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— Parece que você acabou de dar uns pegas no armário, chefe — disse
Jane, nos olhando pelo espelho retrovisor quando Derek e eu subimos no
banco de trás do Range Rover.
Eu atirei um olhar gelado para ele. Ele sorriu diabolicamente.
— Emily recebeu inúmeros abraços dos participantes de seu estudo — disse
Derek suavemente. Ele puxou o laço do meu cabelo, e enquanto eu
empurrava sua mão, me perguntava se estava imaginando uma
possessividade naquele movimento.
O erro de um beijo não dava ao homem direito a nenhum contato físico
posterior.
— Deve ter ganhado alguns beijos de vitória também — ponderou Jane.
Resmungando em voz baixa, tirei meu batom e o estojo compacto para
corrigir o dano que um certo Derek Price, com feromônios usuários de
esteroides, causou.
Eram quatro horas da tarde e eu enfrentei a imprensa, entreguei um prêmio,
confirmei uma conquista científica significativa e fui beijada até quase perder
os sentidos em um depósito.
Pela primeira vez na minha vida adulta, tive vontade de encerrar o dia e
voltar para casa para me esconder no meu quarto.
15
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— Estou bem. — A voz de Emily saiu fraca, mas irritada, do meu banco do
passageiro.
Tudo bem. Ótimo. Eu também estava puto.
— Quando foi a última vez que fez uma refeição de verdade? — perguntei,
pegando a ponte e deixando o centro de Miami para trás. A porta de trás da
van branca na nossa frente se abriu e uma pilha de latas vazias com respingos
de tinta caiu. Eu desviei e abaixei a janela do passageiro.
— Porta de trás! — gritei para o outro motorista.
— Foi mal, cara. Eu não curto isso — ele gritou de volta.
— Isso só acontece em Miami. — Emily suspirou, endireitando-se. —
Aonde estamos indo? Além disso, o que aconteceu exatamente?
— Você desmaiou no escritório porque é uma idiota teimosa — expliquei.
— Vou te levar para casa.
Ela tinha ficado pálida como um fantasma e com os olhos vidrados antes de
cair graciosamente em um desmaio. O susto tirou cinco anos da minha vida.
— Os relatórios — disse ela, olhando para o colo e, em seguida, esticando o
pescoço para ver no banco de trás. — A equipe de mídias sociais precisa da
minha opinião amanhã de manhã. Tenho que reagendar o tour de integração
da nova química. Não liguei de volta. E deve haver um relatório de fim de dia
do departamento jurídico.
Ela estava trabalhando até cair. Como eu ousava afastá-la de seu trabalho?
— Tudo o que pôde ser feito, foi. Qualquer coisa que reste pode esperar até
amanhã — retruquei.
— Você não pode dar as cartas, Price. Não tem ideia do que é necessário
para manter uma empresa desse tamanho coesa — ela atirou de volta,
cruzando os braços sobre o peito e fechando a cara para o para-brisa.
— Você não tem o direito de quase me matar de susto revirando os olhos e
desmaiando porque é teimosa demais para se livrar de tarefas que deveria ter
delegado anos atrás.
Provavelmente existia uma regra sobre não gritar com uma mulher que
ficou inconsciente recentemente. Mas, no fundo, eu era um cara que violava
regras.
— A culpa é inteiramente sua. Você sabe que pode me dizer quando
precisar fazer uma pausa. Quando precisar de um momento. Uma merda de
refeição. Ainda assim, você se martiriza em uma agenda lotada porque não
suporta ser franca sobre seus próprios limites.
Ela abriu a boca em um suspiro justo de indignação.
— Todo mundo tem limites, Emily. Você não ganha um bônus por fingir
que não tem.
Rodamos em um silêncio duro e raivoso por vários minutos até que meu
telefone tocou nos alto-falantes do SUV.
— Jane — atendi em saudação.
— A chefe está bem? Quer que eu seja a babá esta noite?
— A chefe está bem aqui, e desde quando você faz o que Derek pede? —
cortou Emily, mal-humorada.
— Oi, chefe — respondeu Jane, extremamente despreocupada.
— Eu vou ser a babá da noite — falei a Jane. — Descanse. Tenho certeza
de que ela amanhã estará terrível.
— Entendido.
—Vocês dois estão demitidos — disse Emily.
— Seja uma boa menina com o bom rapaz — Jane disse a ela. — Boa sorte,
Chá e Bolinhos.
— Obrigado — respondi secamente. Desliguei e peguei o desvio para
Bluewater. O guarda acenou para que passássemos e voltamos ao nosso
silêncio absoluto. Ela estava dando uma boa demonstração de raiva, mas eu
sabia que estava abalada também.
— Fique parada — eu disse quando parei na frente de sua casa.
Eu saí e dei a volta para o seu lado do SUV. Ela abriu a própria porta,
provando inutilmente que era capaz disso. Mas eu ri por último quando seus
joelhos cederam.
— Não está mais tão durona agora, não é, amor?
— Cale a boca, Chá e Bolinhos.
Fiz um movimento para pegá-la nos braços, mas ela me impediu.
— Não. Ouse. Vou aceitar um braço para apoio, mas só isso — insistiu com
firmeza.
Revirando os olhos, deslizei meu braço em volta da sua cintura e lhe ofereci
minha mão livre. Ela a pegou com força e caminhamos juntos até a porta da
frente.
Digitei a senha enquanto ela reclamava sobre a necessidade de alterá-la
novamente e sobre como eu precisava parar de invadir o seu sistema de
segurança.
— Aonde estamos indo? — ela perguntou quando eu a conduzi passando
pela cozinha.
— Para a cama.
— Derek, estou morrendo de fome. — Ouvi a necessidade crua em sua voz
e suavizei levemente.
— E eu vou cuidar disso em um minuto. Pela primeira vez na vida, apenas
faça o que lhe mandam. — Eu a empurrei não muito suavemente para baixo
na cama e então fiz meu caminho até o armário. Vasculhei algumas gavetas
antes de encontrar a maldita boxer de outro homem e uma regata macia.
— Aqui — falei, retornando e jogando as peças para ela. — Troque de
roupa. E não saia desse quarto.
— Mandão — murmurou baixinho quando eu saí.
Voltei para a cozinha que era impecável, sem exagero. Os armários brancos
complementados por balcões de mármore azul brilhante. O teto era de uma
madeira meio cinza que combinava com o espaço. Como na maior parte da
casa, portas de vidro se abriam para a vista da Biscayne Bay.
Fui até a despensa. Dá para saber tudo o que se precisa saber sobre alguém
dando uma olhada no armário de remédios ou na despensa.
A despensa de Emily, disfarçada por duas portas combinando com o resto
do armário, revelava que ela era obsessivamente organizada e tinha
absolutamente zero imaginação quando o assunto era comida.
Era quase do tamanho do meu quarto principal. Mas não havia alimentos
convenientes nem guloseimas. Nada de sacos de batatas fritas. Nada de
pipoca de micro-ondas ou cereal de marshmallow com corante vermelho.
Nenhum esconderijo cheio de chocolates. Havia prateleiras meticulosamente
preenchidas com potes de vidro, cheios de aveia, farinha e sementes de chia.
Eletrodomésticos de cozinha menores e panelas e frigideiras maiores ficavam
atrás de portas de vidro fechadas, todos tão limpos que eu duvidava que já
tivessem sido usados.
Não encontrando nada de útil, me aventurei de volta à cozinha e abri a
geladeira. A-há! Refeições prontas cuidadosamente embaladas e empilhadas
em recipientes de vidro. Abri um, cheirei o conteúdo e o considerei aceitável.
Uma espécie de prato tailandês de frango com legumes e arroz. Peguei um
segundo recipiente do mesmo e coloquei os dois no micro-ondas.
Minutos depois, voltei ao quarto de Emily com uma bandeja, comida e
minha pasta.
Ela olhou para a comida da cama, morrendo de fome.
— Graças a Deus, você escolheu isso. Cristoff fica insuportavelmente
irritado quando eu não como até o último grão do que ele me deixa.
Coloquei a bandeja em seu colo e chutei meus sapatos.
— Cristoff? Ele é outro crocodilo de três patas sob seus cuidados?
Ela bufou deselegantemente.
— Ele é pior do que um crocodilo. Mais rabugento também. Daisy e eu o
compartilhamos.
Eu arqueei uma sobrancelha em brincadeira.
— Que moderno.
— Ele é um chef, não um gigolô. Por falar nisso, é o que Luna pensava que
você era. Cristoff é um chef mal-humorado, barulhento e assustador que faz
criações divinas e tem pitis violentos.
— Ele parece encantador.
Ela comeu seu frango.
— Hum... — Revirou os olhos. — Delicioso.
Contornei a cama e deslizei no lado oposto do colchão.
— O que está fazendo? — ela perguntou com a boca cheia.
Afofando os travesseiros atrás da cabeça – por que as mulheres insistem em
ter uma porção de travesseiros na cama? –, peguei o segundo prato de frango.
— Cuidando de você.
— Estou alimentada. Estou na cama. Seu trabalho está feito — disse ela.
Dei-lhe um olhar demorado e firme.
— Claramente, não está. Vou ficar aqui e garantir que você tenha pelo
menos nove horas de sono e um café da manhã farto. Você despencando no
chão de novo não faz parte do meu plano.
— Não pode estar falando sério — disse Emily, cuidadosamente pegando
um pedaço de arroz.
— Totalmente sério, querida.
— Tudo bem. Mas não vamos transar — insistiu.
