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Universidade Federal de Uberlândia

Relatório final de iniciação científica

Modelagem matemática e simulação computacional da


máquina a relutância variável 8/6 utilizando o método dos
elementos finitos

Relatório de iniciação científica apresentado


ao Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/UFU
(Edital Nº02/2017) como requisito parcial para
obtenção de certificado pelo trabalho
desenvolvido.

Código da iniciação científica: Nº 800027/2016-7


Aluno: Gustavo de Oliveira Machado
Orientador: Dr. Augusto Wohlgemuth Fleury Veloso da Silveira

Uberlândia - MG, Julho de 2018


1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS DA PESQUISA

A máquina de relutância variável (MRV) é conhecida desde o início dos estudos


das máquinas elétricas, sendo suas primeiras aplicações registradas no século XIX
[1]. A base para o funcionamento de uma MRV consiste na tendência do rotor em se
movimentar para uma posição onde a relutância é mínima, correspondendo à posição
onde a indutância da bobina excitada do estator é máxima, produzindo conjugado.
Apesar de possuir vantagens tanto construtivas quanto operacionais em relação às
máquinas elétricas convencionais, tais como as máquinas de corrente contínua, de
indução e síncronas, a máquina a relutância teve sua capacidade pouco explorada e
com lenta evolução, principalmente devido à forte dependência de um sistema de
chaveamento de suas fases e a necessidade do conhecimento da posição instantânea
do rotor.
No entanto, a partir de 1960, com o avanço da tecnologia dos dispositivos
semicondutores de chaveamento como o MOSFET de potência e o IGBT, advindos
dos estudos da física do estado sólido, foram desenvolvidos diversos tipos de circuitos
eletrônicos de potência que viabilizaram o acionamento eficiente das máquinas a
relutância variável [2]. Atualmente, com a evolução dos microcontroladores e das
técnicas de controle é possível construir MRVs sofisticadas com acionamentos de alto
desempenho, permitindo assim, que esse tipo de máquina elétrica se torne cada vez
mais competitiva no mercado em diversas aplicações.
Visto o alto potencial técnico e econômico da MRV, operando tanto como motor
quanto gerador, faz-se necessário o investimento em estudos que possibilitem seu
desenvolvimento. Para desenvolver máquinas cada vez mais eficientes, estas são
estudadas geralmente a partir de modelos matemáticos que as descrevem através de
um ou vários parâmetros ou variáveis, por meio de técnicas matemáticas que diferem
em precisão, complexidade e flexibilidade para a resolução de diferentes problemas
[4]. A maioria dos problemas reais que devem ser resolvidos para o desenvolvimento
de um dispositivo eletromagnético são difíceis de serem abordados por meio de
métodos analíticos, devido a fatores como geometria complicada e a não linearidade
dos materiais. Dessa forma, para que seja possível obter resultados precisos e
satisfatórios, é necessário recorrer a utilização de métodos numéricos.
Dentre as diferentes ferramentas numéricas utilizadas em um projeto de máquina
elétrica, destaca-se o método de elementos finitos (MEF), que vem sendo bastante
utilizado em diversas áreas do conhecimento, devido ao grande avanço dos simuladores
computacionais nos últimos anos. O MEF é um método numérico que consiste em
reduzir um problema descrito por uma certa quantidade de equações diferenciais de
resolução extremamente complexa em vários problemas pequenos, descritos por
equações mais simples e com uma resolução menos trabalhosa. Esta redução é possível
de se obter dividindo a geometria do problema em malhas compostas por vários
elementos finitos, como triângulos ou quadrados [4].
Para a aplicação do método dos elementos finitos em problemas que abrangem
dispositivos eletromagnéticos, como a modelagem de uma MRV, um software bastante
utilizado é o Finite Element Method Magnetics (FEMM), versão 4.2. O FEMM é um
software livre que nos permite encontrar a solução de problemas que envolvem
combinações das equações do eletromagnetismo, como as Equações de Maxwell,
definindo condições de contorno e aplicando-se o método dos elementos finitos [5].
Verificando-se as inúmeras vantagens da utilização da MRV e a grande
aplicabilidade do método dos elementos finitos, este projeto de iniciação científica tem o
intuito de contribuir com o desenvolvimento da máquina a relutância variável 8/6 com um
enfoque na análise matemática e simulação computacional da mesma pelo software
FEMM, obtendo características importantes desta, como as curvas de indutância e de
fluxo magnético.

2. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES

O cronograma proposto e aprovado pelo CNPq para o desenvolvimento do


trabalho foi feito considerando a estimativa de duração de cada atividade a ser
desenvolvida. Este cronograma está descrito na tabela abaixo:

Período (ano/meses)
Atividades 2017 2018
8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7
Levantamento e
atualização X X X X X X X X X
bibliográfica
Estudo sobre o
comportamento X X X X
da MRV 8/6

Estudo detalhado
sobre a X X X X X
manipulação do
software FEMM

Execução do
X X X X X
projeto da
máquina

Normatização
X X X X
do roteiro do
projeto
Levantamento das
curvas de
X X X X X
indutância e de
fluxo magnético da
MRV
Confecção de
artigos científicos
X X X
para divulgação dos
resultados obtidos
Elaboração dos
relatórios parcial e X X X X
final

Tabela 1: Cronograma de execução proposto para o desenvolvimento do trabalho.

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Conforme o que foi proposto no cronograma acima, as atividades realizadas


são agora detalhadas de acordo com os períodos nos quais foram desenvolvidas,
sendo apresentado em cada uma das etapas os resultados obtidos.

• Agosto, Setembro e Outubro: Levantamento e atualização bibliográfica

Nestes meses, foram destinados estudos a fim de se adquirir boas referências


bibliográficas que abrangem conteúdos sobre a operação da máquina a relutância
variável, sobre as recentes pesquisas desenvolvidas nesta área e sobre a
manipulação do software de elementos finitos FEMM. Estas referências servirão de
suporte para tudo que será desenvolvido durante o período da iniciação científica.
Como referência para o entendimento do funcionamento e das principais
características da MRV adotou-se os livros: Máquinas Elétricas de Fitzgerald e
Kingsley de Stephen D. Umans (2014) e SPEED's Electric Machines de T.J.E. Miller
(2009).
Para aprendizagem do software FEMM, destinado a simulação computacional
da MRV por meio do método dos elementos finitos, adotou-se o manual de utilização
do FEMM desenvolvido pelo criador do software e disponibilizado online gratuitamente
pelo mesmo. A versão adotada foi a seguinte: Finite Element Method Magnetics:
Version 4.2: User’s Manual., de David Meeker. Este manual também foi utilizado como
referência para o aprendizado da linguagem de programação LUA, que é utilizada
posteriormente para otimizar a simulação para obtenção dos dados de indutância e
de fluxo magnético no FEMM. Adicionalmente, outra bibliografia utilizada para o
estudo da linguagem LUA foi o manual de referência da mesma, o Lua 5.3 Reference
Manual, que pode ser encontrado gratuitamente no site do desenvolvedor da
linguagem.
Como fonte de consulta para o projeto de máquinas a relutância variável, foram
adotadas as três bibliografias clássicas: “Electronic Control of Switched Reluctance
Machines” (2001) de T.J.E. Miller, “Switched Reluctance Motor Drives: Modeling,
Simulation, Analysis, Design, and Applications” (2001) de Ramu Krishnan e “Design
of switched reluctance motors and development of a universal controller for switched
reluctance and permanent magnet brushless DC motor drives” (2001) de Praveen
Vijayraghavan. Além destas acimas, outras referências produzidas por pesquisadores
do próprio Laboratório de Acionamentos Elétricos (LAcE) foram adotadas, que são: a
dissertação de mestrado “Desenvolvimento de plataforma de acionamento digital para
motor a relutância variável 8/6” (2017) de Marcos J. M. Filho e a tese de doutorado
“Inovações no projeto de geradores a relutância variável com estudo das influências
da saturação magnética e das indutâncias mútuas” (2017) de Renato Jayme Dias.

• Agosto, Setembro, Outubro e Novembro: Estudo sobre o comportamento e


operação da MRV 8/6

A partir do estudo das referências bibliográficas Máquinas Elétricas de


Fitzgerald e Kingsley de Stephen D. Umans (2014) e SPEED's Electric Machines de
T.J.E. Miller (2009), descritas anteriormente, o estudante de iniciação científica foi
capaz de adquirir o conhecimento necessário sobre a máquina de relutância variável,
sendo capaz de compreender os fenômenos físicos associados ao funcionamento da
mesma, realizar seu equacionamento matemático e verificar a coerência entre os
resultados obtidos via simulação computacional e os previstos pela teoria. A seguir será
feita uma breve descrição sobre o princípio de funcionamento da máquina.

Por definição, a MRV é um tipo de máquina elétrica na qual o torque é produzido


pela tendência do rotor em se movimentar para a posição em que a indutância do
enrolamento excitado é máxima, podendo esse movimento ser linear ou rotacional [1].
Dessa forma, nota-se que a grandeza fundamental de uma MRV é a indutância, pois
existe um ponto em que seu valor é máximo, correspondente à posição onde os polos
do rotor e do estator estão completamente alinhados; e um ponto em que a indutância é
mínima, correspondente à posição onde estes polos estão completamente
desalinhados. Estas posições recebem o nome de posição de equilíbrio estável e
posição de equilíbrio instável, respectivamente. Energizando a fase da máquina na
posição de equilíbrio estável, o rotor permanecerá parado indefinidamente. Por outro
lado, energizando a fase da máquina na posição de equilíbrio instável, o rotor poderá se
movimentar no sentido horário ou anti-horário buscando a posição de equilíbrio estável.

Em geral, este tipo de máquina apresenta construção simplificada, pois não


possui enrolamentos no rotor e não necessita de imãs permanentes para operar,
tornando-a mais baratas. Normalmente, consistem em um estator com enrolamentos de
excitação e um rotor magnético com saliências [3].

A figura abaixo ilustra em perfil transversal 2D as características geométricas de


um MRV com 8 polos no estator e 6 polos no rotor (8/6):

Figura 1. Perfil em 2D do MRV 8/6 e localização de suas partes.


Além disso, nesta etapa foi realizada a modelagem matemática da MRV 8/6 a
fim de se obter as equações que descrevem o comportamento elétrico e mecânico
da mesma. Para deduzir estas equações matemáticas, considerou-se inicialmente o
circuito equivalente monofásico desta máquina:

Figura 2: Circuito equivalente monofásico da MRV 8/6.

Aplicando-se a lei das malhas no circuito acima e sabendo-se que a


indutância é uma grandeza dependente tanto da posição do rotor quanto da corrente
de fase, tem-se:
𝑑𝑖
𝑣 = 𝑅𝑓 𝑖 + 𝐿(𝜃, 𝑖) 𝑑𝑡 + 𝑒 (1)

O fluxo magnético enlaçado pelos enrolamentos de uma fase se relaciona


com a indutância conforme a equação a seguir:
𝜆(𝜃, 𝑖) = 𝐿(𝜃, 𝑖)𝑖 (2)

A força contra eletromotriz é obtida pela equação:


𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑒 = 𝑖𝜔𝑚 (3)
𝜕𝜃
Assim, a equação 1 pode ser reescrita da seguinte forma:
𝑑𝑖 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑣 = 𝑅𝑓 𝑖 + 𝐿(𝜃, 𝑖) + 𝑖𝜔𝑚 (4)
𝑑𝑡 𝜕𝜃
A equação acima descreve matematicamente o comportamento da tensão
nos terminais de uma fase do motor, sendo composta por três termos, que são: a
queda de tensão no resistor, a queda de tensão no indutor e a força contra
eletromotriz induzida.
Conhecido o comportamento da tensão, determina-se a potência elétrica
instantânea de entrada:

𝑝𝑒 = 𝑣𝑖 (5)
𝑑𝑖 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑝𝑒 = 𝑅𝑓 𝑖 2 + 𝑖 𝐿(𝜃, 𝑖) + 𝑖 2 𝜔𝑚 (6)
𝑑𝑡 𝜕𝜃
A partir de manipulações matemáticas realizadas nas referências [6] e [7], a
equação acima é reescrita:
𝑑 1 1 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑝𝑒 = 𝑅𝑓 𝑖 2 + ( 𝐿(𝜃, 𝑖)𝑖 2 ) + 𝑖 2 𝜔𝑚 (7)
𝑑𝑡 2 2 𝜕𝜃

A equação anterior demonstra que a potência elétrica instantânea de entrada


é composta pelas perdas resistivas nos enrolamentos, a taxa de variação da energia
armazenada no campo magnético e a potência entregue no entreferro. Essa última é
expressa pela equação abaixo:
1 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑝𝑒𝑛𝑡 = 𝑖 2 𝜔𝑚 (8)
2 𝜕𝜃
A equação acima descreve o comportamento da potência entregue no
entreferro, logo essa pode ser usada para obter o torque eletromagnético produzido:
𝑝𝑒𝑛𝑡 1 2 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑇𝑒𝑚𝑔 = = 𝑖 (9)
𝜔𝑚 2 𝜕𝜃

