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SEDUC - CE

Comum aos cargos de Professor

Educação Escolar Indígena

Educação Escolar Indígena


Formação da sociedade brasileira: os indígenas, os portugueses, os africanos, os
imigrantes. As questões étnico-raciais e as diferentes manifestações culturais............ 1
Princípios da Educação Indígena: memórias históricas; identidades étnicas; valoriza-
ção de suas línguas e ciências; centralidade do território.............................................. 2
A organização social e política no contexto indígena: Os povos indígenas no Ceará;
Dados e informações gerais sobre os povos; Organizações do movimento indígena
do Ceará; Manifestações culturais, festas tradicionais e agendas de mobilizações dos
povos indígenas no Ceará............................................................................................. 3
Interculturalidade e as políticas educacionais interculturais iniciadas com a Constitui-
ção brasileira de 1988.................................................................................................... 3
Legislação da Educação Escolar Indígena.................................................................... 4
Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (Lei Federal nº 9.394/1996, artigos 78
e 79)............................................................................................................................... 9
Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas / Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Fundamental - Brasília: MEC/SEF, 1998................................ 11
Educação para as Relações Étnico-Raciais (Leis Federais nº 10.639/2003 e nº
11.645/2008)................................................................................................................... 11
Resolução CNE/CEB nº 5, de 22 de junho de 2012, que define Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica.............................. 12
Resolução CNE/CEB nº 1, de 7 de janeiro de 2015, que Institui Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores Indígenas em cursos de Educação Supe-
rior e de Ensino Médio e dá outras providências........................................................... 24
Resolução CEE nº 382/2003, que dispõe sobre a criação e o funcionamento de Escola
Indígena no Sistema de Ensino do Ceará e dá outras providências............................. 31
Resolução CEE nº 447/2013, que altera dispositivos da Resolução CEC nº 382/2003,
que dispõe sobre a criação e o funcionamento de Escola Indígena no Sistema de En-
sino do Ceará e dá outras providências......................................................................... 36
Lei Estadual nº 17.165, de 02 de janeiro de 2020, que reconhece a existência, a con-
tribuição e os direitos dos povos indígenas no estado do Ceará................................... 37
Exercícios....................................................................................................................... 37
Gabarito.......................................................................................................................... 41

1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS


Formação da sociedade brasileira: os indígenas, os portugueses, os africanos, os imi-
grantes. As questões étnico-raciais e as diferentes manifestações culturais

— Introdução
A miscigenação que originou a sociedade brasileira se deu por diversos fatores, os quais podemos consi-
derar como fundamentais a colonização e a escravidão. A primeira trouxe para o Brasil os europeus, primei-
ramente portugueses e espanhóis, que aqui encontraram os povos indígenas. Com a colonização europeia,
intensificou-se o tráfico de escravos, culminando com a vinda compulsória dos africanos. Posteriormente, ob-
servou-se a chegada dos holandeses, franceses, italianos e alemães. Mais tarde, japoneses e chineses. Assim,
o Brasil possui ampla diversidade étnica que se traduz em uma grande variedade sociocultural que compreende
aspectos culturais, linguísticos, religiosos e de características físicas.

— Formação da cultura brasileira


A pluralidade da cultura brasileira se dá pela miscigenação étnica aliada à vastidão territorial que possui em
si, diferentes condições climáticas e territoriais.
Os elementos originais da cultura brasileira pertencem aos povos indígenas nativos que com a chegada dos
colonizadores portugueses no século XVI, foram sufocados pelos costumes europeus, especialmente a cate-
quização realizada pelos jesuítas. No século XVII, a partir do desenvolvimento da lavoura de cana de açúcar,
foi intensificado o tráfico de escravos e com eles, aspectos culturais africanos foram introduzidos no Brasil.
Podemos citar as religiões de matriz africana, os instrumentos musicais e a culinária.
A partir do século XIX, a agricultura cafeeira motivou a vinda de imigrantes italianos e, posteriormente, a
Segunda Guerra Mundial ocasionou a imigração de alemães, judeus e japoneses.
Todas essas etnias contribuíram tanto para a nossa diversidade cultural, como para o sincretismo religioso
que reúne elementos do candomblé, do cristianismo e das religiões indígenas.

— Influências socioculturais
– Indígena: A influência indígena na cultura brasileira pode ser observada no vocabulário, com a incorpo-
ração de palavras oriundas do tupi-guarani e na alimentação. Acerola, caju, mandioca e guaraná são alguns
exemplos.
– Africana: As práticas religiosas como o candomblé e a umbanda, que mistura elementos do candomblé e
do espiritismo kardecista, aspectos da culinária e a capoeira são aspectos culturais africanos que foram incor-
porados à cultura brasileira.
– Europeia: A cultura europeia está presente na culinária, festas, músicas e literatura, além da cultura erudi-
ta das elites intelectuais e financeiras europeias.

— Conclusão
Considerando a grande diversidade de raças, culturas e etnias, o que levou à miscigenação, aliada à
extensão territorial que apresenta múltiplos climas e regionalismos, resultando na grande riqueza da cultura
brasileira.

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Princípios da Educação Indígena: memórias históricas; identidades étnicas; valoriza-
ção de suas línguas e ciências; centralidade do território

— Introdução
Os princípios que norteiam a Educação Escolar Indígena são garantidos pela Constituição Federal de 1988
e estabelecem o respeito às diferenças, a produção coletiva de conhecimentos, a interculturalidade, a utilização
das línguas maternas e a autonomia, na busca pela construção e fortalecimento de culturas únicas e para a
formação do cidadão indígena.

— Memórias Históricas
A memória indígena é constituída, segundo suas tradições e crenças, de forma fragmentada, tendo por
base a cosmologia, seus mitos, antepassados e as relações estabelecidas com a natureza. Porém, em termos
oficiais, a história indígena data do século XVI, época da chegada dos portugueses ao Brasil. Dessa forma, a
educação indígena busca trabalhar nos dois campos, respeitando as tradições e ao mesmo tempo, contando
a história a partir dos registros históricos.

— Identidades Étnicas
A escola indígena trabalha com a valorização da identidade cultural de cada etnia, respeitando suas parti-
cularidades e trabalhando sob o prisma da interculturalidade, estabelecendo a comunicação entre as diversas
culturas indígenas.

— Valorização de suas Línguas e Ciências


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE – Lei nº 9394 de 1996) estabelece em seu artigo 78 que:
“O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assis-
tência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar
bilingue e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a rea-
firmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e
científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-indígenas.”

— Centralidade do Território
A centralidade do território indígena é essencial para garantir a qualidade de vida desses povos, sendo
necessária sua valorização através da compreensão dos elementos culturais envolvidos nos processos de
ocupação e gestão territorial.

Conclusão
Podemos entender a Educação Escolar Indígena como uma modalidade que garante a eles a recuperação
de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades étnicas, a valorização de suas línguas e ciên-
cias, bem como o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos que permitam sua inserção na
sociedade.
Dessa forma, configura-se grande desafio para o estabelecimento de um sistema de ensino de qualidade,
que atenda as especificidades de um povo diferente da sociedade nacional, que se realize em escolas que
estejam localizadas nas terras indígenas e que desenvolvam uma pedagogia específica, capaz de atender às
tradições étnico-culturais desses povos e oferecer formação técnico científica generalista.

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A organização social e política no contexto indígena: Os povos indígenas no Ceará; .
Dados e informações gerais sobre os povos; Organizações do movimento indígena do
Ceará; Manifestações culturais, festas tradicionais e agendas de mobilizações dos po-
vos indígenas no Ceará

— Os Povos Indígenas no Ceará


De acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), vivem no Ceará 20 povos indígenas:
Anacé, Cariri, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Kariri-Quixelô, Karão, Paiacu, Pitaguari,
Potiguara, Quixará-Tapuia, Tapeba, Tabajara, Tapuia-Kariri, Tremembé, Tubiba-Tapuia, Tupinambá e Warão.

— Dados e Informações Gerais sobre Os Povos


Os povos indígenas presentes no estado, constituem uma população de 36 mil pessoas, distribuídas em
86 comunidades rurais, localizadas nos municípios de Poranga, Aquiraz, Crateús, Trairi, Itarema, Maracanaú,
Pacatuba, Viçosa do Ceará e Caucaia.
No que se refere à demarcação de suas terras, como previsto na Constituição Federal de 1988, há mais de
30 anos, os povos indígenas do Ceará lutam pela conclusão dos processos demarcatórios pendentes, a fim
de que tenham segurança ante as ameaças de ocupação de seus territórios por posseiros. Existe apenas uma
terra totalmente regularizada, a Córrego João Pereira, localizada no município de Itarema e pertencente aos
índios Tremembé, além da reserva dos Anacé, cuja área foi adquirida pelo governo do Estado.

— Organizações do Movimento Indígena do Ceará


Assim, a luta pela regulamentação de suas terras, o combate ao preconceito e a busca por uma sociedade
mais justa para com as populações indígenas constituem um movimento liderado por associações e federa-
ções como a Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince), a Organização dos Profes-
sores Indígenas do Ceará (Oprince), a Articulação das Mulheres Indígenas do Ceará (Amice) e a Comissão de
Juventude Indígena do Ceará (Cojicea).

— Manifestações Culturais, Festas Tradicionais e Agendas de Mobilizações dos Povos Indígenas no


Ceará
As comunidades indígenas cearenses celebram a memória dos seus antepassados, educam suas crianças
por meio de escolas indígenas e se organizam enquanto etnias sobreviventes. Através da pesca, da caça e do
artesanato, de suas danças e crenças, celebram sua cultura e suas tradições, sem esquecer da luta pelo reco-
nhecimento de seus direitos e da luta pela demarcação de seus territórios.

Interculturalidade e as políticas educacionais interculturais iniciadas com a Constitui-


ção brasileira de 1988

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a interculturalidade é uma abordagem educa-
cional que contempla as múltiplas culturas presentes em nossa sociedade, de modo a combater situações de
exclusão, marginalização de culturas ou outras formas de diferença.
Além disso, a promoção do diálogo entre culturas diferentes que habitam a mesma sociedade, estabelece
o sincretismo e amplia as possibilidades de criação, enriquecendo assim, as produções culturais e artísticas.
A partir da Constituição de 1988, estabeleceu-se os princípios da educação intercultural, com especial
preocupação para a educação dos grupos étnicos minoritários, como os indígenas. Dessa forma, foi estabele-
cido o direito dos povos indígenas a uma educação diferenciada que atenda e respeite suas tradições, memó-
rias históricas, linguagens e ciências, como também contemple uma formação técnico-científica que permita

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a inserção dos indivíduos indígenas na sociedade e no mercado de trabalho. Assim, podemos entender que
existem dois tipos de educação voltada para os povos indígenas: a educação indígena e a educação escolar
indígena, respectivamente.

Legislação da Educação Escolar Indígena

O direito à educação diferenciada nas leis brasileiras


Passados mais de dez anos da promulgação da atual Constituição brasileira, é possível afirmar que o direito
dos povos indígenas no Brasil a uma educação diferenciada e de qualidade, ali inscrito pela primeira vez, en-
controu amplo respaldo e detalhamento na legislação subseqüente. É isso que percebemos quando reunimos
a legislação brasileira que trata da Educação Escolar Indígena em âmbito nacional.
Com a Constituição de 1988, assegurou-se aos índios no Brasil o direito de permanecerem índios, isto é,
de permanecerem eles mesmos com suas línguas, culturas e tradições. Ao reconhecer que os índios poderiam
utilizar as suas línguas maternas e os seus processos de aprendizagem na educação escolar, instituiu-se a
possibilidade de a escola indígena contribuir para o processo de afirmação étnica e cultural desses povos e ser
um dos principais veículos de assimilação e integração.
Depois disso, as leis subseqüentes à Constituição que tratam da Educação, como a Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educação Nacional e o Plano Nacional de Educação, têm abordado o direito dos povos indígenas a uma
educação diferenciada, pautada pelo uso das línguas indígenas, pela valorização dos conhecimentos e saberes
milenares desses povos e pela formação dos próprios índios para atuarem como docentes em suas comuni-
dades. Comparativamente a algumas décadas atrás, trata-se de uma verdadeira transformação em curso, que
tem gerado novas práticas a partir do desenho de uma nova função social para a escola em terras indígenas.
Nesse processo, a Educação Indígena saiu do gueto, seja porque ela se tornou tema que está na ordem
do dia do movimento indígena, seja porque há de se construírem respostas qualificadas a essa nova demanda
por parte daqueles a quem cabe gerir os processos de educação no âmbito do Estado. Com isso, ganham os
índios e ganha também a educação brasileira, na medida em que será preciso encontrar novas e diversificadas
soluções, exercitando a criatividade e o respeito diante daqueles que precisam de respostas diferentes.
Esse novo ordenamento jurídico, gerado em âmbito federal, tem encontrado detalhamento e normatização
nas esferas estaduais, por meio de legislações específicas, que adequam preceitos nacionais às suas particula-
ridades locais. Esse é o caminho para uma legislação que tem tratado de princípios e cuja realização depende
de cada contexto específico.
Já se acusou essa legislação de ser excessivamente genérica. Mas como contemplar a extrema hetero-
geneidade de situações e de vivências históricas dos mais de 200 povos indígenas no Brasil contemporâneo?
Essa questão já encontrou uma resposta no Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, lança-
do pelo MEC em 1998:
Os princípios contidos nas leis dão abertura para a construção de uma nova escola, que respeite o desejo
dos povos indígenas de uma educação que valorize suas práticas culturais e lhes dê acesso a conhecimentos
e práticas de outros grupos e sociedades. Uma normatização excessiva ou muito detalhada pode, ao invés
de abrir caminhos, inibir o surgimento de novas e importantes práticas pedagógicas e falhar no atendimento
a demandas particulares colocadas por esses povos. A proposta da escola indígena diferenciada representa,
sem dúvida alguma, uma grande novidade no sistema educacional do país, exigindo das instituições e órgãos
responsáveis a definição de novas dinâmicas, concepções e mecanismos, tanto para que essas escolas sejam
de fato incorporadas e beneficiadas por sua inclusão no sistema, quanto respeitadas em suas particularidades
(RCNEI: 34).

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Conhecer a legislação, formulada em âmbito federal, sobre a Educação Escolar Indígena é o único cami-
nho para superar o velho e persistente impasse que marca a relação dos povos indígenas com o direito, qual
seja, o da larga distância entre o que está estabelecido na lei e o que ocorre na prática. Na medida em que os
professores indígenas e suas comunidades conhecerem os direitos que a legislação lhes assegura, estaremos
caminhando para que eles se tornem realidade.
Por sua vez, o conhecimento da legislação gerada na esfera federal é condição primeira para o estabeleci-
mento da legislação estadual, que deve normatizar o funcionamento das escolas indígenas e dar efetividade ao
direito a uma educação diferenciada para os povos indígenas.

