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de comunicação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os fundamentos históricos que nortearam
a construção e a formatação das assessorias de comunicação, dos profissio-
nais de comunicação organizacional e das Relações Públicas. Inicialmente,
será destacado o espectro histórico dos Estados Unidos, protagonistas
não apenas na construção e na idealização de departamentos de relações
com a imprensa, mas também na interpretação dos fenômenos comuni-
cacionais que marcaram uma transformação social. Posteriormente, será
a vez de situar o Brasil neste contexto, com o recorte da participação
ativa do governo e da construção particular da imprensa no Brasil, que
acabou tendo seu próprio modelo de assessoria de comunicação a partir
das assessorias de imprensa. Por fim, será situado o perfil dos profissionais
que atuaram em assessoria, mostrando como eles contaram com carac-
terísticas que permitem identificar e debater contextos históricos, sociais
e econômicos e também como determinaram algumas lógicas que se
asseguram até hoje no mercado de assessoria de comunicação.
disso que a imprensa ganha notoriedade e força o trabalho dos jornais como
potenciais influenciadores da população.
O Times, de Londres, conhecido até hoje, iniciou sua circulação ainda
em 1785, com o nome The Daily Universal Register. Durante os anos 1800,
empresários gradualmente entenderam o potencial dos periódicos para dar
visibilidade a questões de forma massiva. É nesta época que surgiram as
publicações assemelhadas a jornais, que tiveram notoriedade até recentemente
(e gradualmente migram para plataformas digitais). Em 1821, no Reino Unido,
surgiu o The Guardian, até hoje um dos veículos de imprensa mais importantes
do mundo. É nesta época também que surgiram empresas dedicadas a coletar
informações vendendo aos jornais, as chamadas agências de notícias. A atual
France-Presse, AFP, foi criada em 22 de outubro de 1835.
O jornalismo passou a ocupar um espaço de socialização de temas, discursos
e debates, nos negócios, na política, na sociedade e na cultura. É, sobretudo,
a partir da segunda metade do século XIX, que o jornalismo toma ares de
indústria, obrigando empresas, governos e organizações a pensarem de forma
mais estratégica nas suas relações com jornais e, no século XX, emissoras de
rádio e depois de TV.
Amaral (2018) destaca que o surgimento das assessorias de imprensa nos
Estados Unidos está associado ao espaço conquistado pelos agentes de im-
prensa, ao aumento de campanhas políticas e ao uso de redatores de publicidade
pelo empresariado. Para o autor, foi esse clima que permitiu o aparecimento
de um serviço para um novo relacionamento social. Amaral (2018) lembra da
campanha do Circo Barnum, depois da Guerra Civil Americana (1861–1865),
como um possível marco inicial.
Phineas Taylor Barnum, homem arguto e empreendedor, dos mais famosos agen-
tes de imprensa do país, conseguiu com talento e muito trabalho transformar
o Circo Barnum em uma instituição nacional (que perdurou até recentemente,
sob o nome de Ringling Bros. and Barnum Bailey Circus). Ele e meia dúzia
de colaboradores promoveram centenas de artistas — palhaços, domadores,
trapezistas, ilusionistas, anões, equilibristas. Os animais eram sempre os mais
ferozes, os mais bonitos e ensinados. A campanha era tão intensa que não dava
tempo para ninguém pensar nos brutais métodos de treinamento dos animais
e nas rigorosas condições de trabalho de toda a equipe. O sucesso desse grupo
de agentes levou ao aparecimento de milhares de publicistas em muitas áreas,
inclusive nas dos negócios e da política (AMARAL, 2018, p. 21).
Com essa declaração, o sucesso de Ivy Lee foi imediato e fez escola. Como se
vê, Lee estabeleceu um pequeno conjunto de regras ético-morais, em favor do
pressuposto da confiabilidade. Comprometeu-se a fornecer notícias — apenas
notícias — e a colocar-se à disposição dos jornalistas, sempre que solicitado,
para respostas honestas, verdadeiras (CHAPARRO, 2018, p. 5).
Dessa forma, para cumprir a carta de princípios de Ivy Lee, ele começou
a criar fatos noticiáveis, formando valores sobre o qual acabou construindo a
imagem de seu cliente. Para Pinho (1990), Lee elaborava notícias e informações
em caráter jornalístico, não como matéria meramente paga. Segundo o autor,
trata-se da origem da mídia espontânea da assessoria de comunicação. Um
exemplo foi o fato ocorrido durante uma greve que estava sendo investigada
pelo congresso americano. O dono da empresa Colorado Fuel and Iron Co havia
mandado atirar sobre os grevistas. John Rockeffeler compareceu livremente
e ajudou na investigação, o que ajudou a melhorar sua imagem diante do fato
(CHAPARRO , 2018; CHAUMELY; HUISMAN, 1964).
