tinha dito, ela adulterou radicalmente o sentido da frase dita por Deus. A troca de
garantia foi feita nessa sentença: Quem é mais apto para resolver o poder dessa fruta: Eu ou Deus?
Kidner completa por dizer que “é a palavra da serpente contra a de Deus, e a primeira doutrina a ser
distorcida foi a do juízo[16]”. Sobre isso Deffinbaug afirma:

Podemos estranhar a negação categórica de Satanás, mas, em minha opinião, foi exatamente isto
que enfraqueceu a oposição de Eva. Como alguém poderia estar errado se tinha tanta certeza? Hoje,
meu amigo, muitos são convencidos mais pelo tom categórico de um professor do que pela
honestidade doutrinária de seu ensinamento. Dogmatismo não é garantia de acuidade
doutrinária[17]

O Targum supostamente de Jonatas, traz uma leitura interessante para descrever essa situação. Em
sua paráfrase comentada a serpente teria dito: “Naquela hora a serpente falou acusação contra o
seu Criador, e disse à mulher: Morrendo você não morrerá, porque todos os artífices odeiam o filho
de sua arte” (Gn.3.4 – PJE). Em outras palavras, tal paráfrase entende que a serpente já inicia a
incutir na mente de Eva que Seu Criador na verdade havia proibido tal fruto, não por amor, mas por
ódio. Como se ela estivesse sujeita à essa ordem por recriminação do prazer e do conhecimento
ocultos no benefício desse fruto. É interessante, que é isso mesmo o que a serpente faz. Observe o
que diz Albert Barnes:

“A serpente agora faz uma afirmação forte e ousada, negando a eficácia mortífera da árvore, ou a
conseqüência fatal de participação dela afirmando que Deus estava ciente de que no comer do fruto
seus olhos seriam abertos, e que ela seria como Deus, conhecendo o bem e o mal[18]”

Por que Deus sabe: A acusação da serpente é que Deus tem consciência dos benefícios e por ser
malévolo a priva de desfrutá-los. Sobre isso, Francisco diz:

“Agora a serpente alega que Deus está privando a mulher de seus direitos. Deus está conservando-a
ignorante, por que não quer compartilhar sua sabedoria com ela. Além disso, a serpente assegura-lhe
que a ameaça de Deus era vazia: Ela não morreria[19]”

É interessante que a serpente denomina Deus de “Elohim” (lit. deuses) mas usa o verbo no singular.
Entre todas as mentiras possíveis para a serpente ela não ousou descaracterizar a Pessoa de Deus, ou
tratá-lo de forma não apropriada. Sua ação foi muito mais sagaz, ela retirou do Senhor a
confiabilidade. Ou seja, Ele é quem Ele diz ser, mas Ele não disse tudo o que poderia ter dito sobre o
assunto. A serpente defende que “Elohim sabe”, tem conhecimento do benefício da fruta, que em
última análise é o Ser igual a Deus. Por outro lado, a serpente evitou suar o nome do Senhor Deus
(Yahweh), e sobre isso Deffinbaug diz:

“O termo Deus (“Deus disse” – verso um) é interessante. Moisés vinha usando a expressão “O Senhor
Deus”, Yahweh Elohim: “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR
Deus tinha feito” (Gênesis 3:1). Mas quando Satanás se referiu ao Senhor Deus ele simplesmente o
fez como Deus. Esta omissão é indicativa da atitude rebelde de Satanás diante do Deus Todo-
Poderoso”[20]

Abrirão os olhos: Essa é a parte da declaração da serpente que mais me chama a atenção, pois ela
não em si mesma um declaração falsa, note que o texto apresenta exatamente essa visão pouco à
frente (v.7). Sobre o assunto, Kevan diz:

“A mentira incluía certo elemento de verdade,o que a tornava ainda mais enganosa (ver v.22).É
verdade que o particular da fruta proibida levaria a fixidez moral, no qual estado, naturalmente Deus
existe; porém, a semelhança com Deus, (…) supostamente o homem avançaria para uma posição
avançada de perfeição moral e seria confirmado em seu caráter, num caráter santo. Quanto a esse
respeito, a intenção divina é que o homem fosse como Deus. Mediante o pecado, porém, o homem
atingiu uma diferente espécie de fixidez moral: foi confirmado o seu caráter, mas esse caráter era
mau em sua qualidade[21]”

É verdade que o abrir os olhos faria parte do resultado da desobediência, mas essa não era a questão
fundamental. A questão era: O que isso significa? Por um momento, a idéia de ter os olhos aberto
parecia melhor do que ter os olhos fechados a alguma realidade que até então não se conhecia. Eva
não tinha consciência que seus olhos se abririam à maldade. A grande maldição da árvore do
conhecimento do bem e do mal, não era o conhecimento em si, mas a capacidade de conhecimento
do bem e do mal. Essa dupla capacidade do ser humano pós-queda é sua maior desventura: Saber o
que é certo e ter prazer pelo errado. As crises de consciência e todas as desvirtudes nascem desse
potencial.

Sereis como Deus: É interessante essa proposta da serpente e extremamente tentadora. Na verdade,
tal tentação que em primeiro lugar encheu o coração de Satanás (se achou iniqüidade em ti –
Ez.28.15). Isaías nos diz que o sentimento por traz de Satanás era:

“Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei meu trono, e no monte da congregação me
assentarei nas extremidades do Norte, subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo” (Is.14.13-14)

O fato de a serpente ter usado o termo “Elohim” nessa sentença, tem levado alguns comentaristas a
considerar a possibilidade de que tal oferta seria para ser como um Anjo ou até mesmo como seres
divinos. O Tragum supostamente realizado por Jonatas faz referência a primeira possibilidade: “e
você será como os grandes anjos, que são sábios em saber o bem e o mal”. Kidner considera essa
possibilidade em uma nota de rodapé (pp.64, nr 25). Já a New English Translation (NET) optou por: “e
você será como os seres divinos, que sabem o bem e o mal”. Em explicação a essa leitura os editores
da NET dizem:
“Neste caso, Elohim tem que ser tomado como um plural numérico referindo a “deuses”, “seres
divinos”, pois se o único e verdadeiro Deus era o referente pretendido, uma forma singular do
particípio quase certamente apareceria como um modificador. Seguindo esta linha de interpretação,
poderíamos traduzir: ” e você será como os seres divinos, que sabem o bem e o mal”. O contexto
posterior favorece essa tradução, pois em 3:22 Deus diz a um grupo não-identificado “Olhe, o
homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal.” É provável que Deus está dirigindo
sua corte celestial, os membros dos quais podem ser chamados de “deuses” ou “seres divinos” do
antigo ponto de vista israelita[22]”

A opção do Targum parece representar um ponto de vista mais antigo, e inclusive substitui o termo
“Elohim” por “mal`ak” utilizada 8x no texto Hebraico de Gênesis em referência a um ser espiritual,
um mensageiro da parte de Deus. De modo interessante, o termo grego que se empregaria para
descrever esse “mal`ak” seria “angelós”, como acontece diversas vezes em Gênesis (16.6, 9, 10, 11;
21.17; 22.15; 31.11). Entretanto, a LXX não utiliza esse conceito aqui (3.5), mas usa “ös Theós” (como
Deus).