Direitos indígenas na Constituição Federal de 1988


A atual Constituição da República Federativa do Brasil entrou em vigor em outubro de 1988, quando foi
promulgada, depois de mais de um ano e meio de trabalho da Assembléia Nacional Constituinte. A Constitui-
ção, também conhecida como Carta Magna, é a lei maior do país. Não existe nenhuma outra lei tão importante
quanto ela e nenhuma outra lei pode ir contra o que nela está estabelecido.
A Constituição estabelece direitos, deveres e procedimentos dos indivíduos e do Estado, dos cidadãos e
das instituições. Ela substituiu a Constituição promulgada em 1947 e reflete as modificações ocorridas no tem-
po e na sociedade. Este é o sentido de elaborar uma nova Constituição: atualizar os direitos e deveres nela
inscritos, de forma que ela seja útil para regular o relacionamento dos cidadãos entre si e destes com o Estado
e com a sociedade como um todo.
Dividida em nove títulos, a Constituição trata dos princípios, direitos e garantias fundamentais, da organiza-
ção do Estado, dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, da defesa do Estado e das instituições demo-
cráticas, da tributação e do orçamento, da ordem econômica, financeira e social.
A Constituição de 1988 remeteu para a legislação complementar e ordinária algumas definições, bem como
o detalhamento de direitos apresentados de forma ampla ou genérica, não auto-aplicáveis, que precisam de
detalhamento por meio de lei complementar. Alguns desses dispositivos ficaram para a legislação complemen-
tar, porque não cabia seu detalhamento na Constituição; outros, porque não foi possível chegar a um consenso
entre os parlamentares que elaboraram o novo texto. É o caso, por exemplo, da exploração mineral em terras
indígenas, que está prevista na Constituição, mas depende de regulamentação do Congresso Nacional por
meio de legislação complementar.
O maior saldo da Constituição de 1988, que rompeu com uma tradição da legislação brasileira, diz respeito
ao abandono da postura integracionista, que sempre procurou incorporar os índios à “comunidade nacional”,
vendoos como uma categoria étnica e social transitória fadada ao desaparecimento. Com a aprovação do novo
texto constitucional, os índios não só deixaram de ser considerados uma espécie em via de extinção, como
passaram a ter assegurado o direito à diferença cultural, isto é, o direito de serem índios e de permanecerem
como tal.
Não cabe mais à União a tarefa de incorporálos à comunhão nacional, como estabeleciam as constituições
anteriores, mas é de sua responsabilidade legislar sobre as populações indígenas no intuito de protegê-las.
A Constituição reconhece aos índios “os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”,
definindo essa ocupação não só em termos de habitação, mas também em relação ao processo produtivo, à
preservação do meio ambiente e à reprodução física e cultural dos índios. Embora a propriedade das terras
ocupadas pelos índios seja da União, a posse permanente é dos índios, aos quais se reserva a exclusividade
do usufruto das riquezas aí existentes.
Outra inovação importante da atual Constituição foi garantir aos índios, às suas comunidades e organi-
zações a capacidade processual para entrar na Justiça em defesa de seus direitos e interesses. O Ministério
Público é chamado a participar desse processo, mas não é condição para a sua instauração. Ao Ministério Pú-
blico cabe a defesa dos interesses indígenas e a Justiça Federal é o fórum para resolver pendências judiciais
envolvendo os povos indígenas.
Além do reconhecimento do direito dos índios de manterem a sua identidade cultural, a Constituição de
1988 lhes garante, no artigo 210, o uso de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem, ca-
bendo ao Estado proteger as manifestações das culturas indígenas. Esses dispositivos abriram a possibilidade
para que a escola indígena constitua-se em instrumento de valorização das línguas, dos saberes e das tradi-
ções indígenas e deixe de ser instrumento de imposição dos valores culturais da sociedade envolvente. Nesse

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processo, a cultura indígena, devidamente valorizada, deve ser a base para o conhecimento dos valores e das
normas de outras culturas. A escola indígena poderá, então, desempenhar importante e necessário papel no
processo de autodeterminação desses povos.
Esse direito ao uso da língua materna e dos processos próprios de aprendizagem ensejou mudanças na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Educação Indígena na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394)


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi aprovada pelo Congresso Nacional no dia 17 de de-
zembro de 1996 e promulgada no dia 20 de dezembro daquele ano. Ela estabelece normas para todo o sistema
educacional brasileiro, fixando diretrizes e bases da educação nacional desde a Educação Infantil até a Educa-
ção Superior. Também conhecida como LDB, LDBEN ou Lei Darcy Ribeiro, essa lei está abaixo da Constituição
e é de importância fundamental porque trata, de modo amplo, de toda a educação do país.
A atual LDB substitui a Lei nº 4.024, de 1961, que tratava da educação nacional. No que se refere à Educa-
ção Escolar Indígena, a antiga LDB nada dizia. A nova LDB menciona, de forma explícita, a educação escolar
para os povos indígenas em dois momentos. Um deles aparece na parte do Ensino Fundamental, no artigo 32,
estabelecendo que seu ensino será ministrado em Língua Portuguesa, mas assegura às comunidades indíge-
nas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Ou seja, reproduz-se aqui o
direito inscrito no artigo 210 da Constituição Federal.
A outra menção à Educação Escolar Indígena está nos artigos 78 e 79 do Ato das Disposições Gerais e
Transitórias da Constituição de 1988. Ali se preconiza como dever do Estado o oferecimento de uma educação
escolar bilíngüe e intercultural que fortaleça as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade
indígena e proporcione a oportunidade de recuperar suas memórias históricas e reafirmar suas identidades,
dandolhes, também, acesso aos conhecimentos técnicocientíficos da sociedade nacional. Para que isso possa
ocorrer, a LDB determina a articulação dos sistemas de ensino para a elaboração de programas integrados de
ensino e pesquisa, que contem com a participação das comunidades indígenas em sua formulação e tenham
como objetivo desenvolver currículos específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às
respectivas comunidades. A LDB ainda prevê a formação de pessoal especializado para atuar nessa área e a
elaboração e publicação de materiais didáticos específicos e diferenciados.
Com tais determinações, a LDB deixa claro que a Educação Escolar Indígena deverá ter um tratamento
diferenciado do das demais escolas dos sistemas de ensino, o que é enfatizado pela prática do bilingüismo e
da interculturalidade.
Outros dispositivos da LDB possibilitam colocar em prática esses direitos, dando liberdade para cada escola
indígena definir, de acordo com suas particularidades, seu respectivo projeto político-pedagógico. Assim, por
exemplo, o artigo 23 da LDB trata da diversidade de possibilidades na organização escolar, permitindo o uso
de séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudo, grupos não-seriados
ou por critério de idade, competência ou outros critérios. No artigo 26, para darmos mais um exemplo, fala-se
da importância de considerar as características regionais e locais da sociedade e da cultura, da economia e
da clientela de cada escola, para que se consiga atingir os objetivos do Ensino Fundamental. Ou seja, outros
dispositivos presentes na LDB evidenciam a abertura de muitas possibilidades para que, de fato, a escola
possa responder à demanda da comunidade e oferecer aos educandos o melhor processo de aprendizagem.
Educação indígena no

Plano Nacional de Educação


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional instituiu, no artigo 87, a “Década da Educação”, que teve
início um ano após a sua publicação. Ali também se estabeleceu que a União deveria encaminhar ao Congres-
so Nacional um Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos seguintes.
Em 9 de janeiro de 2001, foi promulgado o Plano Nacional de Educação, também conhecido pela sigla
PNE, que apresenta um capítulo sobre a Educação Escolar Indígena, dividido em três partes. Na primeira par-
te, faz-se um rápido diagnóstico de como tem ocorrido a oferta da educação escolar aos povos indígenas. Na
segunda, apresentam-se as diretrizes para a Educação Escolar Indígena. E na terceira, estão os objetivos e
metas que deverão ser atingidos a curto e a longo prazos.

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Entre os objetivos e as metas previstos no Plano Nacional de Educação, destaca-se a universalização da
oferta de programas educacionais aos povos indígenas para todas as séries do Ensino Fundamental, assegu-
rando autonomia para as escolas indígenas tanto no que se refere ao projeto pedagógico, quanto ao uso dos
recursos financeiros, e garantindo a participação das comunidades indígenas nas decisões relativas ao funcio-
namento dessas escolas. Para que isso se realize, o plano estabelece a necessidade de criação da categoria
“escola indígena” para assegurar a especificidade do modelo de educação intercultural e bilíngüe e sua regula-
rização nos sistemas de ensino.
O Plano Nacional de Educação prevê, ainda, a criação de programas específicos para atender às escolas
indígenas, bem como a criação de linhas de financiamento para a implementação dos programas de educação
em áreas indígenas. Estabelece-se que a União, em colaboração com os estados, deve equipar as escolas
indígenas com recursos didático-pedagógicos básicos, incluindo bibliotecas, videotecas e outros materiais de
apoio, bem como adaptar os programas já existentes hoje no Ministério da Educação em termos de auxílio ao
desenvolvimento da educação.
Atribuindo aos sistemas estaduais de ensino a responsabilidade legal pela Educação Indígena, o PNE as-
sume como uma das metas a ser atingida nessa esfera de atuação a profissionalização e o reconhecimento
público do magistério indígena, com a criação da categoria de professores indígenas como carreira específica
do magistério e com a implementação de programas contínuos de formação sistemática do professorado indí-
gena. Ao ser promulgado, o PNE estabeleceu que a
União, em articulação com os demais sistemas de ensino e com a sociedade civil, deve proceder a avalia-
ções periódicas da implementação do plano e que tanto os estados quanto os municípios deverão, com base
no plano, elaborar seus planos decenais correspondentes.

Parecer nº 14/99 do Conselho Nacional de Educação


O Conselho Nacional de Educação foi instalado em 26 de fevereiro de 1996. É composto por duas câmaras:
a Câmara de Educação Superior e a Câmara de Educação Básica, cada qual com 12 membros nomeados pelo
Presidente da República. Entre as competências do CNE, está a de emitir pareceres sobre assuntos da área
educacional e sobre questões relativas à aplicação da legislação educacional. Após a promulgação da LDB,
ambas as câmaras do CNE trataram de preparar as normas necessárias à implantação da nova estrutura da
educação nacional instituída por aquela lei. A Câmara de Educação Básica preparou diretrizes curriculares para
os diferentes níveis e modalidades de ensino, entre as quais as de Educação Indígena.
As diretrizes para a Educação Indígena constituem o resultado das discussões que ocorreram na Câma-
ra de Educação Básica do CNE, quando essa se lançou na análise de dois documentos encaminhados pelo
Ministério da Educação (a versão preliminar do Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas e
um documento especialmente preparado pelo Comitê de Educação Escolar Indígena sobre a necessidade de
regulamentação da Educação Indígena), bem como de uma consulta feita pelo Ministério Público Federal do
Rio Grande do Sul, para cuja relatoria foi indicado o Pe. Kuno Paulo Rhoden.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Escolar Indígena foram aprovadas em 14 de setembro
de 1999, por meio do Parecer nº 14/ 99 da Câmara Básica do Conselho Nacional de Educação. Dividido em
capítulos, o parecer apresenta a fundamentação da Educação Indígena, determina a estrutura e funcionamento
da escola indígena e propõe ações concretas em prol da Educação Escolar Indígena.
Merecem destaque, no parecer que institui as diretrizes, a proposição da categoria “escola indígena”, a
definição de competências para a oferta da Educação Escolar Indígena, a formação do professor indígena, o
currículo da escola
e sua flexibilização. Essas questões encontraram normatização na Resolução nº 3/99, gerada no âmbito
das mesmas discussões que ensejaram este parecer.

Resolução nº 3/99 do Conselho Nacional de Educação


No Diário Oficial da União, de 17/11/1999, foi publicada a Resolução nº 3/99, preparada pela Câmara Básica
do Conselho Nacional de Educação. Essa resolução fixa diretrizes nacionais para o funcionamento das escolas
indígenas. Importantes definições foram aí inscritas e regulamentadas, no sentido de serem criados meca-
nismos efetivos para a garantia do direito dos povos indígenas a uma educação diferenciada e de qualidade.
Algumas dessas definições merecem ser destacadas.

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A primeira é relativa à criação da categoria “escola indígena”, reconhecendo-lhe “a condição de escolas com
normas e ordenamento jurídico próprios” e garantindo-lhe autonomia pedagógica e curricular. Disso resulta a
necessidade de regulamentação dessas escolas nos Conselhos
Estaduais de Educação, bem como a necessidade de instituir mecanismos de consulta e envolvimento da
comunidade indígena na discussão sobre a escola indígena.
Outro ponto importante da Resolução nº 3/99 é a garantia de uma formação específica para os professo-
res indígenas, podendo essa ocorrer em serviço e, quando for o caso, concomitantemente com a sua própria
escolarização. A resolução estabelece que os estados deverão instituir programas diferenciados de formação
para seus professores indígenas, bem como regularizar a situação profissional desses professores, criando
uma carreira própria para o magistério indígena e realizando concurso público diferenciado para ingresso nessa
carreira.
Ao interpretar a LDB, o Conselho Nacional de Educação, por meio dessa resolução, definiu as esferas de
competência e responsabilidade pela oferta da educação escolar aos povos indígenas. Estabelecido o regime
de colaboração entre União, estados e municípios, o CNE definiu que cabe à União legislar, definir diretrizes e
políticas nacionais, apoiar técnica e financeiramente os sistemas de ensino para o provimento de programas
de educação intercultural e de formação de professores indígenas, além de criar programas específicos de
auxílio ao desenvolvimento da educação. Aos estados, caberá a responsabilidade “pela oferta e execução da
Educação Escolar Indígena, diretamente ou por regime de colaboração com seus municípios”, integrando as
escolas indígenas como “unidades próprias, autônomas e específicas no sistema estadual” e provendo-as com
recursos humanos, materiais e financeiros, além de instituir e regulamentar o magistério indígena.
Dessas disposições, decorre, entre outras, a necessidade de cada Secretaria de Estado da Educação criar
uma instância interinstitucional, com a participação dos professores e das comunidades indígenas, para plane-
jar e executar a educação escolar diferenciada nas escolas indígenas.

