RETIRO CASTELLAZZO

QUARESMAL
2023

Família Passionista do Brasil

Coordenação
Religioso Vitcor Franco Soares, CP
Mosteiro São Paulo da Cruz

Reflexões
Pe. José Rocha Cavalcanti Filho

Capa e Diagramação
Religioso FaustoSilva Barros, CP
 ÍNDICE
Apresentação...............................................................
Introdução...................................................................
Roteiro para a celebração comunitária........................
Semana introdutória....................................................
1ª Semana da Quaresma.............................................
2ª Semana da Quaresma............................................
3ª Semana da Quaresma............................................
4ª Semana da Quaresma.............................................
5ª Semana da Quaresma.............................................
Semana Santa.............................................................
Via Sacra.......................................
Hora Santa Vocacional..................................................
Cantos ........................................................................
APRESENTAÇÃO
Queridos irmãos e irmãs,
Em nossos dias, não é necessário muito esforço para concluir que o
mundo criado por Deus está distante daquilo que o Criador sonhou para sua
obra. A todo momento nos chegam notícias de diversos lugares, mostrando
os dramas vividos por pessoas e sociedades, que evidenciam o quanto nos
afastamos do projeto divino. Também muito próximo de nós, no nosso dia a
dia, com pessoas com as quais nos relacionamos, famílias que conhecemos,
grupos que frequentamos, percebemos lutas, dores, desentendimentos,
fracassos, que não podemos atribuir à vontade de Deus. Sem falar que,
também dentro de nós, constatamos conflitos, contrastes, incoerências,
contradições que revelam a distância que existe entre o nosso modo de viver
e conviver e o projeto que Deus sonhou para nós.
A Quaresma que a Igreja, mais uma vez, nos apresenta é uma
possibilidade de reverter esse caminho de distanciamento, transformando-o
em oportunidade de reencontro com os planos do Criador. Mais um convite
que o Senhor dirige ao nosso coração, lembrando-nos que seu Amor
misericordioso está sempre pronto a acolher os nossos menores esforços
para nos tornarmos dignos de sermos chamados seus filhos. Animados pelo
amor do Pai que nos aguarda, com olhar ansioso para vislumbrar a nossa
chegada (Lc 15,20), nos dispomos, com alegria, a fazer esse caminho de 40
dias, em comunhão com toda a Igreja.
Para nos auxiliar neste caminho, iluminando a nossa mente,
aquecendo o nosso coração e encorajando a nossa vontade, a Família
Passionista, mais uma vez, nos oferece um subsídio que tem o objetivo de
favorecer o nosso processo de conversão. Desde já, agradecemos a equipe
que tem se dedicado a elaborar este material, contando com a colaboração
de vários membros da Família, ampliando a cada ano que passa a
participação dos diversos grupos.
O tema deste ano, “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir!”
(Jr 20,7), ilumina esta experiência de conversão, ajudando-nos a reconhecê-
la não como um esforço humano em direção a Deus, mas como um deixar-
se conduzir, atraídos por um chamado que foi plantado em nosso coração.
Um chamado que é aberto a todos, em qualquer condição e estado de vida.
Conhecer o caminho já percorrido por quem se abriu a esta experiência, nos
ajudará a refletir, reler, confrontar o nosso dia a dia e assim celebrar a
bondade do nosso Deus, Misericórdia infinita. Somos convidados a
aprofundar, despertar, reavivar em nós a atitude de escuta, a sensibilidade
para perceber os vários modos através dos quais o Senhor nos interpela e
nos atrai; dispondo-nos a deixar-nos seduzir, seremos transformados pela
sua graça e seremos luz para outros que caminham conosco.
Iniciemos juntos este percurso, confiantes e esperançosos,
preparando a festa da Páscoa, que será ainda mais rica de sentido se
assumirmos também os compromissos de partilha e solidariedade propostos
pela Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é: Fraternidade e
Fome, com o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer”!. Deixando-nos
confrontar pela Palavra de Deus e pelos apelos da história, vamos
construindo fraternidade a partir dos pequenos gestos, das mais simples
opções do cotidiano. Bom caminho quaresmal a todos!
Ir. Denise Coutinho Gomes, CP
Coordenadora da Família Passionista - Brasil
INTRODUÇÃO
Caríssimos(as) retirantes,
A Igreja nos convida a uma profunda experiência de libertação e conversão
no período quaresmal, somos conduzidos pelo próprio Deus e Pai a trilhar
um caminho espiritual, sustentado pela oração, penitência e caridade. Nosso
peregrinar passa pelo Calvário com meta à vida Plena da Ressurreição.
Como cristãos somos sempre vocacionados pelo Mistério Pascal: sua
Paixão nos compele, sua Ressurreição nos confirma.
São Paulo da Cruz no ano de 1720 na Igreja de São Carlos, na cidade de
Castellazzo, viveu um retiro de quarenta dias que produziu nele a inspiração
de viver uma Regra de vida pautada pela experiência de fazer contínua
Memória da Paixão. Nossa Família Passionista no Brasil inspira-se neste
momento da vida de São Paulo da Cruz e propõe uma vivência quaresmal a
partir do testemunho de vida e escritos dos santos, beatos e veneráveis de
nosso Carisma. Neste ano de 2023 seremos acompanhados durante o retiro
por homens e mulheres que foram apaixonados pelo Carisma Passionista,
eles ofertaram suas vidas de forma intensa e generosa para vivê-lo com
dignidade, produzindo frutos espirituais.
Esta é a grande novidade do Retiro de Castellazzo Quaresmal 2023, ele
reune escritos de inúmeros homens e mulheres reconhecidos como
verdadeiras testemunhas de vivência de nosso carisma na Igreja, são eles: Ir.
Antonieta Farani, Madalena Frescobaldi, Beato Domingos da Mãe de Deus,
Beato Bernardo Silvestrelli, Madre Maddalena Marcucci, Venerável João
Batista de São Miguel, São Vicente Maria Strambi, Santa Gemma Galgani e
São Gabriel de Nossa Senhora das Dores.
O Retiro de Castellazzo Quaresmal 2023 quer ser para todos nós um
instrumento e uma oportunidade de encontro com o Crucificado-
Ressuscitado, que nos ajuda a voltar ao primeiro amor vocacional: “Eis que
vou te conduzir ao deserto e falar-te-ei ao coração. Assim me responderás
como nos tempos de tua juventude” (cf. Os 2,16-17). Somos conduzidos
pelo próprio Deus a uma experiência de intimidade, solidão, oração e
encontro pessoal com Jesus Cristo. Este encontro profundo e divino é capaz
de transformar todo o nosso ser, porque Jesus habita a partir dele em nosso
coração.
Nossas reflexões foram inspiradas no 3º Ano Vocacional do Brasil que tem
como tema: “Vocação: graça e missão” e lema: “Corações ardentes, pés a
caminho” (cf. Lc 24.32-33). Somos todos vocacionados e vocacionadas,
discernindo nossa vocação de batizados e servidores na comunidade
eclesial, compreendemos a partir das reflexões deste ano vocacional que
todo chamado de Deus é verdadeiramente marcado pela graça, sendo um
Dom de Deus para a comunidade.
Que São Paulo da Cruz, os Santos Passionistas e toda a Família Passionista
nos iluminem com seus escritos, sabedoria e testemunho neste Retiro.
Desejamos uma santa quaresma e uma profunda experiência de libertação.
“Que a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e as Dores de Maria
Santíssima estejam sempre gravadas em nossos corações!”.
ROTEIRO PARA A CELEBRAÇÃO COMUNITÁRIA
E INDIVIDUAL
• MANTRA (cantado): “Senhor, eu vos agradeço por terdes
morrido na Cruz (bis), por meu amor. Vos agradeço, Senhor!
• SILÊNCIO
• ORAÇÃO INICIAL (composta por São Paulo da Cruz):
Ó, Espírito Santo, amor do Pai e do Filho, queima-me todo de
amor. Ó, Espírito de infinita luz, de infinita doçura, venha ao meu
coração! Venha, ó Bem infinito! Venha, ó Amor imenso! Venha, ó
verdadeiro e único Deus com o Pai e com o Filho! Venha, ó
Caridade imensa a alojar-se neste pobre coração arrependido!
Venha, ó meu Amor! Venha, ó minha doçura, ó minha Luz, ó minha
vida, meu conforto, meu tesouro, minha riqueza, o meu verdadeiro
bem, minha esperança, o meu Deus, o meu Tudo! Venha, que
definho de amor. Venha, que não posso mais sofrer por não vos
amar! Venha queimar-me até a medula dos ossos. Amém.

• HINO: à escolha nas páginas...

• SALMO, LEITURAS, REFLEXÂO: próprios para cada dia da

semana que devem ser intercalados com silêncio e mantras para
ajudar na interiorização.

• MAGNIFICAT: (Lc 1,46-55)

A minha alma engrandece ao Senhor *
e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador;
pois ele viu a pequenez de sua serva, *
desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita.
O Poderoso fez por mim maravilhas *
e Santo é o seu nome!
Seu amor, de geração em geração, *
chega a todos que o respeitam;
demonstrou o poder de seu braço, *
dispersou os orgulhosos;
derrubou os poderosos de seus tronos *
e os humildes exaltou;
De bens saciou os famintos, *
e despediu, sem nada, os ricos.
Acolheu Israel, seu servidor, *
fiel ao seu amor,
como havia prometido aos nossos pais, *
em favor de Abraão e de seus filhos, para sempre.
– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
ORAÇÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2023
Pai de bondade, ao ver a multidão faminta, vosso Filho encheu-se de
compaixão, abençoou, repartiu os cinco pães e dois peixes e nos
ensinou: “dai-lhes vós mesmos de comer”.
Confiantes na ação do Espírito Santo, vos pedimos: inspirai-nos o sonho de
um mundo novo, de diálogo, justiça, igualdade e paz; ajudai-nos a promover
uma sociedade mais solidária, sem fome, pobreza, violência e guerra; livrai-
nos do pecado da indiferença com a vida.
Que Maria, nossa Mãe, interceda por nós para acolhermos Jesus Cristo em
cada pessoa, sobretudo nos abandonados, esquecidos e famintos. Amém.
ORAÇÃO DO 3º ANO VOCACIONAL DO BRASIL
Senhor, Jesus, enviado do Pai e Ungido do Espírito Santo, que fazeis os
corações arderem e os pés se colocarem a caminho, ajudai-nos a discernir a
graça do vosso chamado e a urgência da missão.
Continuai a encantar famílias, crianças, adolescentes jovens e adultos, para
que sejam capazes de sonhar e se entregar, com generosidade e vigor, a
serviço do Reino, em vossa Igreja e no mundo.
Despertai as novas gerações para a vocação aos Ministérios Leigos, ao
Matrimônio, à Vida Consagrada e aos Ministérios Ordenados.
Maria, Mãe, Mestra e Discípula Missionária, ensinai-nos a ouvir o
Evangelho da Vocação e a responder com alegria. Amém!
SEMANA INTRODUTÓRIA
Quaresma é tempo de fazer memória, tempo de trazer de novo ao coração
da Igreja e do mundo a Paixão, obra mais estupenda do amor de Deus que
impulsiona à conversão e transformação.
Seduzidas e seduzidos pelo Crucificado por amor, iniciamos esse tempo
forte de oração, penitência e ressignificação da nossa vida/vocação
renovando o compromisso de deixar o nosso coração arder na escuta da
Palavra e os nossos pés a caminho alcançarem o sentido profundo da nossa
vocação compreendida como graça, paixão e missão. Como Família
Passionista temos a oportunidade de nesse tempo de graça descobrirmos os
caminhos que favorecem o seguimento de Jesus, a aproximação e
familiaridade com a vida e os projetos dele.
Quaresma é tempo da presença de Deus, tempo de purificação, oração,
ascese e entrega. A Paixão por Cristo e pelo Reino tem o poder de nos
transformar a partir do amor verdadeiro. A transformação tem uma direção
privilegiada.
A espiritualidade do seguimento inclui todas as dimensões da pessoa.
Precisamos nos perguntar com quais afetos rezamos e nos relacionamos.
Quais são os critérios para sabermos que estamos mudando para melhor?
Quando vamos nos disponibilizando para um caminho de integração, com a
mesma linguagem da mente, do coração e das mãos, não deixamos o medo
tomar conta de nós, não nos prendemos às situações, coisas ou pessoas, não
nos prendemos às misérias. Na fé, caminhamos vendo a beleza da vida e
amamos mesmo diante das fragilidades constatadas em nós e na experiência
comunitária. O desafio é construir a nossa identidade confrontando-nos com
a Luz que é Cristo. Saberemos quem somos como Família na medida que
cada pessoa sabe quem é: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em
mim” (Gl 2,20).
A transformação é cristã/passiológica na medida em que realiza a Kenosis, o
despojamento de tudo que não é essencial. Jesus se fez servo, se fez
crucificado. O rumo certo, o percurso que somos chamados a percorrer é o
da Cruz de Jesus. Todas as riquezas são nada em comparação à perda da
vida por Cristo (cf. Fl 2). Jesus se tornou homem, humilhou-se e foi
exaltado.
Como Família Passionista somos chamadas a uma grande missão. O sinal
de fidelidade é a doação na vida cotidiana, transformar-nos para doar a
nossa vida. O seguimento, a entrega, a libertação e o compromisso com os
valores do Reino nos levam rumo à gratuidade. A convicção que de graça
recebemos e de graça devemos dar nos leva à qualidade de vida e nós nos
tornamos mais ternura e mais misericordiosos, com as consolações e
desolações próprias do caminhante.
Nesse ano vocacional a Igreja nos convoca: “Corações ardentes e pés a
caminho”.
Parafraseando Dom Helder Câmara podemos pensar e rezar agradecidos:
Colocar nossa vida à Serviço da Animação Vocacional é uma GRAÇA. O
sonho da Cultura Vocacional que alimentamos é outra GRAÇA. Mas, a
GRAÇA Maior é a convicção profunda, autenticada pela experiência de
sermos amadas(os) e chamadas(os) por Deus, o que faz a nossa vida/missão
valer a pena.
Quando no sentirmos chamadas (os) entramos numa dinâmica cotidiana que
qualifica a vida, as relações e experimentamos a graça de viver, conviver,
dialogar, discernir, decidir, numa Igreja onde todos estão a caminho, porque
todos foram chamados. Batizados e discípulos de Jesus avançamos na
missão de evangelizar e cuidamos com paixão das vocações de especial
consagração pelo sinal profético que as pessoas consagradas representam
pelo seu testemunho de vida. Não é da CRUZ de Jesus que explode a nossa
PAIXÃO pela Vida? Não é a CRUZ a maior loucura do amor de um Deus
apaixonado?
Uma cultura vocacional compreendida no contexto sinodal e missionário
sustenta a missão do animador vocacional aberto para despertar e
acompanhar as diversas vocações na Igreja, mas comprometido com a
existência e essência de um “SIM” que não precisa se questionar e colocar
em dúvida o chamado a cada situação adversa.
Em uma sociedade denominada como “líquida”, marcada pelo “amor
líquido” uma das questões angustiantes que se coloca no Serviço de
Animação Vocacional é: “Como atrair boas vocações?”
Uma importante consequência da compreensão da cultura vocacional é que
o animador é provocado a olhar primeiro para sua própria caminhada, suas
motivações profundas, seu desejo fundante, o Absoluto de sua vida: O que
faz o seu coração arder?
De acordo com Cencini (2019) precisamos estar preparados para as
exigências da modernidade, formar o coração para viver no Amor, escolher
as alternativas implicadas na qualidade de vida e dar respostas plausíveis às
interrogações do tempo. Chama a atenção para a necessidade de conjugar
bem o tempo, buscando encontrar o vínculo entre o que foi, o que é e o que
serão as vocações de especial consagração. Sobre o futuro, o autor faz
algumas perguntas vitais: sobreviveremos ao secularismo dominante em
tempos de pós-modernidade? O que vai acontecer se continuar a tendência
atual à diminuição do interesse por este estilo de vida/vocação? Será que o
verdadeiro problema se resume na redução do número de vocações ou na
qualidade da resposta vocacional?
Aceitar realisticamente o passado e a possibilidade de ressignificação,
empenhando-se em trazer luz ao presente e olhar com confiança é relevante
para o futuro das Vocações. O critério de valorização da qualidade dos
processos e respostas mais do que a quantidade de pessoas que se sentem
chamadas, autentica o modo de olhar com esperança para o futuro, dá
menos importância à pergunta em relação à sobrevivência, aceitando que,
embora as Instituições anunciem realidades definitivas, elas não têm o
direito à imortalidade. Pertencem às realidades passageiras deste mundo.
Acompanhar pessoas acontece na lógica do Evangelho. No dizer do cardeal
Martini: “Por um, vale a pena!”. O que importa não é o êxito traduzido em
números e sim o “dar frutos de vida”.
A resposta para a pergunta: Como atrair boas vocações para a vida religiosa
e sacerdotal? aponta para um Estilo de vida mais identificado com o estilo
de vida de Jesus, proximidade das juventudes e testemunho de coerência e
alegria da própria vocação. O testemunho objetivo e forte de uma jovem:
“Quem não estiver disposto ou disposta a ´perder tempo`, escutando os
jovens, poderá publicar livros de animação vocacional, participar de
congressos vocacionais e distribuir santinhos do fundador ou fundadora da
Congregação, mas dificilmente cativará o coração de jovens em quem Deus
semeou a boa semente da vocação”.
Na Cultura Vocacional, espera-se que o animador se empenhe para
conseguir a melhor versão de si mesmo e das comunidades formadoras a
centralidade da vida em Deus como profecia. Comunidade como espaço
para a diversidade, lugar onde há espaço para os conflitos, para aprender
com os erros, para a acolhida e para o perdão. Um lugar para se permitir ser
frágil, ser irmã e irmão. Um espaço da Graça, onde cada um pode ser o que
é e o que pode vir a ser, um espaço para compartilhar as angústias e os dons
mais profundos e celebrar as alegrias.
A qualidade de nossa vida é a melhor chamada vocacional: “vejam como se
amam”. Sermos felizes e fazermos a diferença proclamando a Vida como
semeadores da Esperança. Das nossas experiências e conversas como
Família Passionista partilhamos algumas convicções que podem nos ajudar
a rezar:
 É realmente necessário criar, despertar as pessoas para sair
de tantas crises e encontrar as alternativas criativas para que
a nossa vida seja atrativa, propagandas discretas, mas não
negativas;
 Ouvir as necessidades mais profundas, o dito e o não dito, os
apelos e clamores mais autênticos das pessoas;
 Coragem para ampliar a leitura do mundo;
 Resgatar a alegria do Carisma: encantados, vamos encantar;
 Jamais deixar de ousar, porque nosso Deus não nos deixa
acomodar-nos;
 Corações ardentes, com pés descalços a caminho para
compartilharmos experiências, espiritualidade e ousadia.
 Sabemos que as relações curam ou adoecem: como
reencantar os desanimados, sem desistir dos nossos irmãos?
 Não tenhamos medo do SAV, de elaborar e concretizar
estratégias para trabalhar a esperança.
Bendigamos a Deus pela oportunidade da missão. Trabalhar a esperança é
graça de Deus!1
Ir. Zirlaide, CP
Irmãs Passionistas de São Paulo da Cruz
Província Nossa Senhora Rainha da Paz
QUARTA-FEIRA DE CINZAS (22/02/2023)
“É necessário espírito de observância interior para viver a quaresma.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
1
Essa parte do texto sobre vocação foi publicada na ROGATE edição desse
mês)
Salmo: 100
–1 Eu quero cantar o amor e a justiça, *
cantar os meus hinos a vós, ó Senhor!
–2 Desejo trilhar o caminho do bem, *
mas quando vireis até mim, ó Senhor?
– Viverei na pureza do meu coração, *
no meio de toda a minha família.
–3 Diante dos olhos eu nunca terei *
qualquer coisa má, injustiça ou pecado.
– Detesto o crime de quem vos renega; *
que não me atraia de modo nenhum!
–6 Aos fiéis desta terra eu volto meus olhos; *
que eles estejam bem perto de mim!
– Aquele que vive fazendo o bem *
será meu ministro, será meu amigo.
Texto bíblico: Mt 6,1-6.16-18
Avisos, texto de Maria Madalena Frescobaldi: “Para praticar bem a
penitência acostumai-vos a praticá-la em tudo aquilo que atrapalha a
observância das Regras, e que se opõe à Vontade de Deus manifestada pelos
superiores. Por exemplo: se alguma vez tendes muita vontade de fazer ou
dizer algo e soa a campainha para ir à Capela, é preciso truncar
imediatamente a ação ou a palavra e, sem lamentar, acudir ao ato de
observância. Se tocando o sino do despertar tiverdes a vontade de ficar um
pouco mais no leito, mortificai-vos e vencei a preguiça. Quando sentirdes o
ímpeto de falar desabridamente e reagir contra quem mortificou o vosso
amor próprio, refreai-vos e calai”.
Reflexão: Irmãos e irmãs, estamos iniciando hoje um tempo especial na
vida da Igreja, tempo de preparação para a Páscoa. Portanto, nos próximos
quarenta dias vivenciaremos esse grande retiro, uma experiência de seguir
Jesus até Jerusalém, onde Ele viverá uma das maiores experiências do amor
de Deus - sua entrega na cruz.
Nesta quarta-feira de cinzas somos chamados a viver o tema da penitência
e, junto a esse tema, refletir sobre a vocação ao Crucificado a partir da
vocação da fundadora Maria Madalena Frescobaldi. O Evangelho de hoje é,
para nós, muito conhecido e traz exatamente a mensagem da dimensão
central do tripé - esmola oração e jejum - cuja centralidade é para que nós
não façamos propaganda de como vivemos nossa vida espiritual, pois quem
deve ver nossa vida espiritual, nossas atitudes e palavras é Jesus e não os
outros.
Maria Madalena, por sua parte, nos lembra que a observância desse texto
consiste não simplesmente na lei, mas em cultivar a experiência do amor.
Ela chama atenção para não se distanciar daquele que é o amor, que é o
amado e aquele que ama. No mundo nós temos muitas possibilidades de nos
distanciarmos de Deus.Nós vivemos o mundo do hedonismo, do
exibicionismo e é aí que o texto nos chama a pensar esse aspecto da
penitência não simplesmente como uma mortificação doentia, mas uma
volta ao primeiro amor. Um voltar-se ao primeiro amor. A penitência é a
renovação das nossas promessas para vivermos profundamente a fidelidade
àquele que nos amou primeiro.
Quais são as minhas disposições ao iniciar esta Quaresma? O que devo
transformar, como propósito quaresmal, em minha vida espiritual e social?
Sinto necessidade de voltar ao “primeiro amor”?
QUINTA-FEIRA APÓS AS CINZAS (23/02/2023)
“Renegue-se a si mesmo, tome cada dia sua a cruz e assume o seguimento
de Cristo.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Cântico: Is 2,2-5
–2 Eis que vai acontecer no fim dos tempos, *
que o monte onde está a casa do Senhor
– será erguido muito acima de outros montes, *
e elevado bem mais alto que as colinas.
– Para ele acorrerão todas as gentes, *
3 muitos povos chegarão ali dizendo:
– ―Vinde, subamos a montanha do Senhor, *
vamos à casa do Senhor Deus de Israel,
– para que ele nos ensine seus caminhos, *
e trilhemos todos nós suas veredas.
– Pois de Sião a sua Lei há de sair, *
Jerusalém espalhará sua Palavra‖.
–4 Será ele o Juiz entre as nações *
e o árbitro de povos numerosos.
– Das espadas farão relhas de arado *
e das lanças forjarão as suas foices.
– Uma nação não se armará mais contra a outra, *
nem haverão de exercitar-se para a guerra.
–5 Vinde, ó casa de Jacó, vinde, achegai-vos, *
caminhemos sob a luz do nosso Deus!
Texto bíblico: Lc 9,22-25
Poesia da Venerável Irmã Antonieta Farani, “Crucificada com Cristo”,
03/10/1951: “Crucificado estás, Senhor, a quem eu amo. Crucificada quero
estar também, ó meu Senhor!
“E se o algoz é o amor pelo qual clamo, sejamos ambos, crucificados pelo
amor.
“Entre o céu e a terra, faze-me estar suspensa, vivendo de Fé, de Amor e de
Esperança; com os braços abertos, numa aspiração intensa dessa união
divina que a oração alcança.
“Que, como a tua, a minha cabeça incline em amorosa submissão ao Teu
querer, Senhor; que em meus lábios rígidos o silêncio domine, só abrindo-
os o zelo de Teu caridoso ardor.
“Jesus, deixe-me que Te suplique esta graça de: participar de Tua Paixão...”
“Associa-me a essa Paixão, associa-me a esse martírio... Faze que
minh‟alma saiba orar e vigiar... Que a salvação das almas e sua santificação,
sejam em mim uma sede que me torture e que me não desprenda os lábios
do teu Cálice”.
Reflexão: A palavra de Deus em Lc 9,22-25 ilumina esta quinta-feira após
as cinzas. O texto de hoje é o anúncio da paixão; uma contradição, pois
Jesus veio para que todos tenham vida, mas Ele anuncia a Sua morte.
O chamado a entender a opção pela pessoa de Jesus passa de forma oposta
àquilo que é o status quo do mundo. Ou seja, nós só teremos vida na medida
em que esta produza vida até a morte. Lembrando sempre os Padres da
Igreja, nós só possuímos aquilo que damos. Para que possamos ter a vida é
preciso que nossa vida seja dada de uma forma oblativa, generosa, de uma
forma feliz e alegre para que o mundo tenha vida. Para que todos tenham
vida e vida em abundância (Jo 10,10).
Essa é a dinâmica; não necessariamente a realidade de um masoquismo,
não! Obviamente o sofrimento vai fazer parte da vida de todos aqueles que
são discípulos e discípulas do Crucificado. Hoje nós nos deparamos com
essa grande e extraordinária mulher chamada Antonieta Farani nessa
belíssima oração, nessa poesia. Ao refletir a vocação de Antonieta, nós
vamos encontrar aquilo que nos diz o documento de Aparecida: “conhecer
Jesus pela fé é nossa alegria, é uma graça e, transmitir esse tesouro aos
demais, é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos
escolher”.
Consigo entender a minha vida numa dimensão oblativa com o Crucificado
por amor? A minha vida é uma entrega como a vida do Crucificado?
SEXTA-FEIRA APÓS AS CINZAS (24/02/2023)
Por que penitência e jejum? Manter-se longe da astúcia e vaidade.
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo 50
–17 Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor!
–18 Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, *
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
–19 Meu sacrifício é minha alma penitente, *
não desprezeis um coração arrependido!
–20 Sede benigno com Sião, por vossa graça, *
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
–21 E aceitareis o verdadeiro sacrifício, *
os holocaustos e oblações em vosso altar!
Texto bíblico: Mt 9, 14-15
Avisos, texto de Maria Madalena Frescobaldi: “Se a gula vos leva a
comer mais do que o necessário ou aquilo que não convém: mortificai-vos
de boa vontade, refletindo que a intemperança foi sempre a causa de muitos
vícios. Se a vossa delicadeza e preguiça vos leva a exigir mais do que o
necessário, a dispensar-vos com muita facilidade das observâncias da Regra
e a fazer-vos servir, sem verdadeiro respeito, considerai muitas vezes o que
sois e aquilo que sereis, isto é um composto de miséria em vida e um pouco
de cinzas após a morte.
“Eis aquela mortificação quotidiana, pela qual não faz perder tempo o
confessor e a Superiora para pedi-la e que vos manterá longe de toda astúcia
da vaidade e da singularidade”.
Reflexão: O tema do Evangelho de hoje em Mt 9,14-15, reflete sobre a
dimensão do jejum. Qual é a preocupação de Jesus para o sentido do jejum?
Primeiro, entender que a centralidade da vida é estar na presença de Deus e
de seu ensinamento: o Evangelho é o cume, o ápice de toda a vida de um
cristão. Como discípulo (a) de Jesus nós não podemos pensar que, por
fazermos muitas obras, isto seja motivo para apressar a vinda do Senhor.
Não!
A vida cristã é antes de tudo um gozar diante de Deus, é viver essa realidade
da alegria, do encontro, da felicidade. Obviamente que a dimensão da
mortificação, na perspectiva do jejum, nos chama para uma vida
equilibrada, isso é a base central. E não nos lançarmos demasiadamente a
uma mortificação estéril como se nós fossemos os protagonistas da
salvação. Nessa dimensão nós somos agentes passivos no sentido da nossa
entrega a Deus, porque quem realiza a obra é o Espírito Santo na vida de
cada um de nós.
Por outro lado, que saibamos viver como se não precisássemos entender as
podas que necessitamos realizar em nossas vidas. A Marquesa Maria
Madalena Frescobaldi, traz essa dimensão profunda, mas é importante
entender o sentido do jejum e atualizar essa prática. Jejuar, hoje, não
significa necessariamente privar-se da ingestão de alguns alimentos ou
abster-se de alguns desejos. O jejum mais interessante, talvez seja, se
colocar diante da presença de Deus, viver essa alegria. Estar diante de Jesus
Eucarístico, ir ao encontro daqueles que o mundo invisibiliza, agir com
docilidade e afeto diante das pessoas das quais nós temos as nossas
antipatias, rezar pelos nossos inimigos, nos colocar sempre na possibilidade
da condição dos últimos, não querer que prevaleça a nossa vontade. O
mundo atual precisa muito mais de ações de amor.
A experiência do jejum é para que nós possamos nos alimentar e alimentar a
vida dos outros, do amor de Deus. O verdadeiro jejum é aquele em que
somos capazes de nos alimentar e termos o pão do amor para alimentar
todos aqueles que têm fome de amor.
A minha prática penitencial produz frutos bons de amor na minha vida, na
vida dos outros e do planeta? Realizo a experiência do jejum, oração e
esmola como atitudes espirituais de conversão ou simples ações exteriores?
SÁBADO APÓS AS CINZAS (25/02/2023)
“Vocação: Graça e missão.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 4
– 4Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu servo, *
e que o Senhor me ouvirá quando lhe faço a minha prece!
– 5Se ficardes revoltados, não pequeis por vossa ira; *
meditai nos vossos leitos e calai o coração!
– 6Sacrificai o que é justo, e ao Senhor oferecei-o; *
confiai sempre no Senhor, ele é a única esperança!
– 7Muitos há que se perguntam: ―Quem nos dá felicidade?‖*
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
– 8Vós me destes, ó Senhor, mais alegria ao coração, *
do que a outros na fartura do seu trigo e vinho novo.
– 9Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, *
pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha vida!
Texto bíblico: Lc 5,27-32
Carta de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores: “Será, porventura,
verdade que chegou a hora feliz também para você, como chegou para mim
que sou mais indigno? E por que não devemos crer que aquela que, com
justiça, se chama „Refúgio dos pecadores‟, deitou sobre nós seu olhar de
misericórdia? Eu o espero e se assim é, não me resta dizer-lhe senão: Surge
et veni! Levanta-te e venha! Não tome o meu exemplo que, chamado pelo
Senhor, fui protelando dia a dia, não. Se qualquer voz o chama, não hesite
um momento, não investigue tanto, postergue as ciências, os parentes, o
mundo e mãos à obra. Não o iluda o demônio ao dizer-lhe: „Pense bem‟.
Não. Mas parta e siga a Jesus sem tardança. Se eu tivesse esperado mais
algum tempo, talvez não estaria onde estou. Recorra a Maria e, se lhe tem
alcançado tão assinalada graça, corresponda, fazendo aos seus pés,
sacrifício de tudo. Ponha-se sob o seu manto e fuja com Ela. E se tão grande
felicidade de vê-lo aqui for reservada a mim, seu irmão que o ama
sinceramente, escreva-me logo, que eu mesmo posso interessar-me por tudo
junto do Provincial.”
Reflexão: O texto de hoje nos fala da vocação de Mateus, sobre a qual
somos chamados a refletir. O texto base deste ano vocacional, no nº 33, diz:
“É preciso pensar que a vocação é estabelecida no horizonte do mistério no
encontro com Deus e aqui implica um relacionamento pessoal com Deus. O
Concílio Vaticano II conduzindo a reflexão sobre o conceito de povo de
Deus carrega consigo uma nova maneira de enxergar as vocações,
inaugurando uma nova cultura vocacional, que é precedida pelo Batismo,
como afirma o segundo ano vocacional do Brasil: Batismo, fonte de todas
as vocações”.
No Evangelho, nós vamos entender que Deus chama a todos, quer dizer,
não são minhas qualidades que me fazem ser um vocacionado. Antes de eu
crer em Deus, Deus crê em mim; antes que eu o veja, Ele já me enxergou.
Antes de eu conhecê-lo, Ele me conhece. É um Deus que antes que eu
acredite nele, Ele acredita em mim. Viver a experiência vocacional, e aqui
muito bem iluminado também por essa carta que São Gabriel escreve, é
exatamente viver essa experiência que somos eleitos não porque somos os
melhores, somos eleitos porque Deus nos conhece, porque Deus acredita em
cada um de nós.
Em minha oração e vida de fé consigo estabelecer com Deus um I SEMANA DA QUARESMA
relacionamento pessoal que me permite sintonizar com Seus apelos em Mt 4,1-11
favor da construção do seu Reino?
Jesus jejuou durante 40 dias e foi tentado

