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O princípio do juiz natural na CF/88

Ordem e desordem

Jacinto Nelson de Miranda Coutinho

Sumário
1. Introdução. 2. O princípio do Juiz Natural.

1. Introdução
A salvaguarda dos direitos e garantias
individuais no processo penal é o melhor
critério pelo qual se pode medir o grau de
civilidade de um povo1, segundo Pisapia
(1985, p. 26). Nenhum espaço, aliás, mostra-
se mais adequado para funcionar em tal
medição que os princípios gerais.
1
“È stato giustamente detto che il grado di civiltà
di un popolo si misura sopratutto dal modo con cui
sono salvaguardati i diritti e le liberta dell’imputato
nel processo penale”. “Foi justamente afirmado que
o grau de civilidade de um povo se mede, sobretudo,
pelo modo pelo qual são salvaguardados os direitos
e liberdades do acusado no processo penal.” (PISA-
PIA, 1985, p. 26, tradução nossa). No mesmo sentido,
v. HÉLIE, Faustin. De la Procédure Criminelle em
general. Traité de l’instruction criminelle. Disponível
em: <http://ledroitcriminel.free.fr/la_science_cri-
minelle/les_sciences_juridiques/le_proces_penal/
generalites/faustin_introduction_instruction.htm>, p.
2: “Les systèmes et les progrès de celle-ci intéressent
sans doute au plus haut degré la societé; mais si les
questions qu’elle soulève touchent un intérêt social, et
quelquefois un intérêt politique, leur importance est
humanitaire et regarde l’homme plutôt que le citoyen;
elle intéresse l’avenir de la société plutôt que l’etát ac-
tuel de ses membres”. “Os sistemas e seus progressos
sem dúvida interessam no mais alto grau à sociedade;
mas, se as questões tratadas tocam um interesse social,
é por vezes um interesse político, sua importância é
humanitária e diz respeito mais ao homem que ao
cidadão; interessa ao futuro da sociedade, mais que ao
atual estado de seus membros.” (tradução livre).

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O estudo dos princípios gerais do Direi- não há mais sistema processual puro (PISAPIA,
to Processual Penal, por sua vez, fornece a 1985, p. 20-21), razão pela qual tem-se, todos,
base para uma compreensão sistemática como sistemas mistos. Não obstante, não é
da disciplina. A par de se poder pensar em preciso grande esforço para entender que
princípio (do latim, principium) como sendo não há e nem pode haver um princípio misto
início, origem, causa, gênese, aqui é conve- (dado ser uma idéia única e, portanto, indivi-
niente pensá-lo(s) como motivo conceitual sível), o que, por evidente, desfigura o dito
sobre o(s) qual(ais) funda-se a teoria geral do sistema. Assim, para entendê-lo, faz-se mis-
processo penal, podendo estar positivado (na ter observar o fato de que ser misto significa
lei) ou não. Como ontológicos (ou unifica- ser, por princípio, inquisitório ou acusatório,
dores), princípio é um mito, ou seja, a palavra recebendo a referida adjetivação por conta
que é dita no lugar daquilo que, se existir, não dos elementos (todos secundários), que de
pode ser dito, dado não se ter linguagem para um sistema são emprestados ao outro. É o
tanto. Assim, todas as teorias e ciências se caso, por exemplo, de o processo comportar
fundam nele (COUTINHO, 1998, p. 164). a existência de partes, o que para muitos,
O estudo dos princípios inquisitivo e entre nós, faz o sistema – embora insusten-
dispositivo remete, de plano, à noção de tável – tornar-se acusatório. No entanto, o
sistema processual. Destarte, a diferencia- argumento não é feliz, o que se percebe por
ção dos sistemas processuais (acusatório e uma breve avaliação histórica: quiçá o maior
inquisitório) faz-se por meio de tais prin- monumento inquisitório fora da Igreja tenha
cípios unificadores (a idéia única de Kant2), sido as Ordonnance Criminelle (1670), de Luis
determinados, aqui, pelo critério referente XIV, em França; mas mantinha um processo
à gestão da prova (CORDEIRO, 1963, p. que comportava partes.
715). Ora, se o processo tem por finalidade, As regras3 de direito processual penal
entre outras, a reconstituição de um fato expressam valores – eis a marca do conteú-
pretérito, o crime, mormente pela instrução do ético do Direito – mas agitam um espaço
probatória, a gestão da prova, na forma pela diferenciado (NEVES, 1968, p. 196): aquele
qual ela é realizada, identifica o princípio dos atos processuais. Não se cogita, como
unificador. Com efeito, pode-se dizer que o no caso das regras de direito penal – no
sistema inquisitório, regido pelo princípio qual o que se regula é a vida em relação
inquisitivo, tem como principal caracterís- e, portanto, vai-se trabalhar com licitude/
tica a extrema concentração de poder nas ilicitude (DIAS, 1974, p. 24) –, de premissa
mãos do órgão julgador, e o réu é tido como hermenêutica concreta alguma, entre ou-
o detentor da verdade de um crime, da qual tras coisas, porque a paridade das partes
deverá dar contas ao inquisidor, o qual é artificialmente construída pelo aparato
detém a gestão da prova. Aqui, o acusado é legal para dar conta de atos processuais em
mero objeto de investigação. geral abstratos. Trata-se, portanto, tão-só
O sistema processual penal brasileiro é, em das regras do jogo. E basta! Não só não tem
face do princípio unificador, inquisitório, por- sentido se fazer referência ao objeto (com
que regido pelo princípio inquisitivo, já que pretensão de ser concreto, sempre!), em
a gestão da prova está, primordialmente, nas face de não ser primordial à linguagem
mãos do juiz, o que é imprescindível para a mas, também, porque os objetos, no caso do
compreensão do Direito Processual Penal vi- processo penal, não têm concretude para
gente no Brasil. No entanto, como é primário, acolher uma remessa do gênero.
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Trad.
2 Atos processuais; atos de partes. É como
de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique se se “despersonificassem”, em face do ins-
Morujão. 4. ed. Lisboa: Fundação Clouste Gulbenkian,
1997, p. 657. 3
Sobre o tema, v. COUTINHO, 2006, p. 225-232.

