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Agricultura Familiar
Agricultura Familiar
Identidade, Cultura, Gênero e Etnia
Ministério
da Educação
1 Caderno Pedagógico Educandas e Educandos
ProJovem Campo - Saberes da Terra
Agricultura
Familiar
Identidade, Cultura,
Gênero e Etnia
Agricultura
Familiar
Identidade, Cultura,
Gênero e Etnia
Ministério
BRASÍLIA | DF | 2010 da Educação
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade
Diretoria de Educação para a Diversidade
Coordenação Geral de Educação do Campo
Coordenação
Armênio Bello Schmidt
Sara de Oliveira Silva Lima
Wanessa Zavarese Sechim
Editoração de comunicação
Dirceu Tavares de Carvalho Lima Filho
Projeto gráfico
Adrianna Rabelo Coutinho
Ilustração
Henrique Koblitz Essinger
Revisão
Antônio Neto das Neves
Agricultura familiar: identidade, cultura, gênero e etnia: caderno pedagógico educandas e educandos / Coordenação: Armênio Bello
Schmidt, Sara de Oliveira Silva Lima, Wanessa Zavarese Sechim. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, 2010.
CDU 374.71
Sumário
1. Carta às/ aos educandas/os 11
4. BALAIO DE SABERES 33
Texto 01. “A via rural” (Ulisses Freitas) 34
Texto 02. “Trabalho e transformação do mundo” (Paulo Freire) 36
Texto 03. “Invernada dos Negros” 38
Texto 04. “Reculturarte: a cultura é a morada da educação”
(Carlos Rodrigues Brandão) 40
Texto 05. “As tramas da identidade” (Tião Rocha) 42
Texto 06. “A mercantilização da cultura” (Rosana Miyashiro Fahl) 46
Texto 07. “Etnia” (Chico Science e Lúcio Maia) 48
Texto 08. A cultura dos povos indígenas / “O outro mundo de Xicão Xucuru”
(Fred Zeroquatro e Zenilda Maria de Araújo) 50
Texto 09. “A serra negra, um local sagrado” (Grupo Kambiwá- PE). 52
Carta
aos Educandas e às Educandos
1
rural. Vocês como parte dessa juventude têm muito que
ensinar, mas também que aprender.
Pôxa, em dois
anos acaba-se
o Fundamental!
Já pensou? Vale ou não vale a pena enfrentar essa Aprendem-se
empreitada? novas técnicas
agrícolas. E no
Para garantir o rumo dos nossos estudos, é futuro dá pra
importante ter consciência da problemática que
pensar em ir para
precisamos responder. Aqui a problemática é dada pelo
a Universidade.
tal Eixo Articulador do Currículo de nosso Programa.
Relembrando é: Agricultura Familiar e Sustentabilidade.
Que problemática esconde essa expressão? Esse
tema? Da Agricultura Familiar se diz muitas coisas.
Praticamente cada agricultor/a, cada estudioso/a e cada
programa de Governo a entendem de uma forma e a
tratam diferentemente. Vocês também devem ter suas
compreensões.
Vou meter
esse
girassol em
quem fala e
não pedala.
Eixo Articulador
Agricultura Familiar e
Sustentabilidade
2
E mais
EIXO TEMÁTICO 1
Agricultura Familiar:
Cultura, Identidade, Etnia e Gênero
3
A partir da problemática identificada
como objeto de estudo deste Eixo
Temático, formulou-se a ementa que
se transcreve abaixo. Uma ementa
indica as questões que vamos estudar
para melhor compreender o objeto de
estudo. O objeto de estudo (os saberes
sobre a problemática do Eixo Temático).
Esses saberes (construídos a partir
do que já sabemos em confronto com
as informações das Ciências Sociais
Humanas, Agrícolas e da Natureza)
são os conteúdos educativos. Mas,
além dos conteúdos educativos deste
Eixo, vamos estudar os conteúdos
instrumentais (as linguagens verbais, as
linguagens matemáticas e as linguagens
artísticas). Devemos, também, avançar
nos conteúdos operativos: a capacidade
de fazer projetos, programas e planos.
Esses diferentes conteúdos (educativos,
instrumentais e operativos) são o que se
denomina CONTEÚDOS PEDAGÓGICOS.
Etnia
Identidade
I. EMENTA
Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão...
4
Balaio
de Saberes
Texto 01
A via rural
O desenvolvimento sustentável passa pela agricultura familiar, menos prejudicial
ao ambiente e com grande potencial de trabalho para a juventude
Ulisses Freitas
Arquivo Revista Agriculturas - experiências em Agroecologia
Na cidade ou no campo, um
desenvolvimento que assegure o futuro
das novas gerações exige repensar
todos os nossos modos de viver – desde
hábitos cotidianos que degradam o
ambiente e desperdiçam recursos até
a forma econômica de gerar trabalho e
renda. Especialistas concordam que uma
das melhores possibilidades do Brasil
nesse caminho está no campo, com a
agricultura familiar. Com 80% dos 4,8
milhões de estabelecimentos rurais nas
mãos de pequenos produtores, o setor
emprega 70% da mão-de-obra rural e
Mas, para especialistas, a agricultura familiar
responde por 10% do PIB nacional e
brasileira ainda não tem sido contemplada
40% do PIB da agropecuária. Além de
como deveria e continua sofrendo
responder pela maior parte dos alimentos
desastrosos impactos, como a dificuldade
na mesa dos brasileiros, ela permite
para a geração de renda e a inserção nos
o uso de métodos menos prejudiciais
mercados, e a percepção do meio rural como
ao ambiente e emprega mais pessoas,
um espaço marcado pela falta de acesso a
criando alternativas especialmente
bens de serviço e infra-estrutura. Os jovens,
para os jovens em busca de construir
que acabam empurrados para as grandes
um futuro. Trata-se, em resumo, de
metrópoles em busca de oportunidades de
um dos setores que mais podem
trabalho e estudo, são os que mais refletem a
contribuir para o desenvolvimento
falta de investimentos e políticas para o setor.
sustentável. Segundo Ivanise Knapp,
assessora técnica da Secretaria de
Segundo dados do IBGE, dos quase 35
Desenvolvimento Sustentável do Meio
milhões de jovens com 14 a 24 anos de
Ambiente, “a agricultura familiar se faz
idade no Brasil, 18% residem no meio rural.
em pequenas áreas, não é monocultora
De 1991 a 2000, houve uma redução de
e busca caminho próprio para sua
26% da população jovem no campo. Os
viabilização por meio do associativismo
processos migratórios têm acarretado não só
e do cooperativismo. A sustentabilidade
a redução da população rural como também
ambiental, social e cultural desse modelo
um processo de masculinização. Além do
em relação ao agronegócio monocultor
predomínio juvenil, o movimento migratório
típico do latifúndio é enorme”.
recente tem ampla participação feminina.
As mulheres representam 52% do total da
migração jovem.