Do nacional ao local:

o lugar da legislação estadual


O conjunto da legislação nacional a respeito do direito dos povos indígenas a uma educação diferenciada,
como visto anteriormente, está estruturado a partir de duas vertentes, que necessariamente precisam con-
vergir, para que esse direito se materialize: de um lado, trata-se de propiciar acesso aos conhecimentos ditos
universais e, de outro, de ensejar práticas escolares que permitam o respeito e a sistematização de saberes
e conhecimentos tradicionais. É da junção dessas duas vertentes que deve emergir a tão propagada escola
indígena.
O que a legislação nacional estabelece é um conjunto de princípios que, de modo geral, atende à extrema
heterogeneidade de situações vividas hoje pelos mais de 210 povos indígenas contemporâneos no Brasil. Essa
legislação permite a expressão do direito a uma educação diferenciada, a ser pautada localmente, em respeito
às diferentes situações socioculturais e sociolingüísticas de cada povo indígena, bem como em relação aos
seus diferentes projetos de futuro.
Todavia, esses princípios precisam encontrar respaldo e acolhimento nas normatizações estaduais que vão
disciplinar o funcionamento das escolas indígenas, como unidades integrantes dos sistemas estaduais de en-
sino, bem como regularizar a situação dos professores indígenas como profissionais contratados pelo estado
ou pelo município. É aqui, portanto, no âmbito estadual, que os princípios federais precisam ganhar efetivida-
de, gerando normas e procedimentos que lhes possam dar vazão. É nesse âmbito que se consolida o direito
a uma educação diferenciada, na medida em que se implementa e se realiza o direito a uma escola própria e
diferenciada.
Esse é o momento em que diferentes estados da Federação se lançam a disciplinar a matéria, seja por
meio da inclusão da Educação Escolar Indígena nas leis orgânicas de educação, por parte das Assembléias
Legislativas, seja por meio de resoluções estaduais, geradas no âmbito dos Conselhos Estaduais de Educação.
Esse é, portanto, o momento de refletir sobre como os avanços alcançados na esfera federal poderão encontrar
detalhamento nas esferas estaduais, de forma a se potencializar as oportunidades de os povos indígenas terem
uma escola e uma educação que atenda aos seus interesses e às suas aspirações de futuro.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
Feito o itinerário do detalhamento do direito dos índios a uma educação diferenciada, algumas questões
colocam-se para o debate, no momento em que se caminha para novas formulações legais e administrativas,
agora nas esferas estaduais.
A primeira questão já foi anunciada: a da persistente lacuna entre a lei e a realidade, entre o direito expli-
citado e a prática vivida. Que alternativas se colocam a esse direito? Será que a busca de novas leis e nor-
matizações seria um caminho para que aquilo que já foi inscrito ganhasse efetividade? Ou será que os povos
indígenas contam com outros mecanismos que poderiam ser acionados para que o direito já explicitado seja
cumprido? Quais são os impasses e as dificuldades que impedem o direito de se realizar? São exclusivos do
campo educacional ou dizem respeito à relação dos povos indígenas com o Estado brasileiro?
Outra ordem de questões diz respeito à esfera de normatização estadual. Se cabe aos sistemas estaduais
de ensino a responsabilidade pela oferta da Educação Indígena e pela formação e regularização profissional
dos professores indígenas, a eles cabe também definir, em plano estadual, a matéria esboçada no plano fe-
deral. O que caberia definir aos estados? Qual o espaço de sua atuação? A qual nível de detalhamento aos
estados caberia chegar, na definição das ações educacionais para os povos indígenas? Como garantir que a
legislação estadual não se restrinja a princípios federais? Como garantir que a escola indígena não sucumba
diante das demais escolas do sistema estadual?
Por fim, uma terceira ordem de questionamentos nos deve conduzir a cada sociedade indígena em parti-
cular, a cada projeto de futuro e de escola, pois é aí que o direito a uma educação diferenciada se realiza. E a
pergunta deve inverter a ordem estabelecida: em que medida o que já está inscrito no plano legal não limita as
aspirações e os desejos dos povos indígenas relativamente à escolarização formal de seus membros? E para
que rumo segue a Educação Indígena? Haverá espaço para aqueles grupos que almejam simplesmente um
maior conhecimento do Português e das regras de comércio com a sociedade envolvente? Todas as escolas
indígenas deverão formalizar seu ensino, garantindo continuidade de estudos dentro e fora das terras indíge-
nas? Haverá condições e espaços para que os índios dêem um sentido próprio para a escola indígena, fora das
amarras administrativas e legais já conquistadas? Enfim, para onde caminha todo esse processo?
Enfrentar essas questões está na ordem do dia

Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (Lei Federal nº 9.394/1996, artigos 78 e


79)

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996


Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

TÍTULO VIII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e
de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação
escolar bilingüe e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a rea-
firmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e
científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
Art. 78-A. Os sistemas de ensino, em regime de colaboração, desenvolverão programas integrados de en-
sino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos estudantes surdos, surdo-cegos,
com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências
associadas, com os seguintes objetivos: (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
I - proporcionar aos surdos a recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades
e especificidades e a valorização de sua língua e cultura; (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
II - garantir aos surdos o acesso às informações e conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacio-
nal e demais sociedades surdas e não surdas. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da educação inter-
cultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa.
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas.
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se-
guintes objetivos:
I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua materna de cada comunidade indígena;
II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunida-
des indígenas;
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes
às respectivas comunidades;
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado.
§ 3º No que se refere à educação superior, sem prejuízo de outras ações, o atendimento aos povos indíge-
nas efetivar-se-á, nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de ensino e de assistência estudan-
til, assim como de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. (Incluído pela Lei nº
12.416, de 2011)
Art. 79-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
(Incluído pela Lei nº 10.639, de 9.1.2003)
Art. 79-C. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da educação
bilíngue e intercultural às comunidades surdas, com desenvolvimento de programas integrados de ensino e
pesquisa. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
§ 1º Os programas serão planejados com participação das comunidades surdas, de instituições de ensino
superior e de entidades representativas das pessoas surdas. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos no Plano Nacional de Educação, terão os seguintes
objetivos: (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
I - fortalecer as práticas socioculturais dos surdos e a Língua Brasileira de Sinais; (Incluído pela Lei nº
14.191, de 2021)
II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinados à educação bilíngue escolar dos
surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou
com outras deficiências associadas; (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
III - desenvolver currículos, métodos, formação e programas específicos, neles incluídos os conteúdos cul-
turais correspondentes aos surdos; (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático bilíngue, específico e diferenciado. (Incluído
pela Lei nº 14.191, de 2021)
§ 3º Na educação superior, sem prejuízo de outras ações, o atendimento aos estudantes surdos, surdo-ce-
gos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras defi-
ciências associadas efetivar-se-á mediante a oferta de ensino bilíngue e de assistência estudantil, assim como
de estímulo à pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
Referencial Curricular Nacional para as escolas indígenas / Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Fundamental - Brasília: MEC/SEF, 1998

Prezado(a),
Para estudo do tópico solicitado pelo edital, indicamos que verifique o material complementar, que pode
ser encontrado em: https://www.ufmg.br/copeve/Arquivos/2018/fiei_programa_ufmg2019.pdf
A indicação se dá devido ao formato e extensão do material em questão, que não cabe na estrutura de
nossas apostilas. Por isso, e para manter protegido os direitos de autor do conteúdo, sugerimos acesso direto
na fonte oficial e estudo do documento tal como solicitado pelo edital.

Bons estudos!

Educação para as Relações Étnico-Raciais (Leis Federais nº 10.639/2003 e nº


11.645/2008)

LEI N° 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.


Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira”, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A
e 79-B:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório
o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e
dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade na-
cional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História
do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
§ 3o (VETADO)”
“Art. 79-A. (VETADO)”
“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.”
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.

LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.


Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003,
que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indí-
gena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas
áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura
e história brasileiras.” (NR)
Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República.

Resolução CNE/CEB nº 5, de 22 de junho de 2012, que define Diretrizes Curriculares


Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica

RESOLUÇÃO Nº 5, DE 22 DE JUNHO DE 2012 (*)


Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica.
O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribui-
ções legais e de conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º do art. 9º da Lei nº 4.024/61, com a redação
dada pela Lei nº 9.131/95, na Lei nº 9.394/96, especialmente nos arts. 78 e 79, 26-A, § 4° do art. 26, § 3° do art.
32, bem como no Decreto nº 6.861/2009, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 13/2012, homologado por
Despacho do Senhor Ministro da Educação, publicado no DOU de 15 de junho de 2012,
CONSIDERANDO
O direito a uma educação escolar diferenciada para os povos indígenas, assegurado pela Constituição
Federal de 1988; pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas
e Tribais, promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 5.051/2004; pela Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948 da Organização das Nações Unidas (ONU); pela Declaração das Nações Unidas sobre os
direitos dos povos indígenas de 2007; pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96), bem
como por outros documentos nacionais e internacionais que visam assegurar o direito à educação como um
direito humano e social;
As Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (Parecer CNE/CEB nº 7/2010 e Reso-
lução CNE/CEB nº 4/2010), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Parecer CNE/CEB
nº 20/2009 e Resolução CNE/CEB nº 5/2009), as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental
(Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 7/2010), e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio (Parecer CNE/CEB nº 5/2011 e Resolução CNE/CEB nº 2/2012), além de outras que tratam das
modalidades que compõem a Educação Básica;
As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos definidas no Parecer CNE/CP nº 8/2012;
As recomendações do Parecer CNE/CEB nº 10/2011, que trata da oferta de língua estrangeira nas escolas
indígenas de Ensino Médio;
As orientações do Parecer CNE/CEB nº 1/2011 e do Parecer CNE/CEB nº 9/2011, que tratam, respecti-
vamente, de questionamento do Conselho de Educação Escolar Indígena do Amazonas a respeito da trans-
formação do colegiado em órgão normativo, e da proposta de fortalecimento e implementação do regime de
colaboração mediante arranjos de desenvolvimento da educação;

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
As deliberações da I Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena, realizada em novembro de 2009,
considerada espaço democrático privilegiado de debates e de decisões, com o intuito de celebrar, promover e
fortalecer a Educação Escolar Indígena; As determinações do Decreto nº 6.861/2009, que dispõe sobre a Edu-
cação Escolar Indígena e define sua organização em territórios etnoeducacionais;
CONSIDERANDO, finalmente, as contribuições ao texto destas Diretrizes apresentadas pelos participantes
dos dois seminários nacionais sobre Diretrizes para a Educação Escolar Indígena, realizados, respectivamen-
te, nos anos de 2011 e 2012 pelo Conselho Nacional de Educação, bem como aquelas enviadas por diversas
pessoas e instituições durante o processo de consulta pública,
RESOLVE:
Art. 1º Esta Resolução define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na
Educação Básica, oferecida em instituições próprias.
Parágrafo único Estas Diretrizes Curriculares Nacionais estão pautadas pelos princípios da igualdade so-
cial, da diferença, da especificidade, do bilinguismo e da interculturalidade, fundamentos da Educação Escolar
Indígena.

TÍTULO I

DOS OBJETIVOS

Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica têm por
objetivos:
I - orientar as escolas indígenas de educação básica e os sistemas de ensino da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios na elaboração, desenvolvimento e avaliação de seus projetos educativos;
II - orientar os processos de construção de instrumentos normativos dos sistemas de ensino visando tornar
a Educação Escolar Indígena projeto orgânico, articulado e sequenciado de Educação Básica entre suas dife-
rentes etapas e modalidades, sendo garantidas as especificidades dos processos educativos indígenas;
III - assegurar que os princípios da especificidade, do bilingüismo e multilinguismo, da organização comuni-
tária e da interculturalidade fundamentem os projetos educativos das comunidades indígenas, valorizando suas
línguas e conhecimentos tradicionais;
IV - assegurar que o modelo de organização e gestão das escolas indígenas leve em consideração as
práticas socioculturais e econômicas das respectivas comunidades, bem como suas formas de produção de
conhecimento, processos próprios de ensino e de aprendizagem e projetos societários;
V - fortalecer o regime de colaboração entre os sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Fe-
deral e dos Municípios, fornecendo diretrizes para a organização da Educação Escolar Indígena na Educação
Básica, no âmbito dos territórios etnoeducacionais;
VI - normatizar dispositivos constantes na Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho, ratifi-
cada no Brasil, por meio do Decreto Legislativo nº 143/2003, no que se refere à educação e meios de comuni-
cação, bem como os mecanismos de consulta livre, prévia e informada;
VII - orientar os sistemas de ensino da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios a incluir,
tanto nos processos de formação de professores indígenas, quanto no funcionamento regular da Educação
Escolar Indígena, a colaboração e atuação de especialistas em saberes tradicionais, como os tocadores de
instrumentos musicais, contadores de narrativas míticas, pajés e xamãs, rezadores, raizeiros, parteiras, orga-
nizadores de rituais, conselheiros e outras funções próprias e necessárias ao bem viver dos povos indígenas;
VII - zelar para que o direito à educação escolar diferenciada seja garantido às comunidades indígenas com
qualidade social e pertinência pedagógica, cultural, linguística, ambiental e territorial, respeitando as lógicas,
saberes e perspectivas dos próprios povos indígenas.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
TÍTULO II

DOS PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

Art. 3º Constituem objetivos da Educação Escolar Indígena proporcionar aos indígenas, suas comunidades
e povos:
I - a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de
suas línguas e ciências;
II - o acesso às informações, conhecimentos técnicos, científicos e culturais da sociedade nacional e demais
sociedades indígenas e não-indígenas.
Parágrafo único A Educação Escolar Indígena deve se constituir num espaço de construção de relações
interétnicas orientadas para a manutenção da pluralidade cultural, pelo reconhecimento de diferentes concep-
ções pedagógicas e pela afirmação dos povos indígenas como sujeitos de direitos.
Art. 4º Constituem elementos básicos para a organização, a estrutura e o funcionamento da escola indígena:
I - a centralidade do território para o bem viver dos povos indígenas e para seus processos formativos e,
portanto, a localização das escolas em terras habitadas por comunidades indígenas, ainda que se estendam
por territórios de diversos Estados ou Municípios contíguos;
II - a importância das línguas indígenas e dos registros linguísticos específicos do português para o ensino
ministrado nas línguas maternas das comunidades indígenas, como uma das formas de preservação da reali-
dade sociolinguística de cada povo;
III - a organização escolar própria, nos termos detalhados nesta Resolução;
IV - a exclusividade do atendimento a comunidades indígenas por parte de professores indígenas oriundos
da respectiva comunidade.
Parágrafo único A escola indígena será criada em atendimento à reivindicação ou por iniciativa da comuni-
dade interessada, ou com a anuência da mesma, respeitadas suas formas de representação.
Art. 5º Na organização da escola indígena deverá ser considerada a participação de representantes da co-
munidade, na definição do modelo de organização e gestão, bem como:
I - suas estruturas sociais;
II - suas práticas socioculturais, religiosas e econômicas;
III - suas formas de produção de conhecimento, processos próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
IV - o uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com o contexto sociocultural de cada
povo indígena;
V - a necessidade de edificação de escolas com características e padrões construtivos de comum acordo
com as comunidades usuárias, ou da predisposição de espaços formativos que atendam aos interesses das
comunidades indígenas.
Art. 6º Os sistemas de ensino devem assegurar às escolas indígenas estrutura adequada às necessidades
dos estudantes e das especificidades pedagógicas da educação diferenciada, garantindo laboratórios, bibliote-
cas, espaços para atividades esportivas e artístico-culturais, assim como equipamentos que garantam a oferta
de uma educação escolar de qualidade sociocultural.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
TÍTULO III

DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

Art. 7º A organização das escolas indígenas e das atividades consideradas letivas podem assumir variadas
formas, como séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos com tem-
pos e espaços específicos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou
por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
§ 1º Em todos os níveis e modalidades da Educação Escolar Indígena devem ser garantidos os princípios
da igualdade social, da diferença, da especificidade, do bilinguismo e da interculturalidade, contando preferen-
cialmente com professores e gestores das escolas indígenas, membros da respectiva comunidade indígena.
§ 2º Os saberes e práticas indígenas devem ancorar o acesso a outros conhecimentos, de modo a valorizar
os modos próprios de conhecer, investigar e sistematizar de cada povo indígena, valorizando a oralidade e a
história indígena.
§ 3º A Educação Escolar Indígena deve contribuir para o projeto societário e para o bem viver de cada comu-
nidade indígena, contemplando ações voltadas à manutenção e preservação de seus territórios e dos recursos
neles existentes.
§ 4º A Educação Escolar Indígena será acompanhada pelos sistemas de ensino, por meio da prática cons-
tante de produção e publicação de materiais didáticos diferenciados, na língua indígena, em português e bilín-
gues, elaborados pelos professores indígenas em articulação com os estudantes indígenas, para todas as
áreas de conhecimento.
Art. 8º A Educação Infantil, etapa educativa e de cuidados, é um direito dos povos indígenas que deve ser
garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação
diferenciada e específica.
§ 1º A Educação Infantil pode ser também uma opção de cada comunidade indígena que tem a prerrogativa
de, ao avaliar suas funções e objetivos a partir de suas referências culturais, decidir sobre a implantação ou não
da mesma, bem como sobre a idade de matrícula de suas crianças na escola.
§ 2º Os sistemas de ensino devem promover consulta livre, prévia e informada acerca da oferta da Educa-
ção Infantil a todos os envolvidos com a educação das crianças indígenas, tais como pais, mães, avós, “os mais
velhos”, professores, gestores escolares e lideranças comunitárias, visando a uma avaliação que expresse os
interesses legítimos de cada comunidade indígena.
§ 3º As escolas indígenas que ofertam a Educação Infantil devem:
I - promover a participação das famílias e dos sábios, especialistas nos conhecimentos tradicionais de cada
comunidade, em todas as fases de implantação e desenvolvimento da Educação Infantil;
II - definir em seus projetos político-pedagógicos em que língua ou línguas serão desenvolvidas as ativida-
des escolares, de forma a oportunizar o uso das línguas indígenas;
III - considerar as práticas de educar e de cuidar de cada comunidade indígena como parte fundamental da
educação escolar das crianças de acordo com seus espaços e tempos socioculturais;
IV - elaborar materiais didáticos específicos e de apoio pedagógico para a Educação Infantil, garantindo a
incorporação de aspectos socioculturais indígenas significativos e contextualizados para a comunidade indíge-
na de pertencimento da criança;
V - reconhecer as atividades socioculturais desenvolvidas nos diversos espaços institucionais de convivên-
cia e sociabilidade de cada comunidade indígena – casas da cultura, casas da língua, centros comunitários,
museus indígenas, casas da memória, bem como outros espaços tradicionais de formação – como atividades
letivas, definidas nos projetos políticopedagógicos e nos calendários escolares.
Art. 9º O Ensino Fundamental, direito humano, social e público subjetivo, aliado à ação educativa da família
e da comunidade, deve se constituir em tempo e espaço de formação para a cidadania indígena plena, articu-
lada tanto ao direito à diferença quanto ao direito à igualdade.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
§ 1º O Ensino Fundamental deve garantir aos estudantes indígenas condições favoráveis à construção do
bem viver de suas comunidades, aliando, em sua formação escolar, conhecimentos científicos, conhecimentos
tradicionais e práticas culturais próprias.
§ 2º O Ensino Fundamental deve promover o acesso aos códigos da leitura e da escrita, aos conhecimentos
ligados às ciências humanas, da natureza, matemáticas, linguagens, bem como do desenvolvimento das capa-
cidades individuais e coletivas necessárias ao convívio sociocultural da pessoa indígena com sua comunidade
de pertença e com outras sociedades.
§ 3º No Ensino Fundamental as práticas educativas e as práticas do cuidar são indissociáveis visando o ple-
no atendimento das necessidades dos estudantes indígenas em seus diferentes momentos de vida: infâncias,
juventudes e fase adulta.
§ 4º A oferta do Ensino Fundamental, como direito público subjetivo, é de obrigação do Estado que, para
isso, deve promover a sua universalização nas comunidades indígenas que demandarem essa etapa de esco-
larização.
Art. 10 O Ensino Médio, um dos meios de fortalecimento dos laços de pertencimento identitário dos estudan-
tes com seus grupos sociais de origem, deve favorecer a continuidade sociocultural dos grupos comunitários
em seus territórios.
§ 1º As propostas de Ensino Médio devem promover o protagonismo dos estudantes indígenas, ofertando-
-lhes uma formação ampla, não fragmentada, que oportunize o desenvolvimento das capacidades de análise e
de tomada de decisões, resolução de problemas, flexibilidade para continuar o aprendizado de diversos conhe-
cimentos necessários a suas interações com seu grupo de pertencimento e com outras sociedades indígenas
e não indígenas.
§ 2º O Ensino Médio deve garantir aos estudantes indígenas condições necessárias à construção do bem
viver de suas comunidades, aliando, em sua formação escolar, conhecimentos científicos, conhecimentos tra-
dicionais e práticas culturais próprias de seus grupos étnicos de pertencimento, num processo educativo dialó-
gico e transformador.
§ 3º Cabe aos sistemas de ensino, por meio de ações colaborativas, promover consulta livre, prévia e infor-
mada sobre o tipo de Ensino Médio adequado às diversas comunidades indígenas, realizando diagnóstico das
demandas relativas a essa etapa da Educação Básica em cada realidade sociocultural indígena.
§ 4º As comunidades indígenas, por meio de seus projetos de educação escolar, têm a prerrogativa de
decidir o tipo de Ensino Médio adequado aos seus modos de vida e organização societária, nos termos da
Resolução CNE/CEB nº 2/2012.
§ 5º Na definição do Ensino Médio que atenda às necessidades dos povos indígenas, o uso de suas línguas
se constitui em importante estratégia pedagógica para a valorização e promoção da diversidade sociolinguística
brasileira.
Art. 11 A Educação Especial é uma modalidade de ensino transversal que visa assegurar aos estudantes
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades e superdotação, o desenvol-
vimento das suas potencialidades socioeducacionais em todas as etapas e modalidades da Educação Básica
nas escolas indígenas, por meio da oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE).
§ 1º O Ministério da Educação, em sua função indutora e executora de políticas públicas educacionais, arti-
culado com os sistemas de ensino, deve realizar diagnósticos da demanda por Educação Especial nas comuni-
dades indígenas, visando criar uma política nacional de atendimento aos estudantes indígenas que necessitem
de atendimento educacional especializado (AEE).
§ 2º Os sistemas de ensino devem assegurar a acessibilidade aos estudantes indígenas com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades e superdotação, por meio de prédios escola-
res, equipamentos, mobiliários, transporte escolar, recursos humanos e outros materiais adaptados às neces-
sidades desses estudantes.
§ 3º No caso dos estudantes que apresentem necessidades diferenciadas de comunicação, o acesso aos
conteúdos deve ser garantido por meio da utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Brail-
le e a Língua Brasileira de Sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa e da língua indígena,

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
facultando-lhes e às suas famílias a opção pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os
profissionais especializados em cada caso voltada à garantia da educação de qualidade sociocultural como um
direito dos povos indígenas.
§ 4º Para que o direito à aprendizagem dos estudantes indígenas da Educação Especial seja assegurado,
é necessário também que as instituições de pesquisa desenvolvam estudos com o objetivo de identificar e
aprimorar a Língua Brasileira de Sinais ou outros sistemas de comunicação próprios utilizados entre pessoas
surdas indígenas em suas respectivas comunidades.
§ 5º Na identificação das necessidades educacionais especiais dos estudantes indígenas, além da experi-
ência dos professores indígenas, da opinião da família, das questões culturais, a escola indígena deve contar
com assessoramento técnico especializado e o apoio da equipe responsável pela Educação Especial em par-
ceria com as instâncias administrativas da Educação Escolar Indígena nos sistemas de ensino.
§ 6º O atendimento educacional especializado na Educação Escolar Indígena deve assegurar a igualdade
de condições para o acesso, permanência e conclusão com sucesso dos estudantes que demandam esse
atendimento.
Art. 12 A Educação de Jovens e Adultos caracteriza-se como uma proposta pedagógica flexível, com fina-
lidades e funções específicas e tempo de duração definido, levando em consideração os conhecimentos das
experiências de vida dos jovens e adultos, ligadas às vivências cotidianas individuais e coletivas, bem como ao
trabalho.
§ 1º Na Educação Escolar Indígena, a Educação de Jovens e Adultos deve atender às realidades sociocul-
turais e interesses das comunidades indígenas, vinculando-se aos seus projetos de presente e futuro, sendo
necessária a contextualização da sua proposta pedagógica de acordo com as questões socioculturais da co-
munidade.
§ 2º A oferta de Educação de Jovens e Adultos no Ensino Fundamental não deve substituir a oferta regular
dessa etapa da Educação Básica na Educação Escolar Indígena, independente da idade.
§ 3º Na Educação Escolar Indígena, as propostas educativas de Educação de Jovens e Adultos, numa pers-
pectiva de formação ampla, devem favorecer o desenvolvimento de uma educação profissional que possibilite
aos jovens e adultos indígenas atuarem nas atividades socioeconômicas e culturais de suas comunidades com
vistas à construção do protagonismo indígena e da sustentabilidade de seus territórios.
Art. 13 A Educação Profissional e Tecnológica na Educação Escolar Indígena deve articular os princípios da
formação ampla, sustentabilidade socioambiental e respeito à diversidade dos estudantes, considerando-se as
formas de organização das sociedades indígenas e suas diferenças sociais, políticas, econômicas e culturais,
devendo:
I - contribuir na construção da gestão territorial autônoma, possibilitando a elaboração de projetos de desen-
volvimento sustentável e de produção alternativa para as comunidades indígenas, tendo em vista, em muitos
casos, as situações de desassistência e falta de apoio para seus processos produtivos;
II - articular-se aos projetos comunitários, definidos a partir das demandas coletivas dos grupos indígenas,
contribuindo para a reflexão e construção de alternativas de gestão autônoma dos seus territórios, de sus-
tentabilidade econômica, de segurança alimentar, de educação, de saúde e de atendimento às mais diversas
necessidades cotidianas;
III - proporcionar aos estudantes indígenas oportunidades de atuação em diferentes áreas do trabalho téc-
nico, necessárias ao desenvolvimento de suas comunidades, como as da tecnologia da informação, saúde,
gestão territorial e ambiental, magistério e outras.
Parágrafo único. A Educação Profissional e Tecnológica nas diferentes etapas e modalidades da Educação
Básica, nos territórios etnoeducacionais, pode ser realizada de modo interinstitucional, em convênio com as
instituições de Educação Profissional e Tecnológica; Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia;
instituições de Educação Superior; outras instituições de ensino e pesquisa, bem como com organizações indí-
genas e indigenistas, de acordo com a realidade de cada comunidade, sendo ofertada, preferencialmente, nas
terras indígenas.

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TÍTULO IV

DO PROJETO POLITICO-PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS INDÍGENAS

Art. 14 O projeto político-pedagógico, expressão da autonomia e da identidade escolar, é uma referência im-
portante na garantia do direito a uma educação escolar diferenciada, devendo apresentar os princípios e obje-
tivos da Educação Escolar Indígena de acordo com as diretrizes curriculares instituídas nacional e localmente,
bem como as aspirações das comunidades indígenas em relação à educação escolar.
§ 1º Na Educação Escolar Indígena, os projetos político-pedagógicos devem estar intrinsecamente rela-
cionados com os modos de bem viver dos grupos étnicos em seus territórios, devendo estar alicerçados nos
princípios da interculturalidade, bilingüismo e multilinguismo, especificidade, organização comunitária e territo-
rialidade.
§ 2º O projeto político-pedagógico da escola indígena, construído de forma autônoma e coletiva, valorizando
os saberes, a oralidade e a história de cada povo em diálogo com os demais saberes produzidos por outras so-
ciedades humanas, deve se articular aos projetos societários etnopolíticos das comunidades indígenas contem-
plando a gestão territorial e ambiental das terras indígenas e a sustentabilidade das comunidades indígenas.
§ 3º A questão da territorialidade, associada à sustentabilidade socioambiental e cultural das comunidades
indígenas, deve orientar todo processo educativo definido no projeto político-pedagógico com o intuito de fazer
com que a escola contribua para a continuidade sociocultural dos grupos indígenas em seus territórios, em be-
nefício do desenvolvimento de estratégias que viabilizem os seus projetos de bem viver.
§ 4º As escolas indígenas, na definição dos seus projetos político-pedagógicos, possuem autonomia para
organizar suas práticas pedagógicas em ciclos, seriação, módulos, etapas, em regimes de alternância, de tem-
po integral ou outra forma de organização que melhor atenda às especificidades de cada contexto escolar e
comunitário indígena.
§ 5º Os projetos político-pedagógicos das escolas indígenas devem ser elaborados pelos professores in-
dígenas em articulação com toda a comunidade educativa – lideranças, “os mais velhos”, pais, mães ou res-
ponsáveis pelo estudante, os próprios estudantes –, contando com assessoria dos sistemas de ensino e de
suas instituições formadoras, das organizações indígenas e órgãos indigenistas do estado e da sociedade civil
e serem objeto de consulta livre, prévia e informada, para sua aprovação comunitária e reconhecimento junto
aos sistemas de ensino.
§ 6º Os sistemas de ensino, em parceria com as organizações indígenas, Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), instituições de Educação Superior, bem como outras organizações governamentais e não governa-
mentais, devem criar e implementar programas de assessoria especializada em Educação Escolar Indígena
objetivando dar suporte para o funcionamento das escolas indígenas na execução do seu projeto político-pe-
dagógico.

SEÇÃO I

DOS CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

Art. 15 O currículo das escolas indígenas, ligado às concepções e práticas que definem o papel sociocultural
da escola, diz respeito aos modos de organização dos tempos e espaços da escola, de suas atividades pedagó-
gicas, das relações sociais tecidas no cotidiano escolar, das interações do ambiente educacional com a socie-
dade, das relações de poder presentes no fazer educativo e nas formas de conceber e construir conhecimentos
escolares, constituindo parte importante dos processos sociopolíticos e culturais de construção de identidades.
§ 1º Os currículos da Educação Básica na Educação Escolar Indígena, em uma perspectiva intercultural,
devem ser construídos a partir dos valores e interesses etnopolíticos das comunidades indígenas em relação
aos seus projetos de sociedade e de escola, definidos nos projetos político-pedagógicos.

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§ 2º Componente pedagógico dinâmico, o currículo deve ser flexível, adaptado aos contextos socioculturais
das comunidades indígenas em seus projetos de Educação Escolar Indígena.
§ 3º Na construção dos currículos da Educação Escolar Indígena, devem ser consideradas as condições de
escolarização dos estudantes indígenas em cada etapa e modalidade de ensino; as condições de trabalho do
professor; os espaços e tempos da escola e de outras instituições educativas da comunidade e fora dela, tais
como museus, memoriais da cultura, casas de cultura, centros culturais, centros ou casas de línguas, laborató-
rios de ciências e de informática.
§ 4º O currículo na Educação Escolar Indígena pode ser organizado por eixos temáticos, projetos de pes-
quisa, eixos geradores ou matrizes conceituais, em que os conteúdos das diversas disciplinas podem ser tra-
balhados numa perspectiva interdisciplinar.
§ 5º Os currículos devem ser ancorados em materiais didáticos específicos, escritos na língua portuguesa,
nas línguas indígenas e bilíngues, que reflitam a perspectiva intercultural da educação diferenciada, elaborados
pelos professores indígenas e seus estudantes e publicados pelos respectivos sistemas de ensino.
§ 6º Na organização curricular das escolas indígenas, devem ser observados os critérios:
I - de reconhecimento das especificidades das escolas indígenas quanto aos seus aspectos comunitários,
bilíngues e multilíngues, de interculturalidade e diferenciação;
II - de flexibilidade na organização dos tempos e espaços curriculares, tanto no que se refere à base nacio-
nal comum, quanto à parte diversificada, de modo a garantir a inclusão dos saberes e procedimentos culturais
produzidos pelas comunidades indígenas, tais como línguas indígenas, crenças, memórias, saberes ligados à
identidade étnica, às suas organizações sociais, às relações humanas, às manifestações artísticas, às práticas
desportivas;
III - de duração mínima anual de duzentos dias letivos, perfazendo, no mínimo, oitocentas horas, respeitan-
do-se a flexibilidade do calendário das escolas indígenas que poderá ser organizado independente do ano civil,
de acordo com as atividades produtivas e socioculturais das comunidades indígenas;
IV - de adequação da estrutura física dos prédios escolares às condições socioculturais e ambientais das
comunidades indígenas, bem como às necessidades dos estudantes nas diferentes etapas e modalidades da
Educação Básica;
V - de interdisciplinaridade e contextualização na articulação entre os diferentes campos do conhecimento,
por meio do diálogo transversal entre disciplinas diversas e do estudo e pesquisa de temas da realidade dos
estudantes e de suas comunidades;
VI - de adequação das metodologias didáticas e pedagógicas às características dos diferentes sujeitos das
aprendizagens, em atenção aos modos próprios de transmissão do saber indígena;
VII - da necessidade de elaboração e uso de materiais didáticos próprios, nas línguas indígenas e em por-
tuguês, apresentando conteúdos culturais próprios às comunidades indígenas;
VIII - de cuidado e educação das crianças nos casos em que a oferta da Educação Infantil for solicitada pela
comunidade;
IX - de atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à formação dos estudantes
indígenas que apresentem tal necessidade.
Art. 16 A observação destes critérios demandam, por parte dos sistemas de ensino e de suas instituições
formadoras, a criação das condições para a construção e o desenvolvimento dos currículos das escolas indí-
genas com a participação das comunidades indígenas, promovendo a gestão comunitária, democrática e dife-
renciada da Educação Escolar Indígena, bem como a formação inicial e continuada dos professores indígenas
– docentes e gestores – que privilegie a discussão a respeito das propostas curriculares das escolas indígenas
em atenção aos interesses e especificidades de suas respectivas comunidades.

