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1
ARQUITECTURA
MESTRADO
M
2019
Aos meus pais e a minha irmã que sem as interrupções constantes dos quais esta tese
teria ficado pronta mais depressa.
Para Matilde que é a promessa de futuro e por todas as vezes que não fomos ao
parque de trampolins.
À Tati por me dar casa, comida e roupa lavada e a Barbara que me deu um pacote de
reese’s peanut butter cups que em muito ajudaram a completar esta tese.
À Vânia, a vera, ao João, a Sara, ao Rui e a Maria João, sem a ajuda preciosa dos quais
não teria chegado até aqui.
À Rita por toda a ajuda na fase final deste trabalho e não ter ido ver o James Murphy
sem mim.
Ao Marcos por me dar Netflix e ser uma ajuda mesmo do outro lado do oceano.
Aos italianos do porto, em especial a sofia e a lori, pela boa comida.
Ao Pedro Bandeira, e a Rosalía que me ensinaram que eu podia fazer o que quisesse
desde que tivesse um rigor redobrado ao fazê-lo.
V
Resumo
A presente dissertação procura analisar o que pode ser a recente tendência do pós-
digital na representação em arquitectura. Para entender este fenómeno, o percurso de
análise procura responder à questão que levou ao seu aparecimento: o que justifica que
a presença destas imagens se tenha multiplicado nos últimos anos? Para a enquadrar,
partimos do pós-digital enquanto posicionamento face à tecnologia, posicionamento
esse que se enquadrou dentro de um quadro teórico mais amplo, confrontando os seus
limites e possibilidades de uso. Enquanto expressão da cultura visual, o pós-digital
está directamente associado a um tipo de representação que responde a um contexto
técnico-social específico, que se procurou analisar como forma de produção cultural
arquitectónica. Conclui-se que o pós-digital permite um regresso ou uma reencenação
do desenho, pela forma como rejeita o real. Encena um excesso de presença da
imagem, que depende tanto do recurso ao digital, como do domínio da instrumentação
mental do desenho. O conteúdo visual destas imagens pode, amanhã, já ser outro, fruto
das mudanças cíclicas da cultura visual, mas o pós-digital como posicionamento, que
esteve na origem destas imagens, dentro de uma cultura pós-moderna, continuará a
existir.
VI
abstract
The following dissertation seeks to analyse what may constitute the new post-digital
trend of representation in architecture. To understand this phenomenon, the method
of study intends to answer the question that led to its emergence: what justifies/
explains that the presence of these images has multiplied in recent years? In order to
frame this question, we face the post-digital as a reaction to technology, confronting
its limits and which occurs within a broader theoretical picture. As an expression of
visual culture, the post-digital is directly linked to a type of representation that follows
a specific social and technical context, that was interpreted as a form of architectural
cultural production. Reaching the conclusion that the post-digital allows for a return
or re-enactment of the drawing, by the way it rejects the real. It stages an excess of
the presence of the image, which depends as much on the use of the digital as it does
on the dominion of the mental instrumentation of the drawing. The visual content
of these images may tomorrow be different as a result of the cyclic changes of visual
culture, but the post-digital as the reaction that was at the origin of these images, will
continue to exist inside post-modern culture.
VII
Lista de Abreviaturas
Pós-digital- pd
Práticas pós-digitais- pd’s
Sam Jacobs - SJ
Pezo Von Ellrichshausen - PVE
VIII
íNdicE
iNtRodução 10-12
1. o pós digitAl como NARrAtivA 13-56
do pRimeiRo plANo Ao pANo de fuNdo 15-18
(A)pós-digitAl + pós-digitAl 18-20
A evolução do coNceito 21-32
discRêpANciAs 32-38
o pós-digitAl e A ARquitectuRA 39- 42
o pós-digitAl e A RepReseNtAção 43-54
Características 55-56
coNclusão 179-180
bibliogRáfiA 196-200
listA de figuRA 201-206
Introdução
A rejeição do real ou o pós-digital como caso de estudo é uma reflexão sobre a cultura
visual, na medida em que esta estabelece a imagem como veículo de comunicação
privilegiado, aliado-se a um momento em que a produção arquitetónica passa
necessariamente pelo digital. Dentro deste contexto, procura-se entender o que pode
ser este fenómeno emergente do pós-digital.
Para mitigar o risco inerente, e como forma de agarrar o que é cambiante e não
está fixado, a investigação procurou ser pouco ampla e relativamente circunscrita, de
forma a ser mais pormenorizada. Fecha-se o plano para se poder olhar ao pormenor e
levar a investigação a porto seguro.
1- Bandeira, Pedro, Arquitectura como imagem, obra como representação: sujectividade das imagens arquitectónicas. Dissertação de
Doutoramento; Guimarães: EAUM. 2007; p. 5
2- “to explain myself to you is also to explain my self to myself “ Stravinsky, Igor. Poetics of Music in the Form of Six Lessons. Vol. 66: Harvard
University Press, 1947; p. 7
enquanto totalidade, no sentido de desvendar o que pode ser o pós-digital.
O que esta dissertação procura fazer não é mais do que responder à questão
que levou ao seu aparecimento: o que justifica que a presença destas imagens se tenha
multiplicado de uma forma tão insistente, nos últimos anos. Podia-se resumir o propósito
e organização da tese numa citação:“e o objectivo da investigação teórica é:
1. Encontrar o que está vivo
2. Tornar a sua pulsação percetível
3.Determinar até que ponto se encontra em conformidade com a lei ” 3
A fase seguinte foi o trabalho de campo, que volta a sua atenção para as
imagens, o que se associa com mais facilidade ao pós-digital. Confrontados com a
existência quase infinita destas imagens, tivemos de reduzir o campo, fazendo uma
selecção. Este trabalho de apuramento é, por vezes, difícil de justificar em termos
lógicos, assentando no apelo sensitivo que uma determinada imagem pode ter face
a outra. Podemos dizer que a secção funciona da mesma forma que o paradoxo do
navio de Theseus: ao se substituirem todas as tábuas de um navio, continuará este a ser
o mesmo ou é outro? A mesma questão coloca-se face à selecção aqui exposta. Ao
substituir estas imagens, uma a uma, a selecção será a mesma ou outra?
3- “and the goal of the theoretic investigation is : 1. To find the living 2. To make its’ pulsation perceptible and To determined wherein in the conforms of the
law ” Kandinsky, Wassily. Point and Line to Plane. Courier Corporation, 1979; p. 145
É com base nessas questões que se desenvolve um esquema interpretativo
das imagens que, num primeiro momento, as separa em categorias, para depois
analisar pausadamente cada uma dentro do quadro de referências da categoria que
estabelecemos. O que se procura nestas imagens é entender o seu funcionamento,
desmontando para isso a sua presença e encanto para por fim justificar a sua aparência
com base no seu propósito. Num movimento contraintuitivo, o próximo passo foi
voltar a juntar o que entretanto se separou. Mas foi esta separação que nos permitiu
construir uma assemblage, reunindo os mesmo elementos, as imagens, modificadas na
sua perceção pela análise que se levou a cabo. Agora, sob um plano comum diferente
do inicial, construimos uma argumentação sobre o que é comum e transversal a estas
imagens, a partir da qual se procura reflectir sobre o que pode ser a representação pós-
digital, se establece num novo paradigma ou se se conforma aos moldes anteriores.
[Nem a tecnologia]
4- “There is a nice joke about Jesus Christ: in order to relax after the arduous work of preaching and performing miracles, Jesus
decided to take a short break on the shore of the Sea of Galilee. During a game of golf with one of his apostles, there was a
difficult shot to be performed; Jesus did it badly and the ball ended up in the water, so he did his usual trick: he walked on the
water to the place where the ball was, reached down and picked it up. When Jesus tried the same shot again, the apostle told him
that this is a very difficult one—only someone like Tiger Woods can do it; Jesus replied, “What the hell, I am the son of God, I can
do what Tiger Woods can do!” and took another strike. The ball again landed in the water, so Jesus again took a walk on the surface
of the water to retrieve it. At this point, a group of AmeriWcan tourists walked by and one of them, observing what was going on,
turned to the apostle and said: “My god, who is this guy there? Does he think he is Jesus or what?” The apostle replies: “No, the
jerk thinks he is Tiger Woods!” This is how fantasmatic identification works: no one, not even God himself, is directly what he is;
everybody needs an external, decentered point of identification. Žižek, Slavoj. Žižek’s Jokes:(Did You Hear the One About Hegel
and Negation?). MIT Press, 2014. p.10
1
O pós digital como narrativa
Identifica o
campo de
trabalho
o pós-digital como narrativa
16
Fig.1
Ilustração da crónica de Nicholas Negroponte,
dezembro de 1998.
8- “Computers as we know them today will a) be boring, and b) disappear into things that are first
and foremost something else: smart nails, self-cleaning shirts, driverless cars, therapeutic Barbie”
o pano de fundo
“Esta epígrafe do (Nicholas) Negroponte inspirou-me para nomear este género emergente como ‘pós-
digital’ porque o período revolucionário da informação digital já passou. Os tentáculos da tecnologia já
tocaram, de alguma forma, toda a gente”.6
É este o contexto que vê, pela primeira vez, aparecer a palavra pós-digital (pd),
num artigo de Kim Cascone, escrito em 2000, referindo-se ao aparecimento de um
novo género de música. Se inicialmente a sua gênse está a associada a um contexto
17
bastante restrito, a ideia do pd depressa se disseminou.
5- “ The digital revolution is over. “Negroponte, Nicholas in Cascone, Kim. “The Aesthetics of Failure:“Post-Digital” Tendencies in
Contemporary Computer Music.” Computer Music Journal 24, no. 4 (2000); p.12
6- “The Negroponte epigraph above inspired me to refer to this emergent genre as “post digital” because the revolutionary period of the digital information
age has surely passed. The tendrils of digital technology have in some way touched everyone” idem; p.12/13
7-“ Computers will be a sweeping yet invisible part of our everyday lives: we’ll live in them, wear them, even eat them. A computer a day will keep the
doctor away“ Negroponte, Nicholas. “Beyond Digital.” Wired 6, no. 12 (1998) O próverbio original “ An apple a day keeps the doctor away
“ é normalmente traduzido por “ uma maça por dia não sabe o bem que lhe fazia” tradução que se optou por manter por se considerar
que é mais eficaz a demonstrar o efeito expressivo.
o pós-digital como narrativa
18
Fig.2
Resultado de um pesquisa sobre a tecnologia.
É nesta fase posterior que o digital passa a ser banal. É só a partir do momento
em que o digital atinge a ubiquidade, tornando-se tão vulgar como o plástico, que
passamos da fase de maturação para a seguinte, já que até este ponto, normalmente
a preocupação é tornar a tecnologia acessível. Ultrapassando este espanto inicial,
tornamo-nos capazes de olhar para o progresso tecnológico, não necessariamente de
um ponto de vista céptico, que é à partida um pré-conceito, mas sob um ponto de vista
neutro, aferindo e medindo a sua sombra. É aqui que entra a noção de pós-digital = (a)
pós (o) digital. 19
(A)pós
O prefixo ‘pós-’ tem um duplo sentido, podendo significar tanto algo que
está ‘atrás de’ como ‘depois de’.11 É importante ressalvar que, no caso do pd, ambos os
significados estão presentes e fazem sentido, já que, se por um lado este se coloca
‘depois da’ revolução digital, por outro ainda está ‘atrás’ do digital. O pd, sendo um
fenómeno tão actual, é necessariamente um reflexo da presente época onde tanto em
termos tecnológicos como histórico-filosóficos, não ultrapassamos o digital. Desta
9 - “In the life of a technology, there is an early “talking dog” phase: it would be notable if a dog could talk at all; what the dog first says wouldn’t matter
as much. Only later do you begin to care what the dog talks about.” Gershenfeld, Neil. “Fab: the coming revolution on your desktop” 2007, citado
em Bujowskyj, Mathieu. “The post-digital in architecture” . Disssertação de mestrado; Lausanne: EPFL. 2016 p. 22/ 01 prolog
10- “Their history, their own culture- the positive phenomena they brought and what we might use in different contexts, or their negative impact we have
to understand and protect ourselves from” Bujowskyj, Mathieu. “The post-digital in architecture”.Disssertação de mestrado; Lausanne: EPFL.
2016 p. 24
11- in https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/digital. Consultado em 02/06/2019
o pós-digital como narrativa
20
Fig.3
Rosa Menkman, Crop from a Vernacular of file,2010
[Joint photographic experts group committee in
2000; low res JPEG 2000. The JPEG 2000 standard
was mainly developed because of the many edge
and blocking artifacts of the JPG format. JPEG 2000
has improved scalability and edit-ability. In JPG
2000, after the color transformation step, the image
is split into so-called files, rectangular regions
of the image that are transformed and encoded
separately. Tiles cam be any size, and it’s is also
possible to consider the whole image as one single
tile. This results into a collection of sub-brands wich
represent several aprroximation scales].
forma, é possível entender este prefixo ‘pós-’ como algo que traça um paralelo com os
conceitos de pós-punk, pós-feminismo ou o pós-apocalíptico. Estes não negam a sua
história anterior, mas antes representam uma evolução ou uma mutação no quadro de
referências que primeiramente os geraram: “ Pensa no pós-digital como o pós-apocalíptico, um
evento catalítico (a revolução digital) que condiciona tudo o que vem depois“.12 O que acontece é
que o prefixo mantém, uma tensão com o evento que o gerou – a revolução digital, ao
mesmo tempo que dá um passo em frente, ligando-se ao que vêm depois da revolução
digital.
Pós-digital
Desta forma, o pd, age, desdo início, como uma narrativa ou posição que põe em
causa a linearidade homogênea da implementação e aprimoramento contínuo do digital.
Assim, na sua asserção mais clara, o pd é usado para descrever o impacto cultural do digital,
desse ponto de vista dissonante. Mais, se quisermos: “(...) o termo pós-digital pode ser usado para
descrever um desencantamento com os sistemas de informação digital e gadgets, ou um período no qual a nossa
fascinação com estes sistemas e aparelhos se tornou histórica”.15 Esta é a condição de base do pd que
12- “Think of the post-digital like the post-apocalyptic, a cataclysmic event (the digital revolution) that conditions everything that comes after“. Fure,
Adam. What does it really mean to be “post-digital” in architecture and beyond? The architect’s newspaper May 22, 2018
13- No contexto original:“can be understood in a purely Hegelian sense of an inevitable linear progression of cultural and intellectual history.”
Nessa medida representação uma aceitação da inovação tecnologica como algo inevitavél.No contexto em Cramer, Florian. What Is
‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). p.5
14- “The underlying context for both their papers was a culture of audio-visual production in which ‘digital’ had long been synonymous with ‘progress”
Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). p.6
15- ”(...) the term ‘post-digital’ can be used to describe either a contemporary disenchantment with digital information systems and media gadgets, or a
period in which our fascination with these systems and gadgets has become historical “ Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1
(2014). p.3
o pós-digital como narrativa
22
Fig.4 e Fig.5
Respectivamente, “The Postdigital Membrane:
Imagination, Technology and Desire” de “Post digital
printing, the mutation of publishing since 1814”
é determinante para tudo o resto.
A evolução do conceito
16- Por “aesthetics of failure” entende-se uma estetica ou modo de agir que se baseia nos falhanços da tecnologia, descrito por Colson Whithead no
contexto em . The Aesthetics of Failure: ‘Post-Digital’ Tendencies in Contemporary Computer Music. Computer Music Journal 24, no. 4 (2000)
17- “It is failure that guides evolution; perfection offers no incentive for improvement.” Colson Whitehead, The Intuitionist (New York: Anchor
Books, 1999) citado em The Aesthetics of Failure:“Post-Digital” Tendencies in Contemporary Computer Music. Computer Music Journal 24,
no. 4 (2000); p.13
18- “PROPOSITION: Technology is the tangible expression of desire motivating human imagination to modify reality.” Pepperell, Robert, and
Michael Punt. The Postdigital Membrane: Imagination, Technology and Desire. Intellect Books, 2000; p.7
o pós-digital como narrativa
24
Fig.6
Ilustação do artigo A Conversation on Digital
Archiving Practices with Janneke Adema.
19- ”Indeed it is an architecture that is very much a synthesis between the virtual, the actual, the biological, the cyborgian, the augmented and the mixed
. It is impossible, anymore, to talk of digital architecture as a binary opposition to normal real-world architecture”. Spiller, Neil. Plectic Architecture:
Towards a Theory of the Post-Digital in Architecture.Technoetic Arts 7, no. 2 (2009); p.95/96
20- “On the contrary, new technologies are often blindly embraced, as the capabilities of the devices are explored with the aim of developing commercially
successful products. For instance, while countless design programs are devoted to the development of iPad apps, only a few involve design and artistic
strategies to analyze and communicate the implications of iTunes and its distribution model”. Lorusso, Silvio Post-digital publishing archives. (s.d) p.2
o pós-digital como narrativa
26
Fig.7
“the alleged typewriter hipster”
“Pós-digital outrora entendido como uma reflexão crítica sobre a estética imaterial
do digital, agora descreve a confusa e paradoxal condição da arte e dos media após
a revolução digital. O pós-digital nem reconhece a distinção entre ‘novas’ e ‘antigas’
formas de media, nem exprime uma preferência ideológica por alguma. Funde o
‘novo’com o ‘antigo’, desenvolvendo frequentemente experiências culturais que aplicam
uma lógica de rede a tecnologias analógicas que assim re-investiga e re-usa. Tende a
focar-se no desenvolvimento de experiências em vez de adoptar uma atitude conceptual.
Procura o agenciamento do DIY ( faz tu mesmo) fora da caixa totalitária da inovação
ideológica, e assim expande-se para o exterior do capitalismo ‘big data’, mas ao mesmo
tempo, já se tornou comerciál”.22
Assim, esta relação entre formas de media funciona em dois sentidos: se por vezes
o analógico se substitui ao digital, noutros momentos aplica-se às formas analógicas a
um funcionamento típicamente digital e é este processo que gera os já referidos objectos
híbridos. Assim, a distinção entre analógico e digital perde importância para “uma (distinção)
entre a cultura da inovação e da novidade para uma cultura de DIY( faz tu mesmo)”.25
21- “(...)these specific digital platforms (Monoskop, The Pirate Bay etc.) become integral aspects of the apparatus of the book and each in their own different way participates
in the performance and instantiation of the books in their archives. Not only does a digital book therefore differ as a material or cultural object from a printed book, a digital
object also has materially distinct properties related to the platform on which it is made available” in http://p-dpa.net/a-conversation-on-digital-archiving-practices-with-
janneke-adema/
22- “Post-digital, once understood as a critical reflection of “digital” aesthetic immaterial-ism, now describes the messy and paradoxical condition of art and media
after digital technology revolutions. “Post-digital” neither recognizes the distinction between “old” and “new” media, nor ideological affirmation of the one or the
other. It merges “old” and “new”, often applying network cultural experimentation to analog technologies which it re-investigates and re-uses. It tends to focus on the
experiential rather than the conceptual.” Christian Ulrik Andersen, Geoff Cox, Georgios Papadopoulos. Postdigital Research – Editorial. APRJA 3,
no. 1 (2014) p.4
23- in https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/agenciamento. Consultado em 02/06/2019
24- “that 35mm film projection looks better than digital cinema projection (let alone Bit-torrent video downloads or YouTube);” Cramer, Florian. What Is ‘Post-
Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). p. 9
25- “One between shrink-wrapped culture and do-it-yourself culture.” . Idem; p.15
o pós-digital como narrativa
28
Fig.8
The Ambassadors,Hans Holbein the Younger 1533
“Representa uma viragem do simbólico, como o modo semiótico dos sistemas digitais (e dos quais o login é o
exemplo perfeito), em direcção ao indicial: de códigos para indícios e do texto para o contexto”.27 A selecção
do meio, para o pd, constitui, à partida, uma tomada de posição importante,“de tal
forma que o meio, como o papel ou a celulóide, são efectivamente a mensagem”.28
26- “This is a perfect example of a post-digital choice: using the technology most suitable to the job,rather than automatically ‘defaulting’ to the latest ‘new media’ device. It also illustrates the post-digital
hybridity of ‘old’ and ‘new’ media, since the writer advertises (again, on the sign on his typewriter case) his Twitter account “@rovingtypist”, and conversely uses this account to promote his storywriting
service. He has efectively repurposed the typewriter from a prepress tool to a personalised small press, thus giving the ‘old’ technology a new function usually associated with ‘new media’, by exploiting specifc
qualities of the ‘old’ which make up for the limitations of the ‘new’. Meanwhile, he also applies a ‘new media’ sensibility to his use of ‘old media’: user-customised products, created in a social environment,
with a “donate what you can” payment model. Or rather, the dichotomy of community media vs. mass media has been fipped upside-down, so that a typewriter is now a community media devic” Cramer,
Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). p. 15
27- “represents a shift from the symbolic, as the preferred semiotic mode of digital systems (and of which the login is the perfect example), toward the indexical: from
code to traces, and from text to context” Ibidem; p.15
28- “so that the medium, such as paper or celluloid, is indeed the message”. Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). p.15
29- A noção de outmoded: “describes that particular moment of temporal limbo for a medium in which it takes on a status as outdated but not quite
fossilised” aqui em Snodgrass, Eric“From Dusk to dawn: horizons of the digital/post-digital” (p.6) mas foi originalmente descrita por Walter
Benjamin
30- “1: a glow remaining where a light has disappeared 2: a pleasant effect or feeling that lingers after something is done, experienced, or achieved” in
https://www.merriam-webster.com/dictionary/afterglow
31- “Just before an airplane breaks the sound barrier, sound waves become visible on the wings of the plane.”; Snodgrass, Eric. Dusk to Dawn:
Horizons of the Digital/Post-Digital. APRJA 3, no. 1 (2014) p.6
32-Por anamorfose: “entende-se fenómeno resultante de um sistema ótico deformador (espelho curvo, lente cilíndrica, etc.), que produz uma imagem
distorcida ou irreconhecível da figura representada, de tal modo que a mesma só retoma a sua configuração verdadeira quando vista a partir de
determinado ângulo ou através de lente ou espelho adequado” in https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/anamorfose.