E a nova juventude rural tem, entre suas Essa discussão também vem mobilizando
bandeiras de luta, não só o acesso a terra, a juventude para refletir sobre outras
saúde, cultura, educação e renda, mas também questões: “Neste ano, pretendemos
a promoção do desenvolvimento sustentável intensificar ainda mais o debate sobre
e a preservação do ambiente. Segundo Elisa o meio ambiente junto aos jovens,
Guaraná, a questão ambiental está claramente introduzindo a discussão da agroecologia,
presente no ideal de campo que a juventude associando o saber popular e o saber
dos movimentos sociais constrói no seu dia-a- científico, para garantir uma produção
dia, colocando-a entre os pontos prioritários de ambientalmente mais equilibrada
suas pautas de reivindicação junto aos gestores e sustentável. Com isso, queremos
de políticas públicas. “Uma imagem recorrente fortalecer uma agricultura livre dos
nas entrevistas com jovens dos movimentos venenos químicos, preservando a saúde
sociais é a do meio rural como espaço do trabalhador rural e levando à mesa do
tranqüilo e bom de se viver – justamente pela consumidor alimentos mais saudáveis”.
relação com a natureza –, mas que sofre com
problemas ambientais, de produção e de infra- Arquivo Saberes da Terra/Maranhão
estrutura”.
Texto 02
Trabalho e Transformação do Mundo
Paulo Freire (1982)
Arquivo MST
Pedro e Antônio derrubaram uma árvore.
Tiveram uma prática. A atividade prática
dos seres humanos tem finalidades. Eles
sabiam o que queriam fazer ao derrubar
a árvore.
trabalho e
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37
transformação do mundo
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38
Texto 03
INVERNADA DOS NEGROS
A
seqüência
de fotos ao
lado revela
uma das produções
culturais na
comunidade
quilombola de
Invernada dos
Negros, onde
também funcionou
turma do Programa
Saberes da Terra.
D
ito de uma
forma
sintética e
simples, cultura é
tudo o que resulta do
trabalho humano, da
ação humana. No
entanto, nem todos
os bens culturais são
materiais, como, por
exemplo, a religião.
I
nvernada dos
Negros Fotos do
Programa Saberes
da Terra, Turma em
Invernada dos Negros,
Município de Campos
Novos, Estado de
Santa Catarina.
Texto 04
RECULTURARTE
Carlos Rodrigues Brandão
Afagar a teeeeerra
Conhecer os desejos da teeeeeerraaa
Cio da terra, a propícia estaçãããããooooo Decepar a canaaaaa
E fecundar o chãããããooooo Recolher a garapa da canaaaaaa
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de meeeeeeeel
Agricultura Familiar
do,
é quando todo mun
Pedir empréstimo agrícola
Culturas mais rentáveis
Fazer consórcio de culturas
Adubo orgânico de lixo
Encont de jovens
Ué!? Isso é
que é o Tempo
Acolhida, pra
Edu?
Texto 05
AS TRAMAS DA IDENTIDADE
Todos têm cultura e trata-se de um bem universal porque
é a rede de relações que define o desenho de uma comunidade
Tião Rocha1
1
Tião Rocha é Todo e qualquer ser humano tem cultura. um novo conceito, que fosse ao mesmo
antropólogo,
educador e
Esta é uma das poucas “verdades” da tempo operacional, palpável, mensurável,
folclorista. Foi Antropologia. Apesar disso, muita gente observável, ético e correto.
professor da ainda pensa que alguns seres humanos
PUC-MG, da
Universidade
não têm cultura. Uma minoria crê, Para isso, buscamos outra contribuição
Federal de firmemente, que sua cultura é superior da Antropologia: em toda e qualquer
Ouro Preto à dos outros. Outros, por se julgarem comunidade humana, existem e
e membro
do Conselho
superiores, resolveram eliminar e subjugar interagem diversos componentes
Universitário os diferentes, tratando-os como inferiores. substantivos (que nós denominamos
da Universida- E uma grande maioria acostumou-se “indicadores sociais”) que podem ser
de Federal de
Minas Gerais. É
a pensar que não tem cultura alguma, identificados, medidos e observados
presidente do ficando à mercê das elites ditas “cultas”. e que, quando interagem entre si,
CPCD - Centro
constroem desenhos, padrões, símbolos
Popular de Outro equívoco que rodeia a cultura é
Cultura e De- e valores do grupo humano que aí vive e
quanto ao uso que se faz do conceito.
senvolvimento, que podemos conceituar de Cultura.
que fundou em As definições variam do extremamente
1984, em Minas amplo (“cultura é tudo aquilo que o
Gerais.
homem acrescenta à natureza” ou Encontramos os indicadores sociais em
“cultura é toda maneira de pensar, agir qualquer comunidade - rica ou pobre,
e sentir dos homens”) ao extremamente urbana ou rural. No entanto, eles só se
específico (“cultura é erudição”). Com tornam um indicador cultural quando, em
o uso indiscriminado ou interesseiro, contato com outros indicadores, produzem
a palavra cultura tornou-se expressão um novo desenho, uma teia de relações
esvaziada. Foi o que nos levou a construir dinâmicas, novas tramas e padrões de
convivência, gerando novos valores
http://www.carnavaldasculturas.com/images/SAMBA%20DE%20RODA%20SUERDIECK.jpg
ou sendo influenciados pelos valores
universais presentes na comunidade.
Arquivo IPHAN
Arquivo MST
coletividade. A permanência do costume no
tempo cria a “tradição”, marca registrada do
fazer e do saber fazer de uma comunidade
ou de um povo.
Texto 06
A Mercantilização da Cultura2
Rosana Miyashiro Fahl
“O objeto da arte,
tal como qualquer outro produto,
cria um público capaz de
compreender a arte e de apreciar a beleza.
Portanto, a produção não cria somente um
objeto para o sujeito, mas também um sujeito para o objeto.”
Karl MARX
Arquivo MST
área musical, cinematográfica, das artes
em geral. Um exemplo é a promoção de
megaexposições de pintores clássicos,
com acesso gratuito, que permite que
um público, antes não contemplado,
tenha “passagem” por este tipo de
evento. No entanto, isso não significa
acesso à cultura ou a configuração de
um processo de democratização dos
bens culturais que tenha como objetivo
possibilitar a apropriação de novos
conhecimentos, mas trata-se de um meio
eficaz de disseminar marcas e ampliar
o mercado consumidor das empresas
patrocinadoras.
que são apropriadas e ressignificadas,
dependendo de seu potencial de Os programas de entretenimento
penetração no mercado. Dessa maneira, funcionam como um forte apelo
a arte, mais do que’ nunca, e de forma propagandístico, na medida em que
crescente, transforma-se em produto lançam estereótipos de estilos de vida
altamente desejado por milhares de e modos de ser, através das marcas
pessoas na medida em que se torna um que expõem naturalmente em suas
bem para marcar diferenças sociais e ficcionais. Em nome da diversidade,
transmitir mensagens, conotando status e constroem-se mercados segmentados,
a sensação de inclusão, de inserção social. ou mesmo surgem novas apropriações
e combinações de signos que apelam a
Dessa forma, a vinculação crescente, sob um público “heterogêneo”. Mais do que
novas formas, entre cultura e grandes ter, é necessário criar novos desejos. A
negócios, faz parte da tendência atual. velocidade que este processo alcança nos
Uma série de incentivos por parte dos dias atuais é tomada como sinônimo de
governos, sob a forma de redução progresso justificado pelos avanços
ou isenção fiscal para as empresas, tecnológicos e pelo discurso da
favorece os grandes investimentos na democratização da informação, fundido
paradoxalmente com a barbárie da
miséria e da violência, presentes na
realidade da população, apresentada
diariamente.