Hoje damos início ao tempo da Quaresma, quarenta dias caminhando com

Jesus Cristo rumo ao Calvário, lugar da revelação plena da essência e
missão de Nosso Senhor e Salvador. Neste tempo, a Igreja nos convida a
voltar nossos olhares com maior profundidade a Cristo, desejosos por
penitência e sincera conversão. De modo particular, neste Retiro de
Castellazzo, juntos a São Paulo da Cruz, grande místico da Paixão,
buscamos fortalecer nosso ser Passionista a partir da oração e do
testemunho vocacional.
Neste 1º Domingo, refletiremos sobre a tentação de Jesus no deserto,
conforme o Evangelho de São Mateus, capítulo 4, versículos de 1 a 11.
Mateus descreve, logo após o Batismo de Jesus, que Ele “foi conduzido
pelo Espírito ao deserto para ser tentado” (v. 1). Para cumprir a missão que
o Pai lhe confiou, Jesus é conduzido pelo Espírito para o deserto, isto é,
para o lugar da aridez e da infertilidade, pois é aí, que Ele demonstrará que
a secura consequente das tentações vividas pelo ser humano, por causa do
pecado, pode ser vencida pela força do Altíssimo.
Como o povo no deserto, que teve fome ao caminhar 40 anos rumo à Terra
Prometida (Dt 29,5), agora Jesus também sente fome, após jejuar 40 dias e
40 noites, rumo à conquista da Terra Prometida da Vida Eterna, que se
consumará no Monte Calvário. Ao sentir em sua humanidade a inerente
escassez e diversas limitações, Jesus se depara com o seu opositor: o
demônio. Aquele que vem para criar divisão entre Deus e sua criação, agora
tenta Jesus a romper, tal como Adão e Eva, a Aliança de amor e comunhão
entre Ele e o Pai. São as três tentações feitas a Jesus, iniciadas duas vezes
com o questionamento da sua filiação divina – “Se és filho de Deus” (vv.
3.6): a satisfação egoísta (v. 3), a ambição/soberba (v. 6) e a
“independência” (separação) de Deus (v. 9).
Para bem responder ao seu inimigo, Jesus não estabelece diálogos, mas
apenas demonstra que, vivendo a Palavra de Deus no concreto da
humanidade e da história, rompemos com o mal e seguimos firmes na
Aliança de amor e comunhão com o Pai. Jesus não responde ao opositor
com milagres extraordinários, mas tão somente revela a Palavra de Deus
como alimento salutar da vida humana: “Não só de pão vive o homem, mas
de toda palavra que procede da boca de Deus” (v. 4); “Não tentarás o
Senhor teu Deus” (v. 7); “Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele servirás”
(v. 10). Ao fim das afirmações de fé e amor a Deus, o demônio se retira (v.
11), o que significa que o mal não tem poder sobre o bem, o que é oposto a
Deus não é maior do que Ele.
A partir dessa reflexão, nos perguntamos: qual é a nossa postura diante das
tentações? Sabemos recorrer à força da Palavra de Deus ou preferimos
ceder à fraqueza e estabelecer diálogo com o(s) inimigo(s) de Deus? Este
episódio da tentação de Jesus fala diretamente à nossa humanidade, pois Ele
viveu e sentiu na carne quais são as nossas limitações. Em sua vida
terrestre, Jesus viu claramente que numerosas são as tentações que o ser
humano sofre para abandonar seu Senhor e Criador.
A tentação da desobediência, que se efetivou como pecado dos primeiros
humanos e rompeu aquela primeira Aliança de Deus com a humanidade,
ainda continua em nossa história. Mas agora olhando para Jesus,
aprendemos que nossa essência não é o pecado, é a imagem e semelhança
de Deus; por isso, é vivendo Sua Divina Palavra, temos a força necessária
para vencer o mal que habita dentro e fora de nós. Lembremo-nos sempre
daquelas palavras do Apóstolo Paulo: “onde abundou o pecado,
superabundou a graça” (Rm 5, 20), e ainda: “em tudo, somos mais que
vencedores, graças Aquele que nos amou” (Rm 8, 37).
Ao terminar esta reflexão, trago aqui um breve testemunho vocacional:
quando ingressei nesta caminhada para ser Religioso e Padre Passionista em
2012, a maior tentação que tive foi a de continuar no conforto da família.
Como tenho bons laços com minha família, sobretudo, meu pai e minha
mãe, então tive muito medo de deixar o convívio. Recordo que no dia da
minha entrada do aspirantado em Jequié (BA), eles me levaram à
Rodoviária e houve muito choro e dor na hora da partida... O ônibus até saiu
com minutos de atrasos, porque o abraço de despedida se prolongou, e o
motorista, tomado de certa compaixão, viu que aquele momento não era
nada simples.
Em meio a tudo isso, ao longo da caminhada, tanto eu, quanto meus pais,
percebemos que de fato, todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs,
pai, mãe, filhos ou terras, por causa de Jesus, receberá cem vezes mais (Mt
19, 29). Partilho com muita alegria essas palavras e encorajo a você, leitor
(a), a confiar em Jesus e sua Divina Palavra, pois eles te darão a força
necessária para vencer os temores e tentações. Assim como acreditei, e
agora, eu e minha família fazemos parte de uma família ainda maior, a
Família da Paixão de Jesus Cristo, você também, alcançará graças especiais
do Coração de Cristo Crucificado, confiando e esperando Nele neste tempo
quaresmal. Que a Paixão de Jesus Cristo esteja sempre gravada em nossos
corações. Deus te abençoe e te guarde, hoje e sempre!
Pe. Bruno Maciel, CP
Missionário Passionista
Província Exaltação da Santa Cruz
SEGUNDA-FEIRA DA 1ª SEMANA (27/02/2023)
Memória litúrgica de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores
“Vem e segue-me. Chamados a resplandecer ao mundo a imagem de
Cristo.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 15
– 5Ó Senhor, sois minha herança e minha taça, *
meu destino está seguro em vossas mãos!
– 6Foi demarcada para mim a melhor terra, *
e eu exulto de alegria em minha herança!
– 7Eu bendigo o Senhor, que me aconselha, *
e até de noite me adverte o coração.
– 8Tenho sempre o Senhor ante meus olhos, *
pois se o tenho a meu lado não vacilo.
=9Eis por que meu coração está em festa, †
minha alma rejubila de alegria, *
e até meu corpo no repouso está tranquilo;
=11Vós me ensinais vosso caminho para a vida; †
junto a vós, felicidade sem limites, *
delícia eterna e alegria ao vosso lado!

Texto bíblico: Mc 10,17-21
Carta de São Gabriel ao seu Pai: “A alegria que experimento dentro
destas paredes sagradas não são suscetíveis de comparação com todos os
vãos e fugazes passatempos da terra. Convença-se, caro papai, e creia num
filho que lhe fala com o coração nos lábios: não trocaria, jamais 15 minutos
passados diante de Nossa Consoladora, Maria Santíssima, com um ano ou
quantos quiser de espetáculos e divertimentos no mundo.
“Quanto mais doce não é dar quatro passos dentro do recinto do claustro,
pensando que nossa Mãe do Céu nos está observando, do que as mais
alegres excursões do mundo que sempre deixam um vazio imenso no
coração que jamais ao mundano é dado encher! Que doces consolações para
um Religioso pensar, à noite, que, por divina graça, gastou todo o dia no
serviço daquele grande Senhor, o qual com tanta largueza sabe pagar a
quem o serve, que não deixa sem recompensa uma palha que por seu amor
se levante! Que doces consolações ao ir repousar sobre o pobre leito para
depois levantar-se a fim de cantar os louvores de Deus! Mas o que mais
torna alegre, doce e suave o jugo do Senhor é a esperança que, de um dia
para outro, chegando a morte, sem a preocupação do patrimônio, dos filhos
ou de outra qualquer coisa, se vai gozar de Deus por toda a interminável
eternidade!”.
Reflexão: Como refletir o tema do julgamento na vida de um vocacionado?
O que é um vocacionado(a) para Deus? Vocacionado, para Deus, é alguém
que no seu dia a dia se sente continuamente convidado, chamado a viver e
ver a beleza, a grandeza, o amor, a alegria de ser chamado. E ser chamado é
se sentir cada vez mais cristão, quase a experiência de uma metamorfose, da
alegria de tornar a comunidade não um gueto, mas uma comunhão, unidos
como ramos, como nos lembra o texto da figueira.
Precisamos resgatar a dimensão da vida comunitária − da comunidade −
seja família, vida religiosa, Igreja e até do próprio mundo como lugar cujo
jardim deve exalar a fragrância de Deus como as flores, a beleza como as
rosas. Também somos chamados a pensar o missionário não apenas como
aquele que faz, mas que expressa a experiência de anunciar o quanto Deus
nos ama, de viver a alegria da vocação recebida, de comunicar a alegria
transbordante de ser chamado por Deus, a partir da gratidão do dom do
encontro com Jesus.
Um vocacionado nunca está só, mas é alguém que se sente junto, presente,
na presença de Jesus por tê-lo encontrado no acontecimento em que Ele nos
faz seguidores. Vivemos, de certa forma, o episódio de uma Parusia que se
faz presente. Somos chamados a resplandecer ao mundo a imagem de Cristo
e pensar em Cristo nessa contínua realidade de estarmos indo ao encontro
do novo Adão; a anunciar em todas as situações no mundo, a realidade de
uma vida doada, que o Pai nos chama a participar da vida de Deus, da sua
realidade gloriosa.
Caríssimos, se faz necessário viver esse caminho de peregrinos dentro da
realidade da história em que estamos, não fugindo do mundo, mas nos
identificarmos a sermos amor oblativo, amor serviço, amor doação.
Qual é a qualidade do meu seguimento vocacional? O meu chamado
vocacional resplandece a imagem do Cristo? O convite de Jesus: “Vem e
segue-me”, continua a inflamar o meu coração de amor e entrega?
TERÇA-FEIRA DA 1ª SEMANA (28/02/2023)
“Pai-Nosso a oração de intimidade do discípulo(a) ensinada pelo Mestre
Jesus.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 30
–2 Senhor, eu ponho em vós minha esperança; *
que eu não fique envergonhado eternamente!
= Porque sois justo, defendei-me e libertai-me, †
3 inclinai o vosso ouvido para mim; *
apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me!
– Sede uma rocha protetora para mim, *
um abrigo bem seguro que me salve!
–4 Sim, sois vós a minha rocha e fortaleza; *
por vossa honra orientai-me e conduzi-me!
–5 Retirai-me desta rede traiçoeira, *
porque sois o meu refúgio protetor!
–6 Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, *
porque vós me salvareis, ó Deus fiel!
Texto bíblico: Mt 6,7-15
Diário da Venerável Irmã Antonieta Farani, 20/05/1951: “Jesus,
recordo-me que há tempo e, de modo especial, ultimamente, me destes a
impressão de me sentir quase órfã... fizeste-me sentir a necessidade e o
desejo de ter um Pai... É verdade que no retiro da Profissão descobri meu
Pai do Céu... Mas agora me fizestes sentir a necessidade de um guia
paterno... Hoje, celebrando a festa da Santíssima Trindade, ouso pedir-vos:
Apresentai-me ao Pai como filha espiritual... entregai-me à Sua direção
paterna... Jesus, fazei que eu sinta necessidade de me manifestar, de me
comunicar com o Pai Celeste... Que eu seja um instrumento tão maleável
em suas mãos a fim de que possa me associar, querendo Ele, às atividades
amorosas de sua Sabedoria Eterna! Assim, Jesus, vos amarei, não desviarei
meu olhar de Vós, que, sendo objeto de complacência do Pai, sereis também
a minha complacência, e, então, viverei naquele ato de amor perfeito, puro,
tão desejado. Fazendo tudo orientada pelo Pai, com o olhar sempre fixo em
Vós.
“Pai, não sou capaz de conceber vossa Divindade sob nenhuma forma, mas
sinto-me envolvida de Vossa presença, presença substancial de um Ser
digno de amor, de contemplação, de confiança. E mais. Sinto que posso
comunicar-me convosco, que Vos compreenderei sem que me faleis, que
vos sentirei sem definir-Vos. Oh Mistério! Oh Grandeza! Oh Amor! Oh
meu Deus!
“Ó meu Pai, se, com o Espírito Santo me fizerdes amar Jesus até identificar-
me com Ele... então amarei essa Trindade admirável com Jesus e assim
tomarei parte eternamente nessa Vida de complacência Amorosa, Eterna”.
Reflexão: Nesta terça-feira somos iluminados pelo Evangelho de Mt 6,7-
15, bem como provocados pelo diário da venerável Irmã Antonieta Farani,
CP, texto de uma beleza profunda. Podemos juntar duas dimensões nessa
reflexão. Primeiro, a dimensão da oração, e essa dimensão é uma expressão
de vida, quer dizer: nós só deveríamos rezar aquilo que vivemos. Nós
vivemos muito essa dicotomia entre oração e vida, pois, muitas vezes, a
nossa oração é cheia de aridez ou de atitudes outras por conta de uma
imposição em ter que rezar a Liturgia das Horas, participar das missas.
Nesse estado, a nossa oração nem sempre é expressão do mistério de Deus.
O número 44 do texto base sobre o 3º Ano Vocacionalnos diz “Jesus nos
revela a vida íntima de Deus, a comunhão trinitária. Estamos diante de um
amor de tal intensidade que faz da pessoa Sua morada (Jo 14, 23) revelando
que em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8). Diante das dores da
humanidade, dos sofrimentos que levam tantos ao desespero, Jesus Cristo
oferece uma palavra viva, capaz de ser esperança, ressurreição e fonte de
vida eterna, de modo que Deus seja tudo em todos (1Cor 15,23). O Senhor
propõe que entreguemos a vida para ganhá-la (Jo 12,25) e faz compreender
que o discípulo é aquele que gasta a vida como sal da terra e luz do mundo
(Mc 5, 13-14). Caminhando de mãos dadas com toda a humanidade sem
abandonar nenhum daqueles que o Senhor confiou nesse peregrinar, os
quais Ele mesmo jamais abandonará”.
Aqui poderíamos entender e lembrar de Santa Terezinha quando nos
apresenta o pequeno caminho que seriam as mãos vazias. Se nossas mãos
tiverem alguma coisa, só deveriam ter Deus. Ir. Antonieta Farani, CP, nesse
diário, expressa essa sede de Deus, essa vontade de estar em Deus – oração
como aquilo que é verdadeiramente nosso ar, nossa alimento, aquilo que
pode matar a nossa sede. Oração que alimenta a vocação.
Qual é a qualidade da minha oração? Transformamos a nossa vida e
história em oração diante de Deus? A oração alimenta a minha vocação?
QUARTA-FEIRA DA 1ª SEMANA (01/03/2023)
“Mistério Pascal inspiração e força de todas as vocações.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 68
–8 Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
–9 eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.
–10 Pois meu zelo e meu amor por vossa casa *
me devoram como fogo abrasador;
– e os insultos de infiéis que vos ultrajam *
recaíram todos eles sobre mim!
–11 Se aflijo a minha alma com jejuns, *
fazem disso uma razão para insultar-me;
–12 se me visto com sinais de penitência, *
eles fazem zombaria e me escarnecem!
–13 Falam de mim os que se assentam junto às portas, *
sou motivo de canções, até de bêbados!
Texto bíblico: Lc 11,29-32
Carta de Santa Gema ao Pe. Germano, 05/02/1901: “Escrevo às pressas,
porque faz pouco tempo que recebi a comunhão e apenas tenho forças para
escrever. Meu Pai, desejo isto: que logo que receber esta carta se coloque
em oração e peça que Jesus, nas quintas e sextas-feiras, me conceda a graça
de fazer-me sofrer, mas sem nenhum sinal externo. Espontaneamente me
veio este desejo. O motivo eu lhe direi claramente logo, domingo. Peça
muito, porque esta graça é necessária. Jesus faça de mim aquilo que quiser”.
Reflexão: No Evangelho de hoje, Jonas vai à cidade de Nínive para chamar
à conversão. Os ninivitas eram inimigos dos judeus, inimigos do povo de
Deus que considera que estes (os ninivitas) não são capazes de se converter.
Os judeus se acham convertidos, mas rejeitam a Jesus. Depois temos Santa
Gemma, uma santa, de difícil compreensão e a grande mística da família
Passionista. Ela contém algo que, em uma leitura racional, nós não a
compreendemos. Uma mulher, mística, que recebe os estigmas de Jesus.
Desde o início da vocação ela foi mal compreendida, tanto que nunca
conseguiu entrar no mosteiro das Monjas Passionistas. Só o conseguiu após
sua morte e mais: com o seu testemunho vocacional faz florescer uma
espiritualidade que nutri a vida monacal, fazendo surgir dezenas de
mosteiros.
O que podemos entender ou rezar ante a figura de Gemma, essa pérola
extraordinária da Igreja, principalmente da família Passionista? Rezarmos
sua vocação e pensarmos o aspecto da conversão?
Somos chamados a entender que toda nossa fé se faz a partir do mistério, do
querigma, toda ela é a partir da luz do Cristo ressuscitado. E quando falo no
Cristo ressuscitado, falo do Cristo crucificado, base fundamental. Somos
chamados a contemplar o mundo. O místico é aquele que, no mundo, tem
olhos de águia, contempla o mundo, os fatos, a história, os povos. Mas
também aquele que não só contempla, mas escuta os clamores que chegam
até Deus, um Deus que se abaixa, que nos chama a amar nos passos daquEle
que é Caminho, Verdade e Vida como nos fala o Evangelho de João.
Refletir esse caminho a partir de Santa Gemma também nos une a Cristo, da
mesma forma como o rio que deságua no oceano, como diria São Paulo da
Cruz: o oceano do infinito amor de Deus. Gemma deseja estar unida a uma
das maiores expressões do amor de Deus que é a Paixão de Cristo. Ela quer
estar unida ao Crucificado, à Sua Paixão, não pela dor. Mas ela quer o
melhor: experimentar a realidade mais profunda do amor de Deus, que
amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único.
“Da contemplação de Cristo Crucificado, recebem inspiração todas as vocações;
da Cruz, com o dom fundamental do Espírito têm origem todos os dons, e em
particular o dom da vida consagrada” (VC 23). Minha vocação se insere no
desejo de doar a minha vida para que os outros tenham vida, como Cristo
na Cruz?
QUINTA-FEIRA DA 1ª SEMANA (02/03/2023)
“Perseverança vocacional: somos convidados ao discipulado do
Crucificado.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo 26:
7Ó Senhor, ouvi a voz do meu apelo, *
atendei por compaixão!
–8 Meu coração fala convosco confiante, *
e os meus olhos vos procuram.
– Senhor, é vossa face que eu procuro; *
não me escondais a vossa face! –
–9 Não afasteis em vossa ira o vosso servo, *
sois vós o meu auxílio!
– Não me esqueçais nem me deixeis abandonado, *
meu Deus e Salvador!
–13 Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver *
na terra dos viventes.
–14 Espera no Senhor e tem coragem, *
espera no Senhor!
Texto bíblico: Mt 7,7-12
Carta do Venerável Padre João Batista de São Miguel Arcanjo à Irmã
Maria Giacinta, 31/12/1740: “Não pense jamais que a vida devota, a qual
você deseja e deve seguir, consista em ter sempre alento e devoção sensível
na oração, na Comunhão e nos outros exercícios de piedade. Mas, antes
consiste em ter sempre uma pronta vontade em exercitar-se nos exercícios
devotos e nas obras santas, encontrando-se ou não em consolação,
alegrando-se de estar sempre privada de toda satisfação por amor do caro
Deus, que sempre deve ser a alegria das nossas alegrias.
“A contínua mortificação da carne, e muito mais das desordenadas paixões,
é sumamente necessária para renovar-se cada dia mais, e para ser
presenteada há seu tempo pelo celeste Esposo, na oração e na santa
Comunhão”.
Reflexão:
A nossa caminhada quaresmal nada mais é do que uma caminhada de
vocacionados(as) ao Reino de Deus. Nós somos chamados a seguir Jesus até
Jerusalém. Nós somos chamados a seguir Jesus até a cruz. Nós somos
chamados a ser discípulos(as) do Crucificado. Nós somos chamados a ser
homens e mulheres da contemplação de Jesus morto e ressuscitado. Este é o
ponto central: morto e ressuscitado.
Podemos e devemos responder a esse chamado de amor que Deus nos faz.
Antes de sermos concebidos, somos escolhidos por Deus. Ao nascermos, a
partir do nosso Batismo, nós somos chamados a viver como Igreja, e
também a responder àquilo que Deus quer de cada um de nós em nossa
existência até o dia em que possamos viver esse chamado final de unirmo-
nos a Ele na eternidade. Esse é um dos pontos fundamentais.
Esse chamado, essa confiança que se remete na dimensão da entrega da
oração a Deus Pai e que nós vivenciamos nesse tempo de jejum e
oração,permita-nos imprimir em nossa vida o mistério da Paixão. Só em
Cristo seremos capazes de encontrar o nosso descanso.
Sou perseverante em seguir Jesus, mesmo nos momentos mais difíceis,
confiando no Seu amor? Compreendo-me como um vocacionado(a) ao
discipulado do Crucificado?
SEXTA-FEIRA DA 1ª SEMANA (03/03/2023)
“Comunidade de irmãos e irmãs fonte de amor e reconciliação.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 49
=7 ―Escuta, ó meu povo, eu vou falar; †
ouve, Israel, eu testemunho contra ti: *
Eu, o Senhor, somente eu, sou o teu Deus!
–8 Eu não venho censurar teus sacrifícios, *
pois sempre estão perante mim teus holocaustos;
–9 não preciso dos novilhos de tua casa *
nem dos carneiros que estão nos teus rebanhos.
–13 Porventura comerei carne de touros? *
Beberei, acaso, o sangue de carneiros?
–14 Imola a Deus um sacrifício de louvor *
e cumpre os votos que fizeste ao Altíssimo.
–15 Invoca-me no dia da angústia, *
e então te livrarei e hás de louvar-me‖.
=16 Mas ao ímpio é assim que Deus pergunta: †
―Como ousas repetir os meus preceitos *
e trazer minha Aliança em tua boca?
–19 Tua boca se abriu para a maldade *
e tua língua maquinava a falsidade.
–20 Assentado, difamavas teu irmão, *
e ao filho de tua mãe injuriavas.
–21 Diante disso que fizeste, eu calarei? *
Acaso pensas que eu sou igual a ti?
– É disso que te acuso e repreendo *
e manifesto essas coisas aos teus olhos.
–23 Quem me oferece um sacrifício de louvor, *
este sim é que me honra de verdade.
– A todo homem que procede retamente, *
eu mostrarei a salvação que vem de Deus‖.
Texto bíblico: Mt 5,20-26
Avisos (texto de Maria Madalena Frescobaldi): “Longe de vós as
animosidades, as murmurações, os ciúmes: porque uma irmã tem uma
função mais agradável, mais livre que a vossa, porque está mais próxima à
Superiora, porque para com ela é dispensada alguma atenção diferenciada
no refeitório‟...
“Ao invés de admirardes a Caridade da Congregação que não conhece
parcialidade, mas justiça, andais infelizmente resmungando, recusais com
desprezo e não quereis com humildade pedir mais vezes aquilo que vos é
necessário. E passais dizendo que: „não mereceis‟; „que os vossos pecados
merecem o pior‟; „que todas porém sabem e vêem as vossas necessidades e
os vossos incômodos...‟
“Conheceis cada uma a própria situação, e é infelizmente verdade que: „A
soberba tem mais força que a virtude para superar os incômodos e para não
deixar nas aparências as prometidas observâncias‟. Mas qual perfume das
ofertas feitas superficialmente, chegará ao Trono de Deus? Deus vos guarde
de agir assim”.
Reflexão: Iluminados pelo Evangelho de Mt 5,20-26 e pelos Avisos de
Maria Madalena Frescobaldi, observamos algo comum entre os dois textos.
Primeiro Jesus fala aos seus discípulos, a uma comunidade em formação. A
Marquesa também fala às primeiras Passionistas.
O texto nos revela que Jesus, ao falar aos primeiros discípulos, chama
atenção para a comunhão. Anteriormente falamos que comunidade não é
um ajuntamento de pessoas. Necessariamente, não é o fazer coisas juntos −
operários em uma fábrica fazem coisas juntos, que tem valor, mas a
dimensão do trabalho é outra realidade. A comunidade é motivada pela
dimensão do amor, e o amor é sempre uma prática contínua de
reconciliação. Não existe amor se este não for uma prática de reconciliação.
Amar é também reconciliar. E somente entenderemos o amor na medida em
que vivermos o perdão.
Sabemos o tamanho do amor à medida que vivemos o tamanho do perdão.
A condição humana é, muitas vezes, competitiva: cheia de inveja, de
egoísmo, de arrogância, de autossuficiência. O chamado de Jesus lembra
São Paulo da Cruz quando escolhe e chama companheiros para remar
juntos. Também a vida religiosa, a vida comunitária, a vida da Igreja como
um todo se expressa pelo valor da comunhão. São Paulo da Cruz nos lembra
que viver em comunidade é fazer memória da Paixão. O amor é algo que
nos pede um passo além, mas passos de qualidade, de intensidade. O texto
nos chama a superar a justiça dos fariseus, dos doutores da lei e, ir além,
como condição para fazer parte do Reino, para entrar no Reino. Então, aqui
o pecado não é necessariamente matar, mas as atitudes que faltam amor.
O cerne da vida fraterna, cristã e religiosa tem como base a fraternidade, o
amor aos irmãos e às irmãs. E não apenas as práticas vazias ou estéreis,
espiritualmente vividas muitas vezes em nossos conventos, casas religiosas
ou comunidades paroquiais. Frei Turra diz que a verdadeira oração é amar.
O amor é uma decisão.
Nós somos chamados a viver uma vida em que em todos os momentos
deveremos estar decididos a amar. Na medida em que decidimos a amar,
nós nos tornaremos filhos e filhas de Deus e de fato expressaremos a
dimensão de sermos membros da comunidade da Paixão de Jesus Cristo.
Como convocados - vocacionados em comunhão – nossas comunidades
revelam o amor do Crucificado? Faço da minha oração uma ação amorosa
para aqueles que estão ao meu redor? Estou assumindo a ação de amor
como uma decisão de transformação espiritual?
SÁBADO DA 1ª SEMANA (04/03/2023)
“Amor aos inimigos: libertação interior e propósito de vida.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 102
–8 O Senhor é indulgente, é favorável, *
é paciente, é bondoso e compassivo.
–9 Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor.
–10 Não nos trata como exigem nossas faltas, *
nem nos pune em proporção às nossas culpas.
–11 Quanto os céus por sobre a terra se elevam, *
tanto é grande o seu amor aos que o temem;
–12 quanto dista o nascente do poente, *
tanto afasta para longe nossos crimes.
–13 Como um pai se compadece de seus filhos, *
o Senhor tem compaixão dos que o temem.
–14 Porque sabe de que barro somos feitos, *
e se lembra que apenas somos pó.
Texto bíblico Mt 5,43-48
Propósitos de virtudes feitos por São Gabriel:
 Cerrarei o coração a qualquer ressentimento; muito mais a
movimentos de desprezo ou vingança.
 Não direi palavra sobre os defeitos do próximo, embora conhecidos;
nem darei sinal de pouca estima de alguém, quer presente ou não.
 Falarei bem de todos.
 Cuidarei de não ofender a ninguém com palavras ásperas e mordazes
e nem com ditos jocosos.
 Não me oporei, não contradirei, não repreenderei a quem quer que
seja.
 Serei amável, caridoso, sobretudo com obras, ajudando e servindo os
meus coirmãos, respondendo-lhes com suavidade.
 Não julgarei mal de ninguém, antes encobrirei os defeitos de outrem,
demonstrando boa estima de todos.
ásperas, mordazes, nem com ditos jocosos; o cuidado para falar sempre o
bem sobre todos; o não julgar mal ninguém, mas antes encobrir os defeitos;
o não se opor, não contradizer e não responder a quem quer que seja”. A
dimensão não é de uma covardia, mas de uma atitude de amor. Como
precisamos viver esses propósitos de virtudes de São Gabriel.
O Evangelho nos fala: “Eu, porém lhes digo: amem seus inimigos e rezem
por aqueles que vos perseguem”. Refletir esse tema, dentro dessa dimensão
da fraternidade, nos leva a pensarmos no seguimento de Jesus a partir de
uma experiência concreta: o que é a fraternidade? É a concretização do
amor nas relações humanas; é a vivência da Paixão de ser Memória escrita;
é ser Memória a partir de uma vida que é um Memorial da Paixão de Cristo;
é a superação de uma vida egóica, competitiva, egoísta, individualista; é a
superação de uma existência vivida a partir da dimensão do egoísmo. Não é
possível viver o amor se prevalecer o egoísmo.
O grande adversário que temos que superar somos nós mesmos. Sermos
homens e mulheres que superem o egoísmo e vençam a serpente que habita
dentro de nós. Nós, muitas vezes, somos seres que rastejamos e comemos o
pó, assim como a serpente. É preciso superar os olhos da serpente pelos
olhos do Cristo, a língua da serpente pela língua do Cristo. Devemos estar
do outro lado da história. Nós não nascemos para ser serpentes, mas para
superar a serpente que está em nós, no mundo e na “cultura do mal”. Nós
nascemos para ser cordeiros de Deus.
Sinto-me vocacionado(a) a um amor que supera toda forma de egoísmo?
Correspondo a este chamado com as minhas atitudes de fraternidade?

