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O que recorta a literatura produzida nos países africanos colonizados por Portugal,
contudo, nos parece que há uma tentativa de reflexão das marcas do processo histórico
de colonização do que propriamente discussões literárias, pois a bibliografia básica traz
três, das cinco elencadas, sobre história, sendo uma a obra História Social da Literatura
Portuguesa (1990), de Benjamin Abdala Jr e Maria Aparecida Paschoalin, dois
pesquisadores brasileiros não negros. Referência essa que nos faz questionar as
discussões apresentadas na disciplina acerca de que imagem africana de Angola,
Moçambique e Cabo Verde, faltando as literaturas de Guiné-Bissau e de São Tomé e
Príncipe, é apresentada aos discentes nessa disciplina única de carga horária reduzida
em relação às disciplinas de Literatura portuguesa e de Literatura brasileira.
Se o quadro de disciplinas obrigatórias não prevê um estudo crítico satisfatório das
literaturas africanas, nas disciplinas complementares também não há essa preocupação.
Há uma única disciplina que aprofunda o conhecimento acerca da literatura africana,
“Tópicos de Literaturas africanas” (30h/a) que traz em sua ementa: “As formulações
teóricas pós-coloniais e os percursos das literaturas africanas de língua portuguesa em
diálogo com os contextos coloniais e pós-coloniais” (UNIPAMPA- Jaguarão, 2017, p. 154).
A disciplina traz como arcabouço teórico, nas bibliografias básica e complementar, os
principais estudos pós-coloniais, mas ainda há a falta de uma reflexão acadêmica afro-
centrada que possibilite aos discentes arcabouço teórico suficiente para a análise dessa
literatura como, por exemplo, as questões filosóficos apresentadas por Achille Mbembe
(1957- ) e as questões históricas refletidas por Joseph Ki-zerbo (1922-2006), ambos
africanos negros.
Ainda, há a possibilidade de uma reflexão das questões étnico-raciais a partir dos
TCCs (120h/a) em que os alunos são orientados pelos discentes, contudo não
encontramos nenhuma orientação dessa natureza no currículo, cadastrado na plataforma
Lattes, dos docentes e apenas um projeto de pesquisa, “Discurso literário das nações
africanas” coordenado pelo prof. Dr. Luis Fernando da Rosa Marozo desde 2009 e ainda
não encerrado. Assim, apesar das lacunas nas disciplinas obrigatórias que negam a
afirmação de uma abordagem transversal das questões étnico-raciais, há possibilidades
dessa abordagem nas disciplinas, em especial, de Literatura brasileira. Contudo,
percebemos a falta de um comprometimento com a obrigatoriedade das culturas e
literaturas africanas e afrodiaspóricas.
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