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trumento processual, as pessoas e suas his- múltiplos) às regras contidas no fato gráfico
tórias. Isso não exclui – e não pode excluir (CORDEIRO, 1986, p. 18) que é a lei. Daí
– nem a carga valorativa da lei processual, que se não tem unanimidade; que se pode
nem a ideologia do intérprete, que segue ter resultados interpretativos opostos e até
criando as normas que entende caber nas regras contraditórios (Aristóteles); que a postura
constantes da lei. Por isso é que, fundado em ideológica é fundamental em razão de o
Castanheira Neves, Figueiredo Dias (1974, intérprete dizer aquilo que está na lei, que
p. 33-34) assevera: nada diz sem ele; que é preciso uniformizar
“das diferenças de pressupostos fun- a jurisprudência para se tentar ter uma certa
cionais são expressão, por sua vez, coerência no dicere ius e, assim, dar sentido
as diversas categorias axiológicas que à própria juris dictio; que uma investigação
dominam em cada um dos âmbitos e do Poder é essencial em qualquer análise da
caracterizam a decisão num e noutro: matéria relacionada à interpretação.
a de direito substantivo, referida a Não há – nem se acredita em – neutra-
uma relação da vida no espaço social, lidade interpretativa. Interpretar é dar um
visa valorá-la dentro da dicotomia sentido, construindo uma norma, em geral
axiológica lícito/ilícito; a de direito que caiba na regra contida no texto da lei
adjectivo, referida a actos no espaço mas, não raro – e por mais absurdo que
processual (‘actos processuais’), visa possa parecer –, contra disposição expressa da
enquadrá-los na dicotomia axioló- lei; e, pior, com freqüência em desfavor dos
mais fracos, dos excluídos, dos réus. Eis, en-
gica admissível/inadmissível ou eficaz/
tão, uma das grandes pragas para o Direito,
ineficaz”.
ou seja, sua incapacidade de debelar, pela
Com a referida dicotomia, não se pode
lei, a manipulação interpretativa.
esquecer que os atos processuais expressam
O Direito – e o positivismo jurídico foi o
valores (a regra é, sobretudo, um critério
grande exemplo – quer ser de leis, mas pre-
valorativo de avaliação4), mas, desde sua
cisa conviver com uma construção normativa
postura ideológica, o intérprete constrói, que é essencialmente dos homens como, melhor
cria a norma que entende mais adequada que ninguém, não deixa dúvida o próprio
entre as tantas possíveis. Dá, assim, com Kelsen5, no seu capítulo 8o da Teoria Pura do
a norma que cria, um sentido (entre os Direito, mesmo porque a “pureza”, como se
4
Para Ascensão (1978, p. 182), “toda regra é ne- sabe, veio por outros fundamentos (corretos
cessariamente um critério: com esse critério podemos ou não, não vêm ao caso, agora), mas não
ordenar e apreciar os fenômenos. Como toda regra, seria ingênuo de suprimir o homem, o qual
a regra jurídica pode ser considerada um critério de
deve interpretar. Não é por outra razão que
apreciação. Mas esse critério pode ser ainda: de con-
duta; de decisão. A regra jurídica será regra de conduta mudam as leis mas elas dizem pouco se não
de verificar o critério pelo qual o intérprete resolve os muda a mentalidade dos intérpretes.
casos a que se aplica. A regra jurídica é sempre um critério É esse, de certo modo, o quadro que se
de decisão. Mediante ela o intérprete chegará sempre a vive a partir da Constituição da República
soluções jurídicas dos casos. A regra jurídica será normal-
mente um critério de conduta, mas não o será sempre. Se bem de 1988. Em largos aspectos, a lei maior não se
que a maior parte das regras tenha função orientadora efetiva porque os intérpretes, sobretudo no
das condutas humanas, regras há que esse escopo está Poder Judiciário, não mudam a mentalida-
completamente ausente. Estão nesse caso: as regras que
produzem efeitos jurídicos automáticos; as regras retro- 5
“Na aplicação do Direito por um órgão jurídico,
activas; as regras sobre regras, como a lei que revoga, a interpretação cognoscitiva (obtida por uma operação
suspende ou reactiva outra lei. Sendo assim, é errado de conhecimento) do Direito a aplicar combina-se
falar das regras jurídicas como ‘normas de condutas’ com um acto de vontade em que o órgão aplicador
pois assim se omitiriam sectores muito importantes do Direito efectua uma escolha entre as possibilida-
dentro destas regras.” Ver as observações feitas, na des reveladas através daquela mesma interpretação
mesma obra (ASCENSÃO, 2001, p. 479-480). cognoscitiva”. (KELSEN, 1979, p. 469-470)

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de, inclusive para fazer valer a própria CF e novo, um sentido igual ou muito próximo
regras que expressam direitos e garantias. ao que se tinha no antigo quando, em ver-
dade, trata-se de algo muito diverso e só se
2. O Princípio do Juiz Natural chega na aproximação por jogos retóricos e
construções indevidas.
Cada caso penal deve ser apreciado e Natural (como querem os franceses,
julgado por um único órgão jurisdicional6, entre outros) ou Legal (como querem os
ainda que muitos possam, eventualmente, alemães, entre outros) são adjetivos de um
intervir no processo, em momentos diferen- Juiz já possuidor de Jurisdição, ou seja, de
ciados. Faz-se, então, uma relação absoluta Poder decorrente de fonte constitucional.
entre ato processual e órgão jurisdicional, de Isso, por sinal, não foi suficiente antes de
modo a que tão-só um entre tantos seja o 88, de tal modo que se manipulava como
competente para o ato. Trata-se, portanto, fosse conveniente, razão por que se não
de identificar o órgão jurisdicional competen- previu o dito princípio na CF/88, nos mol-
te, matéria hoje com foro constitucional, des anteriores (ou nos moldes europeus),
conforme art. 5o, LIII, ou seja, “ninguém mas se foi além, demarcando-se – repita-se:
será processado nem sentenciado senão
constitucionalmente – a necessidade da
pela autoridade competente”. O princípio
presença de “autoridade competente” no
do Juiz Natural, como se sabe, vem com-
processo e – seria desnecessário dizer mas
plementado, de perto, pela regra do inciso
não se queria arriscar – na sentença.
XXXVIII7, isto é, “não haverá juízo ou tri-
Dessa forma, pode-se definir o princípio
bunal de exceção”. Por evidente, as regras
do juiz natural como expressão do princípio
refletem, até pela sua topografia, garantia
da isonomia e também um pressuposto de
fundamental do cidadão.
imparcialidade.
Juiz competente, diante do quadro cons-
Nasce vinculado ao pensamento ilumi-
titucional de 88, é, sem sombra de dúvida,
o Juiz Natural ou Juiz Legal, de modo a se nista e, conseqüentemente, à Revolução
poder dizer ser dele a competência exclusi- Francesa. Em função dela, como se sabe,
va para os atos aos quais está preordenado. foram suprimidas as justiças senhoriais e to-
Excluem-se todos os demais, evitando-se, dos passaram a ser submetidos aos mesmos
desse modo, manipulações indesejáveis tribunais. Afinal, a primeira de suas leis
(produtoras de uma desordem intragável em processuais, em 11.08.1789, foi exatamente
um Estado Democrático de Direito), com no sentido de vetar qualquer manipulação
vilipêndio das regras de garantia, como nesse sentido (extinguindo a justiça senho-
tem acontecido com freqüência inaceitável, rial), consolidando-se o princípio do juiz
mormente em face da chamada interpreta- natural na Constituição de 3 de setembro
ção retrospectiva8, a qual encontra, no texto de 17919 e na legislação subseqüente. Antes,
contudo, o princípio já viera expressamente
6
Embora muitos possam participar – e em face previsto na Lei de 16-24.08.1790:
do duplo grau isso possa ocorrer sempre –, há de se “Art. 17, tit. II, 1. 16-24 aôut 1790,
entender que cada um deve fazê-lo isoladamente,
isto é, um de cada vez, em face do próprio princípio
previene tali abusi: ‘l’ordre costitutio-
do juiz natural. nnel des jurisdictions ne pourra être
7
Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem dis-
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi- 9
Constitution de 1791. Art. 4. Chapitre V: “Les ci-
leiros e aos estrangeiros residentes no País a inviola- toyens ne peuvent être distraits des juges que la loi leur
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à assigne, par aucune commission, ni par d’autres attri-
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) butions et évocations que celles qui sont déterminées
XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; par les lois”. “Os cidadãos não poderão ser afastados
LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão dos juízes que a lei os designa, por nenhuma comissão,
pela autoridade competente. nem por outras atribuições e avocações senão aquelas
8
Sobre o tema, Cf. BARROSO, 1993. determinadas pelas leis.” (tradução livre).