Reflexão: Como refletir este pequeno trecho do Evangelho − a dimensão

máxima do amor ao próximo - tão caro para todos nós, cujo início do
capítulo são as bem aventuranças?
São Gabriel vive essas virtudes como um propósito de vida. Quão forte e
provocativo para nós! “O cuidado para não ofender pessoas com palavras
 II SEMANA DA QUARESMA
Mt 17, 1-9
O seu rosto brilhou como o sol
“É necessário partir, para uma terra que não se conhece, mas que já te
pertence” (Gn 12,1).
“Deus te chama, não com base nas suas obras, mas segundo o Seu projeto e
a Sua graça” (2 Tm 1,8b-10).
Bonito pensar a vocação como um partir para uma terra que não se conhece,
mas que já te pertence.
São Paulo da Cruz, certa vez, estimulando um sacerdote a continuar a obra
começada, cita Neemias. Este santo sacerdote, dizia Paulo da Cruz, recebeu
as credenciais para reconstruir Jerusalém. Alguns invejosos e outros que
eram contra aquela obra tramando contra ele, marcaram uma cilada e
pediram que ele descesse até o vale. Neemias então mandou dizer a eles:
“Estou trabalhando em uma grande obra, não posso descer”. Quando nos
colocamos a serviço da grande obra de Deus não podemos parar para dar
ouvidos às pessoas e coisas que nos tiram o foco, que querem nos desanimar
ou distrair.
O caminho que a liturgia nos propõe hoje talvez seja esse, de olhar para
Abraão e Timóteo com a firmeza e clareza de Neemias, Abraão recebe o
chamado e Timóteo o projeto de Deus. A figura de Neemias que acrescento,
apresenta um itinerário sólido vocacional: Neemias é credenciado (Ne 2,8)
preparado (Ne 2,11-12), empenhado e dedicado (Ne 6,3). Recebe uma
missão, se prepara e se ocupa dela.
Deus nos chama para um projeto, mas depois de chamados e de nos
prepararmos, devemos nos concentrar na missão. “Estou trabalhando em
uma grande obra, não posso descer”. O projeto de Deus, não é algo
inalcançável, ou sempre distante e utópico. É concreto e diário. É a nossa
vida no seu cotidiano que se encontra no cotidiano de outras pessoas e é
onde realizamos a nossa missão, por exemplo: das Irmãs Passionistas de
Re-conduzir ao coração de Cristo as pessoas que se desviaram do Seu amor.
Estar ocupado na grande obra de Deus não significa encher-nos de
compromissos, mas dedicar-se totalmente à grande obra de Deus, neste
movimento de reconstruir a esperança, a fé, a caridade no Reino de Deus e
no coração das pessoas.
Ir para uma terra desconhecida, mas que já te pertence.
Meu avô, Orlando Bueno, tinha muitas terras, uma grande família, muita
bondade e muitos amigos. Certa vez, decidiu deixar grande parte de tudo o
que possuía e partir. Arrendou algumas terras, vendeu outras: “Quando eu
voltar, você me paga!”. Juntou a família e foi para terras longínquas e
desconhecidas. As pessoas da pequena cidade até hoje se recordam a sua
bondade, mas também a sua coragem e ousadia. Nem sempre, partir para
outras terras, “deixar tudo” é uma expressão a ser entendida no sentido
espiritual, psicológico ou eclesiológico.
Sair de um lugar físico e ir para outro é de fato um exercício físico, mental e
que exige adaptar-se, enfrentar os desafios reais que se apresentam, fazer
novas amizades, iniciar com coragem uma nova vida, se colocando a
serviço do Reino sem perder o foco.
Quanto ao Evangelho da transfiguração, podemos contemplar como um
amadurecer. A experiência da transfiguração é da criança que se deixa
encantar, maravilhar-se e se deixa envolver pela presença de Deus, e a
descida do monte revela um amadurecer, já capaz de guardar segredo até a
subida de Jesus aos céus, mas também de temor e racionalismo.
Metamorfose é a palavra grega usada para transfiguração, ou seja, é uma
mudança radical que ocorre na aparência ou em outros aspectos. Mudança
considerável que marca não somente a vida de Jesus, mas a vidas dos
discípulos.
Nós, discípulos e discípulas somos também chamados (as) a uma
metamorfose, uma transfiguração; mudar as aparências e outros aspectos
para que sejamos reconhecidos filhos e filhas de Deus, chamados a um
projeto que exige um tempo de transformação, mas que deve chegar ao seu
ápice modificados (as), transformados (as).
Ir. Jaqueline de Nossa Senhora das Dores, CP
Irmãs Passionistas de São Paulo da Cruz
Província São Gabriel de Nossa Senhora das Dores
SEGUNDA-FEIRA DA 2ª SEMANA (06/03/2023)
“Misericórdia com os pequenos em virtude do Reino dos Céus.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
 alegra com os vícios das outras, para permitir os próprios, que não se lhes
Salmo: 114 aprova, que não os segue; caridade sem ciúmes, caridade que não busca os
–8 Misericórdia e piedade é o Senhor, * próprios interesses e satisfação; caridade, que tem os olhos abertos mais
ele é amor, é paciência, é compaixão. sobre si mesma, que para olhar os defeitos dos outros; caridade, em suma,
–9 O Senhor é muito bom para com todos, * verdadeira e sincera implorando a Deus, com o bom exemplo e com a
sua ternura abraça toda criatura. oração, que todos vivam no santo amor de Deus e cresçam nas santas
13bO Senhor é amor fiel em sua palavra, * virtudes”.
é santidade em toda obra que ele faz.
–14 † Ele sustenta todo aquele que vacila * Reflexão: Falar sobre a dimensão da misericórdia é, antes de tudo, levar
e levanta todo aquele que tombou. libertação ao coração humano que muitas vezes está preso ao mundo do
–15 Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam * ego. O amor da misericórdia é um amor incondicional que nos abre e nos
e vós lhes dais no tempo certo o alimento; leva à descoberta da nossa realidade mais bonita que é a nossa humanidade,
–16 vós abris a vossa mão prodigamente * a humanidade comum. Isso nos faz entender e compreender o que nos fala
e saciais todo ser vivo com fartura. Paulo em sua carta aos Efésios: todos nós somos predestinados ao amor.
Assim, fazemos uma marcha da solidão para um amor que transforma, um
–17 É justo o Senhor em seus caminhos, * amor que cresce, que enriquece, que nos potencializa e que, diante de tudo
é santo em toda obra que ele faz. aquilo que passa, nós permanecemos naquilo que nos conduz à eternidade.
–18 Ele está perto da pessoa que o invoca, * Descobrir a nossa humanidade comum e nos libertar das compulsões
de todo aquele que o invoca lealmente.
egocêntricas é também se encaminhar para superação das mágoas internas,
é a descoberta que encontra seu cumprimento no perdão e no amor àqueles
Texto bíblico: Lc 6,36-38 que são nossos inimigos. É um processo de se tornar verdadeiramente
Avisos de Maria Madalena Frescobaldi, Capítulo III: “Pobres, humildes humanos, é a superação do nosso auto referenciamento, da nossa condição
e obedientes devem ser em sumo grau as Ancille 2 Convertidas, e as Ancille de superioridade transpondo essas dimensões. É nos encontrarmos no outro,
Assistentes. Mas estas devem ainda imitar o Divino Redentor, que é nos encontrarmos naqueles que muitas vezes vivem uma vida
empenhou toda a sua vida mortal „conversando‟ com os Pecadores para profundamente conflitiva, é nos encontramos conosco e nos encontrarmos
convertê-los e para instruir os ignorantes e pequenos na Virtude do Reino não só com Deus, mas em Deus.
dos Céus; não se importando com os escárnios dos maus, nem com as
próprias fadigas. Na experiência da misericórdia que faço do amor incondicional de Deus,
“Para chegar facilmente a conseguir este fim, devem todas as Ancille usar me deixo transformar por uma humanidade rica em compaixão? Sinto-me
toda diligência para não retornar nem mesmo com o pensamento aquele predestinado(a) ao amor, ao “misericordiar”?
mundo por elas abandonado... mas tenham a sua mente e o seu coração
voltado muitas vezes a Deus, agradecendo o grande benefício que Ele lhes
fez, em preferência a tantas outras que permanecem nas misérias e nos TERÇA-FEIRA DA 2ª SEMANA (07/03/2023)
perigos de perderem-se eternamente. “Somos chamados a participar da comunidade Trinitária com coerência e
“Reine entre todas as Ancille um só coração, uma só vontade e uma só testemunho.”
alma, mediante a recíproca caridade fraterna. Caridade, porém, que não se V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
2
Ancille significa “Servas”. Neste texto seriam as Irmãs que compõe a comunidade
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 14
–1 ‗Senhor, quem morará em vossa casa *
e em vosso Monte santo habitará?‘
–2 É aquele que caminha sem pecado *
e pratica a justiça fielmente;
– que pensa a verdade no seu íntimo *
3 e não solta em calúnias sua língua;
– que em nada prejudica o seu irmão, *
nem cobre de insultos seu vizinho;
–4 que não dá valor algum ao homem ímpio, *
mas honra os que respeitam o Senhor;
– que sustenta o que jurou, mesmo com dano; *
5 não empresta o seu dinheiro com usura,
– nem se deixa subornar contra o inocente. *
Jamais vacilará quem vive assim!
Texto bíblico: Mt 23,1-12
Do livro “El gemito de la Paloma” do Beato Domingos da Mãe de Deus:
“Oh, Jesus, os católicos fazem externamente a profissão de pertencer àquele
Corpo do qual sós sois a cabeça e ao qual pertencem mediante os vínculo da
fé que ainda conservamos. Porém, o que é que faz uma grande parte deles se
não desfigurar com sua iniquidade este Corpo tão belo? Que fazem se não
apresentar a vossa Santa Esposa, não mais como pura e cândida pomba,
saída do vosso divino coração, se não como prostituta aos olhos das nações
que a contemplam? Estes a fazem aparecer, ao menos naquilo que os toca,
como Esposa deformada e fazem injúria ao Seu Esposo divino, que a uniu
consigo com vínculo indissolúvel. Contudo, entre estes não existe, não
existe quem Vos busque de coração, oh meu Deus, ou são muito poucos os
que o fazem”.
Reflexão: É importante lembrar que Jesus Cristo oferece a todos os homens
e mulheres, pela ação do Espírito Santo, a luz e a força que faz arder os
corações para que toda pessoa humana, toda humanidade, viva com
generosidade e possa responder sempre sua suprema vocação.
Nós somos vocacionados(as) e devemos entender a nossa vida como serviço
para realização do Reino de Deus em uma entrega à pessoa de Jesus Cristo.
Somos chamados a fazer parte da Comunidade Trinitária e um dos pontos
fundamentais dessa liturgia é a necessidade de uma vida coerente. Que nós
possamos não nos perder, mas entender que o nosso lugar é o lugar de
servos e servas, e que a coerência é um dos temas centrais da vida e da
espiritualidade do discípulo de Jesus.
O texto vem fazer esse convite e Jesus fala às multidões. Lembra que,
embora os doutores da lei e fariseus estejam sentados na cátedra de Moisés,
nós possamos observar tudo o que eles dizem, mas não façamos o que eles
fazem.
Estamos vivenciando praticamente a terceira semana da quaresma, se
contarmos a semana inicial das cinzas. Por isso, somos chamados a observar
quais são as nossas atitudes e se elas refletem aquilo que vivemos. As
nossas atitudes são coerentes com aquilo que falamos, com aquilo que
dizemos? Não pode haver uma dicotomia entre falar e fazer. Que nós
possamos fazer um bom exame de consciência neste dia de hoje.
Vocacionado ao serviço da concretização do Reino de Deus, minha vida
corresponde àquilo que professo e falo? Sinto-me participante da
comunidade Trinitária pela coerência e testemunho?
QUARTA-FEIRA DA 2ª SEMANA (08/03/2023)
“Senhor! Aceita-me e instrua-me para o serviço de acordo com tua
vontade.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 71
–1 Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus, *
vossa justiça ao descendente da realeza!
–2 Com justiça ele governe o vosso povo, *
com equidade ele julgue os vossos pobres.
–3 Das montanhas venha a paz a todo o povo, *
e desça das colinas a justiça!
=4 Este Rei defenderá os que são pobres, †
os filhos dos humildes salvará, *
e por terra abaterá os opressores!
–7 Nos seus dias a justiça florirá *
e grande paz, até que a lua perca o brilho!
–8 De mar a mar estenderá o seu domínio, *
e desde o rio até os confins de toda a terra!
–12 Libertará o indigente que suplica, *
e o pobre ao qual ninguém quer ajudar.
–13 Terá pena do indigente e do infeliz, *
e a vida dos humildes salvará.
–14 Há de livrá-los da violência e opressão, *
pois vale muito o sangue deles a seus olhos!
–16 Haverá grande fartura sobre a terra, *
até mesmo no mais alto das montanhas;
– as colheitas florirão como no Líbano, *
tão abundantes como a erva pelos campos!
Texto bíblico: Mt 20,17-28
Carta de Santa Gemma ao Monsenhor Volpi, setembro de 1900: “Faça-
me a caridade de tirar-me do mundo3. Não posso mais viver assim; não
posso estar com Jesus quanto gostaria, acredita? Não posso mais! Coloca-
me em qualquer lugar: trabalharei, serei como uma escrava das Monjas, mas
leva-me: não encontro sossego, porque não posso estar no convento.
“Uma coisa gostaria de dizer-lhe nesta manhã, mas não me lembrei. Ontem
à tarde o Padre Gaetano - que a pouco tinha retornado de Roma - disse que
as Monjas Passionistas no mês de outubro abrirão o Noviciado. Anita, nesta
manhã, me falou que tem a ideia de ir. E eu?
“Monsenhor, o Sr. ficaria feliz se eu pudesse ir também? Irei para lá,
pedindo que me tomem para servir; ainda que seja como escrava, se me
quiserem. Estaria muito contente, ainda que se me tivessem como escrava.
Estaria no meu lugar. O Sr. me dará, realmente está permissão?”.
3
Mundo aqui significa estar fora de um convento.
Reflexão: Quando lemos a vida de Santa Gemma, vemos um chamado de
Deus que não foi compreendido por mulheres e homens que divergem sobre
essa mística e vocação tão especiais. Na Constituição Gaudium et spes, o
“Concílio Vaticano II entende que o ser humano está a caminho e nesse
processo cada época exige resposta e esforço para que a santidade seja
alcançada”.
Santa Gemma é alguém que vai sendo tecida por Deus na santidade. Na
realidade, Gemma tinha um desejo profundo de ser uma monja Passionista.
Mas não lhe foi dada essa oportunidade; o que lhe causou grande sofrimento
por ter feito uma escolha e ela entende que nessa escolha, a dimensão da
vocação é a dimensão de servir. Durante sua vida Gemma ansiou por Deus,
mas entendeu sua vocação particular na condição da vida monástica.
E aí podemos pensar no caminho de Gemma como o caminho de Jesus que
sobe para Jerusalém. A partir dos sete anos quando ela recebe a Eucaristia,
ela vai fazendo esse caminho de paixão – a morte da mãe, a falência do pai,
o sair para morar na casa de outras pessoas.
O grande sentido da vida é o serviço. Uma característica do vocacionado é
se colocar na dimensão de servir, assumir a atitude do serviço na
comunidade e a entrega da sua vida para todos. O serviço é uma entrega
para todos, não para alguns. Observar a realidade de Gemma é entender
que, na sua experiência profunda de Deus, na sua sede de Deus, na sua
busca de Deus, no mistério da Paixão de Jesus, ela é conduzida a viver a
Paixão de Cristo na Paixão do mundo, colocando-se como serva.
Compreendo a minha vocação, como um chamado de Deus ao serviço dos
irmãos e irmãs crucificados? Sou o primeiro servidor de minha
comunidade? O meu serviço é gratuito e generoso?
QUINTA-FEIRA DA 2ª SEMANA (09/03/2023)
“Empatia com o sofrimento alheio.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 111
–1 Feliz o homem que respeita o Senhor * aos prazeres da comida e do luxo além de desprezar o mendigo Lázaro.
e que ama com carinho a sua lei! Quantas vezes em nossa vida nós agimos com desprezo e indiferença diante
–4 Ele é correto, generoso e compassivo, * da realidade do outro?
como luz brilha nas trevas para os justos. É preciso ser sensível diante do sofrimento que exige de nós uma
–5 Feliz o homem caridoso e prestativo, *
compreensão ante as diferenças. Em um mundo cada vez mais plural em
que resolve seus negócios com justiça. que as minorias e as populações invisibilizadas buscam o respeito, nós ainda
–6 Porque jamais vacilará o homem reto, * vivemos a realidade dos grandes preconceitos em relação ao pobre, ao
sua lembrança permanece eternamente! negro, à mulher, à prostituta, aos portadores de deficiência, aos indígenas.
O mundo atual nos chama a sermos seres empáticos com todos aqueles
=9 Ele reparte com os pobres os seus bens, † marcados pelo sofrimento, os incompreendidos por suas singularidades, cor,
permanece para sempre o bem que fez, * raça, gênero, cultura, condição social. Então peçamos que Deus nos ajude a
e crescerão a sua glória e seu poder. viver uma empatia maior com todos esses homens e mulheres.

Texto bíblico: Lc 16,19-31 Diante da altura do Evangelho de Cristo que nos chama ao amor,
Carta de São Gabriel dirigida ao seu Pai: “Meu Pai, liberalidade para principalmente para com os “invisíveis” e os pobres, o meu coração ainda
com os empregados, e de modo especial, liberalidade para com os pobres. permanece fechado pelos preconceitos? Tenho uma atitude de acolhida
Eu já insisti sobre isto com Miguel e Pacífica. Agora volto ao mesmo diante do sofrimento do outro? Estou pronto para ouvir e atender o pedido
assunto. Papai, após a leitura desta carta dê suas ordens a tal respeito. Que de ajuda dos pequenos e pobres?
crime cometeria perante Deus o pai que, tendo por graça do mesmo Deus
um filho que vive folgadamente só da caridade dos outros, deixasse sofrer
os pobres de casa! SEXTA-FEIRA DA 2ª SEMANA (10/03/2023)
“Não duvide, papai, a esmola jamais empobreceu alguém; antes, a bênção “Nosso coração deve sempre corresponder a Graça de Deus, desviando de
dos pobres atrairá sobre si e sobre a família a bênção do céu. Jesus disse: „O toda ingratidão.”
que fizerdes aos pobres é a mim que o fazeis‟. V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
“Oxalá Jesus e Maria façam que sua casa, seja o refúgio dos pobres! Uma R: Socorrei-me sem demora.
das maiores consolações na hora da morte será a de não ter despedido V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
nenhum necessitado de mãos vazias. Isto o confortará e o defenderá diante o R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
juízo severo de Deus, isto lhe há de merecer grande prêmio no céu”.
Salmo: 34
Reflexão: Diante da diversidade de sofrimentos nos dias atuais, somos –10 Direi ao meu Senhor com todo o ser: *
chamados a fazer uso da empatia, refletindo e identificando-nos com o ―Senhor, quem pode a vós se assemelhar,
sofrimento do outro, visto que, muitas vezes, o nosso coração está voltado – pois livrais o infeliz do prepotente *
para si mesmo. No dia de ontem refletimos sobre a dimensão do serviço, o e libertais o miserável do opressor?‖
qual nos impele a agir com empatia, com compaixão. –11 Surgiram testemunhas mentirosas, *
Nos textos, tanto Lucas quanto São Gabriel mostram que os ricos cavam acusando-me de coisas que não sei.
para si um abismo que os separa da vida. Tudo aquilo que vamos tornando –12 Pagaram com o mal o bem que fiz, *
absoluto em nossa vida, nos separa da vida. O rico é debochado e entregue e a minh‘alma está agora desolada!
=13 Quando eram eles que sofriam na doença, †
eu me humilhava com cilício e com jejum *
e revolvia minhas preces no meu peito;
–14 eu sofria e caminhava angustiado *
como alguém que chora a morte de sua mãe.
=15 Mas apenas tropecei, eles se riram; †
como feras se juntaram contra mim *
e me morderam, sem que eu saiba seus motivos;
–16 eles me tentam com blasfêmias e sarcasmos *
e se voltam contra mim rangendo os dentes.
=17 Até quando, ó Senhor, podeis ver isso? †
Libertai a minha alma destas feras *
e salvai a minha vida dos leões!
–18 Então, em meio à multidão, vos louvarei *
e na grande assembléia darei graças.
Texto bíblico: Mt 21,33-43.45-46
Do livro “La Santità è Amore” da Venerável Madre Maddalena
Marcucci: “A mais dolorosa e mais abominável ingratidão da criatura, é
quando as Divinas ternuras são dirigidas a resgatar uma alma da „babilônia‟
do mundo e conduzi-la à Sua Casa santa. O chamado de Deus à vida
religiosa supõe um número de grandes graças que não é possível conhecer
nesta vida mortal. É uma obra de amor de particular predileção por uma
alma, da parte das Três Pessoas Divinas. Fizeram uma espécie de consulta e
trabalho juntas porque aquela alma se entregou a Elas. Quando Deus, na sua
infinita bondade atrai uma alma para celebraras místicas núpcias,Ele a
chama e torna a chamar com vozes interiores, doces e secretas, mas vivas e
eficazes. Entorno a ela dispõe meios, coisas, pessoas para que a ajudem a
corresponder ao divino chamado, respeitando, como sempre, o seu livre
arbítrio.
“Mas, se alma não corresponde, como acontece frequentemente, todo este
acúmulo de benefícios cai, se dispersa, com dano incalculável para a alma
infiel que fechou o coração à voz do Senhor, quando o Amante apaixonado
a chamava, sem pensar que aquela mesma voz deverá pedir contas do amor
desprezado.
“A luz do amor torna claras e manifestas à alma que ama, estas tristes
verdades e a faz sofrer tormentos indizíveis. Quem não ama ou ama pouco,
não está em grau de compreender semelhantes sofrimentos, provocados pelo
mesmo amor. Mas a alma ardente deste fogo divino, tem sempre uma
espada que a transpassa o coração com vários afetos, mais ou menos, mas
todos, capazes de fazê-la sofrer. Às vezes se sente solicitada a gritar e
chamar todos, como fez a Samaritana quando, falando com o Salvador, se
acendeu no seu coração o fogo do amor divino: „Venham ver aquilo que faz
o amor, aquilo que dá, aquilo que oferece, aquilo que sofre quando se vê
desprezado‟. Ou, então, como São João Batista repetia a todos: „Entre vós,
está aquele que vós não conheceis‟. Está em meio a vós, com mãos plenas
de graças e de dons preciosos para enriquecer as vossas almas. Aquele que
vós não conheceis‟. E vendo que ninguém se move, que ninguém responde
ao seu chamado, o amor passa; passa talvez para não retornar nunca mais e
parece que quisesse como fechar a corrente da graça, para não deixar passar
inutilmente, ou não fazê-la tornar-se de maior dano e de castigo mais severo
para aqueles que não quiseram aceitá-la. Mas sente ao mesmo tempo, que o
amor lhe impede de agir assim, porque é próprio do amor dar-se,
comunicar-se, oferecer-se. O amor não suporta nem diques, nem barragens:
ele os rompe e passa avante, não existe obstáculo que possa segurá-lo”.
Reflexão: Refletindo o Evangelho de hoje, nós somos chamados a pensar
na parábola que relata o administrador infiel, bem como o livro da
venerável madre Maria Madalena. O que é essa vinha que o texto retrata?
Quem é esse proprietário? Quem é esse filho? O que o texto quer nos dizer?
O texto vai nos falar que a vinha é o próprio povo de Israel, o proprietário é
Deus, o filho do dono é Jesus e os administradores são as autoridades que se
apropriam daquilo que não lhe pertence.
Ao ouvir a narrativa dessa parábola, os chefes dos sacerdotes, dos fariseus,
dos anciãos do povo, se encolerizam. Jesus os envolve nessa trama que o
texto apresenta. Qual foi o erro dessas autoridades? O erro dessas
autoridades foi desprezar, explorar, escravizar, oprimir, não cuidar ou zelar
das populações que lhes foram confiadas. Deus dá oportunidade para eles
viverem a dimensão do serviço e eles não vivem.
Mais uma vez aparece a ganância, a ingratidão. As pessoas gratas têm fé. Já
as pessoas ingratas são incrédulas. O que observamos nesse texto é a falta
de fé desses homens em Deus. Por isso, eles são ingratos. As pessoas gratas
amparam, cuidam, servem, são cheias do amor que compreende. As pessoas
ingratas abandonam os outros, desprezam,humilham, são cheias de
desamor, desafeto, desrespeito. Texto bíblico: Lc 15,1-3.11-32
Saberei se sou grato(a) ou ingrato(a), percebendo as minhas atitudes. Do livro “Em la cima del monte santo” da Venerável Madre
Maddalena Marcucci: “Não pensem que eu, porque falo muitas vezes de
Correspondo ao misericordioso chamado de Deus com a gratidão que se amor, seja toda amor. Eu sou amor de Deus e meu pecado, como todos
revela em minhas atitudes? somos. Porém, me custa imaginar que exista pessoa mais miserável de
como me vejo à luz do amor. O que eu faço é que, quando estou assustada
pela minha grande miséria e tenho medo, fujo e me escapo no amor. Meus
SÁBADO DA 2ª SEMANA (11/03/2023) pecados não fazem mais que provocar-me a fugir de mim mesma e voar
“Contemplar nossos pecados a partir da misericórdia e do amor de Deus”. Àquele que é todo bondade e amor. E isto, por graça especial do Senhor,
creio que posso fazê-lo em todo tempo. Minhas faltas, defeitos e
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
imperfeições, nunca me detém, como vejo com pena que detém a muitas
R: Socorrei-me sem demora.
almas.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
“Se o Espírito Santo disse ao profeta Davi que devemos ter os próprios
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
pecados sempre diante dos olhos, não nos disse de onde devemos olhá-los.
Salmo: 31 Eu penso que os podemos ver somente em nós ou relacionando-os a Deus.
–1 Feliz o homem que foi perdoado * Pelo que me diz respeito, prefiro contemplá-los olhando para Deus, para
e cuja falta já foi encoberta! glorificar ainda mais o Seu amor. Olho as misérias e pecados e amo mais.
=2 Feliz o homem a quem o Senhor † Esta é a grande vantagem que se obtém em olhar a nossa maldade no amor”.
não olha mais como sendo culpado, *
e em cuja alma não há falsidade! – Reflexão: O que vem a ser uma ação de misericórdia? A misericórdia trata
a pessoa mais compassivamente do que ela merece. E isso se torna possível
=3 Enquanto eu silenciei meu pecado, †
dentro de mim definhavam meus ossos * graças à expiação de Jesus na cruz. Nosso Pai celestial conhece nossas
e eu gemia por dias inteiros, fraquezas e nossos pecados, Ele demonstra misericórdia quando nos perdoa
e nos ajuda a voltar a viver em sua presença.
–4 porque sentia pesar sobre mim * A misericórdia sempre tem a ver com o oposto, com a miséria. Só o
a vossa mão, ó Senhor, noite e dia; miserável que se reconhece assim encontra a misericórdia de Deus. Todos
– e minhas forças estavam fugindo, * nós vivemos a miséria humana. Pensar a miséria humana nos remete a
tal como a seiva da planta no estio. pensar na miséria econômica, que é uma miséria triste. Mas nós devemos
–5 Eu confessei, afinal, meu pecado, * pensar a miséria em todas as outras realidades que se apresentam. A partir
e minha falta vos fiz conhecer. daí vamos entender que a misericórdia vai ser exercida por pessoas que têm
– Disse: ‗Eu irei confessar meu pecado!‘ * compaixão, solicitude pela desgraça alheia.
E perdoastes, Senhor, minha falta. O Evangelho que nos é apresentado nos mostra que Deus é o Pai de
misericórdia e nos faz perceber que esta é insondável, é um tesouro de
–7 Sois para mim proteção e refúgio; * compaixão inesgotável. Peçamos a Deus que multiplique em nós a Sua
na minha angústia me haveis de salvar, misericórdia, para que não desprezemos os momentos difíceis que outros
– e envolvereis a minha alma no gozo * vivem, mas sejamos homens e mulheres que agem com misericórdia.
da salvação que me vem só de vós.
Mediante o Amor misericordioso de Deus que me envolve, como reajo III SEMANA DA QUARESMA
diante das minhas misérias e as misérias dos outros? Encontro nas minhas Jo 4,5-42
misérias uma escola de santidade, um caminho para conversão?