Apesar do protagonismo, recaem críticas a Lee, que acaba sendo alvo de
debates até os dias atuais. Chaparro (2018, p. 6) adverte que Ivy Lee também
“[…] fez jogo sujo, com práticas de emprego duplo, propina, favores escusos,
almoços sedutores, viagens prazerosas e outras formas de convívio vantajoso
com o poder econômico”. Esse debate é importante porque acabou gerando
discussões éticas, relevantes na construção da área posteriormente.
16 História da assessoria de comunicação
Confira no link a seguir um artigo que traz uma reflexão sobre a construção histórica
das Relações Públicas.
https://qrgo.page.link/yykrb
O uso intensivo da propaganda política pelo regime militar atuou como vitamina
de crescimento nas Relações Públicas. E, nos departamentos de Relações Públi-
cas, expandia-se a atividade de assessoria de imprensa, em um processo que se
nutria da euforia de prosperidade do ‘milagre econômico’, regado pelos dólares
da dívida externa. Aconteceu, então, o ‘dilúvio’ do press release. E, com o press
release, todo um conjunto de artifícios de persuasão (CHAPARRO, 2018, p. 15).
https://qrgo.page.link/dDKv3
Ivy Lee não se limitou a cuidar bem do relacionamento com a imprensa. Ho-
mem de comunicação, sabia que a imagem das pessoas, como a das instituições,
não se muda com conversa fiada e notas em jornais. Por isso, desenvolveu
habilidades e técnicas de criar fatos noticiáveis, de preferência retumbantes.
Com eles alterou os valores de referência associados à imagem pública de John
Rockefeller. E fundou a escola das Relações Públicas. Entretanto, por mais
desfavoráveis que sejam ou possam ser os julgamentos que hoje fazemos do
fundador das Relações Públicas e da assessoria de imprensa, não há como lhe
recusar um mérito de enorme valia para o jornalismo: o de ter criado o conceito
e a prática do informante profissional competente. Ivy Lee organizou-se para
atuar nos processos jornalísticos como fonte de informações e elucidações.
Stanley Walker, editor de Cidade do New York Herald Tribune, traduz o des-
conforto dos editores e repórteres com a atividade dos pioneiros das RPs em um
ensaio bem-humorado. Walker observou que os cinco mil agentes de Relações
Públicas em New York, no início do século, superavam o número de jornalistas,
que as escolas de jornalismo produziam mais agentes de Relações Públicas do
que jornalistas e que metade ou mais das matérias publicadas nos jornais diários
tinha origem nas assessorias de Relações Públicas (AMARAL, 2018, p. 21).
No Brasil
Como destaca Duarte (2018, p. 52), a seção de publicidade do Ministério da Agri-
cultura, Indústria e Comércio em 1909 informava a imprensa por notas e editava
o boletim da organização. A descrição, segundo o autor, era de que havia “[…] a
responsabilidade de que o boletim constituísse fonte a mais completa possível,
de consulta e divulgação dos conhecimentos úteis aos lavradores, industriais
e comerciantes”. Essa atribuição mudou, posteriormente, para “[…] divulgar,
pela imprensa, em notas concisas, mas completas, informações que possam
influir para o desenvolvimento da produção nacional” (DUARTE, 2018, p. 52).
Com a forte interferência e a falta de regulação profissional, houve algum
grau de obscuridade na relação do jornalismo com empresas, mais especifi-
24 História da assessoria de comunicação
https://qrgo.page.link/deKZi
História da assessoria de comunicação 25
AMARAL, L. Assessoria de imprensa nos Estados Unidos. In: DUARTE, J. (org.). Assessoria
de imprensa e relacionamento com a mídia. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p. 21-35.
BITTAR, D. T. O poder da assessoria de comunicação nos momentos de crise. [S. l.]:
BOCC, 2012. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/bittar-danielle-o-poder-da-
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de imprensa e relacionamento com a mídia. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p. 3-20.
CHAUMELY, J.; HUISMAN, D. As relações públicas. São Paulo: Difel, 1964.
DUARTE, J. (org.). Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia. 5. ed. São Paulo:
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WEY, H. O processo de relações públicas. 3. ed. São Paulo: Summus, 1986.
Leituras recomendadas
ABREU, A. A. A modernização da imprensa (1970-2000). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Manual de assessoria de comunicação:
imprensa - 2007. 4. ed. Brasília, DF: FENAJ, 2007.
26 História da assessoria de comunicação
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