Consultado em 04/09/2019
33- “confronts the mediating and mediated subject with the primacy and weird nature of its own uncanny contortion acts” Idem; p.9
o pós-digital como narrativa
30
Fig.9
The Disintegration Loops. William Basinski. 2002-3
O pd cria uma zona de tensão na sua relação com o digital o que lhe permite “ enfatizar
a forma como, dentro do prisma ‘pós’ as revelações emergem e parecem surgir de um sentido mais forte ou renovado de
consciencialização e reflectividade em relação a muitas das práticas digitais de hoje.“35
Nesta linha de pensamento, Geoff Cox no seu artigo “Prehistories of the post-
digital: or some old problems with post-anything”, continua esta discussão sobre o ‘pós’.
Establecendo que o perigo da conceptualização histórica do presente (noção de
Frederic Jameson) é o de o colonizar com o passado, deslocando o sentido temporal
do presente, causado, segundo Cox, uma produção cultural amnésica, pautada por uma
nostalgia acrítica de ideias pré-existentes que nomeia de ‘pós-’ todos os períodos. Traça-
se um paralelo entre o pd e o pós-industrial, renomeado (segundo Frederic Jameson)
de capitalismo tardio, por forma a pôr em evidência que a produção industrial já não
é o principal vector económico e divisor de classes. Pondera-se se o mesmo estará a
acontecer com o pd, neste período posterior ao hype e consequente colapso das dotcom.
A opção por uma lógica determinista assente na periodização dá lugar à oposição de
ciclos de “destruição criativa a ciclos de inovação disruptiva.”.36 Coloca-se o pd dentro de um
ciclo de destruição e que assim se devia deslocar do ciclo inicial do digital.
Termina-se levantando a hipótese de substituir o pd pelo conceito de
contemporaneidade.”Deste ponto de vista, a contemporaneidade não é simplesmente um período
histórico ‘per se’, mas antes um momento no qual assuntos que detêm uma certa importância são 31
negociados e expandidos”.37 Mais do que sugerir que algo é diferente ou novo, a ideia de
contemporaneidade levanta a questão de quando um período termina ou começa.
“Assim a contemporaneidade começa a descrever o problema mais complexo e difuso de diferentes
formas de tempo que existem simultaneamente em contextos geopolíticos diferentes. Isto não aponta
para a pobreza de simplesmente declarar algo como pós-outra coisa? No que diz respeito à condição
do pós-digital, a analogia com o processo histórico e a noção temporal, parece, no mínimo pouco
desenvolvida”38
34-”You can see that when it is understood in this way, the ‘post-’ of ‘postmodern’ does not signify a movement of comeback, flashback, or feedback —
that is, not a movement of repetition but a procedure in ‘ana-’: a procedure of analysis, anamnesis, anagogy, and anamorphosis that elaborates an ‘initial
forgetting.’” Ibidem; p.10
35-“(....)emphasis the way in which, in this post-PRISM revelations present, there seems to arise a renewed or heightened sense of awareness and
reflexivity in relation to many of the digitally informed practices of today.” Ibidem; p.20
36- “‘creative destruction’ and later ‘disruptive innovation’” no contexto em Cox Geoff Pré histories of the post-digital: or some old problems with
post-anything” (p. 4) a nocção é originalmente de Joseph Schumpeter’s (1995)
37- ” In this view, the contemporary is not simply a historical period per se, but rather a moment in which shared issues that hold a certain currency are
negotiated and expanded.”; Cox ,Geoff. Prehistories of the Post-Digital: Or, Some Old Problems with Post-Anything. APRJA 3, no. 1
(2014), p.5
38- Thus contemporaneity begins to describe the more complex and layered problem of different kinds of time existing simultaneously across different geo-
political contexts. Doesn’t this point to the poverty of simply declaring something as post something else? When it comes to the condition of the post-digital,
the analogy to historical process and temporality seems underdeveloped to say the least” Idem; p. 6
o pós-digital como narrativa
32
Fig.10
Frame do Filme Masculin Féminin. Jean-Luc Godard.
1966
sua própria obsessão com a antiguidade, claro, desda veneração renascentista do classicismo grego as
invocações mediavalizantes do movimento gótico. Mas, nunca existiu uma sociedade na história tão
obcecada com os artifícios culturais do passado recente“ .39
Parece que ao longo dos anos 2000, o presente enquanto matéria de trabalho
desapareceu e deu lugar a um fenómeno de ‘re’: ‘remakes, re vivalismo e reconstituição’ .“Estará esta
nostalgia a travar a nossa habilidade cultural de seguirmos em frente, ou somos nostálgicos precisamente porque
a nossa cultura parou de andar para a frente e então inevitavelmente olhamos para trás, para tempos mais
dinâmicos e importantes? Mas o que é que vai acontecer quando o passado se esgotar ?” .40
O pd procura no revivalismo a solução para as deficiências estéticas e sociais do
digital. Existe algo de hauntologico 41 nesta condição na incapacidade de sair de um ciclo
continuo de reciclagem de estéticas retro e de escapar a velhas fórmulas sociais, vivendo
numa espécie de disjunção temporal definida por uma “nostalgia por futuros perdidos”42.
Estas são questões com as quais o pd tem necessariamente de enfrentar, na forma como
rejeita a narrativa messiânica da tecnológia.
Em 2014, o arquitecto inglês Sam Jacob refere-se, numa entrevista, pela primeira
vez, ao termo pd aplicado dentro do contexto da arquitectura. Entretanto trasnformou-se
no profeta da apropriação do pd para o seio da disciplina, escrevendo extensivamente
sobre o assunto, cruzando a representação, o pd e a arquitectura – tema discutido num
momento posterior deste capítulo.
33
Discrepâncias
39- “earlier eras had their own obsessions with antiquity, of course, from the Renaissance’s veneration of Roman and Greek classicism to the Gothic
movement’s invocation of the medieval. But there has never been a society in human history so obsessed with the cultural artifacts of its own immediate
past”. Reynolds, Simon, Retromania: pop culture’s addiction to its own past, Faber & faber 2011, p.15
40-” Is nostalgia stopping our culture’s ability to surge forward, or are we nostalgic precisely because our culutre has stopped moving foward and so we
inevitably look back to more momentous and dynamic times? But what happens when we run out of past? Idem; p.15
41- Por hauntologico entende-se:“In the 2000s, the term was taken up by critics in reference to paradoxes found in late modernity, particularly
contemporary culture’s persistent recycling of retro aesthetics and incapacity to escape old social forms. Critics such as Mark Fisher and Simon Reynolds
used the term to describe art preoccupied with this temporal disjunction and defined by a “nostalgia for lost futures” in https://en.wikipedia.org/
wiki/Hauntology. Consultado em 03/08/2019
42- “nostalgia for the lost futures” Gallix, Andrew in https://www.theguardian.com/books/booksblog/2011/jun/17/hauntology-critical.
Consultado em 19/09/2019
o pós-digital como narrativa
34
Fig.11
The Originality of the Avant-Garde and Other
Modernist Myth. Rosalin E. Krauus
sobre a estética imaterial do digital.” 43 para algo que “descreve a confusa e paradoxal condição das
artes e da média após a revolução digital.” 44. Aqui cria-se um problema, ao enquadrar o pd
como um contexto totalizante, defenindo-o como o impacto cultural (total) do digital.
A tentativa de descrever a totalidade do contexto pós revolução digital, transforma o
pd numa expressão inútil. Descrever algo tão complexo com uma só palavra implica,
primeiramente, que a ruptura foi sincrónica e total por oposição a algo que acontece
faseadamente, tendo ritmos e formas diferentes. Assim, ditando num contexto mais
abrangente a existência de uma narrativa unidireccional. O facto da tecnologia se ter
banalizando, não significa, necessariamente, que exista um desencanto generalizado ou
que o encanto se tenha tornado histórico. Diferentes narrativas podem coexitir lado
a lado. O pd é um lado da moeda. O outro lado compreende a banalização do digital
só como mais um passo para o desenvolvimento contínuo da tecnologia. “Representa
um extremo de como os indivíduos lidam com a realidade técnico-politica e económica do nosso tempo:
a sobre-identificação com estes sistemas ou a rejeição dos mesmos” 45. É mais ajustado ver o pd
como um lado da questão, como uma sub-narrativa que existe dentro de um contexto
maior.
Levanta-se, então, a questão de como definir o pd, uma vez que o seu
significado concreto parece ser elusivo e dificilmente concretizável. O pd aparece
associado a diferentes termos, e em diferentes textos, como: contexto, prática,
noção, tendência e tendência cultural – uma análise de cada um deste termos permite
entender qual será a mais apropriada. Enquadrar o pd como uma entidade parece ser
problemático já que este passaria a ser uma “a essência considerada em si mesma e não como
existente num ser individual” 46 – implicando o pd como algo que existe por si só - que se 35
auto-determina e rege. Neste sentido, ignora-se o pd como um sintoma resultante de
uma série de factores que provocaram o seu aparecimento e aos quais este responde. É
igualmente problemático o uso da palavra tendência, que é normalmente interpretada
como algo em constante mutação:“Um dia estás dentro e no próximo estas fora”. 47 Não
se descarta a possibilidade do pd ser substituído, amanhã, por um outro conceito
mais preciso ou delimitador, mas as condições que determinaram o seu aparecimento
dependem de factores sociais e técnicos, que são, agora, relativamente estáveis, a
menos que exista um evento disruptivo. A par, parece sempre implicar uma ligação ao
movimento italiano tendenza 48.
Por outro lado, associar o pd a uma tendência cultural faz mais sentido :“John
Fiske notou que a cultura é um processo constante de produzir significados da nossa experiência
social. Assim os produtos culturais e os seus significados reflectem o sentimento dominante da nossa
43- “Post-digital, once understood as a critical reflection of “digital” aesthetic immaterial-ism,” Christian Ulrik Andersen, Geoff Cox, Georgios
Papadopoulos. Postdigital Research – Editorial. APRJA 3, no. 1 (2014) p. 2
44-”now describes the messy and paradoxical condition of art and media after digital technology revolutions” Idem; p. 2
45- “represents one extreme in how individuals relate to the techno-political and economic realities of our time: either over-identification with systems, or
rejection of these same systems” Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’? APRJA 3, no. 1 (2014). p. 19
46- in https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/entidade. Consultado em 25/08/2019
47- “ One day you are in the next you´re out!” Heidi Klum no popular programa Project Runway
48- Por tendenza entende-se o movimento: “Spearheaded by the architect Aldo Rossi,1 the movement arose in reaction to the burgeoning
Modernism of post-war Italy, and was characterised by a reactionary vigour and debate about the future of architecture in Italian cities and elsewhere.
Tendenza means “trend” – a kind of stylistical progress that criticised the idea of the avant-garde as impossible and unrealistic”in https://www.
studiointernational.com/index.php/la-tendenza-italian-architecture-1965-1985. Consultado em 30/08/2019
o pós-digital como narrativa
36
Fig.12
Cartaz de uma exposição sobre arte pós-digital
experiência social”.49 O pd pode ser visto como um estado de espírito comum que é capaz
de produzir significados, sendo, no entanto, uma definição demasiado abrangente por
não delimitar o contexto do pd. A utilização da palavra conceito para descrever o pd,
já começa a ser mais apropriada, porque esta desloca o pd para um plano genérico em
que este passa a representar um situação geral, ainda que continue a conferir-lhe uma
definição vaga. O contexto parece, por exclusão de partes, ser a forma mais apropriada
de determinar o pd, enquanto“o conjunto de circunstâncias que rodeiam um acontecimento”.50
O acontecimento é a revolução digital. O pd é uma forma de reagir a este contexto,
e não o contexto em si mesmo. Ainda assim, a construção de um contexto nunca é
neutra, parte de um ponto de vista que selecciona uma cadeia de relações entre eventos
e circunstâncias que compõem este contexto. Nessa medida existe um contexto pd, que
não é o mesmo que dizer que o pd é um contexto.
49- ” john fisk noted that culture is the constant process of producing meanings of and from our social experience. Therefore, cultural products and
their meanings will reflect the prevailing mood of our social experience.” in http://www.socialmood.net/articles/trends-in-popular-culture
Consultado em 30/08/2019
50- in https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/contexto. Consultado em 15/07/2019
o pós-digital como narrativa
38
Fig.13
John Baldessari Goya Series: And. 1997
como uma reacção a um tempo, em que até os tripés para câmaras são apelidados de digitais,
num esforço de os colocar no mercado com ouma tecnologia nova e superior”.51
Aqui optamos por discordar, pelo menos, em parte de Crammer. É
fundamental interpretar o pd como uma reacção ao digital e ao seu excesso, sim, mas
o pd tem de existir num contexto digital. Se não, corre o risco de perder qualquer tipo
de operatividade. Isto é, apesar da música produzida a partir de glitch e outros erros,
existir dentro de um paradigma digital, o seu carácter pd está na forma como o utiliza.
O que se procura encontrar, com este tipo de práticas ou usos, é o tal agenciamento
que permite um controlo maior dos processos. Esta forma de uso procura contornar
o funcionamento opaco do digital, do qual a literacia tecnologica raramente passa do
controlo passivo do interface, exprimindo um desejo de maior controlo: “Para Vam
Meer, a principal razão pela qual os estudantes de arte preferem desenhar posters a desenhar websites é
por uma ficção de agenciamento neste caso uma ilusão de mais controlo sobre o meio ”. 52 A utilidade
de qualquer posição como o pd é justamente essa, a de operar para criar um controlo
maior do digital, encontrando um espaço de agenciemento próprio. É aqui que entra
uma atitude de hacker DIY (Crammer) que se move contra a corrente da assimilação
directa do digital e procura estabelecer o seu próprio espaço, o qual assenta num
tratamento abstracto da tecnologia.
“É precisamente por esta razão que a abstracção tem tanto de artificial como de profundamente humano, já que
a capacidade de tornar abstracto, isto é, de produzir ideias e conceitos de uma multitude de factos empíricos, é o que distingue
o Humano do animal”. 54 Esta capacidade de selecção de uso é o que permite entender que todas as
características do pd partem de um olhar abstracto em relação à tecnologia, procurando encontrar
51- Ironically, the use of the term ‘post-digital’ was somewhat confusing in the context of Cascone’s paper, since the glitch music defined and advocated
here actually was digital, and even based on specifically digital sound-processing artifacts. On the other hand, and in the same sense as post-punk can
be seen as a reaction to punk, Cascone’s concept of ‘post-digital’ may best be understood as a reaction to an age in which even camera tripods are being
labelled as ‘digital’, in an effort to market them as new and superior technology.” Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1
(2014). p. 7
42 - “For (Van Meer), the main reason why art students prefer designing posters to designing websites is due to a fiction of agency – in this case, an
illusion of more control over the medium. “ Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). ; p. 19
53- “To abstract” comes from the Latin verb trahere, which means to pull something essential out from the totality of which it is a part. Abstraction is a
process through which man seeks to reach generic frameworks rather than specific solutions. It is precisely for this reason that abstraction is both artificial
and deeply human, since the capacity to abstract, i.e., to produce ideas and concepts out of a multitude of empirical facts, is what distinguishes the human
from other animal Vittorio Aureli, Pier Intangible and Concrete: Notes on Architecture and Abstraction Journal #64 - April 2015
54- “ It is precisely for this reason that abstraction is both artificial and deeply human, since the capacity to abstract, i.e., to produce ideas and concepts out
of a multitude of empirical facts, is what distinguishes the human from other animal species.” Idem;
o pós-digital como narrativa
40
Fig.14
Resultado de uma pesquisa sobre “Post-digital
Architecture”
Mesmo um pesquisa sobre arquitectura pós-digital,
só gera resultados referentes a representação.
um quadro de referências que lhe permita olhar para a totalidade da tecnologia e não só responder
momentaneamente ao aparecimento volátil de novas tecnologias e ferramentas. Como nota final, sobre a
definição do PD, concordmos com Florian Crammer quando este confronta os artigos de Kim Casnoe e
Ian Andrews na sua interpretação de associar o pd a um regresso nostálgico à singularidade modernista: “
Muitas vezes toma a forma de retorno (naive) à pureza modernista”.55
O pós-digital
na arquitectura
Ressalva-se, no entanto, que “Arquitectura pós-digital representa mais uma atitude que procura
entender e agir com as repercussões indirectas do ‘digital‘ nos ambientes físico, cultural, social e digital
que os Humanos criaram e no qual estão agora a viver”.56
55- “Often takes the form of a (naive) return to the purity of modernism” Anwdres, Ian (2000) citado em Cramer, Florian. “Post-Digital
Aesthetics.” Jeu de paume-le magazine (2013). p.5
56- “Postdigital Architecture” represents more an attitude, seeking to understand and act with the indirect repercussions of “the digital” in the
physical, cultural, social and digital environments that humans are creating and living on”; Bujowskyj, Mathieu. “The post-digital in architecture”.
Disssertação de mestrado; Lausanne: EPFL. 2016. p. 26 /01 Prolog
o pós-digital como narrativa
42
Fig.15
Anti Drone Tent Sarah Van Sonsbeeck (Museum
Catharijne Convent) mylar rescue blankets / photo by
Gert Jan van Rooij, 2018. Eventualmente este poderia
ser um exemplo de arquitectura pós-digital, apesar
de ser, primeiro uma posição artistica e depois ser
anti-tecnologica que o pós-digital não é.
wi-fi, mais do que por paredes.
57- “The medium is not only the message, the medium is the mind it shapes what we see and how we see it.“ Carr, Nicholas in http://www.
nicholascarr.com/?page_id=21 citado em Bujowskyj, Mathieu. “The post-digital in architecture”.Disssertação de mestrado; Lausanne:
EPFL. 2016 p.6/ 7 Postdigital Aesthetics in architecture
o pós-digital como narrativa
44
Fig.16
Vila de Greenfield
equivalente ao analógico. Desta forma,
tenta ganhar controlo, dentro de uma
ecologia digital, sobre o método de
produção, o que quer dizer que existe uma
representação pd, cujos contornos se vão
investigar a seguir.
