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Práticas preventivas de declínio cognitivo realizadas por idosos e fatores associados
em horários distintos, não foram encontrados, assim como os Os dados obtidos foram organizados em banco, foram
que foram a óbito. Devido à reposição dos participantes nos calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis e
casos descritos anteriormente, não houve perdas. utilizada análise bivariada para verificação de associação entre
Os dados foram obtidos pela pesquisadora no período de as variáveis independentes e práticas preventivas para DC por
fevereiro a maio de 2015 por meio de entrevista realizada no meio do teste do x2 de Pearson e a técnica de análise de regressão
domicílio do idoso. Utilizou-se questionário contendo perguntas múltipla. Para a análise bivariada e de regressão múltipla, as variáveis
sobre dados sociodemográficos, de saúde e práticas preventivas sociodemográficas: faixa etária, estado civil, anos de estudo,
de DC elaboradas a partir de inquéritos conhecimento, atitudes arranjo familiar, renda individual e renda familiar; e de condições
e práticas (CAP)12 e recomendações contidas na literatura.7 Após de saúde: autoavaliação de saúde e humor foram recategorizadas.
teste-piloto, foram realizados ajustes no instrumento. As variáveis que apresentaram associação com valor
A variável dependente do estudo foram as “práticas de p<0,20 foram selecionadas para a entrada no modelo de
preventivas de declínio cognitivo”, categorizada como sim/ regressão múltipla de Poisson com variância robusta pelo
não. Considerou-se a resposta positiva quando o idoso referiu método stepwise forward. Mantiveram-se no modelo final as
realizar atividades espontaneamente no seu dia a dia, em variáveis com associação estatisticamente significativa (p<0,05).
múltiplos domínios, de acordo com as recomendações de A pesquisa foi desenvolvida após aprovação do Comitê de
mais efetividade na prevenção de DC.7 O idoso devia realizar Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller, sob o
pelo menos uma atividade do domínio físico (atividade física; Protocolo 924.964/2014.
alimentação saudável – comer frutas e verduras, consumir
peixes e pouca carne vermelha, azeite de oliva e/ou consumir
RESULTADOS
moderadamente bebida alcoólica), mental (utilizar computador
e/ou jogar videogame; leitura de livros e/ou jornais; jogar cartas, Os resultados revelam que, entre os participantes
palavras cruzadas, dama ou xadrez e/ou atividades de artesanato pesquisados (n=557), a maioria dos idosos é do sexo feminino
– pintura, crochê, bordado, bisqui) e social (visitar amigos e/ou (61,8%), da faixa etária entre 60 e 69 anos (50,8%), casada (54,2%),
familiares, viajar, passear e/ou ter momentos de descontração). analfabeta (42,2%) e mora com a família e/ou com outra pessoa
As variáveis independentes sociodemográficas foram: sexo (59,0%). A maioria (71,2%) é aposentada, recebe até um salário-
(masculino/feminino), faixa etária (60 a 69 anos, 70 a 79 anos e mínimo (64,6%) e possui renda familiar de um a três salários-
80 anos e mais), estado civil (casado[a]/ com companheiro[a], mínimos (65,0%) (dados não apresentados em tabela).
viúvo[a], divorciado[a]/separado[a], solteiro[a]); anos de estudo Quanto às condições de saúde, a maior parte dos idosos (43,9%)
(não estudou, um a três anos de estudo, quatro anos ou autoavalia sua saúde como regular, 92,1% referem possuir dois ou
mais); arranjo familiar (cônjuge/companheiro, sozinho, família mais problemas de saúde, 83,3% fazem uso de medicamento e
e outros); situação ocupacional (aposentado[a], não trabalha, a alteração da visão foi a mais frequente (87,1%). As condições
trabalha, aposentado e trabalha); renda individual (não possui, nutricionais, de funcionalidade e humor depressivo mostram que
até um salário-mínimo, de um a dois salários-mínimos, de os idosos estão com sobrepeso (47,0%), são independentes (75,6%)
dois a três salários-mínimos e mais de três salários-mínimos) e e não têm depressão (77,2%) (dados não apresentados em Tabela).
renda familiar (sem renda, até um salário-mínimo, de um a três A prevalência de práticas preventivas foi de 55,1%, IC
salários-mínimos, de três ou mais salários-mínimos). 95%. A Tabela 1 apresenta a análise bivariada entre as variáveis
As variáveis independentes de condições de saúde foram: sociodemográficas e práticas preventivas de DC. Houve
autoavaliação de saúde (ótima, boa, regular, ruim, péssima); associação estatisticamente significativa com sexo (p=0,012),
problema de saúde referido (sim, não); número de problemas escolaridade (p<0,001) e situação ocupacional (p=0,001).
de saúde (nenhum, um problema, dois ou mais); alterações A Tabela 2 apresenta a análise bivariada entre as variáveis
autorreferidas: visão (sim/não); audição (sim/não); uso de condições de saúde e práticas preventivas de DC. Entre as variáveis
medicamento (sim/não); condição nutricional (baixo peso – condições de saúde analisadas, houve associação estatisticamente
IMC≤ 22, eutrófico – IMC >22 e <27, sobrepeso – IMC ≥ 27); significativa com práticas preventivas de DC, as variáveis
humor, medido por meio da escala de depressão geriátrica autoavaliação de saúde (p=0,023) e capacidade funcional (p=0,010).