— No momento, estou mais propenso e te estrangular do que a fazer sexo
com você. — Encontrei o controle remoto na mesa lateral e liguei a TV. —
Agora, vamos ver o que a adorável Emily Stanton assiste quando está na
cama.
Passei pelos seus programas assistidos recentemente e sorri.
— Eu me recuso a ter vergonha do que costumo assistir — ela fungou
enquanto eu clicava em um reality show de construtores de minicasas.
— Não pode esperar que eu não comente a ironia — eu disse secamente. —
Tive de deixar migalhas de pão para conseguir encontrar o caminho da sua
cozinha para o seu quarto.
— Cale a boca, Price.
— É bom ver que nem tudo é documentário ou biografia — ponderei.
— Você me faz parecer muito chata — ela reclamou.
Mas não havia nada de chato na mulher na cama ao meu lado.
— Bem, isso é aconchegante. E confuso.
Cameron Whitbury, bilionária aeroespacial e vizinha do lado, enfiou a
cabeça pela porta aberta do quarto.
— Cam! — disse Emily surpresa. — O que está fazendo aqui?
— Eu vi o cavalheiro aí meio que te arrastando para dentro de casa. Você
parecia doente ou algo assim. Está se sentindo bem?
— Não está — eu disse ao mesmo tempo que Emily disse, — Estou bem.
— Opa.
— Emily decidiu dar de cara com o chão por ficar sem comer por quem
sabe quanto tempo — informei.
— Posso atestar que ela também não tem dormido. As luzes do seu
escritório não se apagam antes das três nas últimas noites — disse Cam.
— Vou dar uma ideia, que tal vocês dois pararem de meter seus belos
narizes na minha vida? — resmungou Emily.
Olhei com raiva para ela.
— Pare de me olhar assim — reclamou. — Estou tentando administrar meu
negócio e apaziguar a diretoria, e ser legal com a imprensa e conquistar o
público. Estou tentando fazer tudo.
— Talvez deva parar — sugeriu Cam. Claramente à vontade, ela veio até a
cama e se jogou aos pés de Emily. Ela estava usando um terninho feito sob
medida e chinelos, que presumi que tenha calçado depois de tirar um par de
saltos espetaculares.
— Eu esperaria que você, de todas as pessoas, me apoiasse, Cam — disse.
— Ei, não sou eu desmaiando no trabalho. Quando eu fizer isso, você pode
vir esfregar na minha cara.
— Jane tem uma boca enorme.
— Meninas, meninas. Não vamos brigar enquanto estamos todos na cama
juntos — eu disse, servindo-me de mais frango. Queria conhecer esse
Cristoff. Ele era excelente com aves.
Cam sorveu o ar e enfiou o rosto no jantar de Emily.
— Isso está com um cheiro divino.
— Tem outro na geladeira — falei para ela.
— Já volto — disse Cam, deslizando da cama e caminhando para fora do
quarto.
— Cristoff vai ficar muito feliz — Emily suspirou.
Quando Cam voltou com seu jantar, abri meu laptop para trabalhar um
pouco enquanto as meninas assistiam a um casal de Seattle construir um
galpão de cinquenta e seis metros quadrados em uma floresta.
— Você fica ótimo com óculos de leitura — falou Cam com aprovação.
— Não é? Isso dá uma vibe nerd de deus do sexo, não dá? — Emily
bocejou.
Eu as ignorei.
Tinha que recuperar o meu atraso. Meu negócio era pequeno, mas prestava
serviço completo. Quando tínhamos uma cliente como Emily, minha equipe
trabalhava sem parar fazendo o que era necessário para alcançar o resultado
desejado. Rowena estava investigando toda a história de Merritt Van
Winston, bem como a de sua família mais próxima.
Lance estava escrevendo posts e artigos brilhantes sobre Emily, a Flawless
e Bluewater e espalhando-os amplamente em nossa rede de mídia amigável.
Meus outros clientes estavam sendo “reparados” por minha pequena equipe
de subalternos. Tínhamos um escândalo de um vídeo de sexo de uma
subcelebridade que estava se revelando um pouco delicado e um divórcio
complicado que precisava ser resolvido.
Mas a situação de Emily Stanton atualmente era a principal prioridade da
minha empresa.
Recebi o e-mail da assessora da Flawless, que encaminhava a lista diária de
solicitações da mídia. A maioria eram tabloides e blogs de fofoca na
esperança de pregar nossa bela líder na cruz em nome de cliques e
publicidade. Mas hoje, apareceu um pedido interessante. Eu o encaminhei
para Rowena e solicitei uma investigação detalhada.
Os últimos números mostravam uma recuperação lenta, mas significativa.
Se pudesse manter Emily de pé daquele jeito por mais algumas semanas,
estava confiante de que tudo ficaria para trás.
Lidei com uma série de e-mails, solicitações e o trabalho penoso que
acompanha uma empresa. Os números e cifrões não me empolgavam da
mesma forma que as estatísticas de uma história viral. Mas reconhecia o seu
valor e fazia o que pudesse com eles. Confiava em contadores para que
lidassem com os detalhes mais enfadonhos. Mas sabia de onde vinha e para
onde estava indo cada centavo.
Emily bocejou novamente ao meu lado. Sua cor estava melhor, seu corpo
abastecido. Se eu pudesse apenas forçar uma boa noite de sono nela,
começaríamos do zero pela manhã. E eu iria monitorá-la mais de perto, já que
aparentemente ela era incapaz de cuidar de si mesma.
Cam terminou sua refeição e o episódio do programa e se preparou para ir
para casa. Mas não sem antes forçar Emily a fazer promessa de dar notícias
amanhã.
— Cuide bem dela — ordenou Cam da porta.
— Prometo que cuido.
Levei a bandeja com pratos sujos para a cozinha e coloquei-os em uma das
duas máquinas de lavar louça. Reiniciei o alarme de segurança e fiz um
rápido tour pelo primeiro andar, garantindo que as portas e janelas estavam
trancadas.
Voltando ao quarto, encontrei Emily dormindo profundamente sob o
edredom. A tela da TV piscava e eu a desliguei. Tinha certeza de que havia
algum tipo de veneziana automática que cobria as portas francesas que
levavam ao terraço, mas não consegui descobrir como funcionavam. Havia
coisas piores do que acordar com o nascer do sol, decidi.
Tirei minha roupa de baixo e puxei as cobertas do que agora considerava o
meu lado da cama. Encontrando um carregador de telefone na gaveta da
mesinha de cabeceira, me perguntei quantos convidados já o usaram. Embora
isso realmente não importasse, já que planejava deixar claro que eu seria o
mais inesquecível.
Deslizando entre os lençóis de seda, recostei-me nos travesseiros.
Ao meu lado, Emily respirava devagar, respirações regulares. Coloquei as
mãos sob a cabeça e contemplei o mural abstrato em tons brilhantes de rosa e
azul pintado à mão no teto do quarto.
Sim, a partir de amanhã várias coisas iriam mudar.
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Steve era um crocodilo sibilante de quase 2,50 metros que habitava o final
de uma longa doca da lagoa no centro do enclave, onde havia um letreiro
escrito “Casa do Steve”.
— Então existe mesmo um crocodilo com uma pata protética — comentei,
observando o réptil enquanto ele abria suas enormes mandíbulas.
— Sim. Um dos residentes mandou imprimir em seu laboratório uma pata
artificial 3D para ele. O pobre coitado a perdeu para a hélice de um barco e
vivia nadando em círculos. Ele não poderia sobreviver na natureza, então
deixamos que ficasse — explicou Emily. — Pronto, garotão?
Ela segurou um frango assado sobre a grade. Tirei meu telefone do bolso do
short de ginástica e tirei uma foto.
— Ele já comeu algum residente? — perguntei.
Steve sibilou como se estivesse ofendido e Emily jogou o frango para ele.
Ele o agarrou no ar com um bote pré-histórico. Consegui uma foto em
pleno salto.
— Nós temos um acordo. Ele é alimentado todos os dias, desde que não
coma nenhum animal de estimação de Bluewater. Ele é bem tranquilo.
— Quero um mai tai, querida!
Virei-me com o flash de cor e penas que pousaram na grade do cais.
— Oi, Frank — disse Emily ironicamente.
— Bela tatuagem, idiota — disse o papagaio gordo.
— Estou tendo alucinações agora? — perguntei, fascinado.
— Receio que não — ela me disse. — Frank é o nosso fdp de penas. Seu
dono anterior era um idiota. Como você já deve ter adivinhado.
— E agora ele mora aqui em Bluewater?
— O dono morreu – numa briga de bar, que surpresa – e o Frank aqui
escapou do resgate de animais que veio atrás dele. Mordeu o oficial de
controle de animais na orelha e saiu voando. Ele acabou aqui quando
começamos o paisagismo.
— E deixaram que ficasse?
— Tá olhando o quê, idiota? — Frank perguntou a Steve, balançando a
cabeça colorida.
O crocodilo sibilou sua resposta.
— Não descobrimos como nos livrar dele — confessou ela.
— Mas que tetas! — Frank gritou antes de voar próximo a Steve e voar em
direção à praia.
— Sabe, nunca fico entediado perto de você, amor — eu disse.
Ela bateu no meu ombro e, juntos, fizemos o caminho que levava de volta à
casa dela. A vegetação ficava exuberante ao sol da manhã. Palmeiras
replantadas criavam um dossel natural acima de nós. Arbustos, buganvílias e
outras plantas de um verde brilhante formavam uma vegetação rasteira rica,
semelhante a de uma floresta, que fazia tudo ali parecer isolado. Apesar das
mansões de milhões de dólares escondidas atrás de vegetação e portões,
Bluewater parecia um paraíso deserto de humanos.
