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2022, v27:e80169
ARTIGO ORIGINAL
ABSTRACT
Objective: to understand the potentialities/weaknesses experienced by family members/caregivers
of elderly people with Alzheimer’s disease in daily care, as well as the strategies used by them in this
context. Method: this is a step of critical action research, conducted with seven family members/
caregivers of elderly people with Alzheimer’s disease, participants of a support group developed at
a university in Rio Grande do Sul, Brazil. Data were collected in July 2020, through semi-structured
interviews developed during home visits. Data processing was performed using the Discursive
Textual Analysis technique. Results: they generated nine categories – four referring to weaknesses/
difficulties; one referring to the potentialities/opportunities experienced by family members/
caregivers; and four referring to the strategies used by family members/caregivers. Conclusion: the
data presented here can serve as a basis for the implementation of care strategies for people who
experience realities similar to those of the participants of this research, thus directly contributing to
the practice of care.
DESCRIPTORS: Aging; Alzheimer’s Disease; Elderly; Family; Strategies.
2
Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, Brasil.
Cogitare Enferm. 2022, v27:e80169
INTRODUÇÃO
MÉTODO
sete familiares/cuidadores.
O contato e convite individual aos familiares/cuidadores foi realizado por uma das
pesquisadoras via telefone, adquirido junto à coordenadora do projeto. Após o aceite dos
participantes, foram realizadas, no mês de julho de 2020, visitas domiciliares, momento
quando se realizou as coletas dos dados por meio de um instrumento de entrevista
semiestruturada construído especificamente para essa pesquisa, composto de duas partes.
Na primeira, buscou-se a descrição social dos participantes; na segunda, realizou-se quatro
questões abertas acerca do cotidiano junto à pessoa idosa com DA.
As entrevistas tiveram uma duração média de 120 minutos e foram gravadas, pelo
pesquisador, em aparelho MP3 e após transcritas. Assim, possibilitou-se a análise dos
dados, com base na técnica da análise textual discursiva, organizada a partir de uma
sequência recursiva de três componentes: 1) unitarização; 2) estabelecimento de relações;
3) comunicação(11).
Inicialmente, o pesquisador examinou com intensidade e profundidade os textos em
detalhes, formando a categoria central, a partir da identificação das vivências dos familiares/
cuidadores de pessoas idosas com DA no cotidiano de cuidados. Esta foi unitarizada em três
unidades de base – na primeira unidade, agruparam-se todas as dificuldades/fragilidades
vivenciadas; na segunda, as potencialidades/oportunidades; e na terceira, as estratégias
utilizadas pelos familiares/cuidadores no cotidiano de cuidados.
Após, foi realizada nova leitura a partir da categoria central e das unidades de base,
e cada relato inserido nas unidades foi lido minuciosamente e separado em diferentes
unidades. Por fim, procedeu-se a última etapa do método de análise, momento em que
o pesquisador desenvolveu o processo de comunicação entre as diferentes dificuldades,
resultando nos metatextos de descrição e interpretação dos fenômenos investigados e
descrição das categorias.
Esta pesquisa contempla o primeiro objetivo do macroprojeto denominado “doença
de Alzheimer na pessoa idosa/família: dificuldades vivenciadas e (geronto) tecnologia
de cuidado”. Foram considerados os preceitos éticos que envolvem a pesquisa com
seres humanos, conforme a Resolução 466/2012 do Ministério da Saúde(12). O Projeto
foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa pelo Parecer número: 3.920.648 e CAAE:
29816420.8.0000.5306. Os participantes foram identificados pela letra F (familiar) seguidas
de um algarismo conforme a ordem da entrevista (F1, F2... F7).
RESULTADOS
Dos sete familiares/cuidadores, seis (85,7%) eram do sexo feminino, com idades entre
33 e 68 anos. Três eram filhos; três, cuidadores; um, esposo/companheiro, com tempo de
atuação como cuidador entre dois e 17 anos. Quatro residiam com a pessoa idosa com
DA, três em casas separadas e seis familiares/cuidadores alternavam o ato de cuidar com
outras pessoas. O tempo em que os familiares/cuidadores participavam do AMICA variou
entre 10 meses e seis anos. Todos os participantes eram os cuidadores principais da pessoa
idosa com DA.
Os dados analisados resultaram em uma categoria central: vivências de familiares/
cuidadores de pessoas idosas com a doença de Alzheimer, que foi unitarizada em três
unidades de base e nove categorias, conforme demonstrado na Figura 1.
Figura 1 – Representação esquemática da relação entre a categoria central, unidades de base e categorias.
Santa Maria, RS, Brasil, 2020
Fonte: Autores, 2020.
[...] tem dias que está tudo perfeito, daqui um pouco dá uns apagões assim, incrível. [...]
queima coisas assim, queima comida [...] esquece o gás por exemplo [...] a vó liga o fogão
e se esquece, vai lá fazer o tricô dela e esquece o fogão. (F7)
Alzheimer. (F7)
O que ela trouxe de benefício para a nossa família é uma união muito forte, porque a gente
percebeu que a gente não é ninguém sem o outro. Eu e minha esposa fizemos os nossos
filhos entender isso, eles estão bem cientes, aceitaram muito bem e aceitam até hoje o que
a gente fala para eles no sentido de cooperação, colaboração. Então isso aí para nós como
família engrandece, porque só quem passa sabe. (F8)
não faço sempre a mesma coisa, às vezes eu costumo espalhar todas as peças e peço para
ela me ajudar só com os animais, ela tem que pegar todas as peças que são animais. Não
boto muitas peças para não sobrecarregar. [...] às vezes ela não quer conversar então eu
digo vamos jogar alguma coisa? Ela aceita, daí nós jogamos e vamos conversando durante
o jogo, no fim ela já tá dando risada [...] (F5)
[...] levo ela junto comigo para a cozinha, ela fica sentadinha fazendo a atividade que eu
imprimo e levo para ela recortar [...] já fiz portfólio com ela desde 2013, ela vai pintando
recortando e me ajudando a fazer. (F6)
DISCUSSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
bem com os esquecimentos de pessoas, objetos e locais por parte da pessoa idosa.
Como estratégias, os familiares/cuidadores referiram: a necessidade de alternância
do cuidado; o estabelecimento e manutenção de rotina; as adaptações no domicílio para
o cuidado e segurança da pessoa idosa; a implementação de jogos, pinturas e demais
atividades manuais; a utilização da música e dos animais de estimação como estímulo à
pessoa idosa.
Os dados apresentados contribuem diretamente na prática de cuidados, uma
vez que podem servir de base para implementar estratégias de cuidados para pessoas
que vivenciam realidades semelhantes à dos participantes dessa pesquisa. Contudo,
compreende-se que mais pesquisas precisam ser desenvolvidas, visto a complexidade do
cuidado e convivência cotidiana junto a uma pessoa idosa com DA.
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Autor Correspondente:
Francine Casarin
Universidade Franciscana – Santa Maria, RS, Brasil
E-mail: fracasarin@hotmail.com
ISSN 2176-9133
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