Por um lado, a proposta do NET Bible é interessante, pois coloca um novo cenário diante do diálogo
de Deus narrado em 3.22. Por outro, ignora que o contexto já usou diversas vezes o termos “Elohim”
como descrição do próprio Deus e que tal proposta tem apoio pela própria experiência do tentador.

Contudo, em resposta ao NET Bible, podemos dizer que a antiga tradição judaica aceitaria ambas as
leituras, a do Targum e da LXX, visto que ambas são obras primariamente judaicas, o que
descaracteriza parte da argumentação em prol de sua leitura. Vale dizer que em 3.22 não é
obrigatório que Deus esteja falando com seres angélicos, mas consigo mesmo, o Trino Deus.
Sabemos, por revelação do NT, que Cristo foi ativo na criação do universo e não existe razão para se
considerar sua ausência aqui. Sendo assim, nesse caso, fico com Clarke, Keil e Delitzsch, Barnes e
Calvino. Este, após considerar essas possibilidades de tradução, concluiu:

“Não tenho dúvidas de que Satanás promete-lhes a divindade, como se ele tivesse dito, não por
outra razão que Deus lhe defraudou da árvore do conhecimento, porque ele tem medo de tê-los
como companheiros[23]”

Assim podemos concordar com Krell, quando diz:

“É interessante notar que o que a serpente disse sobre Eva a ser como Deus é uma meia-verdade.
Adão e Eva não morreram imediatamente, e seus olhos se abriram. Ironicamente, ela já era como
Deus, tendo sido feitos à Sua imagem (1:26). Ela fez-se como Deus na obtenção de um maior
conhecimento do bem e do mal por comer da árvore. No entanto, ela tornou-se menos como Deus,
porque ela não era mais inocente do pecado. Seu relacionamento com Deus sofreu. Embora ela
permaneceu como Deus não podia mais ficar com Ele. Conseqüente separação de Deus é a essência
da morte[24]”
2. Permita-se Seduzir

Vemos que as investidas da serpente tem efeito quando lemos os resultados na vida de Eva. O texto
nos diz: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável
para dar entendimento” (v.6). Aquilo que anteriormente tinha sido completo repúdio (nem tocar era
permitido), tornou-se clara admiração. O poder de persuasão do tentador está completamente
provado: ele é capaz de reverter o desprezo em apreço.

Vendo a Mulher: Sobre o olhar da mulher, Calvino diz:

Este olhar impuro de Eva, contaminados com o veneno da concupiscência, tanto era o mensageiro e
o testemunho de um coração impuro. Ela podia anteriormente olhar a árvore com tal sinceridade, e
nenhum desejo de comer afetou sua mente, pois a fé que tinha na palavra de Deus foi o melhor
guardião do seu coração, e de todos os seus sentidos. Mas agora, depois que o coração tinha
diminuído a fé e a obediência à palavra, ela corrompeu a si mesmo e todos os seus sentidos, e
depravação foi difundida por todas as partes de sua alma, bem como o seu corpo[25].

O que é fato é que o modo de ver a violação da Lei de Deus tomava novas cores. A sentença
“certamente morreis” já havia sido amenizada pela amigável serpente. Deffinbaug sobre isso fala
“Embora ela ainda não tenha comido do fruto, já começou a cair. Ela entrou em diálogo com Satanás
e agora está acalentando pensamentos blasfemos acerca do caráter de Deus. Ela está contemplando
seriamente a desobediência[26]”.

Boa … Agradável … Desejável: As características que a árvore recebe nesse verso me chamam a
atenção. Ela era boa, mesma palavra usada por Moisés para descrever o apreço que Deus tem por
sua criação (towb). Ela era agradável e desejável, descrita com dois termos sinônimos (ta`avah e
nekmad). Nesse momento é que vemos as cores do coração de Eva, que passa a interagir com a
árvore, agora objeto dos seus desejos.

Essa tríade que agrada ao carne, olhos e o entendimento, é uma das descrições que João usa para
descrever o mundo, observe: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar
o mundo, o amor do Pai não está nele, porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”
(1Jo.2.15-16). Sobre isso, Krell diz que o texto demonstra três necessidades fundamentais do
homem, observe:

Em primeiro lugar, física: “boa para se comer.” Este é paralelo com “a concupiscência da carne”: o
desejo de fazer algo contrário à vontade de Deus (ou seja, “comer o fruto saboroso”). “Ela vai se
sentir bem.” O desejo por comida era uma parte do que chamou Eva em pecado. O corpo exerce
uma atração sobre nós e o pecado pode usar vários apetites físicos. Existem vários desejos do corpo,
o desejo de vontade, preguiça, falta de apetite, a ganância por prazer físico, a sexualidade. Todos
estes canais são as que podem ser utilizadas em pecado.

Em segundo lugar, emocional: “deleite para os olhos.” Este é paralelo com “a concupiscência dos
olhos”: o desejo de ter algo além da vontade de Deus (isto é, possuir o belo fruto). “Parece bom.” O
poder da visão tem uma incrível capacidade de estimular o desejo de pecado. É mais forte no
presente do que qualquer outro dos sentidos do corpo. Vendo que irá aumentar o nosso apetite por
algo. Há um desejo acrescentar que vem observando tentações que vêm através da imaginação,
agitada por algo visto. Se Eva sem pecado pudesse ser puxada para baixo, quanto mais aqueles que
nascem pecadores.

Por último, o intelectual: “desejável para dar entendimento”. Este é paralelo com “a soberba da
vida”: o desejo de ser algo além da vontade de Deus (isto é, tão sábio quanto Deus). “Isso vai me
fazer melhor.” “Eu preciso de algo que eu não tenho que ser feliz[27]“.