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troublé, ni des justiciables distraits de da ‘justiça reservada’, o rei poderia
leurs juges naturels par aucune com- retirar de um processo os juízes
mission, ni par d’autres attributions competentes e avocar a competên-
ou evocations que celles qui seront cia para o seu conselho (avocação)
determines par la loi’”10. ou fazê-lo julgar pelos comissários
Vem à lume, assim, com o escopo de especialmente designados para esse
extinguir os privilégios das justiças senhoriais efeito (comissão). Ele poderia, então,
(foro privilegiado), assim como afastar a criar novas jurisdições como ‘comis-
criação de tribunais de exceção, ditos ad hoc sões extraordinárias’ ou ‘câmaras
ou post factum. Destarte, todos passam a ser de justiça’: trata-se de jurisdições
julgados pelo “seu” juiz, o qual se encontra com penais extraordinárias, instituídas
sua competência previamente estabelecida pela lei, tendo em vista um julgamento espe-
ou seja, em uma lei vigente antes da prática do cífico e compostas por juízes que de
crime, de modo a que o alcance, sempre. forma alguma asseguram garantias
Como se sabe, tratava-se de uma das re- de imparcialidade. A criação ou a
gras mais importantes da expressão política supressão de jurisdições pelo gover-
no jurídico porque, manifestando a princi- no poderia constituir um verdadeiro
piologia do novo regime, servia (pelo menos instrumento de luta política. Isto
era o que se pensava) para enterrar de vez coloca, assim, um problema tanto
o Ancièn régime e sua quebra de isonomia, jurídico quanto político, o que leva os
patente, declarada, incentivada e aceita. juristas a teorizar sobre a obrigação
Eis por que, como um dos pilares da igual- de respeitar a competência e a ordem
dade no campo processual, o princípio do juiz das jurisdições, interditando toda
natural veio para submeter (“sujeitar-se”11) modificação post factum da ‘jurisdição
a todos, começando pelo Poder Judiciário natural’, a saber, a jurisdição à qual
e seus órgãos dado, afinal, tratar-se do foi confiada a competência pela lei
garante-mor dos cidadãos. precedente ao acontecimento do fato
Daí a importância visceral que tem e ou pelo costume. O adjetivo  ‘natural’
por que se foi rapidamente espalhando sugeria a idéia da conformidade des-
pela legislação francesa e – em face dos sa jurisdição ao ‘direito natural’ e isto
acontecimentos históricos – européia, como lhe dava um certo caráter com ênfase
anota a melhor doutrina: ‘sacra’. [...] Nos cahiers de doléances12
“O princípio do juiz natural, formal- de 1789 a locução foi utilizada fre-
mente estabelecido pela primeira vez quentemente pelo Tiers-état13, mas
pelo artigo 17 da lei de 16-24 de agos- também pela nobreza e pelo clérigo.
to de 1790 […] e na seqüência pela É suficiente citar – mas as referências
Constituição de 1791 [...] é certamente poderiam ser inúmeras – o art. 11
um dos princípios fundamentais do do cahier du Tiers-état d’Amiens: ‘que
direito judiciário contemporâneo. nenhuma pessoa possa ser julgada,
Sob o Ancièn Régime, graças à teoria em matéria civil ou criminal, a não
ser por seus juízes naturais; e que a
10
“Ar. 17, tit. II, l. 16-24 de agosto de 1790, previne esse efeito, não possa ser estabelecida
tais abusos: ‘a ordem constitucional das jurisdições
não poderá ser turbada, nem os jurisdicionados afas- 12
Cahiers de doléance – caderno de queixas – cader-
tados dos seus juízes naturais por nenhuma comissão, nos dos delegados aos Estados Gerais de 1789, nos quais
nem por outras atribuições ou avocações senão as que eram registrados os seus pedidos. (nota do tradutor).
determinadas pela lei.’” (CORDERO, 1986, p. 112, 13
Tiers Etat – os estamentos sociais em França, pós-
tradução nossa). medievo, eram o clero, a nobreza e o “terceiro estado”
11
Como se sabe, sujeito é proveniente do latim e, (le tiers), liderado pela burguesia, incluindo os traba-
nele, subjectu significa: posto debaixo; submetido à. lhadores do campo e da cidade. (nota do tradutor).