abreviada (Geriatric Depression Scale – GDS), classificado em A prevalência de práticas preventivas de declínio cognitivo foi
normal (zero a cinco pontos), sintomas depressivos leves (seis a de 46% (RP=1,46; IC 95%=1,06-2,00) e 27% maior (RP=1,27; IC
10 pontos) e sintomas depressivos intensos (10 a 15 pontos).13 95%=1,04-1,56) entre os idosos que autoavaliaram sua saúde como
A funcionalidade foi verificada por meio da escala índice de regular quando comparados àqueles que autoavaliaram como
Barthel. Foram classificados como independentes os idosos ruim/péssima e entre os idosos independentes comparados aos
que apresentaram pontuação máxima de 100 pontos.14 dependentes, respectivamente (Tabela 2).
modelo de regressão. Quanto ao sexo, as idosas realizam 39% podem prevenir o DC e trazer como benefício a manutenção
(RP=1,39; IC 95%=1,18-1,65) mais práticas preventivas quando da sua capacidade funcional, melhorias na qualidade de vida
comparadas aos idosos, independentemente das demais e promoção da interação social. Estudos têm mostrado que
variáveis do modelo. A prevalência de práticas preventivas a realização de medidas tais como exercícios físicos, adoção
de DC também foi maior (RP=1,41; IC 95%=1,03-1,93) entre da dieta mediterrânea como principal tipo de alimentação
os idosos que avaliaram sua saúde como regular quando e estimulação cognitiva é efetiva na prevenção do DC dos
comparados com seus pares que avaliaram como ruim/ idosos que têm suas funções cognitivas preservadas9 e/ou a
péssima (Tabela 3). Foi realizado o teste de bondade de ajuste, sua reabilitação nos que as têm comprometidas.17 Em estudo
que mostrou que o modelo é apropriado (p=0,3196). de coorte realizado em 10 anos com idosos o treinamento
cognitivo produziu melhora nas habilidades cognitivas para a
realização das atividades de vida diária.15
DISCUSSÃO
A associação entre práticas preventivas de DC e alto
A prevalência de práticas preventivas de DC encontrada nível de escolaridade dos idosos encontrada neste estudo
neste estudo (55,1%) não foi previamente documentada foi semelhante em outra pesquisa.15 Essa associação pode ser
em outras pesquisas. Que se tem conhecimento, este é o explicada pela relação existente entre a escolaridade e a saúde.
primeiro estudo que avalia a prevalência dessas práticas e os Pessoas com alto nível de escolaridade podem adquirir melhor
fatores associados a elas. Das pesquisas existentes, algumas nível de saúde, porque têm mais oportunidades para levar
são de intervenção e investigaram algum tipo de prática uma vida mais saudável, por meio do conhecimento sobre
preventiva ou grupo de práticas proposto em um programa.9,15 saúde e mais capacidade de selecionar os melhores recursos
Verificam a adesão das pessoas a um programa para melhora disponíveis.18 O fato de os idosos deste estudo que têm melhor
cognitiva16 e ainda demonstram a efetividade dessas práticas nível de escolaridade estarem realizando mais práticas que
no desempenho cognitivo.9 previnem o DC do que seus pares com mais baixo nível de
Essa prevalência é um achado importante, uma vez que escolaridade sugere que eles podem ter mais conhecimento
mostra que os idosos estudados têm realizado práticas que sobre saúde e optam por atividades saudáveis.
Tabela 3 - Modelo de regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas às práticas preventivas de declínio cognitivo entre os idosos. Tangará da Serra,
Mato Grosso, Brasil, 2015
Variáveis Prevalência (%) RP bruta (IC95%)* RP Ajustada (IC95%)** p-valor***
Escolaridade
0 a 4 anos 51,8 1,00 1,00
<0,001
5 anos ou mais 77,8 1,50 (1,29-1,74) 1,43 (1,23-1,67)
Situação ocupacional
Aposentado 51,1 1,00 1,00
Não trabalha 57,9 1,13 (0,92-1,37) 1,08 (0,89-1,32)
<0,001
Trabalha 84,6 1,65 (1,40-1,95) 1,56 (1,28-1,89)
Aposentado e trabalha 61,5 1,20 (0,87-1,65) 1,30 (0,94-1,78)
Capacidade funcional
Independente 58,2 1,27 (1,04-1,56) 1,28 (1,04-1,56)
0,017
Dependente 45,6 1,00 1,00
Sexo
Feminino 59,3 1,22 (1,04-1,44) 1,39 (1,18-1,65)
<0,001
Masculino 48,4 1,00 1,00
Autoavaliação de saúde
Ótima/boa 56,9 1,44 (1,05-1,98) 1,36 (0,99-1,86)
Regular 57,6 1,46 (1,06-2,00) 1,41 (1,03-1,93) 0,028
Ruim/Péssima 39,4 1,00 1,00
Fonte: próprio autor. *RP – razão de prevalência; **IC – intervalo de confiança; ***p-valor ajustado por faixa etária.
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