Você está na página 1de 328

Contents

Title Page

Copyright

1 - Juliana

2 - Juliana

3 - Juliana

4 - Juliana

5 - Juliana

6 - Juliana

7 - Juliana

8 - Devyn

9 - Juliana

10 - Juliana

11 - Juliana

12 - Gage

13 - Juliana

14 - Juliana

15 - Maverick

16 - Juliana

17 - Juliana

18 - Juliana
19 - Juliana

20 - Juliana

21 - Juliana

22 - Juliana

23 - Devyn

24 - Juliana

25 - Juliana

26 - Maverick

27 - Juliana

28 - Juliana

29 - Juliana

30 - Gage

31 - Juliana

32 - Juliana

33 - Juliana

34 - Juliana

35 - Juliana

36 - Juliana

37 - Juliana

38 - Juliana
39 - Devyn

40 - Juliana

41 - Juliana

42 - Maverick

43 - Juliana

44 - Gage

45 - Juliana

46 - Juliana

47 - Devyn

48 - Juliana

49 - Maverick

50 - Juliana

51 - Gage

52 - Juliana

53 - Juliana

54 - Juliana

55 - Juliana

Epílogo

O Acordo com meu Ex

Sobre a Autora
Uma Amante Secreta

para os Navy SEALs

Um Romance

de Harém Reverso

Krista Wolf

Capítulo 1
JULIANA
O interior do prédio era quente e acolhedor, muito diferente do frio e
impessoal que eu esperava. Parecia os fundos de um museu, ou
mesmo de uma biblioteca. Carpetes e plantas estrategicamente
dispostas nos guiavam pelo corredor enquanto eu seguia a mulher
vestida com apuro à minha frente.

– Desculpe a demora, Sra. Emerson.

Ela parou diante de uma porta de vidro fosco, dando três batidas
secas e abrindo seu melhor sorriso falso. Após olhar rapidamente
pela fresta da porta, ela finalmente a abriu.

– O diretor vai te receber agora.

“O diretor”. Soava tão importante, tão oficial. Mas o termo também


não tinha a menor importância, especialmente no contexto da minha
visita.

A senhora poderia vir ao nosso escritório principal? O diretor tem


algo importante a lhe dizer.

Esse e-mail misterioso me tirou da sala de reuniões no meio de uma


apresentação e me colocou no primeiro táxi que passou. Dezesseis
quadras depois, lá estava eu.

– Sra. Emerson?

Entrei no que poderia ser o escritório de um advogado, de um


médico, ou mesmo de um reitor, a quantidade de estantes à minha
volta equalizando os três. Todas preenchidas do chão ao teto por mil
livros de encadernação de couro que poderiam nunca ser lidos
nesta era digital, mas que com certeza impressionavam.
– Ah, Sra. Emerson.

Um homem franzino e careca com óculos de armação de arame me


deu um fraco sorriso por trás da mesa. Ele se ergueu brevemente,
indicando uma das duas cadeiras de couro à minha frente.

– Por favor.

Sentei na outra cadeira, só para confundi-lo. Não que eu precisasse


confundir esse homem que nunca vira antes, mas é difícil largar
velhos hábitos.

– Obrigado por vir tão prontamente – disse ele com voz suave,
macia.

– Agradeço sua disposição de...

– Estou aqui. Pode falar.

Seus olhos demonstraram surpresa com a minha interrupção, mas


também certa preocupação. Foi a preocupação que me preocupou.

– Certo – ele se inclinou na cadeira. – Direto ao ponto.

O homem pausou e limpou a garganta. Quando ele falou de novo,


parecia muito menos à vontade.

– Infelizmente, o doador que você escolheu não está disponível.

Custei alguns segundos para registrar o que ele disse. Quando


entendi, senti um balde de água fria.

– E por que não?

– Porque as amostras foram destruídas – respondeu o diretor


calmamente.

Essas palavras foram um soco no estômago. Parecia que eu tinha


perdido o ar.
– O... O quê? Como?

O homem juntou as pontas dos dedos diante do peito esquelético.


De jaleco branco e óculos, ele parecia um professor magricela de
desenho animado.

– A versão longa da história inclui uma falha mecânica inesperada e


um deslize na transferência de certas amostras ao nosso freezer
extra – disse o diretor. – A versão curta é que algumas amostras
atingiram temperatura de degradação. Elas ficaram inviáveis e
infelizmente tiveram de ser descartadas.

Minha boca de repente ficou seca. Todas aquelas semanas


selecionando perfis, lendo bios, olhando fotos. Pesando prós e
contras.

Fazendo listas e eliminando candidatos.

Todo esse trabalho virara pó em um instante. Antes mesmo de eu


começar.

– E o senhor resolveu me dizer isso agora? – eu sibilei – Depois de


meses no banco de dados, quando finalmente escolhi alguém
para...

– Mais uma vez, outro deslize – interrompeu o diretor. – Esse


doador devia ter sido retirado da base de dados meses atrás,
quando o episódio ocorreu.

Episódio. Caralho.

– Mas não foi, e isso é inteiramente culpa nossa, claro.

– O senhor acha? – retruquei.

O homem me olhou sombriamente, então tirou os óculos devagar e


colocou-os sobre a mesa entre nós. Por alguma razão, isso o fez
parecer mais velho, mais vulnerável.
Talvez ele também soubesse.

– Mais uma vez, nós sentimos muito, imensamente.

Seis meses!

Seis meses desde que eu começara a selecionar perfis. Vinte e


quatro semanas debruçada sobre o que eu sabia muito bem ser a
decisão mais importante da minha vida.

Sem contar os três meses anteriores de indecisão, eu me lembrei.

Juntando e logo perdendo a coragem. Começando e interrompendo


o processo em duas agências diferentes, para então começar tudo
de novo.

Fora apenas na semana anterior que eu finalmente decidira qual


homem iria – biologicamente, pelo menos – ser o pai do meu filho.
Ele era o pacote completo, o espécime perfeito. Um homem alto,
moreno, fisicamente extraordinário, com bom intelecto, espirituoso e
de saúde imaculada.

Esse doador anônimo tinha aparentemente tudo: um exame


genético irrepreensível, alta contagem de espermatozoides e
motilidade impressionante. E, claro, sua carta de apresentação, que
o colocou no topo

da lista. Foi a peça final de um quebra-cabeça anônimo: o quão


doce e atenciosa era sua personalidade, combinando com seu rosto
lindo e olhos azuis.

– Se a senhora tiver uma segunda opção para doador... – disse o


diretor casualmente.

Não.

–...nós aceleraremos o processo o máximo possível. A senhora será


a primeira da fila para...
NÃO!

Eu bufei, balançando a cabeça. Esse doador deveria ser a cereja do


meu bolo. A decisão que eu levara mais de um ano para tomar, num
mundo em que eu tomava decisões tão rápido e no calor do
momento que ficara algo conhecida por isso.

– Claro que é melhor tomar o tempo necessário – continuou o


diretor, com cautela. – Pense no que a senhora...

– Não. Cansei.

Rosnei a resposta acidamente, como se as palavras deixassem um


sabor amargo na minha boca. Elas ainda ecoavam de forma vazia
na minha mente quando eu me levantei bruscamente e saí do
escritório.

Capítulo 2
JULIANA
As portas do elevador abriram-se com suavidade no décimo sexto
andar para o lobby de vidro da Shameless Marketing. Gente
caminhava apressada por todos os lados, sumindo atrás de mais
portas de vidro. Eles levavam notebooks, pastas, até apresentações
inteiras debaixo do braço.

E todos estavam lá por minha causa.

Normalmente esse pequeno fato me dava uma onda, que eu


aceitava como bem merecida. Eu até pausava para me deleitar com
o tamanho da agência de marketing que construí do zero, ou
simplesmente sentir o perfume das flores e saborear os frutos do
meu trabalho duro.

Mas hoje não.

Aric me olhou curioso quando entrei em minha sala, arqueando uma


sobrancelha bem feita até o alto de sua bela testa. Minha expressão
lhe disse para não me seguir, nem mesmo trazendo as duas xícaras
de café na mesa dele, e mesmo já sendo uma hora mais tarde do
que quando eu normalmente a tomava.

Porra.

Afundei na minha cadeira, tomando cuidado para manter a postura


ereta e não apoiar a cabeça nas mãos. Esse era o problema de um
escritório com paredes de vidro. Como chefe, você vê o que todo
mundo está fazendo, o tempo inteiro. Mas é uma faca de dois
gumes igualmente afiados: eles também podem te ver.

A estrada até ali fora longa e tortuosa. Cerca de oito anos atrás, eu
conseguira meu primeiro cliente importante num golpe de sorte, por
meio

de uma aposta tudo-ou-nada que no fim deu muito certo. A partir daí
eu fizera a empresa crescer expandindo sempre que podia,
reinvestindo cada centavo que entrava. Correndo risco após rico
para manter os funcionários, muitas vezes pagando salários do meu
bolso.

Aos quase trinta anos de idade, eu sacrificara quase tudo mais na


minha vida para avançar na carreira. Talvez por isso minha crise da
meia idade viera um pouco mais cedo do que de costume. Ela
chegou quando eu menos esperava, na forma de um relógio
biológico extremamente barulhento e desagradável. Mas havia
outras razões por que eu queria filhos, também. Razões mais
práticas que tinham a ver com encher a casa de amor, família e
risadas num momento da vida em que eu poderia aproveitá-los
melhor.

E agora eu estava de volta à estaca zero.

Havia outras opções, é claro. Outros caminhos que me levariam à


maternidade tão rápido quanto. Mas eu não queria “outras” opções.
Eu queria a que eu escolhera cuidadosa e meticulosamente.
Qualquer outra coisa seria um segundo lugar, e o segundo lugar não
significava nada.

Assim lá eu fiquei, pensando na má notícia do diretor. Visualizando


mentalmente as mesmas cinco fotos lindas do perfil do doador de
esperma do meu futuro filho. Era algo que eu já fizera dezenas, até
centenas de vezes antes, tanto on-line quanto na cabeça. Mas
agora que eu sabia que não poderia mais tê-lo, as imagens estavam
lentamente ficando mais fracas.

Aric esperou doze minutos inteiros antes de entrar na minha sala, o


que foi exatamente perfeito. Menos que dez minutos e eu teria
arrancado a cabeça dele. Quinze minutos seria tempo demais.
– Não sei como se denuncia um assassinato com antecedência –
disse ele –, então achei melhor te dar isso antes que alguém morra.

Ele deslizou o copo grande de latte na minha mesa com uma mão
forte e experimentada. Eu peguei o copo e bebi bastante.

– Você provavelmente salvou uma vida – admiti.

– Esse é o meu serviço – ele sorriu. – Salvar vidas.

Aric, meu braço direito, empurrou os óculos estilosos mais para


cima sobre o nariz aquilino. Saindo do treino da tarde, seu peito
largo e braços

grandes se destacavam e ele estava incrível. Tipo uma versão


levemente menos nerd do Clark Kent.

– Se você não fosse gay e bem casado, nós já seríamos os reis do


mundo – declarei com um suspiro melancólico. – Você sabe disso,
não sabe?

Aric riu.

– Eu sei. Mas vamos ser assim mesmo.

– É isso aí.

Ele me examinou com olho experiente e se sentou em uma das


minhas cadeiras. Aric nunca tinha se sentado em uma das minhas
cadeiras. Ele era do tipo que fica em pé.

– O que foi, chefe?

– Nada.

Ele estreitou os olhos com suspeita.

– Nós não perdemos nada, perdemos?


Hesitei um segundo demais depois da pergunta e sacudi a cabeça.

– A conta De’Angelo está OK?

– Está ótima – respondi.

– E a Pizza Rocket? Eles ainda estão a fim do plano que discutimos


de distribuir cupons pela cidade?

Ri pelo nariz.

– É bom que estejam. Estou com trinta e sete operadores de drone


à disposição neste fim de semana.

– É este lugar, então – ele brincou, olhando em volta. – Esse vidro


maluco. Todo mundo te vigiando. É igual morar num aquário!

Franzi o cenho, balançando a mão com desdém. Eu gostava do


vidro, na maior parte do tempo. Poder ver todo mundo me dava uma
sensação de controle.

– Então tá – disse ele. – O que poderia estar preocupando a Víbora


Viral?

Soltei o ar devagar através dos dentes cerrados.

– Já te pedi para parar com isso.

– Besteira – retrucou Aric –, você merece esse apelido. Ele vem


com reconhecimento instantâneo, e nós sabemos quão importante é
isso. – Ele balançou a linda cabeça. – Goste ou não goste, é a sua
marca.

Minha marca. Era a única coisa que eu estava conduzindo bem


naquele momento. Mas eu já tinha decidido, como eu quase fiz

, que eu queria mais.

E desta vez, muito mais.


– Aric, você e o Jason falam em ter filhos?

O homem na minha frente piscou. Tenho que admitir que a pergunta


realmente viera do nada.

– Marcamos de falar disso – respondeu ele com cuidado – em


algum momento no ano que vem.

– Ano que vem?

– Quer dizer, ele tocou no assunto algumas vezes, mas eu sempre


adiei a conversa.

– E por quê?

Meu braço direito contraiu os lábios e coçou a nuca.

– Várias coisas, eu acho. Ainda somos novos para ter filhos, ou é


isso que eu sempre digo a ele. Mas essa desculpa só vai colar por
mais um ano, com sorte. Dois, no máximo.

– Ele quer filhos e você não?

– Eu não disse isso – respondeu Aric. – Quero um monte de filhos,


na verdade. Quero muito.

– Bom, você tem uma casa linda – disse eu. – E um bom marido.

Muito espaço. E eu sei que você ganha mais que o suficiente.

Com o último comentário, ele deu aquele sorrisinho obrigatório.

– Então o que te impede de ter filhos agora?

– Quer saber a verdade?

– Sempre.

Ele estendeu o dedo, apontou-o para baixo e bateu na mesa.


– Este lugar.

Fiquei no chão. Mas pensando bem, não deveria ter ficado.

– Sério?

– Sim. Bom, estamos muito ocupados – ele encolheu os ombros –,


com muitas panelas no fogo. Talvez quando as coisas se acalmarem
um pouco...

– Mas as coisas nunca se acalmam – eu rebati. – Elas só escalam.