Texto 07
Etnia
Chico Science/ Lúcio Maia
É o povo na arte
É arte no povo
E não o povo na arte
De quem faz arte com o povo
Maracatu psicodélico
Capoeira da Pesada
Bumba meu rádio
Berimbau elétrico
Frevo, Samba e Cores
Cores unidas e alegria
Nada de errado em nossa etnia.
Texto 08
PAJELANÇA
(do tupi pajé, curador, sacerdote,
xamã) é um termo genérico aplicado
às diversas manifestações do
xamanismo dos povos indígenas
brasileiros. Refere-se aos rituais
nos quais um especialista entra em
contato com entidades não-humanas
(espíritos de mortos, de animais etc.)
com o fim de resolver problemas que
acometem pessoas ou coletividades.
Texto 09
A SERRA NEGRA, UM LOCAL SAGRADO
Texto 10
Quem, onde, quantos?
Foto: Eduardo Viveiros de Castro
Em pleno
século XXI
a grande
maioria dos brasileiros ignora a imensa
diversidade de povos indígenas que
vivem no país. Estima-se que, na época
da chegada dos europeus, fossem
mais de 1.000 povos, somando entre
2 e 4 milhões de pessoas. Atualmente
encontramos no território brasileiro
227 povos, falantes de mais de 180
línguas diferentes. A maior parte dessa
população distribui-se por milhares de
aldeias, situadas no interior de 593 Terras
Indígenas, de norte a sul do território
nacional. Para o ISA a população indígena
no Brasil atual está estimada em 600 mil Araweté (PA), 1982
indivíduos, sendo que deste total cerca
de 480.000 mil vivem em suas Terras
Indígenas (e, em menor número, em Quem são
áreas urbanas próximas a elas), enquanto A expressão genérica “povos indígenas” refere-
outros 120.000 mil encontram-se se a grupos humanos espalhados por todo o
residindo em diversas capitais do país. mundo, e que são bastante diferentes entre si.
Apenas no Brasil, há mais de 200 desses povos.
Importante ressaltar que os dados do
IBGE (Censo Populacional de 2000) É apenas o uso corrente da linguagem que faz
indicaram que a parte da população com que, em nosso e em outros países, fale-se
brasileira que se autodeclarou em povos indígenas, ao passo que, na Austrália,
genericamente como “indígena” alcançou por exemplo, a forma genérica para designá-los
a marca de 734 mil pessoas, marca, seja aborígines. Indígena ou aborígine, como
portanto, superior à estimada pelo ISA. ensina o dicionário, quer dizer “originário
Essa discrepância numérica pode ser de determinado país, região ou localidade;
melhor compreendida acessando o link nativo”. Aliás, nativos e autóctones são outras
“diferentes estimativas”. expressões usadas, ao redor do mundo, para
denominar esses povos.
Aldeia Manatai, dos Inganinkó, ao norte Mulher Tuyuka fazendo beiju, Alto Tiquié
da Raposa/Serra do Sol, 1997 (AM), 2001
1999
As aldeias dos Krahó (TO), povo da família 1961
lingüística jê, seguem o ideal timbira de Entre os Marubo, grupo da família
disposição das casas ao longo de uma lingüística pano que habita o Vale
larga via circular, cada qual ligada por um do Javari (AM), a única construção
caminho radial ao pátio central. habitada é a casa longada, coberta de
Foto: Vincent Carelli palha e de jarina da cumeeira ao chão,
que se localiza no centro da aldeia. As
construções que ficam ao redor, erguidas
por pilotis, servem mais como depósitos
e são de propriedade individual.
1983
Gavião Parkatejê (família jê) suas aldeias,
a Kaikotore. Composta de 33 casas de
alvenaria dispostas em círculo, possui
cerca de 200 metros de diâmetro. Há
um largo caminho ao redor, em frente
às casas e vários caminhos radiais 1978
que conduzem ao pátio central, onde Os Enawenê-Nawê (MT), grupo da família
se desenvolvem todas as atividades lingüística aruaque, vivem em aldeias
cerimoniais. formadas por grandes casas retangulares
Fotos: Arquivo ISA e uma casa circular, localizada mais ou
menos no centro, onde ficam guardadas
as suas flautas. No pátio central, são
realizados diversos rituais e jogos.
1984
Em grande parte das atuais aldeias xavante
(povo jê do leste do Mato Grosso), as casas
já não seguem o padrão visível na foto:
umas combinam base de alvenaria e teto
de palha, outras são inteiramente de palha, 1979
mas com paredes e teto separados. O gosto Os Yanomami orientais e ocidentais
por moradias de base circular, dispostas costumam viver numa casa agregando
conjuntamente em “ferradura” (um semi- várias famílias, a maloca Toototobi (AM).
círculo de casas aberto para o curso d’água Lá, reúnem-se todos os membros da aldeia,
mais próximo), continua, porém, vigorando sendo considerada como entidade política e
entre os Xavante. econômica autônoma.
1982
1961 Os Palikur (AP) também são da família
Aqui, uma habitação coletiva yanomami aruaque. Suas aldeias são construídas
vista de seu interior. voltadas para o rio. A maior delas,
Kumenê, tem suas casas dispostas em
Foto: René Fuerst duas ruas paralelas.
1961
A maloca-museu São João, no rio
Tiquié (AM), é um exemplo de como os
chamados “índios da floresta”, falantes
de línguas das famílias aruaque e tukano,
da região da bacia do alto rio Negro,
costumavam viver. Não é uma simples
moradia comunitária, mas,também, um
1983
espaço fundamental para a realização de
Atualmente, os Fulniô (PE), falantes de
cerimônias, a trajetória primordial dos
uma língua do tronco acro-jê, alternam-se
antepassados míticos.
entre duas aldeias. Uma delas localiza-se
junto à cidade de Águas Belas. A outra é o
Foto: Beto Ricardo
lugar sagrado do ritual do Ouricuri, onde
os índios se estabelecem nos meses de
setembro e outubro.
1993
As casas dos Assurini do Tocantins, grupo
de língua tupi-guarani localizado no estado
do Pará, são construídas com madeira de
paxiúba (paredes e assoalhos) e palha de ubim
(cobertura e, às vezes, paredes). A arquitetura
das casas segue o padrão regional. Algumas
são construídas sobre palafitas.
Texto 11
Estatuto da Igualdade Racial: oportunidade democrática
O sistema de cotas nas universidades Gostaria de lembrar mais uma vez que
está consagrado no PL 73/99 da deputada o EIR está para os negros no Brasil da
Nice Lobão (PFL-MA). A proposta deve mesma forma que nos Estados Unidos
assegurar o preenchimento, por afro- da América (EUA), depois da famosa
brasileiros, de quotas mínimas das vagas “Marcha sobre Washington”, foram
nos cursos de graduação em todas as aprovados os direitos civis para os negros,
instituições públicas federais de educação pela Suprema Corte e em seguida pelo
superior do território nacional e nos Congresso. Martin Luther King morreu
contratos do Fundo de Financiamento ao nesta caminhada, mas a Lei permanece
Estudante do Ensino Superior (FIES). até hoje.