Uma fonte de água jorra para a vida eterna

Neste texto vemos que Jesus, mesmo cansado não hesita em nos atender,
ouvir e dialogar conosco, assim como fez no encontro com a Samaritana.
Ao meio-dia, em pleno sol escaldante, Jesus interrompe sua caminhada para
beber água. Vendo a samaritana, Jesus lhe pede água. Um encontro
inusitado descortina-se: ela da Samaria e Ele um judeu. Os judeus
desprezavam os samaritanos e, justamente para uma mulher, Jesus pede
água. A mulher se surpreende: para ela, aquele homem nem a
cumprimentaria. Lamentavelmente, se sentia invisível aos homens, mais
ainda aos judeus. Jesus era diferente, a água que Ele ofereceria àquela
mulher, era água viva, água que saciaria todas as suas necessidades físicas e
espirituais.
Quando Jesus pediu, “dá-me de beber”, ela não entendeu, mesmo Ele
explicando. Desta maneira, Jesus vai mais além e lhe toca o coração tão
sofrido. Ele conhecia todas as suas feridas e angústias, suas dores e medos.
Jesus não se incomoda com o passado e a procedência daquela mulher, Ele
se revela e quer saciar a sua sede.
Aquela Samaritana representa multidões de mulheres e de homens
discriminados do convívio da sociedade, vivendo à margem, devido à cor,
ao gênero,em detrimento do divórcio e seu status social. Porém a todos
Jesus oferece algo que transcende ao tempo e ao espaço, ou seja, aquilo que
não se acaba como as coisas terrenas, mas que é eterno. Ele faz a samaritana
dar passos novos, oferece a ela água viva e é essa água viva que Jesus
continua a oferecer a todos nós. Jesus e a Samaritana apresenta-nos um
encontro simples e delicado, mostrando-nos que é na simplicidade desse
encontro que Deus se revela próximo, dialogante e presente; Ele continua
se revelando, como Dom de Deus a nós.
Este Dom compreende-se como água viva que jorra para a Vida Eterna, sem
nos prender ao lugar, ao culto. E todo este mistério nos é revelado em
Espírito e em Verdade. Um culto ao Pai que passa pelo Espírito Santo e
pelo próprio Jesus. Esse Espírito que é o próprio Dom de Deus, esse Pai que
quer completar à sua criação, a própria imagem e semelhança. A adoração
em Espírito e Verdade, é a relação nova, inaugurada entre Criador e
criatura, que reforça a nossa convicção de ter encontrado o verdadeiro
sentido da vida.
Eu deixaria o meu „cântaro‟ para anunciar o verdadeiro Dom de Deus?
Diante da necessidade do Anúncio, estaríamos dispostos a assumir que „na
plenitude dos tempos, Deus enviou seu próprio Filho para cumprir a
promessa: Façamos o homem a nossa imagem e semelhança‟? Jesus não só
veio por causa do nosso pecado, mas veio conformar a imagem do homem à
semelhança de Deus. Assumindo nosso corpo, assumiu nossas dores, nossos
pecados, nossas fragilidades e, como consequência, a cruz, a morte e o
sofrimento. Por restaurar nossa vida recebida do Criador, o Espírito nos
revela como devemos ser gratos(as)a Deus, que permitiu-nos desfrutar desta
vida na Sua presença.
Como agradeço ao Criador, o dom da minha vida? Só no bem que faço a
humanidade, posso agradecer o dom da minha existência. O que ofereço a
Quem me pede água? Qual é a minha sede? Como reconhecer minha
semelhança com esse Homem que me oferece água que jorra para a Vida
Eterna?
A Samaritana no final do diálogo com Jesus, reconhece e lhe pede da água
para matar sua sede eterna, a fim de não mais necessitar voltar naquele lugar
para buscar água. Ela vai chamar mais pessoas para conhecer aquele homem
que falou tudo sobre sua vida e “muitos” daquela cidade acreditaram nEle
por causa dela, por ser verdadeiro o testemunho que pronunciava. Como
busco hoje e como reconheço aquele que me oferece água viva? Como
entendo que sou criado a imagem e semelhança de Deus, numa sociedade
onde indivíduos vivem cada dia mais distantes? Façamos uma conversão
autêntica testemunhando que Jesus rompe barreiras e muros de separação
entre nós. Reconheçamos Jesus nosso Redentor.
Em meio a esse contexto, os desafios nos confrontam: viver a vocação de
batizado, chamado à radicalização desse Batismo pela profissão dos
Conselhos Evangélicos, no meio do mundo, como testemunhas de Jesus;
subir a Jerusalém, se comprometer com o trabalho do dia a dia que permite
o nosso sustento; ser luz e fermento no meio do mundo, levando amor onde
existe ódio, sendo pacífico onde existem conflitos; agradecer o que se tem;
denunciar as injustiças e anunciar o Dom de Deus em nosso meio; observar
os sinais dos tempos que nos anunciam o advento do Senhor que continua
se interessando por todos nós; fazer tudo com a vocação e convicção de
filhos de Deus chamados por Ele em vista de Seu reino. Converter essas
verdades em ações será o nosso culto em Espírito e Verdade.
Jesus é atraente e seduziu logo o coração dos samaritanos que o convidaram
para permanecer no meio deles. Refletindo, Ele atendeu ao convite e ficou
dois dias naquela região. Esse versículo nos mostra que Jesus veio para a
toda humanidade, não apenas para uns “poucos povos”. Ele veio para
consumar a Obra daquEle que o enviou, e isso se tornou o seu projeto de
vida e o seu alimento, como afirmou em sua permanência na terra, não
somente nesse episódio. Jesus se mostra determinado a levar a termo e ir até
as últimas consequências o chamado de Deus. Sua missão é levar à
plenitude a obra do Pai, salvar a Sua criação, que em muitos momentos está
longe do seu Reino. Portanto, muita gratidão a Deus pela vida, e ainda
maior gratidão por ter morrido na cruz pelo meu amor.
Maria Esmeralda Ribeiro, IMSP
Instituto Missionário Secular da Paixão
SEGUNDA-FEIRA DA 3ª SEMANA (13/03/2023)
“Acolher Jesus e um convite para amar e servir.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 62
— 2Sois vós, ó Senhor, o meu Deus!*
Desde a aurora ansioso vos busco!
= A minh‘alma tem sede de vós,+
minha carne também vos deseja,*
como terra sedenta e sem água!
— 3Venho, assim, contemplar-vos no templo,*
para ver vossa glória e poder.
— 4Vosso amor vale mais do que a vida:*
e por isso meus lábios vos louvam.
— 5Quero, pois, vos louvar pela vida,*
e elevar para vós minhas mãos!
— 6A minh‘alma será saciada,*
como em grande banquete de festa;
— cantará a alegria em meus lábios,*
ao cantar para vós meu louvor!
– 7Penso em vós no meu leito, de noite,*
nas vigílias suspiro por vós!
— 8Para mim fostes sempre um socorro;*
de vossas asas à sombra eu exulto!
— 9Minha alma se agarra em vós;*
com poder vossa mão me sustenta.
Texto bíblico: Lc 4,24-30
Do livro “El gemito de la Paloma” do Beato Domingos da Mãe de Deus:
“Meu caríssimo Senhor, confesso que o que me faz gemer e me oprime o
coração é o estado atual em que se encontra a Igreja e a Religião. Como
podem ver a grande desolação que reina no mundo, sem sentir congelar-se o
sangue nas veia? Como podem ver, sem lágrimas nos olhos, tantas
províncias, tantos reinos onde, em outros tempos, florescia a religião
católica, onde vosso Nome era tão glorificado, e agora, em troca, estão
sepultados nas trevas do erro da impiedade?
“Existe, é certo, um bom número de pessoas animadas e plenas de zelo;
porém são poucas e insuficientes para fazer resplandecer sobre a terra os
raios do esplendor celestial. Diante destas realidades, posso ficar sem sofrer
e chorar? Ah, se me dessem a cítara de Jeremias! Ao menos, quisera com
ela desafogar um pouco a minha grande dor. Quisera dizer: „Olhem povos,
olhem aquela cidade de perfeita beleza, olhem aquele lugar que, em outro
tempo constituía a alegria de toda a terra, olhem como essa alegria se
converteu em tristeza, em pranto! Olhem aquelas ruas, frequentadas outrora
por devotos peregrinos, e agora desertas! Olhem aqueles templos, onde em
outro momento havia tantas pessoas plenas de fé e de amor, e agora
desolados. Já não existe quem vai às suas solenidades, com espírito
religioso. Ou não se vão para nada, ou o fazem apenas para admirar a beleza
da arte, que para louvar a grandeza de Deus. Vejam povos, vejam esta
minha aflição! Veja, oh Senhor, e considere a infâmia em que ficaram. Aí!
quem me desse duas fontes de lágrimas para chorar, dia e noite, a desolação
do meu povo! Meu querido Jesus, não tenho motivos para queixar-me e
chorar?”.
Reflexão: Nossa reflexão se dá a partir da dimensão do acolher Jesus dentro
da proposta de entender o tempo quaresmal como um tempo vocacional.
Toda nossa vida é uma vida vocacional, e devemos compreendê-la não
apenas como a vocação de sacerdotes, de religiosas, de religiosos, de
missionários. A Igreja é vocacionada porque é chamada e todo aquele que é
chamado é um eleito de Deus. Somos chamados a participar como
discípulos e discípulas, missionários(as) vocacionados do Reino, partindo
ao encontro com Cristo “que nos convida a amar e servir. Somos
convidados à comunhão com a Igreja e sem esta comunhão não há
discipulado”. É o que nos fala o nº 55 do texto base do ano vocacional no
Brasil.
Somos convidados à comunhão com a Igreja e, sem esta comunhão, não há
discipulado. A vocação à qual fomos chamados é fundamentalmente
eclesial, quer dizer, toda vocação é para ser comunidade do Senhor. A
Igreja não é e nem jamais será um trampolim para homens e mulheres que
vivem em suas estradas pessoais de ascensão na busca pelo divino.
Ao refletirmos isso, nós aceitaremos Jesus na medida em que procurarmos
servir a comunidade onde estamos, não para satisfazer os interesses
pessoais, mas para estar a serviço de Deus. “Há no coração de cada pessoa
humana uma profunda vocação à unidade, pois todos têm a mesma origem e
o mesmo Pai, e levam em si a imagem e semelhança do próprio Deus em
sua comunidade Trinitária” (Documento de Aparecida nº 523).
O meu seguimento vocacional me faz integrado(a) à comunidade eclesial?
Faço do meu serviço apenas um trampolim de ascensão pessoal?O meu
encontro pessoal com Jesus é uma experiência de amar e servir?Estou
construindo a civilização do amor e a unidade?
TERÇA-FEIRA DA 3ª SEMANA (14/03/2023)
“Jesus! O vosso Preciosíssimo Sangue é fonte inesgotável de Perdão.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 64
– Ó Senhor, convém cantar vosso louvor *
2 uma relação entre o perdão e a cura. O perdão tem um efeito terapêutico
com um hino em Sião!
–3 † E cumprir os nossos votos e promessas, *
pois ouvis a oração.
– Toda carne há de voltar para o Senhor, *
por causa dos pecados.
–4 E por mais que nossas culpas nos oprimam, *
perdoais as nossas faltas.
–5 É feliz quem escolheis e convidais *
para morar em vossos átrios!
– Saciamo-nos dos bens de vossa casa *
e do vosso templo santo.
Texto bíblico: Mt 18,21-35
Do livro “Il mese santificato” de São Vicente Maria Strambi: “Ó meu
Deus, quão grande tem sido vossa inefável caridade para conosco,
miseráveis pecadores, que mortos à graça, não poderíamos esperar senão
uma morte eterna! Por nós haveis se sacrificado numa cruz, e com vossa
morte nos destes a vida. Esta vida eu a perdi todas as vezes que pequei
gravemente, e Vós, pelos méritos de vosso Preciosíssimo Sangue,
dignastes-vos em devolvê-la. Mas o que me acontecerá se volto a vos
ofender novamente? Ah meu Jesus! Morra eu mil vezes do que perder o
tesouro de vossa graça e essa vida imortal que me adquiristes com o preço
de vosso Sangue. Ah! Oxalá eu desse por Vós meu sangue e minha vida,
como tem feito tantas almas amadas que por Vós derramaram todo seu
sangue! E o que eu daria, mesmo que Vos desse todo o sangue de minhas
veias, em troca de vosso amor infinito derramado por mim? Ah! Bem, eu
não posso dar por Vós o sangue do meu corpo. Dou, então, todo o sangue
do meu coração. Este coração eu Vos dou com todas as suas dores e
arrependimentos. Eu Vos dou, meu Jesus, Vos consagro, certo de que não o
desprezareis. E pelos méritos de vosso Sangue, faz com que eu não perca
outra vez a graça que me dais para possuir a Vida da Eternidade, essa Vida
de Glória que me haveis merecido com a efusão de vosso Sangue Precioso”.
Reflexão: Não somente neste texto, mas no Evangelho inteiro encontramos
indubitável, e a cura dos enfermos é revelação da presença misericordiosa
de Deus. Em seu caminho, Jesus cura muita gente e, ao curar, Ele diz: seus
pecados estão perdoados. A cura está vinculada ao perdão dos pecados
dando vida, luz aos olhos dos cegos, autonomia física ante os órgãos
atrofiados dos paralíticos. “É mais fácil dizer: teus pecados estão perdoados
ou levanta-te, pega tua cama e anda?”
No perdão, Jesus se revela como Filho do Homem, aquele que tem o poder
para perdoar pecados e para curar. O perdão, além de ser um ato de amor, é
um ato de cura, uma experiência de amor, inclusive nas enfermidades,
diante da realidade da morte. E essa cura se dá em todas as instâncias,
inclusive na cura interior.
A experiência de sentir-se perdoado impulsionava os enfermos para além de
sua atuação na vida. Esses enfermos se sentiam vocacionados ao anúncio da
Boa Nova, em quase todas as narrativas do perdão, observamos esses
homens saírem para anunciar o perdão e a cura dos pecados.
No Novo Testamento, Jesus, diante de uma religião judaica tão legalista,
com tantas proibições e tantas pessoas excluídas, aponta a dimensão do
perdão como a dimensão da inclusão, como abertura das portas do coração
para acolher aquele ou aquela que está fora do convívio e da comunidade.
Todos nós necessitamos vivenciar a dinâmica de perdoar e de sermos
perdoados e viver uma experiência mais profunda da reconciliação.
Miserando atque eligendo (Olhou-o com misericórdia e o elegeu): O meu
chamado vocacional se baseia na experiência da misericórdia de Deus que
perdoa e cura? Anuncio a partir da própria vida a Boa Nova do perdão dos
pecados?
QUARTA-FEIRA DA 3ª SEMANA (15/03/2023)
“As leis e mandamentos devem estar fundamentados no Amor.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 118
17
Sede bom com vosso servo, e viverei, *
e guardarei vossa palavra, ó Senhor.
–18 Abri meus olhos, e então contemplarei *
as maravilhas que encerra a vossa lei!
–19 Sou apenas peregrino sobre a terra, *
de mim não oculteis vossos preceitos!
–20 Minha alma se consome o tempo todo *
em desejar as vossas justas decisões.
–21 Ameaçais os orgulhosos e os malvados; *
maldito seja quem transgride a vossa lei!
–22 Livrai-me do insulto e do desprezo, *
pois eu guardo as vossas ordens, ó Senhor.
–23 Que os poderosos reunidos me condenem; *
o que me importa é o vosso julgamento!
–24 Minha alegria é a vossa Aliança, *
meus conselheiros são os vossos mandamentos.
Texto bíblico: Mt 5,17-19
Avisos de Maria Madalena Frescobaldi: “Minhas filhas, o maior segredo
da vida religiosa é a exatidão na observância das Regras que vos foram
dadas pela Mão amorosa de Deus: granjeareis o Paraíso se observardes
todas as coisas que elas vos impõem, com espírito de profunda humildade,
com coração sincero e com o único motivo e estímulo do Amor a Deus. Por
amor a Deus guardai, pois, o silêncio; por amor executai vossas ocupações,
vosso encargos quaisquer que eles sejam; por amor submetei-vos aos
superiores e aos iguais; por amor suportai os pequenos incômodos com
alegria e tudo o mais que vos causa repugnância. Desta maneira, sereis
pontuais e exatas na observância das Regras, que não deixareis de observar
integralmente, não ficando apegadas ao superficial mas ao espírito, à
imitação do Divino Salvador que, cumprindo em tudo a Vontade de Seu Pai
Celeste, deixava-se conduzir à mercê de todos”.
Reflexão: O Evangelho nos fala “Não penseis que vim abolir a Lei e os
Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Eu
lhes garanto: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra
ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra.”
Muitas vezes as religiões vão acumulando normas e preceitos, costumes,
regras, leis. Jesus compreende muito bem o que o ser humano sente. É fácil
viver disperso sem perceber exatamente o que é fundamental, o que é o
ápice e o centro para orientar a vida de maneira sadia. No Antigo
Testamento, os dez mandamentos se transformaram em seiscentos e treze
preceitos e interditos. Isso é preocupante! Mas é preciso perceber que Jesus
também não veio abolir os mandamentos, mas entender que aquilo que foi
construído de forma sólida, não criado pelo farisaísmo, é a base dos
ensinamentos da doutrina que nos apresentam as Sagradas Escrituras.
Além disso, acontece entre nós cristãos, a capacidade de criar penduricalhos
naquilo que não deveria existir. Jesus, diante da pergunta do escriba, atreveu
ir mais longe e mostrar uma realidade em nossa vida capaz de fazer emergir
o melhor que há em nós, que é simplesmente o amor. Todos os
mandamentos e leis devem ser compreendidos como algo que favorece para
o crescimento da experiência do amor, ponto fundamental da nossa fé.
A essência dos mandamentos é viver a experiência do amor, de amar e
sentir-se amado. O amor como realidade de vencer todo mal, todo pecado.
Pensar em mandamento, em ensinamento, em lei, é pensar de forma
pedagógica aquilo que nos leva a viver o grande mandamento que é o amor
a Deus e ao próximo.
A vivência dos Mandamentos, bem como das nossas Regras e
Constituições, tem me levado a viver e compreender o essencial que é a
experiência do amor a Deus e ao próximo? As leis estabelecidas a mim e ao
meu próximo estão pautadas pela misericórdia e o amor? A vida cristã tem
como essência o amor: o que tenho realizado de concreto para a promoção
da cultura do amor?
QUINTA-FEIRA DA 3ª SEMANA (16/03/2023)
“Jesus nos revela a vida, desta maneira, é necessário discernimento para
aderir ao Reino de Deus.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 71
– Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus, *
1 Paixão de Jesus, perco os sentidos, e então não vejo mais ninguém a não ser
vossa justiça ao descendente da realeza!
–2 Com justiça ele governe o vosso povo, *
com equidade ele julgue os vossos pobres.
–3 Das montanhas venha a paz a todo o povo, *
e desça das colinas a justiça!
=4 Este Rei defenderá os que são pobres, †
os filhos dos humildes salvará, *
e por terra abaterá os opressores!
–7 Nos seus dias a justiça florirá *
e grande paz, até que a lua perca o brilho!
–8 De mar a mar estenderá o seu domínio, *
e desde o rio até os confins de toda a terra!
–12 Libertará o indigente que suplica, *
e o pobre ao qual ninguém quer ajudar.
–13 Terá pena do indigente e do infeliz, *
e a vida dos humildes salvará.
–14 Há de livrá-los da violência e opressão, *
pois vale muito o sangue deles a seus olhos!
–16 Haverá grande fartura sobre a terra, *
até mesmo no mais alto das montanhas;
– as colheitas florirão como no Líbano, *
tão abundantes como a erva pelos campos!
Texto bíblico: Lc 11,14-23
Carta de Santa Gema ao Padre Germano, maio de 1900: “Ontem eu
estava muito desanimada, porque tenho uma grande dúvida: tenho medo de
que em todas as coisas extraordinárias que a cada dia me acontecem, tenho
medo de enganar-me e de enganar os outros. Isto não gostaria de fazer
verdadeiramente. O Confessor me disse que não pensasse nisso e depois me
disse ainda que escrevesse estas coisas ao senhor. Padre, peça a Jesus que
me ajude, pois que aos outros, particularmente, não gostaria de enganar.
Tenho medo, tanto medo. Em certos dias gostaria até que ninguém me
visse.
E depois, escute: quando me coloco a rezar, especialmente a meditar sobre a
Jesus e não sinto mais nada, ainda que me fizessem alguma coisa. Procurei
distrair-me, ver se conseguia não dormir 4 e fazer a oração vocal, mas me
parece que não consigo. Às vezes, se fui boa, então, Jesus, depois da
comunhão, se faz sentir, mas logo adormeço.
“Por caridade, Padre, estou enganada e enganando os outros? Peça a Jesus
que lhe faça conhecer um pouco estas coisas, pois de modo nenhum gostaria
de pecar e não quero ofender a Jesus. Mas Jesus me ajuda, eu o sinto. Uma
coisa, porém me consola: porque na minha mente não existe mais que Jesus.
Tantas vezes me acontece que me perguntam alguma coisa falam comigo,
mas eu não entendo nada.”
Reflexão: O nº 44 do texto base do 3º Ano Vocacional nos ilumina de
forma bastante clara sobre o discernimento da vida cristã e, ao mesmo
tempo, a dimensão do Reino. Diz o texto “Jesus nos revela a vida íntima de
Deus, a comunhão Trinitária.
“Estamos diante de um amor de tal intensidade que faz da pessoa sua
morada (1 Jo 14,23), revelando que, em Cristo, somos todos irmãos (Mt
23,8). Diante das dores da humanidade, dos sofrimentos que levam tantos
ao desespero, Jesus Cristo oferece uma palavra viva, capaz de ser esperança,
ressurreição e fonte de vida eterna. De modo que, de fato, Deus seja tudo
em todos (1Cor 15,28). O Senhor propõe que entreguemos nossa vida para
ganhá-la (Jo 12,25), e faz compreender que o discípulo é aquele que gasta
sua vida como sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14), caminhando de
mãos dadas com toda a humanidade sem abandonar nenhum daqueles que o
próprio Senhor lhes confiou neste peregrinar, os quais Ele mesmo jamais
abandonará”.
Nas minhas atitudes e gestos como vocacionado(a) ao amor é possível ver
os sinais do Reino num consumir e consumar a própria vida como sal da
terra e luz do mundo?Minha adesão ao Reino de Deus é verdadeira e
coerente?Na caminha cristã sinto-me acompanhado(a) pela presença de
Jesus Cristo?
4
Dormir para Santa Gema significa entrar em êxtase.
SEXTA-FEIRA DA 3ª SEMANA (17/03/2023)
“Amai como Cristo e amai-vos como Ele vos amou!”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 33
–2 Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, *
seu louvor estará sempre em minha boca.
–3 Minha alma se gloria no Senhor; *
que ouçam os humildes e se alegrem!
–4 Comigo engrandecei ao Senhor Deus, *
exaltemos todos juntos o seu nome!
–5 Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, *
e de todos os temores me livrou.
––12 Meus filhos, vinde agora e escutai-me: *
vou ensinar-vos o temor do Senhor Deus.
–13 Qual o homem que não ama sua vida, *
procurando ser feliz todos os dias?
–14 Afasta a tua língua da maldade, *
e teus lábios, de palavras mentirosas.
–15 Afasta-te do mal e faze o bem, *
procura a paz e vai com ela em seu caminho.
Texto bíblico: Mc 12,28b-34
Avisos (texto de Maria Madalena Frescobaldi): “Amai-vos
reciprocamente. Isto será observado se em nosso convento se praticar
aquele grande Mandamento: „Antes de tudo amem a Deus e depois o
Próximo‟. Este é o fundamento de toda a virtude e sem a observância deste
preceito, minhas filhas, não entraremos na glória do Paraíso.
“Para cumprir o primeiro „nos é necessário não ter outro objetivo em todas
as nossas ações que o agrado de Deus‟.
“Quanto ao amor ao próximo, temos uma regra muito justa e
compreensível: „não fazer aos outros aquilo que não queremos para nós
mesmas‟. Então, longe de vós as animosidades, as murmurações, os
ciúmes.”
Reflexão: Jesus é interpelado pelos fariseus doutores da lei sobre qual é o
primeiro de todos os mandamentos. E a resposta de Jesus é uma resposta
muito clara: o amor a Deus e ao próximo é muito mais importante do que
todos os holocaustos e todos os sacrifícios.
Com isso, Jesus quer dizer que o mandamento do amor é mais importante
que os mandamentos relacionados com o culto e os sacrifícios do templo.
Esta afirmação já vinha desde os profetas do Antigo Testamento: Os 6, 6; Sl
49,8-9; Sl 50,18-19. Hoje, podemos afirmar que a prática do amor é mais
importante do que todas as novenas, promessas, romarias, missas, rezas ou
procissões. Ou seja, rezamos para nutrir a nossa capacidade de amar.
O resumo do Reino de Jesus se confirma na conclusão do doutor da lei
sobre a qual Jesus diz: você não está longe do Reino de Deus. Pensarmos
que o Reino de Deus consiste em unir os dois amores: amor a Deus e amor
ao próximo, pois se Deus é pai, mãe, todos nós somos irmãos e irmãs, filhos
e filhas de um mesmo pai, de uma mesma mãe e temos que mostrar isso em
nossa vida, no nosso agir, no nosso ser, vivendo em comunidade e
construindo essa comunidade de relações, de afetos, de amor, de respeito,
de justiça.
Desses dois mandamentos nos fala Jesus: dependem toda lei e os profetas.
Portanto, coloquem na memória, na sua capacidade intelectiva, no coração,
em suas mãos, nos seus pés, no seu coração, esta lei maior, pois não se
chega a Deus a não ser através da doação total ao próximo.
Minha vocação se conjuga com o amor a Deus e ao próximo? A minha
resposta de amor a Deus que me atraiu, me chamou e me envia se reflete na
minha doação aos irmãos? Tenho afastado de minhas relações fraternas as
murmurações, animosidades e ciúmes?
SÁBADO DA 3ª SEMANA (18/03/2023)
“Oração humilde: sinal de discernimento e amadurecimento vocacional.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Salmo: 118
–65 Tratastes com bondade o vosso servo, *
como havíeis prometido, ó Senhor.
–66 Dai-me bom senso, retidão, sabedoria, *
pois tenho fé nos vossos santos mandamentos!
–67 Antes de ser por vós provado, eu me perdera; *
mas agora sigo firme em vossa lei!
–68 Porque sois bom e realizais somente o bem, *
ensinai-me a fazer vossa vontade!
–69 Forjam calúnias contra mim os orgulhosos, *
mas de todo o coração vos sou fiel!
–70 Seus corações são insensíveis como pedra, *
mas eu encontro em vossa lei minhas delícias.
–71 Para mim foi muito bom ser humilhado, *
porque assim eu aprendi vossa vontade!
–72 A lei de vossa boca, para mim, *
vale mais do que milhões em ouro e prata.
Texto bíblico: Lc 18,9-14
Do livro “Trattenimenti Spirituali” do Beato Bernardo Maria
Silvestrelli: “Quando considerais que Jesus Cristo sendo Senhor do
universo, veio a esta terra para ensinar-nos o caminho da salvação, e
escolheu nascer entre mil desconfortos, viver desconhecido e desprezado e
morrer como um homem muito abominável e ainda indigno de estar sobre a
terra, havereis de aprender o desprezo no qual se deve ter a estima, as
honras e todos os bens do mundo, já que somos o que somos diante de
Deus, e qualquer felicidade terrena não é mais que vaidade, por nada
benéfica à vida eterna, a qual só devemos aspirar. Assim quando considerais
as fadigas e os suores derramados por Jesus Cristo para nos instruir e
abençoar a todos, e depois os maus tratos que Ele recebeu em troca, buscai
avaliar a mansidão e a paciência dEle em tantos sofrimentos, e como não
disse nunca uma palavra em sua defesa, não fez jamais ouvir um lamento,
não deu jamais um sinal de incômodo e aborrecimento. Procurais que o
vosso coração se aqueça com afeto por estas virtudes e faça boas resoluções
de imitá-lo, como por exemplo no suportar de boa vontade as moléstias que
vos serão dadas, de tomar em boa parte as grosserias e as ofensas que vos
aparecerão receber, de tirar do vosso ânimo toda ideia de antipatia, de
ciúme, de rancor.
“O mesmo discurso vale quando meditais o humilde comportamento que
Jesus Cristo manteve sempre no ser abatido, vilipendiado, acusado e
condenado injustamente, até tornar-se o opróbrio da plebe. Dai-vos, assim, a
um sincero olhar a vós mesmos para confundir-vos na vossa soberba, e para
aprender a ser humildes de coração, de amar a vossa abjeção, o vosso
abaixamento e desprezo.”
Reflexão: Dois homens sobem a montanha e vão ao templo de Jerusalém
para se apresentar, para fazer sua oração. O nº 86 do texto base do ano
vocacional nos leva a pensar sobre as várias vezes em que achamos que não
precisamos mais de rezar a vocação ou rezamos apenas pela vocação dos
outros porque já abraçamos o matrimônio ou abraçamos o laicato ou a vida
sacerdotal ou religiosa.
A vocação é um tema perene para ser refletido na vida de cada homem, de
cada mulher. O ser vocacionado de Deus é profundamente jovial e dinâmico
não é finito. Refletir sobre a vocação como uma graça e um dom que não se
exaure, que é infinito.
No nº 86 o texto do ano vocacional nos fala: o evangelista nos informa que
Jesus subiu a montanha. Esse deslocar-se de Jesus não é somente
geográfico, mas indica uma intervenção divina (At 2,34; Rm 10,6-7). A
montanha pode ser o lugar alto e era vista como habitação das divindades
no Antigo Testamento, e o limite em que uma divindade descia para se
comunicar com as pessoas. Assim representa a meditação entre Deus e a
humanidade - a montanha, o santuário, também como resposta a momentos
significativos da história de Israel. Um exemplo é a experiência que Moisés
faz de Deus sobre o monte Horeb quando recebe a missão de libertar o povo
da escravidão (Ex 3,1) e é conduzido para esse lugar no qual é estabelecida
uma aliança entre Deus e o povo (Ex 24). O profeta Elias percebe a
presença de Deus na brisa suave no monte Horeb quando foge da rainha
Jezabel sentindo-se fracassado em realizar o que o Senhor lhe solicita. Aí é
fortalecido por Deus a fim de continuar a missão profética (1 Rs 19).
Diante desta parábola e a realidade de ir ao templo, nós precisamos fazer
uma reflexão em relação às nossas verdadeiras impressões e disposições
quando nos apresentamos ante o altar no templo do Senhor para conversar
com Ele. A forma como subimos ao templo não é o que vale aos olhos de
Deus, o sacrifício em pé ou ajoelhado, enfim, mas com quais sentimentos
nós nos dirigimos ao templo para adorá-lo.Podemos ser como aquele fariseu
que abriu a boca apenas para se vangloriar das suas “boas obras” e todos os
seus méritos e, ao mesmo tempo, apontava o pecado do cobrador de
imposto, já desprezado pela sua aparência, desprezado por suas aparentes
imperfeições.
O cobrador de imposto já se encontra envergonhado, cabisbaixo, mas dá
exemplo de verdadeira humildade. Quando reconhecemos que somos
pecadores não são as nossas palavras bonitas, nossas orações longas que
agradam ao Senhor que sonda nossos corações. Por isso a oração que
fizermos no mais profundo silêncio será ouvida.
Rezo com humildade minha vocação todos os dias, compreendendo-a como
um processo jovial e dinâmico sustentado pela misericórdia de Deus?
Estou disposto(a) a assumir a minha vocação como Graça e missão? O
discernimento e amadurecimento vocacional devem estar pautados pela
prática da oração: tenho reservado tempo para a oração pessoal de
intimidade com Deus?
IV SEMANA DA QUARESMA
Jo 9,1-41
O cego foi, lavou-se e voltou enxergando
É DOM DO CÉU DEIXAR O MUNDO PARA VIVER COM DEUS
Para mim, falar da minha vocação é falar da misteriosa ação de Deus em
minha alma, é colocar em relevo sua inesgotável misericórdia, na vida de
sua frágil criatura. Desde criança, por volta dos três anos, eu gostava de
brincar com uma toalha na cabeça ou qualquer pano comprido, como se
fosse um véu, e quando me perguntavam o que eu seria quando crescesse,
respondia que seria esposa de Cristo; nunca dava outra resposta. O que
deixava minha família intrigada era de onde eu tirava essa resposta, pois eu
nunca tinha visto uma religiosa. Minha mãe ficava feliz, pois tinha ouvido
dizer que Santa Rita era esposa de Cristo.
Graças a Deus eu nasci numa família muito cristã, católica; posso dizer que
recebi a fé com o leite materno (ainda hoje me sinto bem nutrida desse
leite). Minha família se reunia todas as noites para rezar o terço ou cantar o
ofício da Imaculada Conceição. Eu, com a idade que tinha, gostava mesmo
era de ficar brincando, dos meus folguedos, então quando nos reuníamos
para a oração eu fingia dormir, e quando chegava o momento do Glória, me
sentava e dizia: São José da Bíblia e todos respondiam: rogai por nós, e
novamente eu me deitava. Isso aconteceu até que a mamãe me disse que eu
precisava rezar o terço, pois ela tinha me consagrado a Nossa Senhora.
Então tomei muito amor à recitação do terço.
Mas minha grande alegria era ir à Igreja. Eu sempre pedia: Mamãe, me leva
à igreja; e quando me perguntava o que eu ia fazer lá, respondia: quero ver
Deus. Não sei ao certo quando me despertou o uso da razão, mas posso
dizer que desde criança tinha noção do sagrado e do meu jeito infantil fazia
oração, me recolhia e me abrigava no coração de Deus. E nos dias frios e
chuvosos ficava boa parte do tempo no quarto lendo e escrevendo; amava
ficar só, sem deixar de amar os momentos em família, orações, brincadeiras,
danças e sempre fui muito alegre!
Um dia eu estava na sacristia, eu era coroinha, junto com outros coroinhas
esperando o Padre, e conversávamos e eu disse: Eu vou ser freira! Não
tinha reparado que também estava lá Aparecida Radaspiel (amiga de
mamãe). Então ela me perguntou: você está falando sério?Respondi: Sim
estou. E me pediu o endereço lá de casa e meu nome completo. Aí tudo
começou, ou melhor, despertou-se minha caminhada vocacional. Eu tinha
uns 11 anos; recebi uma carta de uma religiosa carmelita que se chamava Ir.
Denise (in memoriam); fiquei me correspondendo com ela, e um dia o
Padre Aloísio (meu Pároco) me levou a Caratinga (MG) para conhecê-la.
Aos 15 anos com muita dor me despedi de minha família e amigos e fui
morar com as Irmãs como aspirante. Foi muito difícil deixar minha família,
principalmente meus pais; mas enfim, venceu a Graça de Deus. Caminhei
com serenidade e alegria nas Carmelitas de vida apostólica, estudava, e
fazia meu apostolado nos primeiros anos em um asilo para idosos; depois
em um centro de juventude, e depois no noviciado. Mas eu sentia um vazio
no coração, faltava algo; na oração sentia que Deus me pedia algo mais: o
que seria? Ah! Deus me chamava para a vida contemplativa, mas de
contemplativas só sabia que tinha o Carmelo. Manifestei meu desejo ao
diretor espiritual, Dom Benedito de Ulhoa Vieira, que me aconselhou a
viver o Carmelo em meu interior. Eu tentei, mas a inquietação continuou
como a pulga atrás da orelha.
Fiz a profissão simples e fui morar numa comunidade que era um
educandário e uma sorveteria, mas eu me sentia como peixe fora d‟água.
Depois com a saída de uma Irmã da comunidade de Sobradinho (DF) fui
transferida para lá, e trabalhava muito no colégio, na educação infantil
como Professora de Ensino Religioso. Infelizmente eu me sentia mais uma
profissional do que uma religiosa e tinha que dar o melhor de mim para
encontrar um tempo para rezar. Mas como Deus sempre guia os passos de
seus filhos, comecei nos fins de semana ir à missa no Carmelo.
Falei com meu diretor espiritual, na época, o Padre Cláudio Ambrósio, do
meu desejo de ir para o Carmelo. Ele disse: Se você não falasse isso, eu te
falaria. E me deu todo apoio necessário. Não foi fácil para as Irmãs
aceitarem minha decisão, pois apesar de eu ser um pingo de gente, Deus me
deu a Graça de ser uma boa religiosa.
Depois de alguns contratempos pedi e fui admitida no Carmelo Nossa
Senhora do Carmo em Campo Mourão (PR). Como Deus tem seus
caminhos, cheguei a ser noviça, mas a saúde não ajudou e tive que voltar
para casa. Vivi momentos felizes no Carmelo, ao qual sou muito grata.
Passado um tempo entrei para o Carmelo no Rio Grande do Sul em Santa
Maria. Mas quando Deus não quer, nada conseguimos: eu estava bem e
comecei o noviciado, mas não perseverei, saí. Sofri muito, minha alma
chorava noite e dia, não conseguia compreender o chamado de Deus em
meu coração.
Fui morar em Vila Velha (ES) com meu irmão e padrinho Marcelino,
trabalhava numa loja, fiz muitos amigos, mas o coração continuava
inquieto. Ia todos os dias na primeira missa no Convento da Penha e pedia a
Nossa Senhora que abrisse para mim as portas do Carmelo. Meu desejo era
voltar para o Carmelo; mas essa não era a vontade de Deus. Então passei a
rezar pedindo que Ele abrisse para mim as portas de um mosteiro.
E depois de ter vivido tantos anos com o coração inquieto pela montanha do
Carmelo, a Santíssima Virgem me guiou para a montanha do Calvário,
montanha dos amantes do Crucificado. Para quem ama, as promessas de
Deus nunca são vãs, nunca caem no vazio, vão amadurecendo no crisol do
sofrimento, esperando a hora do triunfo da Vontade de Deus. Fazer a
Vontade de Deus não é fácil, mas quando se faz não existe paz maior. Ele
chama, promete fidelidade, mas não facilidade. Hoje, com a fé
amadurecida, entendo que era preciso passar pelos caminhos que caminhei
para compreender que os desígnios do Senhor são imutáveis, que seu amor
é mais que imenso. Ele é de fato um Deus paciente que nos espera e nos
alcança, não importa onde estamos, nem como estamos, Ele nos ama. E com
todas as minhas peripécias a caminho de descobrir a Vontade de Deus
aprendi a amar Deus não pelo que Ele me dá, mas pelo que Ele é: meu
Senhor e Deus.
Você deve estar se perguntando como eu conheci as Monjas Passionistas,
isto também é um mistério do amor de Deus. Como disse acima, eu queria
muito voltar para o Carmelo e até cheguei a pedir, mas a resposta foi
negativa e eu sofri muito, mas nunca deixei de acreditar na promessa de
Deus e na vocação recebida. Tenho uma amiga - Dona Antônia (que é como
uma mãe para mim). Ela me dizia “Deus não te quer no Carmelo”. Eu
sofria ainda mais e me entregava a oração e a adoração ao Santíssimo. Um
dia fui conversar com o diretor espiritual, desta vez, Padre Hiller, e ele me
aconselhou que conversasse com a Irmã Encarnate (Congregação do Verbo
Encarnado), pois elas também têm o ramo contemplativo. Fui e ela me
convidou para fazer o Retiro de Santo Inácio na casa de formação delas aqui
em São Paulo. A princípio eu disse que não viria, mas quando cheguei em
casa, rezei, refleti, me aconselhei com Dona Antônia e senti que Deus tinha
algo reservado para mim neste Retiro.
E assim fui ao Retiro; o silêncio me levou ao mais profundo de mim e eu
rezava, falava com Deus, também chorava muito, sendo que, me sentia uma
fracassada ou uma esbanjadora da Graça de Deus. Mas numa certa manhã
estava só na capela e ouvi uma voz a me dizer: “Procura uma Congregação
que tem como centro a minha Paixão!” Isso muito me deu paz e alegria
interior. Procurei na internet e logo de primeira me apaixonei pelo mosteiro
Santa Gema.
Assim são os caminhos de Deus: têm o selo da humilhação e da contradição
que são o cimento que solidificam o alicerce. Pensando na minha trajetória
vocacional até aqui vejo bem claro a mão de Deus a me guiar.
Aqui na Congregação Passionista sou muito feliz e realizada; parece que
sempre estive aqui. No Carmelo vivi momentos felizes e aprendi muita
coisa que hoje me ajuda; mas aqui sinto a alma em paz, e sou uma monja
que tem alegria interior. Louvo a agradeço a Deus todos os dias pela
vocação Passionista que Ele se dignou conceder-me. Que Ele me conceda a
cada instante a graça da fidelidade e perseverança. Hoje, às portas de selar
com Jesus pelos votos perpétuos a promessa que Ele me inspirou quando eu
era apenas uma criança, posso dizer com a alma em canto e em verso: é dom
do céu deixar o mundo para viver com Deus!!!
Irmã Adeneide do Divino Amigo Crucificado, CP
Monja Passionista
Mosteiro Santa Gema Galgani
SEGUNDA-FEIRA DA 4ª SEMANA (20/03/2023)
“São José intercessor de vossa causa diante de Deus.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo 88
–2 Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor, *
de geração em geração eu cantarei vossa verdade!
–3 Porque dissestes: ―O amor é garantido para sempre!‖ *
E a vossa lealdade é tão firme como os céus.
–4 ―Eu firmei uma Aliança com meu servo, meu eleito, *
e eu fiz um juramento a Davi, meu servidor:
–5 Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem, *
de geração em geração garantirei o teu reinado!‖
–27 Ele, então, me invocará: ‗Ó Senhor, vós sois meu Pai, *
sois meu Deus, sois meu Rochedo onde encontro a salvação!‘
–28 E por isso farei dele o meu filho primogênito, *
sobre os reis de toda a terra farei dele o Rei altíssimo.
Texto bíblico:Rm 4,13.16-18.22
Do livro “Trattenimenti Spirituali” do Beato Bernardo Maria
Silvestrelli: “Nada vos impeça de serdes devotos de São José, esposo de
Maria Santíssima e pai adotivo de Jesus Cristo. Isto poderá, certamente,
assegurar a vós mesmos grandes vantagens e muitas assinaladas graças.
Porque depois de Maria, não existe no céu alguém melhor que São José para
patrocinar a vossa causa diante de Deus.”
“E a este propósito, que São Paulo da Cruz, nosso Santo Fundador,
distintamente confiou a proteção da nossa Congregação a três advogados no
céu, recomendando por isso a nós seus filhos de nutrir para com eles uma
especial devoção. Esses são: em primeiro lugar Maria Santíssima,
particularmente sob o título de Nossa Senhora das Dores, sobretudo para
obter o espírito próprio do Instituto, vale dizer, o espírito de Jesus
Crucificado. Em segundo lugar São Miguel Arcanjo, ao qual de modo
especial, Deus confiou o cuidado de defender das insídias do demônio, da
irritação dos malévolos e de interceder a graça da perseverança na vocação
Religiosa. E finalmente São José, cujo patrocínio quis recomendar o dom
preciosíssimo da santa oração.”.
Reflexão: Pensar na figura de São José nos remete a refletir sobre a
dimensão da família de Jesus.
A narrativa de Jesus entre os doutores da lei encerra o chamado Evangelho
da infância indicando sua identidade e missão centrada na indagação que
supõe uma afirmação cristológica, cuja verdade é inegável para a fé: “não
sabíeis que devo estar na casa do meu Pai?”. Deste modo Jesus começa a
revelar imediatamente o relacionamento especialíssimo com Deus, seu Pai.
Esta relação de pai e filho já caracteriza todas as suas opções e todas as suas
ações. Por isso a narrativa não só encerra uma etapa do Evangelho da
infância – ainda que saibamos da importância de Maria e José em sua vida – TERÇA-FEIRA DA 4ª SEMANA (21/03/2023)
mas também introduz dinamicamente no modo cristológico de leitura o que “Levanta toma a tua cama e anda.”
será narrado a seguir. Mais do que curiosidade ou constituição de palavras,
de fatos, encontramos também os ditos feitos em sintonia com a decisão de V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
Jesus em cumprir a vontade do projeto salvífico do Pai no Espírito Santo. R: Socorrei-me sem demora.
Poderíamos imaginar a surpresa de José e Maria e, ao mesmo tempo, a V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
angústia na procura que eles fizeram diante da perda do filho, bem como a R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
incompreensão da resposta dada por Jesus. Tudo isso convida a uma Salmo: 6
reflexão da pergunta que Ele formula: não sabíeis? –2 Repreendei-me, Senhor, mas sem ira; *
A resposta é o próprio segredo de Jesus a ser desvendado progressivamente corrigi-me, mas não com furor!
em sua vida pública, Principalmente na morte e ressurreição; segredo que =3 Piedade de mim: estou enfermo †
consiste em ocupar-se das realidades do Pai a nosso favor, pois nele existe o e curai o meu corpo doente! *
plano de salvação. Lucas nos faz perceber que a missão de Jesus, aos
poucos, há de chegar ao cumprimento. A autonomia de Jesus em relação a 4 Minha alma está muito abatida!
Maria e José e a todos só se daria após o Batismo como ato inaugural de sua = Até quando, Senhor, até quando? †
5 Oh! voltai-vos a mim e poupai-me, *
total liberdade em face da missão, em face do anúncio do Reino e, ao ser
acolhido, autorizado pelo Pai como o Filho amado, conforme o Evangelho e salvai-me por vossa bondade!
que narra o Batismo. –6 Porque, morto, ninguém vos recorda; *
Nesse sentido é possível compreender porque o evangelista alude ao fato pode alguém vos louvar no sepulcro?
que Jesus crescia, pois o tempo da verdade, da maturidade ou da autonomia =7 Esgotei-me de tanto gemer, †
e da plena manifestação ainda não chegara. Quando contemplamos essas banho o leito em meu pranto de noite, *
informações somos chamados a refletir dentro da perspectiva cristã que minha cama inundei com as lágrimas!
devemos fazer com que todos os homens e mulheres possam, de fato, ao
beber desse Evangelho; entender que precisamos apresentar o Pai, como –8 Tenho os olhos turvados de mágoa, *
Jesus revela nesse Evangelho. É muito mais que as particularidades fiquei velho de tanto sofrer!
absolutizadas da nossa vida em relação às nossas questões pessoais. É ser –9 Afastai-vos de mim, malfeitores, *
missionário e missionária de Deus. porque Deus escutou meus soluços!