3. Aproxime-se e faça

Mais do que deixar-se seduzir pelo pecado, Eva foi tragada pela tentação, de modo que não pecar, a
partir desse ponto era impossível. John Owen, quando fala sobre a tentação, afirma:

Tentação, então, num âmbito geral, é alguma coisa, estado, modo ou condição que, em qualquer
hipótese tem uma força e eficácia para seduzir e draga a mente e o coração do homem a obediência
exigida por Deus, em qualquer pecado, qualquer que seja o grau[28]

Muito embora a tentação pudesse ter sido suportada em outras ocasiões, ou até mesmo pelo
desprezo que Eva parecia manifestar sobre a árvore era de se esperar que ela não entrasse em
tamanho encanto com o pecado. Contudo, não foi assim. Ao expor-se ao pecado e dar ouvidos ao
tentador, chegou aquele momento, que Owen chama de hora da tentação, na qual não se tem mais
escapatória. Observe o que ele acredita:

Haverá momento em que as suas solicitações serão mais urgentes, os convites mais razoáveis, as
aspirações mais gloriosas, as esperanças de recuperação mais aparentes, as oportunidades mais
amplas e abertas, e , enfim, as portas do mal se tornarão mais atraentes do que nunca. Abençoado é
aquele que estiver preparado para esse momento, pois sem preparo, não haverá escapatória[29]

Essa era a situação de Eva: Ela foi de tal modo ludibriada que a queda era um imperativo. Por outro
lado nos perguntamos: E o que aconteceu com Adão? Onde ele estava e por que aceitou tão fácil a
proposta de Eva?
Comeu e deu ao seu marido: Muitas pessoas já tentaram responder a essa perguntas de modo
definitivo, mas ao ler o texto em nossa versão (ARA) podemos deixar de ver uma possibilidade
assinalada pelo Hebraico, observe:

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar
entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu (Gen 3:6 ARA)

E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável
para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com
ela (Gen 3:6 ACF)

E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore
desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele
comeu com ela (Gen 3:6 ARC)

E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável
para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com
ela (Gen 3:6 BRP)

Note que à exceção da ARA, todas sugerem que Adão e Eva teriam comido juntos o fruto, e por que
não pensar que eles estavam juntos ante a exposição da serpente?! É interessante que os Targuns de
Onkelos e o supostamente escrito por Jonatas trazem exatamente essa descrição, pois não dizem
que eles comeram juntos, mas que Eva deu o fruto ao seu marido que estava com ela. O mesmo é
visto na leitura da LXX.

As versões KJV (King James), NIV e NET são unânimes em concordância com os Targuns e a LXX a
afirmam que Eva deu a fruta a Adão que estava com ela. A versão em português que mais se
aproxima dessa leitura é a da NVI, que embora não coloque isso no texto, insere uma nota de rodapé
com essa possibilidade.

A verdade é que o texto hebraico traz a preposição “com” (‘im) no texto e o modo com se associa tal
expressão ao contexto segue duas possibilidades: (1) Seguindo a sugestão da versões em português
ARC, ARF e BRP, traduzindo como “e ele comeu com ela”; ou (2) com a leitura das versões inglesas
KJV, NIV e NET, traduzindo como “deu a seu marido que estava com ela”. Se a primeira for preferida,
ainda temos que responder como Adão teria sido tão suscetível à queda. Por outro lado, se a
segunda for preferida, entendemos que Adão também ouviu a serpente e deixou-se influenciar por
ela do mesmo modo que Eva.
Tenho a impressão que as leituras dos Targuns e da LXX representem melhor o modo de leitura do
texto e opto pelo segundo modo de entendimento do texto, assim concordando com as versões
inglesas. Ou seja, também entendo que Adão estava presente com Eva e com ela foi ludibriado pela
serpente.

B. Três características da Queda

A violação da Lei de Deus certamente traria suas conseqüências. É bem verdade que a morte não foi
instantânea, mas o primeiro resultado dessa violação foi.

Abriram-se os olhos: Como a serpente havia dito, os olhos de Adão e Eva se abriram. Kidner diz que
“A promessa da serpente de que se lhe abririam os olhos cumpriu-se a seu modo (cf. 22), mas foi um
grotesco anticlímax do sonho de iluminação[30]”. A grande pergunta é como isso aconteceu? John
Gill com isso nos ajuda:

“Não de seus corpos, mas suas mentes, de modo a não ter um conhecimento avançado de coisas
agradáveis, rentáveis e útil, como foi prometido e esperado, mas de coisas muito desagradáveis e
perturbadores. Seus olhos estavam abertos para ver que eles tinham sido enganados pela serpente,
que tinham quebrado o mandamento de Deus, e assim atraíram a antipatia de seu Criador e
Benevolente Benfeitor, e trouxeram a ruína e destruição sobre si mesmos, eles viram as bênçãos e
privilégios que haviam perdido: a comunhão com Deus, o domínio das criaturas, a pureza e a
santidade de sua natureza, e perceberam em que situação de miséria envolveram a eles mesmo e a
sua posteridade[31]”

Perceberam que estavam nus: A primeira descrição sobre a própria situação foi descrita com essas
palavras: Eles estavam nus. Considerando essa situação, Francisco ironiza: “A serpente havia dito que
eles teriam o conhecimento que Deus possuía. O que haviam eles aprendido? Que estavam nus. Que
profundo![32]”. A frustração após o pecado é uma das claras demonstrações de que ele jamais pode
cumprir as promessas que faz. Toda felicidade prometida pelo pecado antes da queda torna-se
amarga frustração após, pelo simples fato de que o todo da situação ilustra a falta de Deus na vida do
homem e que tal falta não pode ser resolvida com práticas pecaminosas. Keil & Delitzsch dizem:

“Foi aqui que a consciência da nudez sugeria pela primeira vez a necessidade de cobertura, não
porque a fruta tinha envenenado a fonte da vida humana, ou por alguma qualidade inerente tinham
imediatamente corrompido os poderes reprodutivos do corpo (…) nem porque qualquer mudança
física seguiu em conseqüência da queda, mas por causa da destruição da relação normal entre corpo
e alma pelo pecado; o corpo deixou de ser a morada de um espírito puro, em comunhão com Deus, e
no estado puramente natural do corpo a consciência não foi produzido apenas da distinção dos
sexos, mas ainda mais da inutilidade da carne, de modo que o homem e mulher ficaram
envergonhados em presença um do outro, e tentaram esconder a vergonha de sua nudez espiritual,
cobrindo as partes do corpo através do qual as impurezas são retiradas da natureza[33]”
Coseram folhas de Figueira: A atitude do casal primitivo é vergonhosa. Na intenção de cobrir suas
vergonhas desnudadas pela consciência do pecado e pela presença da maldade em ambos, tentaram
dar um jeitinho no problema. Se a consciência de que estavam nus era um problema, basta cobri-la
que o problema será resolvido. “As folhas de figueira são patéticas[34]” e representam todas as
iniciativas desesperadas que aqueles que acabaram de cair tomam. É o remorso e o impulso de
resolver um problema eterno com uma solução temporária. Essa é a postura de todo homem após
perceber sua violação da Lei de Deus. É o desespero e o remorso que evidenciam o tamanho da falta.
Sobre isso Krell diz:

“Tendo cometido eles o pecado, agora vivendo com suas conseqüências imediatas, eles tentam
resolver o problema por eles mesmos. Ao invés de voltar-se para Deus, seu sentimento de culpa leva
os em um processo de auto-expiatório, a auto-proteção: eles devem se cobrir. Essa é a tendência da
humanidade quando se trata de um relacionamento com Deus. No entanto, a Bíblia deixa claro que o
homem só pode ter um relacionamento com Deus através da fé simples[35]”

É interessante que a partir desse ponto veremos a ação de Deus diante de toda essa tragédia. Mas, é
preciso perguntar: Onde estava Deus? Por que não interveio no diálogo da serpente? Embora só
possamos supor, duas considerações podem ser feitas: (1) Em sua Soberania Deus não apenas
plantou a árvore do bem, mas permitiu o avanço de Satanás no Éden; (2) Deus havia delegado ao
homem responsabilidades e esperava que esse as cumprisse. Deus não era babá, nem havia criado
seres joviais ou inocentes que não pudessem manifestar-se diante das investidas da tentação. A
soberania e responsabilidade delegadas por Deus ao casal eram suficientes para que reagissem.

Entretanto, temos que admitir que o modo de ação de Deus diante da desgraça é diametralmente
oposto àquela usada por Satanás. Deus também se utiliza de perguntas, mas ao invés de buscar a
queda ou condenação do homem, Ele busca restauração. Por isso, (1) Ele Busca ao homem, (2)
Questiona o homem e o (3) Confronta.

1. Deus Busca e o homem se Esconde

Infelizmente uma das mais belas declarações sobre o relacionamento de Deus e o homem no Éden é
descrita após a queda. O texto nos diz que o Senhor andava no jardim na viração do dia, ou
“passeava no jardim à tardinha” com preferiu verter a antiga versão de João Ferreira de Almeida.

Essa declaração fala sobre o costume de Deus em fazê-lo, como algo que sempre fez, observe:

“O Ser Divino surgiu da mesma forma como antigamente – proferindo os tons conhecidos de
bondade, andando de alguma forma visível (não correndo apressadamente, como se impelido pela
influência de sentimentos de raiva). Quão belas e expressivas são as palavras de familiar e
condescendente maneira em que Ele relacionamento com o primeiro casal[36]”.

É muito interessante a percepção de que Deus não se volta correndo para o homem após a queda
como se estivesse desesperado pela ação que fugira do Seu controle. Em Sua Soberania Ele vem ao
homem como comumente o fez. Por algum momento podemos supor que a dinâmica da narrativa
sugere que Deus estava desinformado, pois parecia não saber onde estava o casal, mas, é certo que
Deus aqui toma medidas para remediar os danos provocados pelo pecado. É importante lembrar que
é Deus que se propõe a resolver o pecado de uma vez por todas, em Cristo, como veremos com mais
detalhes à frente.

Entretanto, é importante que se diga que o significado dessa expressão (passeava no jardim à
tardinha) é vista sob pontos diferentes: (1) Alguns acreditam que essa é uma figura de linguagem
antropomórfica; (2) Outros defendem que trata-se de uma manifestação pré-encarnada de Cristo,
uma Cristofania (John Gill); (3) Outros entendem como a presença pessoal de Deus no jardim. Kevan
defende que essa declaração não pode ser tomada com um antropomorfismo, pois entende que é a
Presença de Deus que se faz manifesta[37]. Keil e Delitzsch acreditam que isso é evidenciado pelo
termo “qowl” que em outros contextos é usado como a descrição dos sons de passos e não da voz
(2Sa.5.24; 1Re.14.6)[38]. Seja como for, Deus interagia livremente com o homem de tal forma que ao
aproximar-se de Suas Criaturas, como de costume, sua presença foi uma afronta.

Quando ouviram a voz do Senhor: É aceitável aqui, entender que, diferente do que propõem Keil e
Delitzsch, o que se ouve é a voz de Deus, e não seus passos, uma vez que esse é o uso recorrente e
mais normal do termo. Isso também reforça a idéia de que Deus não estava à espreita como quem
vem de mancinho para surpreender o homem em sua falta, mas que adentrava ao jardim em Busca
do Homem que havia feito para desfrutar de uma vida de relacionamento Consigo. Krell defende que
isso representa a graça de Deus em uma situação de crise[39]. Essa preocupação de Deus em achegar
ao homem, segundo Deffinbaug é a demonstração de que Deus, ao contrário de Satanás, procura o
homem para restaurá-lo e reconciliá-lo consigo mesmo [40].

Esconderam-se da presença do SENHOR Deus: Aquele relacionamento que outrora era normal é
agora visto como uma ameaça. O medo faz parte do relacionamento do homem com Deus. Aquilo
que era amor, agora é medo e a distância de Deus é um requisito fundamental para a vergonha que
o medo impulsiona.

Outro detalhe interessante nessa descrição é que “paniym”, que foi traduzido por “presença”
significa primariamente “face”. Se entendido assim, a idéia da presença pessoal de Deus é
completamente percebida na cena pós-queda. Era do próprio Deus que se afugentaram Adão e Eva.
É Krell quem diz:
“A transformação mais completa não poderia ser imaginada. A confiança inocente é substituída pelo
medo da culpa. As árvores que Deus criou para o homem olhar e apreciar (2:9) são agora o seu
esconderijo para impedir Deus vê-lo[41]”

Se o medo é a marca do casal nesse momento, o amor é a falta, pois no amor não há medo e o medo
produz tormento (1Jo.4.18). Essa caracterização joanina nos auxilia a compreender que todo ato de
pecado é primeiramente um ato de amor próprio e de falta de amor para com Deus.