Texto 12
INDICADORES DE DESIGUALDADES DE GÊNERO
E RAÇA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO (2001)
Perfil educacional
O perfil educacional das mulheres é
mais elevado que o dos homens e essa
diferença se acentua na década;
l 64% dos negros e 44% dos brancos têm Desemprego
até 7 anos de escolaridade; l a taxa de desemprego das mulheres
l 19% dos negros e 39% dos brancos têm (11,7%) é 58,1 % superior à dos homens
11 anos e mais de escolaridade; (7,4%);
l apenas 2% dos negros conseguem l a taxa de desemprego dos negros de
entrar na universidade; ambos sexos (10,6%) é 30,9% superior à
l a defasagem entre os perfis dos brancos de ambos sexos (8,1’%);
educacionais de negros e brancos l a taxa de desemprego das mulheres
aumentou negras (13,8%) é 112,3% superior à dos
entre 1992 e 2001. homens brancos (6,5%);
l os diferenciais entre as taxas de
Diferenciais de rendimento
l as mulheres recebem em média, por
hora trabalhada, 79% do que recebem
os homens. Por mês, essa proporção se
reduz para 66%;
l a diferença entre as remunerações
médias dos homens e mulheres aumenta,
ao invés de diminuir, à medida que
aumenta o nível de escolaridade;
l entre os que têm 15 anos ou mais de
estudo, as mulheres recebem apenas 61% Informalidade e Precarização
dos rendimentos masculinos por hora l a proporção de mulheres que se
trabalhada; concentra nas ocupações precárias
l as diferenças de rendimentos entre e informais (61%) é 13% superior à
homens e mulheres se reduzem 8.% entre proporção de homens nessa mesma
1992 e 2001; situação (54%);
l os trabalhadores negros de ambos l a proporção de negros (65,3%) em
os sexos recebem, em média, por hora ocupações precárias é 29% superior à
trabalhada, 50% dos que recebem os proporção de brancos na mesma situação
trabalhadores brancos de ambos os (50,4%);
sexos; l no caso das mulheres negras, essa
l as mulheres negras recebem apenas proporção é de 71%. Destas, 41% se
39% do que recebem os homens brancos concentra nas ocupações;
por hora trabalhada; l mais precárias e desprotegidas
l comparando negros e brancos com o do mercado de trabalho: 18%
mesmo nível de escolaridade, os negros são trabalhadores familiares sem
recebem sempre 30% a menos que os remuneração e 23% são trabalhadoras
brancos por hora trabalhada; domesticas. No caso das mulheres
l na faixa superior de escolaridade brancas, essas porcentagens são,
(15 anos e mais), as mulheres negras respectivamente, 13,5% e 14%, o que
recebem menos da metade (46%) do que perfaz um total de 27,5%.
recebem os homens brancos por hora
trabalhada; Fonte: IBGE. PNAD 2201
l as diferenças salariais entre negros e Elaboração: OIT
brancos não se alteram entre os 1992 e Obs: Dados referem-se às pessoas de 16
2001. anos e mais.
Texto 13
A economia de base ecológica em pequenas
propriedades familiares: o caso da família Rutkoski5
Adilson R. Bellé, Juliana Mazurana e Lauro Foschiera*
pela Revista
Agriculturas - v.
Sananduva, Rio Grande do Sul, e conta Os Rutkoski sempre tiveram uma postura
2 - no 3 - outu- sua história a partir da década de 70, com reservada quanto ao uso de agrotóxicos,
bro de 2005. o casamento do Sr. Ivo (54 anos) e Dona principalmente pela preocupação
Lourdes (47 anos). com a saúde. Adotavam apenas em
parte o pacote proposto pelo modelo
Tiveram dois filhos: Evandro (26 anos) e convencional de produção, fazendo uso
Fátima (18 anos), que trabalham e vivem de pequenas quantidades de adubos
junto aos pais. Receberam como herança químicos em seus cultivos. Aos poucos,
uma área de 3,5 hectares localizada na no entanto, o sistema convencional foi
comunidade de São Paulo da Cruz, a sendo incorporado à economia da família.
30 km da sede do município, região de
topografia acidentada e colonizada, em Além da falta de alternativa, a introdução
sua maioria, por poloneses e italianos. desse modelo foi estimulada pela cultura
Mais tarde, a família conseguiu comprar produtiva dominante na região e também
outros 20 hectares com a produção e pela “pressão” exercida pelos vizinhos.
venda de suínos, feijão e soja, mas sem Cresceram assim a dependência de
deixar de produzir para o autoconsumo. insumos e os custos com a produção. No
Foto: Erik Risaker, 2004/Revista Agriculturas que se refere aos aspectos econômicos,
a renda obtida era baixa. O sistema
produtivo pouco diversificado gerava
instabilidade e insegurança, tanto
econômica quanto alimentar. Depois da
participação do filho em um curso sobre
produção ecológica em 1996, a família
decidiu tornar a propriedade totalmente
ecológica. A transição dos padrões do
manejo técnico-produtivo foi rápida, pois
perceberam que havia boas oportunidades
para fazer um trabalho diferente, com
maior liberdade para comercializar e
possibilidades de incremento da renda. A
família foi pioneira na adoção do sistema
ecológico no município, demonstrando a
viabilidade da proposta.
Texto 14
Arquivo Saberes da Terra/Maranhão
Arquivo do MST
Texto 15
A AGRICULTURA FAMILIAR E
A PONTENCIALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
CONTAG – Projeto Alternativo e Desenvolvimento Rural
Texto 16
LEI TRARÁ DIRETRIZES PARA A AGRICULTURA FAMILIAR11 11
Texto
extraído do
Caderno de
Formação
Integral
do Ensino
Fundamental
e qualificação
Notícias
profissional de
agricultores
familiares.
Projeto Saberes
da Terra.
24 de julho de 2006 Secretaria do
Maranhão.
Foi sancionada hoje pelo presidente da República, Luiz Educação. São
Luís, 2007.
Inácio Lula da Silva, a Lei que institui a Política Nacional
da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares. A
Lei, que agora será publicada no Diário Oficial da União,
reconhece a agricultura como setor produtivo, trazendo
diretrizes para a mesma.
Texto 17
João Werner “Ceifadores” 50x70 cm acrílica sobre tela/2004
O CIO DA TERRA
Chico Buarque – 1977
Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
Texto 19
Fotos: Arquivo Saberes da Terra
SERENETA CAMPESINA
Gilvan Santos
Nossa plantação
dá pra gente viver
não temos patrão
temos nosso saber
pra cuidar dessa terra
nosso bem-querer
no campo da produção
e faz enfeite pra festa
e a massa que faz o pão
Texto 20
ESSA CIDADE É GRANDE
Desabafo de um lavrador
que deixou a terra
Gilvan Santos
Perdi a identidade
meu mundo é informal
meu escritório é o tempo
em meio ao desalento
nessa capital
vou procurar uma terra
um pé-de-serra
pra poder viver
e vou jogar semente
com uma nova gente
e vamos ver crescer
Texto 21
MULHER GUERREIRA
Maria José Barbosa O meu estudo não foi concluído, cheguei até a 3ª série.
(educanda do Saberes da Terra-Aliança/PE) Por causa de pequenos detalhes, não tive a grande
oportunidade de estudar.