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nenhuma comissão extraordinária’. A constituíram ‘um aparato judiciário
exigência de interdição das avocações solidamente composto e mesclado
e das comissões judiciárias aparece de civis e militares [que] teve de
quase de forma unânime nos Cahiers. lidar com múltiplas demandas que
Isto foi confirmado pela ausência de dissimulavam uma competência das
oposição quando da Constituinte mais fluídas e deixando, depois de
que, com a lei de 16-24 de agosto de sua abolição, em 1818, uma das piores
1790 e a Constituição de 1791, estabe- lembranças da história da justiça’.
leceu formalmente o princípio do juiz [...] A doutrina jurídica era, portanto,
natural considerado, graças ao seu substancialmente unânime pela con-
valor – por assim dizer – ‘neutro’, seja denação das violações ao princípio do
pela ‘direita’, seja pela ‘esquerda’da juiz natural, afirmando a necessidade
Assembléia, uma das garantias judi- de se eliminar a derrogação prevista
ciárias essenciais. É mister sublinhar pelo art. 63 da Carta e melhorar o sis-
que ao direito ao juiz natural se po- tema de garantias jurisdicionais.”16
deria em efeito dar uma interpretação
‘conservadora’ ou ‘liberal’: a crítica 16
FRATE, Paolo Alvazzi del. Le Principe du ‘Juge Na-
dos Parlamentos e dos Estados, que turel’ et la Charte de 1814. Disponível em: http://www.
scribd.com/doc/208097/Juge-Naturel-1814, p. 1-4.
se referiam às liberdades medievais e Acesso em 02.jun.2008: “Le principe du juge naturel,
à proibição dos privilégios advindos formellement établit pour la première fois par l’art. 17
da tradição, aproximavam-se em tal de la loi des 16-24 août 1790 […] et ensuite par la Cons-
domínio à crítica liberal da filosofia titution de 1791 [...] est certainement l’un des principes
fondamentaux du droit judiciaire contemporain. Sous
das Luzes, que visava a realização l’Ancien Régime, grâce à la théorie de la justice retenue,
do Estado constitucional e assim le roi pouvait dessaisir d’un procès les juridictions
uma efetiva segurança jurídica. [...] compétentes et l’évoquer en son conseil (‘évocation’)
No texto definitivo da Carta de 4 ou le faire juger par des commissaires spécialement dé-
signés à cet effet (‘commission’). Il pouvait donc créer
de junho de 1814, a disciplina da
des juridictions nouvelles comme les ‘commissions
instituição é estabelecida em dois extraordinaires’ ou ‘chambres de justice’: il s’agissait de
diferentes artigos: art. 62 (‘ninguém juridictions pénales extraordinaires, instituées en vue
poderá ser afastado dos seus juízes d’un jugement spécifique et composées de juges qui ne
donnaient absolument pas les garanties d’impartialité.
naturais’) e art. 63 (‘não poderão em
La création ou la suppression de juridictions par le
conseqüência ser criadas comissões e gouvernement pouvait constituer un véritable instru-
tribunais extraordinários. Não estão ment de lutte politique. Cela posa ainsi un problème
compreendidos sob essa denomi- tant juridique que politique, ce qui amena les juristes
nação as jurisdições prévôtales14, se à théoriser l’obligation de respecter la compétence et
l’ordre des juridictions, interdisant toute modification
o seu restabelecimento for julgado post factum de la ‘juridiction naturelle’, à savoir la
necessário’). [...] A possibilidade de juridiction à laquelle était confiée la compétence par
instituir as Cortes prévôtales15 foi efe- une loi précédente à l’accomplissement du fait ou par
tivamente concretizada com a lei de la coutume. L’adjectif ‘naturel’ suggérait l’idée de la
conformité de cette juridiction au ‘droit naturel’ et cela
20 de dezembro de 1815. Estas Cortes lui donnait un certain caractère d’emphase ‘sacrale’.
– como afirmou Jean-Pierre Royer – [...] Dans les cahiers de doléances de 1789 la locution
est utilisé fréquemment, par le Tiers-état mais aussi
14
Prévôtales – que concerne à jurisdição dos pré- par la noblesse et par le clergé. Il suffit de citer – mais
vôts, ou seja, nome que se dava a certos oficiais ou le références pourront être innombrables – l’art. 11 du
magistrados encarregados de uma jurisdição durante cahier du Tiers-état d’Amiens: ‘que nulle personne ne
o Ancièn Régime. (nota do tradutor). puisse être jugée, en matière civile et criminelle, que
15
Cours prévôtales – eram tribunais excepcionais par ses juges naturels; et qu’à cet effet, il ne puisse être
criados em diversas épocas especialmente em 1815 e établi aucune commission extraordinaire’. Ce fut donc
que julgavam sem a possibilidade de se recorrer das presque l’unanimité des cahiers à exiger l’interdition
suas decisões. (nota do tradutor). des évocation et des commissions judiciaires. Cela