O pós-digital na
representação
58- “Greenfield is an extreme example of the architectural re-enactment. We can use it here as a device to explore the generic architectural phenomenon of making the imaginary real. Though made out
of ‘real’ things – real buildings relocated brick by brick from their original sites to a field in Deaborn- Greenfield is the manifestation of Ford’s imagination. All of its authenticity serves ti support this
imaginary condition, to make it real.“ Jacob, Sam. Make It Real-Architecture as Enactment. 2012. p. 32
59- Optou-se por não traduzir o termo re-enactment por falta de um termo em português que fosse equivalenta, no seu sentido mais
literal seria reencenação que não sendo errado não tem o mesmo significado que a palavra em Inglês
60- “ to act or perform again” in https://www.merriam-webster.com/dictionary/reenact. Consultado em 04/05/2019
61- “to enact (something, such as a law) again” https://www.merriam-webster.com/dictionary/reenact. Consultado em 04/05/2019
o pós-digital como narrativa
46
Fig.17 e Fig.18
Making of Neue Nationalgalerie in the Rain e
Elnaz Rafiti, 2016, UIC School of Architecture.
Comparação visual entre um render hiper-realista
e um desenho da collage culture, que é analisda no
artigo de Lana Raffaldi Rubin.
sua essência material mas é também a imagem de si própria. Desta modo, o símbolo
e o significado são coincidentes, mas ainda são capazes de operam como um sistema
semiológico: “A qualidade performativa da arquitectura é o motor da sua habilidade de produzir a
ficção social que ocupamos, naturalizando-a e legitimando-a ao ponto de se tornar real(...) Inscreve na
realidade o mundo que desejamos habitar em vez do mundo no qual nascemos”.62
Ao enquadrar a arquitectura como uma ficção, a sua realidade material torna-se
indistinguível da sua representação; ambas são ficções. Estabelece-se uma igualdade de
significados entre as qualidades representativas e materiais, no sentido em que ambas
são subjugadas entre as várias formas de ficção - desenho, texto ou edifício.
“A arquitectura mesmo ao nível do edifício é *sempre* representação. As suas
qualidades representativas não são diferentes das qualidades ‘reais’ do edifício,
são sempre simultâneas. Um edifício é uma imagem de um edifício, a descrição de
um edifíco enquanto um edifício - então o desenho é fundamental. A representação
arquitectónica e a sua realidade acontecem ao mesmo tempo e isto começa com o
desenho”.63
Esta equivalência permite fundir a arquitectura como prática material e cultural numa
só, configurando um espaço de trabalho em que “a distinção entre o desenhado e o real se
funde numa só ideia: uma arquitectura de representação”.64 Para Jacob, esta equidade é o apogeu
do projecto pd e é ele que permite voltar a desenhar, agora num ambiente digital,
criando até desenhos que:“podem ser arquitectura.65
Este ponto de vista é explicado de uma forma mais concreta em ‘Rendering the
cave of the digital’. Onde se começa por analisar a representação de um ponto de vista
histórico. Assim, a perspectiva é uma ferramenta particularmente poderosa no sentido 47
em que desenha o espaço da mesma forma que o constrói, pondo em evidência o
espaço como um fenómeno trabalhado, dependente da representação. Esta nunca é
um meio neutro, limita à partida o que vemos e condiciona o espaço. Assim, se explica
a interferência directa da representação nas qualidades do espaço, sendo, no entanto,
mais difícil de acreditar na sua tradução directa em que este passa a ser uma forma
de arquitectura, como defende Jacob, mas é uma ideia que se encontra perfeitamente
enquadrada na linha de pensamento que este desenvolve em Make it real.
62- “Architecture’s performative quality has the engine of its ability to manufacture the social fiction that we occupay, naturalizing and legitimizing it to
the point where it becomes real (...) It writes into reality the world we wish to inhabit rather than the world we were born into “ Jacob, Sam. Make It
Real-Architecture as Enactment. 2012. p. 32
63- And if, like me, you think that architecture even at the level of a building is *always* representation. That its representational qualities are not
different from its ‘real’ qualities as a building but are always simultaneous. That a building is an image of a building, a description of a building even as
it is a building – then drawing is fundamentally important. “ Jacob, Sam. Drawing As Project – Post Digital Representation In Architecture.
Strangeharvest (s.d.)
64- “A space where the distinction between the drawn and the real melts into a single ideia : the architecture of representation” Jacob, Sam.
Rendering: The Cave of the Digital e-flux journal. February 2, 2018
65- “ Drawings that might even be Architecture” Jacob, Sam .Drawing As Project – Post Digital Representation In Architecture. Strangeharvest
(s.d.)
o pós-digital como narrativa
48
Fig.19
Imagem da gruta de El castillo.
“(...) Como o ponto de fuga se tornou cada vez mais anacrónico na visão contemporânea,
o espaço perspéctico vai se tornar tão ilegível como um quadro de el Castillo. E quando
isso acontecer, a questão é como conceptualizamos e articulamos o espaço e a representação
vai voltar a emergir. Em algum momento - em breve talvez - vamos ter de perguntar: O
que pode ser a representação quando tudo pode ser visto ao mesmo tempo?”.66
Ao fugir da perfeição fotográfica, as tácticas pd’s que acentuam o carácter
falso da representação e abrem a porta para outros modos de ver. “ Podemos argumentar
que a viragem pós-digital na representação arquitectónica reconfigura a relação entre o desenho e o
construído.“.67
A par, num artigo publicado pela revista Metropolis ”Architecture Enters the
Age of Post-Digital Drawing” também de Sam Jacob. Onde se procura enquadrar a
forma como o digital quase matou o desenho, polarizado, como resultado directo das
ferramentas digitais, entre a ilustração e o pormenor. Quanto maior é a precisão das
ferramentas, menor é a amplitude dos desenhos. Neste contexto vê-se a representação
pd como algo que recorre a um conjunto de ferramentas alternativas que não se
centram na capacidade técnica, mas na liberdade de movimentos, reminiscente
do desenho à mão. O pd conseguiu gerar uma nova forma de desenhar, capaz de
reinventar o espaço do desenho no ecrã.
66- a”s the vanishing point becomes increasingly anachronistic to contemporary vision, perspectival space will became as illegible as the painting in el
Castillo. And as it does, the question of how we conceptualize and articulate space and representation will re-emerge. At some point – soon perhaps- we
will have to ask: What does representation mean when everything can be seen, everywhere at the same time?” Jacob, Sam. Rendering: The Cave of the
Digital. e-flux journal. February 2, 2018
67- “We could even argue that the post digital turn in the architectural representation reconfigures the relationship between the drawn and the built,
returning us to a condition similar to the cave. “ Jacob, Sam. Rendering: The Cave of the Digital e-flux journal. February 2, 2018
68- Carpo, Mario. The Post-Digital Will Be Even More Digital, Says Mario Carpo. Metroplois Magazine. July 5, 2018.
69- “it’s not because we are bored, it’s because we are quitters”Carpo, Mario. Post-Digital “Quitters”: Why the Shift Toward Collage Is Worrying.
Metroplois Magazine. March 26, 2018
o pós-digital como narrativa
50
Fig.20
MVRDV, Glass Farm 2013
eles”.70
70- “Architects cannot do without technology, but technology can do without them”
idem;
de photoshop (o resultado vago não se assemelha a redução da dureza do pincel no photoshop ?)”71
“O pós-digital é profundamente digital; simplesmente reconhece que o nosso período actual é diferente
de outro períodos digitais”.72 Contrariamente às investigações de Carpo e de outros ‘digital
scholars’ que se concentram sempre no ponto mais avançado do digital, em práticas de
vanguarda, o pd por se concentra em práticas quotidianas, torna-se comum e difunde-
-se. Assim, “Enquanto estética, o pós-digital advém da maturação da tecnologia digital até ao ponto
em que esta se transforma numa imagem”.73
Esta visão de Fure está de acordo como o que foi definido anteriormente, e
põe em causa de uma forma convincente a noção de pd de Carpo, quando este defende
o pd como uma forma rejeição do digital. Não obstante, continua a ser importante
a percepção de que a revolução tecnológica vai continuar. Necessariamente, o pd
ensaiará uma posição de afastamento e de difícil adopção em relação a próxima fase:
a inteligência artificial, independentemente da sua forma, mais até do que com outras
tecnológicas. A inteligência artificial assenta num processo de funcionamento que
ensaia uma posição de superioridade em relação ao utilizador, operando de uma forma
completamente opaca de pergunta resposta. Não deixa espaço de manobra, é vista cada
vez mais como uma solução universal.
71- “As an aesthetic, the post-digital stems from the saturation of digital technology to the point where it becomes an image. Once
relegated to screens, digital characteristics (pixels, gradients, filters, and the like) are quickly becoming fixtures of the physical
world. Take MVRDV’s Glass Farm for example, a building covered top-to-bottom in digital imagery. Three details strike me as
particularly post-digital about this project. One, the imagery comes from a digital “original” that was created by averaging data
derived from farmhouses in the area (why not just use photographs of the farmhouses?). Two, the imagery is printed at one and a half
times the size of a typical farmhouse (a nod to the plasticity of scale native to digital mediums). Three, the imagery is selectively
removed to produce apertures in a manner reminiscent of Photoshop commands (is the fuzzy boundary the result of decreasing the
“hardness” of your brush?). “ Fure, Adam. What does it really mean to be “post-digital” in architecture and beyond? The architect’s
newspaper May 22, 2018
72- “The post-digital is deeply digital; it simply recognizes our current moment to be different from previous periods of digital preoccupation.” Fure,
Adam. What does it really mean to be “post-digital” in architecture and beyond? The architect’s newspaper May 22, 2018
73- “As na aesthetic, the post-digital stems from the saturation of digital technology to the point where it becomes as image” Idem;
74- Apesar da expressão ser baseada no livro Collage culture : examining the 21st century’s identity crisis. Aaron Rose; Mandy Kahn; Brian
Roettinger pode ser entendida aqui no seu sentido literal de ser uma nova cultura de colagem que se disseminou com o digital
75- “ Participants in an online music scene who rearrange spliced parts of musical pieces” a expressão refere-se a algo semelhante substituindo
música por imagens in https://en.wikipedia.org/wiki/Mashup_(culture). Consultado em 18/05/2019
o pós-digital como narrativa
52
Fig.21
KooZA/rch. Archipelago
Exemplo do tipo de perguntas que estes desenhos
pd podem fazer O KooZA/rch é uma plataforma que
se concentra em explorar o papel do desenho na
arquitectura e expõem principalmente trabalhos de
alunos ou gabinetes.
Deste modo põe-se em causa qualquer ideia de autoria e individualismo, já que
o significado das imagens está constantemente a ser alterado, modificando-se com a
proximidade entre imagens, a sua resolução, local e meio. O CGI (Computer Generated
Images) é o meio dominante de representação e funciona como uma ferramenta
perspéctica, assente num conjunto de regras que se impõem sobre o real, procurando
relacionar algo aparentemente real com uma realidade que ainda não existe. Por
outro lado, ao criar desenhos que são à partida falsos, estes podem funcionar como
um ferramenta especulativa :“Desenhos, que noutras palavras, se declaram como parciais e
tendenciosos”.76 Desta forma, o pd funciona como um caminho para ultrapassar a
ficção do CGI, reenquadra o desenho, não como uma forma de representar a realidade,
mas como uma forma de a pensar, criando um espaço em que é possível apresentar
argumentos, discutir suposições ou explorar o que esta para lá do plausível. “Desenhos
que são concebidos não como janelas para outros mundos mas como formas de construir o mundo”.77
Estes desenhos, assumidamente falsos, podem funcionar, não só como uma ilustração
ou um diagrama, mas como um palco onde é possível testar ideias. O pd gera desenhos
assumidamente falsos, e é justamente nessa falsidade que encontra a sua utilidade
dentro da representação em arquitectura.
O próximo passo é dado por Lana Raffaldi Rubin em“We will never be post-
digital collage since Photoshop”. Onde, a autora estabelece uma oposição entre as imagens
“hyperphotorealism“78e a collage culture. As imagens hiper-realistas, constantemente à procura
de formas para se tornarem ainda mais realistas, são, desta forma, positivistas e não
generativas. Elas assumem uma posição estática dentro do processo de desenho e 53
estão acopladas à produção cultural capitalista e à apropriação neoliberal da arquitectura
enquanto um bem de consumo, permanecendo, assim, dentro da situação política e
tecnológica que as gerou. As colagens definem-se, por oposição, enquanto imagens
que procuram a agilidade e possuem uma capacidade de edição muito rápida que lhes
permite actuar como um elemento generativo.
76- “Drawings, in other words reveal, that declare themselves as partial and biased.”;”Drawings that are conceived not as windows onto the world but
ways of making the world” Jacob, Sam. Drawing as Project – Post Digital Representation in Architecture. Strangeharvest (s.d.)
77- “Drawings that are conceived not as windows onto the world but ways of making the world”. Jacob, Sam. Drawing as Project – Post Digital
Representation in Architecture. Strangeharvest (s.d.)
78- hyperphotorealism “ that category of architectural images which aims for a specific kind of hyperphotorealism”. No geral são imagens
arquitectónicas que procurar mimetizar a realidade o mais possivél, mas que obdecem a uma estetica propria que as agrega numa
corrente e as quais nos vamos referir daqui para a frente como hiper-realistas
79- “Jacob’s essay, which ostensvly seeks to refute the claim that computational apparatuses should constrain architecture imaging ultimately makes a
compelling case for it “ we recognize that post-digital collage demands a kind of knowledge that is not purally computational, but may be more abstract”.
Raffaldini Rubin, Lane. We will never be post-digital collage since Photoshop. (s.l. s.d)
o pós-digital como narrativa
54
Fig.22 e Fig.23
Raphael The Three Graces 1501-1505 Oil on panel
Musée Condé, Chantilly
Apesar de parecer ser sempre difícil fazer transitar o conceito de estilos entre
campos, parece existir no pd uma predisposição para o uso recorrente dos mesmos
elementos formais, de uma forma equivalente a um estilo. No entanto, pensar a
representação pd como um paradigma de representação é mais adequado. Um
paradigma é simultaneamente “modelo de declinação ou conjugação” e “conjunto de elementos
linguísticos que podem ocorrer no mesmo contexto”.82 Assim, pela sua forma de agir e pela
sua complexidade,o pd permite criar um espaço abstracto de trabalho, que é sempre 55
próprio, mas baseado em códigos gerais. Isto é, a representação funciona com base
em atalhos que configuram uma linguagem específica, baseada numa série de códigos
e símbolos – uma linguagem falada entre arquitectos. Por esta ser específica do tempo
e contexto, pode de certa forma ser vista como um estilo. Apesar disso o que é
importante e diferente na representação pd é a sua capacidade de estabelecer um novo
paradigma, do qual resulta uma linguagem de representação própria, num ambiente
digital. É um posicionamento pd que permite estabelecer este paradigma. Os seus
contornos precisos serão objecto de investigação nos próximos capítulos.
80- “Not everything is possible at all times. Vision itself has its history, and the revelation of these visual strata must be regarded as the primary task of
art history.” Wölfflin, Heinrich. Principles of Art History. Courier Corporation, 2012.
81- (...) to the analysis of its stylistic( for which read “formal”) components and its iconography ( for which read loosely “content” or “ meaning”).
Categories are developed in the interest of externality and objectivity, freeing the observer from any responsibility for them”. Alpers, Svetlana. Style Is
What You Make It: The Visual Arts Once Again. 1979. p.138
82- “1exemplo que serve como modelo; padrão 2.GRAMÁTICA modelo de declinação ou conjugação 3.LINGUÍSTICA conjunto de elementos
linguísticos que podem ocorrer no mesmo contexto 4.(investigação) sistema ou modelo conceptual que orienta o desenvolvimento posterior das pesquisas,
estando na base da evolução científica” in https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/paradigma. Consultado em
14/05/2019
o pós-digital como narrativa
56
Fig.24
Capa da revista Metroplis de Março de 2017 com o
artigo de Sam Jacob na capa
3º O pd funciona como uma sub-narrativa que se interliga com o digital e não pode
ser usada para descrever um contexto totalizante.
57
83- “ ‘truth to artifice’ : that is letting the reader know that the author knows that all art is a form of fiction, the creation of an
abstract world”. Jencks, Charles. The Story of Post-Modernism.: Five Decades of the Ironic, Iconic and Critical in Architecture.
John Wiley & Sons, 2012. p.87
2
Pós-digital ou
Pós-moderno?
Uma Proposta
experimental
pós-digital ou pós-moderno
60
Fig.25
“My Hard-Drive Died Along With My Heart” Thomas
Walskaar 2016. “A book containing tweets and forum
posts on the topic of hard-drive failures.”
o posicionamento
84- “Within this emerging context, technological consumption coincides with and becomes indistinguishable from strategeis and effects of power”.Crary,
Jonathan. 24/7: Late Capitalism and the Ends of Sleep. Verso Books, 2013. p.42
85- “ the idea of technological change as a quasi-autonomous, driven by some process of autopoesis or self organization, allows many aspect of
contemporary social reality to be acepted as necessary, unalterable, circunstance a kin to facts of nature”. Idem; p. 36
86- “Each of these fictions of agency represents one extreme in how individuals relate to the techno-political and economic realities of our time: either over-
identification with systems, or rejection of these same system”. Cramer, Florian. What Is ‘Post-Digital’?. APRJA 3, no. 1 (2014). p. 19
pós-digital ou pós-moderno
62
Fig.26
O digital está cada vez mais presente
que desta forma coloca o sujeito numa posição de não-identificação com o sistema
tecnológico. Como forma de colmatar esta sensação, recorre a uma tentativa de
controlo do ambiente digital, para sair a ganhar pela capacidade de agenciamento. O
que se procura é fundamentalmente encontrar uma maneira de tentar ganhar controlo
sobre o digital, por oposição a ser controlado.
63
A inevitabilidade
do digital
87- “The sense of individual ingenuit provides the temporary conviction that one is on the winning side of the system, somehow coming out ahead; but
in the end there is a genera1ized leveling of all users into interchangeable object of the same mass dispossession of time and praxis” Crary, Jonathan.
24/7: Late Capitalism and the Ends of Sleep. Verso Books, 2013. p.58
pós-digital ou pós-moderno
64
Fig.27
Fotográfia de um protesto no Rio de janeiro Junho de
2017. Onde se lê: “ Nós somos a rede social”
a maneira como o pd se enquadra como uma sub-narrativa que se aloja dentro da
narrativa maior – a da inovação tecnológica.
É preciso fazer uma ressalva: para construir a sua posição o pd encontra parte
dos seus argumentos num passado não tecnológico, que utiliza para construir um ponto
de comparação com o presente. É esta charneira que lhe permite entender o digital
pelo seu conteúdo e não através da lente da inovação, e a partir daí traçar argumentos
sob os quais baseia a sua acção, criando uma serie de mitologias face ao não digital que
dão força à ilusão de que o pd pode ser uma alternativa real ao sistema.