Arquivo SECOM/MEC
Arquivo SECOM/MEC
Arquivo SECOM/MEC
Texto 22
JUVENTUDE E AGRICULTURA ECOLÓGICA NO RIO GRANDE DO SUL
Juventude e agricultura ecológica no Rio Grande do Sul
O que estamos pensando hoje É para dar conta dessas perspectivas mais
Atualmente, após 17 anos dessa fase amplas que desenvolvemos atividades mais
inicial de expansão da proposta da coordenadas, em apoio às de formação
agricultura ecológica, tanto a Pastoral realizadas pela Pastoral da Juventude, a
quanto o Centro Ecológico fazem uma fim de criar um trabalho com a segunda
avaliação da necessidade de reforçar o geração de agricultores ecologistas. A idéia
trabalho com a juventude rural. Sabemos é fazer uma reflexão com esses jovens
que a agricultura ecológica é uma opção sobre os limites presentes em relação à
consistente para a permanência dos agricultura como um todo e à ecológica
jovens no meio rural, proporcionando-lhes em particular, visando a construção
qualidade de vida. Mas entendemos que de alternativas que possam viabilizar a
as demandas dos jovens são mais amplas. manutenção dos jovens, com qualidade de
Faz-se necessário também trabalhar a vida, no meio rural.
identidade, promover a auto-estima e
viabilizar as condições básicas atualmente A principal estratégia que temos adotado
requeridas pela juventude rural no que diz para proporcionar a esses jovens melhores
respeito à educação, saúde e lazer. condições para pensar em sua condição
atual no meio rural consiste em uma
série de atividades de formação,
compreendendo cursos, oficinas e
retiros. Essas atividades possibilitam a
reunião desses jovens, que se encontram
Arquivo Saberes da Terra/Paraná bastante dispersos no meio rural, criando
momentos ricos para a troca de experiências
e a elaboração de propostas coletivas para a
juventude, além do fortalecimento individual
de cada jovem participante.
Entre as atividades desenvolvidas, está o
encontro realizado em setembro de 2004
no Ipê, no qual estiveram presentes cerca
de 150 pessoas, entre jovens e agricultores
ecologistas. Esse evento significou a unificação
de todas as atividades desenvolvidas durante
o ano na serra gaúcha.
Concluindo: pensamos que é necessário *Pe. João Bosco Schio: Pastoral da Terra
fortalecer a organização dos jovens Pe. Celso Cicconetto: Pastoral da Terra
no meio rural para que, com a sua Luiz Carlos Scapinelli: Pastoral da
participação, sejam elaboradas as Juventude e membro da Associação de
políticas necessárias para viabilizar a sua Agricultores Ecologista Pereira Lima, Ipê-
permanência no local de origem com RS.
qualidade de vida, ou seja, com melhores
condições de educação, saúde, acesso à Ricardo Barreto: membro da equipe
terra, renda e lazer. técnica do Centro Ecológico.
c.ecologico@terra.com.br
Sabemos que a agricultura ecológica
é uma opção consistente para a Referências:
permanência dos jovens no meio rural, SCHMITT, C.J. Tecendo as redes de
proporcionando-lhes qualidade de vida. uma nova agricultura: um estudo
Mas entendemos que as demandas dos socioambiental da Região Serrana do
jovens são mais amplas. Rio Grande do Sul. (tese de doutorado).
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2001.
Texto 23
JUVENTUDE E FORTALECIMENTO
DA AGRICULTURA FAMILIAR NO SEMI-ÁRIDO DA BAHIA
Juventude e fortalecimento da agricultura familiar no semi-árido da Bahia13 13
Texto cedido
Emanuel Mendonça Sobrinho* pela Revista
Agriculturas -
v. 2 - no 1 - abril
de 2005.
O Projeto Juventude e Participação Social
(PJPS) teve início em março de 2004, nas
microrregiões do Sisal e Vale do Jacuípe,
semi-árido baiano, com o objetivo de
incentivar e apoiar um processo de
organização e participação social da
juventude e visando a elaboração e
defesa de políticas públicas setoriais.
Os desdobramentos
No transcurso da experiência, é possível
identificar uma maior percepção e
A experiência
atuação da juventude quanto aos limites
e às potencialidades da agricultura
do PJPS vem
familiar. Concretamente, estão em
curso algumas iniciativas incipientes
desafiando
de hortas comunitárias com princípios
agroecológicos, desenvolvidas pelos
a juventude
coletivos de jovens, por meio de parcerias
com entidades locais (STRs, igrejas e
rural, o MOC
associações comunitárias), assim como
a elaboração de projetos para captação
e entidades
de recursos para o desenvolvimento
de atividades como os criatórios de
parceiras a
cabras e de abelhas. Em outra dimensão,
os jovens vêm ocupando espaços
refletirem
político-institucionais – conselhos
municipais de desenvolvimento rural
sobre os
sustentável(CMDRs) e o Conselho
Regional de Desenvolvimento – de
caminhos e
discussão e negociação de políticas
voltadas para a criação e valorização de
alternativas
oportunidades geradoras de trabalho
e renda na agricultura familiar, em
para geração
particular para a juventude rural. de trabalho
A realização, durante o período eleitoral,
de debates públicos com candidatos
e renda para
a prefeito e a vereador para definir
compromissos nos planos de governo
jovens na
com o segmento juvenil do campo
e a participação social de jovens
agricultura
nas iniciativas locais e regionais dos
movimentos sociais são conquistas
familiar, no
relevantes da organização e atuação dos
coletivos de jovens.
contexto do
semi-árido.
Texto 24
15
COMUNICAÇÃO,
CULTURA E
SOCIEDADE -
Módulo 5.
FICHA 3.
CULTURA DE MASSA E CULTURA POPULAR15 PROGRAMA
INTEGRAÇAO -
Alfredo Bosi ENSINO MÉDIO
1/6.
Texto 25
RETALHOS, BARROS, MIÇANGAS.
A ARTE DE VER O BELO ONDE NINGUÉM VÊ
Em Sergipe, artistas põem em suas obras imagens poéticas e imprimem traços autorais.
Seus ateliês ajudam a entender como se forma e se manifesta a gigantesca cultura de
nosso povo.
“Uma vez, adolescente, fiz uma grande arte, Zeus começou aos 15 anos lixando
pintei toda a lateral de uma fábrica. Enquanto ex-votos para seu irmão; para Zeus, a
de longe admirava meu trabalho e no auge da escultura, principalmente na madeira de
satisfação me comparava ao grande muralista imburana, é só alegria. Ele reafirma sua
mexicano Siqueiros, vi o proprietário se cultura artística nas santas, cujos mantos
aproximar e exclamar: ‘Ah-ah, muito bonito, têm movimentos solenes e detalhes que
hein?!’ Ele queria de volta a parede toda evocam elaborados pontos de renda, ou
branca e a mãe teve que ressarcir a cal.” ainda nas figuras que expressam melhor a
região, como o cangaceiro, o Conselheiro
Hoje, Ismael é admirado pelas figuras de e o Padre Cícero.
cerâmica que retratam guerreiros, bois, cavalos,
galinhas, corujas, recobertas de um acabamento
individualizado, com retalhos de chita, espelhos,
miçangas e muito brilho. Resultado: efeitos de cores
fortes que fazem as figuras adquirir luz própria
e contraponto para o monocronismo do sertão.