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SEÇÃO II

DA AVALIAÇÃO

Art. 17 A avaliação, como um dos elementos que compõe o processo de ensino e aprendizagem, é uma
estratégia didática que deve ter seus fundamentos e procedimentos definidos no projeto político-pedagógico,
ser articulada à proposta curricular, às metodologias, ao modelo de planejamento e gestão, à formação inicial
e continuada dos docentes e demais profissionais da educação, bem como ao regimento escolar das escolas
indígenas, devendo, portanto, aprimorar o projeto político-pedagógico da Educação Escolar Indígena.
§ 1º A avaliação deve estar associada aos processos de ensino e aprendizagem próprios, reportando-se
às dimensões de participação e de protagonismo indígena, objetivando a formação de sujeitos socio-históricos
autônomos, capazes de atuar ativamente na construção do bem viver de seus grupos comunitários.
§ 2º A avaliação do processo de ensino e aprendizagem na Educação Escolar Indígena deve ter como base
os aspectos qualitativos, quantitativos, diagnósticos, processuais, formativos, dialógicos e participativos, consi-
derando-se o direito de aprender, as experiências de vida dos diferentes atores sociais e suas características
culturais, os valores, as dimensões cognitiva, afetiva, emocional, lúdica, de desenvolvimento físico e motor,
dentre outros.
§ 3º As escolas indígenas devem desenvolver práticas de avaliações que possibilitem a reflexão de suas
ações pedagógicas no sentido de reorientá-las para o aprimoramento dos seus projetos educativos, da relação
com a comunidade, da relação entre professor e estudante, assim como da gestão comunitária.
§ 4º Nos processos de regularização das escolas indígenas, os Conselhos de Educação devem criar parâ-
metros de avaliação interna e externa que atendam às especificidades das comunidades indígenas garantindo-
-lhes o reconhecimento das normas e ordenamentos jurídicos próprios, considerando:
I - suas estruturas sociais, suas práticas socioculturais e suas atividades econômicas.
II - suas formas de produção de conhecimento e seus processos próprios e métodos de ensino aprendiza-
gem.
Art. 18 A inserção da Educação Escolar Indígena nos processos de avaliação institucional das redes da
Educação Básica deve estar condicionada à adequação desses processos às especificidades da Educação
Escolar Indígena.
Parágrafo Único. A avaliação institucional da Educação Escolar Indígena deve contar necessariamente com
a participação e contribuição de professores e lideranças indígenas e conter instrumentos avaliativos específi-
cos que atendam aos projetos político-pedagógicos das escolas indígenas.

SEÇÃO II

DOS PROFESSORES INDÍGENAS: FORMAÇÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO

Art. 19 A qualidade sociocultural da Educação Escolar Indígena necessita que sua proposta educativa seja
conduzida por professores indígenas, como docentes e como gestores, pertencentes às suas respectivas co-
munidades.
§ 1º Os professores indígenas, no cenário político e pedagógico, são importantes interlocutores nos proces-
sos de construção do diálogo intercultural, mediando e articulando os interesses de suas comunidades com os
da sociedade em geral e com os de outros grupos particulares, promovendo a sistematização e organização de
novos saberes e práticas.
§ 2º Compete aos professores indígenas a tarefa de refletir criticamente sobre as práticas políticas pedagó-
gicas da Educação Escolar Indígena, buscando criar estratégias para promover a interação dos diversos tipos
de conhecimentos que se apresentam e se entrelaçam no processo escolar: de um lado, os conhecimentos

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ditos universais, a que todo estudante, indígena ou não, deve ter acesso, e, de outro, os conhecimentos étni-
cos, próprios ao seu grupo social de origem que hoje assumem importância crescente nos contextos escolares
indígenas.
Art. 20 Formar indígenas para serem professores e gestores das escolas indígenas deve ser uma das
prioridades dos sistemas de ensino e de suas instituições formadoras, visando consolidar a Educação Escolar
Indígena como um compromisso público do Estado brasileiro.
§ 1º A formação inicial dos professores indígenas deve ocorrer em cursos específicos de licenciaturas e pe-
dagogias interculturais ou complementarmente, quando for o caso, em outros cursos de licenciatura específica
ou, ainda, em cursos de magistério indígena de nível médio na modalidade normal.
§ 2º A formação inicial será ofertada em serviço e, quando for o caso, concomitante com a própria escolari-
zação dos professores indígenas.
§ 3º Os cursos de formação de professores indígenas, em nível médio ou licenciatura, devem enfatizar a
constituição de competências referenciadas m conhecimentos, saberes, valores, habilidades e atitudes pauta-
das nos princípios da Educação Escolar Indígena.
§ 4º A formação de professores indígenas deve estar voltada para a elaboração, o desenvolvimento e a
avaliação de currículos e programas próprios, bem como a produção de materiais didáticos específicos e a
utilização de metodologias adequadas de ensino e pesquisa.
§ 5º Os sistemas de ensino e suas instituições formadoras devem garantir os meios do acesso, permanên-
cia e conclusão exitosa, por meio da elaboração de planos estratégicos diferenciados, para que os professores
indígenas tenham uma formação com qualidade sociocultural, em regime de colaboração com outros órgãos
de ensino.
§ 6º Os sistemas de ensino e suas instituições formadoras devem assegurar a formação continuada dos
professores indígenas, compreendida como componente essencial da profissionalização docente e estratégia
de continuidade do processo formativo, articulada à realidade da escola indígena e à formação inicial dos seus
professores.
§ 7º O atendimento às necessidades de formação continuada de profissionais do magistério indígena dar-
-se-á pela oferta de cursos e atividades formativas criadas e desenvolvidas pelas instituições públicas de edu-
cação, cultura e pesquisa, em consonância com os projetos das escolas indígenas e dos sistemas de ensino.
§ 8º A formação continuada dos profissionais do magistério indígena dar-se-á por meio de cursos presen-
ciais ou cursos à distância, por meio de atividades formativas e cursos de atualização, aperfeiçoamento, espe-
cialização, bem como programas de mestrado ou doutorado.
§ 9º Organizações indígenas e indigenistas podem ofertar formação inicial e continuada de professores in-
dígenas, desde que solicitadas pelas comunidades indígenas, e terem suas propostas de formação autorizadas
e reconhecidas pelos respectivos Conselhos Estaduais de Educação.
Art. 21 A profissionalização dos professores indígenas, compromisso ético e político do Estado brasileiro,
deve ser promovida por meio da formação inicial e continuada, bem como pela implementação de estratégias
de reconhecimento e valorização da função sociopolítica e cultural dos professores indígenas, tais como:
I - criação da categoria professor indígena como carreira específica do magistério público de cada sistema
de ensino;
II - promoção de concurso público adequado às particularidades linguísticas e culturais das comunidades
indígenas;
III - garantia das condições de remuneração, compatível com sua formação e isonomia salarial;
IV - garantia da jornada de trabalho, nos termos da Lei n° 11.738/2008;
V - garantia de condições condignas de trabalho.
§ 1º Essas garantias devem ser aplicadas não só aos professores indígenas que exercem a docência, mas
também àqueles que exercem as funções de gestão nos sistemas de ensino, tanto nas próprias escolas indí-
genas quanto nas Secretarias de Educação ou nos seus órgãos afins.

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§ 2º Para estes últimos, os sistemas de ensino devem também promover a formação inicial e continuada nas
áreas da gestão democrática, comunitária e diferenciada da Educação Escolar Indígena, visando uma melhor
adequação das atividades de elaboração, execução e avaliação do projeto político-pedagógico das escolas e
das redes de ensino.
§ 3º Recomenda-se aos sistemas de ensino a criação de uma comissão paritária composta pelos represen-
tantes das Secretarias de Educação, das lideranças comunitárias e dos professores indígenas para a regulari-
zação da carreira do magistério indígena bem como, quando de sua implantação, a sua adequada avaliação,
visando à elaboração e implementação de políticas públicas voltadas para a garantia da qualidade sociocultural
da Educação Escolar Indígena.
§ 4º Essa comissão será formada e terá suas funções acompanhadas no âmbito dos espaços institucionais
criados nos diferentes sistemas de ensino para tratar das políticas de Educação Escolar Indígena tais como
comitês, fóruns, comissões ou Conselhos de Educação Escolar Indígena.

TÍTULO V

DA AÇÃO COLABORATIVA PARA A GARANTIA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR

INDÍGENA

SEÇÃO I

DAS COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS NO EXERCÍCIO DO REGIME DE


COLABORAÇÃO

Art. 22 As políticas de Educação Escolar Indígena serão efetivadas nos territórios etnoeducacionais por
meio da articulação entre os diferentes sistemas de ensino, definindo-se, no âmbito do regime de colaboração,
suas competências e corresponsabilidades.
Art. 23 Na oferta e promoção da Educação Escolar Indígena para os povos indígenas é exigido, no plano
institucional, administrativo e organizacional dos entes federados, o estabelecimento e o cumprimento articu-
lado de normas específicas de acordo com as competências constitucionais e legais estabelecidas, em regime
de colaboração.
Art. 24 Constituem atribuições da União:
I - legislar privativamente e definir diretrizes e políticas nacionais para a Educação Escolar Indígena;
II - coordenar as políticas dos territórios etnoeducacionais na gestão da Educação Escolar Indígena;
III - apoiar técnica e financeiramente os Sistemas de Ensino na oferta de Educação Escolar Indígena, de-
senvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa com a participação dessas comunidades em seu
acompanhamento e avaliação;
IV - ofertar programas de formação de professores indígenas – gestores e docentes – e das equipes técni-
cas dos Sistemas de ensino que executam programas de Educação Escolar Indígena;
V - criar ou redefinir programas de auxílio ao desenvolvimento da educação, a fim de atender às necessida-
des escolares indígenas;
VI - orientar, acompanhar e avaliar o desenvolvimento de ações na área da formação inicial e continuada
de professores indígenas;
VII - promover a elaboração e publicação sistemática de material didático específico e diferenciado, desti-
nado às escolas indígenas;
VIII - realizar as Conferências Nacionais de Educação Escolar Indígena.
Art. 25 Constituem atribuições dos Estados:

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I - ofertar e executar a Educação Escolar Indígena diretamente ou por meio de regime de colaboração com
seus Municípios;
II - estruturar, nas Secretarias de Educação, instâncias administrativas de Educação Escolar Indígena com a
participação de indígenas e de profissionais especializados nas questões indígenas, destinando-lhes recursos
financeiros específicos para a execução dos programas de Educação Escolar Indígena;
III - criar e regularizar as escolas indígenas como unidades próprias, autônomas e específicas no sistema
estadual de ensino;
IV - implementar e desenvolver as ações pactuadas no plano de ação elaborado pela comissão gestora dos
territórios etnoeducacionais;
V - prover as escolas indígenas de recursos financeiros, humanos e materiais visando ao pleno atendimento
da Educação Básica para as comunidades indígenas;
VI - instituir e regulamentar o magistério indígena por meio da criação da categoria de professor indígena,
admitindo os professores indígenas nos quadros do magistério público mediante concurso específico;
VII - promover a formação inicial e continuada de professores indígenas – gestores e docentes;
VIII - promover a elaboração e publicação sistemática de material didático e pedagógico, específico e dife-
renciado para uso nas escolas indígenas.
§ 1° As atribuições dos Estados com a oferta da Educação Escolar Indígena poderão ser realizadas em
regime de colaboração com os municípios, ouvidas as comunidades indígenas, desde que estes tenham se
constituído em sistemas de educação próprios e disponham de condições técnicas e financeiras adequadas.
§ 2° As atribuições dos Estados e do Distrito Federal se aplicam aos Municípios no que couber.
Art. 26 Constituem atribuições dos Conselhos de Educação:
I - estabelecer critérios específicos para criação e regularização das escolas indígenas e dos cursos de
formação de professores indígenas;
II - autorizar o funcionamento e reconhecimento das escolas indígenas e dos cursos de formação de pro-
fessores indígenas;
III - regularizar a vida escolar dos estudantes indígenas, quando for o caso.
Parágrafo único. Em uma perspectiva colaborativa, os Conselhos de Educação podem compartilhar ou de-
legar funções aos Conselhos de Educação Escolar Indígena, podendo ser criados por ato do executivo ou por
delegação dos próprios Conselhos de Educação em cada realidade.

SEÇÃO II

DOS TERRITÓRIOS ETNOEDUCACIONAIS

Art. 27 Os territórios etnoeducacionais devem se constituir nos espaços institucionais em que os entes fede-
rados, as comunidades indígenas, as organizações indígenas e indigenistas e as instituições de ensino superior
pactuarão as ações de promoção da Educação Escolar Indígena efetivamente adequada às realidades sociais,
históricas, culturais e ambientais dos grupos e comunidades indígenas.
§ 1º Os territórios etnoeducacionais objetivam promover o regime de colaboração para promoção e gestão
da Educação Escolar Indígena, definindo as competências comuns e privativas da União, Estados, Municípios
e do Distrito Federal, aprimorando os processos de gestão e de financiamento da Educação Escolar Indígena
e garantindo a participação efetiva das comunidades indígenas interessadas.
§ 2º Para a implementação dos territórios etnoeducacionais devem ser criados ou adaptados mecanismos
jurídico-administrativos que permitam a sua constituição em unidades executoras com dotação orçamentária
própria, tais como os consórcios públicos e os arranjos de desenvolvimento educacionais.

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§ 3º Os territórios etnoeducacionais estão ligados a um modelo de gestão das políticas educacionais indíge-
nas pautado pelas ideias de territorialidade, protagonismo indígena, interculturalidade na promoção do diálogo
entre povos indígenas, sistemas de ensino e demais instituições envolvidas, bem como pelo aperfeiçoamento
do regime de colaboração.
§ 4º As comissões gestoras dos territórios etnoeducacionais são responsáveis pela elaboração, pactuação,
execução, acompanhamento e avaliação dos planos de ação definidos nos respectivos territórios.
§ 5º Recomenda-se a criação e estruturação de uma comissão nacional gestora dos territórios etnoeduca-
cionais, com representações de cada território, para acompanhamento e avaliação das políticas educacionais
instituídas nesses espaços.

TÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 28 É responsabilidade do Estado brasileiro em relação à Educação Escolar Indígena o previsto no art.
208 da Constituição Federal de 1988, no art. 4º, inciso 9º, e no art. 5º, § 4º, da Lei nº 9.394/96 e nos dispositivos
desta Resolução.
Art. 29 Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Resolução CNE/CEB nº 1, de 7 de janeiro de 2015, que Institui Diretrizes Curriculares


Nacionais para a Formação de Professores Indígenas em cursos de Educação Superior e
de Ensino Médio e dá outras providências

RESOLUÇÃO Nº 1, DE 7 DE JANEIRO DE 2015


Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores Indígenas em cursos de Educa-
ção Superior e de Ensino Médio e dá outras providências.
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o dis-
posto no art. 9º, § 1º, alíneas “c” e “g”, bem como no § 2º, alíneas “c” e “h” da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro
de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento nos arts. 61 a
67 e 78 a 79 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, bem como no Parecer CNE/CP nº 6/2014, homologa-
do por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 31 de dezembro de 2014,
RESOLVE:
Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
Indígenas em cursos de Educação Superior e de Ensino Médio e dá outras providências.
Paragrafo único. Estas diretrizes têm por objetivo regulamentar os programas e cursos destinados à forma-
ção inicial e continuada de professores indígenas no âmbito dos respectivos sistemas de ensino, suas institui-
ções formadoras e órgãos normativos.

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS

Art. 2º Constituem-se princípios da formação de professores indígenas:


I - respeito à organização sociopolítica e territorial dos povos e comunidades indígenas;

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II - valorização das línguas indígenas entendidas como expressão, comunicação e análise da experiência
sociocomunitária;
III - reconhecimento do valor e da efetividade pedagógica dos processos próprios e diferenciados de ensino
e aprendizagem dos povos e comunidades indígenas;
IV - promoção de diálogos interculturais entre diferentes conhecimentos, valores, saberes e experiências;
V - articulação dos diversos espaços formativos, tais como a comunidade, o movimento indígena, a família
e a escola; e
VI - articulação entre docentes, gestores e demais profissionais da educação escolar e destes com os edu-
cadores tradicionais da comunidade indígena.
Art. 3º São objetivos dos cursos destinados à formação de professores indígenas:
I - formar, em nível da Educação Superior e do Ensino Médio, docentes e gestores indígenas para atuar na
Educação Escolar Indígena com vistas ao exercício integrado da docência, da gestão e da pesquisa assumida
como princípio pedagógico;
II - fundamentar e subsidiar a construção de currículos, metodologias, processos de avaliação e de gestão
de acordo com os interesses de escolarização dos diferentes povos e comunidades indígenas;
III - desenvolver estratégias que visem à construção dos projetos políticos e pedagógicos das escolas indí-
genas com desenhos curriculares e percursos formativos diferenciados e que atendam às suas especificidades
étnicas, culturais e linguísticas;
IV - fomentar pesquisas voltadas para as questões do cotidiano escolar, para os interesses e as necessida-
des culturais, sociais, étnicas, políticas, econômicas, ambientais e linguísticas dos povos indígenas e de suas
comunidades, articuladamente aos projetos educativos dos povos indígenas;
V - promover a elaboração de materiais didáticos e pedagógicos bilíngues e monolíngues, conforme a situ-
ação sociolinguística e as especificidades das etapas e modalidades da Educação Escolar Indígena requeridas
nas circunstâncias específicas de cada povo e comunidade indígena; e
VI - promover a articulação entre os diferentes níveis, etapas, modalidades e formas da Educação Escolar
Indígena, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa, de modo orgânico, em conformidade
com os princípios da educação escolar específica, diferenciada, intercultural e bilíngue.

CAPÍTULO II

DA CONSTRUÇÃO E DO DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS E CURSOS ESPECÍFICOS PARA


A FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS

Art. 4º A formação inicial de professores indígenas deverá ser realizada em cursos específicos de licenciatu-
ras e pedagogias interculturais e, quando for o caso, em outros cursos de licenciatura, programas especiais de
formação pedagógica e aproveitamento de estudos ou, ainda, excepcionalmente, em outros cursos destinados
ao magistério indígena de Nível Médio nas modalidades normal ou técnica.
Art. 5° A formação continuada de professores indígenas dar-se-á por meio de atividades formativas, cursos
e programas específicos de atualização, extensão, aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado.
Art. 6º Os sistemas de ensino devem garantir aos professores indígenas a formação inicial em serviço e,
quando for o caso, a formação inicial e continuada concomitante com a sua escolarização.
§1º A formação inicial e continuada em serviço deve ser assegurada aos professores indígenas, garantindo-
-se o seu afastamento, sem prejuízo do calendário letivo das escolas indígenas.
§2º Essas garantias são extensivas aos indígenas que atuam na docência e na gestão dos programas de
Educação Escolar Indígena, tanto os ofertados nas escolas indígenas quanto os realizados em secretarias de
educação, seus órgãos regionalizados e conselhos de educação.

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SEÇÃO I

DO PERFIL DO PROFESSOR INDÍGENA

Art. 7º Em atenção aos perfis profissionais e políticos requeridos pelos povos indígenas, os cursos destina-
dos à formação inicial e continuada de professores indígenas devem prepará-los para:
I - atuação e participação em diferentes dimensões da vida de suas comunidades, de acordo com as espe-
cificidades de cada povo indígena;
II - conhecimento e utilização da respectiva língua indígena nos processos de ensino e aprendizagem;
III - realização de pesquisas com vistas à revitalização das práticas linguísticas e culturais de suas comuni-
dades, de acordo com a situação sociolinguística e sociocultural de cada comunidade e povo indígena;
IV - articulação da proposta pedagógica da escola indígena com a formação de professores indígenas, em
relação à proposta política mais ampla de sua comunidade e de seu território;
V - articulação das linguagens orais, escritas, midiáticas, artísticas e corporais das comunidades e povos
indígenas no âmbito da escola indígena;
VI - apreensão dos conteúdos das diferentes áreas do conhecimento escolarizado e sua utilização de modo
interdisciplinar, transversal e contextualizado no que se refere à realidade sociocultural, econômica, política e
ambiental das comunidades e povos indígenas;
VII - construção de materiais didáticos e pedagógicos multilíngues, bilíngues e monolíngues, em diferentes
formatos e modalidades;
VIII - construção de metodologias de ensino e aprendizagem que sintetizem e potencializem pedagogias
ligadas às especificidades de cada contexto escolar indígena;
IX - compreensão das regulações e normas que informam e envolvem a política educacional dos respecti-
vos sistemas de ensino e de suas instituições formadoras;
X - compromisso com o desenvolvimento e a aprendizagem do estudante da escola indígena, promovendo
e incentivando a qualidade sociocultural da Educação Escolar Indígena;
XI - firme posicionamento crítico e reflexivo em relação à sua prática educativa, às problemáticas da reali-
dade socioeducacional de suas comunidades e de outros grupos sociais em interação;
XII - vivência de diferentes situações de ensino e aprendizagem a fim de avaliar as repercussões destas no
cotidiano da escola e da comunidade indígena;
XIII - adoção da pesquisa como base pedagógica essencial da construção do itinerário formativo, com vistas
a uma melhor compreensão e avaliação do seu fazer educativo, do papel sociopolítico e cultural da escola, da
realidade dos povos indígenas e do contexto sociopolítico e cultural da sociedade brasileira em geral; e
XIV - identificação coletiva, permanente e autônoma de processos educacionais em diferentes instituições
formadoras, inclusive daquelas pertencentes a cada povo e comunidade indígena.

SEÇÃO II

DOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS E DAS PROPOSTAS CURRICULARES

Art. 8º Os projetos pedagógicos de cursos da formação de professores indígenas devem ser construídos no
âmbito das instituições formadoras de modo coletivo, possibilitando uma ampla participação dos povos indíge-
nas envolvidos com a proposta formativa e a valorização dos seus conhecimentos e saberes.
Art. 9º Em consonância com os princípios da Educação Escolar Indígena, os projetos pedagógicos de cur-
sos devem ser construídos tendo como base:

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
I - as especificidades culturais e sociolinguísticas de cada povo e comunidade indígena, valorizando suas
formas de organização social, cultural e linguística;
II - as formas de educar, cuidar e socializar próprias de cada povo e comunidade indígena;
III - a necessidade de articulação entre os saberes, as práticas da formação docente e os interesses etno-
políticos, culturais, ambientais e linguísticos dos respectivos povos e comunidades indígenas;
IV - a relação entre territorialidade e Educação Escolar Indígena, estratégica para a continuidade dos povos
e das comunidades indígenas em seus territórios, contribuindo para a viabilização dos seus projetos de bem-
-viver; e
V - a relação dos povos e comunidades indígenas com outras culturas e seus respectivos saberes.
Art. 10. Os projetos pedagógicos de cursos devem indicar, para as instituições formadoras, estratégias ne-
cessárias à oferta de formação inicial e continuada de professores indígenas com a requerida qualidade socio-
cultural, visando a assegurar o direito ao acesso, à permanência e à conclusão exitosa do formando indígena.
§1º Para a promoção da qualidade e das especificidades dessas formações, a realização de suas atividades
deve ocorrer em espaços e tempos diversificados, observando-se o calendário sociocultural, econômico e ritual
dos povos e comunidades indígenas, bem como os respectivos calendários letivos de suas escolas.
§2º As diferentes presenças dos sábios indígenas, dos “mais velhos”, das lideranças políticas e dos filhos
pequenos dos professores em formação devem ser acolhidas requerendo, das instituições formadoras, trata-
mento adequado à sua permanência neste ambiente formativo.
§3º Os sábios, os “mais velhos” e as lideranças políticas podem atuar como formadores, cabendo às insti-
tuições formadoras a adoção de estratégias específicas identificadas para este fim.
Art.11. As propostas curriculares da formação de professores indígenas, em atenção às especificidades
da Educação Escolar Indígena, devem ser construídas com base na pluralidade de ideias e de concepções
pedagógicas, apresentando a flexibilidade necessária ao respeito e à valorização das concepções teóricas e
metodológicas de ensino e aprendizagem de cada povo e comunidade indígena.
Art. 12. Os currículos da formação de professores indígenas podem ser organizados em núcleos, eixos, te-
mas contextuais ou geradores, módulos temáticos, áreas de conhecimento, dentre outras alternativas, sempre
que o processo de ensino e aprendizagem assim o recomendar.
Parágrafo único. Na construção e organização dos currículos que objetivam a formação inicial e continuada
dos professores indígenas, deve-se considerar:
I - a territorialidade como categoria central a ser tratada em todas as dimensões dos componentes curricu-
lares;
II - o conhecimento indígena e seus modos de produção e expressão;
III - a presença constante e ativa de sábios indígenas;
IV - a consonância do currículo da escola indígena com o currículo da formação do professor indígena,
numa perspectiva reflexiva e transformadora;
V - a interculturalidade, o bilinguismo ou multilinguismo, bem como as especificidades dos contextos socio-
culturais expressas nas demandas educacionais e na participação comunitária;
VI - a pesquisa como fundamento articulador permanente entre teoria e prática ligado ao saber historica-
mente produzido e, intrinsecamente, aos interesses e às necessidades educativas, sociolinguísticas, políticas
e culturais dos povos indígenas;
VII - os conteúdos relativos às políticas socioeducacionais e aos direitos indígenas, tendo em vista a com-
plexidade e a especificidade do funcionamento, da gestão pedagógica e financeira, bem como do controle
social da Educação Escolar Indígena;
VIII - a perspectiva do exercício integrado da docência e da gestão de processos educativos escolares e
não escolares; e
IX - a participação indígena na gestão e na avaliação dos programas e cursos de formação de professores
indígenas.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
Art. 13. A prática de ensino se refere a um conjunto amplo de atividades ligadas ao exercício docente, desde
o ato de ensinar propriamente dito até a produção e a análise de material didático-pedagógico, a experiência de
gestão e a realização de pesquisas.
Parágrafo único. A prática de ensino deve estar articulada a todo o processo formativo do professor indíge-
na, integrando desde suas atividades iniciais até as de conclusão do curso.
Art. 14. O estágio supervisionado, concebido como tempo e espaço privilegiados de ação-reflexão-ação na
formação de professores indígenas, deve ser extensivo a todos os formandos indígenas, incluindo aqueles que
já desenvolvem trabalhos docentes no âmbito da Educação Básica.
Art. 15. Com vistas à garantia da qualidade socioeducativa e cultural da prática de ensino e do estágio su-
pervisionado, é importante que as instituições formadoras observem as seguintes orientações:
I - os princípios da Educação Escolar Indígena e suas práticas de pesquisa são elementos centrais na orga-
nização de todas as atividades do processo formativo;
II - suas atividades podem ser desenvolvidas nas escolas indígenas, nas secretarias de educação e em
seus órgãos regionalizados, nos conselhos e fóruns de educação, nas organizações de professores indígenas
e em outras associações do movimento indígena; e
III - na apresentação de suas atividades finais, podem ser utilizados seminários, cadernos de estágio, pro-
dução de materiais didático-pedagógicos, vídeos, fotografias e outras linguagens ligadas às tecnologias da
informação e da comunicação.
Parágrafo único. As instituições formadoras devem assumir a condução das atividades de estágio supervi-
sionado como atos educativos de sua responsabilidade, criando diferentes estratégias de acompanhamento da
prática de ensino e do estágio supervisionado, envolvendo os seus formadores, os professores indígenas em
processo formativo, as comunidades indígenas e suas escolas.
Art. 16. As atividades acadêmico-científico-culturais, em sua vasta possibilidade de realização, devem ser
definidas no projeto pedagógico de cada curso e programa destinado à formação inicial e continuada de pro-
fessores indígenas.
Parágrafo único. Podem ser consideradas atividades acadêmico-científico-culturais as participações dos
cursistas nas organizações de professores indígenas, em eventos acadêmicos e culturais das diferentes áreas
do conhecimento, em ações junto às escolas indígenas e não indígenas, nos diferentes momentos sociopolíti-
cos de cada comunidade ou dos povos indígenas.

SEÇÃO III

DA FORMAÇÃO DOS FORMADORES PARA ATUAREM NOS PROGRAMAS E CURSOS DE FORMA-


ÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS

Art. 17. Os programas e cursos destinados à formação de professores indígenas requerem a atuação de
profissionais com experiências no trabalho com povos indígenas e comprometidos política, pedagógica, étnica
e eticamente com os respectivos projetos políticos e pedagógicos que orientam esses processos formativos.
Art. 18. Com o objetivo de assegurar a qualidade e o respeito às especificidades desta formação, a partici-
pação dos indígenas nos quadros de formadores e da gestão desses cursos é primordial para a colaboração
institucional, a promoção do diálogo intercultural e o efetivo estabelecimento de relações sociopolíticas, cultu-
rais e pedagógicas mais simétricas.
§1º A participação de indígenas nesses quadros, de forma dialógica e colaborativa, deve ocorrer:
I - a partir da indicação das comunidades indígenas, de suas escolas e do colegiado do curso planejado
para a formação de professores indígenas; e
II - com base no reconhecimento dos seus saberes e papéis sociocultural, político, religioso ou linguístico,
independentemente de possuírem formação escolarizada.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
§ 2° As instituições formadoras devem adequar suas estruturas organizacionais para garantir a participação
indígena nos processos de formação de formadores, assegurando-lhes as condições necessárias para esse
fim.
Art. 19. As instituições formadoras devem promover a formação dos formadores que atuam nos cursos des-
tinados à formação inicial e continuada de professores indígenas, ao definir, nos seus projetos pedagógicos de
cursos, os objetivos e as estratégias de implementação dessa formação.
Paragrafo único. Essa formação deve contemplar, nos seus fundamentos básicos:
I - as Diretrizes Curriculares Nacionais e Operacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação para
a Educação Escolar Indígena e para a formação de seus professores;
II - as Diretrizes Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação para o ensino da história e da
cultura dos povos indígenas nos currículos escolares;
III - as Diretrizes Gerais de Educação em Direitos Humanos e Educação Ambiental e demais diretrizes defi-
nidas pelo Conselho Nacional de Educação consideradas requisitos para a formação de formadores indígenas;
IV - o projeto pedagógico dos cursos destinados à formação inicial e continuada de professores indígenas; e
V - os estudos e as pesquisas históricas, antropológicas e linguísticas sobre os grupos indígenas partícipes
da formação.