Ironicamente é esta dissimulação que permite ao pd existir dentro deste sistema
homogeneizador. Isto é, apesar do pd partir de uma posição de não identificação para
com a tecnologia, e por isso com o sistema capitalista, este apoia a sua difusão. O pd
transforma-se numa posição de negação que é resgatada e apropriada pelo sistema,
utilizando-a para criar a ilusão da existência de uma alternativa. Podemos assim afirmar
que actua de uma forma semelhante ao descrito por Slavoj Žižek quando diz que o
“o anti-capitalismo está amplamente disseminado no capitalismo”.88
É precisamente por não funcionarem inteiriamente como estruturas de
diferenciação, que posições como pd e o capitalismo verde funcionam e existem dentro
do mesmo sistema. Do mesmo modo posições mais extremas como a anti-tecnológica,
não podem existir enquanto alternativas coerente, já que:
“As forças homogeneizadoras do capitalismo são incompatíveis com qualquer estrutura inerente
de diferenciação“.89 estas ainda actuam dentro da “(…) amplitude do que constitui a
capacidade de resposta transforma-se numa fórmula, e na maior parte dos casos, está reduzida a
um pequeno inventário de possíveis gestos ou escolhas.”90 65
88- “anticaplitalism is widedspread in capitalism” Fisher, Mark. Capitalist Realism: Is There No Alternative? John Hunt Publishing, 2009. p.2
89- “ the homogenizing forces of capitalism is incompatible with any inherent structure of differation” Crary, Jonathan. 24/7: Late Capitalism and the
Ends of Sleep. Verso Books, 2013 p.13
90- “the range of what constitutes response becomes formulaic and, in most instances, is reduces to a small inventory of possible gestores or choices”Idem
;p.59
91- “ the widespread sense that not only is capitalism the only viable option political and economic system, but also that it is now impossible even to imagine
a coherent alternative to it” Fisher, Mark. Capitalist Realism: Is There No Alternative? John Hunt Publishing, 2009. p.2
pós-digital ou pós-moderno
66
Fig.28
Frame do filme Wall-E 2008
uma distância entre a acção e o resultado é
precisamente esta distância que o PD não
se permite. Pela forma abstracta como
se procura comportar, como seleciona e
manipula as ferramentas, o PD é uma forma
de acção directa sobre o meio, o que nos
traz a um paradoxo interessante: se pr um
lado o limite do pd é o de existir dentro da
tecnologia, isto é, não é uma estrutura de
diferenciação completa, é algo que existe
dento da tecnologia e a par com ela. Por outro
lado, esta convivencia permite ao pd ter uma
acção muito contreta e que pode ter efeitos
alargados.
Quando o digital e a tecnologia têm uma presença tão impositiva, dispensa se
o meio físico, qualquer premissa de diferenciação completa é imediatamente invalidada
pela irrealidade que representa. Ao mesmo tempo, posições como o pd podem
florescer pela sua aparente diferenciação, transformando-se num facto, como acontece
com o digital e existem assim lado a lado:“Uma posição ideológica não consegue ser bem-
sucedida até ser naturalizada e não pode ser naturalizada enquanto ainda é encarada como um valor
em vez de um facto”94, ambas são naturalizadas pelo sistema. Nesta medida, tratar o pd
como um facto significa atribuir lhe uma existência contínua, algo que está sempre lá e,
por isso, não representa uma ameaça para o sistema.
A interpassividade 67
como meio
92- “it seems overwhelming, bedazzling and without immediate alternative. The internet is probably not death. It has rather gone all-out. Or more
precisely is all over”. Steyerl, Hito. “Too much world: is the internet dead?” e-flux journal #49- November 2013
93- “why only open access to JSTOR and not MIT- or any school, hospital or university for that matter ?”.Idem
94- “an ideological position can never be really successful until is naturalized and it cannot be naturalized while it’s thought of as value rather than a
fact.” Fisher, Mark. Capitalist Realism: Is There No Alternative? John Hunt Publishing, 2009. p.16
95- “interpassivity the films performs our anticapitalism for us allowing us to continue to consume with impunity” Idem; p. 24
pós-digital ou pós-moderno
68
Fig.29
Exemplo de um trabalho da School of Poetic
computation.
A crítica funciona é tanto mais eficaz quando, parte do interior do próprio meio
que se procura criticar. O resultado de um sistema é a melhor forma de o pôr em causa,
porque não é externo ao sistema, não permite que exista distância entre a crítica, o
produto e o meio.
Um exemplo desta condição é o Tumblr ‘The new aestethic’ criado pelo artista
plástico James Bridle, com o objectivo específico de criticar o digital a partir do seu
interior e utilizando-lo como material. Como explica o próprio:
“Primeiro é o reconhecimento importante de que o projecto ‘ The new aesthetic’ é
construído dentro do seu próprio meio: é uma tentativa de ‘escrever’ criticamente sobre
o vernacular da rede na própria rede: num Tumblr, num post de blog, em vídeos de
palestras, no youtube, tweets, mensagens (…). Neste sentido, da minha perspectiva é tanto
um trabalho como uma forma de crítica: execpto o facto de não seguir as normas formais
– manifesto, ensaio, livro – esperado pela crítica e pela academia. Consequentemente este
permanece maioritariamente ilegível, apesar de frequentes afirmações públicas deste tipo.
Mas, eu acho que o aspecto mais profundo e interessante desta leitura cruzada: é expor a
ilegibilidade da tecnologia a uma audiência não técnica “.97 69
Assim, o seu funcionamento é eficaz, já que num primeiro nível expõe as
incongruências do digital, recorrendo, para isso ao próprio digital, num segundo
momento, funciona como a prefiguração directa do que se procura pôr em causa.
O pd também pode ter uma actuação critica, mais directa como encontramos no
projecto ‘School of Poetic Computation’. Este é um bom exemplo, na forma como procura
desmistificar o computador enquanto máquina insondável, apelando aos construtos
humanos que necessariamente existem dentro deles. Almeja-se assim mitigar a distância
entre a tecnologia e o sujeito, com o objectivo final de tentar que o computador nos una
e não separe. Nessa linha o projecto refere: “Os seus fundadores reconheceram que a tecnologia
- que era suposto unir-nos estava se a tornar numa forma de distanciamento da nossa imaginação e
96- “It seems that the cinema audience is itself the object of this satire, which prompted some right wing observers to recoil in disgust,
condemning Disney/Pixar for attacking its own audience. But this kind of irony feeds rather than challenges capitalist realism. A
film like Wall-E exemplifies what Robert Pfaller has called ‘interpassivity’: the film performs our anti-capitalism for us, allowing us
to continue to consume with impunity. The role of capitalist ideology is not to make an explicit case for something in the way that
propaganda does, but to conceal the fact that the operations of capital do not depend on any sort of subjectively assumed belief”
Fisher, Mark. Capitalist Realism: Is There No Alternative? John Hunt Publishing, 2009. p.16
97- “There are two necessary understandings to counter this, I think. One is the important recognition that the New Aesthetic project is undertaken within
its own medium: it is an attempt to “write” critically about the network in the vernacular of the network itself: in a tumblr, in blog posts, in YouTube
videos of lectures, tweeted reports and messages, reblogs, likes, and comments. In this sense, from my perspective, it is as much work as criticism: it does
not conform to the formal shapes – manifesto, essay, book – expected by critics and academics. As a result, it remains largely illegible to them, despite
frequent public statements of the present kind.But I think the deeper and more interesting aspect of this misreading of the New Aesthetic is that it
directly mirrors what it is describing: the illegibility of technology itself to a non-technical audience.” Bridle, James. The New Aesthetic and its politics.
12,June, 2013.
pós-digital ou pós-moderno
70
Fig.30
Letter 114. Karst 2014
O projecto Life Needs Internet documenta a cultura
digital através de cartas escritas e enviadas pelos
participantes, de várias partes do mundo.
queriam trabalhar esse aspecto”.98 Um dos projectos desta escola é a ‘distributed web’, que
procura criar uma alternativa remontando a uma era anterior da internet em que esta
ainda não era corporativizada pelas ’big 5’ 99: “Então, esta ‘distributed web’ é uma forma de
publicar, distribuir e criar uma rede de comunicação peer-to-peer, onde estamos em correspondência
directa uns com os outros” .100 Cria-se um nível de acção em que é possivél, por exemplo,
escolher um chat peer-to-peer em vez de recorrer ao facetime ou ao Skype.
Importa referir, que os projectos, como o acima referido, só são eficazes no tipo de
modificações que procuram inserir no sistema, quando estas partem de uma posição que
entende o seu funcionamento. Percebem que: “É importante reter a ideia de que qualquer sistema
que encontremos, vai provavelmente ter as mesmas falhas e defeitos que a nossa sociedade tem“.101
Mitologias
71
Neste percurso de análise, outros projecto podiam ter sido nomeados, mas o
que é fundamental é perceber que existe um limite para o campo de acção do pd. É
que este tende para um equilíbrio entre sistemas- o analógico e o digital. Semelhante ao
descrito pelo algoritmo do optometrista. Este baseia-se na técnica usada para ajustar
a lente (‘com qual vê melhor?’) que tem lugar numa visita ao optometrista. Assim, o que
o algoritmo procura fazer é, num momento incial, utilizar o poder de processamento
do computador para reduzir quantidades de dados muito grandes e, por isso, não
apreensíveis pelo utilizador, reduzindo-as a uma quantidade operativa. A partir dai, a
responsabilidade passa para o sujeito que toma decisões e escolhe com que parâmetros,
tentando encontrar a melhor solução.
“É particularmente interessante para quem tentar reconciliar as operações opacas da
resolução de problemas através da computação, analisando problemas que a mente
humana não consegue entender na sua totalidade, mas que um computador consegue
processar e operar. Do outro lado, está a necessidade de trazer a ambiguidade e a
98- “it’s founders recognized that technology – which was supposed to connects us- was becoming something that distance us from our imagination and they
wanted to address that” e “So, this distributed web is forms of publishing, authoring, and creating peer-to-peer Network, where we are in correspondence
with each other.“. Taeyoon entrevistado em Bridle, James. New Ways of Seeing. Episode 4: Cybernetic Forests (first broadcast 8th May 2019).
BBC4.
99- Por big 5 entende-se FAAMG: Facebook, Amazon, Apple, Microsoft, Google mais as empresas que fazem parte destes grupos
100- “So, this distributed web is forms of publishing, authoring, and creating peer-to-peer Network, where we are in correspondence with each other. “
Idem
101- “ Any system we encounter, it’s important to keep in mind that it will probably have the very same failures and defects built in as our society has “
Vasiliev, Danja entrevistada em Bridle, James. New Ways of Seeing. Episode 4: Cybernetic Forests (first broadcast 8th May 2019).BBC4.
pós-digital ou pós-moderno
72
Fig.31
“Obfuscation: A User’s Guide for Privacy and
Protest. Finn Brunton and Helen Nissenbaum’
imprevisibilidade Humana é um funcionamento aparentemente paradoxal para o
problema (…)”.102
O que se procura aqui é uma simbiose mais ajustada entre a tecnologia e
o utilizador, que permita ter estratégias de captar o fortuíto e o imprevisível. Este
algoritmo parece apontar para uma hipótese de trabalho em conjunto, passa de um
funcionamento directo ‘pergunta - resposta’, para um sistema em que o utilizador tenha
liberdade de construir a resposta. Um sistema capaz de tornar a tecnologia menos
opaca, estabelecendo uma ligação com o utilizador, por forma a capturar o melhor dos
dois mundos. Esse equilíbrio seria o apogeu do projecto pd, enquanto posição.
O pd pode actuar para criar uma porta de saída para a condição do digital-
-realismo, já que ”A inovação é, dentro do capitalismo, a contínua simulação do novo, ao mesmo
tempo que as relações de poder e controlo se mantêm as mesmas”.103 O pd pela forma como
procura selecionar o meio mais adequado para se expressar e não necessariamente o
mais inovador, o que se alia a uma posição de não-identificação para com o sistema.
Age como uma forma eficaz de limitar o desejo tecnológico e a aceitação rápida da
próxima novidade. Restringe o ciclo constante da invoação tecnológica, limitando assim
o desejo pelo novo. Este caso do pd é particularmente interessante porque parte de
uma posição individual, e não de uma imposição exterior. É esta capacidade de fechar o
campo, de restringir acções, que Fisher considera fundamental,:
“Aqui o argumento a favor desta nova ascese é tanto libidinal como prático. Se, como
102- “The mechanism that is being enacted when the Optometrist goes to work is particularly interesting to those attempting to reconcile the opaque
operation of complex computational problem solving with human needs and desires. On the one hand is a problem so fiendishly complicated that the
human mind cannot fully grasp it, but one that a computer can ingest and operate upon. On the other is the necessity of bringing a human awareness of
ambiguity, unpredictability, and apparent paradox to bear on the problem – an awareness that is itself paradoxical, because it all too often exceeds our
ability to consciously express it. “. Bridle, James. New Dark Age: Technology and the End of the Future. Verso Books, 2018. p. 101
103- ”innovation takes within capitalism is as the continual simulation of the new, while existing relations of power and control remain effectively the
same” Crary, Jonathan. 24/7: Late Capitalism and the Ends of Sleep. Verso Books, 2013. p. 40
pós-digital ou pós-moderno
74
Fig.32
Revista San Rocco
Oliver James, Žižek e a Supernanny mostram, um excesso de liberdade leva à miséria
e a insatisfação, assim restringir o desejo é mais provável que o faça aumentar e não
desaparecer. De qualquer maneira, alguma forma de limitação é inevitável”.104
Esta restrição pode, eventualmente, funcionar como uma saída para a “A longa
negra noite do fim da história” 105, passando de uma situação onde nada é possível para uma
em que tudo é possível outra vez.
Pode-se ainda também colocar a hipótese que passe a existir uma consciência
mais presente dos efeitos do digital, da sua ligação com o capital e da perceção directa
do seu modo de funcionamento evasivo, que em parte já aconteceu com escândalos
como o Snowden106 e o Facebook Cambridge Analytica 107. Pode ser que esta consciência
funcione, de igual forma, para resgatar certos aspectos muito concretos de um tempo
pré-tecnológico, sendo assim, capaz de nos devolver o sono que “parece até demasiado
óbvio para ser dito que o sono requer uma libertação periódica da rede e dos dispositivos para
entrar num estado de inactividade e inutilidade”.108 É este sono que Crary identifica como
fundamental “é um formato temporal que nos afasta das coisas que temos ou somos coagidos a
pensar que precisamos”109 o que ensaia uma forma de mudança muito mais mundana do
que a acima exposta, mas que pode ser igualmente viável “(…) o sono, a experiência diária
mais mundana, pode sempre ensaiar os contornos do que pode ser a renovação e o recomeço “110
Qualquer uma destas hipótese que colocámos não deve ser lida de uma
forma literal,já que isso seria demasiado para esparar de uma só posição. Todas estas
permissas e abordagens em torno do pd servem é para criar uma mitologia não baseada
no passado. É esta mudança, da charneira do passado, para o futuro, que transforma 75
o pd numa posição interessante e até importante. O constante olhar para o passado,
necessariamente nostálgico, restringe o campo de acção do pd e faz dele uma posição
regressiva, uma viragem para a projecção de um futuro, que precisa de se apoiar
em mitologias de larga escala, para apontar o caminho é importante para dar mais
relevância ao fenómeno do pd. Esta viragem pode ser a única forma que o pd tem de
escapar à assimilação total do sistema, que poderá passar a prever o seu modo de acção
directo limintando cada vez mais o seu raio de acção do pd, passando assim a prevê-la.
104- “there is a lIbid.inal as well as practical case, to be made for this new ascesis. If,as Oliver james, Zizek and Supernanny have shown, unlimited
license leads to misery and disaffection, them limitations placed on desire are likely to quicken, rather than deand,it“ Fisher, Mark. Capitalist Realism:
Is There No Alternative? John Hunt Publishing, 2009. p.80
105- “The long, dark night of the end of history“. Idem; p.80
106-” Edward Joseph Snowden (born June 21, 1983) is an American whistleblower who copied and leaked highly classified information from the
National Security Agency (NSA) in 2013 when he was a Central Intelligence Agency (CIA) employee and subcontractor. His disclosures revealed
numerous global surveillance programs, many run by the NSA and the Five Eyes Intelligence Alliance with the cooperation of telecommunication
companies and European governments, and prompted a cultural discussion about national security and individual privacy.” https://en.wikipedia.org/
wiki/Edward_Snowden
107- “The Facebook–Cambridge Analytica data scandal was a major political scandal in early 2018 when it was revealed that Cambridge Analytica
had harvested the personal data of millions of peoples’ Facebook profiles without their consent and used it for political advertising purposes “in https://
en.wikipedia.org/wiki/Facebook%E2%80%93Cambridge_Analytica_data_scandal
108- “it seems to obvious to state that sleep requires periodic disengagement from network and devices in order to enter a state of inactivity and uselessness.
It is a form of time that leads us elsewhere than to the things we own or are told we need”. Crary, Jonathan. 24/7: Late Capitalism and the Ends of
Sleep. Verso Books, 2013 p.126
109- “It is a form of time that leads us elsewhere than to the things we own or are told we need”. Crary, Jonathan. 24/7: Late Capitalism and the
Ends of Sleep. Verso Books, 2013, p.126
110- “(…) sleep which at the most mundane level of everyday exeprience, can always reherse the outlines of what more consequential renewals and
bebinnings might be. “. Idem; p.128
pós-digital ou pós-moderno
76
Fig.33 e Fig.34
Madelon Vriesendorp with Rem Koolhaas from
Delirious New York e
Sam Jacob Studio Pasticcio Tower
A partir desse momento, passará a funcionar dentro do sistema da ‘interpassivity’ , tendo
uma utilidade muito limitada, como se o sistema se fechasse sobre ele.
Mais do que respostas sobre o que o pd pode vir a ser, importa reter que tudo
leva a crer que o sistema amplificará as suas condições de formação, consequentemente
levará à polarização de posições, como o pd. O resultado tanto pode ser que este passe
a ter uma força maior ou que se renda por completo ao sistema.
O contexto
111- “the general social phenomenon” Jencks, Charles. The Story of Post-Modernism.: Five Decades of the Ironic, Iconic and Critical in
Architecture. John Wiley & Sons, 2012. p. 3
112- “the cultural logic of late capitalism”. Idem; p.44
114- “the computer is for the Post-modernist equivalente to what the telescope and the microscope were for the modern world”. Ibidem; p.235
78
Fig.35
Andy Warhol’s self-portrait polaroids
121 in drag, 1981
pode ser utilizada para mentir” . É justamente
esta mentira que acontece quando o pd é
capturado pelo sistema, perde a sua ironia e
passa só a ser uma forma de afirmar o digital e
não de o criticar.
121-“irony has a possibel downside the double coding which asserts and critiques
a message at the same time can be used to lie” Ibidem; p. 109
A ironia é inerente a uma posição como o pd, pois ao ser mais próximo da
realidade é mais verosímil, mas isso implica ao mesmo tempo, que esta seja capaz de
suportar preposições que mais do que contraditórias entre si, são irónicas – como por
em causa o digital dentro digital. Procura, antes de mais, interpelar o observador para
que este se posicione e tente entender a ironia e o que esta polariza, para a partir daí
fazer juízos de valor. O pd é, antes de mais uma forma de crítica irónica do digital,
ou seja, este possui um“ ironia positiva e aprazivél “ que se posiciona em relação aos
falhanços da tecnologia que desta forma permite rir da concepção messiânica da
tecnologia, como modo de a pôr em causa. Mas é preciso ter em conta que a “a ironia
tem um lado negativo no qual o ‘double coding’ que afirma e critíca uma mensagem ao mesmo tempo
116- “the point to be stresses is the way that, under constant feedback and fulled by energy complex systems can attain even higher levels of organisation”
“arose with fractal and computer desing” Ibidem; p.169
117-“working simultaneously on many levels of both sysmbolism and use”.op p. 59
118 -“double coding (...)asserts and critiques a message at the same time”. op. cit; p. 109
80
Fig.36
Madelon Vriesendorp, Medusa Raft, c. 1978. Screen
print.
convencional ou a nossa realidade técnica e social ”.123 O pd permite-se aceitar tanto
o passado que mitifica, como o presente que apesar de querer mudar não renega e até de
um plausível futuro face ao qual já se posiciona. É o ‘layering’ que lhe permite assumir uma
posição com interesse que não é frágil, mas resiste ao corte transversal ou longitudinal.