Como todo o equacionamento realizado até o momento foi feito para somente
uma fase, tem-se que para a máquina tetrafásica a expressão para o cálculo do
torque eletromagnético total será composta pela somatória dos torques individuais
de cada fase (a, b, c e d):
𝑇𝑒𝑚𝑔 = 𝑇𝑎 + 𝑇𝑏 + 𝑇𝑐 + 𝑇𝑑 (10)
1 𝜕𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖𝑎 ) 1 2 𝜕𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖𝑏 )
𝑇𝑒𝑚𝑔 = 𝑖𝑎 2 + 𝑖𝑏
2 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃
(11)
1 𝜕𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖𝑐 ) 1 2 𝜕𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖𝑑 )
+ 𝑖𝑐 2 + 𝑖𝑑
2 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃

Calculado o torque eletromagnético, para efetuar o equacionamento do torque


mecânico fornecido para carga quando acionada pelo motor, é preciso levar em
consideração a parcela de conjugado de atrito viscoso e a parcela de conjugado
devido ao momento de inércia do sistema.
𝑑𝜔𝑚
𝑇𝑚𝑒𝑐 = 𝑇𝑒𝑚𝑔 − 𝐷𝜔𝑚 − 𝐽 (12)
𝑑𝑡
A partir do desenvolvimento matemático feito acima, tem-se as equações que
descrevem o comportamento elétrico e mecânico do MRV 8/6. No entanto, com o
intuito de facilitar o uso de métodos numéricos para obter-se as soluções das
equações diferenciais parciais, as mesmas podem ser representadas conforme o
método de variáveis de estado no formato matricial a seguir:
[𝑉] = [𝑅][𝐼] + [𝐿][𝐼 ]̇ (13)

𝑣𝑎 𝑖𝑎 𝑖𝑎̇
𝑣𝑏 𝑖𝑏 𝑖𝑏̇
𝑣𝑐 𝑖𝑐 𝑖𝑐̇
𝑣𝑑 = 𝑅 𝑖𝑑 + 𝐿 𝑖𝑑̇
𝑇𝑚𝑒𝑐 𝜔𝑚 𝜔𝑚 ̇
[ 0 ] [ 𝜃 ] [ 𝜃̇ ]
Em que:
𝑟𝑎 0 0 0 0 0
0 𝑟𝑏 0 0 0 0
0 0 𝑟𝑐 0 0 0
𝑅=
0 0 0 𝑟𝑑 0 0
𝑚 𝑛 𝑝 𝑞 −𝐷 0
[0 0 0 0 −1 0]
Sendo:
1 𝜕𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖𝑎 ) 1 𝜕𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖𝑐 )
𝑚= 𝑖 𝑝 = 𝑖𝑐
2 𝑎 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃
1 𝜕𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖𝑏 ) 1 𝜕𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖𝑑 )
𝑛= 𝑖 𝑞 = 𝑖𝑑
2 𝑏 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃
E:
𝜕𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖)
𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖𝑎 ) 0 0 0 0 𝑖𝑎
𝜕𝜃
𝜕𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖)
0 𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖𝑏 ) 0 0 0 𝑖𝑏
𝜕𝜃
𝜕𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖)
𝐿= 0 0 𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖𝑐 ) 0 0 𝑖𝑐
𝜕𝜃
𝜕𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖)
0 0 0 𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖𝑑 ) 0 𝑖𝑑
𝜕𝜃
0 0 0 0 −𝐽 0
[ 0 0 0 0 0 1 ]
Isolando-se a matriz [𝐼 ]̇ na equação 13, obtêm-se a equação de estados do
MRV 8/6:
[𝐼 ]̇ = [𝐿]−1 [𝑉] − [𝐿]−1 [𝑅][𝐼] (14)

Dessa forma, a obtenção da equação de estados acima permite a descrição


completa do comportamento de cada fase da máquina em qualquer instante. As
matrizes [𝑅] e [𝐿] são compostas pelos valores de resistências e indutâncias de cada
fase, características construtivas de cada máquina específica. A solução desse
sistema é facilitada através de métodos numéricos computacionais.
Adicionalmente, nesta etapa, estudou-se as características das curvas de
indutância e fluxo magnético da MRV com topologia 8/6 e também como se dá o
acionamento das fases da máquina de forma a produzir um bom conjugado de
relutância. Além disso, foram estudados efeitos magnéticos não lineares relevantes
que ocorrem na prática e interferem no rendimento da máquina, como a saturação
magnética dos materiais utilizados no projeto. Este estudo foi importante pois o
software de elementos finitos FEMM utilizado posteriormente para obtenção das
curvas de indutância e fluxo magnético considera estes efeitos na solução de
problemas magnetostáticos, como é o caso deste trabalho.

• Agosto, Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro: Estudo sobre a


manipulação do software de elementos finitos FEMM

Nos meses descritos acima, com base na referência Finite Element Method
Magnetics: Version 4.2: User’s Manual., de David Meeker, descrita anteriormente,
esforços foram concentrados para a aprendizagem de resolução de problemas
magnetostáticos através da utilização do FEMM, pois este é o tipo de problema a ser
resolvido na análise da máquina de relutância variável. Assim, o aluno de iniciação
científica foi capaz de aprender todas as etapas necessárias para a resolução de um
problema magnetostático via elementos finitos. Inicialmente, foi estudado o pré-
processamento que consiste na definição da geometria do problema, das
características dos materiais utilizados (curva B-H, condutividade, etc), do tamanho
das malhas de elementos finitos, dos circuitos elétricos utilizados e de todas as
propriedades físicas que possuem relevância em uma simulação de análise
magnetostática.
Posteriormente, foi estudado o processamento, que consiste no período de
simulação. Nesta etapa, foram estudados meios de se reduzir o tempo de simulação
ao variar o tamanho da malha de elementos finitos. Também foi estudada a linguagem
de programação LUA através do manual da linguagem e do manual do FEMM, a fim
de se automatizar a simulação através de um código. Finalmente, foi estudado como
se dá a etapa de pós-processamento pelo software FEMM, com foco em meios de
obtenção de informações importantes sobre a MRV, tais como a distribuição de fluxo
magnético no interior da máquina, curvas de indutância e fluxo, curvas de
conjugado, dentre outras.
• Outubro, Novembro e Dezembro: Execução do projeto da máquina

Com base nas bibliografias descritas para o projeto de máquinas de relutância


variável e em outros trabalhos realizados por pesquisadores do laboratório, obteve-se
as dimensões de duas MRVs, com ângulos de 24,5º e 27º respectivamente. Para isso,
alguns parâmetros foram pré-definidos, conforme está descrito na tabela abaixo:

Tabela 2: Parâmetros pré-definidos para o projeto da máquina.

A partir dos requisitos do projeto definidos acima foram realizados os cálculos


para obtenção das dimensões físicas das lâminas do estator e do rotor da máquina,
seguindo-se os procedimentos desenvolvidos nas literaturas [1] e [8] que abordam
projetos de máquinas a relutância variável. A figura abaixo ilustra a localização das
dimensões calculadas na estrutura da máquina:

Figura 3: Localização das dimensões da MRV 8/6.

Já os valores obtidos para as dimensões da MRV 8/6 estão descritos na


tabela a seguir:
Tabela 3: Dimensões das duas MRV’s projetadas.

• Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março: Desenvolvimento de um roteiro para


aprendizagem do software FEMM com enfoque em simulações para o projeto
de máquinas a relutância variável

Nesta etapa, foi desenvolvido um tutorial sobre como realizar simulações no


software FEMM, a fim de divulgar todo o conhecimento adquirido pelo aluno sobre a
manipulação do mesmo. Foram escritas páginas explicando o que é o software
FEMM, quais tipos de problemas o mesmo é capaz de solucionar, como importar
arquivos do AutoCAD, o que faz cada ferramenta de sua interface, como definir um
problema e sua geometria, como se dá o pré-processamento de um problema, como
se dá o pós-processamento, dentre outras coisas importantes para que o leitor tenha
um conhecimento básico sobre o software.
Além disso, foi dado como exemplo o processo de simulação computacional
de uma MRV com topologia 6x4, desde a importação de sua geometria pelo
AutoCAD até a obtenção das curvas de indutância e fluxo magnético desta, para
servir de auxílio para que futuros estudantes e pesquisadores tenham facilidade em
simular e obter informações sobre qualquer topologia de máquina a relutância
variável através do FEMM. Este tutorial desenvolvido se encontra no anexo II deste
relatório.

• Janeiro, Fevereiro, Março, Abril e Maio: Levantamento das curvas de


indutância e de fluxo magnético da MRV

Para realizar a simulação computacional da MRV 8/6 no software FEMM,


inicialmente foi preciso obtermos o desenho geométrico da mesma em 2D. Apesar de
o FEMM possuir uma interface que permite o desenho de figuras geométricas nele, a
geometria da MRV com suas bobinas é relativamente complexa, assim optou-se por
utilizar o software AutoCAD (com licença de 3 anos para o estudante) para o desenho
da máquina com base nas dimensões obtidas, conforme podem ser vistas nas tabelas
de páginas anteriores. A geometria da MRV obtida foi a seguinte:

Figura 4: Desenho em 2D da MRV 8/6 com bobinas feito no AutoCAD.


Após isso, o desenho feito no AutoCAD foi exportado para o FEMM e assim
pôde-se dar início a etapa de pré-processamento. Para isso, primeiramente foi
definido o problema como sendo magnetostático e em seguida as características
principais deste problema foram definidas, como unidades de comprimento, simetria,
profundidade, mínimo ângulo interno dos triângulos da malha de elementos finitos,
frequência e a precisão desejada.

Figura 5: Definições iniciais do problema magnetostático no FEMM.

Feito isso, os materiais de cada parte da MRV foram definidos. Para todo o
entreferro foi utilizado o ar, no eixo da máquina foi utilizado o aço 1020, nas bobinas
foram utilizados fios de cobre AWG 14 e nas lâminas do rotor e do estator foi utilizado
o aço E185. Este último aço não estava contido na biblioteca de materiais do FEMM,
sendo preciso criar um novo material dentro da mesma com a definição manual de
sua curva B-H e de demais características deste aço, fornecidas pela empresa
fabricante Aperam.
Figura 6: Materiais da MRV utilizados na simulação no FEMM.

Após a definição dos materiais, foram definidos os circuitos elétricos. Como a


MRV é 8/6, logo é tetrafásica, e portanto foram definidos 4 circuitos (Fase A, B, C e
D). Para a obtenção das curvas de indutância e de fluxo magnético, varia-se a corrente
em somente uma das fases e para as demais não são atribuídos valores de correntes,
ou seja, 0A. Além disso, como projetado, foi utilizado o número de espiras igual a 55
em cada fase e dessa forma foi definido no FEMM.
Estando definidos os materiais e os circuitos, os mesmos foram aplicados em
suas devidas partes na MRV, conforme a figura a seguir:
Figura 7: MRV 8/6 no FEMM com materiais e circuitos definidos.

Para finalizar a etapa de pré-processamento, foram definidos os tamanhos das


malhas de elementos finitos, sendo o tamanho padrão para o ar (entreferro) e 0.85
para as demais regiões da geometria a fim de se aumentar o grau de precisão da
simulação. Além disso, foram definidos os grupos para que ao girar o rotor todas as
geometrias ligadas ao mesmo também se movimentassem, neste caso, os materiais
Air, aço E185, aço 1020 e os seguimentos das lâminas de rotor e estator foram todos
incorporados ao grupo 2.
Figura 8: Definição do tamanho da malha (0.85) para região onde o aço E185 está aplicado.

Adicionalmente, como requisito para aplicação do método dos elementos


finitos, foi definido a fronteira para qual a partir dela não haverá fluxo magnético. Como
a relutância do material ferromagnético utilizado (E185) para o estator e rotor é muito
menor do que a relutância do ar, foi definido sem diminuir a precisão a fronteira do
problema como sendo a circunferência externa da lâmina do estator, como se segue:

Figura 9: Definição da fronteira do problema magnetostático.


Após certificar-se de que todas as etapas anteriores foram realizadas de forma
correta, pôde-se gerar a malha de elementos finitos para dar início a simulação, como
se segue:

Figura 10: Malha de elementos finitos gerada no FEMM.


Após gerar a malha de elementos finitos, pôde-se clicar em Run Analysis para
começar a simulação no FEMM.
Inicialmente, a fim apenas de visualizar a distribuição de fluxo magnético na
estrutura da MRV 8/6, fixou-se um valor de corrente (10A) e variou-se o ângulo da
posição do rotor duas vezes, obtendo-se os seguintes resultados:
Figura 11: Distribuição de fluxo magnético na MRV para posição do rotor de 0º.

Figura 12: Distribuição de fluxo magnético na MRV para posição do rotor de 15º.