Como Jesus, compreendo que a minha vida e missão estão a serviço das
realidades do Pai? Compreendo que a minha vida se insere num Plano de
Salvação muito maior do que as pequenas vicissitudes que tece o meu ser e
os meus relacionamentos diários? Como Jesus, José e Maria sou capaz de
me abrir e ir além nos horizontes que Deus tem em vista da salvação de
todos?
Texto bíblico: Jo 5,1-16
Carta de São Gabriel ao seu Pai: “Soube pela sua última carta que Deus o
visitou com grave tribulação. Console-se, meu Pai, pensando que o Senhor
prova aos que ama e que não é bom sinal o prosperar em tudo. Não, este
tempo não é de descanso e sim de trabalho; virá o tempo do descanso
quando Deus for servido, por sua misericórdia, de nos levar consigo. Agora
devemos fabricar a casa, não para habitá-la por trinta, quarenta, cem anos;
mas pela eternidade sem fim. Como a fabricarmos agora, tal a
encontraremos. Coragem, pois, meu pai, somos peregrinos e não devemos
parar pelo caminho deste mundo enganador; tenhamos sempre os olhos
fixos na verdadeira pátria. Firme sua atenção sobre Jesus e Maria e veja se
há dor semelhante às suas dores. Sofra de boa mente por amor a eles, que
não deixarão de o recompensar. Padeceram eles, o Rei e a Rainha, e
recusaremos nós sofrer?”.
Reflexão: Devemos perceber a dimensão pascal para compreender a pessoa
de Jesus Cristo. Compreendê-LO, necessariamente não é entender como um
projeto político ou intelectual. Diante do paralítico que há trinta e oito anos
era impedido de entrar na piscina de Siloé, devemos compreender a cura
como ação da Palavra de Jesus, que é terapêutica e cura sua paralisia.
A Palavra que penetra os ouvidos do paralítico é uma palavra que cura a sua
paralisia. Ele escuta a fala imperativa de Jesus, a ordem: “levanta, toma tua
cama e anda”. E nós compreendemos a pessoa de Jesus à medida que
contemplamos a Sua própria pessoa.
Os destinatários de Jesus foram sempre pessoas invisibilizadas e é a partir
delas que nasce o cristianismo. Jesus vai caminhar, se aproximar para
estabelecer interação entre a sua Palavra e os coxos, paralíticos, cegos,
leprosos e pecadores. Assim, é válida a afirmativa que diz: “a salvação entra
através dos ouvidos”.
Diante da enfermidade, a carta de São Gabriel ao seu pai, traz a perspectiva
de dar um sentido ao sofrimento, à própria morte, lembrando a realidade
pascal. Quando pensamos na Páscoa podemos refletir que ela acontece no
aspecto da doença, do pecado e não apenas no aspecto moral ou biológico;
mas podemos perceber o quanto de doença está presente em todos nós e o
quanto falta-nos saúde: física, mental, afetiva, na política, na economia, na
religião, nos relacionamentos.
Que possamos passar das nossas doenças para a Páscoa que já possível aqui.
Toda vida cristã deve, a partir do acolhimento da Palavra de Deus, se abrir
para essa graça, a Palavra que cura, os gestos que curam, os ouvidos que se
abrem à cura. Que saibamos abrir nossa vida e nosso coração, a partir da
Palavra de Jesus, para verdadeiramente vivermos as curas de tantas e
diversas doenças que possuímos.
Estabeleço continuamente um relacionamento com a Palavra de Deus que
me traz saúde: física, mental, espiritual e em meus relacionamentos? Abro
a minha vida e o meu coração à Palavra de Jesus, para verdadeiramente
viver a cura de tantos limites em meu modo de amar?
QUARTA-FEIRA DA 4ª SEMANA (22/03/2023)
“O trabalho deve ser realizado com fidelidade e diligência.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 89
–1 Vós fostes um refúgio para nós, *
ó Senhor, de geração em geração.
=2 Já bem antes que as montanhas fossem feitas †
ou a terra e o mundo se formassem, *
desde sempre e para sempre vós sois Deus.
–12 Ensinai-nos a contar os nossos dias, *
e dai ao nosso coração sabedoria!
–14 Saciai-nos de manhã com vosso amor, *
e exultaremos de alegria todo o dia!
–16 Manifestai a vossa obra a vossos servos, *
e a seus filhos revelai a vossa glória!
–17 Que a bondade do Senhor e nosso Deus *
repouse sobre nós e nos conduza!
– Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho, *
fazei dar frutos o labor de nossas mãos!
Texto bíblico: Jo 5, 17-30
Avisos (texto de Maria Madalena Frescobaldi): “Minhas filhas, se a
Regra vos permite ter um honesto ganho para as vossas necessidades, deveis
trabalhar com fidelidade e diligência, e a Superiora deve ter „olhos‟ para
corrigir as negligentes e preguiçosas.
“Nunca vos encarregueis daquilo que não podeis fazer regularmente, não
devendo jamais se fazer notadas pelos trabalhos externos e nem deixar por
causa deles a observância comum: o exagero de trabalhos faria uma
confusão e um comércio, do qual Deus vos guarde. Só deveis procurar de
não permanecer no ócio no tempo que vos sobra depois de terdes satisfeitas
as necessidades domésticas”.
Reflexão: Ao pensarmos nos vocacionados, pensamos nos batizados. Daí,
somos chamados a refletir nesse ano vocacional qual a centralidade da
nossa vocação batismal, dentro das vocações que vivemos: matrimonial,
laicato, presbiterato, consagração à vida religiosa de mulheres e homens na
missão.
A centralidade desse trabalho tem uma transversalidade cuja diversidade
nós encontramos na educação, saúde, catequese, pastoral da educação, aos
idosos, imigrantes refugiados, dependentes químicos, moradores de rua etc.
O nº 92 do texto base do III Ano Vocacional diz: refletir sobre cada pessoa,
independente do seu estado vocacional. “O ser apóstolo está intimamente
ligado ao ser profético com a missão de exortar, anunciar e consolar. No
Novo Testamento há uma característica específica que é de anunciar que o
Messias já veio, é Jesus, e que o Reino de Deus já se manifesta nas ações de
seu Filho. Esse será o conteúdo a ser proclamado pelos Apóstolos. No texto
grego o verbo produzido por „pregar e anunciar‟ dá origem à palavra
querigma no sentido de anúncio daquele que é fundamental. Por isso,
principal, primeiro, é o Mistério Pascal. Tal Mistério não se dirige apenas
ao núcleo da fé – à Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus – mas se refere a
todo plano salvífico de Deus revelado na vida de Jesus e conduzido pelo
Espírito Santo. Somos chamados a pensar se nosso trabalho é anúncio:
anunciar o Messias que já veio, que o Reino de Deus já se manifestou nas
ações de Jesus Cristo.
Como estamos vivendo nossa missão?Sendo a partir do Batismo
vocacionado(a) ao anúncio do querigma, meu trabalho específico,
principalmente o meu trabalho pastoral manifesta o Reino de Deus
explicitado em minhas ações?
QUINTA-FEIRA DA 4ª SEMANA (23/03/2023)
“O miserável deve se encontrar com o Pai misericordioso.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Cântico: Dt 32,18-21
— Da Rocha que te deu à luz te esqueceste,
do Deus que te gerou não te lembraste.
- Vendo isto, o Senhor os desprezou,
aborrecido com seus filhos e suas filhas.
— E disse: Esconderei deles meu rosto e verei, então,
o fim que eles terão,
- pois, tornaram-se um povo pervertido,
são filhos que não têm fidelidade.
— Com deuses falsos provocaram minha ira,
com ídolos vazios me irritaram;
- vou provocá-los por aqueles que nem povo são,
através de gente louca hei de irritá-los.
Texto bíblico: Jo 5,31-47
Carta de Santa Gema ao Padre Germano, 13/10/1901: “Jesus me disse
assim: „Minha filha – exclamou suspirando – quanta ingratidão e malícia
existem no mundo! Os pecadores continuam a viver na sua pertinaz
obstinação nos pecados! E meu Pai não quer mais tolerá-los. As almas vis e
fracas não fazem nenhuma força para vencer a própria carne. As almas
aflitas caem no desânimo e desespero. As almas fervorosas pouco a pouco
ficam tíbias. Os Ministros do meu Santuário... ‟, e aqui Jesus se calou.
Depois de alguns minutos retomou: „Esses a quem confiei continuar a bela
obra da Redenção... ‟ Jesus novamente se calou... „A esses também meu Pai
não pode mais tolerar. Eu lhes dou continuamente luzes e forças, e eles ao
invés... Esses, que eu sempre tenho guardado com predileção. Esses que
sempre tenho guardado como a pupila dos meus olhos... ‟ Jesus calava e
suspirava. „Continuamente das criaturas não recebo mais que ingratidão e
ignorância. A indiferença cresce a cada dia, ninguém se arrepende‟”.
Reflexão: Nestes textos de hoje vamos encontrar a dimensão da rejeição.
Antes, pensemos sobre em quem de fato depositamos nossa confiança,
nossa esperança.
Vivemos em uma cultura à qual não somente nega a Deus, mas coloca sua Por que à morte me entregaste
glória nos outros, causando grandes sofrimentos – cultura do capital, do Em que foi que eu te faltei
hedonismo, do prazer, do sucesso, do primeiro lugar no podium. Vivemos
Eu te fiz sair do Egito
essa realidade que nos mostra a experiência da rejeição. Santa Gemma vive
Com maná te alimentei
muito bem esse aspecto de dor e sofrimento – a rejeição que ela encontra Preparei-te bela terra
em sua vida por morrer sendo considerada por muitos como uma louca e Tu, a cruz para o teu rei
histérica.
Diante das realidades de rejeições porque passamos e que, muitas vezes Bela vinha eu te plantara
também rejeitamos o outro, tenhamos um olhar pedagógico, para pensar a Tu plantaste a lança em mim
centralidade da fé a partir de uma vida de oração. E é esta que, quando Águas doces eu te dava
sincera, não apenas uma jaculatória ou leitura bíblica, nos faz desnudar Foste amargo até o fim
diante de Deus, rezando com os sentimentos, reconhecendo a condição de Flagelei por ti o Egito
miséria, buscando a misericórdia. É o miserável que encontra o Primogênitos matei
misericordioso, como nos fala Santo Agostinho. Tu, porém, me flagelaste
Fica o desafio de contemplar as várias realidades de rejeição muitas vezes Entregaste o próprio rei
solidificada − comportamentos e atitudes − que se dá entre culturas,
ideologias e tantas dimensões da vida. O Evangelho nos diz que nós Eu te abri o Mar Vermelho
devemos nos abrir para a luz, que é o Cristo e pedir para iluminar nossa vida Me rasgaste o coração
diante da escuridão. A Pilatos me levaste
Eu te levei pela mão
Sou capaz de ser empático com aqueles e aquelas que são rejeitados em
Só na cruz tu me exaltaste
nossa sociedade por razões de xenofobia e ideologias? Dentro do meu
Quando em tudo te exaltei
coração cultivo sentimentos que condizem com uma cultura de paz,
Que mais podia eu ter feito
fraternidade e tolerância? Em que foi que eu te faltei