“Um double take é uma recção adiada a alguma coisa surpreendente ou com um significado forte que
acontece depois de um falhanço inicial de reparar em algo fora do comum. Esta fotográfias paracem fora
do comum e é preciso um segundo olhar para as entender, já que existe um ‘estrangement’ entre o objecto
e as suas qualidades (isto é uma mascara)”124
123- “layering of cultures where it makes no sense to deny either past, and conventional beuty or the presente and current techincal and social reality”
Ibidem; p. 125
124- A double take is a delayed reaction to something surprising or significant after an initial failure to notice anything unusual. These
photographs seem unusual and require a second glance, because there is estrangement between the object and its qualities, (i.e. a
mask) in https://dangerousminds.net/comments/oh_you_pretty_thing_polaroid_portraits_of_andy_warhol_in_drag. Consultado a 25/09/2019
125- “the acknoweldgement of all diferences in all its wonderful and horrible richness“ op. cit p.24
126- “moreove, as an unfinished movement of five decades post- modernism is still contencious, and critics disagree over it’s meaning”. Idem; p. 69
127-“différence” que assim difere o seu significado continuamente “the meaning of anything, endlessly because it is never total or finished”.
Ibidem.; p. 69
o conceito pressupõe de “ uma noção romântica com alguma verdade
“,128 esta é uma noção fundamental para o pd, pelo modo como
permite uma revisão contínua dos seus niveis de operação, que
assim difere continuamente o seu significado. Assim o pd não é
um conceito fechado, mesmo depois de tudo o que escrevemos
ainda só esta vagamente definido, e isto deve-se precisamente a
essa forma como parece adiar constantemente a sua definição,
sempre num jogo de reacção a inovação.
128- “is obviously a very romantic notation with something truth in it” Ibidem; p. 69
84
Fig.37
Helena Almeida, Sem Título #1, 2010
Sobre as imagens 85
O que se associa com mais facilidade ao pd são imagens que enquanto forma
de produção cultural arquitectónica, têm multiplicado a sua presença nos últimos anos.
Como trabalho de campo sobre o pd, reunimos uma selecção destas imagens. As
razões da sua escolha e as condições de análise, desenvolvem-se em seguida.
Normalmente o que se conecta ao pd é uma estética visual própria, e
poderíamos dizer que é essa estética que se procurou mobilizar quando desenvolvemos
a selecção.
131- “ But one must admit an ellipsis in thought . Probably no more architects understand the post-modern sciences of complexity than gothic
architects understood the aquininian philosophy” Jencks, Charles. The Story of Post-Modernism.: Five Decades of the Ironic, Iconic and Critical in
Architecture. John Wiley & Sons, 2012 p.236
as figuras do pós-digital
86
Fig.38
Exemplo de estranhamento
maneira como participa na reorganização da produção cultural, o que é também uma
forma de gerir o seu conteúdo visual e transforma nas numa parte integral do pd.
Num segundo momento, não foi necessariamente uma corrente estética que
fundamentou a escolha, já que isso implicaria a repetição por oposição à diversidade
que se procurou reunir. O que se procurou fazer, pelo contrário, foi procurar as
imagens que tivessem sido capazes de absorver a estética do pd, de entender o seu
funcionamento e de lhe acresentar algo. Um reconhecimento visual das formas por si
só não é suficiente, da mesma forma que sobrepor um filtro haftone sob uma fotografia
não é a mesma coisa que fazer uma serigrafia do Roy Lichtenstein.
Esta adenda permite-nos, assim, não só olhar para estas imagens como uma
continuação da posição pd, mas como o seu produto directo.
De uma forma semelhante, tivemos que encontrar uma posição racional, para
fazer face ao número irracional que existe destas imagens, para sermos, assim, capazes
de participar nesta discussão. Definimos, por isso, uma selecção, enquanto forma de
circunscrever e reunir o que é relevante, o que é também uma forma de colocar a parte
a falar pelo todo. Decisão que assim acarreta o risco de silenciar porções relevantes,
mas julgamos ser a única forma de 'ter pé' em relação ao número praticamente infinito
de imagens. Por serem uma amostra apurada desta multiplicidade, têm a obrigação de
falar por todas as outras que ficaram de fora, dando azo a que o que digam, seja mais
expressivo e, por isso, mais relevante.
132- “all perceving is also thinking, all reasoning is also intuition, all observation is also invention”. Arnheim R. Art and Visual Perception: A
Psychology of the Creative Eye. 1974 . p. 5
133- “In order to study the irrational, it’s necessary somehow to take up a rational position. ”. Rossi, Aldo. “An Analogical Architecture.” A+
U-ARCHITECTURE AND URBANISM, no. 365 (2001) p.14
as figuras do pós-digital
88
Fig.39
Algumas das imagem que ficaram de fora da selecção
cada uma.
Se já temos o ‘quê’, não temos o ‘como’. O olhar que lançamos a esta imagens
procurou descrever o banal, o que é ou aparentemente seria, mais ou menos, evidente.
Isto sucede, não por um desserviço ao leitor, mas porque esta foi a forma encontrada
para produzir um estranhamento134 sobre a amostra que temos. A multiplicação destas
imagens significa também que a percepção que temos, já se tornou habitual. Estamos
habituados a vê-las e olhamo-las sempre da mesma forma.”Se começarmos a examinar
as leis gerais da percepção, vemos que a percepção se transforma num hábito, transforma-se num
automatismo”.135 É, esta reacção automática que se pretende ultrapassar, como forma
de contrapor a ideia de que “A habituação devora o trabalho, a roupa, a móbilia, a esposa, o
medo da guerra” .136 Ao estranhar o que se vê, ao partir de um lugar de desfamiliarização
podemos“criar uma ‘visão’ do objecto em vez de funcionar como um meio para o conhecer“.137
134- Por estranhamento entende-se “is the artistic technique of presenting to audiences common things in an unfamiliar or strange way in order
to enhance perception of the familiar. According to the Russian formalists who coined the term, it is the central concept of art and poetry.” in https://
en.wikipedia.org/wiki/Defamiliarization. Consultado em 14/08/2019
135- “if we start to examine the general laws of percption we see that perception becomes habitual, it becomes automatic”. Adams, Hazard. Critical
Theory since Plato. Harcourt Brace Jovanovich College Publishers New York, 1992. p. 799
136- “habituation devours the work, cloths furniture, one’s wife, the fear of war”. Idem p. 800
137- ““it creats a” vision “ of the object instead of serving as a means for knowing it “ Ibidem p. 802
as figuras do pós-digital
90
Fig.40
Echo Pavilion Pezo von Ellrichshausen Milão 2019
É a partir da descrição do ordinário, que somos capazes de produzir um
estranhamento, e é este que nos permite olhar para estas imagens de novo e desmontá-
-las, analisando os seus constituintes, estabelecendo modos de pensar e de produzir
mensagens visuais, encontrando e distinguindo elementos comuns e díspares no
processo criativo. Este caminho permite perceber o que está por de trás da imagem, o
que se procura mostrar ou esconder e como o faz.“ Tive de especular onde não pude provar, e
usar os meus olhos onde não pude usar os de outros.”138
138- “ I had to speculate where I could not prove, and to use my own eyes where I could not rely on those of others”. Arnheim, R. “Art and Visual
Perception: A Psychology of the Creative Eye.”. (1974). p. 7
as figuras do pós-digital
Desenho de linha
3D
92
91
Colagem
Fig.41.1
Possibilidades de selecção
CAD
Illustrator
93
Photoshop
Fig.41.2
Possibilidades de selecção
nossa era - dourada de distinção entre o mesmo e o outro. Esta passagem cita ‘uma
certa enciclopédia chinesa’ na qual está escrito que os animais são dividos: (a) como
pertencentes ao Imperador, (b) embalsamados, (c) domesticados, (d) leitões, (e) sirenes,
(f) fabulosos, (g) cães vadios, (h) incluídos na presente classificação, (i) frenéticos,
(j) inumeráveis, (k) desenhados com um pincel fino, (l) et cetera,(m) que acabaram
de partir o jarro de água, (n) que de longe parecem moscas. Na admiração desta
taxionomia, o que aprendemos com um salto, é que por meios da fábula é demonstrado
como o charme exótico de outro sistema de pensamento, é a limitação do nosso próprio
pensamanto, e a impossibilidade rígida de pensar isso ”.139
Assim a categorização tem por base a estratégia compositiva, que é sempre mais
imaginada e silenciosa do que outros aspectos, à partida mais evidentes. Resulta que,
dentro da mesma categoria, existam imagens com resultados visuais diferentes já que a
mesma estratégia compositiva não garante, a priori, resultados visuais semelhantes.
139-“our thought that bears the stamp of our age and our geography—breaking up all the ordered surfaces and all the planes with which we are
accustomed to tame the wild profusion of existing things, and continuing long afterwards to disturb and threaten with collapse our age-old distinction
between the Same and the Other. This passage quotes a ‘certain Chinese encyclopaedia’ in which it is written that ‘animals are divided into: (a) belonging
to the Emperor, (b) embalmed, (c) tame, (d) suckling pigs, (e) sirens, (f) fabulous, (g) stray dogs, (h) included in the present classification, (i) frenzied, (j)
innumerable, (k) drawn with a very fine camelhair brush, (l) et cetera, (m) having just broken the water pitcher, (n) that from a long way off look like
flies’. In the wonderment of this taxonomy, the thing we apprehend in one great leap, the thing that, by means of the fable, is demonstrated as the exotic
charm of another system of thought, is the limitation of our own, the stark impossibility of thinking that.”. Foucault, Michel. The Order of Things.
Routledge, 2005. p. xvi
140 - “sensed yet unreal, imaganed yet silent; it is not a discurse but rather a meditation, on them”. Rossi, Aldo. “An Analogical Architecture.” A+
U-ARCHITECTURE AND URBANISM, no. 365 (2001) p.13
95
Cada uma das imagens que vai ser analisa no
presente texto pode ser vista com mais detalhe
no segundo volume, que se organiza segundo a
mesma ordem do texto.
Quadro 1
A -Francesca Torzo. N16 - podere la pianella. Procchio, Itália. 2017.
Construido
97
(G)
“nem tudo é visível e tangível - para ser explícito - sob o visual está o invisivel e o incompreensível” .141
Foi este invisivél que está sobre o visível que se procurou localizar.
Textura
98
O poder que a textura pode ter está bem explícito na planta (A), na qual
julgalmos ser capazes de tocar. O desenho da planta é composto exclusivamente
por planos de cor, aos quais é sobreposta a mesma textura para marcar os diferentes
espaços: os quartos: a vermelho, o espaço comum: a verde-claro, etc. A cor acentua a
simetria que compõe o projecto, presente quer a um nível macro - entre as divisões -
quer a um nível micro - dentro das próprias divisões. A sobreposição de uma textura
vincada não só ajuda a esconder os momentos em que a simetria é quebrada (canto
inferior esquerdo), como contribui também para formar uma ideia muito presente
141-” not everything is visible and tangible – to be explicit – under the visual and comprehensible lies the invisible and incomprehensible” idem;
142 - “1. Texture takes a road parallel to that of the elements and thereby supports them in a manner primarily, or i tis used
2. In accordance with the principles of contrast; that is, it stands in external opposition to the elements and supports them inwardly”. Kandinsky,
Wassily, . Point and Line to Plane. Courier Corporation, 1979. p. 145
as figuras do pós-digital
97 99
Fig.42
Construção de uma imagem no photoshop a partir de
um modelo 3D básico que se completa com elemen-
tos retirados da internet muitas vezes sem relação
expressa com o projecto em questão.
Quadro 1
A -Francesca Torzo. N16 - podere la pianella. Procchio,
Itália. 2017. Construido
B-Maio. 22 dwelings housing block. Barcelona, Espanha.
2013. Construido
C -FALA atelier. Casa na rua do Paraiso. Porto, Portugal.
2017. Construido
D- Opere Varie drawing for De Vylder Vinck Taillieu.
Karel de Grote. Antwerpen, Bélgica. 2016. Concurso
E- Kola. La Base. Chapel of San Filippo Neri. Turin,
Itália. Concurso
F- Monadnock. Atlas House. Eindhoven, Holanda. 2016.
100 (G)
Este efeito de irrealidade que a textura pode ter é escalado na imagem dos
FALA (C), que pela sua sobreposição a uma fotografia, aumenta o contraste entre
partes, entre o real fotográfico e os restantes elementos, notoriamente falsos, como as
figuras de Edward Hopper ou a textura da mármore. O que é mais paradoxal aqui é
esta vontade de afastar o desenho do real, de criar uma imagem que não procura ser
verdadeira.
Os Opera Varie (D) especializaram-se na produção deste tipo de imagens
nomeadamente para outros arquitectos. Aqui, somos confrontados com o espaço
interior totalmente caracterizado, sabemos o número de pilares, vigas, janelas, 101
os caixilhos,o lugar dos candeeiros ou dascortinas. No entanto, a imagem é
eminentemente simples, todas as superfícies são detalhadas por manchas de cor – o
chão e o tecto a azul claro, as vigas e as paredes a branco e as umbreiras das janelas
num tom avermelhado, para criar contraste. Esta condição é interdependente da
forma de produção, que parte de um modelo 3D simples que é depois importado
para o espaço do Photoshop, onde se atribui uma cor a cada camada e cada camada a
uma superfície, como o tecto [ver Fig. 42.] O método de produção é simples já que
não exige o ajuste cuidado de texturas materiais, mas utiliza o que esta disponivél na
internet ajustando-as o melhor possível a dimensão da superfície, mesmo os objectos
representados exigem pouco trabalho, visto que são também, rapidamente, importados
da internet, recortados e escalados para serem coincidentes com o projecto.
143- “layers are like sheets of acetat paper. You can see through transparente áreas to the layers bellow”. Manovich, Lev. Software Takes Command.
Vol. 5: A&C Black, 2013. p. 145
We will never be post-digital
as figuras do pós-digital
ngages in a phase of
s to fill up the image canvas.
103
(G)
144- “sometimes layers don’t contain any apparent contente. For exemple, na adjustment layer holds color or tonal adjustment that affect the layer bellow.
Rather then edit pixels directly, you can edit na ajustment layer and leave the underlying pixels unchanged”. Idem; p. 142
Quadro 2
A-Gaaga architecten. Leiden Pearls. Holanda. 2018. Em curso
105
(G)
coincidentes com a materialidade do projecto ser, mais ou menos comum, este caso
é bastante mais incompreensível. O que existe aqui é uma vontade de distanciamento
da restante produção de imagens, toma-se uma posição dissonante que se refugia num
suposto passado. É difícil de perceber a forma da sua produção porque este gabinete
é conhecido por contratar pintores e por se apresentar em exposições, muitas vezes,
com desenhos à mão, normalmente aguarelas. No entanto, não deixa de ser complicado
conciliar os tempo de produção de um quadro a óleo com os da arquitectura, mas
é justamente esta indeterminação que estas imagens procuram, como forma de se
afirmarem.
A condição da textura é o que permite a estas imagens terem uma índole final. A
imagem tem uma complexidade visual que nos permite encará-la como o resultado final
de um processo. A textura pode funcionar de várias formas, movendo-se entre o irreal e
o real. Quando não é utilizada de uma forma literal que procura mimetizar os materiais
constituintes, funciona como uma forma a amplificar as qualidades plásticas do espaço.
E, mesmo nas imagens em que é utilizada de uma forma realista, não o faz de uma forma
explícita, mas implícita, contribuíndo sempre para a sensação transversal de irrealidade
nestas imagens. Simultaneamente, é uma forma de defesa contra um tipo de desenho que
é iminentemente simples, assentando em manchas opacas ou simples desenhos de linha, a
textuea acrescenta, assim, uma camada de complexidade visual a estas imagens.
106
Colagem
107
(G)
Pode ser difícil olhar para a figura do gabinete de Charles Holland (B) e
reconhecer de imediato uma colagem. A imagem é homogénea, não se identificam
elementos dissonantes. E é precisamente aí que está o seu poder. Numa imagem de
fundo, que neste caso parece ser uma pintura neorromântica, semelhante ao trabalho
de John Constable, adiciona-se uma vista exterior do projecto e inserem-se elementos
específicos ao contexto, como os moinhos (o projecto é na Holanda), elementos
de escala (as figuras humanas ou as árvores de fruto) que ajudam a pormenorizar
completar o desenho.
Esta imagem é um bom exemplo de como o desenho se pode transformar num
acto curatorial, apropriando-se de fragmentos e até de imagens inteiras, como a de
fundo, e juntando-os de tal forma que o projecto e só mais um elemento, já que tudo
está igualmente detalhado. A imagem é capaz de manter a sua aparência análoga pela
concordância entre a luz, textura e escala, produzidas delicadamente num contigente
digital e que permite, por exemplo, manipulaveis pela utilização e sobreposição de
diferentes camadas dentro do photoshop. No entanto, a figura da casa ocupa uma
porção reduzida face à totalidade da cena e não é particularmente reveladora das
suas características formais (quantos pisos tem a casa exactamente ? 2 ou 3 ?). Essa
108 carência não impede a imagem de cumprir a sua função, já que o poder destas colagens
seamlless é o de serem capazes de se associar perfeitamente com o fundo. Estas
colagens funcionam justamente por associação. Ao inserir o projecto num sistema
de representação já estabelecido, como um quadro, automaticamente este adquire as
mesmas qualidades que o sistema já revelava, e é uma forma de qualificar a atmosfera
mais do que o material. Este tipo de desenho é mais complexo de produzir e requer a
produção de uma modelo 3D detalhado (as janelas, os caixilhos, o zinco no telhado),
ao qual se vai depois sobrepor texturas num ambiente de Photoshop, onde também se
juntam e atestam os diferentes elementos constituintes.
109
(G)
145- “We can assert, for instance, that they must be field processes. This means that whatever happens at any place is determined by the interaction
between the parts and the whole” Arnheim, R. Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye. University of California Press. (1974)
p. 17
Quadro 2
A-Gaaga architecten. Leiden Pearls. Holanda. 2018. Em curso
111
(G)
cores garridas que se junta às manchas que desenham o terreno e o edifício (cinzento,
à esquerda), criando uma imagem com cores fortes, mas que é capaz de manter
harmonia. A perspectiva e a escala dos elementos está ajustada de forma correcta.
No entanto, esta imagem é ostensivamente falsa, nomeadamente pelas cores
que se sobrepõem, mas mantém um grau de conexão com a realidade grande. Esta é
uma vantagem do digital: é possível utilizar só uma fotografia que se esconde atrás de
uma camada de cor, já não é preciso desenhar os elementos. Ao mesmo tempo, permite
ter um rigor maior no desenho.
113
(D) (E)
(F)
Superfície
114
146-“No more than one thing at a time can ever be directly visible in any one spot of the surface” Arnheim, R. Art and Visual Perception: A
Psychology of the Creative Eye. University of California Press (1974). p. 164
147-“A deformation always conveys the impression that some mechanical push or pull has been applied to the object, as though it had been stretch or
compressed, twisted or bent”. Idem; p. 259
as figuras do pós-digital
115
111
Fig.44
Comparação da Imagem dos FALA, de como seria o
resultado se fossem dadas sombras.
Quadro 3
A - Caruso St. John. Stortorget, Kalmar. 1999–2003. Construido
B- Edifício com três apartamentos. FALA atelier. Construido
C-Point Supreme. Roman Villa. 2016. Projecto de investigação
D- 2A+A/P e LGSMA. Museu di Lima. Peru. 2016
E- OMMX. Artist Live Work. Londres, Reino Unido. 2016
116
(D) (E)
(F)
No caso dos FALA atelier (B) somos confrontados com um espaço interior
desenhado de forma pormenorizada um quarto com um cobertura em duas águas,
duas janelas e duas figuras ocupam o espaço. A vista em perspectiva, algo acelerada,
é trabalhada através da sobreposição de planos texturados que procuram representar
materiais. Os objetos que animam o espaço estão unificados sobre cores opacas.