2. Deus questiona e o Homem Justifica

A iniciativa de Deus em andar no jardim à tardinha não sua única iniciativa, Ele mesmo buscou
aproximação com Suas criaturas. É interessante que o Targum de Onkelos usa a expressão “dabar
elohim” (lit. Palavra de Deus) como descrição de Deus no verso 9. Essa expressão é usada como
tradução do conceito de Logos no Novo Testamento Hebraico e levou pessoas a considerarem que
tratava-se da presença pessoal de Jesus Cristo no jardim. Sobre issoJohn Gill diz que “no Targum de
Jerusalém é, a Palavra do Senhor Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, e esta é a voz que
ele disse ter ouvido antes[42]”.

É bem verdade que essa declaração parece muito bem construída, mas nem o Targum nem a versão
Hebraica parecem suportar essa visão, muito embora seja plenamente concordante com a Teologia
Cristã. O que é certo é que o próprio Deus chama pelo homem e lhe pergunta: Onde estás?

Onde estás? Alguns, na tentativa de minimizar o conhecimento que Deus tem de todas as coisas,
supõe que nesse texto Deus pergunta por Adão por não saber onde está. Entretanto, a busca de
Deus em direção do homem não acontece por que ele está fora do conhecimento, mas fora de sua
comunhão. Keil e Delitzsch defendem que Yahweh não pergunta por ser ignorante dos fatos, ou
como se não soubesse da localização de ambos, “mas para trazê-los à confissão do pecado[43]”. Essa
é a percepção dos editores da NET bible, que defendem que o fato de Adão responder a razão de sua
fuga, entendem que a pergunta parecia-se mais com: “Por que está escondido?”.

Não sei se fica claro para os leitores, mas Deus não se ocupa em buscar Eva ou a Serpente, a
pergunta é direcionada para Adão? Por que razão Deus buscaria a Adão se até pouco antes as figuras
centrais da narrativa eram a Serpente e Eva? É bem provável que a autoridade doada a Deus a Adão,
como seu representante[44], implicava em primeiro lugar que ele seria o representante e
responsável pela Queda, e não a mulher ou a Serpente. Observe a opinião de Deffinbaug sobre o
assunto:

“Repare que nenhuma pergunta é feita à serpente. Não há intenção de restauração para Satanás.
Sua condenação está selada. Tome nota também da ordem ou seqüência aqui. O homem caiu nesta
ordem: serpente, Eva, Adão. Isto é o oposto da seqüência de comando dada por Deus. Enquanto
Deus questionou por ordem de autoridade (Adão, Eva, cobra), Ele sentenciou pela ordem da queda
(cobra, Eva, Adão). A queda foi, em parte, o resultado da reversão da ordem de Deus[45]”.

Me escondi: é interessante que Adão não assume sua violação da ordenança divina, mas reconhece
apenas os resultados de sua ação. Keil e Delitzsch demonstram isso com clareza:

“Adão disse que tinha escondido por medo de sua nudez e, portanto, procurou esconder o pecado
para trás as suas conseqüências, a sua desobediência por trás do sentimento de vergonha, o que não
deve ser considerada como um sinal de teimosia peculiar, mas facilmente admite uma explicação
psicológica, viz., que, no momento que ele realmente pensava mais sua nudez e vergonha do que de
sua transgressão da ordem divina, e sua consciência dos efeitos do seu pecado foi mais afiada do que
o senso do pecado em si[46]”

Matthew Henry nos ajuda a visualizar esse fato, observe:

“Ele não se sente culpado, mas confessa sua culpa por possuir a sua vergonha e medo, mas a culpa é
comum e a insensatez daqueles que têm feito uma coisa má, quando são questionados sobre o
assunto, não reconhecem o que é tão evidente que não podemos negar. Adão estava com medo,
porque estava nu, não apenas desarmado, e, portanto, com medo de lutar com Deus, mas sem
roupa, e, portanto, tanto medo como a comparecer perante ele[47]”

Krell completa:

“Assim que Adão ouviu a presença de Deus, lembrou-se sobre a vida espiritual e relacionamento com
Deus. Ele agora percebeu que a tentativa de encobrir sua desorientação a Eva tinha sido em vão. Ele
percebeu que era a perda da vida espiritual que foi a causa de sua desorientação a Eva e que não
havia nada que pudesse fazer sobre qualquer um. É por isso que ele ainda se via como nua, mesmo
depois de encobrir. E é por isso que ele estava com medo. Foi “nudez” espiritual “que foi a
verdadeira questão. A solução só podia conceber era a negação ea evasão. Ele se escondeu, mas é
claro que não funcionou. Porque a raça humana está nu, não há um fim às suas tentativas de evitar a
verdade da graça de Deus. Negação e substituição foi a evidência da nudez do homem em toda a
história[48]”.

3. Deus confronta e o Homem Atribua a Culpa

É possível que Adão imaginasse que sua ladainha pudesse colar com o Criador, como senão pudesse
perceber que estava omitindo o principal: A Violação de Sua Ordem. O reconhecimento reticente de
Adão demonstra como todos os seus descendentes fazem quando confrontados, mesmo que não de
forma direta. A evasão é mais fácil que a confissão. Por isso, Deus não para seu processo de correção
de Adão nesses termos genéricos, ele avança.

Quem te fez saber que estavas nu? A pergunta aqui poderia ter sido: Por que você me desobedece?
Entretanto, a confissão ainda não tinha sido feita. Embora pela evasão de Adão fica implícito que ele
havia violado a lei de Deus, mas Deus busca a direta confissão. Sobre isso Calvino nos instrui:

“Uma repreensão indireta de reprovar o sofisma de Adão ao não perceber sua falha em sua punição,
como se tivesse sido dito, Adão não estava com medo na voz de Deus, mas da voz do Seu Juiz, que foi
formidável para com ele, porque ele era um pecador. Além disso, que não a nudez dele, mas a
torpeza do vício pelo qual ele havia contaminado a si mesmo, foi a causa do medo, e certamente ele
era culpado de impiedade intolerável contra Deus em busca da origem do mal na natureza[49]”

Foi a mulher! Mais uma vez a evasão foi a alternativa usada por Adão, observe como Deffinbaug vê
essa situação:

“Jogando pelo menos uma parte da responsabilidade sobre o Criador, Adão desembuchou: “A
mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.” (verso 12). A implicação de Adão
era que ambos, Eva e Deus, deviam partilhar da responsabilidade pela queda. Sua parte foi
mencionada por último e com tão poucos detalhes quanto possível. E sempre será assim com
aqueles que são culpados. Sempre encontramos circunstâncias atenuantes[50]”.