Aric não era só meu braço direito, ele era os meus dois braços. Ele
administrava tudo na Shameless que eu não administrava, e talvez
até algumas coisas que eu administrava.

– Acho que é por isso que ainda estou esperando... – disse ele –
Você sabe. A hora certa.

A hora certa...

Ele olhou para o nada por cima do meu ombro. Ou talvez olhasse
para algo ou alguém através da parede de vidro.

– Aric?

– Sim, chefe?

– Quero que você tire o resto da noite de folga – disse eu. – Use o
cartão preto. Leve seu marido para jantar num restaurante bom, por
conta da empresa.

Seus olhos brilharam.

– Sério?

– Com certeza – eu sorri. – Uma boa churrascaria, aquele


restaurante novo asiático na Sétima Avenida, onde vocês quiserem.
Você sabe muito bem que merece. Sem você, esse lugar é só um
monte de vidro.

O rosto dele ficou vermelho vivo com todos esses elogios. Desviei o
olhar, com medo de ficar da mesma cor.

– Caralho, chefe – disse ele. – Não ligo para o que dizem de você,
você é...

– E durante o jantar, peça desculpas ao Jason por mim.

– Desculpas? – estranhou Aric – Por quê?

– Por te ver mais do que ele.

Capítulo 3
JULIANA
Há boas decisões e há más decisões, cada uma com suas
consequências. Para as mais importantes, eu fazia a due dilligence.
Eu agonizava, pesquisava, estudava os dados até ter certeza de
estar fazendo a coisa certa, e não potencialmente cometendo um
erro.

E há decisões como o Wayne.

– Um pouco mais?

Ele sorriu ao erguer a garrafa de vinho, e eu quase estendi a taça.


Já tinha tomado vinho suficiente para aquela noite. Talvez até um
pouco mais do que devesse, embora tivesse tomado a decisão
“Wayne” horas atrás, antes mesmo de abrir a garrafa.

Pegando o vinho de sua mão estendida, caminhei tranquilamente


até o bar e o deixei ali. A música vindo dos alto-falantes a bluetooth
era boa. Tão boa que eu balançava os quadris, dançando na sala à
meia-luz onde meu ex-namorado estava sentado satisfeito no meu
novo sofá de couro.

Mmmm. Ele está bonito.

Estava mesmo. Embora eu não o visse em cerca de um ano, Wayne


tinha aparentemente mantido a forma. Ele estava com a mesma
barba bem cuidada e corte de cabelo perfeito de quando nós
namorávamos, mas seus ombros pareciam mais largos do que eu
me lembrava.

– Vem cá, linda.


Ele tentou me pegar e eu dancei para longe, só para provocar.
Depois de tomar a última gota de vinho da taça, também a deixei
sobre o bar.

Tem certeza que sabe o que está fazendo?

O pensamento me incomodou um pouco mais, mas o afastei.


Convidar Wayne fora uma decisão impulsiva. Mesmo assim, fora
uma decisão impulsiva com segundas intenções.

– Está pronto para mim?

Ofeguei as palavras mais do que as pronunciei. Wayne


simplesmente fez que sim com a cabeça, afundando mais nas
almofadas ao colocar os braços nas costas do sofá.

– Você sabe o que fazer.

Ainda bem que ele sabia, porque eu não ia explicar de jeito nenhum.

Continuei minha dança sensual enquanto Wayne desabotoava a


camisa, tirava as meias e desafivelava o cinto. Ele deixou as calças
caras caírem em volta dos tornozelos e as chutou para longe, bem
na hora que eu me sentei no colo dele.

Mmmmmm…

Seu corpo estava quente e acolhedor, mas talvez fosse só o vinho.


Ou fato de que já fazia... bem... um bom tempo.

– Meu Deus, gata. Eu senti sua falta...

Eu o silenciei na hora com um dedo contra seus lábios.

– Não estrague tudo.

Ele franziu as sobrancelhas com uma pergunta silenciosa. Estragar?


Rebolando no seu colo, apoiei o rosto em seu ombro e comecei a
beijar seu pescoço de leve. Ele cheirava a um misto de colônia e
uísque.

Wayne respondeu à altura, agarrando com as mãos a barra do meu


vestido.

Lentamente, provocantemente, ele as deslizou para cima, até


descansar as palmas no alto das minhas coxas.

Permiti que ele saboreasse essa pequena vitória por alguns


momentos, resistindo ao desejo de deixar as mãos vagarem pela
extensão quente do seu peito. Eu não queria vagar. Meu objetivo
não era romance.

Não, meu objetivo era muito mais específico.

Senti antes de ver – o volume de Wayne crescia bem embaixo de


mim.

Confirmei com a mão, dando uma apertadinha antes de pular do


sofá e sair rodopiando.

– Juliana! – ele riu, exasperado – Fala sér...

Ele deixou a frase no ar quando eu me virei e puxei o vestido por


cima dos quadris. Empinei a bunda e comecei a balançar para frente
e para trás, no ritmo exato da música. Quando achei que já o tinha
hipnotizado o bastante com os movimentos lentos, sedutores,
comecei a baixar a calcinha.

Elas deslizaram suave e com facilidade sobre minha bunda


redonda.

Juliana.

Descendo e descendo elas foram, se enrolando pela carne ardente


da parte de cima das minhas coxas...
Juliana!

Centímetro por doce centímetro elas baixaram. Até quase os


joelhos...

Ah, droga.

Ergui-me rapidamente, puxando tudo para cima e ajeitando o


vestido.

Peguei o controle remoto. Desliguei a música. Quando ajustei o


dimmer, já estava me sentindo uma babaca.

– Ummm... o que aconteceu?

Wayne parecia uma criança de quem acabaram de tomar o melhor


presente de Natal. O que era basicamente a situação dele.

– Desculpe – eu disse.

– Desculpe? – ele piscou – Desculpe por quê?

– Por ter que te pedir para ir embora.

Peguei a garrafa de novo e servi o resto na minha taça. Eu poderia


ter tomado o resto direto da garrafa, mas eu não era esse tipo de
garota.

– Juliana, que porra é essa?

E hoje não era esse tipo de noite.

– Eu sinto muito – disse eu de novo. – Isso... não é isso que eu


quero.

– Parecia que você queria um minuto atrás – Wayne fechou a cara –

quando estava subindo em cima de mim.


– É, eu sei. É por isso que estou pedindo desculpas. Eu fiz merda.

– Fez merda?

Acenei com força.

– Isso foi um erro, Wayne. É melhor você ir.

Meu ex-namorado me encarou, pasmo. Suas sobrancelhas se


juntaram, com raiva.

– Está falando sério?

– Para caramba.

Ele ainda estava seminu, sentado lá indefeso e com um volume na


cueca. Peguei as calças e as joguei em seu colo, para cobri-lo.

– Vamos – eu instei –, trabalho amanhã cedo.

– Você sempre tem que acordar cedo – Wayne retorquiu. – Acho


que nunca te vi dormir até depois das seis da manhã.

– Ótimo. Você está dando a explicação por mim.

– Até quando a gente viajou para as Maldivas anos atrás –


continuou ele –, eu acordava e você já estava na frente do
computador trabalhando.

– Eu sei.

Essas palavras tinham um som amargo. Caramba, elas tinham um


sabor amargo.

– Eu te perguntava como foi o nascer do sol, mas você não sabia,


porque não tinha notado.

– Eu falei que EU SEI!


A raiva de Wayne refletia a minha. Ele suspirou frustrado e saltou do
sofá, vestindo as roupas uma por uma.

– Wayne, eu sinto muito mesmo – eu disse. – Eu te chamei por


todas as razões erradas.

– Só tem uma razão para ligar para o ex à meia-noite – rosnou ele.

– Eu sei – admiti. – E você não fez nada de errado. É que... É que...

Não é isso que eu quero.

Franzi o cenho, pensando bem nessa internalização.

Não, não é isso. Não é QUEM eu quero.

Wayne resmungou um pouco mais, xingando enquanto seus dedos


se atrapalhavam para abotoar a camisa. Lancei um último olhar
comprido para seu peitoral antes que ele sumisse por trás dos
botões, e ele ajeitou o cinto.

Você ficaria ligada a ele para sempre, sabia?

É, eu sabia. E seria um pesadelo.

– Você nunca está satisfeita com o que tem, Juliana – vociferou meu
ex-namorado abruptamente. – Você sabe disso, não sabe? Esse é o
seu problema.

– Eu sei – concordei. – É mesmo.

– Não importa onde você esteja ou o que esteja fazendo, sua


cabeça sempre está em outro lugar.

Ele calçou os sapatos com raiva enquanto eu pensava no que


quase acontecera. Não fazia sentido. Eu não era assim.

O que você ia fazer, esperar ele gozar dentro? Avisar algumas


semanas depois?
A voz na minha cabeça agora debochava. Asperamente e sem dó.

Ou falaria logo antes? Diria que não estava tomando a pílula


desde...

Mordi o lábio, deixando a dor obliterar tudo mais. Sim, quase fiz algo
desprezível. Sim, eu era uma total escrota por causa disso.

Mas você não foi até o final, outra voz, mais razoável, me disse.

Pisadas fortes indicaram que meu ex-namorado finalmente se


vestira.

Ele marchou em minha direção, puxando o casaco do cabideiro e se


dirigiu à porta.

– Mas foi um prazer te ver, Wayne.

– Prazer? – ele deu uma risada amarga, parando por um segundo


na porta. O som da porta batendo coincidiram com suas duas
palavras finais –

Nem isso.

Capítulo 4
JULIANA
– Então tá. Se você não vai me ajudar, arrume alguém que sirva.

O homem atrás do balcão balançou a cabeça devagar. Ele tinha o


olhar condescendente de alguém prestes a explicar alguma coisa
simples a uma criança, e isso me deixava louca.

Não é que eu não vou te ajudar, é que eu não posso te ajudar –


disse o homem. – Desculpe, Sra. Emerson. Eu simplesmente não
tenho acesso ao...

– Cha-ma-o-di-re-tor.

Eu pedira três vezes, e nas três vezes ele se recusara. Agora eu


tinha me levantado. Voltei-me para a direção que eu sabia ser da
sala do diretor.

– Sente-se, por favor – o homem implorou. – Vou ver o que eu


posso fazer.

Ele se levantou abruptamente, saindo com sua camisa amarrotada.


Ao menos a gravata estava passada, mas o resto parecia ter saído
direto da centrifugação.

Esse lugar poderia ser muito melhor administrado.

É um dos muitos defeitos de ter seu próprio negócio: o tempo todo


você acha problemas em tudo e em todo mundo. Tentei me acalmar,
ser paciente e compreensiva. Mas quanto mais incompetência e
falta de profissionalismo eu via, mas difícil era morder a língua.

Forçando-me a relaxar, eu me recostei na cadeira, descruzei os


braços e pensei nos quase acontecimentos infelizes de ontem.
Chamar Wayne para transar fora má ideia desde o princípio. Não
por causa do sexo, que eu precisava desesperadamente, mas
porque ele iria inevitavelmente se emocionar.

Porém ainda pior era a ideia de usar um ex-namorado para trazer


uma criança ao mundo. Era podre, era burrice, e era carregada de
mil problemas futuros. Sem contar que tentar engravidar de
propósito sem nem discutir isso com a outra pessoa é horrível e
inegavelmente errado.

Tentei culpar o vinho, mas o vinho era só parte do problema. A


questão real é que eu achei aquilo um descaso. A clínica fizera eu
me sentir tão injustiçada, tão que perdera meu doador de esperma
eleito por enganação, que cheguei ao ponto de quase fazer algo
cataclismicamente idiota.

Por sorte eu tive o bom senso de mandar Wayne embora. Depois,


peguei as velhas fotos do perfil do homem que subitamente eu não
podia ter, e fiquei olhando para elas com um novo nível de obsessão
e apaixonamento.

Eu não conseguia parar de olhar para o jovem e estonteante


gostoso anexado à bio do doador. Quem era ele? O que ele estava
fazendo agora? Se ele doara esperma nesta cidade, era provável
que ele também morasse aqui.

Verdadeiro ou falso, essa pequena dedução me jogou num buraco


de minhoca sem fim até altas horas da madrugada. Será que esse
cara morava no mesmo bairro? Se sim, nós íamos aos mesmos
restaurantes? Pegávamos metrô juntos? Teria eu passado correndo
distraída no Central Park enquanto ele lia um livro?

Todas essas fantasias me tomaram de uma vez, aumentando


minhas outras necessidades, mais animais, no momento. Logo eu
estava jogada na cama, olhando para o teto. Meus olhos se moviam
por trás das pálpebras enquanto eu deixava meus dedos vagarem,
dando a mim mesma ao menos um pouco do prazer que Wayne não
pudera... enquanto lembrava dos melhores ângulos e das minhas
fotos preferidas do agora misterioso futuro pai do meu filho.

De todas as biografias em profundidade e respectivos históricos


médicos que eu estudara, a única coisa que me cativara fora a carta
de apresentação muito querida anexada ao arquivo desse homem.
Fora escrita pelo doador e destinada ao seu futuro filho biológico.
Ele falava da própria

infância e de ser tímido quando jovem. Muito docemente, ele dizia


ao filho ou filha em potencial que se também fossem tímidos, não se
preocupassem com isso, porque ia passar com o tempo.

O resto da carta falava de amizade, família e autoconfiança – só


coisas boas, com uma conclusão positiva para cada tema. Ele
terminava dizendo a sua futura progênie que ficava feliz pela incrível
jornada que tinham diante de si, pois o mundo era cheio de coisas
incríveis e maravilhosas.

Foi com essa carta de apresentação que tive o clique, e foi isso o
que determinara minha decisão. Qualquer um capaz de escrever
algo assim passaria adiante características de amor, felicidade e
risadas. Quem quer que ele fosse, um homem assim sem dúvida
tinha um grande coração.

– Olá, olá! – uma voz açucarada disse à minha esquerda – Sra...

Emerson, certo?

A mulher alta que entrara na sala já exibia um sorriso sacaroso no


rosto. Ela se sentou na cadeira que o amarrotado deixara vazia e
olhou para a tela do computador por vários segundos.

– Você não é o diretor – eu disse objetivamente.