Embora a distribuição de fluxo magnético na estrutura da MRV possa ser obtida


graficamente para qualquer valor de corrente e posição do rotor, é importante adquirir
outras informações sobre a MRV projetada, que são suas curvas características de
fluxo magnético e indutância. Para otimizar a obtenção dos dados para plotagens
destas curvas, o FEMM permite a utilização da linguagem LUA, conforme descrito
anteriormente. O código de programação em LUA desenvolvido pelo estudante para
a simulação foi o seguinte:

Figura 13: Código em linguagem LUA para otimização da obtenção das curvas de indutância
e fluxo magnético no FEMM.

O código acima faz a variação da corrente na fase A de 0A à 40A e do ângulo


da posição do rotor de 0º à 30º para a MRV com ângulo do polo do rotor de 24,5º,
salvando os valores de indutância, fluxo magnético e queda de tensão nos
enrolamentos para cada posição do rotor e valor de corrente. Esta simulação durou
aproximadamente 17 horas. Ao final da simulação, obteve-se duas matrizes de dados
40x30 (1200 pontos) com os valores de fluxo e indutância respectivamente. Estes
dados foram organizados em planilhas no Microsoft Excel, e posteriormente foram
plotados os gráficos utilizando o software MATLAB, tanto em 2D quanto em 3D,
conforme podem ser vistos a seguir:
Figura 14: Fluxo magnético em função do ângulo do rotor para alguns valores de corrente da
fase A (MRV com 𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 24,5°) .

Figura 15: Indutância em função do ângulo do rotor para alguns valores de corrente da fase A
(MRV com 𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 24,5°).
Figura 16: Fluxo magnético em função do ângulo do rotor e da corrente da fase A (MRV com
𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 24,5°).

Figura 17: Indutância em função do ângulo do rotor e da corrente da fase A (MRV com
𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 24,5°).

Os gráficos anteriores foram obtidos para a máquina com ângulo do polo do


rotor de 24,5º. Também realizou-se a simulação para a máquina com ângulo do polo
do rotor de 27º a fim de se realizar um estudo comparativo entre os resultados das
mesmas. Os gráficos obtidos de fluxo magnético e indutância para a MRV com ângulo
do polo do rotor de 27º foram os seguintes:

Figura 18: Fluxo magnético em função do ângulo do rotor para alguns valores de corrente da
fase A (MRV com 𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 27°).

Figura 19: Indutância em função do ângulo do rotor para alguns valores de corrente da fase A
(MRV com 𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 27°).
Figura 20: Fluxo magnético em função do ângulo do rotor e da corrente da fase A (MRV com
𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 27°).

Figura 21: Indutância em função do ângulo do rotor e da corrente da fase A (MRV com
𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 27°).
Analisando-se os gráficos acima, nota-se que as curvas obtidas estão
coerentes com o previsto pela teoria de máquinas a relutância variável. Tanto
indutânica quanto o fluxo magnético diminuiram seus valores ao girar o rotor para
uma posição diferente de 0º e esse decaimento ocorre gradativamente até a posição
de 30º, onde o valor da indutância é mínima. Além disso, ao comparar as curvas das
duas topologias, MRV com 𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 24,5° e MRV com 𝜃𝑅𝑂𝑇𝑂𝑅 = 27°, nota-se o impacto deste
valor do ângulo do polo do rotor. Ao analisarmos a curvatura superior e inferior das
mesmas, percebe-se que na máquina de 27º tem-se durante um intervalor maior a
presença do valor de indutância máxima e durante um intervalo menor a presença
da indutância mínima, sendo este comportamento previsto pela teoria, pois estes
intervalos são frutos da relação entre a diferença de ângulos dos polos do rotor e do
estator.

• Junho e Julho: Elaboração de artigo científico para divulgação dos


resultados obtidos

Após obter os resultados das simulações, foram destinados os dois últimos


meses para a escrita de um artigo científico a fim de divulgar os resultados
alcançados com a pesquisa. O artigo foi elaborado e o mesmo será publicado na
Conferência de Estudos em Engenharia Elétrica que será realizada em novembro
deste ano em Uberlândia (XVI CEEL). Este artigo pode ser encontrado no anexo I
deste relatório.

• Junho e Julho: Atividade extra – Simulação computacional de uma MRV 8/6


com Skewed Rotor

Tendo realizado os projetos das duas máquinas a relutância variável com


ângulo do polo do rotor de 24,5º e de 27º, foi desenvolvido no laboratório por outros
pesquisadores o projeto de uma MRV com o rotor distorcido (Skewed Rotor, como é
denominado em inglês) visando obter um melhor resultado no conjugado de
relutância, reduzindo a oscilação. Dessa forma, adicionalmente ao que estava
previsto para ser desenvolvido no tempo proposto pelo plano de trabalho do aluno,
foi também realizada a simulação computacional desta máquina com Skewed Rotor,
obtendo também suas curvas de indutância e fluxo magnético a fim de se realizar
um estudo comparativo entre as três máquinas.
Para isso, a partir das medidas descritas anteriormente e considerando um
ângulo de distorção de 5º, a máquina foi modelada no software Inventor da Autodesk
(com licença de 3 anos para o estudante de engenharia). O modelo geométrico
construído em 3D pode ser visto na imagem abaixo:

Figura 22: Modelo geométrico da MRV 8/6 em 3D com Skewed Rotor.

Feito isso, essa geometria foi exportada para o software de elementos finitos
ANSYS (versão acadêmica) no qual foi possível realizar as mesmas simulações que
foram feitas no FEMM, porém agora em 3 dimensões para considerar o efeito da
distorção do rotor da máquina. As curvas de fluxo magnético e indutância obtidas
para esta máquina são mostradas nas páginas a seguir:
Figura 23: Fluxo magnético em função do ângulo do rotor para alguns valores de corrente da
fase A (MRV com skewed rotor).

Figura 24: Indutância em função do ângulo do rotor para alguns valores de corrente da fase A
(MRV com skewed rotor).
Figura 25: Fluxo magnético em função do ângulo do rotor e da corrente da fase A (MRV com
skewed rotor).

Figura 26: Indutância em função do ângulo do rotor e da corrente da fase A (MRV com
skewed rotor).
Comparando as curvas acima referentes ao MRV com Skewed Rotor com as
curvas do motor com ângulo do polo do rotor de 24,5º, observa-se que para os
pontos próximos ao desalinhamento completo (rotor na posição de 30º) houve um
decaimento mais suave da curva. Como o conjugado do motor é proporcional a
derivada da indutância em relação ao ângulo do rotor, pode-se afirmar que o efeito
da torção de 5º neste último motor proporciona uma redução da oscilação do
conjugado em seu eixo.

4. CONCLUSÕES

Neste projeto, foi feito inicialmente uma breve apresentação sobre o princípio
de funcionamento da máquina a relutância variável tomando-se como base o estudo
das referências bibliográficas citadas. Em seguida, foi realizada a modelagem
matemática da máquina obtendo-se as equações que descrevem o comportamento
elétrico e mecânico da mesma. Feito isso, com base nas medidas determinadas
para as lâminas do rotor e estator foi modelado em 2D o motor no software
AutoCAD. Tendo a geometria da máquina, essa foi exportada para o software
FEMM, no qual foram realizadas as simulações via método dos elementos finitos
que possibilitou que fossem levantadas as curvas de indutância e fluxo magnético de
uma fase em função do ângulo da posição do rotor.
Além disso, foi desenvolvido um tutorial sobre como realizar simulações no
software FEMM, a fim de divulgar todo o conhecimento adquirido pelo aluno sobre a
manipulação do mesmo. Foram escritas páginas explicando o que é o software
FEMM, quais tipos de problemas o mesmo é capaz de solucionar, como importar
arquivos do AutoCAD, o que faz cada ferramenta de sua interface, como definir um
problema e sua geometria, como se dá o pré-processamento de um problema, como
se dá o pós-processamento, dentre outras coisas importantes para que o leitor tenha
um conhecimento básico sobre o software.
Como etapa adicional, foi também realizada a simulação computacional do
MRV 8/6 projetado com Skewed Rotor aplicando um ângulo de torção de 5º, obtendo
também suas curvas de indutância e fluxo magnético. Assim, observou-se que para
os pontos próximos ao desalinhamento completo (rotor na posição de 30º) houve um
decaimento mais suave da curva, o que serviu para comprovar que o efeito da
torção pode proporcionar uma redução da oscilação do conjugado do motor.
Ao final do trabalho, foi escrito um artigo científico para divulgar os resultados
óbitos e que está anexado neste relatório. Assim, todas as etapas propostas
inicialmente contidas no plano de trabalho do aluno foram cumpridas com sucesso e
os resultados obtidos se mostraram coerentes, servindo de validação para o projeto
do motor.
Neste contexto, a fim de comprovar a coerência entre as curvas obtidas via
elementos finitos e os dados reais do motor durante seu funcionamento na prática
recomenda-se o desenvolvimento de uma metodologia de ensaio para realizar este
levantamento de forma experimental. Esta etapa está prevista para o próximo projeto
de iniciação científica que já foi aprovado pelo CNPq e que será desenvolvido pelo
aluno sobre orientação do mesmo docente nos próximos meses.
Anexo I

Artigo científico elaborado para publicação na XVI


Conferência de Estudos em Engenharia Elétrica
(CEEL)
MODELAGEM MATEMÁTICA E ANÁLISE DE UM MOTOR A RELUTÂNCIA
VARIÁVEL 8/6 ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS ELEMENTOS
FINITOS
Gustavo de O. Machado*¹, Marcos J. M. Filho¹, Augusto W. F. V. da Silveira¹, Luciano C. Gomes¹,

¹FEELT – Universidade Federal de Uberlândia


Resumo – Este trabalho tem o propósito de contribuir 𝑣 Tensão na fase da máquina (V).
com o estudo de máquinas a relutância variável através da 𝑖 Corrente que circula no enrolamento da fase (A).
aplicação do método dos elementos finitos. Por meio da 𝑅𝑓 Resistência do enrolamento da fase (Ω).
utilização do software FEMM é analisada a distribuição de 𝜃 Ângulo da posição do rotor (rad).
fluxo magnético em suas lâminas e é obtido o 𝐿(𝜃, 𝑖) Indutância da fase (H).
comportamento da indutância ao variar a corrente e o 𝑒 Força contra eletromotriz (V).
ângulo da posição do rotor. Tomando-se como parâmetros 𝜆(𝜃, 𝑖) Fluxo magnético enlaçado pelos enrolamentos (Wb).
de entrada os dados obtidos da análise magnetostática do 𝜔𝑚 Velocidade angular mecânica no eixo (rad/s).
FEMM, é simulado o sistema de acionamento do motor 𝑝𝑒 Potência elétrica instantânea de entrada (W).
através da utilização da ferramenta Simulink, sendo 𝑝𝑒𝑛𝑡 Potência instantânea entregue no entreferro (W).
possível verificar o comportamento dinâmico da máquina 𝑇𝑒𝑚𝑔 Torque eletromagnético produzido (N.m).
ao se obter a curva de torque mecânico da mesma. 𝑇𝑚𝑒𝑐 Torque mecânico no eixo (N.m).
D Coeficiente de atrito viscoso do sistema (kg.m2/s).
Palavras-Chave – Elementos finitos, FEMM,
𝐽 Momento de inércia do sistema (kg.m2).
Indutância, Máquina a relutância variável.
I. INTRODUÇÃO
MATHEMATICAL MODELING AND
ANALYSIS OF A SWITCHED Embora fosse conhecida desde o início dos estudos das
RELUCTANCE MOTOR 8/6 THROUGH THE máquinas elétricas e suas primeiras aplicações fossem
registradas no século XIX [1], a máquina a relutância variável
APPLICATION OF THE FINITE ELEMENT (MaRV) teve um desenvolvimento tardio em relação aos
METHOD outros tipos de máquinas e seu potencial foi pouco explorado,
isso ocorreu principalmente devido as dificuldades
Abstract - This paper has the purpose of contributing to envolvendo seu acionamento. No entanto, a partir de 1960,
the study of switched reluctance machines through the com o avanço da tecnologia dos dispositivos semicondutores
application of the finite element method. Using the de chaveamento como o MOSFET de potência e o IGBT,
software FEMM, the magnetic flux distribution in its advindos dos estudos da física do estado sólido, foram
blades is analyzed and the behavior of the inductance is desenvolvidos diversos tipos de circuitos eletrônicos de
obtained by varying the current and the angle of the rotor potência que viabilizaram o acionamento eficiente das MaRVs
position. Taking as input parameters the data obtained [2]. Atualmente, com a evolução dos microcontroladores e das
from the magnetostatic analysis of FEMM, the motor drive técnicas de controle é possível construir MaRVs sofisticadas
system is simulated through the use of the Simulink tool, com acionamentos de alto desempenho.
and it is possible to verify the dynamic behavior of the O motor a relutância variável (MRV) possui características
machine by obtaining the mechanical torque curve of it. únicas e apresenta diversas vantagens em relação aos outros
tipos de motores utilizados no mercado como os motores de
Keywords – Finite elements, FEMM, Inductance, corrente contínua e os de indução trifásico. As principais
Switched reluctance machine. vantagens são: o baixo custo de construção, baixa inércia,
elevado rendimento, confiabilidade e alta controlabilidade [3].
NOMENCLATURA Para o projeto de máquinas cada vez mais eficientes, estas
são estudadas geralmente a partir de modelos matemáticos que
MaRV Máquina a relutância variável.
as descrevem através de um ou vários parâmetros ou variáveis,
MRV Motor a relutância variável.
por meio de técnicas matemáticas que diferem em precisão,
MEF Método dos elementos finitos.
complexidade e flexibilidade para a resolução de diferentes
FEMM Finite Element Method Magnetics.