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A posição de Jean-Pierre Royer (1995, na de 1793 (Constituição do Ano I – 1a Re-
p. 477), professor emérito da Université de pública, de 24.06.179317) estivesse ausente
Lille, não deixa muita dúvida sobre os estra- e isso pudesse ser um prenúncio do que
gos que qualquer abertura à manipulação viria como embate, pela frente, inclusive
propicia, razão por que o arrependimento em razão das regras de 1814. De qualquer
(“l’un des plus mauvais souvenirs de modo, tais regras são interessantes pelo
l’histoire de la justice”), como resultado da menos por dois motivos: de um lado, con-
memória, não dá conta da situação daqueles solidam o princípio e, por outro (embora
que padeceram do “golpe” retórico e, por não se tenha isso muito em consideração),
evidente, o testemunho do ocorrido, por denunciam desde logo a manipulação que
melhor que seja, nunca é fiel, mais ou me- se pode fazer, em qualquer texto, na via da
nos o que sucedeu com der Musellmann (os interpretação.
Muçulmanos) dos Campos de Concentra- Assim, a partir de então, houve uma
ção da 2a Guerra Mundial, particularmente expansão do princípio para as legislações
Auschwitz (AGAMBEN, 1998, p. 37-80). européias e, em particular, aquelas consti-
Daí que o princípio do juiz natural se tucionais. Por isso, foi introduzido, como
consolidou, apesar de tudo, na Constituição regra, para os italianos (para ficar em um só
de 1814 (art. 62 e 63), em França, embora exemplo), pelo Statuto Albertino, de 184818,
a conhecida Constituição de Carlos Alberto
est confirmé par l’absence d’opposition auprès de la
de Savoya, da Sardegna. O princípio, dessa
Constituante qui, avec la loi de 16-24 août 1790 et la
Constitution de 1791, établit formellement le principe forma, nunca mais saiu dos textos consti-
du juge naturel considéré, grâce à sa valeur – pour ainsi tucionais verdadeiramente democráticos,
dire – ‘neutre’, soit par la ‘droite’, soit par la ‘gauche’ de embora nem sempre tenha sido respeitado;
l’Assemblée, une des garanties judiciaires essentielles.
Il faut souligner qu’au droit au juge naturel on pouvait e siga sendo desrespeitado em nome de
en effet donner une interprétation ‘conservatrice’ ou verdades pequenas e conceitos vazios.
‘libérale’: la critique des Parlements et des États, qui se Na Itália, como se sabe, o Projeto do
référait aux libertés médiévales et à la défense des privi-
Codice di Procedura Penale foi de Vincenzo
lèges traditionnels, se rapprochait dans ce domaine de
la critique libérale de la philosophie des Lumières, qui Manzini e, para não restar dúvida, Cordero
visait la réalisation de l’État constitutionnel et ainsi une (1986, p. 98-100) analisa-o citando os “Lavori
effective sécurité juridique. [...] Dans le texte définitif de preparatori del codice penale e del codice di pro-
la Charte, du 4 juin 1814, la discipline de l’institution est
colloquée dans deux différents articles: l’art. 62 (‘nul ne cedura penale, v. VIII, Progetto preliminare
pourra être distrait de ses juges naturels’) et l’art. 63 (‘il di un nuovo codice di procedura penale con
ne pourra en conséquence être créé de commissions et la relazione del Guardasigilli on. Alfredo
tribunaux extraordinaires. Ne sont pas comprises sous
Rocco, Roma, 1929, 7”. Manzini, seguindo
cette dénomination les juridictions prévôtales, si leur
rétablissement est jugé nécessaire’). [...] La possibilité o dispositivo do art. 6519 das Disposizioni
d’instituer des Cours prévôtales fut effectivement
utilisée avec la loi du 20 décembre 1815. Ces Cours –
17
Disponível em: <http://www.conseil-constitu-
comme l’a affirmé Jean-Pierre Royer – constituèrent tionnel.fr/textes/constitution/c1793.htm> (Declara-
‘un appareil judiciaire solidement composé et panaché ção dos Direitos do Homem e do Cidadão).
de civils et de militaires [qui] eut à traiter d’affaires
18
“Art. 71. Niuno può essere distolto dai suoi
multiples qui rentaient dans une compétence de plus Giudici naturali. Non potranno perciò essere creati
floue et qui laissera, après sa suppression en 1818, l’un Tribunali o Commissioni straordinarie”. “Ninguém
des plus mauvais souvenirs de l’histoire de la justice’. pode ser afastado de seus Juízes naturais. Não podem,
[...] La doctrine juridique était donc substantiellement portanto, ser criados Tribunais ou Comissões extraor-
unanime dans la condamnation des violations du dinárias.” (tradução livre).
principe du juge naturel, dans l’affirmation de la 19
“Las disposiciones de aplicación y transitorias
nécessité d’eliminer la dérogation prevue par l’art. 63 para el Código de procedimiento penal (art. 65, pará-
de la Charte et d’améliorer le système des garanties grafos primero y segundo) establecen, precisamente,
juridictionnelles.” Tal texto pode ser encontrado em: que los actos ya cumplidos a tenor del código abro-
Juges et Criminels. Etudes en hommage à Renée Martinage. gado conservan su validez originaria, sin excluir las
Lille: L’Espace Juridique, 2001, p. 465-474. pruebas”. (“As disposições de aplicação e transitórias

Brasília a. 45 n. 179 jul./set. 2008 171


transitorie do Regio decreto 28 maggio 1931, 1824. Em seu art. 179, XI e XVII22, tratava da
n. 602 (que dispunha sobre as Disposizioni matéria já para abarcar sua efetiva extensão
di attuazione del codice di procedura penale), e, assim, prescrevia ser o juiz natural o juiz
não deixa dúvida ao admitir a aplicação de competente. Depois, em nunca se tendo
lei processual nova, de qualquer natureza, chamado a ele pelo nome, tratou-se da ma-
inclusive sobre competência, salvo dispo- téria em 189123, 193424, 196725 e 196926, não se
sição expressa em contrário20. fazendo apenas na Constituição de 1937.
Normal, assim, que o princípio do Juiz O problema, como parece sintomático,
Natural não ganhasse o devido espaço, já a denunciar a Filosofia da Consciência no
muito menos no essencial, ou seja, evitar espaço jurídico e as mazelas que levaram à
que se altere a competência depois de estar sua paulatina superação desde as primeiras
fixada; mas aí, é inútil dizer, não haveria décadas do século XX até os dias atuais, é
espaço à manipulação dos órgãos juris-
dicionais e poderia estar comprometida a 22
Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e
Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a
Raison d’État, o que pode ter sido, de fato,
liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é
o problema brasileiro. garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira
Mudar a competência depois de ter sido seguinte: XI. Ninguem será sentenciado, senão pela
ela fixada só cabe para violar o princípio Autoridade competente, por virtude de Lei anterior,
de garantia individual, seja para beneficiar e na fórma por ella prescripta; XVII. À excepção das
Causas, que por sua natureza pertencem a Juizos
alguns, seja para prejudicar outros, seja por particulares, na conformidade das Leis, não haverá
puro comodismo. A matriz, todavia, é sem- Foro privilegiado, nem Commissões especiaes nas
pre fascista e, no nosso caso, não permite a Causas civeis, ou crimes.
efetivação necessária da Constituição da
23
Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos di-
República, dado colocar um véu sobre a de- reitos concernentes à liberdade, à segurança individual
mocracia. Pecado, não obstante tudo, foi a e à propriedade, nos termos seguintes: § 15 – Ninguém
adesão irrestrita de Frederico Marques21. será sentenciado senão pela autoridade competente, em
No Brasil, como sói acontecer, aparece virtude de lei anterior e na forma por ela regulada.
24
Art. 113. A Constituição assegura a brasileiros
– e sempre apareceu – como “promessa”
e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
(logo: palavras!) já na primeira constituição, dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência,
isto é, aquela imposta pelo imperador em à segurança individual e à propriedade, nos termos
seguintes: § 25 – Não haverá foro privilegiado nem
para o Código de processo penal – art. 65, parágrafos Tribunais de exceção; admitem-se, porém, Juízos
primeiro e segundo – estabelecem, precisamente, que especiais em razão da natureza das causas; § 26 – Nin-
os atos já cumpridos à luz do código revogado conser- guém será processado, nem sentenciado senão pela
vam sua validade originária, sem excluir as provas.”) autoridade competente, em virtude de lei anterior ao
(MANZINI, 1951, p. 229, tradução livre). fato, e na forma por ela prescrita.
20
“Puesto que, como varias vezes lo hemos in- 25
Art. 150. A Constituição assegura aos brasileiros
dicado, los principios generales relativos al derecho e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
transitorio procesal penal valen para toda ley judicial, se dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segu-
aplican ellos, en ausencia de expresas disposiciones con- rança e à propriedade, nos têrmos seguintes: § 12 –
trarias, también en relación a las leyes que modifican las Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por
circunscripciones territoriales judiciales”. “Porquanto, ordem escrita de autoridade competente. A lei disporá
como várias vezes temos indicado, os princípios gerais sobre a prestação de fiança. A prisão ou detenção de
relativos ao direito transitório processual penal valem qualquer pessoa será imediatamente comunicada ao
para toda lei judicial, eles se aplicam, na ausência de Juiz competente, que a relaxará, se não for legal; § 15
expressas disposições em contrário, também em relação – A lei assegurará aos acusados ampla defesa, com os
às leis que modificam as circunscrições territoriais judi- recursos a ela inerentes. Não haverá foro privilegiado
ciais.” (MANZINI, 1951, p. 239, tradução livre) nem Tribunais de exceção.
21
“A norma processual penal que entra em vigor 26
Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros
também se aplica, imediatamente, nas questões de e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
competência, quer sejam reguladas por leis proces- dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à seguran-
suais, quer disciplinadas pelas de organização judi- ça e à propriedade, nos têrmos seguintes:  § 15 – (...) Não
ciária”. (MARQUES, 1965, p. 46) haverá fôro privilegiado nem tribunais de exceção.