SEÇÃO IV

DA GESTÃO

Art. 20. A gestão democrática dos programas, projetos e cursos destinados à formação inicial e continuada
de professores indígenas deve ser orientada pela efetiva participação, pelo direito à consulta livre, prévia e in-
formada aos povos indígenas e pelo aspecto comunitário da Educação Escolar Indígena.
Parágrafo único. O modelo de gestão, definido no projeto pedagógico do curso, é estratégico para o reco-
nhecimento institucional e comunitário da formação de professores indígenas.
Art. 21. A participação de representantes indígenas na gestão dos programas e cursos destinados à for-
mação inicial e continuada de professores indígenas deve ser viabilizada de modo pleno e efetivo, cabendo
às instituições formadoras criar instâncias específicas que propiciem essa participação e o seu controle social.
§1º As organizações de professores indígenas devem participar ativamente na gestão dos programas e
cursos destinados à formação de seus profissionais como forma de assegurar o controle social e a autonomia
por parte dos professores indígenas na construção dos seus processos de educação escolar e da sua formação
docente.
§2º As instituições formadoras devem ampliar seus espaços de participação, envolvendo, além dos indíge-
nas, as representações das instituições parceiras na oferta da formação inicial e continuada de professores
indígenas.

SEÇÃO V

DA AVALIAÇÃO DOS PROGRAMAS E CURSOS DESTINADOS À FORMAÇÃO INICIAL E CONTI-


NUADA DE PROFESSORES INDÍGENAS

Art. 22. Todos os processos de avaliação dos programas e cursos devem ter os princípios e objetivos enun-
ciados nesta Resolução como referências fundamentais e os projetos pedagógicos de cursos como marcos
estratégicos referenciais.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
§ 1º As avaliações devem ser:
I - periódicas e sistemáticas, com procedimentos e formas diversificadas, incluindo conteúdos trabalhados,
modelo de organização curricular, desempenho do quadro dos formadores e qualidade da vinculação do curso
com as escolas indígenas; e
II - executadas segundo procedimentos internos e externos que permitam a identificação das diferentes
dimensões daquilo que for avaliado e sua reformulação.
Art. 23. Os processos de autorização, reconhecimento e regulação de programas e cursos destinados à
formação inicial e continuada de professores indígenas devem considerar:
I - as Diretrizes Curriculares Nacionais e as normas complementares referentes à Educação Escolar Indíge-
na e à formação de seus professores;
II - os projetos pedagógicos de cada programa e curso aprovados em suas respectivas instituições forma-
doras; e
III - os princípios e procedimentos do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), no
caso dos cursos em Educação Superior.
Parágrafo único. Os processos avaliativos do SINAES deverão assimilar os princípios desta Resolução.

CAPÍTULO III

DA PROMOÇÃO E OFERTA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS: COLABORAÇÃO E


RESPONSABILIDADES

Art. 24. A formação de professores indígenas deve ser priorizada nas políticas de Educação Escolar Indíge-
na dos respectivos sistemas de ensino.
Art. 25. Os sistemas de ensino e suas instituições formadoras, em regime de colaboração, devem garantir
o acesso, a permanência e a conclusão exitosa, por meio da elaboração de planos estratégicos diferenciados,
para que os professores indígenas tenham uma formação com a exigida qualidade sociocultural.
Parágrafo único. Os sistemas de ensino e suas instituições formadoras e de fomento a programas de ini-
ciação à docência e à pesquisa devem definir estratégias e mecanismos que permitam a utilização de formas
diferenciadas de acesso e permanência nos cursos destinados à formação de professores indígenas, tanto no
âmbito da Educação Superior quanto no do Nível Médio.
Art. 26. As universidades e demais Instituições de Educação Superior, em especial as mais próximas das
comunidades e povos indígenas, são responsáveis pela formação de professores indígenas na graduação e
na pós-graduação, podendo, ainda, serem consideradas como parceiras de outras instituições formadoras nos
cursos de Nível Médio, na modalidade normal, ou mesmo de técnico de Nível Médio.
Art. 27. As secretarias de educação e os institutos federais de educação, ciência e tecnologia são os res-
ponsáveis pela formação dos professores indígenas para atuação nos cursos de educação profissional técnica
de Nível Médio.
Art. 28. Compete à União:
I - promover a oferta de programas e cursos destinados à formação inicial e continuada de professores indí-
genas e das equipes técnicas dos sistemas de ensino que executam programas de Educação Escolar Indígena;
e
II - orientar, acompanhar e avaliar o desenvolvimento de ações na área da formação inicial e continuada de
professores indígenas.
Art. 29. Compete aos Estados e ao Distrito Federal:
I - promover, em regime de colaboração, a formação inicial e continuada de professores indígenas; e

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
II - fomentar a oferta de programas e cursos destinados à formação inicial e continuada de professores in-
dígenas nas suas escolas indígenas de Ensino Médio.
Art. 30. Os municípios devem firmar contínuas parcerias com as instituições formadoras dos demais siste-
mas de ensino na oferta de programas e cursos destinados à formação inicial e continuada dos seus professo-
res indígenas, tanto no nível do Ensino Médio quanto no da Educação Superior.
Art. 31. Dada a atual configuração da gestão etnoterritorializada da Educação Escolar Indígena, definida por
meio dos Territórios Etnoeducacionais, recomenda-se que a promoção e a oferta da formação inicial e continu-
ada de professores indígenas ocorram no âmbito deste processo de planejamento e gestão.
Parágrafo único. A formação inicial e continuada de professores indígenas e demais profissionais que atuam
na Educação Escolar Indígena deve ser um dos eixos centrais dos Planos de Ação dos Territórios Etnoeduca-
cionais.
Art. 32. Na promoção e na oferta da formação inicial e continuada de professores indígenas, deve ser consi-
derada a responsabilidade da Fundação Nacional do Índio (Funai) na constituição de parcerias e cooperações
institucionais.
Art. 33. Para que a formação inicial e continuada de professores indígenas ocorra em conformidade com
os princípios e objetivos inscritos nestas Diretrizes Nacionais, é imprescindível que os respectivos sistemas de
ensino garantam as condições concretas para sua realização, por meio da destinação de recursos humanos e
financeiros adequados para este fim.
Art. 34. Os Fóruns Estaduais Permanentes de Apoio à Formação Docente – ou outra denominação que ve-
nham a assumir –, instituídos pela Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação
Básica, devem incluir a formação de professores indígenas em seus planos e ações estratégicas, conforme os
princípios e objetivos definidos nesta Resolução.
Parágrafo único. Recomenda-se a participação das organizações de professores indígenas de cada estado
nos Fóruns Estaduais Permanentes de Apoio à Formação Docente.
Art. 35. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Resolução CEE nº 382/2003, que dispõe sobre a criação e o funcionamento de Escola


Indígena no Sistema de Ensino do Ceará e dá outras providências

RESOLUÇÃO Nº 382/2003
Dispõe sobre a criação e o funcionamento de escola indígena no Sistema de Ensino do Ceará e dá outras
providências.
O Conselho de Educação do Ceará – CEC no uso de suas atribuições contidas na Lei Estadual Nº 10.014,
de 9 de abril de 1985, Art. 7º, inciso II, e tendo em vista o disposto na Constituição Federal, artigos 21 § 2º e
231, “caput “, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, artigos 78 e 79, no Parecer Nº 14/99,
na Resolução Nº 03/99, do Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Básica – CNE/CEB e no
Plano Nacional de Educação – PNE no que se refere à criação e funcionamento de escola indígena no Sistema
de Ensino do Estado,
RESOLVE:

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
CAPÍTULO I

DA ESCOLA INDÍGENA

Art. 1º – Estabelecer, no âmbito da educação básica, a estrutura e o funcionamento de escola indígena


reconhecendo-lhe a condição de escola diferenciada, com normas e ordenamento jurídico próprios e fixando
diretrizes curriculares do ensino intercultural e bilíngüe, visando à valorização plena das culturas dos povos e
comunidades indígenas, à afirmação e à manutenção de sua diversidade étnica.

CAPÍTULO II

DA ORGANIZAÇÃO

Art. 2º – A escola indígena, em sua organização, obedecerá aos seguintes princípios:


a) reconhecimento e respeito à diversidade étnica e cultural dos povos e comunidades indígenas;
b) valorização dos conhecimentos e saberes tradicionais;
c) valorização e fortalecimento das culturas indígenas;
d) diversidade de concepções de ensino e de aprendizagem;
e) gestão participativa.

CAPÍTULO III

DOS OBJETIVOS

Art. 3º – A escola indígena visará a:


a) formar crianças, jovens e adultos, críticos e conscientes de seu papel na vida de sua comunidade ou de
seu povo;
b) formar cidadãos para assumir seu papel de interação na sociedade brasileira;
c) fortalecer os projetos societários dos povos e comunidades indígenas;
d) fortalecer projetos de autonomia das escolas indígenas que não conflitem com os objetivos e normas
gerais da educação brasileira.

CAPÍTULO IV

DA CARACTERIZAÇÃO

Art. 4º – Serão características de escola indígena:


a) localização em terras habitadas por comunidade ou povo indígena;
b) exclusividade de atendimento a comunidades ou povos indígenas;
c) adoção do ensino bilíngüe ou multilingüe, incluindo as línguas materna e portuguesa.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
CAPÍTULO V

DAS PRERROGATIVAS

Art. 5º – A escola indígena gozará das seguintes prerrogativas:


a) ter organização própria, autônoma, específica e diferenciada;
b) ser concebida e planejada como reflexo das aspirações de cada povo ou comunidades;
c) ser intercultural, respeitando a diversidade cultural e lingüística dos diversos povos ou comunidades;
d) ser comunitária, orientada pela comunidade ou povo a que pertence de acordo com seus princípios, pro-
jetos e concepções.

CAPÍTULO VI

DOS TIPOS DE CLASSIFICAÇÃO

Art. 6º – A escola indígena será classificada conforme o número de alunos em:


a) Escola Diferenciada Indígena – Tipo A – a partir de 500 alunos;
b) Escola Diferenciada Indígena Tipo B – de 300 a 499 alunos;
c) Escola Diferenciada Indígena Tipo C – de 100 a 299 alunos;
d) Escola Diferenciada Indígena Tipo D – abaixo de 100 alunos.

CAPÍTULO VII

DA CRIAÇÃO E DENOMINAÇÃO

Art. 7º – A escola indígena será criada pelo Poder Público Estadual ou Municipal, por solicitação do povo ou
da comunidade interessada, como expressão de suas necessidades educacionais.
§ 1º – O ato de criação de escola indígena será publicado no respectivo órgão de publicidade oficial.
§ 2º – A escola indígena adotará o nome que o povo ou a comunidade lhe destinar.

CAPÍTULO VIII

DO CREDENCIAMENTO

Art. 8º – A escola indígena será credenciada e terá seu funcionamento oficializado após Parecer do Conse-
lho de Educação do Ceará – CEC, mediante apresentação dos seguintes documentos:
a) localização em terra e/ou comunidade indígena;
b) o Projeto – Político – Pedagógico;
c) Regimento Escolar;
d) descrição da organização social e gestão escolar próprias.

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
§ 1º – O Projeto – Político – Pedagógico, organizado com a participação do povo ou da comunidade indíge-
na, expressará de maneira clara:
a) a concepção de escola, seus princípios filosóficos e culturais e história da comunidade;
b) as características próprias da escola, em respeito à especificidade étnico-cultural de cada povo ou co-
munidade;
c) sua concepção curricular, compreendendo:
I. as Diretrizes Curriculares Nacionais;
II. o Referencial Curricular para a escola indígena;
III. seus objetivos a serem alcançados por área de conhecimento;
IV. os conteúdos curriculares especificamente indígenas e os modos próprios de constituição do saber e da
cultura indígena;
V. as formas de conhecimento, processos e métodos próprios do ensino;
VI. suas formas para avaliação do processo ensino-aprendizagem;
VII. as realidades sócio – lingüísticas, em cada situação.
§ 2º – As atividades curriculares poderão ser estruturadas em épocas diversas do ano civil, respeitando a
realidade social, econômica, espiritual e cultural da comunidade ou do povo indígena.
§ 3º – O Regimento Escolar será elaborado coletivamente com a participação efetiva de educadores, alu-
nos, familiares, lideranças e chefes indígenas, representando assim um pacto social entre os que fazem o povo
ou a comunidade.

CAPÍTULO IX

DA GESTÃO ESCOLAR

Art. 9º – A gestão escolar será definida com o povo ou com a


comunidade indígena e terá previsão de mecanismos administrativos que assegurem o caráter democrático
e participativo.
Art. 10 – O gestor escolar, deverá ser professor indígena e possuir a formação prevista no Art. 64 da Lei
Federal Nº 9394/96.
Parágrafo único – A escola classificada no Tipo D, de que trata o artigo 6º, poderá ser dirigida por um repre-
sentante escolar escolhido entre os professores da própria escola, o qual acumulará as funções de docência e
de gestão, não ficando obrigado a cumprir a exigência da habilitação prevista no “caput” deste artigo.
Art. 11 – A comunidade ou povo indígena fará juntamente com a Secretaria de Educação do Ceará – SEDUC
a avaliação da gestão nas escolas indígenas, propondo o seu redirecionamento, quando necessário.

CAPÍTULO X

DO PRÉDIO, INSTALAÇÕES E EQUIPAMENTOS

Art. 12 – O prédio, as instalações, os equipamentos da escola indígena e as suas concepções de espaço


devem ser adequados às necessidades dos índios e responder às aspirações de seu povo ou de sua comuni-
dade, atendidas, no mínimo, as orientações seguintes:

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
a) O prédio escolar com estrutura definida pela comunidade de comum acordo com as respectivas Secre-
tarias de Educação deverá ser suficiente para abrigar os alunos em condições satisfatórias, abrangendo: habi-
lidade, segurança, higiene e conforto. Deverá ter água potável, alguma forma de energia elétrica e instalações
sanitárias suficientes para a demanda e adequadas aos padrões utilizados;
b) Os recursos didáticos, o mobiliário e as instalações deverão ser adequados e suficientes para o desen-
volvimento do Projeto – Político – Pedagógico;
c) O acervo bibliográfico deverá atender às exigências das necessidades culturais e à faixa etária dos alu-
nos.
Parágrafo único – Para o desenvolvimento das atividades pedagógicas a escola deve valer-se da orientação
de professores habilitados nas respectivas áreas do conhecimento e de setores específicos do sistema, utili-
zando, de preferência, materiais coletados por eles, pelos alunos e que sirvam efetivamente aos seus objetivos.

CAPÍTULO XI

DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Art. 13 – A formação de professores será específica, diferenciada e orientada pelos referenciais para a for-
mação de professor indígena e legislação pertinente.
Art. 14 – A atividade docente na escola indígena será exercida, preferencialmente, por professor oriundo da
etnia.
Parágrafo único – Será garantida a formação em serviço, conforme a legislação vigente.
Art. 15 – A Secretaria da Educação Básica será responsável pela definição da política de formação de pro-
fessor indígena, assim como de sua execução.
Parágrafo único – Os cursos de formação de professor indígena serão organizados com a participação de
representantes dos povos e comunidades indígenas.

CAPÍTULO XII

DO PLANEJAMENTO

Art. 16 – O planejamento da educação escolar indígena , nos sistemas estadual e municipal, deverá contar
com a participação de representantes dos professores indígenas, das organizações indígenas e de apoio aos
índios, das lideranças e chefes indígenas, das universidades e dos órgãos governamentais.

