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Regulação
O controle biológico
das pragas da soja
Flávio Moscardi, Beatriz Spalding Corrêa-Ferreira e José Roberto Postali Parra*
LEPIDÓPTEROS
Ovos da lagarta-da-soja são parasitados
por pelo menos cinco espécies de Hyme-
noptera, sendo Trichogramma pretio-
sum a mais prevalente. Em algumas re-
giões, esse parasitóide pode provocar
mais de 90% de mortalidade de ovos do
inseto. Os parasitóides mais freqüentes
em larvas de A. gemmatalis são os hime-
nópteros Microcharops bimaculata e
Euplectrus chapadae e o díptero Pate-
lloa similis. O primeiro ataca larvas em
fases iniciais, matando-as no terceiro ou
quarto estádio, quando ainda têm capa-
Percevejo predador de insetos-praga da soja cidade de consumo foliar muito reduzi-
da. Sua maior incidência coincide com o
pico de estádios larvais iniciais, no iní-
cio do desenvolvimento da soja, e pode
O controle dos insetos que afetam a soja inclusive a aplicação de inseticidas, des- provocar de 20% a mais de 80% de mor-
pode ser feito de forma natural, pois tan- de que as técnicas preconizadas pelo talidade do inseto.
to os predadores como os parasitóides manejo integrado de pragas (MIPSoja) Em Pseudoplusia includens (lagarta-
e os entomopatógenos exercem papel sejam seguidas. falsa-medideira), nove espécies de para-
importante na regulação dessas pragas. Os predadores mais freqüentes dos sitóides foram constatados, sendo Lito-
Muitas vezes, mesmo para as pragas insetos-praga que atacam a soja são es- mastix (Copidosoma) truncatellus o
principais – como a lagarta-da-soja (An- pécies de aranhas, os hemípteros Tropi- mais prevalente. Ele, juntamente com
ticarsia gemmatalis) e os percevejos –, conabis spp., Geocoris spp., Orius spp. fungos entomopatógenos, tem sido res-
em determinados anos e regiões, esses e Podisus spp. e os coleópteros Callida ponsável pela manutenção dessa praga
agentes podem manter as populações spp., Calosoma granulatum e Eriopsis como secundária na soja. No entanto,
de insetos em níveis que não implicam connexa. Estudos em laboratório de- provavelmente devido a aplicações an-
danos econômicos, podendo-se evitar monstraram o alto potencial de predação tecipadas de inseticidas químicos de
amplo espectro (em mistura com herbi- mente com os predadores e parasitói- usados em particular no controle da la-
cidas pós-emergentes) e a aplicações des, as populações desses insetos. Por- garta-da-soja (A. gemmatalis) (Moscar-
recentes de fungicidas, esse inseto pas- tanto, no contexto do MIPSoja, é impor- di, 1986). A principal via de infecção do
sou a ter importância econômica em vá- tante a seleção de inseticidas químicos VPNAg e de outros baculovírus é a oral,
rias regiões. e fungicidas, quando necessários, com o quando larvas se alimentam de folhas
menor impacto possível sobre esses ini- contaminadas com corpos poliédricos
PERCEVEJOS migos naturais. Além disso, há outros de inclusão (CPI) contendo as partículas
Ovos de percevejos são hospedeiros de fungos, como Metarhizium anisopliae virais. No intestino médio, os CPI são dis-
muitas espécies de parasitóides, como e Beauveria bassiana, que infectam di- solvidos, liberando os virions e inician-
Trissolcus basalis (Corrêa-Ferreira, ferentes pragas da soja. do o processo infectivo – primeiro em
2002) e Telenomus podisi, que se desta- células epiteliais, depois atingindo a he-
cam pela eficiência e abundância em soja. CONTROLE APLICADO molinfa do inseto e causando infecções
Em geral, as maiores taxas de parasitismo Um vírus de poliedrose nuclear (VPNAg em vários tecidos. Nesse processo, o in-
ocorrem entre novembro e dezembro e – Baculoviridae, gênero Nucleopolie- seto é debilitado, perdendo sua capaci-
no final dos ciclos da cultura (março e drovirus) foi isolado do inseto no Bra- dade motora e de alimentação, o que o
abril – Figura 1). Durante a safra, o para- sil, na década de 1970. Esse tipo de vírus faz deslocar-se para as partes superio-
sitismo varia de 30% a 70%, sendo os ovos se caracteriza pela alta especificidade ao res da planta, onde morre em cerca de
de Euschistus heros (percevejo-mar- inseto hospedeiro, não afetando inimi- sete a oito dias (Figura 3). Em dois ou três
rom) os mais parasitados, especialmente gos naturais e não representando riscos dias, o corpo da lagarta se rompe, libe-
por T. podisi. Também é comum o parasi- às plantas, aos vertebrados (incluindo a rando grande quantidade de CPI sobre
tismo em adultos, especialmente por espécie humana) e o ambiente. São por- partes da planta, o que constitui fator
moscas (Tachinidae) e himenópteros tanto ideais para uso em programas de inoculante que vai contaminar lagartas
(Encyrtidae). A mosca mais comum é Tri- manejo integrado de pragas e têm sido eclodidas após a aplicação do vírus.
chopoda nitens, em N. viridula, com
menor freqüência em outras espécies.
Sua maior contribuição ocorre na popu-
lação de inverno do inseto, quando atin-
FIGURA 1 | INCIDÊNCIA NATURAL DO PARASITISMO EM OVOS E EM ADULTOS DOS PERCEVE-
ge até 95% de parasitismo. O microhime- JOS-PRAGA DA SOJA PIEZODORUS GUILDINII, NEZARA VIRIDULA E EUSCHISTUS HEROS; LON-
nóptero Hexacladia smithi é o principal DRINA, PR
parasitóide em adultos de E. heros, que
normalmente ocorre em populações ele- 100 EM OVOS
P. guildinii
vadas entre dezembro e janeiro, reduzin-
80 N. viridula
do drasticamente a capacidade reprodu- E. heros
40
ENTOMOPATÓGENOS
20
Vários microrganismos incidem sobre
para sitismo (%)
90
FIGURA 2 | LAGARTA FALSA-MEDIDEIRA (PSEU- param de comer, antes de atingir sua o controle da lagarta-da-soja e outros
DOPLUSIA INCLUDENS), MORTA PELO FUNGO
maior capacidade de consumo foliar. lepidópteros. São eficientes e resultam
NOMURAEA RILEYI.
Por isso, são necessários acompanha- em rápida parada alimentar do inseto.
ACERVO EMBRAPA SOJA
embrião da praga. Parasitam ovos de di- quando na forma de ovos parasitados FIGURA 6 | CARTELA COM OVOS DE PERCEVE-
ferentes espécies de percevejos, consta- (Figura 6), possibilitando sua multiplica- JO PARASITADOS POR TRISSOLCUS BASALIS,
EM PLANTA DE SOJA
tando-se, entretanto, preferência de T. ção no próprio campo e sua dispersão
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