Sozinhos em algum paraíso tropical. No que dizia respeito ao local, este
entraria para o meu livro de história. Embora eu desejasse que Emily me
desse alguma pista de como estava se sentindo depois da noite de ontem.
Nossa reclusão romântica foi interrompida por uma senhora em traje de
corrida rosa segurando halteres minúsculos e bufando forte enquanto trotava
em nossa direção. Havia um homem significativamente mais jovem e
musculoso seguindo-a em um carrinho de golfe, gritando instruções com um
megafone.
— Bom dia, senhora Esteban — disse Emily.
— Parece que alguém teve uma boa noite — respondeu a mulher com um
sorriso malicioso. Ela tinha uma bandana de estampa de flores amarrada
debaixo dos cachos de cor azul acinzentada. Brincos de diamantes de dez
quilates balançavam em suas orelhas.
Emily deu a sua vizinha um sorriso culpado. A senhora Esteban olhou por
cima dos óculos de sol bifocais e me deu uma piscadela atrevida.
— Menos paquera. Mais corrida — gritou o treinador bronzeado.
Ela acelerou o passo e o carrinho de golfe passou zunindo por nós.
— Você mora em um bairro muito estranho — eu disse.
Emily riu. Ficamos em silêncio por alguns minutos enquanto vagávamos na
direção de sua casa. Meus músculos estavam quentes e meu corpo parecia
deliciosamente solto e bem usado.
— Sobre ontem — ela começou.
Finalmente. Minha paciência havia se esgotado e eu estava a trinta
segundos de exigir uma conversa do tipo, “vamos dar um nome a isso”.
— Sim?
Emily parou e, hesitante, passou os braços em volta do meu pescoço.
— Foi bom. Ótimo.
E ou mas. Eu não sabia para qual dos dois ela se voltaria.
— E? — cutuquei, cheio de esperança.
— E eu acho que estou a fim de repetir.
Eu a peguei nos braços, tirando seus pés do chão. O alívio foi como um
farol de luz em meu peito.
— Vou marcar uma hora para você — provoquei.
— Faça isso, Price — disse ela com uma risada.
— O que vamos fazer hoje?
Ela mordeu o lábio.
— Acho que posso me dar ao luxo de chegar um pouco atrasada ao
escritório esta manhã.
— Trabalhando no sábado, amor? — Estalei a língua em censura. — Eu me
lembro de insistir que levasse sua saúde mais a sério.
— Graças a você, tive duas das melhores noites de sono dos últimos
tempos. E estou disposta a permitir que traga o café da manhã — disse de
modo indulgente.
Eu a beijei. Com menos suavidade dessa vez. Exigindo mais. Deixando seu
corpo roçar o meu, eu a coloquei no chão.
— Ontem à noite — ela começou. — Quando você disse que eu te
deslumbrava?
— Sim? — Beijei-a novamente.
— Bem, o sentimento é mútuo — confessou.
— Isso quer dizer que você estaria aberta a rotular esse... lance? —
perguntei, acariciando sua mandíbula com os polegares.
— Sempre negociando — ela suspirou.
— Isso é especial, Emily.
— Nenhum de nós tem tempo para coisas especiais — ela me lembrou.
— Seremos idiotas se não arrumarmos um tempo — avisei.
— Oh, ei, Emily — cantou uma voz.
— Merda — sibilou Emily.
Luna e Cam, de pijama e segurando o que pareciam ser mimosas, estavam
sentadas em um carrinho de golfe todo turbinado. Elas estavam sorrindo
loucamente.
— Uh, oi, pessoal — disse Emily sem jeito. — Todo mundo conhece o
Derek, certo?
— Oi, Derek — ronronaram as garotas.
— Meninas — eu disse, me recusando a permitir que Emily se afastasse de
mim.
— Que coincidência te encontrar aqui, Emily — disse Luna com um sorriso
malicioso. — Cam e eu estávamos conversando, e vamos convocar um DQB
de emergência amanhã.
— Esteja lá — Cam insistiu.
Emily estremeceu.
— Sim, acho que vou poder.
— Ótimo! Até mais! — falou Luna, girando o volante do carrinho de golfe
e dando a volta.
— Suas amigas com certeza sabem como fazer uma entrada. O que é um
DQB?
— Drag Queen Brunch.
30
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A casa Price era de estuque bege da Flórida, com uma palmeira
indispensável no jardim da frente. Havia carros estacionados na rua e quase
meia dúzia de homens, cervejas em mãos, sentados em cadeiras de gramado
no pedaço de grama entre o meio-fio e a calçada.
— Um comitê de boas-vindas — observei.
— Os membros masculinos da família. Posso ter enviado uma foto do seu
carro para eles — Derek confessou.
— Pela primeira vez, você não estava exagerando, Derek — gritou um
homem com uma camisa de flamingo rosa acima da rotação do motor. Ele
tinha ombros largos e um charuto apagado preso entre os dentes. Usava um
boné com a aba virada para trás.
— Ele está falando de você — Derek me provocou.
Enfiei os remédios para diarreia na bolsa e torci pelo melhor.
Saímos e meu carro foi atacado por uma multidão de admiradores enquanto
o lado cheio de testosterona da família de Derek o admirava. As
apresentações foram feitas entre perguntas sobre potência e itens de série.
Michael, o padrasto, era o cara de charuto e camisa de flamingo. Depois
vieram o irmão Will, o meio-irmão Alberto – ou Berto – e os cunhados Pete e
Carmine. Todos expressaram sua opinião sobre meu carro e um desejo
descarado de dirigi-lo em voz alta. Derek devolveu as chaves para mim.
— Não nessa vida, senhores — ele brincou. — Não deixe que a enganem
para darem uma volta nele — sussurrou para mim.
— Sua garota tem bom gosto para motores, hein? — Pete disse, mascando
um chiclete como se fosse sua última refeição.
— Ela ainda não decidiu se é minha garota — disse Derek, passando o
braço pela minha cintura e me guiando em direção à casa. — Espero que
você me ajude a convencê-la.
— Fuja — Will tossiu fingidamente cobrindo a boca com a mão. Seu
sorriso era uma cópia do de Derek, seu sotaque mais americano do que
britânico.
— Boa sorte lá dentro, Em — gritou Michael atrás de nós. — Lembre de
não deixar que sintam o cheiro do seu medo.
— Ela lida com um conselho de diretores todos os dias. Tenho certeza de
que consegue lidar com o lado feminino da família — disse Derek com
secura.
— Você bateu com a cabeça ou algo assim recentemente, D? — Carmine
perguntou com uma piscadinha em minha direção.
Meu conselho de diretores nem chegava perto das damas do clã Price-
Perez. A irmã de Derek, Tanya – modelo de meio período e mãe de três filhos
em tempo integral – balançava uma criança soluçante de dois anos no quadril
e me perguntou quais eram as minhas organizações sem fins lucrativos
favoritas. Liz, com um corte pixie e pulseiras de couro nos dois pulsos, deu
ao meu corte de cabelo um aceno de aprovação e perguntou qual era
exatamente o meu relacionamento com seu irmão. Verita, a meia-irmã
empolgada, colocou uma taça de vinho em minha mão e sugeriu que eu me
juntasse a eles no pátio para que todos ficássemos mais confortáveis para o
interrogatório.
A mãe de Derek, Daniella, foi calorosa e acolhedora. Junto com as boas-
vindas veio uma vibração muito sutil que dizia que poderíamos ser amigas,
desde que eu não mexesse com a família dela. Ela era linda. Seu cabelo cor
de pelo de visom estava cortado em um bob na altura do queixo. Ela usava
um short xadrez preto e branco e uma blusa branca sem mangas. Seus pés
estavam descalços, mas seu rosto, habilmente maquiado.
— Eu prometo que não vou te abandonar — sussurrou Derek em meu
ouvido enquanto me guiava para fora. As crianças, com idades variando de
adolescentes a pré-escolares com boias, entravam e saíam da piscina no que
parecia ser uma caótica competição de mergulho amador. Cachorros, três
deles de portes diferentes, corriam pelo quintal cercado, se revezando em
pular na piscina e depois sacudirem violentamente os pelos para o deleite das
crianças.
Os homens tinham acabado de babar em cima do meu carro e estavam se
reunindo ao redor da churrasqueira, virando carne e bebendo cerveja.
— Eu vou ficar bem — assegurei a ele, embora meu intestino emitisse um
ruído baixo de protesto. — Vá brincar com seus amigos. — Eu baguncei seu
cabelo, ganhando seu sorriso e um “aw” das suas irmãs.
— Se comportem — ele as avisou, dando um beijo na bochecha de cada
uma antes de cruzar o concreto para a Área dos Machos.
Salsa tocava nos alto-falantes sem fio e alguém colocou um prato de homus
e vegetais frescos na minha frente. Sotaques vagamente britânicos e
espanhóis davam às conversas mais cor e energia.
— Então, Emily — disse Daniella, pegando seu copo de Chardonnay.
Eu aprendi há muito tempo que a primeira pergunta que uma pessoa me
fazia geralmente era um indicador certeiro de seu caráter e de suas
expectativas em relação a mim.
— Me diga, o que meu filho está fazendo por você? — questionou ela,
arqueando uma sobrancelha perfeita.
Havia muito o que interpretar ali. A possessividade implícita no uso de
“meu filho”. A pergunta vaga, que abrangia um grande número de respostas
possíveis.
Bem, tem o lance do gerenciamento do escândalo. O aconchego na cama.
As refeições regulares. O corte de cabelo. E então, é claro, os orgasmos. Ah,
e ele me faz rir.