CAPÍTULO XIII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 17 – Para o pleno funcionamento da escola , de acordo com a realidade social, política e pedagógica de
cada povo ou comunidade indígena, cabe ao Poder Público prover a escola de:
a) recursos humanos (professores, vigias, secretário, auxiliares de serviço e um profissional na área de
Informática);

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1803638 E-book gerado especialmente para DEISY CHRISTINA MOREIRA SANTOS
b) recursos materiais (merenda escolar, material didático – pedagógico, material permanente, material de
consumo, equipamento, manutenção e reparo dos prédios escolares e mobiliários);
c) recursos financeiros (pagamento dos profissionais e funcionários da escola indígena).
Art. 18 – O gestor escolar indígena, sem a habilitação prevista no Art. 10 desta Resolução, terá um prazo,
até o ano 2010, para adquiri-la, findo o qual, só poderá exercer a respectiva função com autorização do Conse-
lho de Educação do Ceará – CEC.
Art. 19 – Professor de escola indígena que não satisfaça as exigências desta Resolução terá garantida a
continuidade no exercício do magistério pelo prazo de três anos, exceção feita ao professor indígena que per-
manecerá no cargo até que adquira a formação requerida.
Art. 20 – Aos egressos das escolas indígenas e postulantes de ingresso em cursos de educação de jovens
e adultos será admitido o aproveitamento destes estudos de acordo com as normas fixadas pelo respectivo
Sistema de Ensino.
Art. 21 – Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrá-
rio.

Resolução CEE nº 447/2013, que altera dispositivos da Resolução CEC nº 382/2003,


que dispõe sobre a criação e o funcionamento de Escola Indígena no Sistema de Ensino
do Ceará e dá outras providências

RESOLUÇÃO Nº 447/2013
Altera dispositivos da Resolução CEC nº 382/2003, que dispõe sobre a criação e o funcionamento de escola
indígena no Sistema de Ensino do Ceará e dá outras providências,
O Conselho Estadual de Educação-CEE, no uso de suas atribuições contidas na Lei Estadual nº 10.014, de
9 de abri de 1985, Artigo 7º, Inciso II, redefinidas pelo Artigo 16 da Lei nº 13.875, de 07 de fevereiro de 2007, e
tendo em vista o disposto na Constituição Federal, Artigos 21, § 2º e 231, caput, na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional – LDB, Artigos 78 e 79, na Resolução CNE/CEB nº 04, de 13 de julho de 2010, Artigos
37 e 38, e com fundamento no Parecer CNE/CEB nº 13/2012 e na Resolução nº 5, de 22 de junho de 2012, que
Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação Básica, do Conselho
Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica – CNE/CEB e no que se refere à criação e funcionamento
de escola indígena no Sistema de Ensino do Estado,
RESOLVE:
Art. 1º O Artigo 6º e Alíneas a), b), c) e d) da Resolução CEC nº 382/2003 passam a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 6º A escola indígena será classificada, de acordo com o número de alunos, em quatro níveis, a seguir
discriminados;
a) Escola Indígena – Nível I – com mais de 600 alunos;
b) Escola Indígena – Nível II – de 300 a 599 alunos;
c) Escola Indígena – Nível III – de 100 a 299 alunos;
d) Escola Indígena – Nível IV – abaixo de 100 alunos”.
Art. 2º O Artigo 8º da Resolução CEC nº 382/2003 passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 8º A escola indígena será credenciada e terá seu funcionamento oficializado após Parecer do Conselho
Estadual de Educação, mediante apresentação dos seguintes documentos:
a) localização em terra e/ou comunidade indígena;
b) projeto político pedagógico;
c) regimento escolar;

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d) descrição da organização social e gestão escolar próprias;
e) atestados de segurança e de salubridade, emitidos por profissionais habilitados”.
Art. 3º O Artigo 10 e o Parágrafo-único da Resolução CEC nº 382/2003 passam a vigorar com a seguinte
redação:
“Art. 10. O gestor escolar deverá ser professor indígena, preferencialmente da mesma etnia onde se localiza
a escola, e possuir a formação prevista no Art. 64 da LDB nº 9394/1996”.
Art. 4º O Artigo 15 da Resolução CEC nº 382/2003 passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 15. A Secretaria da Educação do Estado será responsável pela definição da política de formação de
profissionais de educação escolar indígena, assim como de sua execução”.
Art. 5º O Artigo 18 da Resolução CEC nº 382/2003 passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 18. O gestor escolar indígena sem a habilitação prevista no Art. 10 desta Resolução terá o prazo de
quatro anos para adquiri-la, contados a partir da data de sua publicação”.
Art. 6º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Sala das Sessões do Conselho Estadual de Educação, em Fortaleza, aos 21 de agosto de 2013.

Lei Estadual nº 17.165, de 02 de janeiro de 2020, que reconhece a existência, a contri-


buição e os direitos dos povos indígenas no estado do Ceará

LEI N.º 17.165, 02.01.2020


RECONHECE A EXISTÊNCIA, A CONTRIBUIÇÃO E OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS NO ESTA-
DO DO CEARÁ.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ


Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1.º Na forma do Capítulo VIII da Constituição Federal, em acordo com a Lei Federal n.º 6.001, de 19
de dezembro de 1973, o Decreto n.º 1.775, de 8 de janeiro de 1996, e o art. 282 da Constituição do Estado do
Ceará, ficam reconhecidos a existência, a contribuição e os direitos dos povos indígenas no Estado do Ceará.
Parágrafo único. Fica declarada a inestimável contribuição da cultura indígena para a formação da socie-
dade cearense, notadamente no que se refere à formação do nosso patrimônio cultural, conforme o art. 216 da
Constituição Federal.
Art. 2.º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
PALÁCIO DA ABOLIÇÃO, DO GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, em Fortaleza, aos 02 de janeiro de
2020.

Exercícios

1. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, em seu Art. 79, determina que a União
apoiará, técnica e financeiramente, os sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às comu-
nidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa, que terão como objetivos:
I. Fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade indígena.
II. Manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunida-
des indígenas.

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III. Desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes
às comunidades indígenas.
Quais estão corretos?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e III.
(D) Apenas II e III.
(E) I, II e III.

2. Considerando a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB, o Art. 78-A diz que: “Os sistemas de ensi-
no, em regime de colaboração, desenvolverão programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de edu-
cação escolar bilíngue e intercultural aos estudantes surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes,
surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas”. As ações previstas no
referido artigo da LDB, possuem, dentre outros, o seguinte objetivo:
(A) proporcionar aos surdos a recuperação de suas memórias históricas, a reafirmação de suas identidades
e especificidades e a valorização de sua língua e cultura.
(B) deixar a responsabilidade do programa, métodos e formação a critério da comunidade surda, por ser
específico e diferenciado o conteúdo.
(C) facilitar aos estudantes com deficiência, previstos no enunciado, o conhecimento da língua portuguesa,
sem restringir a linguagem dos sinais.
(D) garantir aos surdos o acesso às informações, sendo desnecessários os conhecimentos técnicos e cien-
tíficos da sociedade nacional e demais sociedades surdas e não surdas.

3. Conforme a Resolução CNE/CEB nº 5, as escolas indígenas e suas atividades consideradas letivas po-
dem assumir variadas formas. Referente ao art. 7º, analise as afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V)
ou Falso (F).
( ) Em todos os níveis e modalidades da Educação Escolar Indígena devem ser garantidos os princípios de
inclusão social, portanto, com total prioridade à língua portuguesa em todas as situações de ensino; contando
com professores e gestores de diferentes comunidades não-indígenas.
( ) Os saberes e práticas indígenas devem ancorar o acesso a outros conhecimentos, de modo a valorizar
os modos próprios de conhecer, investigar e sistematizar de cada povo indígena, valorizando a oralidade e a
história indígena.
( ) A Educação Escolar Indígena deve contribuir para o projeto societário e para o bem viver de cada comu-
nidade indígena, contemplando ações voltadas à manutenção e preservação de seus territórios e dos recursos
neles existentes.
( ) A Educação Escolar Indígena unificará seu sistema de ensino à Base Nacional Comum Curricular (BRA-
SIL, 2018), e em suas práticas optará por produzir e publicar matérias complementares em língua indígena.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
(A) F - V - F - V
(B) F - F - V - V
(C) V - V - F - V
(D) F - F - V - V
(E) F - V - V - F

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4. Como incluído no art. 7º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na
Educação Básica “A organização das escolas indígenas e das atividades consideradas letivas ______, como
______, alternância regular de períodos de estudos com tempos e espaços específicos, ______, com base na
idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do
processo de aprendizagem assim o recomendar”.
Assinale a alternativa que preencha correta e respectivamente as lacunas.
(A) podem assumir várias formas / séries anuais, períodos semestrais, ciclos / grupos não seriados
(B) devem assumir uma única forma / período anual / grupos seriados
(C) podem assumir até duas formas / séries anuais ou semestrais / grupos seriados
(D) devem assumir uma única forma / períodos semestrais / grupos não seriados
(E) podem assumir somente duas formas / período bimestral ou semestral / grupos seriados

5. De acordo como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Indígena na Educação
Básica: A Educação Infantil, etapa educativa e de cuidados, é um direito dos povos indígenas que deve ser
garantido e realizado com o compromisso de qualidade sociocultural e de respeito aos preceitos da educação
diferenciada e específica. Diante do exposto, analise as afirmativas a seguir.

I. A Educação Infantil pode ser também uma opção de cada comunidade indígena que tem a prerrogativa de,
ao avaliar suas funções e objetivos a partir de suas referências culturais, decidir sobre a implantação ou não da
mesma, bem como sobre a idade de matrícula de suas crianças na escola.
II. O sistema de ensino para o segmento da Educação Infantil, e sua implementação, independe de consul-
ta pública, e a escolha curricular é realizada, exclusivamente, por professores e gestores de suas respectivas
escolas indígenas.
III. Os sistemas de ensino devem promover consulta livre, prévia e informada acerca da oferta da Educação
Infantil a todos os envolvidos com a educação das crianças indígenas, tais como pais, mães, avós, “os mais
velhos”, professores, gestores escolares e lideranças comunitárias, visando a uma avaliação que expresse os
interesses legítimos de cada comunidade indígena.
IV. A Educação Infantil é determinante em cada comunidade, portanto de obrigatoriedade, como posto em
documentos normativos. A avaliação continuada dos estudantes, desta faixa etária, deve garantir o direito de
compreender os signos de linguagem escrita (alfabetização), como eixos determinantes do desenvolvimento
infantil.
Assinale a alternativa correta.
(A) Apenas a afirmativa I está correta
(B) Apenas as afirmativas I e II estão corretas
(C) Apenas as afirmativas I e IV estão corretas
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas
(E) Apenas a afirmativa IV está correta

6. Desde o início da vigência da Lei nº 10.639/2003, a temática afro-brasileira se tornou obrigatória nos cur-
rículos do ensino fundamental e médio. As escolas públicas e particulares da educação básica devem ensinar
aos alunos conteúdos relacionados à história e à cultura afro-brasileiras. Sobre a Lei nº 10.639/2003, é correto
afirmar:
(A) no Brasil, nasce como concessão do Congresso Nacional para reafirmar as políticas de inclusão do go-
verno Fernando Henrique Cardoso.
(B) entrou em vigor em 2003 e tem duração de dez anos, prorrogáveis por mais dez anos, assim como o
Plano Nacional de Educação (PNE).

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(C) é constituída de diretrizes e normativas que servem para a reorganização das práticas pedagógicas, mas
deve fazer parte de uma formação complementar e facultativa aos estudantes durante o ciclo escolar.
(D) estabelece o ensino sobre cultura e história afro-brasileiras e especifica que o ensino deve privilegiar o
estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro
na formação da sociedade nacional.
(E) estabelece o ensino sobre cultura e história afro especifica que o ensino deve privilegiar o estudo da
história da cultura negra brasileira e do negro na formação da sociedade nacional a partir da assinatura da
Lei Áurea, com destaque para o legado histórico e político da princesa Isabel.

7. Se a escola não estabelece um ambiente seguro, que integre e valorize as diferenças, ela afasta os
alunos. Segundo as Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-Raciais, o ensino antirracista,
pautado na Lei nº 10.639/2003, torna obrigatório o(a):
(A) Ensino da história e cultura africana e afro-brasileira.
(B) Redução da evasão escolar negra.
(C) Criação de instituições escolares somente para negros.
(D) Aceitação da orientação sexual dos negros.
(E) Ensino da geografia africana.

8. A lei n° 10.639/03 alterou a lei n° 9.394/96 incluindo a obrigatoriedade do ensino sobre História e Cultura
Afro-Brasileira e Africana nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. A respei-
to dos impactos e das transformações pedagógicas dessa lei, assinale a alternativa correta.
(A) Os conteúdos relacionados à arte europeia foram removidos dando enfoque à arte africana e afro-bra-
sileira.
(B) Fica a cargo apenas do professor de arte trabalhar com as temáticas que envolvem a história e a cultura
africana e afro-brasileira nas escolas.
(C) Os conteúdos relacionados à arte, à cultura e à história africana e afro-brasileira devem ser trabalhados
apenas no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra.
(D) Considerando que a história da arte, como disciplina, é um dos espaços menos colonizados, a presença
da arte negra sempre foi valorizada e trabalhada nos colégios, tornando a lei sem efeito.
(E) A lei promove, além de uma alteração nos currículos escolares, a reafirmação de uma proposta cons-
titucional de uma educação pluriétnica e emancipadora, trazendo para os espaços escolares conteúdos e
saberes não eurocentrados.

9. Entre os povos indígenas, a educação se assenta em princípios que lhe são próprios, dentre os quais:
I. o entendimento do humano como centro do mundo em sua singularidade e preeminência sobre outras
espécies e forças naturais, com os quais estabelece relações de força e domínio.
II. valores e procedimentos próprios de sociedades originalmente orais, menos marcadas por profundas
desigualdades internas, mais articuladas pela obrigação da reciprocidade entre os grupos que as integram.
III. noções próprias, culturalmente formuladas (portanto variáveis de uma sociedade indígena a outra) da
pessoa humana e dos seus atributos, capacidades e qualidades.
IV. formação de crianças e jovens como processo integrado; apesar de suas inúmeras particularidades, uma
característica comum às sociedades indígenas é que cada experiência cognitiva e afetiva carrega múltiplos
significados - econômicos, sociais, técnicos, rituais, cosmológicos.

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Assinale a alternativa incorreta.
(A) Apenas a afirmativa I está incorreta
(B) Apenas as afirmativas I e III estão incorretas
(C) Apenas as afirmativas I e IV estão incorretas
(D) Apenas a afirmativa II está incorreta
(E) Apenas as afirmativas I e II estão incorretas

10. Sobre a concepção de objetivos, presentes no Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indíge-
nas, assinale a alternativa correta.
(A) As escolas indígenas orientam-se pela ideia de objetivos terminais
(B) Os objetivos educacionais são definidos antes do início das aulas e determinam o tipo de avaliação a
seguir, onde se quer chegar e quanto tempo tem que se gastar para isso
(C) Todos os alunos devem aprender no mesmo ritmo e ao mesmo tempo
(D) Os objetivos são como guias de orientação que o professor elabora para desenvolver sua prática e fazer
suas escolhas curriculares
(E) Objetiva avaliar o aluno, caso não aprenda é reprovado e tem que recomeçar tudo novamente

Gabarito

1 E
2 A
3 E
4 A
5 D
6 D
7 A
8 E
9 A
10 D

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