Texto bíblico: Jo 7,1-2.10.25-30

SEXTA-FEIRA DA 4ª SEMANA (24/03/2023)
Carta de Santa Gemma ao Pe. Germano, 22/08/1901: “Meu pobre Pai,
“Sermos discípulos(as) que mesmo diante da perseguição anunciam os
como sofres, não é verdade? Tenho medo de estar comprometendo o Senhor
sinais do Reino de Deus.”
e o Provincial. Mas nada temas. Porque tanto medo, enquanto que Jesus está
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio. quieto e, se lhe falo destas coisas, Ele sorri e faz brincadeira? Sabe?
R: Socorrei-me sem demora. Desagrada a Jesus aqueles momentos de raiva que te acontece ou de não
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. querer escrever, isto quer dizer, de não ocupar-se de mais nada. Mas sejas
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém bom. Receberás ainda dos outros, mas terás paciência. Quando depois
terminar tudo, verás com que alegria agradecerás a Jesus...”
Lamentos do Senhor “Jesus, meu Pai, não só é desprezado, mas é também insultado. Quantas
Povo meu, que te fiz eu criaturas (e eu por primeira), em um momento de raiva, recusam aceitar
Diz em que te contristei aquelas caras provas que Jesus lhes envia, e que lhes valeriam para colocá-
los no número dos eleitos! Quantos, ainda, sob o efeito da raiva dizem que
„Jesus não se ocupa de nós, que nos abandonou, e que não é justo!”
“Meu Pai, Jesus esquece as criaturas? Jesus é injusto? Que grande calúnia
contra a Sua Paterna Providência! Mais ainda: toda a terra está plena de
Jesus e das suas contínuas obras... E que importa se Jesus nos aflige? E é
isto o que devemos temer, e que eu deveria temer muito: o assalto que o
demônio faz para nos fazer cair no pecado.”
Reflexão: Jesus chamou os que Ele mesmo quis para enviá-los. Ao pensar
nessa dinâmica da vocação na experiência pascal na perseguição, nos
lembra o nº 138 do texto base do III Ano Vocacional que diz: “próprio deste
discipulado em saída, que nasce da experiência da intimidade com Jesus,é
tornar-se servidor do Evangelho, anunciador da Boa Notícia. O envio para
pregar é um serviço à verdade, a redescoberta da verdade sobre o ser
humano, um anúncio da verdade sobre toda realidade criada. Já indicamos o
querigma como conteúdo fundamental deste anúncio, como verdade
revelada sobre toda realidade a partir de Jesus Cristo. O diferencial da
pregação de Jesus, que age como Mestre, é que não se tratava de um mestre
da Lei, mas de um anunciador do Reino.Em Jesus, fazem-se novas todas as
coisas.”
Podemos entender que a dimensão do discipulado dentro do Ano
Vocacional e da experiência da centralidade da espiritualidade do
Crucificado nos chama a ter essa compreensão de que a experiência da
Páscoa se dá dentro da dimensão da Paixão. O discípulo de Jesus vai viver a
experiência de ser rejeitado.
Isto nos lembra muito bem a experiência de Santo Estevão: a narrativa do
livro dos Atos dos Apóstolos lembra que nele vemos um novo Cristo.
Primeiro, um homem que tinha sabedoria, que fazia com que os seus
adversários se calassem. Segundo: um homem que realizava os sinais do
Reino como Cristo; e o terceiro ponto: mesmo diante de uma condição em
que ele é apedrejado até a morte, como Cristo ele pede ao Pai que perdoe os
pecados dos algozes. Assim, a dimensão do sofrimento e a dimensão
cristológica da passiologia da cruz, se fazem presentes. Importante lembrar
que Jesus diz: quem irá falar não será necessariamente a pessoa, mas o
Espírito Santo. Portanto, na vocação à santidade que Jesus nos chama, está a
cruz que faz parte do mistério do querigma.
Também queremos lembrar que na carta de Santa Gemma, um dos pontos
mais significativos é o medo que ela tem de desagradar a Jesus. Poderíamos
fazer uma leitura superficial, mas podemos dizer que desagradar a Jesus
significa não amar. Inclusive, para amar, precisamos da graça para
vivermos a vocação. Vamos vivê-la na medida em que amamos.
Em meu caminho como vocacionado (a) ao amor, como reajo nos
momentos em que me deparo com a cruz, a perseguição, as frustrações, as
provações? Como Santo Estevão sou capaz de reagir de acordo com a
altura da cruz, deixando que o Espírito do Crucificado fale em mim e nos
meus gestos?
SÁBADO DA 4ª SEMANA (25/03/2023)
Solenidade litúrgica da Anunciação do Senhor
“Alegra-te cheia de graça, o Senhor está convosco.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 45
–2 O Senhor para nós é refúgio e vigor, *
sempre pronto, mostrou-se um socorro na angústia;
–3 assim não tememos, se a terra estremece, *
se os montes desabam, caindo nos mares,
–4 se as águas trovejam e as ondas se agitam, *
se, em feroz tempestade, as montanhas se abalam:
–5 Os braços de um rio vêm trazer alegria *
à Cidade de Deus, à morada do Altíssimo.
–6 Quem a pode abalar? Deus está no seu meio! *
Já bem antes da aurora, ele vem ajudá-la.
–7 Os povos se agitam, os reinos desabam; *
troveja sua voz e a terra estremece.
–8 Conosco está o Senhor do universo! *
O nosso refúgio é o Deus de Jacó!
–9 Vinde ver, contemplai os prodígios de Deus *
e a obra estupenda que fez no universo:
= reprime as guerras na face da terra, †
10 ele quebra os arcos, as lanças destrói, *
e queima no fogo os escudos e as armas:
–11 ‗Parai e sabei, conhecei que eu sou Deus, *
que domino as nações, que domino a terra!‘
–12 Conosco está o Senhor do universo! *
O nosso refúgio é o Deus de Jacó!
Texto bíblico: Lc 1, 26-38
Carta de São Gabriel para o seu irmão, Padre Luís: “Lembre-se de que
você não pode jamais tratar de assunto mais caro a Jesus. Lembre-se de que,
falando de Maria, fala da Mãe, da Filha e da Esposa de Deus; da mais bela,
encantadora e amável criatura que saiu das mãos do Onipotente... Se não se
envergonhar de tecer louvores a Maria e defendê-la dos inimigos, ela se
compadecerá de você e o defenderá perante o tribunal de seu divino Filho.
Se faz esmolas e atos de piedade, se suporta duros trabalhos e dores, tudo
seja em memória dos trabalhos e sofrimentos de Maria.
“Sejamos verdadeiros arautos da devoção à Mãe de Deus e teremos
acertado o segredo da felicidade. No dia terrível do juízo em que os amantes
do mundo hão de chorar e lamentar por causa dos falsos prazeres que
apeteceram, nós estaremos alegres e seguros sob o manto de Nossa
Senhora.”
Reflexão: O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia
chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem
chamado José. Entrando na casa, o anjo disse: alegra-te cheia de graça, o
Senhor está convosco. Neste primeiro momento, o anjo se espanta porque
Maria, como criatura, era agraciada, de forma profunda, não por méritos,
mas porque Deus a escolheu. A vida cristã não é uma vida de meritocracia,
muitas vezes a gente vive uma religião dos méritos, quando deveríamos
viver uma religião e espiritualidade do amor. Obviamente é importante que
vençamos o pecado. Depois, a Igreja vai anunciar os vários dogmas de
Maria e reconhecê-la como concebida sem pecado, assunta ao céu, mãe de
Deus e as várias realidades, mas é interessante lembrar o aspecto e o sentido
da graça. Maria encontra graça, Deus agracia Maria de amor.
Outro ponto importante que nos revela esse texto é que, embora estejamos
vivendo em plena quaresma, a anunciação é uma verdadeira festa da
encarnação do verbo, está dentro do mistério do querigma. Deus escolheu
Maria de Nazaré para ser cooperadora do mistério da salvação humana.
Dentro da sua realidade, diante do casamento, Maria diz não a si mesma,
mas sim a Deus. De fato, Maria corresponde de forma perfeita ao chamado
divino, ela responde de forma generosa.
Nessa realidade, Maria entende o anúncio que a sua maternidade não é
exclusividade de um filho que é dado para ela, mas dado para o mundo, para
a salvação de todos. Nesse ponto entende-se a dimensão do mistério de
Maria: ela tem que compartilhar seu Filho com o projeto salvífico de uma
forma muito dura. Ao ver seu Filho santo, inocente, condenado à morte,
Maria realiza o projeto de Deus, e coopera para que a Palavra se faça carne
e venha ao mundo para nos salvar.
Também se realiza a profecia de Isaías que fala em Emanuel, Deus conosco.
Esse é o grande sentido: a Mulher do sim, a Mulher agraciada por Deus, que
guardava todas as coisas em seu coração. Não só a mãe, mas a discípula da
Palavra, que escuta e gera a Palavra não só no seu ventre, mas em toda a sua
vida.
Diante do anúncio da encarnação, como nós estamos encarnando a
Palavra de Deus que é anunciada a nós? Ela é gerada em nós ou estamos
abortando?
 V SEMANA DA QUARESMA
Jo 11,1-45
Eu sou a ressurreição e a vida
Nesta passagem do Evangelho segundo São João, o evangelista narra o
sétimo e último milagre de Jesus, uma grande catequese sobre a vida e a fé
na ressurreição, com a qual confirma a palavra reveladora de Jesus: "Eu
sou a ressurreição e a vida”. Em sua intenção de escrever, ele afirma que a
ressurreição de Lázaro está diretamente relacionada a Jesus Cristo, o doador
da vida. O dom da vida é apresentado como uma vitória sobre a morte.
Jesus venceu a morte morrendo, como expressa o diálogo entre o Mestre e
seus discípulos, ainda angustiados com a perspectiva da morte e sem
entender o messianismo de Jesus.
Cada um dos três irmãos – Lázaro, Maria e Marta – são um tipo de
comunidade em diferentes aspectos. A doença de Lázaro se deve à sua
condição humana, que acarreta a morte física, mas permeada pelo medo da
própria morte, a maior escravidão do homem, da qual Jesus vem para nos
libertar. Em Lázaro se manifesta a plenitude da obra de Jesus com a
humanidade doente, mostrando até que ponto a vida que Ele comunica é
poderosa: esta, por ser definitiva, supera a doença e a morte física e é assim,
ela mesma, a ressurreição. Marta representa a comunidade em processo de
crescimento na fé em Jesus. Maria representa a comunidade em estado de
prostração, dor e sofrimento.
As irmãs de Lázaro e os discípulos manifestam-se e projetam-se no
quadro da doença do irmão e amigo: o sono de Lázaro, o perigo de regressar
à Judéia, a decisão de subir para morrer com Jesus, o corpo de Lázaro que
cheira mal. Jesus vê a situação de maneira diferente: a doença e a morte não
têm a última palavra; ambos são superados pelo Autor da vida, que é capaz
de "curar" os enfermos e "despertar" os adormecidos. O perigo de voltar
para a Judéia não é grave se você caminhar durante o dia, porque a luz deste
mundo ilumina o caminho.
Encontramo-nos com uma imagem de Jesus, humano e divino, ao mesmo
tempo. Por um lado: seu conhecimento sobre-humano (conhece a morte de
Lázaro), sua autoconsciência messiânica ("Eu sou a ressurreição e a vida"),
sua obra milagrosa; deixando-se chamar “Senhor”, “Mestre”, “Messias”,
“Filho de Deus”. Por outro lado: as suas relações humanas, as suas
amizades, as suas emoções profundas, o seu pranto, a sua oração, a sua voz
poderosa... Assim se manifesta: "Eu sou a ressurreição..."
Depois desta parte, não incluída no texto, desencadeia-se a reação das
autoridades (fariseus, sacerdotes, Sinédrio), que condenam à morte Jesus,
o doador da vida. O conflito iniciado abertamente no início do Evangelho
(Jo 5,16-18) atinge aqui o seu ápice. A atividade de Jesus parece
insuportável à instituição, que vê nele um perigo e uma ameaça aos seus
interesses e, ao condená-lo, manifestam-se claramente como agentes da
morte. A "Hora" de Jesus, que está prestes a começar, será o momento de
optar por Ele ou por aqueles que o perseguirão e condenarão à morte.
 Mensagem central: Em um ambiente dominado pela morte, Jesus se
apresenta como a ressurreição e a vida. No projeto criador de Deus,
as pessoas não estão destinadas à morte, mas à vida plena e
definitiva. Deus não é o Deus da morte, mas da vida. Tal é o
desígnio do Pai e a obra messiânica que Jesus realizou. A
comunidade de Jesus, nós, somos uma comunidade de irmãos e
amigos onde se cultivam relações de carinho e amor, prontos para
ajudar quem precisa. A comunidade cristã que ainda vê na morte
apenas a interrupção da vida não alcançou a plenitude da fé, por não
ter compreendido a qualidade de vida que Jesus comunica. O medo
da hostilidade do mundo nasce justamente dessa falta de fé que
teme a morte. Jesus não elimina a morte física, mas para aqueles
que dele receberam a vida, a morte física nada mais é do que um
sono.
 Vivemos numa sociedade onde, por um lado, os direitos humanos
são proclamados e, por outro, são cúmplices da “cultura da
morte”; a vida é continuamente ameaçada, especialmente para os
mais fracos, descartados e vulneráveis devido a guerras, terrorismo,
violência de todos os tipos, exploração, migração, injustiça,
pandemias, desastres naturais, segregação, etc. Cresce e se expande
uma certa insensibilidade moral que, sob o pretexto da
“modernidade” e da “tecnologia”, não distingue entre o que
favorece ou prejudica a vida e a dignidade humana.
 Perante esta cultura da morte, é urgente que os cristãos, crentes na
vida, lutem e trabalhem por uma "cultura da vida" digna para
todos, manifestando a nossa fé numa opção radical pela vida e pela
 dignidade tudo sobre solidariedade, amor fraterno, respeito e
tolerância.
 Acreditar em Deus é acreditar, é ter fé na vida. Não é apenas fé
na outra vida após a morte, mas é também fé nesta vida, que é um
dom de Deus, como será a vida eterna. Nossa vida aqui na terra não
deve apenas buscar sobreviver ou subsistir o mínimo possível até
que a morte chegue, mas se trata de viver uma vida plena, integral
e abundante. A nossa fé cristã deve ser uma fé viva e ativa, que
luta contra tudo o que impede, reprime ou dificulta a vida: a
miséria, a violência, a exclusão, a submissão, etc. A fé na vida é
uma fé cheia de esperança, empenhada em transformar a realidade
do mundo em que vivemos que, diante de quem tenta construir a
cultura da morte, anuncia e exalta o Evangelho da vida.
 Onde e como encontramos hoje, em nós e nos outros, a vida débil e
ameaçada, a vida que morre sem esperança e sem sentido, e a vida
que se doa para que todos tenhamos mais e melhores vidas?
Dentre os personagens que aparecem no Evangelho, com quem me
identifico e por quê?Que sentimentos as atitudes e o modo de agir de Jesus
despertam em mim e a que conversão de vida Ele me chama?O que posso
ou podemos aprender e viver deste texto evangélico para continuar
crescendo na fé e assim construir a cultura da vida?Como agradecer e apoiar
a vida que temos e toda a vida que brota à nossa volta - aqueles que curam e
sanam, os que protegem, os que se sentem ameaçados, os que se
solidarizam, os que testemunham a sua paixão pela vida, mesmo à custa de
suas próprias vidas?
Pe. Rafael Vivanco, CP
Consultor Geral da Congregação Passionista
SEGUNDA-FEIRA DA 5ª SEMANA (27/03/2023)
“Quem não tem pecado atire a primeira pedra.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 129
–1 Das profundezas eu clamo a vós, Senhor, *
2 † escutai a minha voz!
– Vossos ouvidos estejam bem atentos *
ao clamor da minha prece!
–3 Se levardes em conta nossas faltas, *
quem haverá de subsistir?
–4 Mas em vós se encontra o perdão, *
eu vos temo e em vós espero.
–5 No Senhor ponho a minha esperança, *
espero em sua palavra.
–6 A minh‘alma espera no Senhor *
mais que o vigia pela aurora.
–7 Espere Israel pelo Senhor *
mais que o vigia pela aurora!
– Pois no Senhor se encontra toda graça *
e copiosa redenção.
–8 Ele vem libertar a Israel *
de toda a sua culpa.
Texto bíblico: Jo 8,1-11
Do livro “Trattenimenti Spirituali” do Beato Bernardo Maria
Silvestrelli: “O terceiro afeto que ocorre na meditação de Jesus Crucificado
é a contrição, ou seja, um verdadeiro ódio ao pecado e uma grande dor por
tê-lo cometido. Porque é algo natural que, considerando este mistério, se
nos apresentam os motivos que o ocasionaram. E eis que nos deparamos
precisamente com aquilo que Deus tinha ao permitir um assim cruel
desgosto ao seu Filho Unigênito, ao satisfazer a sua divina justiça, ofendida
pelos nossos pecados. Portanto, da gravidade dos sofrimentos nos
persuadimos da gravidade da culpa. Por isso, eu disse muito bem que a
Paixão de Jesus Cristo nos demonstra a evidência de quão grande mal é o
pecado, porque nos faz sensivelmente ver quanto Deus o abomina e o
detesta. É como se nos víssemos um cortesão muito querido e favorecido
pelo Rei; ou melhor, o próprio filho do Rei, ser arrastado sem misericórdia
ao patíbulo. Logo argumentaríamos que o delito por ele cometido seria
grave. Assim, no nosso caso, deveríamos conceber um grande ódio ao
pecado, porque o vemos punido, e punido de tal maneira tremenda na
pessoa do mesmo Filho de Deus”.
Reflexão: Jesus está no templo, ensinando. E, de repente, chega um grupo,
apressado, trazendo uma mulher que havia sido flagrada em adultério. Os
fariseus, doutores da lei, defensores da moral e dos bons costumes,
conduzem-na até Jesus e o coloca na condição de juiz para definir se deve
ou não, ser cumprida a lei de Moisés.
Na realidade, eles querem utilizar a lei como algo capaz de condenar Jesus.
Assim, podemos observar uma sagacidade, uma maldade profunda porque
se Jesus dissesse que a mulher deveria ser apedrejada, Jesus estaria
cumprindo a lei; se disse que não, estaria descumprindo a lei. Embora
coloquem Jesus na condição de juiz, o que está por trás, coloca Jesus na
condição de réu.
Observando os fatos, primeiro vemos a discriminação contra a mulher – não
era considerada nem pessoa. Onde está o adúltero ou a pessoa que cometeu
adultério com ela? Apareceu algum juiz ou advogado de defesa? Não!
Apenas os acusadores.
Outro ponto importante é que Jesus não diz para condenar nem apedrejar. A
postura de Jesus é outra: Ele diz que quem não tem pecado pode atirar
pedras. Com esse gesto Jesus silencia seus acusadores e os da mulher
adúltera. O mal, o pecado, causa sofrimento na vida das pessoas e do
mundo.
Quanto a nossa hipocrisia, não percebemos o mal como uma realidade que
está na vida, e nem percebemos que as pessoas são maiores do que os seus
pecados, do que os seus vícios, do que suas sombras. Não percebemos que
as pessoas estão no mundo não para serem condenadas. Talvez vivemos
muito mais numa cultura de condenação, que em uma cultura de salvação
na esfera dos poderes políticos, econômicos, em todas as esferas,incluindo a
esfera religiosa da qual fazemos parte, enquanto deveríamos refletir a
dimensão de uma cultura da salvação, uma cultura da libertação, uma
cultura da tolerância, uma cultura do respeito, uma cultura capaz de
entender a sacralidade da vida.
A atitude de Jesus em relação, não especificamente, ao pecado daquela
mulher, mas ao pecado refletido nessa cena que nos é colocada diante do
templo é muito significativa: quem não tiver pecado... Essa frase nos chama
atenção para refletirmos às vezes em que as nossas mãos estão carregadas
de pedras, as nossas línguas de veneno, os nossos olhares de lança.
Importante: quando nós estamos muitas vezes em situação de sepulcro
caiado, a paixão de Jesus denuncia tudo isso.
Minha fé e o meu chamado vocacional fazem de mim um(a) construtor(a)
de uma cultura de salvação, uma cultura de libertação, uma cultura de
tolerância, uma cultura do respeito, uma cultura capaz de entender a
sacralidade da vida?
TERÇA-FEIRA DA 5ª SEMANA (28/03/2023)
“O amor é o vínculo que nos une a Deus.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 120
–1 Eu levanto os meus olhos para os montes: *
de onde pode vir o meu socorro?
–2 ―Do Senhor é que me vem o meu socorro, *
do Senhor que fez o céu e fez a terra!‖
–3 Ele não deixa tropeçarem os meus pés, *
e não dorme quem te guarda e te vigia.
–4 Oh! não! ele não dorme nem cochila, *
aquele que é o guarda de Israel!
–5 O Senhor é o teu guarda, o teu vigia, *
é uma sombra protetora à tua direita.
–6 Não vai ferir-te o sol durante o dia, *
nem a lua através de toda a noite.
–7 O Senhor te guardará de todo o mal, *
ele mesmo vai cuidar da tua vida!
–8 Deus te guarda na partida e na chegada. *
Ele te guarda desde agora e para sempre!
Texto bíblico: Nm 21,4 -9
Carta da Venerável Irmã Antonieta Farani à sua Mãe, 30/06/1929: “O
amor é o vínculo que nos une a Deus!... A graça divina que nos
transforma... e depois, a vocação Passionista... „ser crucificada‟... Oh! mãe
queridíssima, saiba que minha vida em Deus não é somente feita de amor,
mas para cumprir o dever de minha vocação, deve ser „vida Crucificada em
Jesus‟... Feliz de mim, de poder e dever abrasar-me de sede por meu Esposo
Crucificado e amar com o Seu mesmo Coração que, para nos inflamar, a
afortunada lança abriu... Ó chaga feita pelo amor e por nosso amor... ali,
mamãe querida, como em mar ardente, façamos naufragar a barquinha de
nossa vida”.
Reflexão: Nestes textos de hoje encontramos a dimensão do staurós, da
cruz. A carta praticamente é um poema, um texto de grande beleza − “ser
crucificada com o Crucificado”. Os sentimentos expressos nessa carta em
que Antonieta escreve à sua mãe nos convidam à meditação: “saiba que
minha vida em Deus não é somente feita de amor, mas para cumprir o dever
de minha vocação, deve ser „vida Crucificada em Jesus‟... Feliz de mim, de
poder e dever abrasar-me de sede por meu Esposo Crucificado e amar com
o Seu mesmo Coração que, para nos inflamar, a afortunada lança abriu...”.
O que poderíamos entender sobre esse sentido da cruz? A cruz torna-se, a
partir da experiência do Crucificado, o lugar da experiência do amor. Qual o
chão da espiritualidade do Crucificado? É a própria cruz. Habitar na cruz,
habitar no Cristo. Não é possível ser capaz de vivenciarmos essa abertura,
essa dimensão de nos abrirmos para esse mistério, se não formos capazes de
mergulhar dentro dessa dimensão da realidade da cruz. A cruz na qual não
habita a solidão. Não existe solidão na cruz, porque a cruz é sempre um
lugar habitado pelo Amado; quer dizer, a cruz como expressão maior do
amor de Deus, mas também como lugar onde somos chamados a encontrar
o maior amor que é o próprio Crucificado. Aqui entendemos esse aspecto
bonito. Mas o grande problema é se tivermos uma cruz vazia. A nossa cruz
só será bendita quando ela tiver o Cristo crucificado.
O segundo momento é pensar a vocação e a dimensão do staurós: onde eu
renasço na cruz? A cruz é o lugar que me dá a possibilidade de renascer, de
tornar-me nova criatura, de fazer nova todas as coisas. É nessa experiência
da entrega ao Crucificado, é nessa experiência do próprio mistério do
querigma que nós somos gerados na dimensão da santidade; porque só é
santo aquele que habita na cruz do Crucificado e vive a experiência pela
graça. É nessa entrega que encontramos a graça de viver e de nos tornarmos
novas criaturas. E aí lembramos o texto em Apocalipse 21: toda lágrima
será enxugada e não haverá mais dor, mais morte, onde tudo está em Deus.
Como vocacionado(a) procuro “habitar” na Cruz numa experiência de
amor a partir do Crucificado que me faz tornar nova
criatura?Compreendo, verdadeiramente, o lugar como lugar da habitação
do Amor e do Amado?A partir da contemplação da Cruz como posso ser
agente de transformação do mundo?
QUARTA-FEIRA DA 5ª SEMANA (29/03/2023)
“Deus é amor e onde existe o amor, não existe a mentira.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Cântico:Is 33,13-16
–13 Vós que estais longe, escutai o que eu fiz! *
Vós que estais perto, conhecei o meu poder!
–14 Os pecadores em Sião se apavoraram, *
e abateu-se sobre os ímpios o terror:
– ―Quem ficará junto do fogo que devora? *
Ou quem de vós suportará a eterna chama?‖
–15 É aquele que caminha na justiça, *
diz a verdade e não engana o semelhante;
– o que despreza um benefício extorquido *
e recusa um presente que suborna;
– o que fecha o seu ouvido à voz do crime *
e cerra os olhos para o mal não contemplar.
–16 Esse homem morará sobre as alturas, *
e seu refúgio há de ser a rocha firme.
Texto bíblico: Jo 8,31-42
Carta de Santa Gema ao Padre Germano, 25/06/1901: “Meu pai, hoje, às
5 horas, fui me confessar e Monsenhor falou de retirar-me Jesus. Oh meu
Pai, a caneta não quer mais escrever, a minha mão treme e treme forte,
choro.
“Monsenhor está fortemente preocupado comigo pelos meus pecados, que,
apenas me confessa, já me envia embora, chamando-me de mentirosa, como
mentiroso é o demônio. Procura de retirar-me a Comunhão, e se continuo no
pecado, me proibiu de lhe escrever. Abstenho-me o mais que posso de falar
do Sr. na confissão, porque Monsenhor me disse que fica surpreso que um
Sacerdote como o Sr. tenha assim facilmente acreditado e cedido ao
demônio. Juntos agradeçamos a Jesus, porque por meio de Monsenhor,
protege nós dois das mãos do demônio.
“Ontem, quando Monsenhor soube que é o demônio que age em mim me
proibiu de pensar em Jesus e que após a Comunhão agisse como os outros,
sem dar tanto cansaço à Senhora Cecília. E agora aquela pobre Tia ficou
com tanto medo que seja o demônio, que à noite não vem mais me ver e
durante o dia, isto é pela manhã, me deixa sozinha e não se importa mais
comigo, dizendo-me a cada palavra que digo: „Eu não vou ser enganada‟...
Mas então, terei enganado a todos?”.
Reflexão: Qual é a verdade que deve ser absoluta em nossa vida? Uma das
definições mais profundas no Evangelho de João é que Deus é amor e onde
existe o amor, não existe a mentira. O princípio da verdade é o princípio do
amor. Santo Agostinho nos fala: ama e faze o que quiseres. O amor como
perspectiva de crer na Palavra que se encarna. Ou seja, o amor é acreditar na
Palavra de Jesus e ter o Evangelho como grande referencial em nossa vida.
Somos capazes de chegar à verdade, não por um ato de razão
necessariamente, mas só por um ato de fé naquEle que deu a Sua vida por
nós, na cruz. Então, a verdade é fruto do amor e ela só pode ser entendida
pela graça e pela dimensão da fé. É crendo em Jesus Cristo que seremos
salvos. A dimensão de vivermos essa fé nos leva à verdade, e entendemos
que a verdade é o amor. Não só numa compreensão racional, mas fazemos
da nossa vida, uma vida em que a primazia é crer na Palavra e viver o
mandamento maior que é o amor. A nossa vida, de fato, é uma vida em que
seremos capazes de superar as nossas ambiguidades, as nossas contradições,
as nossas vaidades, os nossos egoísmos, as nossas invejas. O que alimenta a
vida do vocacionado(a) à santidade é o amor: é o que rezamos,
principalmente nesse ano vocacional.
E é nessa dimensão à qual estamos inseridos que devemos valorizar a
cultura de um discipulado de homens e mulheres que crêem. E ao crermos,
sermos conduzidos pela verdade, própria do testemunho daqueles que
amam.
Creio no amor de Deus e tenho o Evangelho como referência em minha
vida, sendo conduzido(a) pela verdade testemunhada em meus gestos de
amor? Nossa experiência da vocação cristã é nutrida pela dimensão do
amor e da verdade?
QUINTA-FEIRA DA 5ª SEMANA (30/03/2023)
“O Amante apaixonado e o discernimento da resposta vocacional.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 105
– 1 Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, *
porque eterna é a sua misericórdia!
– 2 Quem contará os grandes feitos do Senhor? *
Quem cantará todo o louvor que ele merece?
– 3 Felizes os que guardam seus preceitos *
e praticam a justiça em todo o tempo!
– 4 Lembrai-vos, ó Senhor, de mim, lembrai-vos,*
pelo amor que demonstrais ao vosso povo!
– 6 Pecamos como outrora nossos pais, *
praticamos a maldade e fomos ímpios;
– 7 no Egito nossos pais não se importaram *
com os vossos admiráveis grandes feitos.
– Logo esqueceram vosso amor prodigioso *
e provocaram o Senhor no mar Vermelho;
– 8 mas salvou-os pela honra de seu nome, *
para dar a conhecer o seu poder.
Texto bíblico: João 8, 51-59
Do livro “La Santità è Amore” de Madre Maddalena Marcucci: “A
mais dolorosa e mais abominável ingratidão é aquela das criaturas quando
as divinas ternuras são dirigidas a arrancar uma alma da „babilônia‟ do
mundo e conduzi-la à Sua santa casa. O chamado de Deus à vida religiosa
supõe um número de graças muito grandes, que não é possível saber nesta
vida mortal. É uma obra de amor de particular predileção por uma alma, da
parte das três Pessoas Divinas. Fizeram uma espécie de consulta e
trabalharam juntas para que aquela alma se desse a Eles. Quando Deus, na
sua infinita bondade atrai uma alma para celebrar as místicas núpcias, a
chama e retorna a chamar com vocês interiores, doces e secretas, mas vivas
e eficazes. Ao seu redor Ele dispõe meios, coisas, pessoas para que a
ajudem a corresponder ao divino chamado, respeitando, como sempre, o seu
livre arbítrio.
“Mas, se a alma não corresponde, como costuma acontecer frequentemente,
todo este acervo de benefícios cai, se dispersa, com dano incalculável para a
alma infiel que fechou o seu coração à voz do Senhor, quando o Amante
apaixonado a chamava, sem pensar que aquela mesma voz, deverá lhe pedir
contas pelo amor desprezado.”
Reflexão: A centralidade dos textos de hoje está na revelação que Deus nos
apresenta no relato do livro do Êxodo, na experiência de Moisés com a
sarça ardente, e Ele diz: EU SOU. EU SOU vai além da realidade
criacional. Deus não é criatura, Ele não foi criado. O Verbo, 2ª pessoa da
Trindade, gerado pelo Pai, não apenas se encarna no seio da Virgem Maria
como ponto máximo da revelação, mas na criação, por Ele todas as coisas
foram feitas. É por essa Palavra que toda realidade foi criada, sem ela nada
foi criado. Grande revelação nós encontramos nesse texto. O Cristo não é
apenas um Cristo antropocêntrico, mas é um Cristo cosmocêntrico.
Estamos em um tempo especial em que o mundo volta o olhar para o meio
ambiente. A Igreja, por sua vez, tem toda uma preocupação com a realidade
da criação e nós podemos constatar isso através dos documentos do
magistério, lembrando a Laudato Si que revela esse Deus que se faz
presente e que está presente no início de toda a obra da criação.
Outro ponto que chama atenção é observar Moisés, em sua vocação,
chamado para libertar o povo. A partir do encontro com o testemunho de
Moisés vale à pena lembrar duas dimensões fundamentais da nossa teologia
e da nossa fé: a experiência salvadora e a experiência libertadora. A
salvação como realidade, só pode vir de Deus e a libertação é a prática de
todo aquele que é chamado por Deus a viver sua vocação na santidade, e
uma santidade que de fato nos faz livres.
A liberdade leva-nos a refletir sobre aquilo que aprisiona ou tudo daquilo
que não nos faz viver a plenitude em Deus. E quando nós pensamos em
plenitude de Deus dentro desse mistério criacional, salvífico, dentro da
realidade da encarnação do Verbo crucificado, somos chamados a refletir
primeiramente, a grande presença do Verbo na história da salvação.
O segundo ponto para refletirmos é exatamente o não acreditar, o não
reconhecer, o não ser gratos, que é essa condição obtusa dos que pensam
crer, mas não se abrem ao mistério e a essa realidade daquele que é (EU
SOU). Nós só entendemos a nossa completude, quando somos capazes de
entender a nossa finitude. É a fé e a graça do Espírito Santo que nos leva a
nos entregar àquele que é.
Meu chamado vocacional me leva a uma santidade que me libera, me faz
mais humano(a) em Jesus, Deus encarnado? Entendo a minha vocação
como uma grata resposta ao amor de Deus?
SEXTA-FEIRA DA 5ª SEMANA (31/03/2023)
“Mesmo em meio a tanta indignidade eu te amo Jesus, te amo
apaixonadamente!”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 68
–2 Salvai-me, ó meu Deus, porque as águas *
até o meu pescoço já chegaram!
–5 Mais numerosos que os cabelos da cabeça, *
são aqueles que me odeiam sem motivo;
– meus inimigos são mais fortes do que eu; *
contra mim eles se voltam com mentiras!
–8 Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
–9 eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.
=20 Vós conheceis minha vergonha e meu opróbrio, †
minhas injúrias, minha grande humilhação; *
os que me afligem estão todos ante vós!
–21 O insulto me partiu o coração; *
não suportei, desfaleci de tanta dor!
= Eu esperei que alguém de mim tivesse pena, †
mas foi em vão, pois a ninguém pude encontrar; *
procurei quem me aliviasse e não achei!
Texto bíblico: Jo 10,31-42
Carta de Santa Gema ao Padre Germano, 25/06/1901: “O que
acontecerá comigo? Penso na alma, na Comunhão, das quais Monsenhor me
disse que sempre as fiz em pecado. Morro de dor, de dor pelo grande
pecado que fiz a Jesus. Ninguém me quer mais bem nesta casa: todos sérios,
ninguém fala comigo; mas Jesus, sim; Jesus está inteiramente comigo, no
meu coração, com Jesus não temo.
“Gostaria de dizer-lhe, meu Pai, gostaria de dizer-lhe, mas não; tenho
medo... Não vou mais enganar ninguém. Perdoa-me, eu não creio tê-lo
enganado, como também à minha Mãe, Monsenhor e todos os outros. Me
ajude, vou ser boa, vou obedecer. Não me deixe aqui, me coloque em
qualquer lugar em Roma, perto do Sr. Morro de dor, não vou mais pecar.
Tenho a alma em perigo e em perigo o corpo, estou no inferno... Meu Jesus,
misericórdia! Mas se a minha Mãe tem medo do demônio, o que eu farei
sozinha, sozinha? Mesmo agora me sinto derreter, findar.
“Jesus, Jesus, me faça tomar parte em todas as tuas dores, sofrer amando,
sofrer por Jesus que eu amo, e morrer sofrendo por Jesus. E devo
permanecer privada de Jesus, que depois que O provei, devo ficar como
uma esfomeada? Ó Jesus, perdi a tua graça? Mas mesmo em meio a tanta
indignidade eu te amo, te amo apaixonadamente. Morro, Jesus, sim morro;
morro, mas de amor e dor por Ti”.
Reflexão: Aproximando-nos da Semana Maior, vamos meditar o evangelho
de João 10,31-42 que nos lembra que os judeus pegaram pedras para atirar
em Jesus, simplesmente porque diz que Ele e o Pai são um.
Uma das bases fundamentais da nossa fé é entender que Deus se fez carne,
se fez humano, se fez homem. Porém, a grande dificuldade da nossa fé que
se apresenta no texto de hoje é entender que Deus se encarna, o que nem
seus discípulos conseguiram entender esse Mistério da humanidade de
Deus: um Deus que sente sede, que sente fome, que cansa, que chora diante
da morte do amigo Lázaro.
Portanto, a centralidade que nos prepara para viver a experiência da Paixão
é entender a encarnação, Deus que desce e que assume a condição humana.
Condição essa que se revela na solidariedade diante das situações de
sofrimento, de injustiça, de dor, de preconceitos, de fome, de miséria, do
abandono e do pecado. Nós, muitas vezes somos tentados a achar que Deus
abandonou o Filho. Por nossa incredulidade, somos nós que abandonamos
Deus e não Deus que abandonou o Filho; quem abandonou Jesus não foi o
Pai, mas fomos nós que O abandonamos.
Ao contemplar o Cristo crucificado nesse tempo tão especial para a nossa
vida cristã em nossa espiritualidade, que possamos meditar e refletir sobre
essa dimensão do Deus que se faz humanidade, que se faz homem, que se
revela em sua plenitude, esse Deus que sempre está vindo e que testemunha
seu grande amor ao ser crucificado, para que nós possamos sair da cegueira,
da incredulidade e do pecado.
Diante de Deus que se esvazia e assume a condição humana, sinto-me
impelida(o) em cultivar em mim os mesmos sentimentos de Cristo (Fl 2,5-
8)?Diante de momentos difíceis estou abandonando a Jesus?
SÁBADO DA 5ª SEMANA (01/04/2023)
“As chagas de Jesus nos fazem compreender o valor das pessoas e o
oferecimento de seu corpo na Cruz.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 146
= Louvai o Senhor Deus, porque ele é bom, †
1 Vocacional diz: “o poder se faz serviço, quem quiser ser o primeiro no meio
cantai ao nosso Deus, porque é suave: *
ele é digno de louvor, ele o merece!
–2 O Senhor reconstruiu Jerusalém, *
e os dispersos de Israel juntou de novo;
–3 ele conforta os corações despedaçados, *
ele enfaixa suas feridas e as cura;
–4 fixa o número de todas as estrelas *
e chama a cada uma por seu nome.
–5 É grande e onipotente o nosso Deus, *
seu saber não tem medida nem limites.
–6 O Senhor Deus é o amparo dos humildes, *
mas dobra até o chão os que são ímpios.
–7 Entoai, cantai a Deus ação de graças, *
tocai para o Senhor em vossas harpas!
Texto bíblico: Jo 11,45-56
Do livro “La Santità è amorè” de Madre Maddalena Marcucci: “As
chagas de Jesus faz o Sacerdote intuir o valor das almas e compreende que,
quando oferece ao Eterno Pai a Hóstia Imaculada, o faz por aqueles pelos
quais Jesus Vítima se oferece e se imola continuamente. Quando toca com
veneração o cálice sagrado que contém o Sangue do Cordeiro Divino, sabe
que aquele Sangue é destinado a ser versado sobre as almas, infinitamente
mais preciosas que os cálices de ouro e de prata.
“Se uma alma se aproxima sedenta de amor e de luz, sabe apreciar, como
verdadeiro ministro do Senhor, os tesouros que lhe são confiados. Faz de
tudo para bem conservá-los e aumentá-los e, consequentemente, se
aproxima com a mesma veneração e respeito que tem quando sobe ao
altar.E o Senhor guarda esta alma sedenta e aumenta a graça com a qual a
adornou e faz de modo que este tesouro de infinito valor – que é a alma –
não caia, nem se dispersa, assim como o Ministro coloca atenção em não
deixar cair nem mesmo o menor fragmento da Hóstia Consagrada ou uma
pequena gota do Preciosíssimo Sangue”.
Reflexão: Jesus é, por excelência, o grande vocacionado do Pai; é o enviado
do Pai, o missionário do Pai, aquele que o Pai o chama Filho e Ele também
nos ensina a chamar Deus de Pai. Assim o nº 124 do Texto Base do III Ano
de vós seja o servo de todos (Mc 10,44). Jesus dá o exemplo (Jo 13,13-15) e
afirma que os diferentes reis da terra gostam de dominar e tiranizar, mas
entre os membros da comunidade não pode ser assim (Lc 22,25-36)”.
Prova de amor maior não há que dar a vida. Jesus é incompreendido e
diante do sinal que realiza da ressurreição de Lázaro, os fariseus e doutores
da lei mais uma vez querem levá-lo para ser condenado. Por que um homem
deve morrer por todos?
Somos chamados a mergulhar na Sagrada Escritura e ver os vários
exemplos como os cânticos do Servo Sofredor em que o profeta Isaías nos
lembra que Ele carregava sobre seus ombros os nossos pecados. Como
compreender essa dimensão? Só o podemos fazer entendendo primeiro que
Ele é Deus. Esse Deus crucificado é aquele que exerce a dimensão de uma
realidade sagrada, e sagrado é aquilo que é eterno. Diante da realidade que
não é eterna, o sagrado chama a viver a dimensão de buscarmos as coisas
eternas.
Quando falamos que Deus é amor, nós entendemos que o amor é o ato mais
supremo que existe. É um ato atemporal, eterno e que salva inclusive dos
nossos pecados. Nós temos uma resistência ao amor e temos que ter cuidado
porque, mesmo no mundo religioso na realidade das comunidades,
paróquias, mosteiros, conventos, muitas vezes somos contra testemunho que
Jesus é a expressão máxima do amor de Deus que se revela no mundo.
Peçamos a Ele para que tenhamos a graça porque não somos capazes de
compreender ou viver essa cultura do evangelho sem o auxílio, sem a
presença contínua e sem a direção do Espírito Santo.
Há em mim e em minha comunidade de fé resistências ao amor que não nos
permite viver em fraternidade com todos? Sou capaz de dar minha vida, ou
o melhor de mim mesmo(a) pela minha comunidade?
 SEMANA SANTA
Mt 26, 14-27,66
Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo
Incentivado pelos padres passionistas que atuam na paróquia Nossa Senhora
Aparecida de Luziânia/GO, muito cedo me encantei pela caminhada da
catequese. Ser catequista e mais tarde assumir como coordenador paroquial
da catequese se tornou um ideal para minha vida. O que não podia imaginar
que um dia seria instituído no Ministério de catequista pelo próprio Papa
Francisco. Fato que ocorreu no dia 23/01/2022, domingo da Palavra de
Deus na Basílica de São Pedro em Roma. Esta experiência, que não é
possível traduzir em palavras, devo à vivência inspirada na Paixão de Cristo
que entrou na minha vida pela espiritualidade de São Paulo da Cruz, que me
sustenta como catequista para formar discípulos missionários de Jesus
Cristo para o nosso tempo. Devo isso, também, a toda minha comunidade
que se empenha em colaborar no processo de Iniciação a Vida Cristã que
vivenciamos em nossa paróquia e toda a Diocese.
Com São Paulo da Cruz, aprendi que Cristo nos amou e está com cada um
de nós, ainda mais quando correspondemos a esse amor em nossa prática do
dia a dia, deixando sempre Cristo transformar a nossa vida, dando a direção
a esse amor salvífico. Seguir os passos de Jesus é colocar-nos a serviço de
nosso próximo, anunciar a Palavra de Deus que desperta as pessoas para
contribuir no crescimento do Reino de Deus entre nós.
A vivência do mistério de Cristo, principalmente na Semana Santa é
profunda experiência de Deus. Como Catequista, vejo a todo momento o
amor que Ele tem por nós, mostrando o caminho que nos leva a mergulhar
no Mistério central da nossa fé: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Não
devemos fechar os olhos para essa riqueza que temos hoje: fazer Memória
de sua Paixão é estar disposto a doar-se por inteiro ao nosso Salvador.
Muitas vezes somos tão mesquinhos com Deus e com Cristo, que acabamos
nos fechando em nós mesmos, traindo o Projeto de Jesus, nos assemelhando
à figura de Judas, que bem conhecemos. Mas Cristo nos deixou claro o que
significa viver em seu amor, que tudo nessa caminhada é valioso e que o
próprio sofrimento é redentor.
Como discípulo de Cristo, catequista por amor, hoje vejo o quanto devemos
estar preparados para a nossa missão. Cristo em sua infinita misericórdia
nos amou e nos ensinou como agir para continuar essa missão. Ele se fez
Pão e Vinho, como alimento para darmos continuidade ao seu projeto de
amor, ajudando nossos irmãos e irmãs a vivenciar o verdadeiro sentido do
amor-caridade. Apesar de tantos desafios é grande a alegria de comungar
essa Paixão com Cristo, é animador e nos fortalece em nossa jornada. Cristo
nos chama a cada momento e não podemos virar as costas, ser apenas mais
um que não reconhece esse amor de Cristo por nós.
Ser vocacionado nos dias de hoje, nos traz desafios e também muitas
alegrias, quando assumimos essa paixão de viver em nossas comunidades e
mesmo na sociedade, a misericórdia e a ternura de nosso Deus. Inspira-nos
o testemunho do próprio Cristo que sofreu e “humilhou-se, fazendo-se
obediente até a morte, e morte na Cruz!” (cf. Fl 2, 8). Por isso a nós cabe
também assumir nossa pequenez, as nossas dores, que devemos entender
como sendo parte desse amor de Cristo. Ele não disse que seria fácil, mas
mostrou que através de seu amor tudo pode ser transformado, quando nos
deixamos tocar por Ele. Sua Paixão transforma tudo ao nosso redor. Hoje
podemos olhar para o Crucificado e ver além, além de sua dor na cruz, ali
enxergar o Amor Maior, o Dom Total.
Ao fazermos a Memória da Paixão de Cristo, reconhecemos que sua Obra
Redentora no mundo ainda não acabou e somos nós, seus discípulos, que
damos a continuidade na medida que nos doamos como Ele. De forma
simples, podemos desapegar-nos de nós e do mundo para entrar na dinâmica
de Salvação que Ele iniciou com a Cruz. Sua Paixão, hoje é minha vocação.
Preciso sempre estar conectado a Cristo por meio do amor-doação que sabe
aceitar até o sofrimento, não como algo negativo, mas como solidariedade
com todos os irmãos sofredores do mundo.
Façamos dessa Semana Santa um tempo de amor aos irmãos e irmãs,
reconhecendo no Crucificado o Supremo Amor do Pai por nós.
Wanderson Saavedra Correia
Leigo Passionista e Ministro de Catequese
Paróquia Nossa Senhora Aparecida / Luziânia-GO
SEGUNDA-FEIRA DA SEMANA SANTA (03/04/2023)
“Não quero saber nada, senão renovar continuamente a entrega plena ao
seu amor.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 104
– 1Daigraças ao Senhor, gritai seu nome, *
anunciai entre as nações seus grandes feitos!
– 2 Cantai, entoai salmos para ele, *
publicai todas as suas maravilhas!
– 3 Gloriai-vos em seu nome que é santo, *
exulte o coração que busca a Deus!
– 4 Procurai o Senhor Deus e seu poder, *
buscai constantemente a sua face!
– 5 Lembrai as maravilhas que ele fez, *
seus prodígios e as palavras de seus lábios!
– 8 Ele sempre se recorda da Aliança, *
promulgada a incontáveis gerações;
– 9 da Aliança que ele fez com Abraão, *
e do seu santo juramento a Isaac.
Texto bíblico: Jo 12,1-11
Carta da Venerável Madre Maddalena Marcucci ao Padre Lozano, OP,
01º/04/1931: “Depois do Ofício das trevas desta tarde quero deixar tudo de
lado para entregar o meu coração, minha mente, minha alma e meu corpo,
numa palavra, todo o meu ser, a Jesus. Quisera, Padre, dar-me a Jesus como
Ele se dá a mim. Mas para conseguir isto seria preciso amá-lo como Ele nos
ama; pois a entrega é a medida do amor, e Jesus se entregou por nós à morte
e, antes, a todas as humilhações e a todas as dores. A isto me pede que
esteja disposta, me convida e me espera neste caminho. E eu, Padre, não
desejo outra coisa. Talvez ao que o Senhor refere sejam humilhações
exteriores e dores físicas. Não quero saber nada, senão renovar
continuamente a entrega plena ao seu amor. Digo-lhe que a Sua justiça eu a
temo, ou é temível. Seu amor não. Porque quando o amor chega às loucuras
do Seu, dá direito a todos para esperar e nada temer”.
Reflexão: Caríssimos irmãos e irmãs, estamos iniciando a Semana Maior.
Somos chamados a fazer o caminho com Jesus para Jerusalém. Nesse
caminho é que nós nos tornamos discípulos e discípulas, missionários e
missionárias do Pai, mas isso só será possível quando aprofundarmos no
cotidianamente a nossa dimensão vocacional. Independente da forma como
vivemos a nossa a vocação, somos chamados a pensar e refletir sobre o
chamado a ser povo de Deus e ter um olhar para Jesus. E, na Igreja, além
desse olhar para a pessoa de Jesus, sua Palavra e seu Reino, entender
também a dinâmica eclesiológica do Concílio Vaticano II.
No texto do Ano vocacional, o número 26 diz: “Jesus é, sem dúvida, o
grande modelo da vivência da vocação. A santidade proposta por Jesus
como caminho de vida favorece a compreensão de que todos são chamados
a participar da vida bem aventurada de Deus, cada um conforme sua
condição, seus dons, seu ministério. Somos convidados a viver a santidade
como resposta ao chamado que Deus faz. Cada qual segundo os próprios
dons e encargos deve avançar, sem hesitação, pelo caminho da fé viva que
exercita a esperança e age pela caridade (LG 41). A vocação no Concílio
Vaticano II é entendida como um dom, mas também como um compromisso
de cooperar com a Vontade Divina, manifestando a todos no próprio serviço
temporal, a caridade pela qual Deus amou o mundo (LG 41)”.
No texto do Evangelho de João nos é apresentado que Jesus está na casa de
um fariseu e que Maria levou quase um litro de perfume de nardo puro,
muito precioso. Ela ungiu os pés de Jesus e enxugou com seus cabelos. A
figura dessa mulher, considerada pecadora, tem um papel fundamental
nessa passagem bíblica. Temos três personagens: a mulher que unge os pés
de Jesus, Judas Iscariotes que critica a atitude da mulher, pois este achava
que o perfume poderia ser vendido e dar o dinheiro aos pobres, embora não
se preocupasse com eles e os fariseus e doutores da lei que, na sua
intolerância queriam matar Jesus e Lázaro.
Somos convidados a entrar nessa cena e com muita honestidade dizer com
qual personagem eu me identifico. Aquela mulher unge com antecipação o
corpo de Jesus, preparando-o para a sepultura. Ela dá o que de mais
precioso possui – dá de si mesma, se dá na possibilidade de retribuir o
quanto Jesus deu de Si para ela. Esta poderia derramar todo o perfume e se
fosse uma conta, seria uma conta impagável. Quanto Deus nos ama! A
figura de Judas, dos fariseus e doutores da lei são personagens fechados em
si mesmos, não se abrem ao amor. Talvez um dos textos mais bonitos que
refletimos seja este da Madre Maddalena Marcucci que diante do ofício das que o justo para sempre vacile!
trevas que ela reza, escrevendo ao padre, fala do quanto deseja estar com
Jesus, dar-se a Ele. Nós podemos entender em uma realidade mística que Texto bíblico: Jo 13,21-33.36-38
felicidade é a capacidade de se entregar a Deus na construção do seu Reino Avisos de Maria Madalena Frescobaldi, 66-67: “...para realizar uma
e ao próximo. frutuosa Meditação, não é necessário saber ler e ter o Livro em mãos, mas
basta, ao menos, que, não dando lugar a nenhuma distração externa em ver e
Com qual personagem bíblico me identifico neste Evangelho: a mulher,
escutar, imaginais estardes na presença de Jesus Crucificado que verte
Judas ou os fariseus? Sinto necessidade de me entregar inteiramente a
sangue de suas cinco Sacratíssimas Chagas. E depois de lhe terdes pedido
Deus na construção do Seu Reino e no serviço ao próximo?
perdão dos vossos pecados e negligências, e refletido no quanto Deus sofreu
por vós, apesar de vossa ingratidão, deveis colocar, com muita humildade,
TERÇA-FEIRA DA SEMANA SANTA (04/04/2023) dentro daquelas Chagas amorosas os cinco sentidos do vosso corpo,
pedindo de coração a Jesus Crucificado que, com seu Sangue precioso
“Amai os vossos inimigos e fazei bem a quem vos persegue.”
ponha um selo eterno sobre eles, a fim de que jamais tomem a liberdade de
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio. ofendê-lo”.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Reflexão: Nesta terça-feira nós somos chamados a refletir sobre a dimensão
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém da traição e, ao mesmo tempo, contemplar a pessoa de Jesus que está
reunido com seus discípulos. Nessa reunião Jesus celebra o memorial que
Salmo: 54 nós somos agraciados de vivê-lo: o memorial da sua paixão, morte e
–13 Se o inimigo viesse insultar-me, * ressurreição através da Eucaristia que Ele nos deixa como o maior presente
poderia aceitar certamente; na nossa vida militante.
– se contra mim investisse o inimigo, * Jesus, diante da sua angústia nessa ceia em que Ele se dá de uma forma
poderia, talvez, esconder-me. incondicional e total, revela a dimensão da traição. Refletindo o tema da
deslealdade, vimos que todos aqueles discípulos vivem uma situação de
–14 Mas és tu, companheiro e amigo, *
tu, meu íntimo e meu familiar, desleais, traidores; e aqui é muito mais do que uma constatação moral
–15 com quem tive agradável convívio * porque o grande sentido dessa reflexão é o amor, o memorial.
com o povo, indo à casa de Deus! Somos chamados a celebrar a Eucaristia cujo memorial nos conduz a
contemplar Jesus que se dá no corpo e no sangue, no pão e no vinho. E a
–21 Erguem a mão contra os próprios amigos, * figura de Judas não é uma figura tão distante de nós. Às vezes nós
violando os seus compromissos; colocamos Judas como uma realidade distante, mas todos temos um Judas
–22 sua boca está cheia de unção, * dentro de nós, pela condição humana, adâmica, que vive em nós.
mas o seu coração traz a guerra; Um dos gestos mais bonitos dessa ceia é quando Jesus desabafa com o
– suas palavras mais brandas que o óleo, * grupo. Há uma preocupação em saber quem é o traidor; é o que acontece
na verdade, porém, são punhais. com o próprio discípulo que reclina a cabeça no peito de Jesus e lhe faz a
–23 Lança sobre o Senhor teus cuidados, * pergunta. Acontece, então, o grande gesto da ceia que nem sempre
porque ele há de ser teu sustento, valorizamos: Jesus molha o pão no molho e dá a Judas. Esse gesto só era
– e jamais ele irá permitir * praticado quando alguém amava muito o outro. E Jesus não perdeu esta
oportunidade para mostrar o quanto amava Judas ainda que soubesse que
este iria vendê-Lo por 30 moedas.
A ceia do ágape é lembrada no Evangelho de Lucas e de Mateus. Em
ambos, Jesus fala: amai os vossos inimigos e fazei bem a quem vos
persegue. Nós, assim como Judas,muitas vezes não queremos exercer e
viver a decisão de amar de forma absoluta, de forma plena, de se dar sem
reservas − esse é o grande desafio. É muito bonito quando Maria Madalena
pede às suas filhas para que possam contemplar o crucificado, contemplar o
amor que transborda de suas chagas colocando nessas chagas os seus
sentidos, colocando nessas chagas o seu alimento,colocando nessas chagas
sua alegria de ser amada. Então, que todos nós, diante dessa realidade do
amor, queiramos nos curar da doença, da maldade, da deslealdade, da
traição, da mentira e do pecado.
Em minha resposta vocacional o que me barra no chamado e no desejo de
amar de forma incondicional? Diante das chagas de Jesus o que deve ser
curado em mim?
QUARTA-FEIRA DA SEMANA SANTA (05/04/2023)
“É necessário amar muito a Jesus.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 21
–2 Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? *
E ficais longe de meu grito e minha prece?
–3 Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, *
clamo de noite e para mim não há resposta! .
–7 Quanto a mim, eu sou um verme e não um homem; *
sou o opróbrio e o desprezo das nações.
–8 Riem de mim todos aqueles que me vêem, *
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
–9 ‗Ao Senhor se confiou, ele o liberte *
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!‘
–13 Por touros numerosos fui cercado, *
e as feras de Basã me rodearam;
–14 escancararam contra mim as suas bocas, *
como leões devoradores a rugir.
–17 Cães numerosos me rodeiam furiosos, *
e por um bando de malvados fui cercado.
– Transpassaram minhas mãos e os meus pés *
18 e eu poso contar todos os meus ossos.
= Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam! †
19 Eles repartem entre si as minhas vestes *
e sorteiam entre si a minha túnica.
Texto bíblico: Mt 26,14-25
Carta de Santa Gemma ao Pe. Germano, julho de 1900: “Ontem me
dizia o Anjo da Guarda e também me repetia esta noite muito aflito: „Se
você visse Jesus quanto sofre; se você O visse!‟ me repetia. Eu agora me
lamento, porque tantas vezes em outros tempos, quando Jesus sofria muito,
vinha me dizer. Então, eu também sofria e parecia-me que O aliviava um
pouco. Mas agora não vem mais.
“Perguntei ao anjo por que Jesus sofria muito, e me respondeu: „Os pecados
são tantos‟. Mas, então, nós que pertencemos ao Sagrado Colégio devemos
deixar Jesus sozinho a sofrer assim? Não, é verdade? Mas que faremos? Ó
quanto gostaria de fazer, se pudesse! Darei logo a minha vida para não fazer
Jesus sofrer; mas não, a vida não. Quero viver sempre, se agrada Deus, para
fazer penitência dos meus inumeráveis pecados, para sofrer muito e amá-lo
muito”.
Reflexão: O texto nos coloca diante de um contexto eucarístico. Jesus está
ceando com seus discípulos e é vendido. Qual é o preço da nossa vida e qual
o preço da vida das pessoas para nós? Entendemos que a vida é inegociável,
não tem preço. Com a graça do Espírito Santo, homens e mulheres que
entendem a vida como expressão do amor, sabem que não tem preço. Viver
não é existir, viver é amar.
Dentro desse mistério da vida e do amor se faz presente a dimensão do
sofrimento e, sem sombra de dúvidas, é a grande interrogação da condição
humana. Na realidade, no sofrimento existe a dor, e nós sabemos que a dor
maior é a dor da alma. Quantas vezes em nossa vida, pelo nosso narcisismo,
pelo nosso egoísmo, somos capazes de entregar pessoas? Nós somos
capazes de vender pessoas, avaliar como se fosse mercadoria: cada pessoa
tem um preço, cada pessoa pode ser comprada ou vendida.
O texto de hoje nos chama a colocarmo-nos diante dessa realidade do
sofrimento. E é importante entender que o sofrimento nunca será maior do
que aqueles que amam, do que aqueles que decidem amar. O único remédio
possível para a realidade do sofrimento e da dor que se revela em vários
aspectos é a capacidade de amar, a capacidade de viver esse amor com
fidelidade até o fim. Um amor que dá a sua vida, um amor que ama até o
fim, que nunca se torna menor.
Jesus amava Judas? Sim, e naquele momento o amou mais que aos outros
onze Apóstolos e por ele também morreu.
Nossa vida revela a decisão de amar, mesmo aqueles que nos fazem
sofrer?Escolho ser diariamente uma presença amorosa no mundo?
Amando, tenho transformado os corações?
QUINTA-FEIRA DA SEMANA SANTA (06/04/2023)
“Jamais faltará em uma alma que ama a Deus, a característica do amor.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 22
–1 O Senhor é o pastor que me conduz; *
não me falta coisa alguma.
–2 Pelos prados e campinas verdejantes *
ele me leva a descansar.
– Para as águas repousantes me encaminha, *
3 e restaura as minhas forças.
– Ele me guia no caminho mais seguro, *
pela honra do seu nome.
–4 Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, *
nenhum mal eu temerei;
– estais comigo com bastão e com cajado; *
eles me dão a segurança!
–5 Preparais à minha frente uma mesa, *
bem à vista do inimigo,
– e com óleo vós ungis minha cabeça; *
o meu cálice transborda.
–6 Felicidade e todo bem hão de seguir-me *
por toda a minha vida;
– e, na casa do Senhor, habitarei *
pelos tempos infinitos.
Texto bíblico: ICor 11,23-26
Do livro “La Santità è Amore” da Venerável Madre Maddalena
Marcucci: “Jamais faltará em uma alma que ama a Deus, a característica do
amor, isto é, um desejo ardente de Jesus Sacramentado, de aproximar-se
dele para alimentar e reavivar o fogo do seu amor e repousar aos Seus pés,
gozando das consolações que a fé concede. É propriedade essencial do amor
a necessidade de estar presente e unido ao objeto amado. E sabendo que
Jesus está assim próximo, nas nossas Igrejas, talvez na nossa mesma casa,
como é possível que a alma não se sinta atraída para Ele e não corra, sempre
que pode ou a recebê-lo sacramentalmente no coração, ou a visitá-Lo na sua
prisão de amor, exclamando com o Salmista: „Quão amáveis são as suas
moradas, ó Senhor! A minha alma deseja ardentemente e se desfalece para
entrar e permanecer contigo‟ (Sl 83,2-3). E quando entra, ela diz com o
mesmo Profeta: „O pássaro encontrou a casa e andorinha o ninho‟ (Sl 83,4).
“Pássaros que não sabem onde pousar e andorinhas que gemem, são as
almas amantes. Por isso não existe outro lugar de repouso neste deserto do
mundo que o lugar onde está Jesus, no santuário onde Ele vive em carne e
osso. Não existe outra luz entre as trevas que Jesus Sacramentado. Ele é o
farol que ilumina o caminho do amor sobre o qual eles peregrinam, também
quando são envolvidos pela noite escura do espírito e ninguém é capaz de
compreender para dar-lhes aquela luz e aqueles conselhos dos quais têm
necessidade”.
Reflexão: O quarto Evangelho relata que antes da festa da Páscoa, Jesus
sabendo que chegará a sua hora de partir deste mundo para o Pai tendo
amado os seus que estavam no mundo amou-os até o fim (Jo 13,1). O
evangelista João ainda destaca três outras passagens - 13,34; 15,9; 17,23 –
que é o amor que dá todo o sentido à obra de Jesus e, de modo particular, à
sua Paixão.
Esse ensinamento de São João nos leva a ver a ação salvadora de Jesus não
somente na cruz, mas em toda a sua vida. De fato, não podemos concentrar
o mistério da nossa salvação em Cristo somente em sua morte, mas em toda
a vida de obediência a Deus em favor da humanidade. A cruz é o ponto
culminante do sacrifício entendido como oferta; ou seja, Jesus ofereceu-se
como sacrifício santo e agradável a Deus. E no seu sangue temos a nossa
redenção. Talvez isso explique que, ao falar da última ceia, ao invés de
descrever o rito como faz os Evangelhos sinóticos, João prefira dar o
significado da ação de Jesus: “tendo amado os seus que estavam no mundo,
amou-os até o fim‟ (Jo 13,1).
Minha vida como vocacionado(a) de Cristo é tecida continuamente por atos
e gestos de entrega a favor dos outros? Minha vida é Eucaristia?
SEXTA-FEIRA DA SEMANA SANTA (07/04/2023)
“Não há maior amor que este: dar a vida pelos próprios amigos.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 37
–6 Cheiram mal e supuram minhas chagas *
por motivo de minhas loucuras.
–7 Ando triste, abatido, encurvado, *
todo o dia afogado em tristeza.
–8 As entranhas me ardem de febre, *
já não há parte sã no meu corpo.
–9 Meu coração grita e geme de dor, *
esmagado e humilhado demais.
=12 Companheiros e amigos se afastam, †
fogem longe das minhas feridas; *
meus parentes mantêm-se à distância.
–13 Armam laços os meus inimigos, *
que procuram tirar minha vida;
– os que buscam matar-me ameaçam *
e maquinam traições todo o dia.
––16 Mas, em vós, ó Senhor, eu confio, *
e ouvireis meu lamento, ó meu Deus!
–17 Pois rezei: ―Que não zombem de mim, *
nem se riam, se os pés me vacilam!‖
=20 São bem fortes os meus adversários †
que me vêm atacar sem razão; *
quantos há que sem causa me odeiam!
–21 Eles pagam o bem com o mal, *
porque busco o bem, me perseguem.
–22 Não deixeis vosso servo sozinho, *
ó meu Deus, ficai perto de mim!
–23 Vinde logo trazer-me socorro, *
porque sois para mim Salvação!
Texto bíblico: Is 52,13-53,12
Do livro “La Santità è Amore” da Venerável Madre Maddalena
Marcucci: “Jesus disse antes de morrer por nosso amor: „Não há maior
amor que este: dar a vida pelos próprios amigos. Esta verdade Ele a
confirmou com a Sua morte, porque não duvidamos que fôssemos nós, as
pessoas, o objeto do Seu amor ilimitado. À luz desta grande verdade,
contemplada aos pés da Cruz onde Jesus continua a repeti-la sem cessar, se
acende na alma que ama, o fogo do Amor Verdadeiro. Ninguém me amou
tanto como Jesus, porque ninguém como Ele, deu a sua própria vida por
mim. Se Amor com Amor se paga, não me darei jamais repouso até que a
minha vida não esteja consumada em holocausto por Ele, dando-lhe assim,
também eu, a mesma prova de Amor que Ele me deu.
“Só ao pé da Cruz se pode e se deve repetir: „Não existe amor maior...‟ É
aqui que o Amor chegou ao máximo da sua extensão. Quando também o
Amor da alma chega a este ponto, então se tem a prova mais segura de ter
atingido uma perfeição altíssima. Não existe outra escola onde se pode
aprender esta ciência das ciências”.
Reflexão: Nessa sexta-feira da Semana Maior nós celebramos o mistério da
Memoria Passionis. A liturgia da palavra nos apresenta uma síntese da vida
e da ação de Jesus Cristo. Ele é o servo que carrega os pecados da
humanidade que nos é apresentado na leitura deste dia de retiro.
Encontramos aí nesse texto de Isaías o quarto poema do Servo de Javé, que
é o Servo de Deus que enfrenta conscientemente a dor, a rejeição até a
morte e acaba sendo glorificado.
É difícil identificar quem é, na verdade, esse servo. Provavelmente ele seja
um retrato do povo que sofre, mas no conteúdo do quarto canto é muito
clara a controversa com a doutrina da retribuição que crê que, se alguém
sofre e é castigado por Deus, isto acontece por causa do mal que ele fez.
Mas esse servo é inocente. O texto desconstrói a teologia da retribuição. É
um servo inocente que sofre, ao passo que os culpados não. Esse Servo é
condenado, morto, mas torna a viver e é glorificado. A leitura cristã vê
nesse Servo o próprio Jesus, e as primeiras comunidades cristãs, percebe
que, na Paixão de Jesus se concretiza plenamente a profecia (Fl 2,6-11).
Hoje Ele continua alimentando a esperança dos sofredores do mundo. Cabe
aos cristãos de hoje entender a tempo o significado tanto da dor, quanto da
opressão de milhões e milhões de seres humanos. Cabe a nós sentir que
mais uma vez Javé quer glorificar os esmagados, os crucificados de ontem e
de hoje, dos quais provavelmente temos a tentação de desviar o nosso rosto.
É possível, a partir da Paixão de Jesus, dar um significado à dor e à
opressão de tantos seres humanos em nossos dias? Como anunciar a Boa
Nova a partir do sofrimento e da opressão?
SÁBADO DA SEMANA SANTA (08/04/2023)
“A Vida triunfa e vence a morte.”
V: Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R: Socorrei-me sem demora.
V: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R: Como era no princípio, agora e sempre. Amém
Salmo: 29
–2 Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, *
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
–3 Senhor, clamei por vós, pedindo ajuda, *
e vós, meu Deus, me devolvestes a saúde!
–4 Vós tirastes minha alma dos abismos *
e me salvastes, quando estava já morrendo!
–5 Cantai salmos ao Senhor, povo fiel, *
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
–6 Pois sua ira dura apenas um momento, *
mas sua bondade permanece a vida inteira;
– se à tarde vem o pranto visitar-nos, *
de manhã nos vem saudar a alegria.
–9 Por vós, ó meu Senhor, agora eu clamo, *
e imploro a piedade do meu Deus:
–10 Que vantagem haverá com minha morte, *
e que lucro, se eu descer à sepultura?
– Por acaso, pode o pó agradecer-vos *
e anunciar vossa leal fidelidade?
–11 Escutai-me, Senhor Deus, tende piedade! *
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
–12 Transformastes o meu pranto em uma festa, *
meus farrapos, em adornos de alegria,
=13 para minh‘alma vos louvar ao som da harpa †
e ao invés de se calar, agradecer-vos: *
Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!
Texto bíblico: Jo 19,38-42
Do livro “Il mese santificato” de São Vicente Maria Strambi:
“I. O pecado tinha fechado a porta da bem-aventurança eterna, e o gênero
humano gemia nas sombras da morte e em meio às trevas mais espessas,
miseravelmente condenado ao inferno. Para abrir as ditosas portas, fechadas
pelo pecado, o Filho de Deus desceu do Céu à terra, se revestiu de nossa
carne, se fez humilde e pequeno e se sacrificou sobre a Cruz, a fim de que,
como disse São Paulo, cheios de confiança no Sangue de Jesus Cristo,
pudéssemos caminhar pelo caminho que nos foi aberto, caminho este vivo e
oculto, que não é outro senão Sua carne. (cf. Hb10,19-20) Nos abriu com
seu Sangue a entrada do Reino da bem-aventurança. Para entrar nele é
necessário passar desde já pelo mar da misericórdia que é este Sangue de
saúde eterna. E do mesmo modo que os israelitas que, para entrar na terra
prometida, deviam passar pelo Mar Vermelho, aquele que quiser penetrar na não pode ser simplesmente uma frase, mas deve ser uma conduta de vida e,
Jerusalém Celestial, deve primeiro mergulhar no mar imenso do Sangue em forma de autocrítica, questionar se a nossa vida tem mais sinais de
Precioso de Jesus Cristo. Nada mais exato. existência e de plenitude ou se estamos no caminho de palavras, atitudes,
“A alma que no curso de sua vida purificou-se continuamente neste Sangue pensamentos e omissões em que prevalecem mais a dinâmica da morte.
inocente, ofereceu-O com frequência ao Pai Eterno, se alimentou muitas Peçamos a Deus que nos encha de paz e de alegria para que sejamos
vezes Dele na Santa Comunhão e foi compenetrada pela participação nos homens e mulheres da solidariedade pelos crucificados, descendo da cruz
demais Sacramentos, chegará seguramente por este mar de misericórdia ao todos aqueles que lá estão. Que saibamos construir pontes e não abismos
porto da salvação eterna. E quem será que não deseje aproveitar desse uns entre os outros.
Sangue? Santa Páscoa!
“II. Outra consolação que deve nascer em nossos corações é a confiança
viva de ter algum dia a entrada no Paraíso, graças a este Sangue divino, nos Sendo vocacionados do Deus da vida, a nossa vida tem mais sinais de
sugere Santo Agostinho. Depois de ter chamado o Sangue de Jesus Cristo existência e de plenitude ou se estamos no caminho de palavras, atitudes,
de prenda do seu amor e de nossa salvação, as palavras que adiciona são pensamentos e omissões em que prevalecem mais a dinâmica da morte?
muito próprias para inflamar todos os corações com uma gloriosa esperança
fundada no Sangue do Redentor: “Jamais conserve a ideia de que não sereis
admitidos à felicidade eterna, pois o Sangue de Cristo é mais do que a glória
do Paraíso. Sim, temos a posse de um bem mais precioso, que é o Sangue
do Salvador, devemos, pois, esperar obter um bem menor que é a bem-
aventurança eterna.
“Ó que palavras consoladoras! Não se pode apresentar um motivo mais
poderoso de consolo para a alma inquieta e tímida que se vê agitada pela
incerteza de sua salvação. „Tendes em vossas mãos o Sangue Preciosíssimo
de Jesus Cristo - diz o Santo Doutor: não temais: a glória celestial vos
espera‟. Se Deus vos deu o dom maior, porque temeis que vos negue o
menor? Ah! Reanimais em vós, almas devotas do Sangue Precioso de Jesus,
a mais firme esperança de vossa salvação eterna”.