SE
Texto 26
GÊNERO E AGRICULTURA FAMILIAR:
COTIDIANO DE VIDA E TRABALHO NA PRODUÇÃO DE LEITE16 16
Texto extraído
do artigo
GÊNERO E
AGRICULTURA
FAMILIAR:
COTIDIANO
DE VIDA E
TRABALHO NA
PRODUÇÃO
DE LEITE-
Pesquisa DESER;
1. GÊNERO: QUE BICHO É ESSE? E, se são papéis sociais construídos - CEMTR/PR
historicamente e não determinados pela - Coordenação
da pesquisa:
Essa pergunta tem vindo muitas vezes natureza, podem ser modificados. DESER: Renata
à cabeça de muitos companheiros e Menasche e João
Gênero: é questão das mulheres? Carlos Sampaio
companheiras. Por que agora se fala Torrens CEMTR/
em relações de gênero e não mais em PR: Maria Salete
“questões das mulheres”? Gênero não é uma questão exclusiva Escher e Silvia
das mulheres, porque as relações de Regina Barguil:
Elaboração: João
Gênero é um conceito. É um conceito gênero perpassam o conjunto das Carlos Sampaio
que serve para explicar as relações relações sociais. Os mundos do trabalho, Torrens e Renata
da política, da cultura se dão também Menasche
entre homens e mulheres. Gênero é um Discussão: Maria
conceito relacional: vê um em relação conforme a inserção de homens e Salete Escher,
ao outro. Isso significa que os papéis mulheres, a partir de seus papéis Circe Rodrigues
masculinos e femininos. Isso significa que Padilha,
sociais masculino e feminino não existem Margarete
isolados, um é construído na relação com as relações de gênero perpassam todas as Preilipper e Inês
o outro. O conceito “gênero” considera, realidades e todas as questões. Vercauteren
(componentes
ainda, que na sociedade atual as relações da CEMTR)
entre homens e mulheres não são de Não se pode, por exemplo, entender o Fotos: Renata
igualdade: são relações de hierarquia e que é a agricultura familiar sem perceber Menasche, Inês
as relações de gênero em seu interior. Vercauteren e
de poder dos homens sobre as mulheres acervo Fetaep
(FARIA, 1995) E isso é muito concreto: há uma divisão Edição:
sexual do trabalho, disso todo mundo Michelle Thomé
sabe. Como, então, querer entender a Apoio: CERIS/
É a natureza que determina as CEBEMO.
desigualdades? produção sem enxergar, em primeiro
lugar, que é realizada por gente, e que
Por muitos anos se acreditou que eram as essa gente é composta por homens e
diferenças biológicas que explicavam as mulheres, de diferentes idades, e, ainda,
desigualdades entre homens e mulheres. que essas pessoas, de diferentes sexos
O conceito de gênero expressa, porém e idades, têm diferentes formas de
um outro entendimento: as diferenças perceber a vida, anseios diferentes?
são socialmente construídas. Isso significa
que homens e mulheres são “moldados”
pela sociedade, o ser homem e o ser
mulher correspondem a papéis sociais
estabelecidos: masculino e feminino.
Texto 27
MARGARIDA ALVES
O nome Margarida Alves significa luta Pelo fato de ser católica, Margarida
em defesa dos direitos trabalhistas. teve uma grande influência do padre
Ela é considerada uma das principais Geraldo para ingressar no Sindicato Rural
representantes da liderança feminina de Alagoa Grande. Caracterizada pela
no Brasil, que viveu e morreu lutando constância e disposição para o trabalho,
pelos direitos das trabalhadoras e chegou a ser tesoureira e, em 1973, foi
trabalhadores da terra. eleita presidente do sindicato, função que
exerceu sucessivamente até 1982.
Margarida Alves nasceu em 5 de agosto
de 1943, em Alagoa Grande, na Paraíba. A sindicalista lutava pela defesa dos
Foi a filha mais nova de nove irmãos. O direitos dos trabalhadores do campo,
contato permanente com o latifúndio, pelo décimo terceiro salário, o registro
que começou desde muito cedo, devido em carteira profissional, a jornada diária
à necessidade de manutenção da família, de oito horas e as férias obrigatórias.
estimulou seu desejo de lutar pelos Foi uma das fundadoras do Centro de
trabalhadores rurais. Educação e Cultura do Trabalhador Rural,
cuja finalidade é, até hoje, contribuir no
processo de construção de um modelo
de desenvolvimento rural e urbano
sustentável, a partir do fortalecimento da
agricultura familiar.
Durante seus 12 anos dentro do A sua luta era em prol das trabalhadoras
sindicato, foram movidas mais de 600 e trabalhadores, motivo pelo qual sofreu
ações trabalhistas contra os usineiros várias ameaças e atentados contra sua
e senhores de engenho da região da integridade física. Fruto de sua liderança,
Paraíba. Em seus anos de luta, nunca foram movidas aproximadamente
se registrou na justiça uma só perda 73 reclamações trabalhistas contra
de questões trabalhistas em favor do engenhos e contra a Usina Tanques,
trabalhador rural. o que, no período ditatorial, produziu
uma forte repercussão e atraiu o ódio
de latifundiários locais. Margarida não
se deixou abater pelas ameaças, pelo
contrário, tornava-as públicas e fazia
questão de respondê-las. Em 12 de agosto
de 1983, ela foi covardemente assassinada
com um tiro no rosto, bem na frente de
seu filho, com apenas 10 anos de idade.
Texto 28
A CONSTRUÇÃO DA ECONOMIA FEMINISTA
NA REDE XIQUE-XIQUE DE COMERCIALIZAÇÃO SOLIDÁRIA
A construção da economia feminista na Rede Xique-Xique de Comercialização Solidária17
Isolda Dantas* 17
Revista Agri-
culturas. V.2 –
n° 3 – outubro
de 2005.
A história da Rede Xique-Xique de Pensando nisso, foi criada a Associação
Comercialização Solidária18 confunde- de Parceiros e Parceiras da Terra (APT).