— Minha empresa contratou a firma dele, e estamos passando muito tempo
juntos — disse evasivamente.
As mulheres estavam sentadas como estátuas, esfinges esperando que eu
falasse mais.
Eu sorri de forma benigna e tomei um gole do meu vinho.
O silêncio reinou por um minuto inteiro.
— Ela não está cedendo — sussurrou Tanya pelo canto da boca.
— Encare mais fixamente — Verita sussurrou de volta.
— Ela é boa — observou Liz. — Assustadoramente boa.
Daniella deu um aceno de cabeça majestoso e ergueu a taça em minha
direção.
— Eu confio no julgamento do meu filho. Namorando ou não, você é bem-
vinda aqui.
— Você não quer conhecer a minha mãe e explicar a ela esse tipo de atitude
de não se meter nos relacionamentos dos filhos? — perguntei.
***
***
Mãe: O que você fez com o seu lindo cabelo??? Você parece tão agressiva.
Arrastei Derek e minha nova sombra em forma de jornalista de uma sala de
conferência a outra durante toda a tarde. Uma ligação após a outra. Instituí
trinta minutos de silêncio em meu escritório somente para que nós três
pudéssemos checar os nossos e-mails.
Em algum momento entre a reclamação passivo-agressiva de um gerente
sobre a reunião de atualização de mercado da próxima semana e um
cronograma de eventos “caso a IPO vá em frente”, meu telefone sinalizou
uma mensagem.
Derek: Ela gosta de você.
Levantei os olhos e o encontrei no sofá franzindo a testa sobre seu telefone
e notebook. Lona estava digitando como uma máquina em uma das poltronas.
Eu: Isso é o equivalente a passar bilhetes em sala de aula, só que em
ambiente corporativo?
Seus lábios se curvaram.
Derek: Você esteve magnífica hoje.
Eu: Não está me elogiando para não ter que comprar os hambúrgueres,
está?
Derek: Querida, não vou comprar hambúrgueres para você. Eu vou fazer
hambúrgueres para você. Jane está comprando os ingredientes agora
mesmo.
Eu: Eu aprovo.
Eu: A propósito, sua bunda fica ótima nessa calça.
Seus ombros tremeram com uma risada silenciosa.
Derek: Hora de irmos. Eu quero te ver em um biquíni minúsculo e
impróprio enquanto acendo aquela sua churrasqueira gigantesca que
suspeito que nunca tenha sido usada.
Eu: Não é verdade. Cristoff grelha bifes de atum nela.
Derek: Preciso te dar um pedido de desculpa na forma de um oral e
gostaria de fazer isso na sua piscina.
Deixei meu telefone cair na mesa.
Lona ergueu os olhos e tirou os fones de ouvido.
Eu ainda precisaria de uma hora para me atualizar aqui no escritório. Mas…
Era um belo dia. Pessoas normais teriam saído do trabalho mais cedo hoje.
Pessoas normais se encontrariam para tomar cerveja na Ocean Drive.
— Acho que estou começando a ter uma dor de cabeça — menti. — Vamos
encerrar o dia.
***
***
***
Emily, é a sua mãe. Eu estava em uma sessão com uma taróloga e recebi
uma mensagem de Trey. O pobrezinho se meteu em alguns problemas.
Preciso que você entre em contato com ele e acerte tudo com a sua equipe
jurídica. Seu pai está sendo ridiculamente teimoso e fingindo que não vai
pagar. Então, é claro, você precisará cobrir o custo até que ele veja o erro
que está cometendo. Sinceramente, eu não sei o que deu naquele homem. Ele
age como se a família não merecesse... espere. Trey está me ligando de volta.
Emily! Como pôde dar as costas ao seu irmão desse jeito? Estou chocada.
Ele precisa da nossa ajuda. Eu não sei o que deu em você, mas não é nada
bonito. Você cortou o seu cabelo todo, começou a namorar um homem
duvidoso e de repente, decidiu que está ocupada demais para ajudar a
família? Ligue para o seu irmão e conserte isso. Imediatamente. Você sabe
que ele estaria ao seu lado em um piscar de olhos se você precisasse de
alguma coisa. Estou enjoada com essa atitude. Precisa remediar isso.
41
***
O flerte era uma arma que Lita e eu alternávamos de mãos. Eu tinha que
admitir, ela estava ganhando. Eu estava obrigado, metaforicamente falando, a
fazer uso de todos os meus poderes. Cada vez que procurava algo para dizer a
Lita, o rosto de Emily aparecia na minha cabeça.
Seja digno de mim, Price.
Lita mexeu o seu segundo martini com seu palito de azeitonas e me olhou
com expectativa.
— Parece que você tem o toque mágico. Você colocou a Lady Stanton de
volta ao seu pedestal. — Ela ergueu a taça em um brinde que pereceu
zombador.
Eu levantei meu próprio copo.
— Agora vocês duas estão de volta ao curso. A IPO pode prosseguir e a
Flawless pode crescer — falei.
Suas unhas escuras dançaram contra a haste do vidro.
— Mais uma vitória.
— Já deve estar acostumada com isso — salientei. — A Flawless é
imparável.
— Hum — refletiu Lita. Ela tomou um gole de sua bebida e esperou até que
eu estivesse observando antes de lamber o lábio superior com lentidão.
Involuntariamente, eu lembrei que as fêmeas de louva-a-deus decapitavam
os seus amantes machos.
Eu sabia que estava caminhando sobre uma linha tênue entre obter as
informações que precisava e não irritar uma mulher que havia me derrubado
de cara no chão, literalmente.
— Como vai comemorar? — perguntei, puxando a gravata e me
assegurando de que minha cabeça ainda estava presa ao pescoço.
Flertando novamente, ela abanou os dedos sobre a boca e fingiu pensar a
respeito.
— Talvez eu aceite um novo amante.
Cuidado, Price. Não chegue muito perto do fogo.
Eu queria voltar para a cama de Emily sem mácula… e também com uma
cabeça.
— Que europeu de sua parte — provoquei.
— Você é mesmo impressionante, Derek — ela falou, colocando a mão na
minha. Ela virou nossas mãos para que a minha ficasse por cima.
Socorro! Socorro! Recuar! Senti o cheiro de uma armadilha, mas não
consegui decifrar o jogo.
— Sou? — tirei a mão da dela e peguei minha bebida.
— Poucas pessoas poderiam ter tirado Emily daquela situação. Você a
salvou sozinho. É um herói e tanto — discorreu, pegando uma azeitona de
sua bebida e sugando-a entre os lábios.
Eu limpei a garganta.
— Faço tudo para agradar. — Eu não conseguiria jogar este jogo. Não em
boa consciência.
— Achei que ninguém seria capaz de limpar aquela bagunça — ela
prosseguiu.
— Sou muito bom no que faço.
Ela me lançou um olhar longo e cheio de calor.
— Tenho certeza de que é — ronronou. Senti seu pé deslizar pela minha
canela e todos os músculos do meu corpo ficaram tensos.
Perigo! Perigo! Eu não podia continuar jogando. O preço era alto demais.
Teria que ir pelo caminho mais direto.
— Lita, tenho sentimentos muito fortes por Emily — confessei, deslizando
a perna para longe de seu pé exploratório.
— Não temos todos? — Seu tom era leve, mas havia uma ponta de
aborrecimento. Eu vi isso em seus olhos. Aquele lampejo chocante de ódio.
— Como sabia que Merritt Van Winston seria preso naquela noite? —
perguntei.
Ela se inclinou para perto, parecendo presunçosa.
— Não tenho ideia do que você está falando, Derek. — Seus dedos
escalaram minha gravata até chegarem ao nó. Ela deu um puxão
desconfortável. — Mas antes que comece a me acusar de qualquer coisa,
lembre-se que Emily e eu temos uma longa história. Ela confia em mim. E se
chegar ao ponto de ter que escolher um lado, não vai ficar bom para você.
— Você está extremamente confiante — falei, segurando a mão dela e
esperando não precisar me defender fisicamente de uma bela mulher em um
restaurante bem exposto ao público.
— Eu a conheço melhor do que ninguém.
— Foi assim que a manipulou a ir àquele encontro? — pressionei. Eu
queria que ela dissesse as palavras.
O telefone de Lita zumbiu baixinho na toalha de mesa branca. Eu fiz uma
careta para o nome que vi na tela antes de ela pegar o celular e escondê-lo de
mim.
— Odeio ter que interromper isso, mas eu preciso ir. — Ela acabou com o
resto da bebida e se levantou. — Se mudar de ideia sobre... outras coisas,
sabe onde me encontrar.
Agarrei seu braço quando ela começou a se afastar.
— Não mexa com ela, Lita — avisei.
Ela aproximou o corpo, os olhos brilhando.
— Não mexa comigo, Derek.
***
***
Invadir o apartamento de Derek no meio da noite não foi tão difícil quanto
achei que seria. A atendente da recepção, uma mulher injustamente animada
às quatro da manhã, me cumprimentou pelo nome quando entrei furtivamente
no saguão.
— Senhorita Stanton, que bom ver você! — Aderindo ao código de conduta
das pessoas que serviam aos protagonistas de escândalos, ela não mencionou
minha desgraça pública por educação.
Eu apreciei isso.
No seu crachá estava escrito Kimmy, e ela balançava para frente e para trás
em seu banquinho como uma criança que não conseguia ficar parada.
— Oi, Kimmy — falei, apoiando-me na mesa. — Esqueci a minha chave do
apartamento do senhor Price e ele está dormindo. Não quero acordá-lo
batendo na porta ou ligando. Você pode me ajudar?
Significado implícito: Você está disposta a ajudar uma bilionária que em
breve ficará desempregada a invadir o apartamento do ex?