Reflexão: Neste último dia do Tríduo Pascal vamos refletir a vida que
triunfa sobre a morte. O nosso Deus é um Deus que revela seu Reino. E o
seu Reino é um Reino em que, a última palavra e o ultimo gesto definitivo e
soberano, cabe somente a Ele, o Deus da Vida. Na solenidade da Páscoa,
somos chamados a entender a ressurreição do seu Filho Jesus Cristo, Filho
amado, cujo gesto da vida que triunfa sobre a morte, se traduz no amor que
vence o ódio.
Cabe a nós nos colocarmos não só diante do mistério da cruz, mas também
do mistério do túmulo vazio e repensar as atitudes, a espiritualidade, a fé e
perceber que somos servidores do Deus da vida, não do Deus da morte. Isto
 VIA SACRA DE SÃO PAULO DA CRUZ Pela tua salvação/ Pela tua salvação.
ORAÇÃO INICIAL:
“Vede que injúrias, que sofrimentos padece por nós o Salvador, esmagado
Senhor, vós sois tudo! Nós somos nada! Para que nos transformássemos no
sob o peso da Cruz! Contemplai como sofre por nosso amor o Filho de
Tudo que sois, vós vos rebaixastes ao nada que somos.
Deus, o Redentor do mundo. Ó Jesus, leio em vossos sofrimentos a
Aqui estamos, Senhor, para acompanhar vossos passos na caminhada para a
gravidade de meus pecados. Perdoai-me, Senhor!” (S. Paulo da Cruz).
morte, morte de Cruz. Que este percorrer convosco o caminho do Calvário,
seja meio eficaz para realizarmos, na Via Sacra da nossa vida, o convite ORAÇÃO: Ó Deus todo poderoso, concedei-nos recobrar ânimo pelos
austero que dirigis ao coração dos discípulos: “Tomai vossa cruz. Segui- merecimentos de Vosso Filho Unigênito, pois nossa fragilidade nos faz
me!” Assim completaremos em nós o que falta à Vossa Paixão. Que a desfalecer. Amém.
Virgem Mãe, ferida por cruel espada, nos acompanhe neste roteiro sagrado
e nos ajude a gravar em nós Vossas Santas Chagas. Amém.
IV ESTAÇÃO: JESUS ENCONTRA-SE COM SUA MÃE
De Maria lacrimosa/ Sua Mãe tão dolorosa
I ESTAÇÃO: JESUS É CONDENADO À MORTE
Vê a imensa compaixão/ Vê a imensa compaixão.
A morrer crucificado/Teu Jesus é condenado
Por teus crimes pecador/Por teus crimes pecador. “A Mãe aflita vai em busca de seu Filho Jesus, o condenado. E o encontra
subindo o Calvário com a Cruz nos ombros, amarrado, a cabeça coroada de
“É preciso aceitar de boa vontade, com espírito aberto e resoluto, a cruz das
espinhos. Ó Rainha do Mártires, também nós somos culpados pela cruel
contradições, assim como Jesus aceitou ser condenado à morte de Cruz para
espada que transpassa tua alma.” (São Paulo da Cruz)
fazer a Vontade Soberana.” (São Paulo da Cruz)
ORAÇÃO: Ó Deus, segundo a profecia de Simeão, dolorosa espada
ORAÇÃO: Ó Deus todo poderoso e eterno, que nos mostrais Jesus, Vosso
transpassou o coração de Maria Virgem e Mãe; concedei-nos que,
Filho, nosso Salvador, feito homem e humilhado até a morte de Cruz,
recordando Suas dores, obtenhamos os frutos da sua Paixão. Amém.
como perfeito modelo, fazei que colhamos frutos copiosos da Paixão para
participarmos da sua Ressurreição. Amém.
V ESTAÇÃO: O CIRINEU AJUDA JESUS A CARREGAR A CRUZ
No caminho do Calvário/ Um auxílio necessário
II ESTAÇÃO: JESUS CARREGA A CRUZ
Não lhe nega o Cireneu/ Não lhe nega o Cireneu.
Com a cruz é carregado/ E do peso acabrunhado
Vai morrer por teu amor/ Vai morrer por teu amor. “Aqueles que suportam, com paciência e perseverança, trabalhos,
perseguições, desprezo, por amor de Deus, ajudam Jesus a carregar a Cruz.
“Felizes aqueles que seguem a Jesus no caminho do Calvário, pois sofrendo
Estes hão de participar com Ele da glória do céu.” (São Paulo da Cruz)
com Ele, com Ele hão de estar na casa do Pai.” (São Paulo da Cruz)
ORAÇÃO: Ó Deus, força dos que em vós esperam. Acolhei bondoso
ORAÇÃO: Ó Deus, que esmagastes o orgulho do inimigo com o
nossas preces. E como nada podemos sem Vós, dai-nos Vossa graça e
sofrimento do Vosso Filho Unigênito, concedei que nos lembremos
cumpriremos, com alegria, Vossos preceitos. Amém.
sempre do quanto Ele sofreu por nós, para que superemos com alegria
qualquer adversidade. Amém.
VI ESTAÇÃO: VERÔNICA ENXUGA O ROSTO DE JESUS
O seu rosto ensanguentado, / por Verônica é enxugado
III ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
Eis, no pano apareceu / eis, no pano apareceu.
Com a cruz é oprimido/ Cai Jesus desfalecido