18
A Rede Xique-
Xique de Co-
se com a história da organização Nesse espaço, reuniam-se produtoras e mercialização
das mulheres na região oeste do Rio consumidores(as), e todo o processo de Solidária tem
Grande do Norte. Sua fundação teve venda e entrega de produtos era feito de sede na cidade
de Mossoró
a participação de vários grupos com forma direta. Após três anos, outros grupos (RN), situada
experiência de produção coletiva e que de áreas de assentamentos rurais e urbanos, na região oeste
buscavam um espaço de comercialização na sua maioria mulheres, que produziam mel do estado do
Rio Grande do
que atendesse às necessidades de seus de abelha, castanha, artesanatos de palha Norte. É fruto
projetos produtivos. e sementes, derivados da caprinocultura de um amplo
e hortigrangeiros em vários municípios da processo de
construção
Em 1999, o Grupo de Mulheres região, também passaram a demandar meios coletiva dos
Decididas a Vencer, do Assentamento para a comercialização de sua produção. grupos produ-
Mulungunzinho, de Mossoró (RN), após tivos, com a
contribuição de
avaliar várias idéias para gerar renda por Com isso, grupos produtivos, entidades um conjunto de
meio de um projeto produtivo, dentre de assessoria e movimentos tinham uma organizações da
eles, fábricas de doces e criação de preocupação que era norteada pela certeza sociedade civil
que, atuando
galinhas, optou pelo cultivo de hortaliças de que precisavam estender a comercialização em diferentes
orgânicas. A agricultura fazia parte a todos os envolvidos, conservando os áreas, lutam
das raízes e do dia-a-dia de cada uma mesmos compromissos afirmados para pela autonomia
e melhoria
delas, familiarizadas com a terra e seus a produção e organização, que estiveram da qualidade
humores. Praticá-la agora com base nos presentes no processo de construção da Rede de vida dos
princípios da agroecologia era converter e que integram, hoje, a carta de princípios trabalhadores
e trabalhadoras
o aprendizado que tinham acumulado em do Espaço Xique-Xique: a produção, a do campo e da
uma obra concreta. Convencidas da idéia comercialização e o consumo devem se cidade. A Rede
de cultivar hortaliças agroecológicas, distanciar de todas as formas de exploração comercializa e
produz dentro
era necessário averiguar formas de do trabalho, incluindo o trabalho infantil, dos princípios
comercialização coerentes com as da ausência de salário digno, desigualdade da agroecologia
produção, que fossem justas, solidárias, salarial entre homens e mulheres, presença e da economia
solidária. Con-
o que significa também escapar à da figura do atravessador entre a produção e tatos: espaco-
exploração exercida pelos atravessadores. comercialização, dentre outras. xiquexique@
Buscamos, então, dar um passo além, servpro.com.br.
Texto 29
AGRICULTORAS DESCOBREM NOVA FORMA DE GERAR RENDA
E GARANTIR UMA ALIMENTAÇÃO SEGURA
Agricultoras descobrem nova forma de gerar renda e garantir uma alimentação segura19
Referências:
Centro Sabiá e PD/A-MMA. Sistematização
da Experiência com Comercialização
Agroecológica – Feiras Agroecológicas, 2004.
Texto 30
A ORGANIZAÇÃO DE MULHERES E CONVIVÊNCIA COM O SEMI-ÁRIDO:
A EXPERIÊNCIA DAS CISTERNEIRAS NO RIO GRANDE DO NORTE
Organização de mulheres e convivência com o semi-árido:
a experiência das cisterneiras no Rio Grande do Norte20
Conceição Dantas
A mão na massa
e a certeza na luta
Arquivo Cf8 Em fevereiro de 2004, 17 mulheres
participaram do curso de três semanas
e se tornaram construtoras de cisternas.
Mais do que isso conseguiram estabelecer
um novo modelo de construção do P1MC.
Todas estavam convencidas de que eram
aptas à construção, seja em dupla ou
em pequenos grupos. As agricultoras
voltaram para as suas comunidades
sabendo erguer e modular as placas da
cisterna. Com isso, tiveram reforçada
a certeza de que poderiam assumir
qualquer trabalho que desejassem e de
que não existe ofício (pre)destinado para
homens ou mulheres.
Arquivo Cf8
Texto 31
RESGATE CULTURAL E MANEJO DA AGROBIODIVERSIDADE
EM ROÇA INDÍGENAS: EXPERIÊNCIAS KAIABI
E YUDJA NO PARQUE INDÍGENA DO XINGU, MT
Resgate cultural e manejo da agrobiodiversidade em roças indígenas:
experiências Kaiabi e Yudja no Parque Indígena do Xingu, MT24 24
Texto cedido
da Revista
Agriculturas
Tuiarajup Kaiabi, Arupajup Kaiabi, Wisi’o - v. 1 – n° 1 -
Kaiabi, Taikapi Yudja, Mahurima Yudja, novembro de
2004.
Txitxiyaha Yudja, Geraldo M. Silva, Katia Ono*
25
No fim espécies agrícolas são menos valorizadas, O esforço de manejo de
dos anos 40,
a invasão
levando à diminuição da diversidade agrobiodiversidade Kaiabi está centrado
das terras genética nas roças. na cultura do amendoim, enquanto
Kaiabi por os Yudja têm focado sua atenção na
seringueiros
e empresas
A reação dos Kaiabi e dos Yudja às mandioca. Entre 1999 e 2004 foram
colonizadoras mudanças históricas em suas roças é realizados censos da disponibilidade de
havia colocado digna de nota. No início da década de variedades de todas as culturas agrícolas
em grave risco
a sobrevivência
50, Jepepyri (Prepori) Kaiabi25, originário nas aldeias Kwaryja Kaiabi
da população do rio Teles Pires, pediu que pequenas e Tuba Tuba Yudja. Os resultados
que, após amostras de cada variedade agrícola explicitaram origens distintas para
décadas de
luta contra os
fossem enviadas ao Xingu. O material as variedades presentes: aquelas
brancos, não foi trazido a pé e em canoas, em um consideradas tradicionais; as externas
tinha mais percurso de cerca de 500 km que levou (recebidas de outros índios ou trazidas
condições
de vencer o
mais de dois meses para ser feito. Mais da cidade); e as recentes (selecionadas
poderio do tarde, em 1966, pelo mesmo motivo de no local, a partir de outras variedades, e
adversário. Por invasão de suas terras, foi realizada a por coleta de maniva em roças velhas).
isso, Jepepyri,
um líder
transferência da maior parte dos Kaiabi Mostraram-se também diferenciações
carismático, que ainda viviam no rio Tatuy, local entre famílias nucleares, o que permitiu
aceitou o apoio da origem mítica do povo. Na viagem, identificar homens e mulheres que
dos irmãos
Villas Boas
feita de avião, também foram trazidas realizam um trabalho de curadoria de
para realizar a sementes e mudas por iniciativa do coleções genéticas.
transferência Capitão Temeoni Kaiabi, o líder da região.
de seu povo
para o Xingu.
A escolha das espécies e variedades a
Desde 1992 os filhos de Jepepyri, serem plantadas nas roças familiares
26
A Atix e o Arupajup e Tuairajup, assumiram a tarefa apresenta muitas motivações. No
ISA mantêm
uma parceria
de zelar pelo patrimônio genético de Parque do Xingu, essa decisão parece
há nove anos. seu povo e procuraram apoio externo estar vinculada a um complexo de
Esse acúmulo para melhor desempenhá-la. Em 1997, razões envolvendo preferências
se traduz
em termos
a proposta foi apresentada ao Instituto pessoais; identidade étnica; a idade e
de relações Socioambiental (ISA), e a partir de 1998 conhecimento especializado do casal; a
institucionais, as ações de resgate e multiplicação de consideração por tabus alimentares; os
bem como
suporte técnico,
variedades agrícolas passaram a ser usos e características organolépticas de
jurídico e trabalhadas em parceria entre a Atix e cada variedade; aspectos agronômicos;
administrativo, o ISA26. Em 1999 as primeiras parcelas e oportunidade para obtenção e/ou
incluindo ações
de capacitação
foram plantadas na aldeia Kwaryja, um conservação de um material particular.
direcionadas ano antes do falecimento de Jepepyri. Desse modo, o plantio e/ou abandono
à diretoria da Assim, a curadoria da coleção genética de variedades pode se dar em função
associação e
ao pessoal das
Kaiabi passou para seus filhos, noras e da combinação de respostas para esses
aldeias. genros, estabelecendo as bases para o fatores. Por exemplo, no caso Kaiabi, pais
presente trabalho (Kaiabi e Silva, 2001; novos deixam de comer amendoim até
Silva, 2002). Nos debates que seguiram, que o filho complete um ano de idade,
os Yudja manifestaram interesse em assim como algumas variedades são
resgatar as suas variedades, e Mahurima evitadas porque são relacionadas com a
Yudja e os casais Txitxiyaha e Taikapi e incidência de doenças, como a artrose.