– Não – continuou ela, sem que o sorriso se abalasse por meio


segundo –, mas sou a subdiretora, Sarah Fields. Me disseram que a
senhora tem uma pergunta?
Abri a tela do meu celular e o deslizei em direção a ela.

– Este homem – disse eu, batendo na tela. – Quero saber se pode


me passar o nome dele.

Ela nem olhou para baixo, apenas cruzou as mãos.

– A senhora sabe que este homem não está mais no nosso sistema

disse ela com frieza.

– E nem devia ter entrado no sistema – retruquei –, mas como ele


estava no sistema, queria saber se ele vai doar de novo.

– Isso é decisão dele – disse a mulher –, não nossa.

– Certo – concordei. – Vocês ligaram para avisar que a amostra dele


foi descartada?

– Não – concedeu a mulher. – Isso não consta no nosso protocolo.

– Descongelar a amostra sem querer consta no seu protocolo?

Seu sorriso sacaroso transformou-se numa cara fechada.

– Claro que não.

– Então por que não fazer um esforcinho por minha causa e entrar
em contato com ele? – perguntei – O pior que ele pode fazer é dizer
“não”.

– Mas...

– Ou deixe eu contatá-lo. Tenho certeza que se ele doou uma vez,


não teria problema em doar de n...

– Ele doou onze anos atrás – a mulher interrompeu – e nunca mais


voltou. Posso te dar essa informação apenas porque consta no
perfil. Essa informação é aberta para todas as clientes, como a
senhora, que buscam conceber.

– Então você pode me dar o DNA dele, mas não o nome? – rosnei –

Você pode plantar a semente dele dentro de mim, mas não pode dar
seu último endereço conhecido?

– Os dados pessoais de todos os doadores são confidenciais –


disse a mulher. – A senhora sabe disso.

– Mas foi erro seu. Falha sua.

– Estou ciente disso.

– Por que não ligar e dizer o que aconteceu com a amostra –

argumentei – e enquanto estiver no telefone, talvez já falar que


alguém já escolheu...

– Não e não – a mulher balançou a cabeça. – Não trabalhamos


assim.

Uma cadeia de palavrões veio à minha mente, junto com coisas que
fariam uma mulher dessas sair correndo pela porta. Em vez de gritá-
las, eu as engoli. Estava deprimida demais até para essa pequena
diversão.

– Deixa para lá.

Levantei-me usando minha última gota de força de vontade para


não ficar de ombros caídos. Silenciosamente, peguei o celular de
volta.

– Você foi um anjo – disse eu abrindo a lista de contatos –, uma


santa.

Apertei o botão para fazer a ligação, silenciando a mulher com um


gesto quando ela tentou dizer algo. No terceiro toque, minha amiga
atendeu.

– Addison! – exclamei, alto o suficiente para que todo o escritório


escutasse – Vou te mandar uma série de fotos de alguém. Quatro,
na verdade.

Voltei o olhar para a subdiretora, que ainda estava incrédula.

– Tenho que descobrir quem é esse cara.

Capítulo 5
JULIANA
Addison era uma das minhas amigas mais antigas de Nova York –

uma policial que parou meu carro no meu primeiro mês na cidade.
Ela me citou especificamente por “dirigir feito idiota”, um termo que
depois descobri ser usado para descrever qualquer motorista que
não era de Nova York.

Acostumada com as ruas de uma cidade pequena do interior do


Maine, tive que descobrir a glória da condução agressiva nova-
iorquina da mesma forma que todos: pelo batismo de fogo. Batalhei
até a reduzir a citação a uma pequena multa, e após sair do fórum,
convidei Addison para almoçar e conversar.

Ficamos amigas desde então.

Na década que se seguiu me tornei sua mentora, conselheira


financeira, madrinha de casamento e madrinha de sua filha mais
velha. Eu fui o ombro em que ela chorou quando a mãe ficou
doente. Eu era a única pessoa para quem ela quis se abrir quando
tinha crises de pânico súbitas e extenuantes. Addison era forte,
brava, implacável – ela me lembrava de mim mesma. Eu a amava
como uma irmã. Eu faria qualquer coisa no mundo por ela, e ela por
mim.

Portanto, pedir a ela para usar a recém-lançada rede de


reconhecimento facial da polícia de Nova York para encontrar meu
doador misterioso não era nada demais.

– Me dá alguns dias – disse ela. – Se esse cara andou em alguma


calçada nos últimos dezesseis meses, vou encontrá-lo.
Eu não tinha certeza se ela conseguiria, mas eu sabia que ela ia
tentar para valer. Só por isso, eu não devia ter me surpreendido
quando meu telefone tocou dois dias depois e atendi para ouvir uma
única palavra:

– Devyn.

Pisquei confusa, ainda lambendo a calda de chocolate de um


cupcake do meu dedo médio.

– Espera... o quê?

– O homem que você está buscando é Devyn Bishop.

Uma notificação precedeu a imagem enviada ao meu celular: uma


foto da carteira de motorista do homem que fora gravado a fogo na
minha mente. Ele estava um pouco mais velho, mas de alguma
forma, ainda mais bonito. Seus olhos mostravam sabedoria agora.
Sua mandíbula forte e barba mal feita exalavam um sex appeal mais
experiente, embora ainda viril.

Deixei cair a faca que estava usando para passar a cobertura nos
cupcakes. Meu coração, batendo com força, ameaçava sair pela
boca.

– O quê... o que mais você sabe sobre ele?

– Ele é daqui – continuou Addison –, de South Brooklyn. Está


morando no deserto do Arizona agora, mas cerca de um ano atrás
voltou por alguns dias para ir no enterro da mãe.

– Como você sabe disso?

– Bati seu endereço antigo com o registro de obituários.

– Cacete – xinguei.

– É, eu sei – disparou Addison. – É invasivo. Tem câmeras em cada


puta esquina. Odeio esse sistema de merda, mas ele veio para ficar.
Não custa nada usá-lo para o bem.

Minha cabeça começou a girar com as possibilidades. Eu sabia o


nome dele. Eu sabia onde ele morava. Esse homem existia, e não
apenas nas fotos de onze anos atrás que segurei com mãos
vorazes. Ele era real.

Ele era de carne. Ele era de osso! Ele era...

– Tenho um arquivo inteiro sobre ele – disse Addison –, acredite ou


não.

– Vem cá – eu disse com pressa –, traz para cá.

Ela hesitou.

– Ummm... Por que eu não deixo aí amanhã, no caminho do...

– Fiz cupcake.

Do outro lado da linha minha amiga suspirou, depois xingou, depois


suspirou de novo. Açúcar era a fraqueza de Addison, e cupcakes de
confete, sua kriptonita. Eu estava fazendo para ela como
agradecimento, independentemente se ela achasse o cara ou não.

– Já deu uma olhada na minha bunda, Juliana? – grunhiu Addison.

– Claro. Várias vezes.

– Ultimamente, eu quis dizer.

– Olha, pode comer os cupcakes ou arregaçar as mangas e socar


eles –

eu disse. – Não estou nem aí, e não vou ficar ofendida. Mas eu
preciso ver esse arquivo.

– Socar eles parece divertido, na verdade – ela riu –, mas com o


meu azar, provavelmente eu iria acabar absorvendo as calorias
pelos poros.

– E o seu marido vai me agradecer – retruquei. – O Evan não gosta


da sua bunda pequena. Ele já me disse isso meia centena de vezes.

– Bah – zombou minha amiga. – Minha bunda não é mais pequena


desde que ele fez a primeira dos três em mim.

– Mais motivo para comer um cupcake.

Houve um momento de silêncio em que eu soube que tinha


ganhado.

Usei esses preciosos segundos para bolar as sementes de um


plano, agora que sabia onde estava meu doador em potencial.

– Chego em quarenta minutos – disse Addison finalmente – e vou


levar leite. Vamos precisar de leite para o que eu vou fazer com
esses cupcakes.

– Eu tenho leite.

– Não, você tem leite desnatado – corrigiu minha amiga com


severidade. – Não sei de que planeta você saiu, mas isso não é
leite.

Eu sorri e revirei os olhos.

– Tá.

– Não, não é “tá”, Juliana. É um crime! – Ouvi ela pegando as


chaves no fundo.

– Também posso levar corante branco, a gente mistura com água e


chama de “leite”. Vai ter o mesmo gosto dessa merda na sua
geladeira.

– E tem corante branco para vender? – eu ri.


– Deve ter – minha amiga afirmou, sem base nenhuma. – Ah, e me
faz um favor?

– Sim?

– Me deixa.

Capítulo 6
JULIANA
Addison comeu três cupcakes e meio, depois embrulhou mais
quatro para “Evan e as crianças” (não que eu tenha acreditado
nela). O resto ela esmagou com os punhos. A atividade foi
estranhamente satisfatória de assistir. Ela gostou da experiência
demais.

– Você tem problema – eu ri, enquanto minha amiga estava no


processo de lavar e secar as mãos. – Problemas sérios, profundos.

Mas Addison era ótima em me ignorar.

– Você vai pegar um avião para lá, não vai?

– Claro – encolhi os ombros.

O sorriso debochado de minha amiga aumentou.

– Amanhã, se eu te conheço bem.

– E tem momento melhor?

Addison foi embora logo depois, e eu passei o resto da noite


olhando para a foto da carteira de motorista do homem que já não
era um mistério tão grande. Seu arquivo dizia por que ele deixara
Nova York: logo depois de seu décimo oitavo aniversário, Devyn
Bishop entrara para o Exército –

para a Marinha, na verdade. Ele também tinha vinte e nove anos,


mas já morara em tantos lugares que era quase impossível contar.
Não parecia haver uma Sra. Bishop, ou outros filhos, pelo menos
não constava no arquivo. Esta última parte era uma pena. Eu
adoraria ver um reflexo de como meu filho ou filha seriam, se eu
conseguisse convencê-lo de alguma forma a refazer a doação de
esperma.

Que estranho.

“Talvez”, pensei consigo mesma. “Talvez não.”

Até para você.

Pensei em como tudo isso pareceria estranho, pelo menos para


alguém de fora. Mas no fim, tudo se resumia a um simples “sim” ou
“não”. Ou esse cara ainda era otimista e interessado em oferecer o
dom da vida a outra pessoa, ou a próxima década passada no
planeta Terra lhe extenuara tanto quanto a mim. Fosse o que fosse,
eu ia descobrir.

Aric nem parou de digitar quando entrei de supetão em sua sala,


arrastando uma mala de rodinhas atrás de mim. Ele terminou sua
linha de raciocínio, empurrou os óculos no nariz, e então se
recostou na cadeira para me olhar com frieza.

– Deixei de ler um memorando?

– Não, sabichão – sorri –, mas vou passar um dia ou dois fora.

– Hmmm. A negócios?

– Questão pessoal.

Aric limpou a garganta, então balançou a cabeça devagar.

– Não me lembro de ser avisado – ele brincou.

Parecia que ele era meu chefe e eu estava lhe dando satisfação, o
que, claro, era o que ele queria. Aric e eu brincávamos disso o
tempo todo. Era legal pensar nele como um igual, o que ele era,
mesmo sem ser formalmente sócio.

– Preciso que você segure as pontas – eu disse sem necessidade. –


Não deixe o trem descarrilhar enquanto eu estiver fora.

– É homem?

A pergunta fora repentina – repentina demais para que eu negasse


de cara. Minha hesitação disse tudo. Na hora em que decidi
balançar a cabeça, seus olhos se acenderam como fogos de artifício
no réveillon.

– É homem! – Aric se engasgou. Ele arrastou a cadeira para frente e


agarrou a mesa.

– Puta merda, não acredito...

– Menos – cortei, olhando de um lado para o outro, depois por cima


dos ombros. Calculei mentalmente quanto custaria substituir todas
as paredes de vidro do escritório por algo menos transparente. –
Não é o que você pensa. Não é tipo...

– Você vai encontrar um cara ou não? – perguntou Aric com


simplicidade.

Acenei de má vontade.

– Bom, é tudo que eu preciso saber! – ele sorriu – Meus


cumprimentos, chefe. Estava imaginando quando você tiraria a teia
de aranha dos baixos.

Parei cravada no chão.

– Perdão. Dos baixo s ?

– É, sabe, trocaria o óleo. Molharia o biscoito – ele bateu um dedo


comprido no queixo com covinha. – Passaria os churros no açúcar.

Ele pareceu muito satisfeito com a última expressão. Amarrei a cara.

– Eca. Que nojo.


Ele piscou para mim.

– Só se não fizer direito.

Aric e eu não costumávamos falar da vida pessoal, mas quando


falávamos, não tínhamos muita inibição. Ele esteve ao meu lado
para me ajudar a atravessar as secas, me acalmar durante as
monções e me apoiar no término com Wayne. Mas eu ainda não
estava preparada para me abrir quanto a esse tópico.

– Tanto faz – acabei suspirando. – Vou ficar dois dias fora, no


máximo três. E com certeza não estarei... molhando biscoito
nenhum.

– Encarando a cobra caolha? – ele pressionou – Dando uma


pentada na peteca?

Balancei a cabeça e sorri.

– Sabe que eu devia despedir você.

– Jesus, você poderia, por favor? – ele implorou. – O Jason me


enche o tempo inteiro por nunca parar em casa. Já cancelamos
duas viagens de fim de semana – observei enquanto ele abria o seu
melhor, mais branco sorriso. – Você não vai acreditar, mas ele diz
que eu trabalho demais.

Não consegui segurar o riso.

– Ele já te viu trabalhando?

Aric dispensou meu comentário com um aceno da mão.

– Olha, não tem nada demais em dar uma nhanhada de vez em


quando

– ele sorriu. – Você é adulta e adultos têm necessidades. Não tem


problema nenhum em curtir essas coisas, sabe.
– Eu sei que sou adulta! – disse cortantemente. – Não preciso que
você me diga que sou adulta. E para a sua informação...

– Só estou feliz que você finalmente vai deixar o cavaleiro


conquistar o castelo cor-de-rosa.

Nós nos encaramos e nossos risinhos se chocaram. Contudo, nós


dois sabíamos que a vitória era dele.

– Tchau, Aric – disse eu, puxando a haste extensível da mala com


os nós dos dedos brancos.