Que é isso que fizeste? A atitude evasiva de Adão, o representante de Deus, foi modelo seguido e fez
escola por todo o mundo. Eva quando confrontada também não pensou duas vezes: Foi a Serpente!
Do mesmo modo que Adão, Eva parece sugerir que a culpa provinha de Deus em primeiro lugar, pois
Ele a havia criado. Observe como Krell descreve essa situação:

“A pergunta do Senhor tem o sentido: “Que diabos você fez?” ou “Você percebe o que você fez?”.
Em vez de assumir a responsabilidade por suas ações, a mulher culpou a serpente. Você pode ver a
evolução? Adão culpou a mulher, e depois culpou a Deus por ter lhe dado a ele. Eva culpou a
serpente. Isso é típico da natureza humana. O pecador, mas todos culpam a si mesmo. Tem sido dito:
“Errar é humano, culpar outros e Deus é mais humano ainda”[51]”

Bob Deffinbaug completa:

“Era verdade, é claro. A serpente a enganou (I Tm. 2:14) e ela comeu. A culpa de ambos, apesar do
débil esforço feito para desculpar, ou, no mínimo, diminuir a responsabilidade humana, foi
claramente estabelecida. Creio que deva ser sempre assim. Antes do castigo poder ser aplicado, o
delito deve ser comprovado e admiti-do. De outra forma o castigo não terá seu efeito corretivo sobre
o culpado. As penalidades agora são prescritas por Deus, dadas na seqüência dos acontecimentos da
queda[52]”

C. Três características da Justiça

Diante do cenário da queda e da constante evasiva dos primeiros seres humanos, Deus intervém com
clara definição de termos e culpa, a iniciar pela Serpente, a causadora primária do mal na
humanidade, Deus estabeleceu claramente seu juízo em três caracterizações: (1) Punição; (2)
Providência e por fim (3) Promessa.

Vale a pena ser dito que a ação de Deus não trata-se de retaliação à ofensa, mas de restauração dos
ofensores, exceto pela serpente, que já havia sido eternamente sentenciada. Contudo, diante de sua
justiça, Deus precisou explicar aos seres humanos quais são as implicações da violação que haviam
cometido.

1. Punição

Não era possível ao Todo-Poderoso Deus, Todo Santo, Todo Justo, remediar genericamente o
pecado. Não era possível a Deus dar um jeitinho mais ameno ao pecado. A violação desconfiada dos
seres humanos precisava ser claramente apresentada. Com Deus não existe medida terapêutica ou
homeopática, Ele corta o mal pela raiz.

Serpente: Com a serpente não há diálogo, apenas punição. Observe o que Calvino afirma sobre isso:

“Ele não interroga a serpente, como tinha feito o homem e a mulher, porque, no próprio animal não
havia nenhum sentido do pecado, e porque, ao diabo ele não iria conceder a esperança do
perdão[53]”

A serpente, apesar de ser apenas o meio pelo qual o Tentador se fez presente no jardim, também
sofre por sua participação no cenário da queda. É difícil pensar que tal animal tivesse qualquer
parcela, em si mesma, de culpa pelo ato, afinal tinha sido apenas sido instrumento de Satanás. Mas,
Deus não ousou deixá-la de fora da punição. A questão não era culpabilidade, mas cumplicidade ou
até mesmo, apenas representação. Note que a punição é primeiramente ao animal e apenas
posteriormente ao agente por detrás dela: “Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso
fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos;
rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida” (Gn.3.15).
Eva: A condenação de Eva foi tripla, e aflige todas suas descendentes: (1) Aumento da Dor na
gravidez e no parto; (2) O desejo contrário ao marido; (3) O governo do marido sobre a mulher. A
questão da dor parece remediada na modernidade, com o avanço da medicina. Mas o desespero
para superá-lo, é evidência suficiente para que se demonstre os efeitos do pecado e a iniciativa do
ser humano em contorná-lo. Já o desejo contrário ao marido, parece uma normativa, ainda hoje, e o
desarranjo no casal também parece presente, como resultado do pecado. O governo do marido
sobre a mulher não é uma declaração de modelo, mas de fato. O pecado sempre procura induzir a
situação sob esse prisma pecaminoso. Por outro lado, o inverso segue o mesmo impulso pecaminoso
de domínio.

Observe o que nos fala Krell:

“Deus fala a Eva sobre seu papel como mãe (3:16 a) e como mulher (3:16 b). Biblicamente falando,
esses são os dois pontos em que uma mulher experimenta sua maior satisfação. E nestes dois pontos
haverá dor e servidão. A “dor no parto” se refere a todo o processo desde a concepção até o
nascimento. Isso inclui a ansiedade sobre se ela será capaz de conceber um filho, a ansiedade que
vem com todo o desconforto físico da gravidez, a ansiedade sobre a saúde da criança no útero, e
ansiedade sobre se ela e o bebê vai sobreviver ao processo de nascimento. Deus também fala do
desejo da mulher ‘contra o marido’. O desejo é uma fonte de conflito entre marido e esposa, assim
como o pecado deseja dominar e controlar (4:7). Esta é a primeira batalha entre os sexos. Cada um
se esforça para controlar e não vive no melhor interesse dos outros (Fp 2:3-4). O papel da mulher e
do papel do homem tornam-se deveras pervertido. A mulher tende a querer controlar o homem
sutilmente. O homem tende a dominar e tiranizar. Parceiros tornam-se concorrentes. Tem sido assim
desde a queda[54]”

Adão: Note que a sentença de Adão não inicia com a expressão “por que você violou meu
mandamento”, mas, “por que você deu ouvidos à sua mulher…”. Muito embora possamos dizer que
a violação foi anunciada na sentença, a preocupação primária da queda parece ter sido a inversão de
valores esperados por Deus no casamento do primeiro casal, onde o marido como seu representante
deveria coordenar o andamento do relacionamento.