Ikae e Isabaru, entre outras pessoas, Para os Yudja, algumas variedades de
começaram a exercer o mesmo papel de mandioca têm importância cultural
curadores. destacada, sendo celebradas através de
canções específicas em algumas festas.
Texto 32
Os agentes agroflorestais indígenas do Acre
Fabrício Bianchini e Paola Cortez Bianchini
Texto 33
A carne mais barata do mercado
A CARNE
respeito
Elza Soares
Composição: Seu Jorge,
Marcelo Yuca e Wilson Capellette
respeito
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar
respeito
é a carne negra
respeito
respeito
respeito
respeito
do mercado é a carne negra
Texto 34
Reprodução Rugendas - “Navio Negreiro”
navio negreiro
camburão
TODO CAMBURÃO TEM UM
POUCO DE NAVIO NEGREIRO
Marcelo Yuka
É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista
É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a Aids possui hierarquia
Na África a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas sociais
Texto 35
SECOM/MEC CPT SECOM/MEC
Canto CPT MST
Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil
Um lamento triste sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou
Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
Do quilombo dos palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou
E de guerra em paz, de paz em guerra
Todo povo dessa terra
quando pode cantar, canta de dor
Ôôôôôô ôôôôôô ôô
Texto 36
Agricultura Familiar: História, Diversidade e Autonomia
SOUSA, Romier da P.29 ; MICHELOTTI, Fernando30 ; COSTA, Gilson da Silva31
29
Engenheiro
Agrônomo,
Mestre em
Agriculturas
Familiares e
Desenvolvimento
Sustentável/
UFPA, Professor
da Escola Agro-
técnica Federal
de Castanhal
1. Introdução Por outro lado, os trabalhadores do - Pará.
D
campo nunca aceitaram passivamente
esde o início do período da essa subordinação, construindo diversas 30
Engenheiro
colonização até o momento formas de luta e de resistência a esse Agrônomo,
Mestre em
atual, cinco séculos se passaram modelo. São exemplos dessa luta a
Planejamento do
e muito se desenvolveu a agricultura fuga dos escravos para formarem os desenvolvimento
no Brasil, colocando o país na posição quilombos, a formação de comunidade /NAEA-UFPA,
privilegiada e estratégica de ser em áreas livres (beira de rios, fundos Professor do
hoje um dos grandes produtores de de pasto, terras de santo, seringais Colegiado de
Ciências Agrárias
alimentos do mundo. Durante toda essa abandonados, etc), as migrações para
da UFPA –
história, a monocultura para exportação novas fronteiras e as ocupações de Campus de
sempre foi privilegiada, como o caso terra. Marabá.
primeiro do extrativismo do pau-brasil
e, posteriormente, com as produções Todo esse movimento garantiu a
31
Engenheiro
Agrônomo e
extensivas de cana-de-açucar, de café, existência de uma agricultura familiar
Cientista Social,
de gado e atualmente, de soja e de com diferentes origens e uma doutorando em
eucalipto, os maiores símbolos do diversidade de formas de identidade Desenvolvimento
agronegócio brasileiro contemporâneo. e de organização, mas com um traço Socioambiental
comum: a negação do modelo agro- pelo Programa de
Desenvolvimento
Esse modelo de desenvolvimento da exportador baseado no latifúndio.
Sustentável do
agricultura, baseado nas plantações É destas agriculturas familiares que Trópico Úmido
de grandes áreas com uma única vamos falar daqui em diante. –PDTU/NAEA/
espécie (associação latifúndio- UFPA.
monocultura) sempre esteve associado
a concentração da posse da terra e o
impedimento do livre acesso à terra
por parte dos trabalhadores. Por
isso, nas relações de trabalho que
marcam esse modelo de agricultura
predominam diferentes formas de
subordinação dos trabalhadores, como
o escravismo, o colonato, o aviamento e
o assalariamento.
Arquivo Revista
Agriculturas -
experiências em
Agroecologia
Foi a partir dos anos 1990 que o termo Por isso, o termo Agricultura Familiar
Agricultura Familiar começou a ser aqui utilizado comporta uma grande
utilizado mais amplamente. Como diversidade de formas sociais, como:
expressa a Profa. Nazareth Wanderley, “a agroextrativistas, indígenas, quilombolas,
agricultura familiar não é uma categoria pescadores artesanais, sertanejos,
social recente. No entanto, sua utilização, ribeirinhos, faxinalenses, agricultores
com o significado e abrangência que lhe urbanos, geraizeiros, varzanteiros,
tem sido atribuído nos últimos anos, no quebradeiras de côco, caatingueiros,
Brasil, assume nova forma” (WANDERLEY, criadores em fundos de pasto,
1996). Por isso, pode-se dizer que sua seringueiros, caiçaras e tantas outras
utilização representa tanto um novo identidades socioculturais existentes no
contexto social, como também uma nova Brasil. Todas elas caracterizam-se pela
percepção sobre esse sujeito. articulação familia-produção-trabalho.
Arquivo CPT
para designar os grupos sociais nos seus Essa “autonomia relativa” não pode ser
territórios, regiões ou municípios. confundida com o isolamento ou a mera
Para muitos autores, a principal diferença produção de subsistência, mas com a
entre os termos Agricultura Familiar e busca de uma relação com o mercado e
Campesinato está não nas suas relações com a sociedade que, embora sempre
internas (familia-produção-trabalho), contraditória, minimize sua subordinação.
mas sim nas relações externas que esse Por isso, uma questão central nesse debate
tipo de unidade de produção estabelece sobre a agricultura familiar/campesinato
com a sociedade local e a sociedade refere-se à sua capacidade de construir
mais geral. Um aspecto chave desse um projeto de desenvolvimento que lhe
debate, com especial ênfase nas relações garanta mais ou menos autonomia.
com o mercado, é a da busca por uma
“autonomia relativa” dos sujeitos do
campo. 4. A importância da Agricultura
Familiar no contexto atual
“H
patronal a diferença fica mais
á um risco em justificar a importância clara. O fato de mais de 85% dos
da Agricultura Familiar apenas estabelecimentos familiares ocuparem
pela sua capacidade de competir com a apenas 30,5% da área, enquanto pouco
agricultura patronal. Essa lógica pode levar mais de 11% dos estabelecimentos
a uma armadilha de pensar o seu projeto de patronais ocupam quase 68% das terras
ilustra a pressão diferenciada desses
desenvolvimento nos mesmo termos que o
dois segmentos sobre os solos, matas e
agronegócio, usando as mesmas tecnologias recursos hídricos.
e racionalidade econômica. (...) Que impõe a
padronização e destruição da diversidade de
formas de organização social e cultural.”
Arquivo MEC