1
problemas [4]. A maioria dos problemas reais que devem ser máquina na posição de equilíbrio instável, o rotor poderá se
resolvidos para o desenvolvimento de um dispositivo movimentar no sentido horário ou anti-horário buscando a
eletromagnético são difíceis de serem abordados por meio de posição de equilíbrio estável.
métodos analíticos, devido a fatores como geometria Em geral, este tipo de máquina apresenta construção
complicada e a não linearidade dos materiais. Dessa forma, simplificada, pois não possui enrolamentos no rotor e não
para que seja possível obter resultados precisos e satisfatórios, necessita de imãs permanentes para operar, tornando-a mais
é necessário recorrer a utilização de métodos numéricos. baratas. Normalmente, consistem em um estator com
Dentre as diferentes ferramentas numéricas utilizadas em enrolamentos de excitação e um rotor magnético com
um projeto de máquina elétrica, destaca-se o método de saliências [3].
elementos finitos (MEF), que vem sendo bastante utilizado em A figura abaixo ilustra em perfil transversal 2D as
diversas áreas do conhecimento, devido ao grande avanço dos características geométricas de um MRV com 8 polos no
simuladores computacionais nos últimos anos. O MEF é um estator e 6 polos no rotor (8/6):
método numérico que consiste em reduzir um problema
descrito por uma certa quantidade de equações diferenciais de
resolução extremamente complexa em vários problemas
pequenos, descritos por equações mais simples e com uma
resolução menos trabalhosa. Esta redução é possível de se
obter dividindo a geometria do problema em malhas
compostas por vários elementos finitos, como triângulos ou
quadrados [4].
Para a aplicação do método dos elementos finitos em
problemas que abrangem dispositivos eletromagnéticos, como
a modelagem de um motor, um software bastante utilizado é o
Finite Element Method Magnetics (FEMM), versão 4.2. O
FEMM é um software livre que permite ao usuário encontrar
a solução de problemas eletromagnéticos de baixa frequência,
em duas dimensões e nos domínios planar e axissimétrico, isso
é feito definindo condições de contorno e aplicando-se o
método dos elementos finitos [5].
Dessa forma, este trabalho tem como um dos objetivos
realizar a análise magnetostática de um MRV com topologia
8/6 (8 polos no estator e 6 polos no rotor) por meio da
aplicação do método dos elementos finitos pelo software
FEMM, através do qual é possível realizar o levantamento das
curvas características de fluxo magnético e indutância da Fig. 1. Perfil em 2D do MRV 8/6 e localização de suas partes.
máquina em função do ângulo da posição do rotor.
Adicionalmente, tem-se o propósito de verificar o Para deduzir as equações matemáticas que descrevem o
comportamento dinâmico do motor através da utilização da comportamento da MRV 8/6, considera-se inicialmente o
ferramenta Simulink do MATLAB, na qual é possível obter circuito equivalente monofásico desta máquina:
em função do tempo as curvas de corrente, fluxo magnético e
indutância de cada fase e também a curva representativa do
torque no eixo do motor.

II. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO E


MODELAGEM MATEMÁTICA DO MRV 8/6

Por definição, a MaRV é um tipo de máquina elétrica na


qual o torque é produzido pela tendência do rotor em se
movimentar para a posição em que a indutância do
enrolamento excitado é máxima, podendo esse movimento ser Fig. 2. Circuito equivalente monofásico do MRV.
linear ou rotacional [1]. Dessa forma, nota-se que a grandeza
fundamental de uma MRV é a indutância, pois existe um Aplicando-se a lei das malhas no circuito acima e sabendo-
ponto em que seu valor é máximo, correspondente à posição se que a indutância é uma grandeza dependente tanto da
onde os polos do rotor e do estator estão completamente posição do rotor quanto da corrente de fase, tem-se:
alinhados; e um ponto em que a indutância é mínima, 𝑑𝑖
correspondente à posição onde estes polos estão 𝑣 = 𝑅𝑓 𝑖 + 𝐿(𝜃, 𝑖) +𝑒 (1)
𝑑𝑡
completamente desalinhados. Estas posições recebem o nome
de posição de equilíbrio estável e posição de equilíbrio O fluxo magnético enlaçado pelos enrolamentos de uma
instável, respectivamente. Energizando a fase da máquina na fase se relaciona com a indutância conforme a equação a
posição de equilíbrio estável, o rotor permanecerá parado seguir:
indefinidamente. Por outro lado, energizando a fase da

2
𝜆(𝜃, 𝑖) = 𝐿(𝜃, 𝑖)𝑖 (2) Calculado o torque eletromagnético, para efetuar o
equacionamento do torque mecânico fornecido para carga
A força contra eletromotriz é obtida pela equação: quando acionada pelo motor, é preciso levar em consideração
a parcela de conjugado de atrito viscoso e a parcela de
𝜕𝐿(𝜃, 𝑖) conjugado devido ao momento de inércia do sistema.
𝑒 = 𝑖𝜔𝑚 (3)
𝜕𝜃
𝑑𝜔𝑚
Assim, a equação 1 pode ser reescrita da seguinte forma: 𝑇𝑚𝑒𝑐 = 𝑇𝑒𝑚𝑔 − 𝐷𝜔𝑚 − 𝐽 (12)
𝑑𝑡
𝑑𝑖 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖) A partir do desenvolvimento matemático feito acima, tem-
𝑣 = 𝑅𝑓 𝑖 + 𝐿(𝜃, 𝑖) + 𝑖𝜔𝑚 (4)
𝑑𝑡 𝜕𝜃 se as equações que descrevem o comportamento elétrico e
mecânico do MRV 8/6. No entanto, com o intuito de facilitar
A equação acima descreve matematicamente o o uso de métodos numéricos para obter-se as soluções das
comportamento da tensão nos terminais de uma fase do motor, equações diferenciais parciais, as mesmas podem ser
sendo composta por três termos, que são: a queda de tensão no representadas conforme o método de variáveis de estado no
resistor, a queda de tensão no indutor e a força contra formato matricial abaixo:
eletromotriz induzida.
Conhecido o comportamento da tensão, determina-se a [𝑉] = [𝑅][𝐼] + [𝐿][𝐼 ]̇ (13)
potência elétrica instantânea de entrada:
𝑣𝑎 𝑖𝑎 𝑖𝑎̇
𝑝𝑒 = 𝑣𝑖 (5) 𝑣𝑏 𝑖𝑏 𝑖𝑏̇
𝑣𝑐 𝑖𝑐 𝑖𝑐̇
𝑑𝑖 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖) 𝑣𝑑 = 𝑅 𝑖𝑑 + 𝐿 𝑖𝑑̇
𝑝𝑒 = 𝑅𝑓 𝑖 2 + 𝑖 𝐿(𝜃, 𝑖) + 𝑖 2 𝜔𝑚 (6)
𝑑𝑡 𝜕𝜃 𝑇𝑚𝑒𝑐 𝜔𝑚 𝜔𝑚̇
[ 0 ] [ 𝜃 ] [ 𝜃̇ ]
A partir de manipulações matemáticas realizadas nas
referências [6] e [7], a equação acima é reescrita: Em que:
𝑑 1 1 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖) 𝑟𝑎 0 0 0 0 0
𝑝𝑒 = 𝑅𝑓 𝑖 2 + ( 𝐿(𝜃, 𝑖)𝑖 2 ) + 𝑖 2 𝜔𝑚 (7)
𝑑𝑡 2 2 𝜕𝜃 0 𝑟𝑏 0 0 0 0
0 0 𝑟𝑐 0 0 0
A equação anterior demonstra que a potência elétrica 𝑅=
0 0 0 𝑟𝑑 0 0
instantânea de entrada é composta pelas perdas resistivas nos
𝑚 𝑛 𝑝 𝑞 −𝐷 0
enrolamentos, a taxa de variação da energia armazenada no
[0 0 0 0 −1 0]
campo magnético e a potência entregue no entreferro. Essa
última é expressa pela equação abaixo: Sendo:
1 2 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖) 1 𝜕𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖𝑎 ) 1 𝜕𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖𝑐 )
𝑝𝑒𝑛𝑡 = 𝑖 𝜔𝑚 (8)
2 𝜕𝜃 𝑚= 𝑖 𝑝 = 𝑖𝑐
2 𝑎 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃
A equação acima descreve o comportamento da potência 1 𝜕𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖𝑏 ) 1 𝜕𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖𝑑 )
entregue no entreferro, logo essa pode ser usada para obter o 𝑛= 𝑖 𝑞= 𝑖
2 𝑏 𝜕𝜃 2 𝑑 𝜕𝜃
torque eletromagnético produzido:
E:
𝑝𝑒𝑛𝑡 1 2 𝜕𝐿(𝜃, 𝑖)
𝑇𝑒𝑚𝑔 = = 𝑖 (9)
𝜔𝑚 2 𝜕𝜃 𝜕𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖)
𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖𝑎 ) 0 0 0 0 𝑖𝑎
𝜕𝜃
Como todo o equacionamento realizado até o momento foi 𝜕𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖)
feito para somente uma fase, tem-se que para a máquina 0 𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖𝑏 ) 0 0 0 𝑖𝑏
𝜕𝜃
tetrafásica a expressão para o cálculo do torque
𝜕𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖)
eletromagnético total será composta pela somatória dos 𝐿= 0 0 𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖𝑐 ) 0 0 𝑖𝑐
torques individuais de cada fase (a, b, c e d): 𝜕𝜃
𝜕𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖)
0 0 0 𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖𝑑 ) 0 𝑖𝑑
𝑇𝑒𝑚𝑔 = 𝑇𝑎 + 𝑇𝑏 + 𝑇𝑐 + 𝑇𝑑 (10) 𝜕𝜃
0 0 0 0 −𝐽 0
1 𝜕𝐿𝑎 (𝜃, 𝑖𝑎 ) 1 2 𝜕𝐿𝑏 (𝜃, 𝑖𝑏 ) [ 0 0 0 0 0 1 ]
𝑇𝑒𝑚𝑔 = 𝑖𝑎 2 + 𝑖𝑏
2 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃
(11) Isolando-se a matriz [𝐼 ]̇ na equação 13, obtêm-se a equação
1 𝜕𝐿𝑐 (𝜃, 𝑖𝑐 ) 1 2 𝜕𝐿𝑑 (𝜃, 𝑖𝑑 ) de estados do MRV 8/6:
+ 𝑖𝑐 2 + 𝑖𝑑
2 𝜕𝜃 2 𝜕𝜃
[𝐼 ]̇ = [𝐿]−1 [𝑉] − [𝐿]−1 [𝑅][𝐼] (14)

3
A obtenção da equação de estados acima permite a
descrição completa do comportamento de cada fase da
máquina em qualquer instante. As matrizes [𝑅] e [𝐿] são
compostas pelos valores de resistências e indutâncias de cada
fase, características construtivas de cada máquina específica.
A solução desse sistema é facilitada através de métodos
numéricos computacionais.