— É claro! — respondeu Kimmy, provavelmente feliz por ter algo para
fazer além de terminar o seu Sudoku.
Garanti que meu sorriso fosse um de agradecimento, não de desespero.
— Obrigada.
— Deixa eu fazer um cartão temporário para você. Basta que o senhor Price
me avise se precisar de um permanente novo.
— Você é a melhor, Kimmy.
— Amei o cabelo, a propósito. Super fodão.
Minutos depois, encarei a porta da frente de Derek, com o cartão novinho
nas mãos. Essa era a escolha. Eu poderia me virar, ir embora e encontrar uma
maneira de reconstruir a minha vida em ruínas. Ou…
Passei o cartão e entrei.
Estava escuro, mas a lua lançava luz suficiente para eu ver a bagunça. A
pasta dele estava caída no chão perto da porta. A gravata ao lado dela. Havia
uma trilha de roupas e objetos pessoais descartados que ia da porta da frente
até a sala de estar. A mesinha de centro estava cheia de garrafas de cerveja e
uma garrafa vazia de uísque.
O notebook estava aberto. O telefone no chão, a tela rachada.
E ali, roncando no sofá, estava Derek Price bêbado e inconsciente. Ele
dormia com um braço enfiado atrás da cabeça, vestindo nada além de uma
calça de moletom de cintura baixa e óculos de leitura, docemente tortos. Seu
cabelo apontava para todos os ângulos, como se tivesse enfiado os dedos nele
muitas vezes.
Pela primeira vez em horas, o desejo de sorrir foi irresistível.
Eu fiz a escolha certa.
Ele deu outro ronco baixo e eu pude sentir o cheiro do álcool quando ele
flutuou em minha direção.
Se isso ia acontecer, eu precisava do homem acordado. E sóbrio.
Puxei uma manta de caxemira de uma poltrona e coloquei sobre ele. Foi
quando percebi a camisa enfiada debaixo do braço. Era minha. Uma que eu
deixei aqui. Qualquer gelo que restava nas rachaduras do meu coração se
derreteu.
— Droga, Price — sussurrei.
Na cozinha, liguei sua máquina de café expresso. Enquanto esperava pela
magia da cafeína, bisbilhotei descaradamente as pastas abertas em cima da
bancada.
O dossiê completo e oficial de Emily Stanton estava ali, bem grosso e
tentador. Mas foi uma pasta vermelha aberta debaixo de outra garrafa de
cerveja vazia que chamou minha atenção. Tirei a garrafa e virei a pasta.
Lita.
Claro que ele sabia. A julgar pela pesquisa, ele havia suspeitado desde o
início.
Eu deixei passar. Não enxerguei a inveja dela nem seu ataque velado e
traiçoeiro. Ela nunca fora uma amiga. E Derek percebeu isso de imediato.
Ele tentou me dizer, eu lembrava. “Por que confia na Lita?” E eu ignorei.
Folheei o arquivo. Ele pediu para o amigo do boxe, Jude, segui-la. Contato
suspeito observado com a La Sophia. Droga. Havia anotações de seus
almoços com ela.
Ela tentou me seduzir sob o pretexto de um flerte inocente. Inclinando o
corpo para perto. Sussurrando. Acariciando meu braço. Até tentou bancar a
donzela em perigo. Resumindo: ela quer tudo o que é da E. Isso me inclui.
Espero que E tenha a oportunidade de dar um chute na cara dela. Preciso
encontrar uma maneira de contar a E antes que L ataque.
Eu já tinha visto o suficiente da traição de Lita e abri a pasta seguinte.
Contudo, não estava preparada para o que encontrei.
Parecia que o dossiê de Lita era bem mais completo do que o meu. Tentei
respirar fundo. Não tinha certeza do que era pior: a traição ou o fato de não
ficar surpresa.
Havia mais anotações ali.
Quero cuidar pessoalmente dessa aqui. Ou assistir Jane usar a sua arma
de choque. Derek tinha pressionado a caneta com tanta força que as palavras
foram entalhadas no papel.
O cheiro do expresso fresquinho penetrou a minha névoa de
autocomiseração. Eu tinha trabalho a fazer e precisava do homem
inconsciente abraçando a minha camisa de ginástica para fazer isso acontecer.
No mesmo momento, ele gemeu.
Era o ruído áspero e rouco dos derrotados e desidratados. Eu o conhecia
muito bem.
Peguei a xícara de café expresso e a minha bolsa e levei os dois para a sala.
— Emily? — ele murmurou em minha camiseta. Coloquei a xícara na
mesinha de café com um tinido. Um de seus olhos se abriu. Estendi o braço
acima dele e acendi o abajur.
— Acorda, Price.
— Você está aqui. — Ele se sentou ereto, balançando as pernas para fora do
sofá. Seus pés chutaram três garrafas, que se quebraram.
— Puta que pariu — ele gemeu, segurando a cabeça entre as mãos.
— Você está péssimo — suspirei, levando um monte de garrafas vazias da
sala para a cozinha.
— Não vá embora — pediu.
Ele estava de pé, cambaleando.
— Sente aí e tome o seu café — insisti.
— Acho que isso é um sonho — ele murmurou para si mesmo.
— Price, sente-se. Beba a droga do seu café. E fique sóbrio porque temos
trabalho a fazer.
Ele semicerrou os olhos do outro lado da sala.
— Você é mandona como a Emily de verdade.
O homem era mais que frustrante. E, ok, adorável. Além disso, tão lindo
que olhar para ele doía.
Sua calça estava desamarrada, pendurada em seu quadril e exibindo aquele
torso definido da melhor forma. Seu cabelo sedoso estava arrepiado em tufos,
e a barba escura em sua mandíbula lhe dava uma vibe de bad boy. Minha mãe
insistia que homens que não se barbeavam eram inadequados. A mulher não
sabia o que estava perdendo.
Joguei os vidros em sua lixeira de recicláveis e voltei para a sala. Parei na
ponta do sofá, sem confiar em mim mesma para me aproximar mais.
Tínhamos negócios a tratar, e ele estava um pouco vulnerável e atraente
demais desse jeito.
— Sente-se — pedi novamente.
Ele se beliscou na barriga.
— Ai.
— O que está fazendo? — Eu o empurrei de volta ao sofá. Ele pousou sem
graça e jogou a cabeça para trás contra a almofada. Sentei-me na extremidade
oposta, mantendo uma distância segura entre nós dois.
— Vendo se você é real.
— Ah, eu sou muito real. Agora beba o seu café.
Obedientemente, ele pegou a xícara e deu um gole, ainda me olhando.
Ficamos sentados assim, em silêncio, por longos minutos.
— Está aqui pelo meu pedido de desculpa ou pelo seu? — questionou ele,
finalmente quebrando a quietude.
— O meu? — zombei.
— Tudo bem, vamos ouvir então.
— Ainda está bêbado?
— Posso estar vagamente bêbado e com muita, muita ressaca, mas ainda sei
que nós dois devemos um pedido de desculpas um ao outro.
E era por isso que eu amava aquele homem.
— Por que decidiu encher a cara essa noite? — perguntei, mudando
abruptamente de assunto.
— Por quê? — Sua voz ecoou pelo espaço. — Minha namorada estava sob
ataque e não confiava em mim o suficiente para me deixar ajudar!
— O que quero dizer é: você ficou bêbado porque me perdeu ou porque
perdeu a aposta?
Sua testa se enrugou.
— Está fazendo perguntas muito complexas quando eu tenho mais álcool
que sangue nas veias.
— Não é tão complexa.
— É quando você assume que os dois são independentes um do outro. Eu te
decepcionei — confessou. — Subestimei a ameaça. Não te protegi dela. E me
permiti ser colocado em uma posição que fez parecer que minha lealdade
estava dividida.
— Lita. — Falei o nome sem nenhuma das emoções que sentia.
— É uma psicopata manipuladora que tem tanta inveja de você que não vai
parar até te destruir. E você acreditou nela mais do que em mim.
Talvez o homem merecesse um pequeno pedido de desculpas.
— Ainda acredita? — perguntou com raiva.
— No quê?
— Acredita que eu fui atrás dela? Que fui o mentor por trás de tudo isso?
Que nunca me importei com você?
Eu não estava pronta para lidar com tudo isso. Havia trabalho a fazer. Uma
vingança para se obter.
— Vamos manter isso profissional por enquanto — falei. Deslizei o
contrato na mesa até ele.
— Profissional? — Foi a sua vez de ironizar. — Você quer falar de
negócios?
— Parece que você não cumpriu sua parte no trato, senhor Price — falei,
tirando a tampa de uma caneta. Eu a coloquei em cima do contrato. — Tenho
alguns papéis que você precisa assinar.
47
Cada diretor sentado à mesa estava exibindo a saúde bucal atual. As bocas
de todos os doze membros estavam bem abertas.
— Perdão, senhorita Stanton — disse o financista de 83 anos e terno Hugo
Boss. Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio. — O que quer dizer quando
afirma que está recusando a nossa oferta de demissão?
— Exatamente isso, Warren — anunciou Emily. — A Flawless é a minha
empresa. Eu sou a proprietária majoritária e, infelizmente para você, não
pode simplesmente me expulsar. Eu sempre terei influência na política da
empresa.
— A CVM não aprovará a IPO se você estiver no comando — disse a
executiva desenvolvedora de aplicativos de penteado elaborado, batendo a
unha bem feita na mesa de conferência em um ritmo staccato.
— Estou ciente disso — concordou Emily com um sorriso sem humor.