– Me liga depois de abrir os Portões de Mordor – gritou ele enquanto


eu saía –, quero saber como foi!

Capítulo 7
JULIANA
O endereço nem aparecia no GPS: uma casa perdida no fim de uma
estrada de terra no meio do deserto do Arizona. Eu custei mais de
duas horas para chegar lá partindo de Phoenix, e mais trinta
minutos para descobrir qual saída pegar. Mas agora eu estava ali, à
sombra das montanhas. Logo ao sul de um lugar chamado Queen
Valley, bem onde Judas perdeu as botas.

Se eu concebesse mesmo com esse homem, seria uma baita


história para contar um dia ao meu filho.

Passei por portões de ferro forjado até uma parada coberta de pó.
Em coexistência perfeita com a paisagem desértica, a casa era
assimetricamente linda. Sua arquitetura italiana combinava com as
cores e texturas do deserto, parecendo que cada geração construíra
e aumentara mais um pedaço.

Mesmo parecendo tão antiga, dava para ver que fora erguida com
materiais de qualidade e um charme exótico, moderno.

Meu nervosismo levou a melhor sobre mim quando saí do carro


alugado e bati os saltos pelo caminho de pedra que levava às
enormes portas de madeira com quadrados entalhados. Eram
decoradas com detalhes de metal. Dois aros gigantes pendiam de
aldravas cobertas de areia, mas estavam bem lubrificadas e pude
bater à porta com facilidade.

É isso.

Fechei as mãos com força, lutando para não parecer nervosa. Eu


me vestira para o deserto de forma a não suar, mas acabou que o
deserto era
muito mais frio do que eu pensara. Principalmente ao pôr-do-sol.

É is...

A porta se abriu para dentro com um movimento rápido. Descalço


no chão de azulejo de terracota do imenso hall de entrada da casa
estava um homem de regata comendo colheradas de cereal de uma
grande tigela azul.

– Oi – o homem sorriu. Ele limpou leite dos lábios com um


antebraço grosso, musculoso. – Olá, olá.

Seja lá quem fosse, ele era maravilhoso. Alto, de ombros largos e


forte, os braços nus esculpidos por lindos músculos, bem definidos.

– Eu, é...

Ele continuou comendo, quebrando o cereal com os dentes


distraidamente. As palavras me fugiram. Finalmente, ele levou a
mão ao cabelo espetado, loiro escuro, e coçou a cabeça.

– Só um minuto.

E desapareceu por baixo de uma arcada, dentro da casa


aconchegante.

Ainda estava olhando as costas dele, observando-o caminhar,


quando alguém veio até a porta saindo de outra parte da casa.

– Oi, posso ajudar?

Meu Deus, era ele! O objeto da minha busca. O mais recente centro
do meu universo. E sim, o insuspeito sujeito de algumas das minhas
mais disparatadas fantasias.

Já tinha visto esse mesmo rosto bonito incontáveis vezes na


cabeça. E
agora ele estava aí diante de mim, de carne e osso. Apoiado em um
lindo braço trincado enquanto me olhava com uma mandíbula forte e
sorrisinho curioso, travesso.

– Sim?

– O-Oi – eu finalmente me engasguei – Eu... É...

Foi um pesadelo – a única vez na minha vida inteira em que


realmente fiquei sem palavras. Eu passara toda a vida adulta
apresentando pitches de venda sob alta pressão e em grandes
reuniões enquanto desdenhava internamente de quem tinha medo
de falar em público. Agora, contudo, eu os compreendia perfeita e
completamente.

– Não está querendo vender alguma coisa, está?

O homem arqueou uma sobrancelha, depois cruzou os dois braços


poderosos sobre o peitoral imenso. Seus músculos se flexionavam
quando ele se mexia, criando vida sob a pele bronzeada.

Porraaaaa.

Meu desamparo foi amplificado pela sua mera presença. Mas, em


algum lugar no fundo da minha mente, fiquei ainda mais
apaixonada.

– Certo – ele sorriu, e seu sorriso era radiante –, pode falar. Eu vou
ouvir.

Trocando de peso na porta, ele limpou a garganta maravilhosa.

– Eu provavelmente não vou comprar nada – ele avisou –, mas


como você veio até aqui, não custa nada praticar seu script comigo.

Seu rosto não era só bonito, era gentil também. E que voz! Mais
grave do que eu imaginara, mas de forma alguma áspera. Na
verdade, bem suave e agradável. Assim como ele.
– Você é Devyn Bishop – eu finalmente consegui dizer.

A expressão inteira do homem mudou. Ele ficou mais em guarda,


mais desconfiado, enquanto me olhava de cima a baixo.

– Talvez.

– Talvez, não – respondi. – É você, definitivamente.

Estendi a mão, e me senti um pouquinho boba. Quase como se eu


estivesse tentando vender algo a ele.

– Meu nome é Juliana Emerson.

Seus olhos azul anil me estudaram por mais um momento, então


uma mão grande e áspera apertou a minha.

– Muito prazer, Juliana.

Meu Deus, nós estávamos nos tocando. Tocando mesmo! Um raio


de eletricidade me percorreu como se tivéssemos fechado um
circuito. Éramos carne contra carne agora, pele sobre pele. Eu ainda
não estava acreditando.

– Então, se você não está vendendo nada – continuou ele –, o que é


que você quer?

– Quer saber a verdade? – perguntei.

– Sempre.

Respirei fundo e devagar, buscando a autoconfiança que costumava


ter. De alguma forma, eu a encontrei.

– Preciso do seu esperma.

O homem na porta cobriu a boca com o punho e tossiu seco.

– Perdão?
– Preciso do seu esperma – repeti com simplicidade. – Da sua
semente.

Seus braços caíram ao lado do corpo, as mãos abrindo e fechando


mecanicamente. Ele inclinou a cabeça.

– Meu... esperma.

– Sim – sorri docemente. Por um breve, histérico momento, tive a


visão absurda de tirar um frasco de coleta da bolsa. – Por favor.

Nós nos olhamos nos olhos pela primeira vez, e me senti derretendo
ali mesmo, na varanda da casa dele. Quando ele sorriu, eu já era
quase uma poça.

– Bom, essa aí é nova – admitiu ele. Dando um passo para o lado,


ele abriu a mão e indicou que eu entrasse no hall. – Acho que
depois dessa, é melhor você entrar.

Capítulo 8
DEVYN
Não é todo dia que uma estranha bonita aparece na sua porta
pedindo para ter um filho seu. Principalmente quando você mora no
meio do deserto e nem sabe como ela te achou, em primeiro lugar.

Mas então, o mínimo que eu podia fazer era passar um café.

Era uma gracinha como ela estava nervosa enquanto eu a guiava


pelo chão de azulejo até a cozinha. Gage ainda estava lá, colocando
mais cereal na tigela. Ele começou a fitá-la estrategicamente
enquanto eu puxava uma cadeira e tentava deixá-la à vontade.

– Gage, esta é Juliana Emerson. De Nova York.

Eles apertaram as mãos sem jeito, os dois. Mas os olhos de Juliana


ainda estavam cravados em mim.

– Como você sabe que eu sou de Nova York? – perguntou ela.

Eu ri.

– Seu sotaque, para começar. É quase igual ao meu – coloquei um


filtro novo de papel na cafeteira. – Mas parece que você veio de
outro lugar, e o sotaque mudou há pouco tempo.

– Do Maine – ela admitiu. – Dez anos atrás.

– Ah.

Ela apoiou o queixo sobre a mão delicada e olhou para mim.

– E o que mais?

– Um segundo. Primeiro...
Disparei aquele olhar universal para Gage de “por que você não vai
dar uma volta?” Num primeiro momento ele apenas bufou, mas eu
persisti.

Vagarosamente, relutantemente, ele ficou de pé.

– Você sabe que a gente tem aquela coisa daqui a pouco – ele me
lembrou.

– Eu sei.

– O Maverick já preparou a conexão. A gente só está esperando o...

– Eu sei.

Ele virou os olhos dramaticamente antes de desistir.

– Muito prazer, Juliana Emerson de Nova York.

Ele a encarou um pouco mais, e não posso culpá-lo. A morena


sentada à mesa da cozinha era estonteante. Por fim, Gage beijou a
mão dela e se retirou da cozinha deixando uma trilha de gotas de
leite atrás de si.

– Desculpe – eu disse –, ele é inofensivo.

– Não precisa se desculpar. Ele parece legal.

O café ficou pronto, preenchendo o ambiente com seu rico e


delicioso aroma. Inclinado contra o balcão, eu a observei um pouco
mais, tentando determinar mais alguma coisa sobre ela.

Também não tirava pedaço e era bom olhar para ela.

– Também pensei que você é de Nova York porque você


obviamente esteve na clínica – eu disse. – É a única razão em que
posso pensar para você querer o meu... É...

– Esperma?
A palavra poderia ter soado grosseira ou ofensiva, mas por alguma
razão, não foi o caso. Não, ela a pronunciou delicadamente, e com
muita tranquilidade.

– Pode falar, sabe – ela riu. – Não é palavrão.

– Tudo bem, esperma – concordei. – Mas o que aconteceu? Minha


amostra acabou? – Uma ideia me ocorreu, me fazendo sorrir. –
Espera, eu fiz sucesso assim?

Juliana encolheu os ombros, seu cabelo longo dançando sobre eles.

– Na verdade, eu não sei se você fez sucesso ou não. Eles não dão
nenhuma informação sobre irmãos em potencial a menos que você
conceba.

– Ah – acenei com a cabeça –, lembro vagamente de alguma coisa


assim.

– Mas como doador, você pode ligar e perguntar – ela disse. – Eles
vão te falar quantos filhos biológicos você tem. Isso eu sei.

De repente eu me senti culpado. Em todos esses anos, nem pensei


se queria saber ou não. Isso era errado? Tanta coisa acontecera na
última década. Tanta coisa entre aquela época e agora.

– Eu só doei uma vez – disse, lutando para me lembrar. – Deve ter


sido mais de dez anos atrás.

– Onze.

Eu acenei, me lembrando.

– Eu precisava de dinheiro, então fui com um amigo que já tinha


doado antes, por impulso. Na época, me pareceu uma coisa nobre.
Como uma boa ação, ajudar pessoas que não conseguem ter filhos
sozinhas.
– É uma boa ação – disse ela. – Por isso espero que você faça de
novo.

Cocei o queixo.

– Para você – disse eu diretamente.

– Sim – ela sorriu educadamente –, para mim.

Essa era a última coisa que eu esperava no mundo quando acordei


aquela amanhã, mas ali estava ela. Forte. Determinada. Direta.
Reconheci essas características imediatamente, porque eu também
as possuía. Quem quer que fosse, eu sabia que Juliana Emerson
era alguém acostumada a obter o que queria.

– Certo, então o que aconteceu? – perguntei.

– Suas amostras foram destruídas por acidente – respondeu ela. –


Mas houve um engano. Você ainda estava na base de dados
quando eu te escolhi.

– Você me escolheu, então.

– Sim. Mas então me disseram que eu não poderia ter você.

– Hmmm.

Peguei o bule e servi o café.

– Como assim “hmmm”? – ela fechou a cara.

– Você veio até aqui – disse eu – por mim. Por... isso.

Quase olhei para as minhas bolas. Lutei para não olhar.

– Sim.

– Por que não usar o de outra pessoa? – perguntei – Outro doador.


Deve ter centenas.

– Milhares, na verdade.

– Então por que eu?

A pergunta pareceu fazê-la hesitar um pouco. Mas só um pouco.

– Você parece ter muitas características boas – ela encolheu os


ombros. – Só isso.

Empurrei uma caneca para ela, junto com um pouco de leite e


açúcar.

– Como...?

– Bom, você é alto, por exemplo. Seu perfil dizia que você tinha 1,88

m, mas te vendo pessoalmente, você deve ter pelo menos uns cinco
centímetros a mais.

– Eu custei para crescer – reconheci. – Tive um último estirão de


crescimento.

– E sem querer ser superficial, mas você tem boa aparência – disse
ela sem papas na língua. – Você é forte. Tem boa constituição.

Percebi que ela usou a última frase para me dar uma boa checada.

Seus olhos se demoraram ao percorrer meu peito, meus ombros,


meus braços. E sem nenhum constrangimento.

– Alguma outra coisa além do físico?

Juliana bebeu o café, seus olhos castanho-claro faiscando


perigosamente por sobre a caneca. Ela esperou um momento antes
de falar de novo.
– Sei que você é muito inteligente – continuou ela. – Seu perfil
mencionava que você foi o primeiro da turma. Também dizia que
você era atlético, sociável, artístico.

– Ah, minha fase “artística” – suspirei com ternura. – Eu me lembro


de quando tinha tempo para coisas assim.

– E sei que você é muito, muito querido.

Franzi as sobrancelhas com essa. Não parecia algo que eu


colocaria no meu perfil aos dezenove anos de idade, tentando
ganhar dinheiro rápido.

Mas quem sabia? No vasto panorama da minha vida, tudo isso


parecia ter acontecido mil anos atrás.

– Bom, pelo jeito você considerou tudo com cuidado – disse eu,
finalmente.

– Considerei – respondeu Juliana. – Também já fiz contatei uma


clínica parceira em Phoenix. Se você se dispor a fornecer uma
amostra, eles vão congelá-la criogenicamente e enviá-la para o
banco de esperma de Nova York para mim.

– Phoenix?

– Sim.

Ela já tinha arranjado tudo na cabecinha linda dela. Amarrado todas


as pontas. Exceto uma.

– Vou pensar.

Juliana teve um espasmo visível. Não era o que ela esperava ouvir
em absoluto.

– Pensar?
– Claro – eu disse a ela. – Quer dizer, é uma decisão importante,
não é? Além disso, eu nem te conheço.

– M-Mas você estava disposto a doar sem saber quem iria receber...

– Isso foi há muito tempo, quando eu tinha dezenove anos. Não se


lembra de quando tinha dezenove anos?

Eu ri, e minha risada a irritou. Sua irritação a deixava ainda mais


bonita, e ela empurrou a caneca de café.

– Vamos lá, você tem que admitir que é meio engraçado – eu disse.

Você atravessou o país praticamente com um frasco de coleta.


Antes de eu...

Hã... Realizar o ato –corei –, você tem coragem de se negar a me


deixar te conhecer primeiro?