Apesar de não haver nenhum elemento que seja iminentemente falso, a imagem
transporta um sentido de irrealidade, de desconexão com a realidade material muito
grande. A figura que se senta na cama é retirada de um quadro de David Hockney ‘Peter 117
getting out of nick’s pool’ (1966) o que não é uma coincidência já que imagem e quadro
têm algo de semelhante.
“ São o inicio da pesquisa de Hockney: para a sua apaixonada e obsessiva tentativa
de transformar o sólido, o temperamental, o mundo fugaz em duas dimensões. Como
é que as coisas se parecem, realmente, ao olho estereoscópico, que está conectado ao
coração e ao cérebro? Esquece a camâra e a sua rígida visão ciclópica. Há uma
maneira melhor de ver, mas pode demorar uma vida inteira a dominar. ” 148
Existe na obra de Hockney, principalmente nos quadros da fase naturalistas
de Los Angeles, uma luminosidade constante e diáfana. Esta pode ser uma forma
de integrar a procura de “ a questão central foi de que forma de retratar os corpos no espaço
capturando simultaneamente algo da relação entre eles, da emoção presente ”.149A ausência de uma
fonte de luz direcionada cria ambiguidade espacial porque renega a profundidade,
uniformizando a imagem, este efeito, o mesmo que é capturado FALA, que o ampliam
ainda mais negando a sombra própria aos objetos, optando por nunca representar
o plano de sombra, da escada, da cama ou mesmo da luz que entra pela janela o
que funciona para desmaterializar a volumetria [ ver Fig.44]. A luz quando existe é
representada como uma mancha branca que não tem qualquer efeito no espaço em
volta. A par, a esbelteza exagerada dos objetos, como a escada que é representada só
148- “Instead, they are staging posts in Hockney’s great quest: his passionate, obsessive attempt to remake the solid, moody, fleeting world in two
dimensions. What do things look like, really, to stereoscopic human eyes, connected to a human heart and brain? Never mind the camera, with
its rigid Cyclopean vision. There is a better way of seeing, though it might take a lifetime to master.” in https://www.theguardian.com/
artanddesign/2017/jan/13/los-angeles-lovers-and-light-david-hockney-at-80. Consultado em 04/04/2019
149- “the central question was how to depict bodies in space while simultaneously capturing something of the relationship, the currents of emotion between
them.” Idem;
Quadro 3
A - Caruso St. John. Stortorget, Kalmar. 1999–2003. Construido
118
(D) (E)
(F)
150-” light creates space” . Arnheim, R. Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye. University of California Press Berkele
(1974) p.311
151- “ all gradients have the power to create depth and gradients of brightness are among the most efficient”. Idem;
152- “but the light sources may also interfere with one another by partial increasing or reversing the other’s effects. The overall result can convey visual
disorder”. Arnheim, R. Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye. University of California Press (1974) p. 315
Quadro 3
A - Caruso St. John. Stortorget, Kalmar. 1999–2003. Construido
120
(D) (E)
Esta forma de produção sem mais elementos que a suportem gera este
aspecto que associamos à colagem mesmo sem juntas. Este trabalho com camadas é
económico de produzir porque permite a replicação imediata de elementos como a
da estrutura metálica, que é recortada do seu contexto original e escalada uma vez e
depois é espelhada, o mesmo acontece com as luzes em cima que são distorcidas para
informarem a variação da direção e matizadas para criar a sombra, partindo sempre
do mesmo elemento original. O que faz com que os objectos percam a sua sombra
própria. A superfície, neste caso, funciona como uma base semelhante ao papel onde se
recortaram e colaram elementos, a facilidade do digital é a de unir a sua escala, mas sem
outros artifícios a suportar a imagem, cria-se uma superfície flutuante, que neste caso,
era o efeito pretendido, mas este nem sempre é o caso.
As duas últimas imagens, dos 2APA (D) e dos OMMX (E) são semelhantes
porque utilizam o mesmo princípio de construção: um desenho axonométrico em
que dois dos eixos tem direcções coincidentes, normalmente o X e Z, cria uma forma
particular de deformação que acontece porque a planta e a profundidade passam a
existir no mesmo plano, numa superfície aparentemente contínua,” o que faz com que a
imagem se vire para o observador como uma parede, expondo generosamente todo o seu conteudo para
a sua exploração ao mesmo tempo que o exclui “ .153 Estas duas imagens têm esse efeito não 121
somos capazes de nos localizarmos face a elas, só podemos olhar.
No caso dos 2APA (D), a planta de coberturas é simultânea à profundidade,
criando a tal superfície contínua, aqui com o plano frontal, que serve para estabelecer
um efeito inquietante. A disposição de elementos como o carro e as árvores é feita
verticalmente e não em planta – nunca somos exactamente capazes de determinar a
direcção da imagem. Este efeito é amplificado pela forma redonda da imagem que
suprime os vértices, criando a impressão de ser uma vista parcial para outro lugar,
como quando se espreita por um períscopio.
153-”makes the picture face the viewer like a flat wall, generously exposing all od its content to his exploration but at the same time excluding
him“Arnheim, R. Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye. University of California Press (1974); p. 294
Quadro 4
A -Motoproprio. House in Volterra. Itália. Investigação. 2015
122
(D)
Enquadramento
123
154- “deformation is the key factor in depth perception because it decrease simplicity and increases tension in the visual field” Idem; p. 259
155- “this example reminds us that for some special purpose, the draftsman may deliberately choose a view that misleads and hides rather than informs”
Arnheim, R. Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye. University of California Press (1974); p. 109
Quadro 4
A -Motoproprio. House in Volterra. Itália. Investigação. 2015
124
(D)
126
(D) (E)
De uma forma, mais ou menos, óbvia esta categoria reúne imagens em que
o uso de elementos de linha é a principal meio de construção da imagem. A linha é a
forma mais escorreita e comum na representação arquitetónica e mesmo no ambiente
digital continua a ser a dimensão base dos desenhos. A linha continua a ser a mãe de
todas as possibilidades “ Esta é a linha recta cuja tensão representa a forma mais concisa de
potencial de movimento infinito”156 , podendo ter diferentes encarnações: “aguçada e activa”,
“atabalhoada e passiva”, “fria e controlada”.157O uso da linha parece ser agora mais irónico,
servindo-se da vontade ideográfica da imagem para a utilizar de uma forma nostálgica
que evoca os desenhos a mão, expondo a sua forma de produção digital ao mesmo
tempo que a contrariam.
156- “this is the straight line whose tension represents the most consise form of the potentiality from endless movement”. Kandinsky, Wassily, . Point
and Line to Plane. Courier Corporation, 1979. p. 57
157- “Sharp and highly active”, “ clumsy weak passive”, “ cold and controlled”. Idem; p. 72
as figuras do pós-digital
123
128
Fig.45
129
(D) (E)
Num outro extremo, temos o desenho dos Fosbury (C), no qual tudo é
representado com um nível de detalhe minucioso – os quadros na parede, o maço de
tabaco aberto, o ecrã do computador etc…À esquerda, uma criança brinca, com o que
parece ser um icosaedro. A vista da janela, tem alguma coisa de estranho e os prédios
mais próximos estão menos detalhados que os elementos mais afastados, o que cria
uma percepção inversa da profundidade de campo. Utiliza-se uma linha mais grossa
para criar profundidade no caixilho; a alternância entre detalhe e construção geral dá
a profundidade de campo no interior, a sobreposição de tramas cria a impressão de
volume (o candeeiro). Aqui, a mudança não está na instrução mental que foi preciso
localizar, mas na capacidade de transposição da forma de fazer manual para um
ambiente digital, ainda mais que no exemplo anterior.
131
(D) (E)
espelha muito bem, mas não deixa de ser necessario também um trabalho técnico não
necessecariamente conivente com o set up do software.
Por oposição, (E) dos OFFICE KGDVS, parece ser de extrema clareza, mas
não o é. Uma vista axnométrica localiza o observador num ponto no chão e o volume
desenvolve-se numa linha praticamente continua à sua volta. Uma linha mais escura
132 nos vértices expõem o ponto em que o edifício toca no chão. Um olhar mais atento aos
elementos mais finos que se dispõem ligeiramente a direita, vê um órgão, uns degraus
que serão o púlpito e o resto das linhas talvez bancos. Estes elementos impõem um
certo nível de complexidade na imagem, que se afigura difícil de ler, já que o programa
se desenvolve num vazio e não dentro da massa do edifício. Este surge suspenso e
esconde a simbólica cruz que facilitaria a identificação do espaço como uma igreja. A
sua forma de produção é também curiosa, já que parte de um modelo 3D ao qual se
aplica um comando chamado flattenshot que cria um desenho de linha. Por partir de um
3D é necessariamente uma tentativa de simplificar do que se começou a desenhar.
133
(G)
Exibição
134
“e·xi·bi·ção |z|
(latim exhibitio, -onis)
1.ato ou efeito de exibir(-se), de mostrar(-se) ou pôr(-se) à vista
2.apresentação ou exposição de algo perante um público
3.demonstração; patenteação
4.DESPORTO desempenho de um atleta ou de uma equipa numa determinada prova ou partida
5.alarde; ostentação”158
A condição de exibição implica, não só mostrar como também ser visto, dar a
ver. Neste caso, a associação que une estas imagens é a procura de dar a ver, de mostar.
Normalmente esta condição esta relacionada com a exposição do uso ou de possíveis
usos do espaço. Nessa medida, são imagens ostensivas que impõem a figura sob o
fundo e criam um desequilíbrio face ao que seria esperado. Por vezes, aproximam-se
mais de frames de filmes do que de desenhos de arquitectura.
135
(G)
para o armário, as tangerinas para cima da mesa) - existe uma condição de movimento
implícito. Apesar da sua dimensão exígua, as imagens são bastantes detalhadas, do
papel higiénico aos botões do fogão. Caracterizar o uso, desta forma detalhada, é quase
sempre uma forma de interpelar o espectador. Aqui, essa interpelação é deslocada
pelo anacronismo da imagem, que paradoxalmente funciona para dar mais força à
composição.
Na imagem (B) somos confrontados com duas figuras, no que parece ser um
estado de semi-transe, provocado pela luz zenital. No plano de fundo, uma textura
de madeira desenvolve-se em vários tons e desenha todo o espaço, do chão ao tecto.
A composição é equilibrada, as linhas do tecto asseguram a perspectiva, as figuras
estão perfeitamente centradas, o espaço que se detalha é simples, mas bem composto.
A imagem funciona no exagero, sobrecarrega a presença da luz e dá-lhe um ênfase
imenso através do posicionamento das figuras. Usa a sua retórica para exibir um
uso que se assume à partida como irrealista, mas que é capaz de marcar presença. A
imagem reconhece a simplificação na utilização constante da mesma textura, ajustada
cuidadosamente num programa de renderização. Depois, o desenho é terminado num
ambiente de pós-produção, onde se desenham as figuras e se pormenorizam a imagem
(as almofadas no banco).
Existe outro tipo de posição face a esta condição da exibição, e que consiste em
esgotar todas as suas encenações possíveis. O desenho dos Yellow Office (C) procura
esse efeito, através da aglutinação de várias imagens pequenas, compostas de forma
136
visualmente semelhante, dando a ideia de que é o observador se move em relação ao
projecto, apesar de nunca sair do lugar. A utilização de vistas picadas, mas que mantêm
a perspectiva, e de linhas de pavimento tão marcadas, permitem entender o movimento
e criar uma imagem de conjunto da totalidade do projecto. Cada imagem é em si
bastante simples, utilizando manchas azuis para caracterizar as pessoas e formas para os
objectos (o branco com linhas de sombra vincadas que dispõem na praça). Este efeito
serve para ilustrar as diferentes formas de apropriação que a inserção de diferentes
objectos, num espaço de praça, irá criar.
Esta condição de expor o uso é, às vezes, tão forte que se sobrepõe ao próprio
projecto, como no caso dos KWY (E) em que a massa de pessoas que nadam ocupa
¾ da imagem, minimizando a presença do que se pretende construir, no caso a estufa
Quadro 6 A- kola. Simulacrum. Concurso
137
(G)
Esta ideia de caracterizar o uso é também muito presente em (F), dos Gosplan
na qual duas coloridas figuras ocupam o interior de uma casa. A imagem tem um
ar cómico e é reminiscente de um cartoon: a sala, a cozinha, a mesa com uma só
cadeira, o gato na janela, as escadas demasiado finas, a figura da mãe, que nos interpela
directamente e parece ser incapaz de limpar o chão, apesar do número de frascos que
a rodeiam; ao lado uma criança indiferente lança bolhas de sabão. Esta personificação
excessiva agarra toda a nossa atenção, apesar de o fazer de uma forma estranha: ser
incapaz de limpar o chão não é a melhor publicidade para um projecto. Precisamos de
algum tempo para perceber que a cozinha é bastante pequena e que dificilmente alguém
se conseguiria sentar no banco que apoia a mesa. A atmosfera tem mais força do que
as qualidades formais, mesmo quando estas estão a nossa frente. Cria-se um efeito
semelhante ao cartoon, uma cena semi-realista, exacerbada para propósitos cómicos
que aqui funciona como uma máscara, que dá interesse a um projecto que é em tudo
banal. A aceleração da perspectiva que suporta a imagem parece ter sido criada no
ambiente de Photoshop, que não sendo um programa de render permite uma maior
liberdade.
Um exemplo intermédio entre estas duas dialéticas é a imagem dos Gosplan
(G) para o concurso do Guggenheim de Helsínquia. A imagem divide-se em três
tiras verticais em que a justaposição vai tendo diferentes encenações, já que só pela
138 continuidade entre tiras se completa o desenho do edifício. A base é sempre a mesma:
uma vista do edifício tirada a partir de um ponto no rio. O que se modifica mais do
que a forma de desenhar o edifício, são os diferentes ambientes que se expõem. Na
secção direita a palavra glamour, o medalhão amarelo e o zeplim no topo do edifício
indicam um tipo de uso muito diferente, da porção central em que o dia se substitui à
noite e uma série de pessoas dispostas na fachada transparente, subtituem o ambiente
festivo da secção anterior. Na última secção, à esquerda, vários padrões emergem para
animar o alçado. Neste caso o desenho alinha-se com o conceito do projecto, onde se
pretendia desenhar um alçado relativamente simples, para suportar os diferentes usos
possíveis do museu. A produção é semelhante, ao descrito anteriormente, conjugando
desenho vectorias com o Photoshop.
Apesar do foco destas imagens parecer ser lateral à materialização da obra, isso
não é necessariamente verdade. Elas servem-se é de um efeito exacerbado que enfatiza
a condição do uso, de forma mais ou menos, realista, em benefício das qualidades
formais. Onde “ em vez de se voltarem para o observador perpendicularmente ou obliquamenteo,
o cone da perspectiva central abre-se como uma flor para o observador, aproximando se directamente
e, quando establecido perpendocularmente tornando o eixo da figura coincidente com a linha de visão
do observador (...) isto explica o reconhecimento do observador é ao mesmo tempo uma imposição do
Quadro 7
A- Other architects. Gully House. Sydney, Austrália. Em curso
139
(D) (E)
Verde
140
Por Verde entendemos as imagens onde estivesse presente uma vontade latente
em expor elementos naturais, como árvores, arbustos ou flores e outros elementos.
Não necessariamente tons de verde, mas um tipo especifico de uso. Por norma estes
elementos, rodeiam o projecto mas não fazem parte dele. São condições pré-existentes
a que se procura apelar, para caracterizar o projecto e consumar a imagem.
A imagem que talvez exponha melhor esta condição é (A) em que somente
conseguimos discernir o que parece ser uma janela adjacente a uma parede, distinta do
chão graças a uma mudança subtil de tons e o que pode eventualmente ser um caixilho
(a cinzento mais escuro). Da janela, o que se vê é o fragmento de uma paisagem de
Henri Rousseau, copiada e colada, directamente sofrendo apenas uma modificação –
o preto e branco - no que é de resto uma apropriação completa. A imagem gera um
contraste entre a calma interior e uma profusão de elementos no exterior que permitem
intuir a intenção do projecto, mas que nada revelam da sua composição.
159- “instead of facing the viewer perpendicularly or obliquely, the funnel of central perspective opens like a flower toward the observer, approaching him
directly and, when dired symmetrically, by making the picture’s central axis coincide with the viewer’s line of sight (…) this explicit acknowledgment of
the viewer is at the time a violent imposition upon the world represented in the picture”. Arnheim, R. Art and Visual Perception: A Psychology of the
Creative Eye. University of California Press (1974). p. 294
as figuras do pós-digital
135
141
Fig.46
142
(D) (E)
Este ênfase nos elementos verdes está presente e é amplificado pelo desenho
do Assemble (C). Os tons quentes das paredes contrastam com o verde escuro
presente, tanto no interior, como no exterior. O modo de desenho procura imitar
a textura do pincel, condenando a imagem a um efeito que, apesar de expressivo, é
pouco conciso. Neste caso, o projecto é para um Jardim no exterior de um, palácio e
inclui, tanto espaços interiores, como exteriores. O que está ausente desta imagem é o
trabalho do arquitecto propriamente dito. Não há menção ao mobiliário urbano nem
a algum dos 1200 azulejos desenhados para o projecto. A ideia que sobressai é a da
função, um jardim. No entanto, a imagem serve para clarificar a atmosfera do projecto,
veiculando uma ideia precisa da sua atmosfera.
143
A imagem (D) mostra um detalhado num desenho de linha uma cena interior
em acelerada perspectiva. Revela, à direita uma espécie de palco, texturado a cinzento;
do lado oposto, duas entradas; no fundo uma janela aberta e uma cortina esvoaça (no
centro à direita). Uma profusão de diferentes tipos de folhas rodeiam a imagem, num
enquadramento semelhante a um quadro romântico que enquadra a imagem e cria um
foco central, reforçado pela abertura da cortina e pelas linhas do chão. A criação de
um foco tão preciso permite caracterizar formalmente, o espaço desde as texturas ao
desenho da cortina, ou à materialidade do tecto. A imagem é precisa na forma como
coloca o observador e depois compõe a cena a partir deste ponto de vista.
Estes elementos, que definimos como verdes, podem também ser usados
como elementos compositivos como acontece em (E) dos OFFICE KGDVS.
Uma cuidadosa disposição de árvores secciona o alçado,
primeiro ao centro, e depois em fracções menores. O efeito é
estudado e ajustado na disposição de camadas num ambiente
de manipulação fotográfica, permitindo dividir o olhar sobre o
edifício. A distribuição longituidal do programa, cria uma grande
massa horizontal grande que as árvores, a presença do riacho,
os pássaros (no cimo) e a própria sectorização da imagem em
3 fracções (chão, edifício, céu), ajudam a dissolver de maneira
equilibrada.
146
A leitura deste capítulo deve ser acompanhada
pelo argumento visual presente na segundo
volume - o caderno de imagens.
a rejeição do real
75
148
Fig.47
O digital tem uma capacidade imensa de tornar o real
em falso.
“Dá-se demasiado valor à realidade”.160
149
Declinações
150
Fig.48
Fala atelier Casa na rua do Paraiso.
visual, responsável pelas semelhanças que existem entre elas. São os limites dessa
verosimilitude que une a escolha das imagens aqui reunidas, e é também o que
as une sob o que pode ser considerado como trabalho de campo do pd. Podíamos
continuar, e dizer que este estilo se baseia no uso de cores primárias, no recorte directo
de fragmentos, na utilização de texturas vincadas e que se concentra em desenhar cenas
simétricas. Seria perfeitamente possível definir com exactidão o estilo pd. O que se
põe em causa é a operatividade desta montagem. O estilo é uma grandeza nominativa,
identifica o que vê com um nome. “há alguma coisa de imediato, em outras palavras, sobre a
percepção de estilo neste sentido formal”161. Apesar do pd ser um estilo, caracterizá-lo mesmo
de um modo claro e rigoroso, só permitiria traçar um série de normas para identificar
este tipo de imagens e, eventualmente, até produzi-las, nada que um olhar atento a estas
40 imagens, não permitisse fazer. O potencial desta montagem acabava aí. Uma vez,
definido o estilo, o nosso trabalho estaria feito, e teria sido, talvez, pouco útil.