— Não há necessidade de tornar a coisa feia, artilheira — Byron falou
acima do barulho da confusão.
— Não poderia concordar mais — disse Emily. — É por isso que estou
propondo uma contraoferta.
Eu estava de pé com Jane, cada um de nós flanqueando a porta da sala de
conferências, e assisti a fodona Emily Stanton desentranhar o conselho de
diretores que havia se voltado contra ela.
— É assim que vai ser...
Ela explicou para eles, e eu tive o prazer de ver rostos pálidos ficarem
vermelhos. Ela agarrou todos pelas bolas, e eu não poderia estar mais
orgulhoso.
— Esse é um pedido e tanto — falou um dos diretores, enxugando a testa e
a nuca com um lenço.
— Não estou pedindo — rebateu Emily.
— Eu sou hetero, mas ela nunca esteve tão atraente quanto agora —
sussurrou Jane.
— Estou no mesmo barco — concordei baixinho.
Ela estava magnífica, e eu mal podia esperar para levá-la para casa e dizer
exatamente isso enquanto beijava cada centímetro de seu corpo.
— Se vocês querem aquela IPO, e eu sei que querem, essa é a única
maneira de conseguir.
— Precisamos de tempo para discutir — começou um dos diretores.
— Vocês têm cinco minutos — disse Emily.
Eu estava tão excitado que tive medo de me envergonhar tendo uma ereção
na sala de diretoria.
Ela olhou por cima do ombro para mim e meu coração despencou. Isso era
amor. Quer fosse ficar no canto assistindo com orgulho enquanto ela acabava
com alguém ou lutando uma batalha por ela.
— Tenho mais uma condição — Emily anunciou enquanto o conselho
ainda tentava se recuperar.
— Qual é? — Imani perguntou.
— Lita Smith nunca mais ocupará um cargo nesta empresa. Nem mesmo no
nível de produtos de maquiagem de farmácia.
***
Apoiei meus pés na mesa e admirei o bico agressivo dos meus sapatos. Eu
provavelmente passaria mais tempo de Nike do que de Prada no futuro. Ou
completamente nua se Derek pudesse opinar.
Muitas coisas seriam diferentes. E a única coisa entre mim e aquele futuro
escancarado estava entrando pela porta usando um vestido de alta costura da
Givenchy. O tipo de vestido que você gostaria de ser fotografada usando
quando fosse nomeada CEO.
Lita parou quando me viu atrás de sua mesa, mas se recuperou bem rápido.
— Emily? O que está fazendo aqui? — ela perguntou, tirando os óculos de
sol enormes e examinando a sala.
— Estou aqui apenas para parabenizar a minha melhor amiga por sua nova
promoção — falei. — CEO. Tem certeza de que está pronta para isso?
Toda inocência e confusão fingida evaporaram como uma cobra ao trocar
de pele.
— Estou pronta para isso há anos. O resto da empresa também. Você não
tem visão, nem direção.
— Ah, e você tem? — Eu ri. — Você trabalha talvez umas vinte e cinco
horas por semana, e isso se eu contar seus almoços “de trabalho”. Sua equipe
faz todo o trabalho pesado. Você é preguiçosa. Se acha no direito e não tem
lealdade.
— Que lindo — ela riu sem alegria.
Eu senti como se estivesse em uma novela excessivamente dramática.
— Eu fiz mais por essa marca do que qualquer outra pessoa, incluindo
você. Você ainda estaria no laboratório brincando com pipetas se eu não
tivesse te tirado de lá.
Revirei os olhos.
— Então, você é uma traidora que sofre delírios? Engraçado. Me diga, a La
Sophia realmente esperava que você trabalhasse para eles, ou estavam só
comprando a minha fórmula com um salário e um cargo falso?
— Eles pagaram diretamente pela fórmula. Um salário e um cargo eram o
bônus — disse Lita. Ela largou a bolsa em uma mesa e remexeu nela,
retirando um espelho. — Mas isso não é nada em comparação a ser a CEO da
Flawless. A propósito, você deveria ir embora. Tenho uma reunião com o
meu conselho.
— Sim, sobre isso — falei, oferecendo uma careta falsa. Tirei meus pés de
sua mesa e me levantei. — Essa reunião vai ser um pouco diferente do que
você esperava.
Ela parou de delinear os lábios tempo suficiente para me olhar com desdém.
— Sério, em que mundinho de fantasia você está vivendo? Eu sei que eles
pediram a sua renúncia. Não acredita que ainda está no comando, não é? —
Ela fez beicinho. — Buá, que triste.
— Oh, eu não estou mais no comando, Lita. Pelo menos, não depois dessa
última tarefinha. O conselho me deu uma coisa a mais para fazer antes de
partir.
— E qual é? Empacotar as suas coisas? Vou ficar com esses chocolates
deliciosos para que você não precise levá-los para casa.
— Você está despedida, Lita. A Flawless não requer mais os seus
“serviços”.
Seus olhos se endureceram. E, pela primeira vez, eu a vi. Eu a vi realmente.
Debaixo das extensões, dos cílios postiços, da maquiagem. Ela não tinha
nada demais. Isso deveria incomodar.
— Só por diversão. Você me odiava mais pelo quê? Que eu sempre
chamava a atenção quando saíamos? Que eu tinha um fundo fiduciário? Que
eu só tirava a maior nota? Porque eu sei que não começou com a Flawless.
Você sempre me odiou.
De maneira eficiente, ela tampou o batom e o colocou de volta na bolsa.
Todas as máscaras se foram.
— Você não merece coisa nenhuma — ela sibilou. — Acha que apenas
nascer com um fundo fiduciário te torna digna ou interessante? Não torna. —
Ela deu um passo em minha direção e eu cruzei os braços para não bater nela.
— Você poderia ter tido muito mais. Tudo o que precisava fazer era
trabalhar para isso. Fazer por merecer. Mas você não fez isso. Eu te dei um
cargo e uma equipe, e ainda assim você não conseguiu fazer o seu trabalho.
Você não é melhor do que Trey, esperando por esmolas em todo lugar que
vai. É patético.
— Patético? Vá se foder, Emily. Patético é você se trancar em um
laboratório ou escritório e viver e morrer analisando dados. Você não merece
sua fortuna. É um desperdício você ter uma.
— Trabalho árduo nunca é desperdício. Você mal conseguiu terminar a
faculdade. Sem a minha ajuda, não teria se formado. E sem a minha
generosidade, certamente não estaria onde está agora.
— Generosidade? Você me lembrava o tempo todo que se achava melhor
do que eu. Eu te odeio — ela sibilou.
— É uma pena. Porque eu realmente me importava com você. — Era
verdade. E tinha confundido sua presença constante em minha vida com
lealdade.
— Você não se importa com nada nem ninguém — acusou.
— Isso não é verdade. Eu me importo com Derek.
— E eu o tirei de você — ela disse de forma presunçosa.
— Não, não tirou. Não dá para destruir lealdade de verdade, Lita.
— Você sabe o que ele sussurrou no meu ouvido quando me fodeu? —
indagou Lita, dando mais um passo. Estávamos cara a cara e, ai, como eu
queria quebrar aquele nariz cirurgicamente reto dela.
Um movimento atrás dela na porta chamou minha atenção. Derek, com o
rosto cheio de fúria, pairava na entrada. Eu balancei ligeiramente a cabeça,
mas ele não se mexeu. Então Jane puxou o seu braço. Empurrou. E quando
isso não funcionou, ela pulou nas costas dele e colocou um braço em volta do
seu pescoço.
Quase ri. Quase.
— Está vendo, Lita? Você nem se dá ao trabalho de fazer a própria lição de
casa. Eu sei que Derek não dormiu com você.
— Como pode ter certeza? Como pode saber que ele não está mentindo
para você?
Eu me inclinei, cheia de alegria.
— Ele não sussurra nada na cama. Ele fala bem alto se você não faz o tipo
dele.
Lita ironizou.
— Você continua tentando se convencer de que vive em um conto de fadas.
Já tirei outros homens de você antes. Por que Derek Price seria diferente?
Você viu as fotos.
— A minha advogada também conversou com o fotógrafo que você
contratou para tirar aquelas fotos. Ah, e ela falou com Nina Nowak, que tinha
um monte de coisas interessantes para dizer sobre você e a sua
“generosidade”. A equipe de Derek rastreou todos aqueles colegas de
faculdade que te ajudaram usando informações dos artigos. Todos eles
tinham depósitos suspeitos em suas contas bancárias. Dez mil dólares cada?
Não é um pouco barato para uma futura CEO?
— Vá se foder, Emily — Lita cuspiu. Ela estava perdendo a calma, a
confiança. E geralmente era nessa hora que ela atacava.
— E aí tem a La Sophia. Eles têm uma hora para emitir um pedido público
de desculpas e abandonar a reivindicação da minha patente. Imagino que vão
querer aquele pagamento que te fizeram. Então, no final, você não tem nada,
Lita. Exatamente o que você merece.
— Sua puta nojenta. Pelo menos tirei de você esse título do qual tanto se
orgulhava. Pelo menos eu tenho isso. — Ela cerrou os dentes.
Ainda não era o suficiente para ela. Eu podia ver em seus olhos, brilhantes
de raiva.
— Quem diria. Na verdade, eu não pedi demissão. Orquestrei uma
transferência de controle acionário. Muito generosa. Ah, e Derek e eu somos
sócios agora. Da empresa dele e do meu laboratório — falei com animação.
— Então tudo deu muito certo para mim. Eu deveria te mandar um cartão de
agradecimento.
Eu podia ouvir os dentes dela rangendo.
— Eu te odeio. Eu sempre te odiei. Você deveria estar naquele carro.