Minha visita bateu o pé no chão depressa, inquieta, enquanto


tentava se recompor. Após alguns momentos de silêncio incômodo,
eu dei o braço a torcer.

– Onde você está ficando, Juliana?

Ela hesitou alguns segundos antes de responder.

– No Renaissance. No centro.

– Nada mal – eu sorri. – Por que não volta para lá e descansa?

Amanhã eu te levo para almoçar. Aí você me conta de você.

– Amanhã – ela repetiu sem emoção.

– Claro.
– Tá – ela suspirou. – E se tudo correr bem? A gente já vai estar em
Phoenix. Você entende o que quero dizer.

Ela deu um sorrisinho, e até isso foi uma graça. Um minuto depois,
trocamos nossos números de telefone. Dois minutos depois, eu a
acompanhei até o carro.

– Acho que também quero saber mais de você – disse ela antes de
entrar. – Quem é você? E como você veio parar aqui?

Nós nos olhamos em silêncio sob o céu violeta do deserto. As


estrelas estavam começando a aparecer. Logo, logo haveria
dezenas de milhares delas.

– Não sou ninguém – disse a ela com simplicidade. – E este não é


lugar nenhum.

Ela pareceu genuinamente confusa no caminho de pedra, olhando a


casa atrás de mim. Tudo era silêncio. Uma luz brilhante, laranja,
vinha de trás das janelas.

– Devyn, o que exatamente...

– Boa noite, Juliana Emerson de Nova York – eu disse, antes de


virar as costas e me afastar.

Capítulo 9
JULIANA
– Marketing, é? Me conte mais.

O homem que eu conhecia como Devyn Bishop ainda não tinha


tocado na comida. Seus olhos penetrantes – e toda a sua postura,
na realidade – pareciam totalmente fixos em mim, como se me
estudassem ou me avaliassem de um jeito discreto, secreto.

– Bom, eu sempre gostei de comerciais engraçados – expliquei. –

Assim que tive idade de usar uma câmera, comecei a fazer minhas
próprias paródias.

Seu pomo-de-Adão subiu e desceu de forma sensual quando ele


bebericou o drinque. Eu não conseguia parar de olhar para sua boca
linda, perfeita.

– E como você acabou com sua própria empresa?

Deus, ele era gato demais! Eu podia admitir isso agora. Na noite
passada eu me perguntei se não fora apenas minha obsessão de
meses com as fotos que inflara sua óbvia boa aparência a
proporções astronômicas.

Mas aqui no restaurante do meu hotel em Phoenix, com a luz


dourada da tarde beijando seu belo rosto barbado?

Ficou claro que minha paixonite tinha fundamento.

– Aguentei dois semestres na faculdade antes de perceber que


aquilo não era para mim – continuei. – Naquele momento, peguei o
resto das minhas economias e do empréstimo estudantil e decidi
abrir minha própria agência em vez de trabalhar em uma. Investi
tudo num único projeto para

uma empresa de software com potencial que estava tentando lançar


um jogo novo radical.

Devyn se inclinou na cadeira e sorriu.

– Parece arriscado.

– É, pode-se dizer que sim.

– E o que aconteceu?

– Preparei o maior flash mob zumbi do mundo – expliquei com


orgulho – bem no coração de Nova York. Maquiadores profissionais
de verdade. Não poupei nenhum centavo. Mandei zumbis invadirem
provadores em lojas da 5ª Avenida. Zumbis caminhando por
restaurantes chiques...

– Caralho, eu lembro disso! – ele exclamou – Foi você?

Deslizando a ponta do dedo pela borda da taça, fiz que sim com a
cabeça.

– Tinha zumbis nos degraus da Prefeitura! – exclamou Devyn –

Zumbis correndo atrás da gente na escada rolante do metrô!

– Não se esqueça do Central Park – eu disse com orgulho. – Tudo


isso foi o comercial de um jogo novo de tiro em primeira pessoa de
uma empresa de jogos que ninguém conhecia. Esqueça que os
zumbis já estavam batidos na época. Ou que já tinha um milhão de
jogos de tiro em primeira pessoa.

– Aquele comercial foi um estouro – Devyn declarou. – Ele passou


em todos os lugares.
– Não podia ter viralizado mais – concordei. – Só no YouTube
passou de duzentas milhões de visualizações só nas primeiras duas
semanas. E

agora aquela empresa é cliente da casa. Nós atendemos todas as


suas necessidades de marketing, tudo desde design e embalagem
até comerciais de rádio, televisão e, claro, presença on-line.

– Ainda não acredito que foi você – disse ele, sem fôlego. Ele me
olhou de novo, desta vez com outros olhos. – Caralho. Você é
famosa!

– Mais ou menos – concedi. – Minha empresa decolou depois disso.

Comecei a ser chamada de Víbora Viral.

– Víbora Viral – ele repetiu, saboreando as palavras lentamente. –

Bom, você certamente merece. Você mandou bem.

– É – concordei. – Eu dei sorte mesmo.

Devyn franziu o cenho e balançou a cabeça.

– Isso não teve nada a ver com sorte – ele discordou. – Seu
conceito era criativo, e foi você quem teve coragem de implementá-
lo. Foi você quem arriscou tudo numa única ideia, e a ideia deu
certo.

Em silêncio, refleti sobre as palavras dele. Caralho, ele tinha razão?

Eu sempre tive orgulho de ser sortuda, mas agora não sabia mais
se era o caso.

– Isso não é sorte – continuou ele. – Sorte é estar no lugar certo na


hora certa. Você criou o lugar certo. Você criou o momento certo –
ele me cutucou do outro lado da mesa e sorriu. – Isso é talento,
Juliana. Também parece ter sido legal para caramba.
– Filmar foi legal – concordei –, mas a parte difícil veio depois.

– Parte difícil?

– Correr atrás das pessoas para assinarem formulários de


consentimento. Editar cento e sessenta horas de filmagem em
segmentos de um minuto e meio.

– Aff.

– É, ninguém pensa nessa parte. Meus editores são heróis que não
usam capas – encolhi os ombros. – Mas eu fiz tudo sem
consentimento.

Sem contar para ninguém.

– Por isso que as reações são tão realistas – apontou Devyn.

– Verdade – concordei. – Mas eu jamais poderia fazer algo assim


hoje, do jeito que sou grande. Nova York acabaria comigo.

Houve um silêncio e nós dois aproveitamos a oportunidade para


tomar nossos drinques. Devyn me deu aquela escaneada, seu olhar
demorado traindo o fato de que provavelmente ele ainda estava
concentrado na expressão “acabar comigo”.

– Então, estive pensando – disse ele abruptamente – e tenho uma


pergunta para você.

– Manda.

– Como eu vou saber que sou eu que você quer mesmo, e não
outra pessoa?

Coloquei a taça na mesa. Minha expressão rapidamente se tornou


uma de pura surpresa.

– Você está brincando?


– Não, estou falando sério – ele insistiu. – Quero dizer, essa é uma
baita decisão, não acha?

– Sim. E daí?

– Então por que você quer a mim, especificamente? Você poderia


ter escolhido milhares de outros doadores parecidos.

– Mas...

– Eles disseram que minha amostra estava indisponível, não é? Que


foi destruída?

– Sim – respondi. – E o que você está querendo dizer?

– Qualquer pessoa normal teria passado para a segunda ou terceira


opção.

Eu não sabia se ficava puta ou lisonjeada. No fim, soltei uma risada


sarcástica.

– Sim, bem, eu definitivamente não sou uma pessoa normal.

– Verdade – Devyn deu um sorriso largo –, mas talvez você só me


queira porque não pode?

Ele estava querendo me deixar brava, e isso era provavelmente


uma coisa boa. Talvez ele quisesse me ver brava. Raiva é decisão.

Mas nunca gostei de joguinhos.

– Vim de avião até Phoenix, depois dirigi até o meio do deserto –

disse eu – só para te encontrar.

– O que levanta outra questão – ele raciocinou. – Como é que você


me encontrou?

Nós nos encaramos. Meu sorrisinho aumentou.


– Quer saber a verdade?

– A verdade seria ótimo, sim.

– Subornei uma amiga que tem acesso a todas as câmeras de


segurança dos cinco distritos – disse. – Você entrou no sistema ao
visitar Nova York cerca de um ano atrás, para o enterro da sua mãe.

Ele ficou no chão. Pasmo. De queixo caído.

– Sinto muito pela sua mãe, aliás.

– Hã... obrigado.

– Imagine.

Devyn se contraiu involuntariamente. Foi um mar de músculos


atraentes rolando e mexendo sob sua camiseta justa camuflada.

– Você me rastreou – disse ele, por fim. – Você deve querer isso de
verdade.

– É o que estou te dizendo.

Ele me fitou com intensidade, os olhos semicerrados para melhor


me avaliar. Eu queria lhe perguntar mais sobre a sua vida, onde já
fora, o que fizera. Queria saber mais da Marinha, e sobre os lugares
onde ele fora alocado. Pelas poucas informações que Addison
reunira para mim, ele parecia ter levado uma vida bem exótica.

– Certo, vamos lá.

Pulei de pé, esperançosa.

– Sério? Para a clínica parceira?

– Primeiro para a minha casa – respondeu Devyn, tirando um maço


de notas do bolso de trás. Ele deixou algumas na mesa, junto com o
guardanapo.
– Preciso saber o que os outros acham.

Capítulo 10
JULIANA
O caminho até a casa no deserto pareceu bem mais curto desta
vez, talvez por causa da companhia. O Ford Raptor azul-elétrico de
Devyn devorava a estrada com suavidade, levantando uma nuvem
de pó quente atrás de nós. Mas dentro, abrigados no ar
condicionado e bancos de couro, estávamos confortáveis.

No caminho, ele me perguntou sobre Nova York e me disse quantas


coisas tinham mudado desde que deixara a cidade. Ocorreu-me que
talvez eu chegara na cidade na mesma época em que ele saíra. Nós
nos desencontramos por uma questão de meses. Dois navios sem
relação que se cruzam na noite.

Dois navios destinados a um dia fazerem um filho juntos.

Com sorte.

Quando chegamos, o céu estava extraordinariamente escuro, mas a


casa parecia tão cálida e acolhedora quanto no dia anterior. Eu notei
que ela continha ambientes internos e externos integrados, inclusive
átrios e corredores abertos completos com cactos e pedras de
jardim. Caminhos de pedra conectavam diferentes partes da casa,
cujas superfícies de madeira eram aconchegantes e de bom gosto.

Gage nos recebeu à porta – o loiro maravilhoso de cabelo espetado


que eu comera com os olhos no dia anterior – e outro homem
igualmente bonito que não reconheci. Ele tinha o cabelo escuro e
curto e uma mandíbula forte e masculina coberta por uma barba
castanho-claro. Mas o sorriso dele...

Foi o sorriso dele que fez meu coração dar uma pirueta abrasadora.
– Este é o Maverick – Devyn indicou o amigo com a cabeça. – Ele é
o cérebro da nossa operação.

Gage riu com gosto.

– Ele?

– Bom, você que não é – respondeu Devyn.

– Lógico que não – concordou Gage – mas esse aí não é o cérebro


mesmo.

Olhando o amigo de cima a baixo, Gage passou a mão pelo mar de


cabelo espetado, que não se moveu um centímetro.

– Maverick, não é o jeito que você pilota, é a sua atitude – disse


com aspereza, dando um soquinho no peito do amigo. – O inimigo é
perigoso, mas no momento, você é pior. Perigoso e burro.

Devyn e Gage entraram, deixando-me sozinha com o recém-


chegado.

Ele apertou minha mão enquanto virava os olhos para os amigos.

– O que é isso? – eu ri.

– Uma citação do filme Top Gun – Ases Indomáveis – suspirou ele.


Meu nome é Maverick. Sacou?

– Saquei – devolvi o sorriso. – E com esse cabelo loiro espetado, o


Gage parece mesmo o Iceman.

– É um saco – Maverick se desculpou. – Todos esses anos e eles


não param.

Eu o olhei dos pés à cabeça, do peito sarado aos lindos olhos


castanho-esverdeados. Acabei por tocar no par de óculos
espelhados pendurados na gola da camiseta dele.

– Bom, esses óculos aviador também não ajudam – sorri.

Maverick encolheu os ombros.

– Eu sou aviador.

– É – eu ri – isso também não ajuda muito.

Eu o segui para dentro, passando pela cozinha que já conhecia e


sob uma arcada que levava à parte de trás da casa. O corredor se
abria para uma sala de estar espaçosa, equipada com os mais
modernos video games,

televisões de tela plana finíssimas e um bar completo de tirar o


fôlego. De alguma forma, tudo harmonizava com a mesma
arquitetura do deserto, apesar dos sinos e apitos.

– Você joga bilhar? – disse Gage, me entregando um taco.

– Sinuca mata-8, talvez.

– Ótimo – aprovou ele. – Então você está no meu time.

Ele me levou por baixo de outra arcada, onde uma mesa de sinuca
vermelha dominava outro espaço enorme. Havia outros jogos ali –
tudo desde totó a máquinas de pinball, e alguns fliperamas
encostados nas paredes. Não reconheci a maioria, mas por fim
distingui um Ms. Pac-Man parecido com um que eu dominara por
alguns anos na escola.

– Quem são vocês? – eu ri enquanto os outros passavam giz no


taco –

Quero dizer, esse lugar parece a Terra do Nunca de machos alfa na


casa dos 20. Só falta uma quadra de basquete, e talvez um ofurô.
– O ofurô está lá atrás – sorriu Maverick – e a quadra de basquete
vai ficar pronta na semana que vem.

Eu não sabia se ele estava brincando quanto à primeira ou segunda.

Talvez quanto às duas.

– Deve ter sido caro para caramba – notei – trazer isso tudo até o
meio do deserto do Arizona.

Devyn organizou as bolas, apertando-as umas contra as outras com


as pontas dos dedos antes de levantar o triângulo. Ele não
respondeu a nenhuma pergunta.

– E o que vocês fazem da vida, então?

Observei em silêncio quando Gage se inclinou sob a mesa de


sinuca, seus braços grossos e musculosos esticando a camiseta
branca. Havia certamente uma malemolência na postura dele. Uma
autoconfiança quase arrogante na medida certa para ser charmosa.