III. PARÂMETROS DE PROJETO E MODELO


GEOMÉTRICO DO MOTOR

Para o projeto da MRV, alguns parâmetros foram pré-


definidos, conforme está descrito na tabela a seguir:

Tabela I – Parâmetros pré-definidos do projeto do MRV


Parâmetro Símbolo Valor
Número de polos do estator Ns 8 polos
Número de polos do rotor Nr 6 polos
Potência nominal Pn 2,2kW (3cv)
Velocidade nominal 𝜔n 3500 rpm
Fig. 3. Representação geométrica do MRV e localização das
grandezas dimensionadas no projeto.
A partir dos requisitos do projeto definidos acima foram
realizados os cálculos para obtenção das dimensões físicas das IV. APLICAÇÃO COMPUTACIONAL DO MÉTODO
lâminas do estator e do rotor da máquina, seguindo-se os DOS ELEMENTOS FINITOS
procedimentos desenvolvidos nas literaturas [6] e [8] que
abordam projetos de máquinas a relutância variável. Estes Após a modelagem do motor no AutoCAD, as geometrias
cálculos estão detalhados na publicação [9], que foi utilizada de suas lâminas foram exportadas para o software de
como referência para este trabalho. Os valores obtidos para as elementos finitos FEMM e assim pôde-se dar início a etapa de
dimensões do MRV 8/6 estão descritos na tabela abaixo: pré-processamento. Para isso, primeiramente foi definido a
análise a ser realizada como sendo magnetostática e em
Tabela II – Dimensões do MRV projetado seguida as características principais do problema foram
Parâmetro Símbolo Valor definidas, como unidades de comprimento, simetria,
Ângulo dos polos do rotor 𝛽𝑟 24,50° profundidade, mínimo ângulo interno dos triângulos da malha
Ângulo dos polos do estator 𝛽𝑠 22,50° de elementos finitos, frequência e a precisão desejada.
Feito isso, os materiais de cada parte da MRV foram
Diâmetro externo do estator 𝐷𝑠 160,00 mm
definidos. Para todo o entreferro foi utilizado o ar, no eixo da
Diâmetro do rotor 𝐷𝑟 90,50 mm máquina foi utilizado o aço 1020, nas bobinas foram utilizados
Comprimento do entreferro 𝑔 0,30 mm fios de cobre AWG 14 e nas lâminas do rotor e do estator foi
Comprimento do rotor 𝑙 63,00 mm
utilizado o aço E185. Este último aço não estava contido na
biblioteca de materiais do FEMM, sendo preciso criar um
Largura dos polos do rotor 𝑡𝑟 19,20 mm novo material dentro da mesma com a definição manual de sua
Largura dos polos do estator 𝑡𝑠 17,77 mm curva B-H e de demais características deste aço, fornecidas
Altura dos polos do rotor ℎ𝑟 15,00 mm pela empresa fabricante Aperam.
Estando feita a definição dos materiais, foram definidos os
Altura dos polos do estator ℎ𝑠 22,00 mm
circuitos elétricos a serem analisados para solução do
Culatra do rotor 𝑌𝑟 13,00 mm problema. Como a MRV é 8/6, logo é tetrafásica, e portanto
Culatra do estator 𝑌𝑠 12,45 mm foram definidos 4 circuitos (fases A, B, C e D). O número de
Diâmetro do eixo 𝐷𝑒𝑖𝑥𝑜 34,50 mm espiras envolvidas em cada polo do motor foi igual a 55, ou
seja, 110 voltas por fase, conforme foi projetado em [9].
Para finalizar a etapa de pré-processamento, foram
Com base nas medidas da tabela acima, construiu-se o definidos os tamanhos das malhas de elementos finitos, sendo
modelo geométrico das lâminas do motor por meio do uso do o tamanho padrão para o ar (entreferro) e 0.85 para as demais
software AutoCAD (com licença de 3 anos para o estudante). regiões da geometria a fim de se aumentar o grau de precisão
O modelo em 2D construído está representado pela figura a da simulação. Além disso, foram definidos os grupos para que
seguir, juntamente com as grandezas indicadas. ao rotacionar o conjunto rotor-eixo, todas as geometrias
ligadas à este também se movimentasse, neste caso, os
materiais “Air”, “aço E185”, “aço 1020” e os seguimentos das
lâminas de rotor.
Adicionalmente, como requisito para aplicação do método
dos elementos finitos para resolução de problemas

4
magnetostáticos, foi definido a fronteira para qual a partir dela Ao analisar as distribuições de fluxo magnético na figura
não haverá fluxo magnético. Como a relutância do material anterior, nota-se a tendência das linhas de fluxo em seguir pelo
ferromagnético utilizado (E185) nas lâminas do estator e do caminho da estrutura ferromagnética das lâminas ao invés do
rotor é muito menor do que a relutância do ar, foi definido sem caminho pelo ar. Isso ocorre porque a relutância dos materiais
diminuir a precisão, a fronteira do problema como sendo a que compõe as lâminas é bem menor que a relutância do ar.
circunferência externa da lâmina do estator. Este fato implica no surgimento de um torque no sentido de
Após concluir a etapa de pré-processamento, foi gerada a alinhar as lâminas do rotor e do estator (posição de 0º).
malha de elementos finitos para dar início a simulação, como Embora a distribuição de fluxo magnético na estrutura da
se segue: MRV possa ser obtida graficamente para qualquer valor de
corrente e posição do rotor, para otimizar a obtenção dos
dados foi desenvolvido um código em linguagem LUA que faz
a variação da corrente em uma fase de 0A à 40A e do ângulo
da posição do rotor de 0º à 30º, salvando os valores de
indutância, fluxo magnético e queda de tensão nos
enrolamentos para cada posição do rotor e valor de corrente.
Ao final da simulação, obteve-se duas matrizes de dados
40x30 (1200 pontos) com os valores de fluxo e indutância
respectivamente. Estes dados foram organizados em planilhas
no Microsoft Excel, e em seguida foram plotados os gráficos
de indutância e fluxo magnético da MRV utilizando o
software MATLAB, tanto em 2D quanto em 3D, conforme é
mostrado a seguir:

Fig. 4. Malha de elementos finitos gerada no FEMM.

Inicialmente, a fim de visualizar a distribuição de fluxo


magnético na estrutura da MRV 8/6, fixa-se um valor de
corrente (10A) e muda-se o ângulo da posição do rotor para a
posição de 15º, obtendo-se a distribuição abaixo:

Fig. 6. Curvas de indutância para alguns valores de correntes


fixadas e em função do ângulo da posição do rotor.

Fig. 7. Curva de indutância em 3D em função da corrente e do


Fig. 5. Distribuição de fluxo magnético na estrutura do MRV ângulo da posição do rotor.
para a posição de 15º.

5
Após concluir a etapa de pré-processamento, foi gerada a o conversor escolhido foi o asymmetric half-bridge. Este
malha de elementos finitos para dar início a simulação, como conversor é caracterizado por ser composto de duas chaves
se segue: controladas em série com cada fase da máquina e dois diodos,
utilizados para desmagnetização da bobina de cada fase, após
o período de magnetização da mesma.

Fig. 10. Circuito elétrico do conversor asymmetric half-bridge.

A estratégia de acionamento implementada consiste em


acionar o MRV mantendo um controle sobre a corrente de
cada fase e também sobre o alinhamento dos polos do estator
Fig. 8. Curvas de fluxo magnético para alguns valores de com os polos do rotor para cada fase.
correntes fixadas e em função do ângulo da posição do rotor. Inicialmente é aplicada tensão positiva ao enrolamento do
motor através do fechamento das duas chaves do conversor,
referentes a fase sobre a qual se realiza o controle. As chaves
são mantidas acionadas até que a corrente atinja o valor
máximo previamente escolhido ou até que os polos do estator
e do rotor estejam fora do intervalo permitido para o
acionamento de cada fase.
Quando a corrente alcança seu valor máximo ou o ângulo
entre o rotor é o estator está fora do intervalo escolhido para a
alimentação da fase em questão, inicia-se a etapa 2; que
consiste na abertura das chaves, e então a corrente que circula
pela fase é forçada a passar pelos diodos do conversor e o
enrolamento do motor fica submetido à tensão negativa
(tensão reversa). Estando a fase submetida à tensão reversa, a
corrente da fase decresce rapidamente.
Desenvolvido o sistema de acionamento e utilizando-se
como entrada de dados no MATLAB a tabela de indutância
Fig. 9. Curva de fluxo magnético em 3D em função da corrente em função do ângulo da posição do rotor obtida pela
e do ângulo da posição do rotor. simulação via elementos finitos já descrita anteriormente,
obteve-se o comportamento das indutâncias e correntes de
Ao analisar as curvas obtidas, verifica-se que as mesmas cada fase no tempo, conforme pode ser visto na figura abaixo:
estão coerentes com o que é equacionado matematicamente,
pois conforme o ângulo da posição do rotor se aproxima de 0º
a curva de indutância se aproxima de seu valor máximo e ao
aumentar o valor da corrente este valor diminui em magnitude,
não havendo cruzamento entre as curvas de indutância para
correntes fixas (Fig. 6 e Fig. 8).

V. SIMULAÇÃO DO SISTEMA DE ACIONAMENTO


DO MRV 8/6

A fim de se obter o comportamento dinâmico do motor,


simulou-se o sistema de acionamento do mesmo com base na
utilização do modelo computacional de máquina a relutância
variável presente no Simulink, o qual é uma ferramenta de Fig. 11. Curvas de corrente e indutância de cada fase do MRV
modelagem e simulação de sistemas baseado em diagramas de 8/6 em função do tempo.
blocos contido no software MATLAB.
Nesta etapa de simulação foi escolhida a topologia do Além disso, com o sistema desenvolvido no Simulink foi
conversor a ser utilizada no acionamento das fases, sendo que possível obter a curva de torque do motor:

6
AGRADECIMENTOS

Os autores deste trabalho agradecem ao CNPq e à


FAPEMIG pelo apoio financeiro que foi indispensável para a
realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS

[1] MILLER, T. J. E. Switched Reluctance Motors and Their


Control, Magma Physics Publishing and Clarendon Press,
Oxford, 1993.C.T.
Fig. 12. Torque instantâneo e médio no MRV 8/6. [2] ANDERSON, A. F., Development history, Electronic
Control of Switched Reluctance Machines, pp. 6 a 33,
VI. CONCLUSÕES Edited by T J Miller, Newness Power Engineering Series,
2001.
Neste trabalho, foi feito inicialmente uma breve [3] UMANS, STEPHEN D. Máquinas Elétricas de
apresentação sobre o princípio de funcionamento da MaRV. Fitzgerald e Kingsley. 7ª Edição. Editora Bookman, 2014.
Em seguida, foi realizada a modelagem matemática da [4] OLIVEIRA, V. S. Aplicação do método dos elementos
máquina obtendo-se as equações que descrevem o finitos 3D na caracterização eletromagnética estática de
comportamento elétrico e mecânico da mesma. Feito isso, com motores de relutância variável com validação
base nas medidas determinadas para as lâminas do rotor e experimental. Dissertação (Mestrado em Engenharia
estator foi modelado em 2D o motor no software AutoCAD. Elétrica), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013.
Tendo a geometria da máquina, essa foi exportada para o [5] MEKER, D. Finite Element Method Magnetics: Version
software FEMM, no qual foram realizadas as simulações via 4.2: User’s Manual., 2015. Disponível em:
método dos elementos finitos que possibilitou que fossem <http://www.femm.info/Archives/doc/manual42.pdf>
levantadas as curvas de indutância e fluxo magnético de uma Acesso em: 09/04/2017.
fase em função do ângulo da posição do rotor. [6] KRISHNAN, R. Switched Reluctance Motor Drives:
Além disso, as tabelas de dados obtidas através da análise Modeling, Simulation, Analysis, Design, and
magnetostática no FEMM serviram como parâmetros de Applications. CRC Press, 2001, 432, ISBN-10:
entrada para a simulação do comportamento dinâmico do 0849308380.
motor através da modelagem do sistema de acionamento do [7] SILVEIRA, A. W. F. V. D. Controle de tensão na carga
mesmo pela ferramenta Simulink do MATLAB. Com isso, para motor/gerador a relutância variável de três fases.
obteve-se em função do tempo as curvas de corrente, fluxo 2011. 202 (Doutor em engenharia elétrica). Faculdade de
magnético e indutância de cada fase e também a curva Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia.
representativa do torque no eixo do motor. [8] MILLER, T. J. E. Electronic Control of Switched
Todas essas etapas foram cumpridas com sucesso e os Reluctance Machines. Newness, 2001, 272. ISBN ISBN-
dados coletados que se mostraram coerentes servem de 10: 0750650737.
validação para o projeto do motor. Neste contexto, a fim de [9] MORAES FILHO, M. J. Desenvolvimento de plataforma
comprovar a coerência entre as curvas obtidas via elementos de acionamento digital para motor a relutância variável
finitos e os dados reais do motor durante seu funcionamento 8/6. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica),
na prática recomenda-se o desenvolvimento metodologia de Universidade Federal de Uberlândia, 2017.
ensaio para realizar este levantamento de forma experimental.