Deveria ter morrido também. — Suas narinas se dilataram.
— Eu queria te perguntar sobre isso. Realmente queria que eu morresse ou
havia outra coisa na jogada?
Seu sorriso era maníaco.
— Instalei câmeras no seu quarto. Eu poderia ter recebido uma boa quantia
por um vídeo de sexo estrelado por Emily Stanton.
Fiquei enojada. Dessa vez, foi Jane quem apareceu na porta, brandindo uma
arma de choque. Derek a segurou pela cintura, mas ela se agarrou aos lados
da porta e silenciosamente lutou por sua liberdade.
— Em vez disso, você perdeu o seu vale-refeição porque uma garçonete
que eu nem conhecia cuidou de mim como uma amiga deveria ter feito.
— Você sempre cai em pé, e estou aqui por causa disso, porra! Quando vai
chegar a minha vez? — ela se enfureceu.
— Nunca. Porque você não é boa o bastante.
Ela me deu um tapa. Com força. O som de carne batendo em carne ecoou
no vidro.
— Oh, isso é o melhor que consegue fazer? — perguntei.
Com um uivo de raiva, ela me atacou, cravando as unhas no meu braço e
jogando o cotovelo no meu queixo. Eu vi estrelas, mas foi o suficiente. Eu
finalmente impus um limite que não permitiria que ela cruzasse.
Me posicionei e enterrei o punho naquele lindo nariz dela.
Ela caiu no chão como um saco de martelos.
— Droga, isso dói sem luva — murmurei, sacudindo minha mão.
O escritório se encheu de gente. Derek e Jane entraram correndo, seguidos
de perto pelos seguranças do prédio.
Derek passou por cima de Lita e me envolveu em seus braços.
— Você está me abraçando ou me impedindo de bater nela de novo? —
perguntei acima da comoção.
Ele deu um beijo no topo da minha cabeça.
— Os dois. Você está bem?
Ele levantou o meu queixo e olhou para a marca que florescia em minha
mandíbula. Suas mãos deslizaram pelos meus braços, e ele franziu a testa
ferozmente para os arranhões cheios de sangue.
— Estou muito bem, Price.
— Nesse caso, acho que precisamos agendar uma reunião — falou.
— Sobre o quê?
— Sobre a perspectiva de um empreendimento conjunto.
— Já somos sócios meio a meio.
Ele apertou meus braços.
— Casamento, Emily. Eu quero me casar com você.
— Jane privou seu cérebro de oxigênio por muito tempo?
— Sim.
Eu sorri para ele e dei um beijo em sua boca.
— Estou disposta a discutir os benefícios potenciais de uma... fusão em
algum momento no futuro. Mas, primeiro, quero o maior jarro de Bloody
Mary disponível para a humanidade.
— Eu nunca vou conseguir usar essa arma de choque — Jane choramingou,
de pé acima da forma chorosa de Lita.
Seu sorriso desapareceu.
— Emily, tem outra coisa que você precisa saber. Lita não estava
trabalhando sozinha.
Eu o interrompi com a mão em seu peito.
— Eu sei. Eu vou lidar com isso mais tarde.
A porta do banheiro se abriu e Lona, a jornalista imperturbável, saiu.
— Já é seguro sair? — ela perguntou, olhando para Lita, que gritava sobre
processos com as mãos cobrindo o rosto ensanguentado.
— Lona, quase esqueci que você estava aí — falei animada. — Ah, e seu
gravador ficou ligado o tempo todo. Que vergonha. — Entreguei o aparelho a
ela.
— Na Flórida, as duas partes precisam consentir — Lita retrucou enquanto
o segurança a colocava de pé. Lindas, grandes gotas de sangue pingavam no
crepe branco de seu vestido. — Você não pode me gravar sem o meu
conhecimento. A senhorita perfeitinha deveria saber disso — disse cheia de
malícia.
— Bem, nós não podemos. Mas a CVM pode, se suspeitar de fraude. Você
conhece o agente Busto? — perguntei.
Na mesma hora, um dos homens que havia entrado com os seguranças se
apresentou. Ele tinha a cabeça raspada e o pescoço quase da mesma
circunferência.
— Senhorita Smith? — falou com todo o charme de um Steve rabugento
quando Frank, a arara, se recusava a calar a boca. — A CVM tem algumas
perguntas sobre os seus negócios com a La Sophia.
50
— Eu acho que seu trabalho aqui está feito — eu disse, colocando Emily
debaixo do meu braço enquanto Lita era escoltada para fora do prédio pela
CVM e pela segurança.
— Ha. Literalmente. — Sua risada soou um pouco frágil nas bordas. “Ela
provavelmente não vai conseguir nenhuma pena de prisão — previu.
— Talvez não — eu concordei. — Mas ela também não vai entrar em outro
emprego confortável de sete dígitos. Eu vou ter certeza disso.
— O que diabos aconteceu com Lita? — Trey Stanton, em shorts rosa e
chinelos, correu até Emily. — O que você fez com ela?
Eu a senti enrijecer sob meu braço e me coloquei entre eles.
— Você já lidou com o suficiente hoje — eu disse a ela. — Deixe-me ficar
com este.
O olhar de Emily deslizou sobre mim para seu irmão e depois de volta para
mim.
— Ele é todo seu — disse ela. — Jane? Me ajuda a carregar as coisas?
— Mas, mas, mas. Arma de choque. — Jane fez beicinho.
Emily colocou o braço em volta da amiga.
— O que é mais satisfatório, fazer meu irmão mijar nas calças com uma
arma de choque ou assistir Chá e Bolinhos fazer isso apenas com um rosto
assustador?
Jane deu um suspiro. Eles pegaram as caixas da vida corporativa de Emily e
se dirigiram para o Range Rover do lado de fora.
— Emily! Você tem que falar comigo — Trey gritou.
Então o idiota cometeu o erro de tentar ir atrás dela.
— Você vai conversar comigo — eu disse, agarrando-o pela nuca como um
cachorrinho. Ele ainda estava de óculos escuros dentro do prédio, o que me
deixou ainda mais furioso.
— Saia de cima de mim, cara. Eu preciso falar com minha irmã! — Ele
tentou se livrar do meu aperto, então apertei com mais força. Não cheguei a
me vingar de Lita. Mas Trey era uma história diferente.
— Sua irmã está ocupada.
Eu o conduzi em direção ao escritório do gerente de segurança do prédio.
Era uma pequena sala com duas escrivaninhas, uma estante de livros cheia de
pastas e duas cadeiras de visitas surradas. Eu o empurrei para baixo em uma.
— Onde Lita está indo? O que está acontecendo? — ele perguntou,
tentando se levantar. Eu o empurrei novamente e me sentei no canto de uma
das mesas.
— Isso realmente não é mais da sua conta.
Ele esfregou as mãos no rosto e no corte de cabelo de $ 300.
— Olha, apenas me diga o que está acontecendo.
— Você conspirou com Lita Smith para roubar e vender a fórmula de
tratamento de cicatriz de Flawless porque sua irmã não quis pagar sua dívida.
Trey piscou.
— Não foi assim que aconteceu.
— Você trabalhou com Lita para destruir a reputação de Emily, para que
ela fosse demitida.
Surpreendentemente agora, ele chutou para trás na cadeira.
— Ela precisava aprender uma lição. Primeiro a família.
— Como você coloca sua família em primeiro lugar, Trey?
Ele sorriu, e eu não pude evitar. Tirei os óculos escuros de seu rosto e os
joguei contra a parede.
— Jesus, cara! Custam quatro mil!
— Homens de verdade não usam óculos de sol dentro de um prédio e não
fazem outras pessoas pagá-los para eles, seu idiota.
— Qual é o seu problema?
— Você, seu idiota purulento. Qual é a contribuição para a sua família,
Trey? O que você devolve aos seus pais, sua irmã? Não, espere, deixe-me
adivinhar, — eu insisti quando ele abriu sua boca estúpida. — Sua
contribuição familiar é exigir que eles limpem sua bagunça, seu idiota
patético.
Ele revirou os olhos.
— Eu sou a criança, o bebê da família.
— Você tem trinta e três anos. Você parou de ser uma ‘criança’ há quinze
anos. Legalmente, pelo menos. Mentalmente e emocionalmente, você parece
ter cerca de quatro anos.
— Parceiro. Que diabos? Você não pode falar comigo assim.
— Você armou para sua irmã. — Eu agarrei a borda da mesa para não
sufocá-lo.
— Isso de novo. Ela merecia isso. Tão metida e poderosa sobre seu
dinheiro e seu trabalho. Jesus. Você pensaria que ela estava curando câncer
ou algo assim.
— Na verdade, ela está trabalhando com doenças cardíacas, não que você
dê a mínima, seu merdinha inútil.
— Parceiro. Não podemos parar com os insultos?
— Parceiro. Você tem sorte que sua irmã não me deu permissão para
destruir seu rosto, — eu atirei de volta.
— Olha, cara. Eu vou esclarecer isso com ela. Foi um mal-entendido.
Deixe-me falar com ela.
— Você não entende, não é? — Perguntei.
— Entendo o que? — ele perguntou, exasperado.
— Você estragou isso. Essa foi sua última interação com sua irmã. Para
sempre. Não há como voltar depois do que você fez.
— Então, ela perdeu o emprego. Lita vai me dar um cargo e alguma
influência. Talvez eu crie uma posição para Em depois que ela se desculpar.
Eu ri. A idiotice desenfreada desse idiota estava me deixando louco.
— Você já fez algum teste de QI? Fez vestibular? — Perguntei.