PÁ!

As bolas de sinuca se espalharam abruptamente em dez direções


diferentes. Vi pelo menos três bolas entrarem em três caçapas
enquanto as que restaram sobre a mesa rolavam até parar.

– Somos militares privados trabalhando sob contrato – disse Gage


sem nem olhar para cima. – Quanto ao que fazemos...

Ele fez a mira, deu uma tacada suave e encaçapou a bola 13 do


outro lado da mesa. Sua expressão era de pura satisfação.

– Somos listradas – ele sorriu para mim.

Olhei rapidamente para Devyn, que parecia estar prestando mais


atenção em mim do que no jogo. Foi a vez dele, depois a minha,
depois a de Maverick, nos revezando. Eles faziam tudo com muita
desenvoltura, e isso não se aplicava só ao jogo. A forma com que
falavam uns com os outros, até seus movimentos – tudo parecia
muito ensaiado, e ainda muito natural.

Tive a sensação de que eles eram uma equipe, de que agiam como
um só. E

estava na cara que isso ia muito além de umas partidinhas de


sinuca.

Alguém colocou uma música, e em algum momento, alguém serviu


um vinho. Enquanto isso, o jogo caminhava. Gage e eu estávamos
ganhando, o que lhe dava moral para zoar os outros sem dó. Já eu
podia relaxar e aproveitar para observar a dinâmica entre eles.

Em certo momento, Devyn esbarrou em mim de brincadeira para me


afastar do caminho e deu um sorrisinho enquanto se inclinava para
dar a tacada. Vi que a corrente de prata finalmente saíra de dentro
da sua blusa. O

pingente era uma plaqueta de identificação militar. Mas não era lisa.
Estava muito longe de estar intacta.

Não, fora violentamente deformada. Talvez até escurecida...

– É você.

Ainda estava calculando se precisaria do fancho para minha


próxima tacada quando de repente eles largaram os tacos. Foi tudo
muito rápido, silencioso, sem explicação. Para a minha decepção, o
trio abandonou a sala em harmonia perfeita.

Que p...

Corri atrás deles, ainda com o taco na mão. Eles atravessaram a


próxima sala, cruzaram um par de portas de vidro e saíram num
enorme pátio de pedra que ligava os dois extremos do quintal.
Deveria estar calor, mas não estava. De alguma forma, o céu ficara
mais escuro, embora ainda fosse o começo da tarde.

– Gente?

Seus olhares se voltaram para cima, fixos no céu. Eles estavam


parecendo membros de um culto sob hipnose coletiva. Ou caça-
fantasmas experientes, sentindo algo que apenas eles podiam
enxergar.

Foi aí que eu ouvi: uma batida lenta, rítmica, em algum lugar à


distância. Ela ficou cada vez mais alta, o ritmo mais rápido, à
medida que a coisa se aproximava da casa. Então, pairando baixo
no ar, eu também pude ver.

Um helicóptero.

Capítulo 11
JULIANA
O helicóptero militar logo baixou, suas hélices gêmeas cortando o ar
em sentidos opostos à medida que manobrava em nossa direção.
Devyn estava com as mãos na cintura. Gage e Maverick protegiam
os olhos com as mãos e fitavam a forma escura no ar.

– Esse aí não tem a base em Luke – ouvi Gage dizer. – É de


Ventura.

Talvez de Los Alamitos.

O barulho ficou mais alto e a forma mais definida à medida que eu a


localizava no céu. Não muito longe, os homens trocavam o peso de
um pé para outro.

– Um Chinook – disse Maverick. Ele bateu no ombro de Devyn. –

Esse é para você. Cem por cento.

Se Devyn ouviu, ele nem piscou. Apenas olhou para frente enquanto
o helicóptero se aproximava. Finalmente o helicóptero girou a
cauda, pairou no ar por um momento, e então virou-se suavemente
antes de aterrissar. As hélices desaceleraram, o ruído dos motores
gêmeos enfraqueceu ao que a máquina zunia até parar.

Os rapazes esticaram os braços ao longo do corpo quando a porta


lateral do helicóptero se abriu. Um homem totalmente uniformizado
saltou para fora e se dirigiu diretamente para Devyn.

– Comandante Bishop!

Devyn bateu continência de volta. Vi Gage e Maverick trocarem uma


nota de vinte dólares por trás das costas.
– O senhor deve me acompanhar imediatamente, por ordem de...

– Nem precisa dizer – interrompeu Devyn, voltando-se para a casa.


Só me dá cinco minutos para pegar o equipamento.

– Te dou três – respondeu o homem com humildade, antes de


adicionar uma palavra – senhor.

O enorme aparato militar fez-me sentir pequena. O helicóptero


Chinook tinha manchas cinza e preto, presumivelmente para se
camuflar no mar. Só que o mar estava bem longe.

– Uma tempestade se aproxima, senhores – disse o homem de


uniforme para Gage e Maverick. – Uma das bravas, pelo mapa
meteorológico.

Todos olhamos juntos para o céu. Não estava mais apenas escuro,
o tempo fechara, nuvens rolavam com violência sobre nós como um
ninho de vespas enfurecido.

– Tempestade de pó? – eu perguntei.

– De areia – disse Maverick. – Uma grandona.

Em menos de dois minutos, Devyn saiu correndo da casa com o que


aparentava ser três mochilas cheias de equipamentos pesados,
parecendo caros. Dois outros homens vieram pegar as coisas para
ele e depois saltaram de volta para dentro do helicóptero. E assim
ele ficou de pé na minha frente, segurando minha mão entre as
suas.

– Eu sinto muito por isso – disse ele com sinceridade na voz. – Eu


gostaria de... É...

– Em outro momento – eu lhe disse –, em outro lugar.


Eu ainda não fazia ideia do que estava acontecendo. Apenas que
ele estava sendo convocado para algo importante. Tão importante
que o exército dos Estados Unidos mandara um Chinook no meio de
uma tempestade de areia para buscá-lo em casa.

Caralho, o que só me fez desejá-lo ainda mais como pai do meu


filho.

Só como pai do seu filho?

– Ei! Júlia!

Virei-me e vi Gage me chamando para entrar em casa. O


helicóptero estava se preparando para decolar.

– Juli ana – eu corrigi enquanto corria. – Ninguém me chama de


Júlia.

– Tá bom – ele piscou. – Vai ser Ju, então.

Virei os olhos, mas com o barulho dos motores enormes ligando era
tarde demais para discutir com ele. Além disso, o loiro alto era gato
demais para discutir com ele.

Em vez disso, nos encolhemos do outro lado da porta vendo a


enorme máquina mergulhar no céu escuro. Ela apontou para oeste,
de onde viera, e voou diretamente para o seio da tempestade.

– Que porra foi essa? –perguntei quando um silêncio relativo se


restabeleceu – O que eles...

– Vamos te contar tudo – disse Maverick, acenando para dentro da


casa, os olhos cheios de preocupação ao olhar para o céu. – Mas
primeiro você precisa nos ajudar a segurar o forte.

Capítulo 12
GAGE
Ela trabalhava rápido, não dá para negar. Melhor ainda, ela entendia
extremamente rápido.

– Me passa aquela vara?

A mulher que aparecera querendo ter um filho com Devyn pegou a


vara de alumínio do suporte na parede e passou-a para mim. Eu a
girei e estiquei até a extensão total, então usei-a para fechar as
claraboias do teto alto.

– Ótimo, fecha aquelas duas também?

Juliana levou a vara para o outro lado da sala e seguiu minhas


instruções. Ela trabalhava com fluidez, virando o fecho da claraboia
com o gancho da vara. O vento já aumentara consideravelmente. Já
o ouvíamos chicoteando as paredes do átrio, que, claro, fecháramos
primeiro.

Maverick entrou correndo na sala na hora em que Juliana terminava.

Ele viu as claraboias e aprovou com a cabeça.

– Os fundos da casa já estão fechados?

– A proteção contra areia já foi baixada, se é o que você está


perguntando – respondi. – Vamos estreá-las agora e ver se elas
funcionam mesmo.

– Elas com certeza vão funcionar para alguma coisa – respondeu


meu amigo –, mas numa tempestade assim, quem sabe?

Passamos os primeiros quinze ou vinte minutos arrastando as


pesadas persianas de plástico e pendurando-as em vários ganchos
de montagem.

Elas eram próprias para selar os ambientes abertos da casa,


impedindo a entrada de pó e areia numa situação como esta.

A tempestade estava terrível – talvez até poderosa demais para as


pesadas cortinas de plástico laminado. Mas por enquanto não
podíamos fazer mais nada. Ou o sistema funcionaria, ou não.

– E agora? – perguntou Juliana.

Achei bonitinho que seu rosto ainda estava corado com o esforço de
correr para nos ajudar a fechar as janelas e trancar as portas. Seus
olhos, iluminados por uma luz interior que os deixavam mais vivos.
Também eram extraordinariamente lindos: a cor castanho-claro do
café com creme.

– Agora? – repeti, sorrindo. – Bom, agora não tem mais nada para
fazer além de esperar a tempestade passar.

Devolvi-lhe a taça de tinto da qual ela estava bebendo. Mas não


antes de enchê-la novamente.

– Ah, eu não diria que não tem nada para fazer – ela sorriu com
malícia ao me agradecer com um aceno da cabeça –, mas vocês
prometeram explicar o que está acontecendo. E isso inclui me dizer
por que Devyn acabou de ser sequestrado por um helicóptero
gigante e assustador.

Ela deu um golinho e eu visualizei o vinho deslizando por sua linda


garganta imaculada. Juliana atravessou a sala com delicadeza e
feminilidade. Por fim, ela se sentou no sofá, cruzando as pernas de
forma sensual.

– Então vocês todos são militares? –perguntou ela com um suspiro.

Maverick me olhou por um momento e confirmou com a cabeça.

– Sim – disse eu –, somos.


– E vocês também são da Marinha, igual ao Devyn?

– SEALs, na verdade – respondeu Maverick, sem afetação. – Nós


frequentamos a academia BUD/S juntos. Fizemos o treinamento em
operações aéreas táticas em San Diego, também.

Os cantos da boca de Juliana se ergueram levemente. Ela pareceu


impressionada.

– Se vocês são Navy SEALs, o que estão fazendo no meio do


deserto?

– perguntou ela – Não deveriam estar viajando o mundo,


completando

missões? Atuando em conflitos? Correndo para o perigo, em vez


de...

– Já fizemos tudo isso – apontou Maverick. – Por mais de dez anos,


já demos muito duro.

Juliana arqueou uma sobrancelha.

– E agora se aposentaram?

– Longe disso – disse eu. – Agora a gente só tem um... contrato


diferente.

Maverick atravessou a sala e se abaixou para pegar umas cervejas


no geladeirinha debaixo do bar. Ele abriu as garrafas e me deu uma.

– Vocês moram aqui com a ressalva de que podem ser convocados


para o trabalho – Juliana arriscou.

Acenei com a cabeça e bebi.

– Isso aí.
– A qualquer momento – continuou ela, apontando para fora – como
o Devyn.

– Igual ao Devyn, sim – respondi. – Mas normalmente não é assim


que rola.

Maverick se sentou do outro lado do sofá, segurando a cerveja nas


duas mãos. Ele estava olhando para nossa convidada tanto quanto
eu. O que quer dizer que estava olhando para valer, para ser
sincero.

– Mas nós temos expertises diferentes – Maverick entrou na


conversa

–, serviços diferentes. Gage e eu fazemos mais reconhecimento,


junto com operações especiais.

– Operações especiais e de vez em quando missões de equipe de


apoio

– adicionei. – Forças conjuntas da SWCC. Vários ramos


participando de...

– Inglês, por favor – sorriu Juliana docemente, levando a taça aos


lábios.

– Certo – suspirei, observando aqueles lábios com atenção. –


Digamos que a Marinha nos manda para algum lugar e a gente
assume dali. Missões noturnas, na maioria das vezes. Resgate de
reféns, também.

Ela bebericou o vinho e balançou a cabeça devagar, olhando para


nós.

A casa rangeu quando o vento começou a uivar mais alto.

– E o meu galante doador de esperma? – perguntou ela, indicando


com a cabeça a direção para a qual o helicóptero Chinook decolara
– O que é tão importante que precisou levá-lo tão depressa?
– A especialidade do Devyn é busca e resgate em águas profundas

respondeu Maverick.

Ela pareceu confusa, então afundei no assento ao lado dela.

– Já ouviu falar do Kursk? – perguntei.

O cabelo dela dançou e brilhou quando ela sacudiu a cabecinha


linda.

– Não.

– Era um submarino russo que realizou um exercício naval no ano


2000 – expliquei. – Alguns torpedos detonaram na proa e ele
afundou no Mar de Barents. Os russos não admitiram a emergência
por vários dias.

Quando finalmente aceitaram ajuda, todas as 118 vidas a bordo já


tinham sido perdidas.

– Que horror.

Sua expressão era sincera.

– Foi mesmo – concordei. – Principalmente porque metade da


tripulação podia ter sobrevivido. É o tipo de situação em que o
Devyn poderia atuar. Ele é um dos melhores mergulhadores de alta
profundidade do mundo, que dirá da Marinha americana – lancei um
rápido olhar para Maverick. – E pode acreditar, ele já viu coisas que
até Deus duvida.

Houve um silvo alto lá fora quando a areia foi arremessada sobre a


proteção plástica contra tempestades. Vi Juliana tremer. A casa
ficara fria de repente.

– Então agora, em algum lugar, alguém está em perigo – murmurou


ela.
– Infelizmente sim – eu disse. – Mas com um pouco de sorte e muita
velocidade... – encolhi os ombros – talvez Devyn faça um milagre.

Maverick leu minha mente e ligou o controle remoto que acionava a


lareira. O gás causou uma onda de calor e barulho, uma cálida
chama azul irrompeu da pedra.

Juliana bebeu o vinho, então se levantou e se aproximou


instintivamente do fogo. Ela se voltou para olhar pela janela, para a

tempestade.

– Nunca vi o céu tão escuro nesta hora do dia – disse ela com
assombro.

– Nem nós – disse Maverick.

– Não vou conseguir sair daqui tão cedo, não é?