7
Anexo II

Tutorial didático desenvolvido sobre a


manipulação do software FEMM
Universidade Federal de Uberlândia
UFU
Faculdade de Engenharia Elétrica
FEELT
Laboratório de Acionamentos Elétricos
LAcE

Tutorial didático sobre o software FEMM e exemplo de


aplicação com análise magnetostática

Aluno de iniciação científica: Gustavo de Oliveira Machado


Orientador: Dr. Augusto Wohlgemuth Fleury Veloso da Silveira

Uberlândia - MG, Maio de 2018


Laboratório de Acionamentos Elétricos – Faculdade de Engenharia Elétrica - UFU
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Bolsista de Iniciação Científica do CNPq – Gustavo de Oliveira Machado

Conteúdo
Índice de Figuras .................................................................................................................................................. 3
Índice de Tabelas ................................................................................................................................................. 3
1. Introdução ....................................................................................................................................................... 4
2. Interactive Shell - Problemas Magnéticos ....................................................................................................... 5
2.1. Importar e Exportar Arquivos DXF ........................................................................................................... 5
2.2. Pré-Processamento .................................................................................................................................. 5
2.2.1. Modos de Operação e Desenho da Geometria do Problema ........................................................... 5
2.2.2. Comandos de Teclado e Mouse ........................................................................................................ 6
2.2.3. Comandos de Visualização (View) ..................................................................................................... 7
2.2.4. Manipulação das Linhas de Grade (Grid) .......................................................................................... 7
2.2.5. Definição do Problema (Problem) ..................................................................................................... 7
2.2.6. Definição das Propriedades (Properties) ........................................................................................... 8
2.2.7. Definições Dentro da Geometria ..................................................................................................... 11
2.2.8. Ferramentas de Análise ................................................................................................................... 15
2.3. Pós-Processamento ................................................................................................................................ 15
2.3.1. Modos de Operação ........................................................................................................................ 15
2.3.2. Linhas de Fluxo ................................................................................................................................ 16
2.3.3. Visualização e Análise dos Resultados............................................................................................. 16
3. Código Lua ..................................................................................................................................................... 17
Anexo I ............................................................................................................................................................... 18
Bibliografia......................................................................................................................................................... 20
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Índice de Figuras
Figura 1 - Representação dos modos ponto, reta, arco, bloco e grupo, respectivamente, na etapa de pré-
processamento .................................................................................................................................................... 5
Figura 2 - Ferramentas de zoom e de manuseio da imagem .............................................................................. 7
Figura 3 - Botões para manipulação das linhas de grade .................................................................................... 7
Figura 4 - Janela Property Definition ................................................................................................................... 8
Figura 5 - Janela para definição dos materiais do problema............................................................................... 9
Figura 6 - Etapa de pós-processamento de uma geométrica (a) com um pondo de potencial e (b) sem um
ponto de potencial ............................................................................................................................................ 10
Figura 7 - Definição do circuito.......................................................................................................................... 11
Figura 8 - Designação do nó criado para definir um bloco ................................................................................ 11
Figura 9 - A janela Properties for Selected Block ............................................................................................... 12
Figura 10 - Janela para definição de propriedades para (a) pontos, (b) arcos e (c) retas. A partir delas é
possível definir que os pontos, arcos e retas façam parte do mesmo grupo a partir da função In Goup ........ 13
Figura 11 - Exemplo: grupo que define as partes móveis em uma máquina a relutância variável................... 13
Figura 12 - Outras opções do pré-processamento ............................................................................................ 14
Figura 13 - Ferramentas de análise. (a) traçar a malha, (b) analisar o modelo, (c) mostrar resultados ........... 15
Figura 14 - Modos de operação na etapa de pós-processamento .................................................................... 15
Figura 15 - Modos de gráfico para traçar as linhas de fluxo ............................................................................. 16
Figura 16 - Botões de comando para (a) traçar gráficos, (b) calcular integrais e (c) mostrar as propriedades
dos circuitos....................................................................................................................................................... 16
Figura 17 - Botão de ação para abrir a janela de programação ........................................................................ 17

Índice de Tabelas
Tabela 1 - Comandos de teclado ......................................................................................................................... 6
Tabela 2 - Comandos de mouse .......................................................................................................................... 6
Tabela 3 - Comandos de teclado para visualização da imagem .......................................................................... 7
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1. Introdução
O Software FEMM é de distribuição livre e pode ser encontrado no site:
http://www.FEMM.info/wiki/HomePage. O FEMM é um programa desenvolvido para resolver problemas
eletromagnéticos em baixa freqüência, em duas dimensões e nos domínios planar e axissimétrico utilizando,
para tanto, análise dos elementos finitos e definição das condições de contorno.

OBS:
1. Domínio Planar: diz respeito a um objeto que pode ser representável no plano de tal forma que suas
arestas não se cruzam. (Para o trabalho de pesquisa desenvolvido, os objetos serão representados no
domínio planar).
2. Domínio Axissimétrico: trata-se de um objeto que possui simetria em torno de um eixo.
3. Freqüência Zero: trata-se de um problema que possui somente nível dc, sem harmônicos ou
contribuições de outros valores de freqüência. Como estamos tratando de uma corrente contínua, a
freqüência deve ser definida como zero.

Para este tutorial serão abordados temas relativos a problemas magnéticos sem variação de
harmônicas, denominados por problemas magnetostáticos. Porém o FEMM pode lidar com quatro tipos de
problemas. São eles:

➔ Magnetostáticos (linear e não linear);


➔ Magnéticos com harmônicas (linear e não linear);
➔ Eletrostáticos (somente linear);
➔ Fluxo de calor (no estado estacionário);

O Software é dividido em três partes básicas. A primeira delas é o próprio executável femm.exe,
denominado Interactiv Shell, em que o usuário pode lidar com todas as variáveis de pré e pós-
processamento do problema. A segunda, denominada triangle.exe, trata da fragmentação do problema,
tendo por base a análise de elementos finitos. Por fim, a terceira parte, denominada fkern.exe para
problemas magnéticos, corresponde à resolução do problema pelo desenvolvimento de equações
diferenciais. A base do FEMM está na resolução de equações diferenciais parciais relevantes que configuram
as equações de Maxwell para problemas em baixa freqüência.
É muito importante estar ciente das condições de contorno adequadas para garantir somente uma
solução do problema. O FEMM lida com cinco condições de contorno, o usuário deve ter ciência de qual se
enquadra melhor a seu problema. Resumidamente, são elas:

➔ Dirichlet ou PrescribedA - Determina explicitamente um valor potencial para o contorno definido. Se


A=0, o fluxo magnético está contido inteiramente dentro da região definida para o contorno.
➔ Neumann - Utilizado para problemas magnéticos com metais muito permeáveis. Força o fluxo a
passar pela borda exatamente no ângulo de 90°.
➔ Robin - Define a impedância das condições de contorno, o que permite imitar o comportamento de
uma região sem fronteiras.
➔ Periodic - Une duas condições de contorno das definidas acima, como valores iguais.
➔ Antiperiodic - Une duas condições de contorno com a mesma magnitude e sinais opostos.
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2. Interactive Shell - Problemas Magnéticos


O primeiro passo a seguir na etapa de pré-processamento é criar um novo documento clicando em
File e logo em seguida em New, na parte superior esquerda. Dentre as opções o usuário deve escolher a que
melhor se adéqüe a seu problema. São oferecidas as opções: Magnetics Problem, Electrostatics Problem,
Heat Flow Problem e Current Flow Problem. No caso em questão, estamos lidando com um problema
magnético, portanto seleciona-se Magnetics Problem.

2.1. Importar e Exportar Arquivos DXF


No pré-processamento há a possibilidade do usuário fazer o desenho, que representa o problema a
ser analisado, em uma interface parecida com a de um CAD, através de pontos, retas e arcos. Porém o
software também apresenta a possibilidade de importar os desenhos prontos em no formato DXF. Para
tanto, utiliza-se a opção Import DXF, oferecida em File, para importar os arquivos em formato DXF para o
programa.
Em Tolerance for DXF Import o usuário define qual será a máxima distância entre dois pontos o qual
o FEMM irá considerar que estes pontos serão iguais ao do arquivo em CAD. O valor de tolerância 0.002 é
um padrão definido pelo próprio software e recomenda-se que este número seja menor se, porventura, o
arquivo importado for corrompido no FEMM. Caso contrário, este valor é o mais recomendável.
Na importação do arquivo DXF somente linhas, círculos e arcos são considerados. Qualquer outra
informação definida no programa de CAD é inteiramente ignorada pelo software.
A importação do arquivo DXF pode demorar alguns minutos dependendo do tamanho do arquivo.
Isso ocorre devido ao processo utilizado pelo software para tornar o arquivo DXF em uma geometria de
elementos finitos válida.

2.2. Pré-Processamento
No pré-processamento o usuário tem condições de desenhar a geometria do problema, definir os
materiais e as condições de contorno. Abaixo são descritas as potencialidades desta etapa. A sugestão é que
o usuário siga a ordem dos tópicos para definição do pré-processamento do problema.

2.2.1. Modos de Operação e Desenho da Geometria do Problema


A chave para lidar com o pré-processamento é perceber que nesta etapa sempre haverá um modo
selecionado. No FEMM tem-se cinco possíveis modos, representados pela figura 1. Para desenhar a
geometria do problema primeiramente é necessário determinar os pontos e em seguida traçar as retas e
arcos que definem os contornos.

➔ Ponto (Operate on Nodes) - define as quinas do desenho


➔ Reta (Operate on Segments)- conecta os pontos para criar regiões.
➔ Arco (Operate on Arc Segments) - conecta os pontos para criar regiões.
➔ Bloco (Operate on Block Labels) - determina as propriedades do material e tamanho da malha de
triângulos que será traçada na região em que está associado.
➔ Grupo (Operate on Groups of Objects) - junta as partes (pontos, retas e arcos) que possam facilitar o
manuseio do problema.

Figura 1 - Representação dos modos ponto, reta, arco, bloco e grupo, respectivamente, na etapa de pré-processamento
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2.2.2. Comandos de Teclado e Mouse


Uma grande dificuldade nas primeiras utilizações do FEMM está no fato de que alguns comandos de
mouse e teclado são diferentes dos padrões de outros softwares. A tabela 1 mostra os atalhos de teclado e a
tabela 2 os atalhos do mouse, ambas divididas conforme os cinco modos do pré-processamento.

PONTO
Teclado Função
Espaço Edita as propriedades dos pontos selecionados
Tab Mostra uma caixa de diálogo para entrada dos valores numéricos das coordenadas do ponto
Esc Desmarca todos os pontos selecionados
Delete Deleta todos os pontos selecionados
RETA / ARCO
Teclado Função
Espaço Edita as propriedades das retas selecionadas
Esc Desmarca todos as retas selecionadas
Delete Deleta todos as retas selecionadas
BLOCO
Teclado Função
Espaço Edita as propriedades do bloco selecionado
Tab Mostra uma caixa de diálogo para entrada dos valores numéricos das coordenadas de um novo bloco
Esc Desmarca todos os blocos selecionados
Delete Deleta todos os blocos selecionados
GRUPO
Teclado Função
Espaço Edita a atribuição dos segmentos selecionados pelo grupo
Esc Desmarca todos os grupos selecionados
Delete Deleta todos os grupos selecionados
Tabela 1 - Comandos de teclado

PONTO
Botão do Mouse Função
Esquerdo Cria um novo ponto onde o usuário selecionar
Direito Seleciona o ponto mais próximo
Duplo Clique Direito Mostra as coordenadas do ponto mais próximo
RETA / ARCO
Botão do Mouse Função
Esquerdo Seleciona o ponto de início ou final de uma reta ou arco
Direito Seleciona a reta/arco mais próximo
Duplo Clique Direito Mostra o comprimento da reta/arco mais próximo
BLOCO
Botão do Mouse Função
Esquerdo Cria um novo bloco onde o usuário selecionar
Direito Seleciona o bloco mais próximo
Duplo Clique Direito Mostra as coordenadas do bloco mais próximo
GRUPO
Botão do Mouse Função
Direito Seleciona o grupo associado ao objeto mais próximo
Tabela 2 - Comandos de mouse
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2.2.3. Comandos de Visualização (View)


No FEMM não existe a ferramenta “mão”, que permite o usuário arrastar o desenho, nem a
possibilidade de manipular o zoom por meio do botão de rolagem do mouse. Isto pode tornar o manuseio da
geometria pouco intuitivo no começo.
O usuário pode escolher as ferramentas de zoom e de manuseio da imagem de acordo com os
comandos mostrados na figura 2 ou pelo teclado, de acordo com a tabela 3. Na figura 2 os desenhos
representam, respectivamente, zoom in, zoom out, adequação do zoom de modo que a figura toda possa ser
visualizada na tela, seleção de uma parte específica para analisar dentro do zoom e as demais imagens
representam as setas para manuseio da imagem.

Figura 2 - Ferramentas de zoom e de manuseio da imagem

COMANDOS DE VISUALIZAÇÃO
Teclado Função
Setas Deslocam a imagem de acordo com a seta selecionada
Page up Zoom In
Page down Zoom out
Home Adequa o zoom para que a figura possa ser visualizada inteiramente na tela
Tabela 3 - Comandos de teclado para visualização da imagem

2.2.4. Manipulação das Linhas de Grade (Grid)


As definições de linhas de grade podem ser encontradas na barra de tarefas, na aba denominada
grid, ou na barra de botões de atalho localizada na esquerda da tela e representadas pela figura 3. As linhas
de grade são muito úteis para traçar geometrias dentro do FEMM. O software apresenta três funções:
mostrar ou esconder as linhas de grade, ajustar à grade, ou snap to grid, e as propriedades das linhas de
grade. Nas propriedades o usuário pode escolher a distância dos pontos e o tipo de coordenadas como
cartesianas ou polares.

