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Storytelling
PARA PROFESSORES

Trecho de

“COMO FALAR,
COMO OUVIR”
de Mortimer Adler
Nossa relação com a mente dos outros pode se dar tanto solitária quanto
socialmente. O tempo livre que destinamos ao lazer também pode ser
dividido de forma semelhante. Nós o aproveitamos tanto na completa
solidão quanto na companhia, e com a cooperação dos outros.

Aparentemente, o contato de nossas mentes com a mente de outrem


sempre acaba sendo um fenômeno social, e não isolado. O uso solitário
da mente parece confinado às situações que não envolvem outra
pessoa, como quando estudamos os fenômenos da natureza,
analisamos as instituições da sociedade em que vivemos, exploramos o
passado ou especulamos acerca do futuro.

É claro, porém, que a leitura e a escrita podem ser praticadas de


maneira solitária, e é isso o que normalmente acontece - na solidão de
um escritório, à escrivaninha, sobre a poltrona. O fato de na escrita
estarmos nos dirigindo à mente de outras pessoas não faz dela uma
empreitada social. O mesmo se aplica à leitura. Entrar em contato com a
mente do escritor através das palavras que ele ou ela colocou no papel
não faz do ato de ler um acontecimento social.

Ao contrário da escrita e da leitura, tarefas em geral solitárias, la fala e a


escuta são sempre, e exclusivamente, sociais Elas sempre envolvem
confrontos humanos. Geralmente, compreendem a presença física de
outras pessoas - o orador falando para ouvintes que estão ali enquanto
ele ou ela fala, o ouvinte escutando um falante que lá se encontra. Essa
é uma das razões que tornam a fala e a escuta mais complexas do que a
escrita e a leitura, assim como mais difíceis de controlar quando se
deseja torná-las mais eficazes.

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Embora elas sejam sempre sociais, o traço de sociabilidade da fala e da
escuta pode ser anulado ou satisfeito. Ele é anulado quando o confronto
do falante com o ouvinte leva à supressão de um ou de outro. Quando
isso acontece, o que se dá é um discurso ininterrupto ou uma escuta
silenciosa. E algo parecido com uma via de mão única, com todo o
tráfego fluindo em apenas uma direção.

O mesmo resultado é obtido quando alguém se dirige a uma plateia,


quando alguém se reporta a uma diretoria ou a um comitê, quando
professores dão aula, quando candidatos a cargos públicos discursam
para seus eleitores e quando alguém se põe a falar sem parar num jantar
festivo, monopolizando a atenção de todos durante um período. Todas
essas são variações da rua de mão única.

A possibilidade de as declarações públicas, palestras e discursos


políticos chegarem agora a ouvintes silenciosos amplamente dispersos
através da televisão só muda as coisas de uma forma. Quando esses
ouvintes se encontram no mesmo local em que está o falante, é sempre
possível que a rua de mão única seja aberta para que o tráfico flua em
dois sentidos, com o ouvinte silencioso fazendo perguntas ao orador ou
tecendo comentários sobre o que foi dito, no intuito de obter alguma
resposta. Isso não pode ocorrer quando os ouvintes estão sentados
diante da tela da televisão.

Em vez de anulado, o traço social do falar e do ouvir é satisfeito quando


o discurso ininterrupto e a escuta silenciosa dão lugar à conversa, ao
debate ou ao colóquio. Todas as três palavras que acabei de utilizar -
"conversa" "debate" e "colóquio" - têm significados comuns o suficiente
para serem quase incabiveis. O que todas as três partilham é a via de
mão dupla na qual as pessoas se tornam tanto falantes quanto ouvintes,
alternando entre um papel e outro.

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"Comunicação" é o jargão de que se valem os cientistas sociais e os
especialistas em eletrônica que elaboraram "teorias da comunicação".
Felizmente, não existe nenhuma "teoria do colóquio", e é por isso que
prefiro "colóquio" a "comunicação".

Podemos encontrar diversas formas de comunicação entre os animais


ir-racionais, mas nenhum colóquio. Dizem até que qualquer objeto que
envia um sinal para outro, que de alguma forma o recebe e responde,
está envolvido numa comunicação. Porém, o envio e o recebimento de
sinais não constituem um colóquio, uma conversa ou um debate. Os
animais irracionais não conversam uns com os outros; eles não travam
debates.

O único aspecto da comunicação que gostaria de preservar em minhas


considerações sobre o colóquio é a noção de comunidade que ela
envolve. Sem a comunicação não pode existir comunidade alguma. Os
seres humanos não podem constituir uma comunidade ou partilhar de
uma vida em comum sem se comunicarem uns com os outros.

É por isso que o colóquio, o debate ou a conversa são os modos mais


importantes de fala e de escuta. Se o aspecto social da fala e da
escuta fosse sempre anulado, como acontece no discurso ininterrupto
e na escuta silenciosa, haveria pouca ou nenhuma comunidade entre
falantes e ouvintes. Uma comunidade vigorosa e próspera de seres
humanos exige que o aspecto social de sua fala e de sua escuta seja
satisfeito, e não anulado.

Em diversos pontos, o discurso escrito se alinha com a via de mão


dupla do colóquio: em correspondências constantes entre pessoas que
escrevem cartas genuinamente respondidas por aquele que as
recebeu; e em interações polêmicas, como quando determinado autor
contesta uma resenha negativa de seu livro e incita o crítico a
responder.

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