– Não – respondi, tampando minha cerveja. – Pelo jeito, você está


presa aqui com a gente.

Juliana deu as costas à fogueira e empinou a bunda, aquecendo-a.


Mas tinha um brilho no olhar dela. Uma satisfação de estar onde
estava, segura dentro de casa conosco, com uma taça de vinho na
mão.

– Ou talvez – ela sugeriu timidamente, ainda naquela pose sexy –

vocês é que estão presos aqui comigo.

Capítulo 13
JULIANA
A primeira hora com os rapazes fora informativa, a segunda,
relaxante. Mas agora, depois de três taças e meia de vinho e a
tempestade rugindo lá fora, eu estava me sentindo maravilhosa.

– Mostra essa.

Maverick apontou para meu braço esquerdo, onde parte de uma das
minhas tatuagens estava aparecendo. Docilmente, enrolei a manga
e a mostrei para ele.

– É uma valquíria, não é?

Ergui os olhos para seu rosto lindo e atencioso e acenei,


impressionada.

– Isso mesmo.

Era uma das minhas tatuagens preferidas: a imagem em preto e


branco de uma viking feroz de capacete alado cruzando o céu.
Interlaçada e espalhando-se pelo meu braço lia-se a palavra
“invencível”.

– Então, pode contar – sorriu Gage.

– Contar o quê?

– A história da tatuagem.

Voltei dançando para o tapete e usei o telefone de Maverick para


mudar a música de novo. Uma música suave e melódica começou a
tocar –
uma das minhas favoritas da Natalie Imbruglia. Até então, eu que
estava escolhendo a música e os caras pareciam não se importar.

– Não tem muita história – disse eu, finalmente voltando o rosto para
eles. – Fiz vinte e nove anos alguns meses atrás. Passei por uma
certa crise dos trinta.

– Você, Ju? – perguntou Gage – Sério?

Desconsiderei a brincadeira dele de me chamar pelo apelido.

– Por quê, surpreso?

O SEAL loiro encolheu os ombros enormes.

– É a sua postura, acho que não consigo te imaginar atravessando


uma crise.

Sorri para ele por alguns momentos, deixando meu corpo balançar
lentamente ao ritmo da música. Era uma puta música boa.

– E quem disse que eu entreguei os pontos? – respondi finalmente.

Dei um tapinha na valquíria. – Isso foi mais no sentido de... abraçar


a crise.

– É a sua única tatuagem? – perguntou Maverick.

Meus olhos se voltaram para ele, curtindo a visão de seu corpo


lindo, sarado, tão descuidadamente espalhado no sofá. Sem nem
pensar, pisquei para ele.

– Talvez.

A tempestade viera, rugira e se fora, mas a lembrança dela não


deixava minha cabeça. Fora muito violento. Quase vingativo. Mas
na sala aquecida pela lareira e com música tocando ao fundo, estive
muito à vontade.
Mais que à vontade, na real, cercada por dois salvadores
musculosos e sedutores me servindo vinho sem parar.

Com toda a sinceridade, estive devorando-os com os olhos tanto


quanto eles a mim. Eles eram mais que lindos e, como descobri,
também uma ótima companhia. Encorajei a paquera e as
insinuações a noite toda, às vezes até tomando a iniciativa.

Fiquei me lembrando de que eu devia me sentir mal por ainda ali, ou


até culpada. Por sorte, não me senti nem uma coisa nem outra.

Na verdade, até o oposto.

– Verdade – disse Gage abruptamente.

Eu me virei para encará-lo.

–Vai lá.

Um joguinho que começáramos antes mesmo da tempestade


chegar.

Meio como verdade ou desafio, mas sem desafio. Pelo menos até o
momento. Usamos o jogo para quebrar o gelo. Para nos
conhecermos num ambiente sem enrolação, sem mentiras.

– Sua pequena crise dos 30 tem alguma coisa a ver com querer um
filho?

Pausei, tomando um gole de vinho para criar coragem. Várias


respostas vieram à cabeça. Metade delas, mentira. Todas elas, na
defensiva.

– Sim – disse finalmente, surpreendendo-me com a verdade simples


da resposta.

A música passou para outra do mesmo álbum. Ainda dançando


descalça, cheguei mais perto do fogo.
– Compreensível – concedeu Maverick.

– Vocês acham mesmo? – disse em tom de desafio – Não acham


besteira, ou mesmo irresponsabilidade trazer uma vida para este
mundo louco? Pelo menos sem o benefício de um pai e uma mãe,
ou sem...

– Não – disse Gage abruptamente, se levantando. – Na verdade,


não.

Ele me olhou com seus grandes olhos azuis e sua expressão


suavizou.

Havia empatia ali. Empatia e compreensão.

– Você tem que entender que estivemos fora do ar na última década


disse ele com delicadeza. – Nenhum de nós teve tempo de dar a


devida atenção às nossas famílias, muito menos de pensar em
formar uma.

– Mas pensaram? – perguntei, genuinamente surpresa.

Os dois homens se entreolharam – algo que faziam muito – e deram


de ombros em sincronia.

– Recentemente, sim – disse Maverick com simplicidade. – Não é


como se nunca pensássemos nisso.

– Beleza, então, verdade – disse eu, sabendo que os dois teriam


que responder. Gage deu um sorrisinho.

– Manda.

– Vocês ficariam com inveja se o Devyn me engravidasse?

Fiquei surpresa com a demora da resposta. Por longos segundos,


achei que não responderiam.
– Na verdade, não – finalmente Maverick disse. – Você não está
buscando um pai, está buscando um doador. É diferente.

Gage coçou o queixo enquanto concordava com a cabeça.

– Seria como se ele não tivesse filho, exceto biologicamente –

respondeu ele. – Então não teria do que ter inveja.

Eles estavam de pé neste momento e se aproximaram juntos da


lareira.

O cheiro deles era incrível – almíscar e sal e um leve suor, como


todos os homens deveriam cheirar. Enquanto terminavam as
cervejas, fiquei extremamente consciente da proximidade dos
corpos deles do meu.

– Por que não podem ter namorada? – perguntei abruptamente.

Juntos, eles balançaram a cabeça.

– Não dá tempo.

– Isso não pode ser verdade – franzi o cenho. – É óbvio que vocês
têm tempo. Quer dizer, vocês estão aqui, não estão?

– Por enquanto – reconheceu Maverick.

– Mas...

– Já tentou explicar para a sua namorada que você foi convocado


por três, seis, nove meses do nada? – murmurou Gage – Não poder
falar com ela por semanas seguidas e ainda esperar que ela esteja
te esperando quando você voltar?

Franzi o cenho de novo, imaginando o cenário. Enquanto isso, todas


as terminações nervosas do meu corpo pareceram acordar.

– Parece solitário – eu disse, por fim.


– É solitário – respondeu Maverick. – Principalmente a parte de
voltar para uma casa vazia.

Olhamos para o fogo por mais tempo, deixando o corpo absorver o


calor. Eu me senti aquecida. Aconchegante. Finalmente, os rapazes
esvaziaram as garrafas e as colocaram no tapete.

– E você? – perguntou Gage – Por que um nova-iorquino esperto


ainda não...

– Pela mesma razão que vocês – cortei. – Não... tenho tempo.

Senti um arrepio quando um braço me enlaçou e uma mão agarrou


a minha. Antes que eu me desse conta, eu estava balançando ao
ritmo da música de novo, mas dessa vez, conduzida por Gage.

– Sem tempo, é? – murmurou ele enterrando o nariz no meu cabelo.

A música era perfeita. A sensação dele contra mim, ainda mais.

– Não – eu praticamente me engasguei. – Nenhum.

Estava para me entregar ao prazer de dançar quando outro corpo


deslizou por trás de mim, encostando-se a mim suavemente.
Maverick apoiou o queixo no meu ombro, sua barba fazendo
cócegas na minha pele.

Seus lábios a milímetros da minha orelha.

– Então você também conhece a solidão?

Tive outro arrepio ao dançarmos juntos, nós três, balançando


suavemente por toda a sala. Os dois seguravam minha mão, agora.
Colada firmemente e de bom grado ao lindo peito de Gage, com o
corpo de Maverick me envolvendo por trás.

– Sim – eu disse, por fim. – A solidão e eu somos velhas amigas.


A sensação da barba de Maverick desapareceu, sendo substituída
por um par de lábios quentes no meu pescoço. Ele me beijou por
trás, um beijo quente e molhado. Meu corpo explodiu de felicidade,
mesmo enquanto uma vozinha gritava lá no fundo da minha mente:

Juliana!

Não havia tempo para pensar, para resistir. Não que eu pudesse, de
qualquer forma. Principalmente quando um segundo par de lábios
colou-se aos meus, e a língua quente de Gage entrou na minha
boca...

Cacete!

Essa língua girou e brincou, deslizando com desenvoltura e


maravilhosamente contra a minha. Em menos de um segundo, eu
correspondi. Pressionando minha boca arfante contra a dele, agarrei
seus braços e puxei seu corpo com ainda mais força contra o meu.

Meu DEUS.

Um volume perceptível pressionava a base da minha coluna e em


menos de um segundo eu soube o que era. As mãos de Maverick
me enlaçavam por trás. Elas cobriram meus peitos, levantando-os
com delicadeza. Fazendo-me ofegar contra a doce boca aberta de
Gage, quando os dedos de Maverick se abriram e seus polegares
desenharam círculos por cima da minha blusa, contornando minhas
auréolas.

Suspirei, contorcendo-me para trás contra algo que eu não provava


há tanto tempo. Usei uma das mãos para apertar o bíceps de Gage,
maravilhada com sua dureza, enquanto esticava a outra para puxar
Maverick.

Sim.

Minha mão agarrou uma bundinha muito dura, extremamente bem


formada. Cravei as unhas nela...
É isso que você quer mesmo?

Porra, sério? Estava em voto de castidade involuntário há mil anos!

Total e completamente sem alívio, exceto por algum prazer limitado


que eu conseguia proporcionar a mim mesma algumas vezes por
semana antes de dormir.

No momento eu estava presa no Arizona, de todos os lugares, em


uma missão que já tinha falhado. Detida por uma tempestade
violenta. Forçada a me entocar numa elegante, e ainda assim,
aconchegante casa no deserto com dois SEALs deliciosos e uma
garrafa de vinho para me fazer companhia.

Dois SEALs que estavam me beijando até um transe molhado,


maravilhoso... enquanto suas quatro mãos grandes começavam a
percorrer meu corpo sedento.

Caraaaaamba...

– Por favor digam que têm uma cama grande o bastante para isso?

Murmurei, me afastando para olhar os dois nos olhos.

Minhas mãos subiram para suas nucas, sumindo por trás de seus
pescoços quentes e masculinos. Abrindo os dedos, passei as unhas
pintadas sensual e carinhosamente por seus cabelos.

– Humm... – Maverick riu docemente. Ele me fitava com olhos


semicerrados. Sua voz estava ofegante e entrecortada de desejo.

Já o sorriso safado de Gage ia de orelha à orelha.

– Vem cá em cima e descobre – disse o loiro com voz gutural, me


erguendo com facilidade sobre um de seus ombros largos.

Capítulo 14
JULIANA
O quarto subindo as escadas estava quente e à meia-luz e era
muito aconchegante. A cama king size estava coberta por um
edredom branco e almofadado de plumas macias.

Mas eu custei vários minutos para descobrir isso. Porque os caras


me seguraram de pé para me despir, me beijando inteira enquanto
lentamente removiam as roupas do meu corpo trêmulo. Arqueei as
costas quando minha blusa caiu no chão e duas mãos quentes
taparam meus seios expostos. Eles me devoraram por um longo
tempo, sentindo todo o meu corpo, se revezando para puxar a fina e
delicada tira da minha calcinha de cetim, que já estava tão
encharcada que daria para torcê-la.

Puta.

Merda.

Eu faria qualquer coisa por eles. Eu tive certeza disso na hora que
Gabe baixou minha calcinha, parando só para enterrar seu lindo
rosto entre minhas pernas e respirar fundo.

– Põe ela na cama.

Aconteceu quase sem que eu percebesse o movimento, quase


instantaneamente. Em um segundo eu estava de pé tremendo de
desejo, agarrada ao peito de Maverick, e no outro fora suspensa e
de alguma forma depositada com cuidado bem no meio daquela
cama enorme, sentindo por um momento o frio do edredom contra
as costas.

Queria fechar os olhos. Só relaxar e curtir a aventura épica prestes


a acontecer. Mas ainda mais, queria ver. Precisava testemunhar
todos os

detalhes da noite, porque talvez nunca mais vivesse outra assim.

Dois caras e eu.

Era uma fantasia. Um sonho louco, ridículo, que eu sempre


imaginara e pensara se um dia aconteceria ou não. Houve
momentos na minha vida adulta em que pensei que poderia realizá-
lo, mas já tinha estabelecido regras demais na cabeça. Por
exemplo, não podia ser com ninguém que eu conhecesse. Não com
amigos, nem com ex-namorados. Tinha que ser com estranhos para
dar certo. Mas não completos estranhos, também.

Não, eu precisava de dois homens em que eu tivesse confiança o


suficiente para ficar à vontade. Dois homens que tomassem as
rédeas, mas ainda me deixassem com alguma sensação de
controle. Eles tinham que ser fortes, lindos, poderosos. O tipo de
homens que me possuiriam de todas as formas que já sonhei
enquanto me davam a oportunidade de usá-los também.

Tinha que acontecer em algum lugar longe, onde ninguém me


conhecia. Com parceiros tão discretos que eu conseguiria me
permitir, mental e fisicamente, e nunca precisar me preocupar com o
que os outros pensariam de mim depois de realizar a fantasia.

E de alguma forma, ali estava eu com todos os planetas alinhados,


presa no lugar perfeito no momento perfeito. Ergui-me nos cotovelos
observando dois dos homens mais lindos e sarados que já vira
tirarem a roupa, um de cada lado. Eles o fizeram devagar,
sensualmente, expondo cada centímetro da pele. Permitindo-me
desfrutar a cena quando tiraram a cueca boxer e dois paus grossos
desconhecidos se ergueram maravilhosamente à plena vista.

Uau...