Figura 3 - Botões para manipulação das linhas de grade

2.2.5. Definição do Problema (Problem)


As definições do problema são determinadas ao clicar em Problem na barra superior. Nesta opção o
usuário tem a possibilidade de definir os seguintes parâmetros:

➔ Problem Type - tipo de problema como planar ou axissimétrico.


➔ Lenght Units - unidade de medida da geometria como polegadas, milímetros, centímetros, metros,
mils e micrômetros.
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➔ Frequency (Hz) - a freqüência do problemas como zero para magnetostática e diferente de zero
quando existirem harmônica. Para o segundo caso, todos os valores de campo oscilarão na
frenqüência definida.
➔ Depth - traduz o comprimento da geometria “entrando na página”, ou ⊗. Esta definição serve para
encontrar resultados de integral, na etapa de pós-processamento, como força e indutância. Para
problemas planares esta opção fica desabilitada.
➔ Solver Precision - define o critério de parada para a solução linear. Por defaut é definido como 10−8.
➔ Min Angle - define a angulação mínima dos triângulos que serão traçados na malha (método dos
elementos finitos). Os valores vão de 1° à 33,8° e para malhas muito refinadas, sugere-se que o
usuário escolha ângulos menores que 20° para evitar problemas de precisão insuficiente do ponto
flutuante.
➔ Comment - espaço para comentários.

OBS:
4. O mil é a mínima unidade de comprimento no sistema inglês de medidas e equivale a 0,0254 milímetros.
Se usa para medir o comprimento de corpos vistos com microscópios e é bem requerida para medir
espessuras em áreas técnicas (como na aplicação de pinturas).

2.2.6. Definição das Propriedades (Properties)


Na opção Properties, o usuário tem a possibilidade de definir as propriedades do material, do
contorno, do ponto e do circuito. Ao selecionar qualquer umas das quatro, uma janela com opções de
adicionar, deletar ou modificar as propriedades será mostrada, como apresenta a figura 4. Se nenhuma
propriedade tiver sido criada até então, a opção Property Name ficará em branco. Conforme propriedades
são adicionadas, uma lista vai sendo criada neste espaço. Em Properties há também a possibilidade de
acessar a biblioteca de materiais disponível no software. Abaixo são descritas cada uma das propriedades
passíveis de definição no software:

Figura 4 - Janela Property Definition

2.2.6.1. Materials Library


Primeiramente é interessante que o usuário defina quais materiais serão utilizados em seu
problema. Ao selecionar Materials Library aparece a imagem mostrada na figura 5. Para selecionar o
material, o usuário deve clicar e arrastar, de um a um, os materiais desejados existentes na pasta Library
Material até a subdivisão que contém a pasta Model Materials, ao lado. Clicando duas vezes sobre o
material, o usuário terá acesso às suas propriedades eletromagnéticas e físicas, com a possibilidade de
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alterar alguns parâmetros, caso seja conveniente. Definidos todos os materiais a serem utilizados, confirma-
se a operação selecionando a opção OK.

Figura 5 - Janela para definição dos materiais do problema

2.2.6.2. Materials
Assim que os materiais forem escolhidos, automaticamente eles passam a compor a lista Property
Name da opção Materials, em Properties (ver figura 4). Em Modify Property - assim como pode ser feito pelo
duplo clique em cima do material, explicado acima (Materials Library) - o usuário tem condição de alterar as
propriedades dos materiais definidos pelo software. Existem várias opções para que o usuário adéqüe o
material da melhor maneira possível para solução do problema. Caso seja necessário lidar com algum tipo de
material que não é disponibilizado na Materials Library o usuário tem a possibilidade de criar seu próprio
material através da opção Add Property. Para tanto, o usuário deve ter em mãos várias propriedades do
material que deseja definir. Para maiores detalhes sobre as definições de materiais consultar Meerker (2010.
p. 26-31).

2.2.6.3. Boundary
Define as linhas e arcos que delimitam a região de contorno da geometria. Em BC Type o usuário
pode escolher a condição de contorno que melhor se adéqüe a seu problema. Abaixo são descritas cada uma
delas de maneira resumida, para maiores detalhes sobre o equacionamento das condições de contorno
consultar Meerker (2010. p. 24-26).
➔ Prescribed A - para este tipo de contorno, o vetor potencial A é prescrito para todo o perímetro. O
usuário pode definir o valor de potencial de A de acordo com os parâmetros 𝐴0 , 𝐴1 , 𝐴2 𝑒 𝜑. Para o
potencial ser definido como zero fora da região de contorno (A=0), todos os parâmetros devem valer
zero.
➔ Small Skin Depth - utilizada para condições de alta freqüência em que o existe a ocorrência de
correntes parasitas. Aproxima-se da condição de contorno de Robin, descrita na intodução.
➔ Mixed - pode ser de dois usos, dependendo do valor especificado dos coeficientes 𝑐0 𝑒 𝑐1 . Com a
determinação cuidadosa de 𝑐0 e a definição de 𝑐1 = 0, aproxima a parte externa do contorno
aproxima-se de uma região upbounded. De outro modo, para definir que a intensidade de campo
que flui paralelo ao contorno é H, basta definir 𝑐0 = 0 e 𝑐1 = valor desejado de campo H (Amp/m).
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➔ Strategic Dual Image - trata-se de uma condição de contorno experimental desenvolvida pelo
criador do software. Esta condição imita um contorno “aberto” ao dividir a solução em duas partes:
uma baseada na condição de contorno homogenia de Dirichlet e outra baseada na condição de
contorno homogenia de Neumann. Sua utilização deve ser direcionada para problemas com
contorno circular no domínio planar e que não utilize ferro.
➔ Periodic - aplicada sobre dois segmentos ou dois arcos para forçar o vetor potencial magnético a ser
igual para toda região do contorno. Bom aproveitamento para geometrias com simetria, pois
diminui o domínio do problema que deve ser modelado.
➔ Anti-periodic - similar à condição periódica, porém com a diferença de forçar os dois contornos
selecionados para serem negativos um em relação ao outro, mas com a mesma magnitude.

2.2.6.4. Point
Define as propriedades de um ponto na geometria. Pode ser adicionado um ponto com uma
propriedade potencial específica (Wb/m) ou uma propriedade de corrente específica. Não é possível definir
propriedade de corrente e potencial em um mesmo ponto, trata-se de dois fatores mutuamente exclusivos.
Para elucidar melhor, a figura 7 mostra as linhas de fluxo na etapa de pós-processamento de uma geometria
com um ponto potencial (a) e sem um ponto potencial (b). Esta definição de ponto é interessante para
simular alguma perturbação dentro da geometria.

Figura 6 - Etapa de pós-processamento de uma geométrica (a) com um pondo de potencial e (b) sem um ponto de potencial

2.2.6.5. Circuits
Nesta opção o usuário pode definir os circuitos utilizados na sua geometria, selecionando a opção
Add Property, para adicionar um novo circuito, ou a opção Modify Property, para modificar um circuito
definido anteriormente (ver figura 4). Existe a opção de escolha de circuitos série e paralelo e a opção para
definir a magnitude da corrente, como mostra a figura 7.
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Figura 7 - Definição do circuito

2.2.7. Definições Dentro da Geometria


Feitas todas as definições, o usuário deve colocá-las dentro da geometria traçada, definindo os
materiais de cada região, os circuitos, os grupos e o contorno, levando em consideração os comandos de
mouse e teclado definidos anteriormente. Abaixo é descrito como deve ser feita cada uma das questões
levantadas e outros botões de comando do FEMM.

2.2.7.1. Definição de Blocos - Materiais, Circuitos e Grupos


O usuário deve selecionar o operador de bloco (Operate on Block Labels) e acrescentar um ponto nas
regiões as quais serão definidos os materiais clicando com o botão esquerdo (ver figura 1 e tabela 2). Surgirá
um pequeno nó com a designação <None>, como mostra a figura 8.

Figura 8 - Designação do nó criado para definir um bloco

Feito isso, o usuário deve clicar com o botão direito do mouse na região mais próxima possível ao nó
definido, que passará da coloração verde para vermelha. É importante observar que para selecionar pontos,
arcos, retas ou grupos no FEMM o clique com o mouse deverá sempre estar próximo de seu alvo, visto que o
software possui algoritmos para selecionar o objeto que encontrar-se mais adjacente ao clique do usuário.
Quando o nó estiver com a coloração vermelha, denotando estar selecionado, deve-se apertar barra
de espaço no teclado para abrir as propriedades do objeto selecionado. A janela que define as propriedades
é denominada Properties for Selectec Block e é mostrada na figura 9. Abaixo há uma breve descrição das
funcionalidades das opções que aparecem nesta janela.

➔ Block Type - o usuário define o material que deverá ser utilizado para aquela região. Só aparecerão
nas opções do Block Type os materiais que foram previamente selecionados na definição dos
materiais.

➔ In Circuit - o usuário deve escolher se utilizará algum circuito que fora previamente estabelecido nas
definições do circuito. Feito isso, a opção Number of Turns é habilitada e o usuário pode definir a
quantidade de espiras. Quando o número de espiras é negativo, indica que os enrolamentos entram
naquela região (⊗) e quando são positovos indicam que os enrolamentos saem daquela região (⊙).
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➔ In Group - o usuário tem a possibilidade de escolher se deseja selecionar que aquele ponto integre
um grupo. A definição dos grupos é feita somente de forma numérica.

Figura 9 - A janela Properties for Selected Block

Ao completar estes passos, basta selecionar a opção ok e o material, o circuito (se houver) e o grupo
estarão definidos para a região selecionada. Estes passos devem ser repetidos para todas as demais regiões
da geometria, até que todos os blocos sejam devidamente definidos.

2.2.7.2. Definição de Grupos


A opção de definir grupos é muito útil para vários tipos de situações, pois, a partir dela, pontos, retas
e arcos podem ser manuseados de uma só vez se estes pertencerem ao mesmo grupo. Um exemplo é dado
para simulação de uma máquina a relutância variável. Deseja-se que o rotor gire para que a análise no pós-
processamento seja feita para várias configurações de fluxo magnético. Para tanto, as linhas, arcos e pontos
que configuram o rotor são condensados em um grupo e a estrutura do rotor pode ser movimentada dentro
da geometria.
Para selecionar os elementos para o grupo o usuário deve ir por passos: primeiro selecionar todos os
pontos e adicioná-los ao grupo, depois todas as retas e adicioná-las ao grupo e logo em seguida todos os
arcos e adicioná-los ao grupo. As ferramentas que selecionam pontos, retas e arcos são Operate on Nodes,
Operate on Segments e Operate on Arc Segments, respectivamente (ver figura 1).
Para colocar os elementos selecionados em um grupo o usuário deve clicar com o botão direito do
mouse o mais próximo possível dos elementos a serem selecionados e apertar barra de espaço (ver tabela
2). Deste modo a janela mostrada na figura 10 aparecerá e na opção In Group deve-se estabelecer um
número para o grupo. O usuário deve ter muito cuidado, pois o número do grupo deve ser o mesmo para
todos os elementos que pertencerem a ele.
Para verificar os elementos do grupo deve-se selecionar a opção Operate on Groups of Objects, na
parte superior da janela (ver figura 1). Similarmente, o método para selecionar o grupo criado é o mesmo
utilizado para selecionar elementos: clica-se com o botão direito próximo ao grupo e ele é selecionado. Se o
usuário apertar barra de espaço uma janela com as propriedades do grupo é aberta.
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Figura 10 - Janela para definição de propriedades para (a) pontos, (b) arcos e (c) retas. A partir delas é possível definir que os
pontos, arcos e retas façam parte do mesmo grupo a partir da função In Goup

O exemplo do rotor citado no início deste tópico pode ser mostrado na figura 11, em que o leitor
pode perceber que todos os elementos que contém a parte móvel da geometria fazem parte do grupo,
inclusive os Block Labels que definem o material Air do entreferro e o material M-22 Steel do rotor.

Figura 11 - Exemplo: grupo que define as partes móveis em uma máquina a relutância variável
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OBS:
5. É muito importante ressaltar que deve fazer parte desse grupo todas as partes que o integram, inclusive
o Block Label que define o material e/ou o circuito.
6. Deve-se ter muita atenção na hora de selecionar todos os elementos do grupo para não esquecer
nenhum ponto, reta ou arco, pois isto pode comprometer a etapa de pós-processamento.

2.2.7.3. Definição das Condições de Contorno


O método utilizado para definir o contorno do problema é o mesmo descrito no tópico anterior
(Definição de Grupos). Primeiramente seleciona-se separadamente todos os pontos, em seguida todas as
retas e por fim todos os arcos com o botão direito do mouse, feito isso, deve-se pressionar barra de espaço e
a configuração apresentada na figura 10 será mostrada.
O Usuário deve selecionar qual condição de contorno, definida anteriormente (tópico 2.2.6), será
utilizada através das abas de opções destacadas em azul na figura 10. Feito isso, basta clicar em ok e os
pontos, retas e arcos selecionados farão parte do contorno. O usuário pode também determinar um
grupo para os elementos do contorno, atribuindo um número a eles na opção In Group (figura 10), como foi
descrito anteriormente.