172 Revista de Informação Legislativa


o descompromisso – e a impossibilidade A questão há de ser discutida, então, a
– da sustentação da relação sujeito-objeto. partir do que vem a ser juízo competente.
Aí está a razão pela qual os nomes, em A competência (material, territorial ou fun-
não dando conta dos bois, denunciavam a cional, na clássica divisão de Chiovenda)
fraude emitida pelos intérpretes, em perene é sempre matéria de lei, a começar pela
saudosismo, expresso ou tácito, consciente Constituição da República e até os últimos
ou inconsciente, do velho regime, agora atos da hierarquia legal. Neste sentido, o
travestido em argumentos retóricos de de- juízo competente vem delimitado – em
fesa de outros interesses e, em ultima ratio, consonância com a CF – pelo CPP, a partir
aqueles dos deuses detentores do poder. do art. 69.
Expressava-se – e se expressa –, assim, com Ora, é o princípio do juiz natural, como
muita clareza, aquilo que Ortega y Gasset, se sabe, que impede a aplicação plena do
ao tratar da Revolução Francesa, chamou de art. 2o, do CPP28 (quando a modificação
a substituição do príncipe pelo princípio. diz respeito à competência as regras só
O legislador constituinte brasileiro de têm incidência para o futuro e em outros
1988 não tratou expressamente do princí- casos), justo porque ela, a competência, já
pio, como haviam feito os europeus conti- está fixada, no local da consumação do crime
nentais após a Revolução Francesa, de um ou, no caso de tentativa, no local do último ato
modo geral, exatamente para que se não de execução (art. 70, do CPP). As regras do
alegasse não estar inserido nele a questão Código são, sem dúvida, a manifestação
referente à competência. Ao contrário, por mais lídima do princípio constitucional.
exemplo, do art. 25, da Constituição Italiana Essa é a razão elementar pela qual a com-
atual, em vigor desde 01.01.48 (“Nessuno petência é exclusiva de quem a detém e exclu-
può essere distolto dal giudice naturale dente dos demais, tudo de modo a se chegar,
precostituito per legge”), preferiu nosso a partir dos critérios de sua distribuição, a
um juízo único para o ato processual – ou
legislador constituinte, seguindo o alerta
atos –, ou seja, o juiz natural. Nada, porém,
da nossa melhor doutrina, em face dos
de difícil compreensão. É como se o crime
acontecimentos ocorridos no país e pro-
“agarrasse” o juiz, mutatis mutandis como
fundamente conhecidos (veja-se a atuação
na sucessão e o conhecido droit de saisine: le
do Ato Institucional no 2, de 27.10.65, e a
serf mort saisit le vif, son hoir de plus proche,
discussão no STF a respeito da matéria,
ou, como na fórmula mais conhecida: le
com seus respectivos resultados práticos27),
mort saisit le vif29.
tratá-la de modo a não deixar margem às
Ao que parece, não há no mundo quem
dúvidas, como garantia constitucional do
melhor trate dessa matéria, pela profundi-
cidadão, no art. 5o, LIII: “ninguém será
dade dogmática e clareza, que o professor
processado nem sentenciado senão pela Jorge de Figueiredo Dias (1974, p. 328-329),
autoridade competente”.
Parte considerável de nossa doutrina – e 28
Art. 2o  A lei processual penal aplicar-se-á desde
a reboque a jurisprudência –, no entanto, logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob
quiçá por não se dar conta da situação, a vigência da lei anterior.
29
“Na Idade Média, institui-se a praxe de ser
mormente após a definição constitucional, devolvida a posse dos bens, por morte do servo, ao
continua insistindo que a matéria referente seu senhor, que exigia dos herdeiros dele um paga-
à competência não tem aplicação no princí- mento, para autorizar a sua imissão. No propósito de
defendê-lo dessa imposição, a jurisprudência no velho
pio em discussão. Em verdade, o que se está
direito costumeiro francês, especialmente no Costume
a negar, aqui, é a própria CF, empeçando-se de Paris, veio a consagrar a transferência imediata
a sua efetivação. dos haveres do servo aos seus herdeiros, assentada
a fórmula: Le mort saisif le vif, son hoir de plus proche”.
27
V. sobre o tema: COUTINHO, 2001, p. 204. (PEREIRA, 2001, p. 13)