Alguns, equivocadamente pensam que o trabalho é fruto da queda, contudo Deus havia colocado o
homem no jardim para lavrá-lo. Ou seja, o homem foi criado como um ser trabalhador e sua
realização está nesse fato. Contudo, a punição está na supremacia da fadiga ao prazer no trabalho.
Agora o trabalho tornou-se penoso, enfadonho e motivo do sustento pessoal. O modo natural pós-
queda de alimentar-se inclui a fadiga do trabalho. A graça provedora de Deus continua a manifestar-
se em Seus filhos, mas certamente apenas com lampejos do Éden.

Na queda, o homem é sentenciado a uma vida de trabalho, tirando da terra seu mantimento até que
volte a terra. A morte é o estágio final da labuta da vida do homem. A modernidade pode ter
maquiado o processo de tirar da terra o mantimento, mas é certo que ele não vem doutra fonte se
não da fadiga do trabalho, até que a morte chegue. Nesse quesito vemos a dura benevolência de
Deus que optou por não dizimá-los imediatamente, mas resolveu poupá-los da morte imediata para
que pudessem sofrer as conseqüências dos seus erros.

Por outro lado, era um modo de, como Criador, assumir os resultados danosos do pecado em sua
encarnação como cordeiro expiatório para toda a humanidade. Não há maior graça do que essa
oferecida por Deus em Cristo: A redenção completa do pecado e a completa restauração do ser
humano ao estado de onde jamais deveria ter saído. É misericórdia, pois não exige da criatura o que
não pode oferecer. É graça, por que oferece ao homem o que não pode alcançar. É severa, pois exige
a ruptura original do relacionamento entre Pai e Filho na perfeição da Trindade, para a recuperação
do estado original da queda. É justa, pois assume as consequências da queda em Si mesmo, mas
condena a todos que rejeitam seu Amor e Provisão substitutiva em Cristo. É santa e única. É livre e
determinada. É manifestação mais clara do amor e justiça de Deus. Bondade e Juízo mutuamente
auxiliares e vindicativos.

Terra: De modo interessante até mesmo a terra foi condenada pelo pecado. Agora, o que havia sido
feito para o deleite do homem, foi transformada em motivo de desgaste. A declaração de Deus é
clara: “Maldita é a terra por tua causa”. É por isso que agora que “ela produzirá também cardos e
abrolhos, e tu comerás a erva do campo” (Gn.3.18).

Humanidade: Toda humanidade é sentenciada à morte em função de Adão, pois agora seus
descendentes já não são mais criados a imagem de Deus, mas reproduzidos à sua imagem (Gn.5.1). É
bem verdade que a imagem de Deus ainda faz parte da dignidade do homem (Gn.9.6), mas, é
também verdade, que tal dignidade não atesta o estado do homem, mas seu valor.

Note que a humanidade é referida como conhecedora do bem e do mal. É bem verdade que já
falamos sobre isso, mas as considerações de Deffinbaug merecem ser ouvidas:

“De maneira estranha a promessa de Satanás tornou-se verdadeira. Em certo sentido, Adão e Eva
tinham se tor-nado como Deus no conhecimento do bem e do mal (verso 22). Ambos, o homem e
Deus, conheciam o bem e o mal, mas de formas completamente diferentes. Talvez a diferença possa
ser melhor ilustrada desta maneira. Um médico pode conhecer o câncer em virtude de sua educação
e experiência como médico. Isto é, ele tem lido e ouvido conferências a respeito de câncer, e o tem
visto em seus pacientes. Um paciente, também, pode conhecer o câncer, mas como sua vítima.
Enquanto ambos conhecem o que é o câncer, o paciente desejaria jamais ter ouvido falar sobre ele.
Tal é o conhecimento que Adão e Eva vieram a possuir[55]”

A humanidade também foi desprovida do privilégio de comer da árvore da vida, garantia assegurada
por Deus (v.24). Tal separação da vida proveniente de tal árvore é provavelmente uma ilustração da
vida que há em Cristo Jesus, que é abundante e verdadeiramente com Deus. Essa sentença coloca
todos os descendentes de Adão diretamente desprovidos da possibilidade, de por suas forças,
achegar-se a Deus ou à Verdade que salva, Jesus Cristo. É Jesus quem testemunha que ninguém
chega ao Pai se não por intermédio Dele mesmo (Jo.14.6) do mesmo modo que ninguém chega a
Jesus Cristo se assim não for dado a Ele por Deus (Jo.6.37). Na identificação com Adão, por
descendência, e na falta completa de acesso à Árvore da Vida, o homem agora é totalmente
desprovido de possibilidade de achegar-se a Deus e destinado naturalmente à morte eterna, exceto,
se por uma ação graciosa de Deus Ele mesmo os retirar dessa situação miserável e colocá-los em
firmados em Cristo por toda a eternidade.

2. Providência

A declaração punitiva é também uma manifestação amorosa de Deus, pois do mesmo modo que
condena liberta. Lembre-se que Deus havia prometido à morte caso Adão e Eva violassem o
mandamento de Deus. Mas, ao violar, a morte não lhes sucedeu imediatamente, embora estivesse a
caminho.

Um verso em toda a declaração punitiva de Deus me chama a atenção:

Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu (Gen 3:21 ARA)

O Próprio Deus se encarregou de sanar o foco de vergonha do ser humano, Ele mesmo os vestiu para
cobrir suas vergonhas. Esse é o objetivo primário da ação de Deus. Por outro lado, enquanto Deus
veste para cobrir a vergonha do ser humano, o Diabo veste para mostrá-las.

Contudo, esse não era o objetivo ultimo dessa ação. Tendo a ver aqui uma manifestação da Graça de
Deus que ilustra ao homem o que significa morte. Pois, de onde teria tirado Deus “vestimentas de
pele”? É certo que para essa vestimenta ser feita, a morte de um animal foi necessária. Essa foi a
primeira vez que Adão e Eva viram o que significa a morte. Na verdade, essa foi a primeira vez que
viram a morte. Tendo a crer que isso foi um ensino direto de Deus sobre as implicações do pecado e
a primeira morte substitutiva a acontecer na história da humanidade. Ao invés de morrerem
imediatamente Adão e Eva, morreu algum animal que serviu de proteção para o homem e sua
mulher. Condenação e providência se contrapõem na cena da Queda. Mas, a promessa e a
misericórdia também foram anuncuadas.