Assim, podíamos começar por estabelecer que: o verde é uma figura retórica
a que se recorre, pontualmente, para conferir a estas imagens um sentido expressivo e
figurativo grande, uma forma de personificação de um interesse ecológico tão actual.
151
A textura, por sua vez, funciona como uma forma de dar profundidade a
estas imagens, que pela sua forma de produção e composição não teriam. É uma
máscara que se sobrepõe e lhes permite um nível de complexidade maior, na medida
em que se cobrem estas imagens sob um véu de indeterminação quanto à sua origem
e proveniência. A superfície, na forma como suprime dimensões e nivela a imagem,
exprime uma vontade de simplificação. Se esta simplificação tem em parte motivos
técnicos, já que de uma forma semelhante ao desenho à mão, quanto mais complexa a
imagem mais domínio técnico exige, não deixa também de ser uma escolha de quem
desenha para criar distanciamento em relação à realidade.
O uso da linha parece ser preponderadamente nostálgico, já que nesta nova
encenação, não se conforma a um novo uso, mas utiliza os mesmos mecanismos
do desenho à mão. Trabalhando, assim, por contraponto à configuração do próprio
software que utiliza, só para conferir mais rigor e precisão ao desenho. A exibição, na sua
condição dialética de mostrar e ser visto, procura criar uma vontade de identificação,
entre o objecto, quem o usa e o sujeito que vê a imagem. A colagem é uma espécie
de vontade de imperfeição, que amplia voluntariamente as diferenças entre elementos
constituintes, quer pela ênfase que dá as juntas, quer pela maneira como desloca a
imagem para outros sistemas de referência. O enquadramento, pela forma como se
processa dentro do digital, tem o propósito de ser parcial, de afirmar o desenho como
distante, como algo outro, na forma como monta a imagem.
161- -”There is something immediate, in other words, about the perception of style in this formal sense” Alpers, Svetlana. Style Is What You Make It:
The Visual Arts Once Again. 1979. p. 138
a rejeição do real
152
Fig.49
Translations from Drawing to Building and Other
Essays
que lhes são coincidentes, codificam determinados aspectos. Podíamos resumir ainda
mais e definir da seguinte forma o modelo ou paradigma que o pd cria:
O verde é uma figura retórica.
A colagem serve para criar descontinuidades visuais.
A exibição é a vontade de identificação.
A linha é a nostalgia.
O enquadramento é a acumulação de representações parciais.
A textura é a máscara do digital.
A superficie é a vontade de simplificação.
O verde enquanto figura retórica baseia-se no exagero que, pela forma que
assume, não é nem nunca procurou ser materializável. A colagem é uma forma de
impor descontinuidades visuais, de coloca em evidência os elementos constituintes
e por isso também a sua forma de produção. A linha é uma maneira de polarizar 153
informação, que ora a simplifica, ora a complexifica, distanciando-se sempre do real. A
exibição funciona como um truque que foge do que seria o espectável para um desenho
de arquitectura – a representação do uso ideal (realista) - e prefere descomprometer-
-se da realidade, mascarando o uso com outro tipo de atributos. A superfície é uma
mentira que se conta dentro do digital para se poder simplificar, de forma excessiva
ou pelo menos desnecessária, a imagem. A textura, ao mascarar o modo de produção
da imagem, funciona como uma forma de deslocar o conteúdo visual da imagem para
outros imaginários normalmente distantes do digital. Para outros modos de produção, o
seu exagero é uma forma de reafirmar a falsidade do representado. O enquadramento,
na forma como conjuga os diferentes elementos, é uma medida para completar estas
imagens, de lhes conferir um aspecto completo e complexo. E, apesar de ser bastante
eficiente na forma como actua, fa-lo sempre segundo uma condição irrealista, que tanto
se aproxima de um enquadramento fotográfico como se afasta para outros universos.
154
Fig.50
Stan Allen. Venice Biennale 2016 : A vertical botanic
garden.
e que o digital também não veio resolver esse problema. Escolhem, por isso, rejeitar a
realidade, e desenhar de uma forma descomprometida. Mais, na forma como acentuam
o seu carácter falso parecem querer evidenciar esta impossibilidade e jogar a seu favor.
155
O que permite
Se o que une esta seleção é a rejeição do real, a próxima questão que se coloca
é: o que é que esta rejeição permite fazer?
O desenho é o trabalho do arquitecto e o meio sobre o qual exercem o seu saber.
“Como regra os arquitectos não constroem. Desenham, escrevem, anotam, fazem diagramas,
maquetas, mapas, croquis, fotografias, animam e de outras formas visualizam objectos,
espaços e territórios; fazem apresentações visuais e verbais; compilam analises visuais, escritas e
relatórios; produzem instruções visuais e escritas”.162
Os arquitectos não trabalham directamente com o objecto final, mas sempre à
distância e o desenho é o processo que permite mediar e negociar o afastamento que existe
entre estas duas realidades a material e a do pensamento do arquitecto.
162- “As a rule, architects do not build. They draw, write, annotate, diagram, model, map, sketch, photograph, animate, and otherwise visualize objects,
spaces, and territories; they make visual and verbal presentations; they compile visual and written analyses and reports; and they issue visual and writte
instructions”.Martin, Reinhold. Architectural Visualization since 1900 Fall 2016 p.1
a rejeição do real
156
Fig.51
San Rocco #10 ECOLOGY.
Historicamente, a reconversão do papel do arquitecto de constructor para
desenhador, estava dependente do desenho ser inequívoco, de ser um suporte preciso
que compilava instruções para a execução da obra independentemente da presença do
arquitecto no estaleiro.
Nesta medida, a invenção da projecção ortogonal, que marcou este afastamento
não é uma coincidência: “é o sonho do tradutor. Através dos seus axiomas as figuras mais
complexas podem ser deslocadas para uma formação perfeitamente congruente noutro lado”.163 Era
a verosimilhança que existia entre o objecto e o desenho que permitia ao desenho
transformar-se no locus do trabalho do arquitecto.
163-“ is the language translator dream. With its axioms the most complex figures may be moved into perfectly congruent formation elsewhere” Evans,
Robin. Translations from Drawing to Building and Other Essays. 1997 p.181
164- “architecture has nevertheless been thought of as na attemp at maximum preservation in which both meaning and likeness are transported from ideia
through drawing to building with minimum loss.” Idem; p.181
165- “The hyper-photorealist render is the final conclusion of a representational system that originates with Alberti’ Jacob, Sam. Rendering: The Cave
of the Digital e-flux journal. February 2, 2018
166- “a render of a building is deemed successful if it looks sufficiently like a photograph of a building” Allen, Stan. Practice: Architecture, Technique
and Representation. 2012. p.74
167- “not form image to reality, but from image to image”, Idem; p.75
158
Fig.52
Frank van der Salm Nexus, 2004.
A crítica que se faz a este tipo de desenho, é primeiramente, a impossibilidade de
representar a complexidade da visão sob a forma de uma imagem. O que se vê nunca
é exactamente o mesmo que se desenha. A visão é infinitamente mais completa e
complexa que qualquer desenho. E aqui se entende a utilidade da projecção ortogonal,
que ao definir um ponto de fuga e estabilizar o horizonte, congela a visão e concentra o
desenho nesse ponto de vista.
Em segundo lugar, o desenho como forma de mediação, tem sempre uma
limitação de referências intrínseca e não é possível chegar a tudo através do desenho.
Nem todas as qualidades materiais de uma obra se processam através do desenho e
mesmo as que se processam necessariamente através do rigor do desenho.
169- “rigorous projection does not free anything not in the sence of emancipation.” Ibidem; p.172
170- - “ reversed directionality” Evans, Robin. Translations from Drawing to Building and Other Essays. 1997 p. 165
171- “what comes out is not always the same as what goes in.” Idem; p.181
172- “transfiguration, transition, transmigration, transfer, transmission, transmogrification, transmutation, transposition, transubstantiation, transcende,
any of which would sit happily over the blind spot between the drawing and its objects because we can never be quite certain, before the event how things
will travel and what will happened to them on the way. We may like de l’orme, try to take advantage of the situation by extending their journey,
maintaining sufficient control in transit so that more remote destinations may be reached” Evans, Robin; op cit p.182
a rejeição do real
160
Fig.53
Pier Vittorio Aureli 2014.
realidade?”.173
É, no entanto, preciso fazer aqui uma ressalva, uma vez que não é o pd que
permite voltar a desenhar, pelo menos não o pd enquanto estilo de representação.
O afastamento da realidade pode ser um objectivo ensaiado e estudado, codificado
da mesma forma que a visualidade, e aí já não actua como condição sine qua non do
173- “How to think a systema that is at once highly abstract and self-referential, and at the same time has its goal instrumental transformations of
existing reality?” Allen, Stan. Practice: Architecture, Technique and Representation.2012 p.46
175- “things were supposed to degrade as thay moved from ideia to object” Evans, Robin; op cit ; p.183
176- - “recognition of the drawing’s power as a medium turns out, unexpectedly, to be the recognition of the drawings distinctness from and unlikeness to
the thing that is represented, rather than it’s likeness to it, which is neither paradoxical nor as dissociative as it may seem” Idem; p. 181
177- “The abstraction it produces are of a diferente order, no longer tending toward the universal, as in the early part of the twentieh century, but simply
a mirror of the increasingly abstraction of a world now fully penetrated by technology” Allen, Stan.op cit ; p.76
178- Carneiro, Alberto; Moreno, Joaquim, Desenho Projecto De Desenho. Edited by Instituto Arte Contemporânea. 2002; p.19
a rejeição do real
162
Fig.54
A mesma familia de progrmas: Adobe Suite.
desenho, mas como forma de se inscrever numa corrente visual. A abstracção ou a
rejeição do real, têm sempre de operar no sentido da inventiva pessoal. Ainda que esta
possa gerar códigos visuais semelhantes já que ninguém desenha do zero, o processo
precisa de ser figurativo e não literal, no sentido da rejeição pela rejeição.
Por outras palavras, há algo no pd que permite voltar a desenhar, ainda que nem
sempre ou em todas as imagens. É o seu manuseamento da abstracção que o faz
mover-se para o território do desenho.
163
o Funcionamento
164
Fig.55
Filip Dujardin “Impossible Architecture” 2012.
e estruturar a própria produção”.179 Esta transformação da pós-produção em produção
acontece quer a um nível técnico, na forma como os softwares são utilizados, quer a um
nível conceptual, na forma como se alteram as condições de produção.
A forma como são utilizados elementos e processos que não têm uma relação
directa com o projecto, permite que estes funcionem como operadores que podem ser
utilizados em qualquer operação do mesmo tipo. Abre-se, assim, a porta para a fuga de
um processo pergunta-resposta, directo.
Ou seja:“ (…) o que contém não tem relação com projecto corrente, ou de facto com qualquer
projecto, mas o resultado contingente de todas as ocasiões que já existiram para renovar ou enriquecer o
stock, ou para o manter junto com as sobras de todos os constrangimentos anteriores”.181 165
Existe, ainda assim, uma troca que é feita quando o meio não é específico ao
trabalho, em que o leque de elementos e operações é mais limitado, e que justifica uma
certa repetição, por vezes excessiva, entre a amostra aqui presente revela.
A condição base do bricoleur é utilizar “o que está mais a mão.”.182 O que é uma
forma de justificar vários aspectos destas imagens, desde a sua economia de produção
que não requer meios externos até uma vontade de contrariar o uso específico do
software, que não é o indicado, mas o disponível.A qual podemos ainda acrescentar
a forma como retira elementos desconexos do contexto do projecto do catálogo
infinito da internet. “ Mais o bricoleur também, deriva a sua poesia do facto de não se confinar à
realização e execução ele fala não só com as coisas mas como já vimos, através do meio das coisas”.183
O bricoleur não opera segundo estruturas que pré-determinam processos e modos de
funcionar, e aqui não falamos do uso de software, mas da instrumentação mental que
é preciso localizar para realizar estas imagens. A grande mudança que a transformação
179- -”and even though the name ‘postproduction’ made it appear to be a supplement to production its logic flipped back to influence and structure
production itself ” Steyerl, Hito, The Wretched of the Screen. 2012. p. 182
180- - “today the same digital workspace and associated family of programs is used by photographs, filmakers, graphic desingers and artists of all
disciplines” Vassallo, Jesús. Seamless: Digital Collage and Dirty Realism in Contemporary Architecture. Park Books, 2016. p.171
181- “ (…) what it contains bears no relation to the current project, or indeed to any particular project, but in the contingent result of all the occasions
there have been to renew or enrich the stock or to maintain it with the remains of previous constraints” Levi-Strauss, Claude. The Savage Mind.
University of Chicago Press, 1966; p. 17
182- “whatever is at hand” Idem; p.17
183- “ further the bricoleur also, and indeed principally drives his poetry form the fact he does not confine himself to accomplishment and execution he
speaks not only with things as we have already seem, but also through the medium of things” Ibidem; p.21
a rejeição do real
166
Fig.56
Walker Evans Tenant Farmer Wife, 1835.
184- “by fitting toghether events, or rather the remains of events” Ibidem; p.22
185- -“Once it materializes the project it will therefore inevitably be at remove from the intial aim ( which was moreover a mere sketch ), a phenomenon
which the surrealists have felicitously called ‘ objective hazard’” Ibidem; p.21
186- -“this also shifts the temporality inherent in the term postproduction. The prefix ‘-post’ which denotes an immobile state past history, is replaced
by the prefix ‘-re’ which points at repetition or response. We are not after production. Rather, we are in a state in which production is endlessly recycled,
repeated, copied and multiplied, but potentially also displaced, humble and renewed.” Steyerl, Hito, The Wretched of the Screen. 2012; p.183
187- - “we can recompose a new body with these cut-off pieces, a body that combines the bones of the death and the folly of the natural bodies of the
living. A form of life that exists in editing and by editing” Steyerl, Hito, The Wretched of the Screen. 2012; p.187
a rejeição do real
168
Fig.57
Frame de “A Greve “ Sergei Eisenstein 1925.
que forma de desenhar
A montagem foi absorvida pela cultura pop, deixando de ser uma prática
avantgarde, mantendo-se assim como uma técnica cultural: “ só que nem a renovação
nem a rutura são suficientes para pensar nesta mistura estranha de continuidade e transformação
que expliquem a persistência da montagem e da colagem dentro da revolução digital”.188 Estas
imagens operam segundo uma estrutura interna de camadas e elementos que assim
se sobrepõem e se remontam continuamente a um nível simbólico, são constituidas
segundo“ sinais não isolados e que são montados para denotar um referente particular mas retirados
de diferentes fontes para formarem um bloco cognitivo.” .189 A forma como estas imagens actuam
significa que: ”os materiais significantes fazem parte e unem-se de maneiras que põem em causa a
nossa capacidade de retirar significado deles”.190 Se em parte esta dificuldade em retirar significados
A dificuldade em extrair significado deve-se a densidade com que a montagem é feita
ou aos elementos escolhidos. O que não é acidental jà que estas imagens utilizam a
montagem para encenar um conflito explícito que dita o seu desenvolvimento enquanto
figuras “ o conflito dentro da imagem é uma forma montagem polêmica, no desenvolvimento da
intensidade com que quebra as amarras do quadrilátero da imagem, um conflito explodido no impluso
188-“yet neither renewal nor rupture are sufficient to think the strange mixture of continuity and transformation that marks the persistence of montage
and collage amid the so-called digital turn”. Buckley, Craig. Graphic assembly: montage, media, and experimental architecture in the 1960s. 2018;
p.292
189- “signs are not isolated and mouted to denote a particular referente but taken form different sources to form a cognitive block” Buckley, Craig. “Re-
envisioning Assembly—Montage and Architecture in the Long 1960s”. Conferência em SVA MA Design Research. 2015
190- - ”significant material are take up a part and put back together in ways that challenge our capacity to make meaning from them” Idem;
a rejeição do real
170
Fig.58
“Think Pink” em “Cinderela em Paris” Stanley Donen
1957.
191- ”Conflit within the shot is potencial montagem, is the devolpment of its intesety shattering the quadrital cage of the shoot and exploding it’s conflit
into montage impluses between the montage pieces” Eisenstein, Sergei. Montage is conflit.1929 em Campany, David. The Cinematic. 2007;p.30
192- “Conflcit of graphic directions (lines – either static or dynamic) Conflict of scales. Conflict of volumes. Conflict of masses (volumes fitted with
various intensity of light) Conflict of depths” Idem; p.31
193- Carneiro, Alberto; Moreno, Joaquim, Desenho Projecto De Desenho Edited by Instituto Arte Contemporânea. 2002; p.49
194 - Idem; p.16
195- Ibidem; p.18
a rejeição do real
172
Fig.59
Tate Modern Herzog de Meuron.
174
Fig.60
Exemplo de contextos que afectam a imagem.
É claro que o excesso de presença que estas imagens ensaiam não se deve só ao
seu papel dentro do processo arquitectónico, mas também ao contexto visual em que
estão inseridas, respondem a uma modificação global na condição da imagem.
“Alguma coisa mudou na natureza das imagens hoje. Parece que passaram a ter uma vida própria.
Em vez, de ficar na página ou no ecrã, de só nós mostrarem algo, parecem ter invadido cada parte das
nossas vidas e afetado não só o que vemos, mas como vemos”.202
O catálogo infinito da internet, uma altura em que tudo tem uma representação
associada não é tão abrangente como se possa pensar num primeiro momento. Toda
esta possibilidade de escolha, apesar de transmitir uma sensação de controlo e mais do
que isso de auto-determinismo. Eu escolho o que quero pesquisar, onde pesquisar e
seleciono dentro dos resultados disponíveis o que quero. Este controlo é so aparente,
já que o que esta em causa é a abrangência da pré-selecção que de uma forma opaca
escolhe aquilo a que dá relevância e o que vai relegar para o fim. Existe uma lente
comum que pré-determina a partida o que vêmos, que justifica, a maneira como as
imagens precisam agora de adquirir uma relevância muito marcada, se não querem cair
no esquecimento. Ao mesmo tempo esta capacidade de tudo ver, coloca uma questão
muito espefica para o campo da representação arquitectónica, voltando a citar: “ O que
significa a representação quando tudo pode ser visto, em todos os lugares e a toda a hora ?”. 203
202 - “Something has changed in the nature of images today. They seem to have taken on a life of their own. Instead of staying on the page or the screen,
instead of just showing us something, they’re flowing into every part of our lives, and affecting not just what we see, but how we see.” Steyerl ,Hito
entrevistada em Bridle james, New ways of seeing ep 2. BBC4
203- “ what does representation mean when everything can be seen everywhere, all the time ?” Jacob, Sam. Rendering: The Cave of the Digital. e-flux
journal. February 2, 2018
a rejeição do real
176
Fig.61
Lubaina Himid Unwitting caricature Negative
Positives: The Guardian Archive, 2007-2015.
Os dois conceitos acabaram por não estar tão ligados como anteriormente se
pensou. “(…) quebrando o contrato social, que tinha prometido participação, resultou em futilidade,
vigilância, provas do crime e narcicismo em série”.204 As realidades tornaram-se, assim, mais
desiguais e a representação política caiu numa profunda crise, ofuscada por interesses
económicos. A relação entre o símbolo e o significado foi “ainda mais destabilizada pela
especulação e desregulação sistémica” .205
Mais do que considerações de fundo sobre a natureza da imagem, o que
importa ter em conta, é que esta “(...) cria uma situação que é muito diferente da forma como
costumávamos olhar para as imagens: como representações, mais ou menos, precisas de alguém ou de
alguma coisa em público. Numa era de pessoas irrepresentáveis e de uma soberpopulação de imagens,
esta relação é irrevogavelmente alterada”.206 A alteração da condição da representação
provocada por mudanças na natureza das imagens são fumentada, em parte, por
mudanças na cultura visual que extravassam a arquitectura, mas a qual esta responde.