— Meu tutor fez o vestibular para mim. Meu tempo não é melhor gasto em
alguma sala de aula. — Trey bufou.
— Eu posso ver isso. — Ele era um idiota do caralho, e foi tudo culpa de
Venice Stanton. —Deixe-me soletrar para você. Você tentou tirar o que mais
importava para Emily. E agora você nunca mais a verá.
— O que diabos isso quer dizer?
— Eu me pergunto como seu pai vai se sentir? Ele é quem controla os
cordões da bolsa, não é? Ele não estava muito interessado em ajudar você a
sair dessa encrenca antes. Como ele vai se sentir quando descobrir que você
tentou sabotar o Flawless? A empresa de sua irmã. Ele está no conselho de
administração aqui. Ele tem um interesse pessoal. Então, realmente, você
ferrou com ele também.
— Olha, não é um grande negócio — insistiu Trey. — Emily estava sendo
uma vadia. Lita e eu ensinamos uma pequena lição a ela. Qualquer que seja.
— Agora é a minha vez de lhe ensinar uma pequena lição — disse
amigavelmente. — Você viu Lita saindo?
— Sim, o que diabos aconteceu com o rosto dela?
— Você verá em um ou dois minutos — eu previ. — Lita está sendo
questionada pela CVM. Você sabe o que é isso?
— A melhor pergunta é: eu me importo com o que é?
— Oh, eu acho que você vai se importar. Mas é melhor deixar algumas
coisas como surpresa. Sua namorada Lita...
— Nós apenas trepamos algumas vezes — ele esclareceu.
Eu balancei minha cabeça para clarear isso. — Muito bem, sua amiga Lita
está sendo investigada por cometer fraude.
— Jesus, o que há com todo mundo e essa besteira de fraude? — Trey
exigiu.
— O governo não gosta quando você fode com as pessoas — expliquei.
— Você pensaria que eles teriam coisas melhores para fazer.
— Certifique-se de deixar isso claro quando eles questionarem você.
— Eu?
— Lita está sob sua custódia por... o quê? — Eu olhei para o meu relógio.
— Cinco minutos inteiros agora. Quanto você quer apostar que seu nome foi
a primeira coisa que saiu da boca dela? Oh, eu esqueci. Você não tem
dinheiro. Você não pode apostar.
— Ela não iria... — Mas suas rodas lentas e desajeitadas estavam
começando a girar. Eu podia ouvir o ranger de máquinas não utilizadas.
Olhei para cima e localizei o homem que estava esperando.
— Então, para recapitular, você não só está enfrentando acusações de
fraude por seu pequeno festival de música inexistente, mas também vai
enfrentar algumas acusações muito sérias da CVM porque decidiu derrubar
sua irmã e ajudou Lita Smith a roubar e vender uma fórmula patenteada.
— Isso é besteira. É tudo besteira — disse Trey, pondo-se de pé.
— Isso é verdade? — Byron Stanton grunhiu da porta. Os olhos de Trey se
arregalaram de esperança. O idiota.
— Pai. Tudo isso foi um mal-entendido.
— A porra da sua vida foi um mal-entendido — Byron rebateu. — Você
não está recebendo nada de mim, seu filho da puta estúpido.
— Pai! Você não entende. Eles querem me prender! Eu não posso ir para a
cadeia!
A pior coisa do mundo para Trey Stanton seria ouvir o que fazer e quando
fazer.
— Tente usar isso em sua defesa — sugeri, movendo-me em direção à
porta.
Trey pegou o monitor do computador da mesa atrás dele e o arremessou na
minha direção. Atingiu a parede perto da minha cabeça. Minhas mãos se
fecharam em punhos.
— Um acesso de raiva? Mesmo?
— Cristo, esse garoto — Byron gemeu. Um teclado se chocou contra o
arquivo, as teclas voando em todas as direções.
— Esse é o primeiro problema — disse a ele. — Ele não é a porra de uma
criança.
Eu agarrei Trey pelo braço e ele tentou me dar um soco.
— Ele deu o primeiro soco — eu disse em tom de conversa. E então, eu
golpeei meu punho na barriga tanquinho de Trey e segui com um golpe
rápido em sua mandíbula famosa no Instagram.
Ele desabou no tapete, murcho e derrotado. Mas isso era totalmente
insatisfatório.
— Byron — eu disse enquanto passava pelo homem.
— Price — ele grunhiu de volta.
Saí sem dizer mais nada.
Jane me encontrou no corredor.
— Qual foi a sensação de acertar o filho da puta?
— Não foi satisfatório o suficiente — eu admiti.
Uma cadeira quebrou a janela de vidro do escritório e parou no corredor
atrás de mim. Trey estava gritando incoerentemente.
— Calma, porra, seu filho da puta — gritou Byron.
Em seguida, um monitor de computador passou voando pelo vidro
quebrado.
— Agora eu posso? — Jane perguntou.
— Fique à vontade — eu disse, saindo de seu caminho.
Saí com o som delicioso dos gritos de Trey e a risada maníaca de Jane
soando em meus ouvidos.
— Como foi? — Emily perguntou quando eu deslizei para o banco de trás
ao lado dela.
— Como era de se esperar — eu disse alegremente.
Ela pegou minha mão e comparou os nós dos dedos. Ambas as nossas mãos
direitas estavam feridas.
— Um bom dia — ela sussurrou.
Eu levantei sua mão machucada aos meus lábios, beijei cada junta
levemente.
— Um dia muito bom — concordei.
— Vamos pegar uma bebida — disse Jane, abrindo a porta do motorista.
— Sinto cheiro de carne carbonizada — disse Emily.
— Huh. Imagina — Jane meditou, colocando o SUV em marcha.
— Aqui — eu disse, cavando em meu bolso. — Trouxe algo para você. —
Peguei o relógio de Trey e entreguei a Emily.
Jane bufou.
51
L943
Score, Lucy
O Preço do Escândalo / Lucy Score;
Tradução Annair Freire. - 1. ed. - Rio de Janeiro: L3 Book Publishing,
2021.
457 p. (As Bilionárias de Bluewater : 1)
Título original: The Price of Scandal
ISBN: 978-65-990980-5-5
1. Literatura Americana. 2. Ficção. 3. Romance Contemporâneo. 4.
Adulto. I. Score, Lucy. II.
Freire, Annair. III. Título. IV. Série.
CDD: 813.54
Larissa Aguiar de Oliveira - Bibliotecária CRB-7/010119 (Provisório)
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Namorado Irresistível
Kingsley, Claire
9786599098048
278 páginas
Ele é muito sexy para descrever em palavras. Mia Alex Lawson pode
muito bem ser o mais sexy namorado literário imaginável. Um homem
divertido, romântico, possessivo e irresistível. E a melhor parte? Ele é
real. Para uma garota como eu, viciada em livros e um pouco
desajeitada, Alex é um sonho se tornando realidade, direto das
páginas dos meus romances favoritos. Nossa história está se
transformando em um romance arrebatador, do tipo que só existe nos
livros. Será que vamos alcançar o nosso felizes para sempre? Ou ele
é bom demais para ser verdade? Alex O negócio é o seguinte: eu não
sou um cara mau. Mentir para Mia não fazia parte do plano. Fazer
sucesso como autor de romance usando um pseudônimo feminino
também não fazia parte do plano. Mas, às vezes, a vida faz curvas
inesperadas. Como perceber que a mulher pela qual você está se
apaixonando é a melhor amiga virtual de seu alter-ego? Online, ela
acha que eu sou uma mulher chamada Lexi. Pessoalmente, ela sabe
que sou todo homem. Eu quero adorar seu corpo e reivindicar cada
centímetro dele, mas se ela descobrir meu segredo, posso perder
tudo.
Essa história de dividir a casa não vai dar certo. Kendra é uma mulher
atrevida que sempre está com o cabelo bagunçado e tem uma paixão
por calças de pijama. A primeira coisa que ela faz é tentar ficar
amiguinha da garota que peguei à noite passada, dando a ela uma
impressão errada da situação. Eu não namoro. Não uso palavras do
tipo "namorada" ou "digo que mandarei mensagem mais tarde". Eu
não curto relacionamentos. Dou às mulheres uma noite que elas
jamais esquecerão, mas quando acaba, eu caio fora. Mantenho as
pessoas afastadas e tenho minhas razões, só que Kendra começa a
me atingir. E quando a minha vida vai pelos ares, literalmente, ela é a
única pessoa com quem posso contar. Relacionamento não é a
minha praia, e Kendra não é uma mulher de uma noite só. Morar com
ela dormindo no quarto ao lado poderá acabar comigo.
A morte nunca se contenta apenas com a vida daquele que leva. Ela
é gananciosa. Roubou todas as nossas vidas na noite que enterrei o
meu marido, deixando-me sozinha com os meus quatro filhos. Após
um tempo de sofrimento, nos mudamos para o Wyoming. Um lugar do
interior, com muitos campos abertos, céu estrelado e ar fresco.
Descobri que o convívio com cavalos era uma forma eficiente de
terapia para crianças com traumas e esse foi o principal motivo que
me trouxe até ali. Foi uma coincidência que nosso vizinho fosse o
instrutor de equitação que eu precisava para ajudar meus filhos.
Porém, eu não poderia imaginar que as habilidades de Reid, um peão
de rodeio aposentado, iam além do trato com os animais. Ele se
revelou o apoio que os meus filhos precisavam para seguir em frente
e finalmente começarem a se curar. Distraída pelo rumo que a
situação tomou, eu não notei que os demônios de Reid dançavam
colados aos meus. E, quando o deixei que roubasse meu coração,
era tarde demais para perceber... que ele já o havia roubado.