“A lembrança da Sagrada Paixão é o caminho que nos leva à união com
Deus, ao silêncio interior, à contemplação. É preciso deixar-se envolver
pelos sofrimentos de Jesus e gravá-los no coração, porque por eles, cresce
em nós o amor de Deus e somos mergulhados no mar infinito da divindade”
(S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Deus todo poderoso e eterno, consolo e arrimo dos que
sofrem; escutai a súplica da humanidade esmagada pela dor, para que
todos se alegrem por serem socorridos com o auxílio de Vossa
misericórdia. Amém.
VII ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
Outra vez desfalecido/ Pelo peso abatido
Cai por terra o Salvador/ Cai por terra o Salvador.
“Quantos vivem esquecidos dos sofrimentos de Jesus. Esses andam
confusos e errantes na treva do pecado” (S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Ó Deus, nosso auxílio, volvei vosso olhar sobre nós, para que,
embora oprimidos por tantos pecados, por Vossa misericórdia, possamos
servir-vos com plena liberdade. Amém.
VIII ESTAÇÃO: JESUS CONSOLA AS FILHAS DE JERUSALÉM
Das matronas piedosas/ De Sião filhas chorosas
É Jesus consolador/ É Jesus consolador.
“O meio mais eficaz para converter os homens, mesmo os mais desviados, é
a Paixão de Jesus. A meditação dos sofrimentos do Salvador tem o poder de
corrigir os vícios e conduzir os homens ao amor e ao temor de Deus” (S.
Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Ó Deus, que acolheis com imenso amor os que em Vós
esperam, concedei-nos chorar amargamente o mal que fizemos, para
alcançar a graça de Vosso auxílio. Amém.
IX ESTAÇÃO: JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ
Cai terceira vez prostrado/ Pelo peso redobrado
Dos pecados e da cruz/ Dos pecados e da cruz.
“Consideremo-nos felizes por sofrermos e sentirmos o peso da cruz de cada
dia, porque, se tudo suportarmos com a paciência de Cristo, começaremos a
ser seus discípulos. Prossigamos pois, neste caminho, seguindo Jesus até o
Calvário” (S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Ó Senhor, que nossa fraqueza seja socorrida por Vossa ajuda
misericordiosa, para que o peso da debilidade humana seja aliviado por
Vossa clemência. Amém.
X ESTAÇÃO: JESUS É DESPOJADO DE SUAS VESTES
Já do algoz as mãos agrestes/ As sanguentas pobres vestes
Vão tirar do Bom Jesus/ Vão tirar do Bom Jesus.
“Jesus se deixa despojar de suas vestes. Assim quer nos ensinar a renúncia à
nossa vontade sempre que não estiver conforme à vontade do Pai; convida-
nos a nos despojarmos dos vãos afetos e do amor desordenado ao que passa,
para revestir-nos de sua santidade” (S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Ó Deus, apoio dos que em Vós esperam, sem Vós não somos
nem fortes, nem santos. Derramai sobre nós Vossa misericórdia e
concedei-nos que, seguindo Vosso caminho, passemos entre o que passa
sem perder o que não passa. Amém.
XI ESTAÇÃO: JESUS É CRUCIFICADO
Sois na cruz por mim pregado/ Insultado e blasfemado
Com cegueira e com furor/ Com cegueira e com furor.
“Nós somos muito felizes porque estamos crucificados com Jesus e temos
impressas em nossos corpos suas santas Chagas. Somos felizes também,
porque não nos apegamos às criaturas, mas ao Criador, porque sofremos
com paciência e por amor, as contrariedades da vida” (S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Senhor, que nossas preces Vos agradem; e fazei que nossa
vontade, mesmo rebelde, sempre se conforme com a Vossa. Amém.
XII ESTAÇÃO: JESUS MORRE NA CRUZ
Por meus crimes padecestes/ Meu Jesus por mim morrestes
Como é grande a minha dor/ Como é grande a minha dor.
“Jesus morreu para nos dar a vida. As criaturas todas se lamentam e sofrem. “Aleluia é um hino do Paraíso, que para cantá-lo como se deve, é necessário
O sol se escurece, treme a terra, partem-se as rochas, rasga-se o véu do ter-se despojado do homem velho e ser revestido do homem novo, que é
Templo. Nosso coração permaneceria insensível? Mergulhemos no mar Jesus” (S. Paulo da Cruz).
imenso dos sofrimentos de Jesus e digamos-lhe: Senhor, nós vos
agradecemos porque morrestes na cruz por nosso amor!” (S. Paulo da ORAÇÃO: Ó Deus, avivai a nossa fé cristã para que possamos ver os
Cruz). sinais de ressurreição também entre aqueles que perderam a esperança e
ajudai-nos a suscitar vida no mundo que criastes. Amém.
ORAÇÃO: Senhor Jesus, que morrendo por Vontade do Pai, destes vida
ao mundo; pelos mistérios sagrados de Vossa Paixão, livrai-nos do mal e ORAÇÃO FINAL:
fazei-nos sempre fieis a Vós. Amém. Nós vos agradecemos, Senhor, porque nos concedestes partilhar convosco
as angústias e tribulações que nos afligem.
XIII ESTAÇÃO: JESUS É DESCIDO DA CRUZ Concedei-nos viver sempre unidos a Vós, para que, mergulhados no mar da
Do madeiro vos tiraram/ E nos braços vos deixaram Vossa Paixão, experimentemos a grandeza do Vosso infinito amor.
De Maria, que aflição/ De Maria, que aflição.
“Ao pé da cruz está a Mãe das Dores. Porque onde está a Mãe está também
o Filho. Santa Mãe, nós te pedimos que a Paixão de Jesus seja para todos
fonte de arrependimento e perdão, de amor e vida” (S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Senhor Jesus, Filho do Deus Vivo, pelo Vosso precioso
Sangue derramado por nós, ouvi a nossa prece e fazei que depois da
morte sejamos recebidos no céu. Amém.

XIV ESTAÇÃO: JESUS É SEPULTADO

No sepulcro vos deixaram/ Enterrado vos choraram
Magoando o coração/ Magoando o coração.
“Contemplar Jesus sofredor é o caminho mais seguro para a salvação. O
Crucifixo é o livro onde se aprendem todas as virtudes e a ciência dos
santos” (S. Paulo da Cruz).
ORAÇÃO: Ó Deus que quisestes que fôssemos batizados na morte de
Vosso Filho Jesus. Concedei-nos por Ele, um sincero arrependimento dos
nossos pecados, para que, passando com Ele pela morte, renasçamos para
a alegria da vida nova. Amém.

XV ESTAÇÃO: JESUS RESSUSCITA

Vitória, tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás. (bis)
 HORA SANTA VOCACIONAL
Animador/a (A.): Queridos irmãos e irmãs! Neste ano vocacional, que tem
como tema: “Vocação: graça e missão”, e como lema: “Corações ardentes,
pés a caminho”, queremos colocar toda nossa vida e vocação diante de Deus
que nos chama e ama. E também pedir-lhe que nos ajude a sermos uma
Igreja mais unida, missionária, diaconal e mais próxima das pessoas, uma
comunidade, uma família, toda de vocacionados e vocacionadas, com
corações ardentes e pés sempre a caminho no seguimento de Jesus Cristo.
Enquanto preparamos a Exposição do Santíssimo, cantemos (cantar algum
canto eucarístico)
A.: Graças e louvores sejam dados a todo momento.
Todos (T.): Ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento.
A.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
T.: Como era no princípio, agora e sempre, amém.
A.: Enviai, Senhor,
T.: Operários e operárias à vossa messe.
A.: Jesus Eucarístico, aqui estamos diante de vós. Sabemos que somos
chamados e chamadas, cotidianamente, a sermos discípulos missionários,
discípulas missionárias, semeando alegria e amor, construindo a paz e a
comunhão. Um dos objetivos específicos deste 3º Ano Vocacional em nosso
país é “intensificar a prática da oração pelas vocações em todos os âmbitos:
pessoal, familiar e comunitário” (cf. Texto-base 15). Estamos diante de vós,
em oração. Queremos rezar, juntos, pelas vocações. Enviai, Senhor,
T.: Operários e operárias à vossa messe.
(Segue um breve período de diálogo/oração pessoal, em completo silêncio.)
A.: “Jesus entrou para ficar com eles” (Lc 24,29b). No aparente fracasso da
cruz, os discípulos voltam, desanimados, a Emaús, lugar da rotina e dos
dissabores cotidianos. É a voz do Mestre que faz “re-esperançar” seus
passos; no Pão partilhado, tira as vendas dos olhos e faz arder novamente os
corações. E nós, em nosso cotidiano, como enfrentamos os dissabores da
vida? Como enfrentamos nossos aparentes fracassos? O que faz arder o
nosso coração?
(Segue um breve período de diálogo/oração pessoal, para a busca de
respostas às questões. Pode-se colocar fundo musical, baixinho.)
A.: Peçamos perdão por todas as vezes que deixamos de escutar a voz do
Mestre e de perceber que Ele caminha conosco e está presente na Fração do
Pão. Cantemos (escolher algum canto vocacional)
Leitor 1: Na origem de toda genuína vocação está um encontro decisivo
com o Senhor, pois não basta ser informado do que outros dizem, mas é
preciso encontrá-lo e vislumbrá-lo nos caminhos da História. E neste
caminho não estamos sozinhos, mas caminhamos juntos, manifestando vida
e esperança que brotam da Ressurreição de Jesus.
Leitor 2: Deus continua a falar aos seus chamados e não abandona os que
seguem a sua Voz. Diante de um amor tão grande, nos cabe uma resposta de
amor e gratidão ao Amor recebido gratuitamente de Deus, que move a
entrega da vida pela salvação do próximo
Leitor 3: Somente uma vocação alimentada pela intimidade com o Senhor
poderá se tornar uma resposta autêntica à humanidade que vagueia entre
tantas incertezas e inseguranças. Busquemos esta intimidade, deixando-nos
tocar por Jesus Cristo.
A.: “Jesus chamou e enviou os que ele mesmo quis” (Mc 3,13-19). O
chamado de Deus não acontece pelos nossos merecimentos, por sermos
“bonzinhos” ou por fazermos as coisas “certas”, mas é pura graça, pura
gratuidade Dele. E ao longo de nossa história podemos, se tivermos um
coração aberto, perceber o quanto Ele nos tornou agraciados/as.
Preces espontâneas. Concluir com o Pai-nosso e a Ave-Maria.
 CANTOS
1 – BENDITA E LOUVADA SEJA
1. Bendita e louvada seja no céu a divina luz, e nós também cá na
terra, louvemos a Santa Cruz! (bis).
2. Os céus cantam a vitória de Nosso Senhor Jesus. Cantemos
também na terra louvores à Santa Cruz. (bis)
3. Humildes e confiantes levemos a nossa cruz, seguindo o sublime
exemplo de Nosso Senhor Jesus. (bis)
4. Ao povo aqui reunido, dai graça, perdão e luz! Salvai-nos, ó Deus
clemente, em nome da Santa Cruz. (bis)
2 – Do Rei avança o estandarte, fulge o mistério da Cruz,
onde por nós foi suspenso o autor da vida, Jesus.
Do lado morto de Cristo, ao golpe que lhe vibraram,
para lavar meu pecado sangue e água jorraram.
Ó Árvore, a mais bela, de rubra púrpura ornada,
de os santos membros tocar digna, só tu foste achada.
Ó Cruz feliz, dos teus braços do mundo o preço pendeu;
balança foste do corpo que ao duro inferno venceu.
Ó salve, altar, salve vítima, eis que a vitória reluz:
a vida em ti fere a morte, morte que à vida conduz.
Ó salve, cruz esperança, concede aos réus remissão;
dá-nos o fruto da graça, que floresceu na Paixão.
Louvor a vós, ó Trindade, fonte de todo perdão,
aos que na Cruz foram salvos, dai a celeste mansão.
3 - EIS O TEMPO DE CONVERSÃO
Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação.
Ao Pai voltemos, juntos andemos. Eis o tempo de conversão!
1. Os caminhos do Senhor são verdade, são amor. Dirigi os passos
meus; em Vós espero, ó Senhor! Ele guia ao bom caminho quem
errou e quer voltar. Ele é bom, fiel e justo; Ele busca e vem salvar.
2. Viverei com o Senhor. Ele é o meu sustento. Eu confio mesmo
quando minha dor não mais aguento. Tem valor aos olhos seus meu
sofrer e meu morrer. Libertai o vosso servo e faze-o reviver!
3. A Palavra do Senhor é a luz do meu caminho; ela é vida, é alegria;
vou guardá-la com carinho. Sua lei, seu Mandamento é viver a
caridade. Caminhemos todos juntos, construindo a unidade!
4 – NINGUÉM TE AMA COMO EU
Tenho esperado este momento, tenho esperado que viesses a mim.
Tenho esperado que me fales, tenho esperado que estivesses assim.
Eu sei bem o que tens vivido, sei também que tens chorado.
Eu sei bem que tens sofrido, pois permaneço ao teu lado.
Ninguém te ama como eu, ninguém te ama como eu.
Olhe pra Cruz esta é a minha grande prova.
Ninguém te ama como eu. Ninguém te ama como eu.
Olhe para Cruz, foi por Ti, porque Te amo, ninguém Te ama como eu.
Eu sei o que me dizes ainda que nunca me fales.
Eu sei bem o que tens sentido ainda que nunca me reveles.
Tenho andado a teu lado, junto a ti permanecido.
Eu te levo em meus braços, pois sou teu melhor amigo.
5 – PECADOR AGORA É TEMPO
1. Pecador, agora é tempo de pesar e de temor:
Serve a Deus, despreza o mundo, já não sejas pecador!
2. Neste tempo sacrossanto o pecado faz horror:
Contemplando a cruz de Cristo, já não sejas pecador!
3. Vais pecando, vais pecando, vais de horror em mais horror
Filho, acorda dessa morte, já não sejas pecador
4. Passam meses, passam anos, sem que busques teu Senhor
Como um dia para o outro, assim morre o pecador!
5. Pecador arrependido, pobrezinho pecador,
Vem, abraça-me contrito com teu Pai, teu Criador!
6. Compaixão, misericórdia vos pedimos, Redentor:
Pela Virgem, Mãe das dores, perdoai-nos, Deus de amor!
6 - SENHOR, EIS AQUI O TEU POVO
Senhor, eis aqui o teu povo que vem implorar teu perdão;
é grande o nosso pecado, porém é maior o teu coração.
1. Sabendo que acolheste Zaqueu, o cobrador,
E assim lhe devolveste tua paz e teu amor,
Também, nos colocamos ao lado dos que vão
Buscar no teu altar a graça do perdão.
2. Revendo em Madalena a nossa própria fé,
Chorando nossas penas diante dos teus pés
Também, nós desejamos o nosso amor te dar
Porque só muito amor nos pode libertar.
3. Motivos temos nós de sempre confiar,
De erguer a nossa voz, de não desesperar,
Olhando aquele gesto que o bom ladrão salvou,
Não foi, também, por nós, teu sangue que jorrou?
7 - VITÓRIA
Vitória, tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás. (bis)
1 – Brilhando sobre o mundo, que vive sem tua luz.
Tu és um sol fecundo de amor e de paz, ó Cruz.
2- Aumenta a confiança do pobre e do pecador.
Confirma nossa esperança na marcha para o Senhor.
3 – À sombra dos teus braços a Igreja viverá.
Por ti no eterno abraço o Pai nos acolherá.
8- BENDITA SEJAIS, SENHORA DAS DORES
Bendita sejais, Senhora das Dores!
Ouvi nossos rogos mãe dos pecadores.
Ó Mãe dolorosa, que aflita chorais,
Repleta de dores, bendita sejais!
Das lágrimas ternas, que assim derramais,
Nós somos a causa...Bendita sejais!
Que espada pungente, vós experimentais,
Que o peito vos vara, Bendita sejais!
Manda Deus um anjo, dizer que fujais,
do bárbaro Herodes. Bendita sejais!
9 - PAIXÃO PELA VIDA
1 - Os sonhos criaram asas e nos fizeram voar.
A fé projetou caminhos, renovou nosso caminhar.
Nosso carisma é forte, como é forte nosso coração:
Acreditamos no novo que virá por nossas mãos.
Somos apaixonados, Paixão – loucura incontida,
Da Cruz explode essa chama, a nossa paixão pela Vida!
2 - Vida! É o nosso grito que convoca à união,
Homens, mulheres sem medo, esperança em construção.
Com alegria e garra, lutamos sem esmorecer,
Tirando a dor que mata, para o Reino acontecer.
3 - O mundo nos interpela, espera a libertação,
Mortes, clamores e prantos: imagens da nossa missão.
Somos profetas da Páscoa em meio ao povo sofredor.
Testemunharemos a Vida, em resposta de amor.
10 – PASSIONISTA ME CHAMAS A SER
1 -Bem cedo, Senhor, teu chamado escutei. Respondi depressa: eu te
seguirei.
Mostraste o caminho e a direção. Confiante, deixei-me guiar por tua mão.
Passionista me chamas a ser, Missionário da Cruz, da Paixão.
Seguidor do amor revelado no Crucificado presente no irmão. (bis)
2- Aos poucos, Senhor, me deixei modelar. Me mostraste na vida o teu jeito
de amar
O desejo de Paulo hoje é meu ideal: a Memória da Cruz pra vencer todo
mal.
3 – Na Paixão do mundo vejo dor, sofrimentos; rostos marcados, clamores,
lamentos
Teu apelo é de vida, eis a minha missão: ser sinal de esperança e de
libertação.
11 – DOXOLOGIA DA ENTREGA
Em Cristo, um crucificado eu sou. Nele fui feito escravo do amor
Pela causa do Reino, do mundo, dos pobres, servo do Senhor.
Por Cristo, chamado a ser do irmão. R: Ó Bom Mestre a vós recorremos (cf. Mt 14,13b)
Com Cristo, fazer a vontade do Pai. Ajudai-nos a fome vencer
O poder, as riquezas, tudo esquecido, Recordai-nos o que nós devemos:
por Cristo deixado pra trás. “Dai-lhes vós mesmos de comer.” (Mt 14,16b)
Fiz do povo a minha família, da Igreja a minha mãe,
Do mundo a minha Pátria; Em todo lugar o Evangelho anunciar! 2) Jesus Cristo, pão da vida plena (cf. Jo 6,35)
Renunciar a si mesmo é deixar que Cristo venha de nós se apossar. Em sua mesa nos faz assentar (cf. 1Sm 2,8)
Tudo de Deus, tudo a Deus, consagro e entrego a cantar. E sacia a nossa pobreza
Para um mundo mais justo formar
Já não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim.
Minha vida presente na carne eu a vivo no Filho de Deus. 3) Unidos nesse tempo propício
A Ele que tanto me amou e a si mesmo por mim se entregou. De jejum, oração, caridade (cf. Mt 6,1-18)
Toda honra e toda glória, o meu ser e o eterno louvor (Gl. 2,20). Recordemos, pois é nosso ofício
Cultivar e plantar a bondade
MANTRAS 4) A ausência da fraternidade
Senhor, eu vos agradeço por terdes morrido na Cruz, (bis) Nos leva a desviar o olhar (cf. Eclo 4,5)
por meu amor. Vos agradeço, Senhor! Do irmão que tem necessidade
De valor, alimento e lugar
Ó luz do Senhor que vem sobre a terra
inunda meu ser permanece em nós. 5) A fome agravada no mundo,
Vem de uma visão arrogante (cf. Pr 21,24)
Onde reina o amor, fraterno amor A carência do amor mais profundo (cf. 1Jo 4,20-21)
Onde reina o amor, Deus ai esta. Que nos torna irmãos tão distantes
Dia e noite, trevas e luz. 6) Nas cidades e em todo lugar
Tudo é graça, Deus nos conduz. Que se abra o nosso coração (cf. Ef 1,18)
Tu és fonte de vida, tu és fogo, tu és amor. Vem, À alegria de poder partilhar (cf. At 2,42)
Espírito Santo, vem, Espírito Santo. O pão nosso em feliz oração (cf. Mt 6,11)
Misericórdia, ó Senhor, misericórdia. Misericórdia!
Vinde, Santo Espírito! Vinde, santo Espírito!
Vinde, Santo Espírito! Vinde,Santo Espírito!

HINO DA CF 2023
1) Vocação e missão da Igreja:
Responder ao apelo do Senhor (cf. Mt 14,16b)
De sermos no mundo a certeza
Da partilha, milagre do amor (cf. Mt 14,13-21)