Brasília a. 45 n. 179 jul./set. 2008 173


sempre fundado nos pressupostos cons- determinação desta espécie de competência
titucionais de seu país, de todo aplicados se relaciona assim, primariamente, com a
ao entendimento brasileiro. Esclarece ele função jurisdicional a desempenhar pelos
“que o princípio do ‘juiz natural’ visa, entre tribunais segundo a sua categoria, costu-
outras finalidades, estabelecer uma organi- ma a doutrina abrangê-la no designativo
zação fixa dos tribunais”, mas ela “não é ainda comum de competência funcional” (DIAS,
condição bastante para dar à administração 1974, p. 329-331).
da justiça – hoc sensu, à jurisdição – a ordena- O autor estuda a matéria, de forma ir-
ção indispensável que permita determinar, reparável, dizendo, com razão, ter ela que
relativamente a um caso concreto, qual o ser observada em um tríplice significado:
tribunal a que, segundo a sua espécie, deve 1o) no plano da fonte (só a lei pode instituir
ser entregue e qual, dentre os tribunais da o juiz e fixar-lhe a competência); 2o) no
mesma espécie, deve concretamente ser plano temporal (a fixação do juiz e da sua
chamado a decidi-lo”. competência devem ser estabelecidas por
Assim, faz-se necessário regulamentar lei vigente já ao tempo em que foi praticado
o “âmbito de actuação de cada tribunal, de o crime do qual o caso penal será conteúdo
modo a que cada caso penal concreto seja ape- do processo)30; 3o) plano da competência (a
nas deferido a um único tribunal: é nisto que lei, anterior ao crime, deve prever taxativa-
se traduz a determinação da competência mente a competência, de modo a impedir
em processo penal. (...). A determinação os chamados Tribunais ad hoc e, portanto,
em concreto do tribunal competente para as ditas jurisdições de exceção) (DIAS, 1974,
o conhecimento e decisão de um caso penal p. 322-323). Tal posição é partilhada pela
não é questão que possa ser respondida uno doutrina européia31, o que só faz reforçar
actu, antes implica a resposta a três pergun-
tas estruturalmente diferentes: a) Qual o 30
Sobre o tema, imprescindível ver SINISCALCO,
1969, p. 126.
tribunal que, segundo a sua espécie (...) deve 31
Ver, neste sentido: CORDERO, Franco. Guida
conhecer de um caso penal de certa natureza alla procedura penale. Torino: UTET, 1986, p. 111; _____.
(...)? Trata-se aqui do problema da deter- Procedura Penale. 5a ed. Milano: Giuffrè, 2000, p. 109 e
minação da competência material. b) Qual ss; BELLAVISTA, Girolamo, TRANCHINA, Giovani.
Lezioni di diritto processuale penale. 9a ed. Milano: Giuffrè,
o tribunal que, entre os da mesma espécie 1984, p. 186-188; CHIAVARIO, Mario. La riforma del
materialmente competente para o caso, processo penale: appunti sul nuovo codice. 2a ed. Torino:
deve, segundo sua localização no território, UTET, 1990, p. 63; PISANI, M., MOLARI, A., PERCHI-
ser chamado para conhecer e decidir con- NUNNO, V., CORSO, P. Manuale di Procedura Penale. 5a
ed. Bologna: Monduzzi, 1996, p. 25-27; ROXIN, Claus.
cretamente de um certo facto? É o problema Derecho procesal penal. Tradução de Júlio Maier. Buenos
da determinação da competência territorial. Aires: Editores Del Puerto, 2000, p. 31; SCHLÜCHTER,
c) A determinação da competência relativa Ellen. Derecho procesal penal. (Rev. trad. Iñaki Esparza
aos dois índices apontados – material e ter- Leibar e Andrea Planchadell Gargallo) 2a ed. Valencia:
Tirant lo Blanch; Thüngersheim, Frankfurt (Main):
ritorial – é feita pela lei tendo em atenção EuWi-Verlag, 1999, p. 17; SILVA, Germano Marques
o desenvolvimento inicial do caso e, assim, da. Curso de Processo Penal. v.1. Lisboa: Editorial
o seu processamento em primeira instância. Verbo, 1993, p. 50-52; PENALVA, Ernesto Pedraz.
Há pois que responder a uma terceira ques- Derecho Procesal Penal: Principios de Derecho Procesal
Penal. Tomo 1. Madrid: Editorial Colex, 2000, p. 190;
tão, qual é a de determinar o tribunal (ou NAVARRETE, Antonio Ma Lorca. Derecho Procesal
tribunais) competente(s) para o desenvol- Penal. 2a ed. Madrid: Tecnos, 1986, p. 38-9; MÉNDEZ,
vimento do processo ou de singulares actos Francisco Ramos. El proceso penal: sexta lectura consti-
processuais fora da atividade cognitiva de tucional. Barcelona: Bosch, 2000, p. 41; MERLE, Roger;
VITU, André. Traité de Droit Criminel. Tomo 2. 4a ed.
primeira instância (competência hierárquica), Paris: Éditions Cujas, 1979, p. 652; STEFANI, Gaston;
ou – dentro da mesma instância – para certas LEVASSEUR, Georges; BOULOC, Bernard. Procédure
fases da prossecução processual. E pois que a Pénale. 14a ed. Paris: Dalloz, 1990, p. 498.