É a partir deste ponto de mudança que podemos encarar uma outra ideia de Steyerl
exposta no ensaio “A thing like you and me”.
204- “(…) breaking of a social contract, having promised participation but delivered gossip, surveillance, evidence, serial narcissism(…)” Steyerl, Hito,
The Wretched of the Screen. Sternberg Press, 2012. p.170
205- “ further destabilized by systematic speculation and deregulation” Idem; p.170
206- “This creates a situation that is very diferente from how we used to look at images: as more or less accurate representations of something or someone
in public. In na age of unrepresentable people and na overpopulation of images, this relation is irrevocably altered.” ibidem; p.171
207- “with the image as a thing not as representation“ Ibidem; p. 50
208- - “ To be a subject was good to be na object was bad”; Ibidem; p.50
209- “but if the truth is neither the represented nor in the representation? What if the truth is in its material configuration? What if the medium is
really a massage?”; Steyerl, Hito, op. cit; p.51 Esta aqui presente também um trocadilho que o próprio Marshall Mcluhan gostava de
fazer entre a mass age e massage porque gostava do trocadilho visual in https://www.youtube.com/watch?v=Ko6J9v1C9zE
a rejeição do real
178
Fig.62
Point Supreme Archipelago Cities.
transformando a imagem de representação em objecto “A thing like you and me”. Esta
retroversão permite desmontar o que está para lá do objecto, pensando então“as coisas
não como objectos inertes, mas formados por tensões, forças, poderes escondidos que são constantemente
a ser permutados”.210
A PRODUÇÃO
210- - “Things are not just inert objects they consist of tensions, forces, hidden powers, all being constantly exchanged” Idem; p.55
211- - “As such, the image is- to use yet another phrase of Walter Benjamin’s- without expression. It is a fragment of the real world. It is a thing just like
any other- thing like you and me”Ibidem; p.52
a rejeição do real
180
Fig.63
Pezo Von Ellrichashausen Nida House Chile 2014.
abandonada, para se focar em actualizar os mecanismos arquitectónicos que medeiam
entre as tecnologias de representação e o poder económico”.212
Podemos considerar o pd como um mecanismo arquitectónico que medeia,
de uma forma própria, as tecnologias de representação - o seu produto e a sua relação
com o poder económico - viabilizando, assim ou não a materialização, tendo efeitos
concretos na produção.
Esta poder que a imagem tem para suportar todo o projecto funciona numa
dupla condição, em que num momento embrionário da prática, ainda não existe obra, e
as imagens tomam o seu lugar. Mas também acontece num momento posterior, em que
já existe obra, e esta afirmação parece continuar a existir, até por vontade dos próprios
arquitectos, que usufruem do mediatismo e da rapidez da imagem.
Esta capacidade de produção de imagens num ambiente relativamente skilless,
não quer dizer que não seja preciso técnica, mas que é mais fácil e rápido ser-se
especialista em Photoshop do que ser o Joseph Gandy. É, antes de mais uma forma de
roubar o sono aos arquitectos – referência explícita ao 24/7 de Jonathan Crary. A
imagem, pelo seu carácter expedito, procura concorrer com a aceleração do consumo e
sobrepôr-se aos longos tempos de obra.
Esta apropriação é uma forma de capturar a utilidade que o desenho pd
pode ter, para o interior do sistema capitalista apoiando a comodificação neo-liberal
da arquitectura. Apesar de partirem de um pressuposto diferente dos renders ou do
hiper-realismo, estas imagens actuam ou podem-no fazer de uma forma semelhante as
212- “ (...) aquestes tres obres van descobrir que dissenyat un edific que ja està totalment dissenyat suposava un gran avantage: parmitia deixar de banda
discussions formals per centrar-se em les actualitzacions dels mecanismes arquitectònics existents entre tecnologies de representació i poder econòmic.” Grau,
Urtzi .‘Three replications of the German pavilion’. Quaderns #263 (s/d)
a rejeição do real
182
Fig.64
O desenho do Pascal Flammer apesar de útil esta a
venda em galerias que se especializam em vender
desenhos de arquitectura.
a rejeição do real
No entanto, mesmo neste ponto em que a imagem opera como uma coisa, um
fragmento da realidade. Tal não é o mesmo, que dizer que estas imagens cumprem o
apogeu do pd, estabelecido por SJ, em “desenhos que até podem ser arquitectura”213. Para SJ,
toda a arquitectura é uma forma de ficção, do desenho ao edifício. Assim, estabelecer
esta equivalência é mais ou menos banal. Esta condição não deixa de implicar que o
processo de desenho é uma forma de adicionar conteúdo ao edifício e não uma forma
de libertar o que está escondido ou é opaco.
“o significado de um objecto reside na informação que lhe foi inscrita durante o processo
de desenho. O que implica uma teoria correspondente de interpretação que depende da
capacidade de quem vê para ler essa informação, inscrita durante o processo de desenho,
e ser capaz de reconstruir as operações de desenho a partir dessa informação”214.
Quer isto dizer que, esta capacidade tão apregoada por SJ de “Speak things into
existence”215 implica que exista alguém do outro lado a ouvir e descodificar.O que
paradoxalemnte é uma forma de reafirmar a distância entre a obra e a imagem. 183
Esta condição que está presente em várias destas imagens, como as dos FALA,
Pezo Von Ellrichshausen ou dos Monadnock. E, se no caso dos PVE, ela parte de uma
vontade específica de impor a produção cultural arquitectónica sobre a materialização
213- “drawings that might even be architecture”. Jacob, Sam .Drawing As Project – Post Digital Representation In Architecture. Strangeharvest
(s.d.)
214- “The meaningfulness of the object is understood to reside in information that has been inscribed through the process of design. This implies a
corresponding theory of interpretation that counts on the viewer’s ability to read the evidence inscribed in the course of the design process, and to reconstruct
the operations of design backward form that evidence” Allen, Stan. op cit; p.49
215- “Speak things into existence”. optou-se por não traduzir esta expressão idiomática por falta de equivalente .Jacob, Sam. Make It Real-
Architecture as Enactment. 2012; p.4
216- Refere-se à um grupo de arquitectos de New York constituido por: Peter Eisenman, Michael Graves, Charles Gwathmey, John
Hejduk, Richard Meier.
217- “When they woke up, the world of hard facts will see to it that the ruthless wall is erected between the image of estrangement and the reality of its
own laws” Reichlin, Bruno. Interrelations between concept Representation an built architecture. Daidalos #1, 1981. p.60
a rejeição do real
184
Fig.65
Fala atelier Casa na rua do Paraiso.
da obra. Isto é, a obra pertence ao cliente, a imagem é do arquitecto, e este é livre de
continuar a trabalhá-la. Nessa medida este tipo de produção que acontece mesmo
depois da obra, funciona como um resíduo útil, que mostra o desconhecido a quem
desenha, e serve de igual forma para sobre-impor o papel do arquitecto coisa que aqui
se procura fazer de forma muito clara negando a própria fotográfia, no anacronismo da
representação. E, o caso dos Monadnock segue princípios semelhantes ao dos PVE.
O dos FALA é bastante mais paradoxal e envolve outro tipo de questões.
Um tipo de representação, aparentemente falso, podia indicar uma explicação, muito
simples, na inversão do processo de desenho, que assim se faria depois da obra. No
entanto, a facilidade que temos de fotografar hoje em dia, descarta esta hipótese: é mais
fácil tirar uma fotografia do que fazer um desenho.
Esta parecença é, também, uma forma de atestar o rigor que esta capacidade de
desenhar de fora para dentro, permite ter um nível de precisão muito maior que é aqui
rentabilizado. Há ,também, uma parte desta questão que se deve a um ressurgimento do
pós-modernismo, aqui ao nível do estilo, que permite um regresso a iconografia que na
sua forma mais literal é conteúdo adicionado ao edifício e por isso ao desenho.
Tal não quer dizer que o pd não mantenha a sua operatividade dentro da
disciplina e que isto não tenha acontecido, em certa medida, sempre (e assim tao
diferente da mistificação dos esquissos do Siza?).
186
Conclusão
Este tipo de desenho, que acontece dentro do digital, não é igual, nem pode
ser, ao tipo de desenho que a manualidade produz, mesmo quando entendemos
que estas imagens dependem tanto do uso que fazem da tecnologia como de uma
instrumentação mental, semelhante à da manualidade. O que é transversal, a estas
imagens é o seu excesso de presença. Pela forma vincada como rejeitam o real
e se servem do rigor que a tecnologia permite, são capazes de criar proposições
muito completas, de compor imagens inteiras. É esta completude que, de modo
semelhante ao que acontece com a posição pd, tanto pode servir para pôr em causa o
funcionamento do sistema capitalista, face à neo-liberalização da arquitectura, como é
capaz de ser resgatado para o seu interior e servir para a sua manutenção.
O que fica é esta redescoberta da inventiva dentro do digital. Por muito que
o conteúdo visual destas imagens possa mudar, para elas continuarem a ter utilidade
dentro do processo de desenho, enquanto meio de trabalho do arquitecto, precisam de
se reger pelos mesmos dois princípios de sempre: um domínio próprio da técnica, e o
desenho enquanto tradução do pensamento, não enquanto forma de apresentação.
O PD enquanto posicionamento, como se associa à narrativa do desenvolvimento
tecnológico, vê a sua permanência continuamente assegurada.
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[Abriu-se uma exepcção no caso da imagem do Pascal Flammer que não foi retirada do website do
arquitectecto, mas que vimos a apresentar esta mesmo imagem nunca conferência- Archisummit 2017]
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205
A rejeição do real ou o pós-digital como
M
2019
Volume II
íNdice
1.
Categorias
textuRA 4-13
colAgem 14-23
supeRfície 24-31
eNquAdRAmeNto 32-37
liNhA 38-45
exibição 46-55
veRde 56-63
2.
A rejeição do real 64-102
TEXTURA
as figuras do pós-digital textura
8 9
Fig.1
Francesca Torzo. N16 - podere la pianella. Procchio,
Itália. 2017. Construido
Fig.2
Maio. 22 dwelings housing block. Barcelona, Espanha.
2013. Construido
as figuras do pós-digital textura
10 11
Fig.4
Opere Varie drawing for De Vylder Vinck Taillieu.
Karel de Grote. Antwerpen, Bélgica. 2016. Concurso
Fig.3
FALA atelier. Casa na rua do Paraiso. Porto, Portugal.
2017. Construido
as figuras do pós-digital textura
12 13
Fig.5 Fig.6
Kola. La Base. Chapel of San Filippo Neri. Turin, Itália. Monadnock. Atlas House. Eindhoven, Holanda. 2016.
Concurso Construido
as figuras do pós-digital
14
Fig.7
Pezo Von Ellrichshausen. Guna House. San Pedro de la
Paz, Chile. 2010-14. Construido
cOLAGEM
as figuras do pós-digital colagem
18 19
Fig.9
Charles Holland Architects e Piers Taylor of Invisible
Studio. A House in Holland. Almere, Holanda
Fig.8
Gaaga architecten. Leiden Pearls. Holanda. 2018.
Em curso
as figuras do pós-digital colagem
20 21
Fig.11
OFFICE KGDVS e Dogma. Cité de refuge. Rotterdam
Architecture Biennale. Ceuta, Espanha. 2007
Fig.10
OFFICE KGDVS. Library Sint-Martens-latem. Bélgica.
2017
as figuras do pós-digital colagem
22 23
Fig.12 Fig.13
FAT Architecture. Hoogvliet Park. Roterdão, Holanda. Other architects e LCLA Office. Veiled landscapes.
2008-9. Construido Green square aquatic centre and Guyama Park.
Sydney, Austrália. 2014. Concurso
as figuras do pós-digital
24
Fig.14
OMA. Venice Biennal. 2014. construido
sUPERFÍCIE
as figuras do pós-digital superfície
28 29
Fig.16
FALA atelier. Edifício com três apartamentos.
Construido
Fig.15
Caruso St. John. Stortorget, Kalmar. 1999–2003.
Construido
as figuras do pós-digital superfície
30 31
Fig.17
Point Supreme. Roman Villa. 2016. Projecto de
investigação
Fig.18
2A+A/P e LGSMA. Museu di Lima. Peru. 2016
as figuras do pós-digital
32
Fig.19
OMMX. Artist Live Work. Londres, Reino Unido. 2016
eNQUADRAMENTO
as figuras do pós-digital enquadramento
36 37
Fig.20
Motoproprio. House in Volterra. Itália. 2015. Projecto
de investigação
Fig.21
False mirror office. Europan 13.Trondheim, Noruega.
2015. Concurso
as figuras do pós-digital enquadramento
38 39
Fig.23
Pascal Flammer. House in Liguria. Itália. 2009.
Construido
Fig.22
Dogma. After Hilberseimer. Proposal for the
transformation of Hilberseimer’s Marquette Park.
Chicago, Estados Unidos da América. 2014
lINHA
as figuras do pós-digital enquadramento
42 43
Fig.25
Francesca Torzo. Guggenheim Helsinki Design
Competition. Helsinky, Finland. 2014. Concurso
Fig.24
Jean-Benoît Vétillard. University Island. Campus
universitário para a ilha de Poveglia. Veneza, Itália.
2016. Concurso
as figuras do pós-digital enquadramento
44 45
Fig.26
Fosbury architecture. Anamosphosis. Bienal de
arquitectura de Tallin. Estónia. 2013. Concurso
Fig.27
Dérive lab. La Bema. Querétaro, México. Construido
as figuras do pós-digital
46
Fig.28
OFFICE KGDVS. Church. Hatlehol, Noruega. 2008.
Concurso.
Exibição
as figuras do pós-digital exibição
50 51
Fig.29
kola. Simulacrum. Concurso
Fig.30
CXEMA. Clear house. Archives for the design of a
modular home. Kaluga, Rússia. 2017. Concurso
as figuras do pós-digital exibição
52 53
Fig.32
Maio. 22 dwelings housing block. Barcelona, Espanha.
2013-16. Construido
Fig.31
Yellow Office. Piaza Scala. Milão, Itália. 2015.
Concurso
as figuras do pós-digital exibição
54 55
Fig.33
KWY e Yellow Office. Osumi Panoramas. Ilha de
Osumi, Berat, Albânia. Concurso
Fig.34
Gosplan. Fisherman’s House. Génova, Itália 2016.
Construido
as figuras do pós-digital
56
Fig.35
Gosplan. Guggenheim Helsinki Design Competition.
Helsinky, Finland. 2014. Concurso
vERDE
as figuras do pós-digital verde
60 61
Fig.36
Other architects. Gully House. Sydney, Austrália.
Em curso
Fig.37.
NP2F. SoHo reinventer Paris. França. 2014. Concurso
as figuras do pós-digital verde
62 63
Fig.38.
ASSEMBLE. Laguna Viva. Veneza, Itália. 2017-19.
Construido
Fig.39.
Something fantastic. Sesonality house. Berlim,
Alemanha. Em curso
as figuras do pós-digital
64
Fig.40
OFFICE KGDVS. Crematorium. Ostend, Bélgica. 2014
Nas páginas que se seguem comparam-se as imagens
analisadas com o seu significante material mais próximo, a REJEIÇÃO DO REAL
a obra quando existe ou desenhos de projecto que
sejam mais inequívocos quanto a materialização da obra.
a rejeição do real a rejeição do real
68 69
Fig.42
Pascal Flammer. House in Liguria. Itália. 2009.
Construido
Fig.41.
False mirror office. Europan 13.Trondheim, Noruega.
2015. Concurso
a rejeição do real a rejeição do real
70 71
Fig.43.
FALA atelier. Casa na rua do Paraiso. Porto, Portugal.
2017. Construido
a rejeição do real a rejeição do real
72 73
Fig.44
Other architects. Gully House. Sydney, Austrália.
Em curso
Fig.45
Other architects e LCLA Office. Veiled landscapes.
Green square aquatic centre and Guyama Park.
Sydney, Austrália. 2014. Concurso
a rejeição do real a rejeição do real
74 75
Fig.46 Fig.47.
Charles Holland Architects e Piers Taylor of Invisible FAT Architecture. Hoogvliet Park. Roterdão, Holanda.
Studio. A House in Holland. Almere, Holanda 2008-9. Construido
a rejeição do real a rejeição do real
76 77
Fig.48
CXEMA. Clear house.Archives for the design of a
modular home. Kaluga, Rússia. 2017. Concurso
Fig.49
Jean-Benoît Vétillard. University island.
Campus universitário para a ilha de Poveglia.
Veneza, Itália. 2016. Concurso
a rejeição do real a rejeição do real
78 79
Fig.51.
NP2F. SoHo reinventer Paris. França. 2014. Concurso
Fig.50.
Pezo Von Ellrichshausen. Guna House. San Pedro de la
Paz, Chile. 2010-14. Construido
a rejeição do real a rejeição do real
80 81
Fig.52. Fig.53.
Francesca Torzo. Guggenheim Helsinki Design Francesca Torzo. N16 - podere la pianella. Procchio,
Competition. Helsinky, Finland. 2014. Concurso Itália. 2017. Construido
a rejeição do real a rejeição do real
82 83
Fig.54.
Maio. 22 dwelings housing block. Barcelona, Espanha.
2013. Construido
Fig.55.
Maio. 22 dwelings housing block. Barcelona, Espanha.
2013. Construido
a rejeição do real a rejeição do real
84 85
Fig.56.
kola. Simulacrum. Concurso
Fig.57.
Kola. La Base. Chapel of San Filippo Neri. Turin, Itália.
Concurso
a rejeição do real a rejeição do real
86 87
Fig.58
OMA. Venice Biennal. 2014. Construido
Fig.59.
Point Supreme. Roman Villa. 2016. Projecto de
investigação
a rejeição do real a rejeição do real
88 89
Fig.60 Fig.61.
OFFICE KGDVS. Crematorium. Ostend, Bélgica. 2014 OFFICE KGDVS. Library Sint-Martens-latem. Bélgica.
2017.
a rejeição do real a rejeição do real
90 91
Fig.63
OFFICE KGDVS e Dogma. Cité de refuge. Rotterdam
Architecture Biennale. Ceuta, Espanha. 2007
Fig.62.
OFFICE KGDVS. Church. Hatlehol, Noruega. 2008.
Concurso
a rejeição do real a rejeição do real
92 93
Fig.64
Dogma. After Hilberseimer. Proposal for the
transformation of Hilberseimer’s Marquette Park.
Chicago, Estados Unidos da América. 2014
Fig.65
OMMX. Artist Live Work. Londres, Reino Unido. 2016
a rejeição do real a rejeição do real
94 95
Fig.67.
Fig.66 Yellow Office. Piaza Scala. Milão, Itália. 2015.
Monadnock. Atlas House. Eindhoven, Holanda. 2016. Concurso
Construido
a rejeição do real a rejeição do real
96 97
Fig.68.
ASSEMBLE. Laguna Viva. Veneza, Itália. 2017-19.
Construido
Fig.69.
Motoproprio. House in Volterra. Itália. Projecto de
investigação. 2015
a rejeição do real a rejeição do real
98 99
Fig.70
Caruso St. John. Stortorget, Kalmar. 1999–2003.
Construido
Fig.71.
Something fantastic. Sesonality house. Berlim,
Alemanha. Em curso
a rejeição do real a rejeição do real
100 101
Fig.73.
Gosplan. Fisherman’s House. Génova, Itália 2016.
Construido
Fig.72
Gosplan. Guggenheim Helsinki Design Competition.
Helsinky, Finland. 2014
a rejeição do real a rejeição do real
102 103
Fig.74
KWY e Yellow Office. Osumi Panoramas. Ilha de
Osumi,Berat, Albânia. Concurso
Fig.75.
2A+A/P e LGSMA. Museu di Lima. Peru. 2016
a rejeição do real
104
Fig.76
Dérive lab. La Bema. Querétaro, México. Construido