2.2.7.4. Outras Opções


Existem também outras opções na etapa de pré-processamento que podem auxiliar o usuário a lidar
com a geometria. Elas são mostradas na figura 12 e descritas abaixo.

Figura 12 - Outras opções do pré-processamento

a) Open up properties dialog for currently selected entities - Funciona como a barra de espaço,
dispondo ao usuário as propriedades dos elementos selecionados.
b) Undo the last operation - Desfazer a operação anterior.
c) Select a group of entities using the mouse - Selecionar elementos na geometria dentro de uma figura
retangular definida pelo usuário
d) Select a circular region - Selecionar elementos dentro de uma região circular.
e) Move/rotate selected objects - Mover ou rotacionar objetos selecionados.
f) Copy selected objects - Copiar objetos selecionados.
g) Scale selected objects - Alterar a escala dos objetos selecionados.
h) Mirror selected objects - Cria uma imagem-espelho da geometria em relação a uma linha de simetria
definida pelo usuário.
i) Convert a sharp corner into a radius - Para “arredondar” o desenho esta opção converte uma quina
em uma forma mais suave, com o raio definido pelo usuário. Ao clicar em (i) o usuário deve em
seguida selecionar o ponto em que deseja suavizar a quina e, a partir disso, uma janela aparece para
que o usuário defina o raio.
j) Delete selected objects - Deletar objetos selecionados.
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2.2.8. Ferramentas de Análise


As ferramentas de análise, mostradas na figura 13, são responsáveis por (a) traçar a malha de
triângulos para análise dos elementos finitos, (b) analisar o modelo e (c) mostrar os resultados na etapa de
pós-processamento.

Figura 13 - Ferramentas de análise. (a) traçar a malha, (b) analisar o modelo, (c) mostrar resultados

Algumas considerações podem ser feitas em torno das ferramentas de análise:


a) Run mesh generator - Para modelos muito grandes, manter a malha traçada na geometria pode
despender uma quantidade significativa de memória. Neste caso, se a malha não estiver sendo
utilizada, recomenda-se que ela seja expurgada através do comando Purge Mesh na opção Mesh. É
muito importante também que o usuário se atente à mensagem que aparece ao final da geração da
malha de triângulo, pois ela pode mostrar erros na geometria.
b) Run analysis - Este ícone executa o fkern.exe. O tempo de execução dependerá do problema,
podendo levar de poucos segundo a muitas horas. Quanto maior for a complexidade do problema
(não linearidades, presença de harmônicos, etc.), mais tempo será despendido.
c) View Results - Este ícone leva à etapa de pós-processamento, abordada a seguir.

2.3. Pós-Processamento
Etapa em que os resultados do problema podem ser visualizados. Possui um novo formato, com
sufixo .ans.

2.3.1. Modos de Operação


Assim como no pré-processamento, a etapa de pós-processamento opera em três modos de
operação exibidos na figura 14 e descritos abaixo.

Figura 14 - Modos de operação na etapa de pós-processamento

a) Point Values Mode - O usuário pode clicar em qualquer ponto da geometria que as informações
magnéticas relativas ao ponto são mostradas na janela FEMM Output. Outra maneira de escolher o
ponto de análise é selecionando a tecla TAB e digitando as coordenadas do ponto. No pós-
processamento os pontos não são selecionados pelo botão direito do mouse.
b) Contour Mode - Permite ao usuário definir arbitrariamente um contorno à figura, ligando os pontos
da geometria pelo botão esquerdo do mouse. Com este contorno o usuário torna-se capaz de plotar
gráficos e obter integrais sobre a região de interesse.
c) Block Mode- Permite que o usuário selecione um subdomínio na geometria. Com esta opção,
integrais de área e volume podem ser traçadas.
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2.3.2. Linhas de Fluxo


Uma maneira de perceber as características magnéticas do problema é pela visualização de suas
linhas de fluxo. Por default o software traça 19 linhas de fluxo no problema assim que este gera a tela de
pós-processamento. As propriedades destas linhas, como a quantidade (de 4 a 999) e cor podem ser
alteradas. A figura 15 mostra os botões de ações para alterar as propriedades das linhas de fluxo traçadas e
suas descrições são complementadas abaixo.

Figura 15 - Modos de gráfico para traçar as linhas de fluxo

a) Traçar a malha de triângulos na figura.


b) Escolher linhas de fluxo reais (em preto) e imaginárias (em cinza) e definir a quantidade de linhas
para serem traçadas no desenho.
c) Escolher outras opções para serem plotadas junto com as linhas de fluxo (densidade de corrente,
por exemplo), e adicionar cores à representação.
d) Adicionar vetores.

2.3.3. Visualização e Análise dos Resultados


Os resultados podem ser visualizados através de gráficos, integrais e pelas propriedades dos circuitos
definidos da etapa de pré-processamento. A figura 16 mostra os botões de comando para (a) traçar gráficos,
(b) calcular integrais e (c) mostrar as propriedades dos circuitos. Para traçar gráficos, é necessário que o
usuário trace primeiramente os contornos que delimitem a parte a ser analisada (figura 14-b). Para calcular
integrais, do mesmo modo, o usuário deve primeiramente selecionar as regiões de interesse (figura 14-c). O
software apresenta diversas opções de gráficos e integrais, que são detalhadas abaixo. Para maiores
descrições das operações e das bases de cálculo utilizadas pelo software o usuário deve consultar Meerker
(2010. p. 39-46).

Figura 16 - Botões de comando para (a) traçar gráficos, (b) calcular integrais e (c) mostrar as propriedades dos circuitos

a) As opções de gráficos para serem plotados, ao longo do contorno, são:


i. Vetor potencial;
ii. Magnitude da densidade de fluxo;
iii. Componente normal da densidade de fluxo;
iv. Componente tangencial da densidade de fluxo;
v. Magnitude da intensidade de campo;
vi. Componente de intensidade de campo normal;
vii. Componente de intensidade de campo tangencial;
viii. Densidade de correntes parasitas;
ix. Densidade de corrente somada às corrente parasitas.
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b) As opções de integrais a serem calculadas, dentro das regiões selecionadas, são:


i. Cálculo da indutância própria;
ii. Cálculo da indutância mútua;
iii. Cálculo da energia armazenada no campo magnético;
iv. Cálculo da co-energia;
v. Cálculo das perdas por laminação do ferro;
vi. Cálculo das perdas resistivas;
vii. Cálculo das perdas totais;
viii. Cálculo da forca de Lorentz;
ix. Cálculo do torque de Lorentz;
x. Cálculo do fluxo magnético;
xi. Cálculo da corrente total;
xii. Cálculo do volume;
xiii. Cálculo da força (tensor);
xiv. Cálculo do torque (tensor);
xv. Cálculo do momento de inércia

3. Código Lua
O código Lua é utilizado para tornar as simulações dentro do FEMM mais automatizadas e,
conseqüentemente, mais simples. Maiores informações sobre a linguagem podem ser encontradas no
“Manual de Referência de Lua”, com versão digital disponível em: http://www.lua.org/manual/5.2/pt/.
Para abrir a janela de programação no FEMM o usuário deve selecionar a opção Lua Console em
View ou clicar na imagem descrita na figura 17, Show/Hide Lua Console Window, na parte lateral esquerda
da janela.

Figura 17 - Botão de ação para abrir a janela de programação

Todos os códigos possíveis para atuação dentro do software estão disponíveis em Meerker (2010. p.
82-98). No anexo I existe a descrição de um código em Lua utilizado para fazer girar um rotor de uma
máquina a relutância variável 6x6, de 0° a 30° e com correntes que variam de 2 A à 30 A, com intervalo de
espaçamento de 0,5 A entre uma medição e outra. A finalidade deste código é coletar os valores de fluxo e
de corrente, para, a partir deles, obter um perfil de indutância da máquina.
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Anexo I

--Programa para topologia 6x6.


--Comentários são feitos utilizando dois traços no início.

--showconsole() exibe a janela de execução do código, denominada LUA Console.


--Toda esta primeira parte define arquivos temporários, que garantem que o problema inicial não será
--alterado durante a execução do programa, visto que o software salva o projeto toda vez que o Run
--Analyses é executado. Esta primeira parte pode ser utilizada para todo início de programa.

showconsole()
mydir="./"
open(mydir .. "6x6 .fem")
mi_saveas(mydir .. "temp.fem")
mi_seteditmode("group")

for x=1.5,29.5 do -- Aqui é definida a iteração utilizando a linguagem lógica for e do.
-- A primeira iteração definida para a variável x é responsável por variar os valores de
--corrente de 2 A à 30 A. O intervalo é definido de 1,5 A à 29,5 A pois a primeira
--iteração já acrescenta 0,5 A ao valor definido de x, que, portanto, começará em 2 A
--e terminará em 30 A

mi_modifycircprop("Circuito 1",1,x+0.5) --mi_modifycircprop(“Circname”,propnum,value): é a


--função que define que a corrente do “Circuito 1”,
--na propriedade 1 (define o valor da corrente)terá o
--valor de x, que muda de acordo com a iteração.
--(ver manual para maiores especificações)

print("Corrente=",x+0.5) --print("Corrente=",x): função para imprimir na tela qual valor de


--corrente está sendo abordado no momento.

-- Agora a simulação gera resultados para o ângulo de 0°

mi_createmesh() --mi_createmesh(): cria a malha de triângulos.

mi_analyze() --mi_analyze(): roda o programa para a solução do problema

mi_loadsolution() --mi_loadsolution(): abre a nova janela no FEMM para mostrar as soluções


--encontradas

mo_groupselectblock(1) --mo_groupselectblock(1): seleciona o grupo 1, que foi definido


--anteriormente como sendo a parte móvel do processo (rotor).
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print("0",mo_getcircuitproperties("Circuito 1")) --print("0",mo_getcircuitproperties("Circuito 1")):


--imprime na tela para o ângulo zero “0” as
--propriedades do circuito. Nessas propriedades
--são declarados os valores de corrente, tensão e
--fluxo concatenado do problema.

for n=1,30 do --Nova iteração, definida para que o rotor gire de 1° à 30°.

mi_selectgroup(1) --Seleciona o grupo 1

mi_moverotate(0,0,1) -- mi moverotate(bx,by,shiftangle (editaction)) - Move o grupo 1 selecionado


--anteriormente de acordo com as coordenadas (bx,by), no caso
--determinadas por (0,0), o valor de 1°

mi_createmesh()
mi_analyze()
mi_loadsolution()

mo_groupselectblock(1)
print(n,mo_getcircuitproperties("Circuito 1"))
end

--Como se sabe, o comportamento da máquina 6x6 repete-se a cada 30°. Na verdade, o comportamento
completo de um ciclo percorre 60°, em que os primeiros 30° são simétricos aos próximos 30°. Desta forma, o
ciclo só fica completo em 60°, por isso os comandos abaixo garantem que, após feita a simulação para os 30
primeiros ângulos, o programa irá girar o rotor de mais 30° para que ele se inicie em um novo ciclo de
comportamento.

mi_selectgroup(1)
mi_moverotate(0,0,30)

end
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Bibliografia
Meerker, D. (2015). Finite Element Method Magnetics: Version 4.2, User's Manual. Acesso em 25 de Maio de
2017, disponível em http://www.FEMM.info/Archives/doc/manual42.pdf
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] MILLER, T. J. E. Switched Reluctance Motors and Their Control, Magma


Pysics Publishing and Clarendon Press, Oxford, 1993.
[2] ANDERSON, A. F., Development history, Electronic Control of Switched
Reluctance Machines, pp. 6 a 33, Edited by T J Miller, Newness Power
Engineering Series, 2001.
[3] UMANS, STEPHEN D. Máquinas Elétricas de Fitzgerald e Kingsley. 7ª
Edição. Editora Bookman, 2014.
[4] OLIVEIRA, V. S. Aplicação do método dos elementos finitos 3D na
caracterização eletromagnética estática de motores de relutância variável
com validação experimental. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica),
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013.
[5] MEKER, D. Finite Element Method Magnetics: Version 4.2: User’s Manual.,
2015. Disponível em: <http://www.femm.info/Archives/doc/manual42.pdf>.
Acesso em: 09/04/2017.
[6] SILVEIRA, A. W. F. V. Controle de tensão na carga para motor/gerador a
relutância variável de três fases. Tese(Doutorado em Engenharia Elétrica), –
Faculdade de Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia, 2011
[7] MUELLER, M. A. (2005). Design and Performance of a 20Kw, 100 rpm,
Switched Reluctance Generator for a Direct Drive Wind Energy Converter,
IEEE International Conference on Electric Machines and Drives, 2005.
[8] MILLER, T. J. E. Electronic Control of Switched Reluctance Machines,
Newness, 2001.

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