174 Revista de Informação Legislativa


a tese de se estar, no Brasil, fora da ordem Paradigmática, aqui, é a decisão cancelando
constitucional ocidental, na qual se consa- a Súmula 394, pelo e. STF, no qual foi Rela-
grou a garantia. tor o ilustre Ministro Sydney Sanches.32
Pensamento diverso, aliás, poderia O problema é que, para se fazer efetiva
abrir um precedente capaz de possibilitar a regra constitucional, há que pagar um
a escolha de um juiz “mais interessante” preço, o preço da democracia. Mas não é
para o julgamento de determinados casos isso que se quer; ou faz; pelo menos em
penais, depois de os crimes terem aconteci- relação àquelas regras não muito interes-
do, segundo critérios pessoais (mais liberal santes ao intérprete. Não é estranho, assim,
ou mais conservador, por exemplo), o que que se criem comarcas e elas já “nasçam”
pode apontar na direção da suspeita da sua superlotadas; que se criem comarcas, por
imparcialidade (em juízo a priori, natural- desmembramento, nas quais vão intervir
mente), algo sempre abominado. juízes substitutos, em estágio probatório e
É preciso ressaltar, ainda, que o princípio quiçá com menos experiência; que se criem
da identidade física do juiz não se confunde varas para “melhor combater certo tipo de
com o princípio do Juiz Natural. Como dito, crime” (como se coubesse aos juízes que
por este, ninguém poderá ser processado ou para lá vão tal mister), excluindo a compe-
tência daqueles para os quais ela já havia
sentenciado por juiz incompetente, ou seja,
sido determinada conforme a CF e o CPP; e
o juiz natural é o juiz competente, aquele que
assim por diante. Por certo, não é assim que
tem sua competência legalmente preestabelecida
se avança – e olhe-se que já vão mais de 20
para praticar algum ato processual ou julgar
anos da CF – na consolidação constitucional
determinado caso concreto. E por aquele (o
e efetivação democrática. Quando o assun-
princípio da identidade física) assegura-se
to é desse porte, só não pode prevalecer a
aos jurisdicionados a vinculação da pessoa
aurea mediocritas, dado se tratar de matéria
do juiz ao processo. Assim, por exemplo,
fundamental à fixação do grau de civilidade
pelo disposto no Código de Processo Civil,
de um povo, como precitado.
o juiz competente responsável pela conclu-
Assim sendo, segue-se manipulando,
são da audiência de instrução e julgamento
pela via da interpretação, o conteúdo das
se vincula ao processo e deverá, então,
regras constitucionais, tudo de modo a, de-
julgar a lide. Resta claro, destarte, que os
princípios supracitados não se confundem 32
STF, Inq 687-QO, Rel. Min. Sydney Sanches, j.
e que o art. 132, do CPC, refere-se tão-só ao 25/8/1999, in RTJ 179/912. Como devem recordar
princípio da identidade física do juiz. No todos, o e. STF, depois de fixada a competência – e
quiçá porque o caso fosse muito complexo e tivesse
processo penal brasileiro, todavia, jamais tido uma grande repercussão, o que não diz nada para
teve ele aplicação, pela própria natureza o deslinde da questão, embora, infelizmente, possa ter
do sistema adotado, embora seja tema de dito –, decidiu por “se livrar” dela, declinando-a. Tal
grandes discussões. julgamento, sem embargo de não ter sido o primeiro
e nem o último nessa matéria, foi paradigmático em
Por ser regra constitucional, o princípio razão de se ter, de certa forma, “liberado” a todos para
do juiz natural (art. 5o, LIII c.c XXXVII) não dizerem – e fazerem – qualquer coisa sobre a matéria,
comportaria, depois de 1988, maiores dis- um pouco no melhor estilo “vale tudo” desde que seja
cussões, se se quisesse respeitar o Estado justificável retoricamente a violação da Constituição.
Em tal tema, como referido, não tem meio termo:
Democrático de Direito. Não é bem assim,
fixada a competência, tem-se o juiz natural; e não se
porém. A cada dia, usando-se abusivamente mexe mais! Todas as soluções aos problemas surgidos,
o que se poderia chamar de “direito sagra- mormente funcionais (o acúmulo de processos em
do à disposição do vazio hermenêutico”, uma Vara, Câmara ou Turma, como se deu, não raro,
arquitetam-se e executam-se novas diatribes com os casos em que eram réus prefeitos municipais,
ocorridos antes da CF/88), passam por outras solu-
contra o princípio, por infindáveis motivos, ções, mas não se pode desrespeitar a CF, sob pena de ela
mormente a comodidade do Poder Judiciário. não ser efetiva nunca, por força do casuísmo.

Brasília a. 45 n. 179 jul./set. 2008 175


pois do crime, alterar-se a competência dos Trata-se, como se vê, de princípio in-
órgãos jurisdicionais, com isso alcançando timamente relacionado com o Estado De-
casos pretéritos. A garantia (sim – repita-se mocrático de Direito o qual, não tendo ele
–, trata-se de uma garantia constitucional!), concreta aplicação, não se efetiva e, assim,
como água, escapa entre os vãos dos dedos. ajuda sobremaneira a se consolidarem as
Afinal, pode-se burlar o juiz natural tanto mais diversas injustiças.
para beneficiar réus como para prejudicar
réus quando, pelo princípio, o que se não
quer – e não se pode admitir – é a burla. Referências
Em suma: fixadas as regras do jogo, não
mais se modificam, como se sabe da fonte AGAMBEN, Giorgio. Quel che resta de Auschwitz:
histórica do princípio, voltado a garantir a l’archivio e il testimone. Torino: Bollati Boringhieri,
1998.
isonomia para todos os acusados. Assim,
ninguém deve deixar de saber, de antemão, ARAÚJO, Luiz Alberto David de. Curso de direito
constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
quais os órgãos jurisdicionais que intervi-
rão no processo. Isso não significa engessar ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito: introdução e
teoria geral. Lisboa: Gulbenkian, 1978.
o sistema, até porque a lei nova, tratando da
competência, por certo, terá lugar, mas tão-só da ASCENSÃO, José de Oliveira. O direito: introdução e
teoria geral. 11.ed. Coimbra: Almedina, 2001.
sua vigência em diante, não retroagindo para
alcançar casos penais com competência já BARROSO, Luís Roberto. O direito constitucional e
fixada ao juiz natural, o que afasta o prin- a efetividade de suas normas: limites e possibilidades
da Constituição brasileira. Rio de Janeiro: Renovar,
cípio do imediatismo expresso no art. 2o, do 1993.
CPP. Eis, então, uma das razões pelas quais
BELLAVISTA, Girolamo; TRANCHINA, Giovani.
o legislador, em casos de alterações legisla- Lezioni di diritto processuale penale. 9. ed. Milano:
tivas mais amplas (como a mudança de um Giuffrè, 1984.
código inteiro), com freqüência inusitada – BETTIOL, Giuseppe. Instituições de direito e processo
a ponto de quase se afastar ou, pelo menos, penal. Tradução de Manuel da Costa Andrade. Coim-
pensar-se que se não trata de exceção –, bra, 1974.
prescreve regras de direito intertemporal, BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa
embora para ele, como é primário, também das regras do jogo. São Paulo: Paz e Terra Política,
prevaleça – e dava prevalecer – o princípio 1986.
constitucional; logo, não pode, por motivo CALAMANDREI, Piero. La costituzione e le leggi per
algum, invadir a competência já fixada. attuarla. Milano: Giuffrè, 2000.
Isso evoca, sabe-se bem, um sem número CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitu-
de problemas práticos, mas não há solução cional e teoria da constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina,
adequada e democrática para eles senão 2002.
com o respeito incondicional do referido CHIAVARIO, Mario. La riforma del processo penale:
princípio. Enfim, a democracia é uma con- appunti sul nuovo codice. 2.ed. Torino: UTET, 1990.
quista e, para tê-la, sucumbe-se ao limite e, CORDERO, Franco. Guida alla procedura penale. Torino:
de conseqüência, ao recalque (como muito UTET, 1986.
bem mostrou Freud), porque é só assim ______. La riforma dell’istruzione penale. Rivista italia-
que se deseja. Ao desejo, porém, e sua satis- na di diritto e procedura penale. Milano: Giuffrè, 1963.
fação (sempre parcial, diga-se desde logo), COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Crime con-
quando verificada como conquista, há de se tinuado e unidade processual. Estudos criminais em
pagar o preço da sujeição às regras, à cultura homenagem a Evandro Lins e Silva. São Paulo: Editora
Método, 2001.
(Lévi-Strauss, 1982, p. 41-49)33.
______. Dogmática crítica e os limites lingüísticos da
33
Ver quanto à Psicanálise, p. 531-33. lei. Diálogos Constitucionais: direito, neoliberalismo e

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