3. Promessa

A promessa salvadora é vista melhor no verso 15, observe:


Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar (Gen 3:15 ARA)

Haverá inimizade entre o Descendente Esperado da mulher e a serpente a tal ponto que a serpente
lhe ferirá, mas tal descendente irá finalmente destruir seu Domínio sobre a humanidade e a Criação.
Tal promessa, também chamada de PROTOEVANGELHO é a declaração mais Graciosa de toda a
punição. Enquanto alguns esperariam completa retaliação do Criador, Ele se oferece
voluntariamente à morte por nós. Não há graça maior do que essa. Não há maior manifestação de
Amor. Esse é o Deus Criador e Redentor de sua Criação.

[1] CALVINO, João, Commentary on Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).

[2] GAEBELEIN, Arno Clement, Annotated Bible. (http://bartimaeus.us/a_c_gaebelein.html).

[3] JAMIESON, Robert, FAUSSET, A. R., BROWN, David, A Commentary on the Old and New
Testaments.

[4] KEVAN, E.F., Gênesis – Novo Comentário da Bíblia. Vol.1, pp.84.

[5] CLARKE, Adam, Adam Clarke`s Commentary on the Bible.


(http://www.godrules.net/library/clarke/clarke.htm)

[6] FRANCISCO, Clyde, Comentário Bíblico Broadman – Gênesis Introdução e Comentário. Vol.1,
pp.180.

[7] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-24)

[8] KIDINER, Derek, Gênesis, Introdução e Comentário. pp.63.

[9] CALVINO, João, Commentary on Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).

[10] FRANCISCO, Clyde, Comentário Bíblico Broadman – Gênesis Introdução e Comentário. Vol.1,
pp.181

[11] KIDINER, Derek, Gênesis, Introdução e Comentário. pp.63.


[12] MACKINTOSH, Charles Henry., Estudos sobre o livro de Gênesis. pp.32.

[13] Ou seja, o Targum de Akelas = Aquila, um Targum chamados a dar-lhe uma maior popularidade
comparando-a com a tradução do grego Aquila abaixo mencionados. Isto originou Targum sobre o
segundo século depois de Cristo. Outros estudiosos dizem que remonta a 60 aC. Isto inclui o Targum
texto hebraico do Pentateuco. Os exemplares mais antigos já existentes parecem ser de cerca de 500
dC (http://mb-soft.com/believe/ttxm/targum.htm)

[14] Targum Pseudo-Jonathan é um Targum ocidental (tradução) da Torá (Pentateuco) da terra de


Israel. O título correto é Targum Yerushalmi ( “Jerusalém Targum”), como era conhecido nos tempos
medievais. Mas por causa de um erro de impressão, foi posteriormente rotulada Targum Jonathan,
em referência a Jonathan ben Uziel. Algumas edições do Pentateuco continuar a chamar-lhe “Targum
Jonathan” ainda hoje. (http://en.wikipedia.org/wiki/Targum_Pseudo-Jonathan)

[15] MACKINTOSH, Idem, pp. 31.

[16] KIDINER, Derek, Gênesis, Introdução e Comentário. pp.64.

[17] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

[18] BARNES, Albert, Notes on de Bible.

[19] FRANCISCO, Clyde, Comentário Bíblico Broadman – Gênesis Introdução e Comentário. Vol.1,
pp.183

[20] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

[21] KEVAN, E.F., Gênesis – Novo Comentário da Bíblia. Vol.1, pp.85-6.

[22] NET Bible, http://bible.org/netbible/index.htm – Observe a opinião de John Gill

[23] CALVINO, João, Commentary on Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).


[24] KRELL, Keith, Paradaise Lost (Genesis 3.1-7) (http://bible.org/seriespage/paradise-lost-genesis-
31-7)

[25] CALVINO, João, Commentary on Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).

[26] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

[27] KRELL, Keith, Paradaise Lost (Genesis 3.1-7) (http://bible.org/seriespage/paradise-lost-genesis-


31-7)

[28] OWEN, John, Sobre a Tentação pp.30.

[29] IDEM, pp. 41.

[30] KIDINER, Derek, Gênesis, Introdução e Comentário. pp.65

[31] GILL, John, Exposition on the entire Bible.

[32] FRANCISCO, Clyde, Comentário Bíblico Broadman – Gênesis Introdução e Comentário. Vol.1,
pp.183

[33] Keil & Delitzsch, Commentary on the Old Testament.

[34] KIDINER, Derek, Gênesis, Introdução e Comentário. pp.65

[35] KRELL, Keith, Eat MY Dust (Genesis 3.8-24) (http://bible.org/seriespage/eat-my-dust-38-24)

[36] JAMIESON, Robert, FAUSSET, A. R., BROWN, David, A Commentary on the Old and New
Testaments.

[37] KEVAN, E.F., Gênesis – Novo Comentário da Bíblia. Vol.1, pp.86


[38] Keil & Delitzsch, Commentary on the Old Testament.

[39] KRELL, Keith, Eat MY Dust (Genesis 3.8-24) (http://bible.org/seriespage/eat-my-dust-38-24)

[40] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

[41] KRELL, Keith, Eat MY Dust (Genesis 3.8-24) (http://bible.org/seriespage/eat-my-dust-38-24)

[42] GILL, John, John Gill’s Exposition of the Entire Bible.

[43] Keil & Delitzsch, Commentary on the Old Testament.

[44] Lembre-se que é Adão quem tomas as ações no segundo capítulo que haviam sido tomadas por
Deus, como por exemplo o dar nome. Note também que Deus concede ao homem o nomear todos
os animais criados, o que já havia feito com todo o resto da criação. Note também que é Adão quem
nomeia Eva, mais uma vez, como representante de Deus.

[45] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

[46] Keil & Delitzsch, Commentary on the Old Testament.

[47] HENRY, Matthew, Matthew Henry’s Commentary on the Whole Bible


(http://www.ccel.org/ccel/henry/mhc.i.html)

[48] KRELL, Keith, Eat MY Dust (Genesis 3.8-24) (http://bible.org/seriespage/eat-my-dust-38-24)

[49] CALVINO, João, Commentary on Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).

[50] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)
[51] KRELL, Keith, Eat MY Dust (Genesis 3.8-24) (http://bible.org/seriespage/eat-my-dust-38-24)

[52] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

[53] CALVINO, João, Commentary on Genesis. (http://www.ccel.org/ccel/calvin/calcom01.html).

[54] KRELL, Keith, Eat MY Dust (Genesis 3.8-24) (http://bible.org/seriespage/eat-my-dust-38-24)

[55] DEFFINBAUG, Bob, The Fall of Man. Bible.org (http://bible.org/seriespage/fall-man-genesis-31-


24)

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