Eles não tiraram os olhos do meu corpo nu quando se aproximaram


da cama. Deixei escapar uma respiração entrecortada quando se
juntaram a mim na superfície macia do edredom de plumas,
deslizando as mãos de volta para as minhas pernas e abrindo-as
bem.

Oh UAU.

Gage chegou ao meio das minhas pernas aos empurrões, então


baixou os lábios para beijar minha barriga. Ele passou a língua por
toda a minha barriga, circulando o meu umbigo e continuando
plantando beijos cada vez mais doces até o púbis.

– Ei...

Eu me virei e lá estava Maverick, segurando meu rosto em sua mão


grande. A linha forte de sua mandíbula era sexy para caralho. Sua
barba de três dias, inacreditavelmente atraente.

– Tudo bem?

Acenei sonhadoramente e ele cobriu minha boca com a dele,


matando a sede nos meus lábios e inalando minhas respirações
aquecidas. Ele me beijou mais e mais, deixando a palma da outra
mão descer até meu peito, meus seios, minha barriga e seus
espasmos. Ele não parou até chegar ao topo do monte coberto de
mel, onde dois dedos esbarraram na ponta do meu clitóris me dando
um choque elétrico.

Ohhhhh…

E aí ele começou a me esfregar. A me beijar. Devorando minha


boca com a dele, enquanto as mãos do seu amigo abriam ainda
mais as minhas pernas. A língua de Gage percorria de leve a parte
interior das minhas coxas. Ele enfiara a língua dentro de mim agora,
fazendo-me exclamar de felicidade e surpresa e um êxtase quase
instantâneo.

Meu D...
Era completamente avassalador ser beijada e chupada ao mesmo
tempo. Eu me forcei a relaxar e deixar meu corpo se convulsionar
com alegria contra a língua vagante de Gage, enquanto me
agarrava com unhas e dentes a Maverick. Eu retribuí seus beijos
com total abandono luxurioso, para que ele soubesse o quanto eu
queria e precisava do que estava para acontecer. Lá embaixo, seus
dedos me abriram como uma florzinha rosa.

Trabalhando em conjunto, ele deu ao amigo ainda mais acesso ao


mundo quente e molhado entre as minhas pernas.

– MMMmmmMMMmmm…

Soltei um gemido entrecortado, sem nem ligar como soou. Tudo que
me importava eram as duas bocas quentes fazendo mágica. Outro
par de dedos – dessa vez de Gage – entraram com prazer quase
doloroso dentro de mim, junto com sua língua. Entraram e saíram
num ritmo escorregadio e azeitado, fazendo eu jogar a cabeça para
trás ao pressionarem delicadamente meu ponto G.

CARALHO!

Eu já estava quase gozando. Inesperadamente quase me rendendo


e encerrando o tormento crescente do meu primeiro orgasmo real
em tantos longos meses.

– Solta.

Maverick sorriu contra meus lábios, os olhos castanho-esverdeados


se abrindo bem ao avaliar o meu dilema. Ele sabia exatamente o
que estava acontecendo. Com os dedos abertos sobre a parte de
baixo da minha barriga pulsante, ele sentia como eu estava quase
lá.

– Tudo bem – ele me beijou –, deixa vir.

Nossos olhos se encontraram e por uns poucos segundos


magníficos formaram uma ligação tão visceral, tão íntima, que era
como se nossas almas tivessem se tocado. Meu corpo inteiro se
enrijeceu de uma vez.

Minha boca se abriu num “O” perfeito ao mesmo tempo em que


meus dedos do pé se contraíam.

Então eu gritava como uma assombração, gozando e encharcando


a boca talentosa do Gage e o vai e vem dos seus dedos.

Caceeeeete!

Meu orgasmo podia entrar no Livro dos Recordes, e não só pela


duração. A intensidade fora potencializada pelo lugar onde eu
estava, com quem eu estava e, claro, pelo que eu estava fazendo.
Tudo isso me fez sentir completamente liberada, inundando a língua
de Gage com um jorro quente de néctar doce enquanto eu agarrava
sua cabeça com as duas mãos e tinha espasmo atrás de espasmo
contra seu lindo rosto de cabelo loiro.

Era vida. Amor. Terra e Céu. Tudo e qualquer coisa de uma vez
envoltos na pura e brilhante luz do êxtase incandescente. Eu gritei e
me contorci e gritei contra a maciez daquela cama gostosa
enquanto Gage continuava me chupando e Maverick continuava me
comendo com a mão, e os dois juntos me segurando. Os dedos de
Gage finalmente deixaram meu canal estremecente e num momento
de paixão, os colocou dentro da minha boca sedenta para que eu
também pudesse sentir o sabor.

Ohhhh…

Eles me deram um momento para eu me recuperar, me beijando e


me acariciando suavemente enquanto eu baixava das nuvens. Mas
havia tanta luxúria em seus olhos... Uma excitação contida quase
animalesca na forma

com que me olhavam agora, deitados um de cada lado sobre os


lençóis molhados de sexo.
Baixei as mãos para apalpá-los pela primeira vez, fechando os
dedos em volta do que pareceu uma grossura dupla. A sensação
deles era espetacular. Eram homens grandes, com corpos grandes
e poderosos. Era lógico que também seriam grandes onde
realmente importava.

– Escolhe um – riu Gage, com a boca na minha orelha.

Dei uma apertadinha nele com a mão, depois fiz o mesmo com seu
amigo. Batendo os dois ao mesmo tempo, fiz uma prece silenciosa
de gratidão a seja lá quem for que a ouvisse.

– Os dois – suspirei contente, abrindo as pernas.

Capítulo 15
MAVERICK
Ela era perfeita em todos os sentidos. Rosto perfeito, bunda perfeita.

Atitude perfeitamente incrível também, quando riu timidamente e


abriu as coxas maravilhosas para mim e meu amigo.

Eu e meu amigo...

Era inacreditável estarmos fazendo isso, principalmente sendo a


única coisa que nunca fizéramos juntos. Gage e eu
compartilháramos tanta coisa no curso de nossas vidas. Devyn
também. Arrastamo-nos por lama congelada e nos abraçamos para
nos aquecer na umidade e no breu de uma caverna. Por cinco dias
sofremos de malária na selva do Panamá, delirando ao ponto da
loucura e compartilhando um único cantil de água.

Mas ao mesmo tempo, isso também era totalmente plausível. Não


só porque a mulher nua e exótica jogada na nossa cama era
absolutamente maravilhosa, mas porque sempre atuamos como um
time, trabalhando juntos em tantas, tantas coisas.

Nesse aspecto, jogar juntos contra ela parecia natural.

Agi antes de Gage, agarrando seu tornozelo lindo e deslizando para


o meio de suas pernas esticadas. Juliana estava no cio, o peito
ainda arfante da enormidade de seu clímax. Seus lábios estavam
cheios, seu rosto, corado e lindo. O ar do quarto estava totalmente
impregnado por seu delicioso aroma.

– Pega leve comigo – ela sussurrou quando atravessei suas dobras


quentes e molhadas com a cabeça do meu membro viril – por favor.

– Pegar leve? – escarneci – Quer que eu pegue leve mesmo?


– No começo, sim – ela devolveu o sorrisinho. – Já tem... é... um
tempo que não faço isso.

Entrei, e nós dois nos olhamos quando eu a parti como uma flor.

Quando meus primeiros centímetros desapareceram dentro dela,


ela mordeu o lábio.

– Você é grande, também – disse ela, ofegante. – E eu sou


pequena. E

não ajuda que...

A frase acabou num gemido quando avancei, mergulhando ainda


mais fundo dentro dela. Meu Deus, que gostosa ela era! Quentinha
e molhada e indescritivelmente ardente, principalmente com as
pernas em volta do meu tronco como se tivessem vida própria.

– Porra... – ela xingou, mas era um xingamento bom. – Que... Que...

Coloquei devagar, mas sem parar, puxando suas pernas por sobre
meus ombros. Finalmente eu atingira o fundo. Nossos olhos se
encontraram e uma conexão foi formada: éramos amantes agora,
completa e irrevocavelmente. Minha vara latejante estava apertada
dentro de Juliana, enterrada fundo dentro dela.

– Meu Deus, Maverick.

Dava para ver que com ela era necessário se acostumar, pelo
menos eu precisaria me acostumar. Por isso fui devagar, entrando e
saindo com estocadas longas e profundas. Precisei de toda a minha
força de vontade para me controlar, mas de alguma forma me
obriguei a manter o ritmo, quando tudo que eu queria fazer na
verdade era prender aquelas pernas flexíveis com os braços e meter
com força até perder a consciência de mim.

Inclinei-me para beijá-la, esmagando seus peitos lindos com o meu


peito. A boca de Juliana era quente e ávida. Eu sentia sua ânsia,
sentia o sabor de sua doçura na própria língua dela. Mas essa boca
foi tirada de mim quando Gage a guiou em sua direção. Nós nos
revezamos, passando seus lábios de um para o outro. Beijando-a
em meio a seus gemidos e suspiros, enquanto eu a fodia até o
fundo, devagar, seu corpo sendo passado entre nós num ritmo
perfeito, sensual.

Que porra estamos fazendo?

Com certeza havia mil razões para não estarmos os três aqui e
agora –

e justo na cama de Devyn! Naquela hora, contudo, não consegui me

lembrar de nenhuma. A linda mulher se contorcendo sob mim queria


tanto quanto nós, talvez ainda mais. Havia fome nos olhos dela. Um
desespero chamejante na forma em que ela agarrava nossos
braços, nossas pernas, nossos ombros...

Não, Juliana também precisava disso, exatamente da mesma forma


pervertida, animal, que eu e Gage precisávamos. Acontecera de
forma demasiado natural, demasiado orgânica para ser um erro. A
intensidade mútua do que estávamos fazendo era inevitável.

– Mmmm…

Apoiei-me em minhas pernas para possuí-la com mais eficiência,


indo mais rápido e mais fundo a cada estocada. Quando olhei para
baixo de novo, a cabeça de Juliana pendia para um lado. Ela
fechara os lábios em torno do pau de Gage e o chupava, e a vista
daquele pequeno ato por alguma razão me deixou ainda mais
excitado.

Uau, olha só para ela...

Ela o segurava em uma mão, e Gage estava com os cinco dedos


grossos enrolados no cabelo dela. Eles se moviam juntos, com
Juliana levando-o para o fundo da linda garganta. Sua cabeça se
movia com fome para cima e para baixo ao ritmo das estocadas,
hipnotizando-me até o aturdimento.

Surreal!

Era o mesmo que assistir a uma performance de sexo ao vivo.

Testemunhar algo safado e proibido e tabu, mas também participar


disso.

Juliana se virou de lado. Eu passei uma perna gostosa diante de


meus olhos e continuei metendo. Ela se levantou sobre o cotovelo e
continuou chupando o meu amigo, enquanto Gage segurava seu
cabelo para liberar para nós aquela visão deliciosa.

Devyn.

O terceiro membro do nosso trio assaltou minha mente, mas só por


um segundo. Da minha parte não havia nenhuma culpa, nenhuma
preocupação. Eu sabia que se nosso amigo não tivesse sido
chamado ele estaria exatamente onde eu estava, cravado até as
bolas nessa linda criatura contorcente. Devyn era nosso
companheiro, nosso parceiro de armas. Nós compartilhávamos tudo
e sempre compartilharíamos; só nós três, nós contra o mundo.

Até algo assim – por mais louco que parecesse – não seria exceção.

Chegando ao pico da excitação, fiquei fixado no rebater da bunda


perfeita de Juliana. Ela estava muito apertada agora, e a fricção
estava me enlouquecendo. Queria muito cravar as mãos bem
naquela bunda, bem na curva de seus quadris femininos. Cravar os
dedos naquela carne quente, maleável, metendo sem ligar para
nada até finalmente explodir, fundo, fundo dentro dela.

– Troca.

A voz de Gage foi música para meus ouvidos. Se ele não tivesse
dito nada, quem sabe o que teria acontecido.
Capítulo 16
JULIANA
Eu flutuava no delírio de ser possuída pelas duas extremidades.

Embriagada pelo puro fascínio de ser possuída por dois homens ao


mesmo tempo. E não dois homens quaisquer, mas dois Navy SEALs
sarados no auge da forma e da resistência física.

– Troca.

A própria palavra soou deliciosamente suja, principalmente naquele


contexto. Significava que eles iam trocar de lugar. Que o homem
que eu estava lambendo e chupando com toda a minha expertise
iria para trás de mim, levantaria meus quadris com suas mãos fortes
e entraria no lugar quente e molhado que seu amigo tinha acabado
de deixar.

SIM.

Por mais depravado que pareça, eu mal podia esperar.

Chamar a experiência de incrível parece um eufemismo grotesco,


mas foi exatamente isso. Eu fora beijada em dobro até virar
literalmente uma poça. Masturbada e devorada e agora comida tão
profundamente e com tanta beleza que quase despedacei o
edredom com os punhos até ele explodir num mar de plumas.

Fiz a Torre Eiffel para um lado e para o outro entre dois corpos rijos
e meus dedos percorreram com prazer cada músculo e curva de
tirar o fôlego.

Tanto Gage quanto Maverick eram armas de combate, cada um


construído pela a formação militar e talhados até trincar. Mas eram
armas diferentes, de estilos diferentes. Maverick era mais baixo e
mais largo, seu peito e ombros crescidos de força bruta e poder.
Gage, por outro lado, era alto e

imponente, com braços longos e bem formados que exibiam bíceps


e tríceps de granito.

Juntos, trabalhavam em equipe, entregando prazer em qualquer


extremidade do meu corpo. Eu queria abrir as pernas mais e mais.
Eu queria eles cada vez mais fundo garganta abaixo, ou bem dentro
de mim...

– Caralhooo.

Gage disse como um xingamento, quando guiou o pau para dentro


de mim por trás. Meu Deus, dava para sentir como ele era grande!
Talvez até mais grosso que Maverick, o que é muita coisa.

– Caramba. Ela é quentinha para caralho.

Gemi e tremi quando ele colocou, inclinando-se sobre as minhas


costas para deixar o peso de seu corpo o conduzir por toda a minha
extensão. Ele ficou parado dentro de mim só por um segundo,
curtindo o momento. Erguendo-me com um braço enlaçado na
minha cintura, ele puxou minha cabeça com a outra mão para cobrir
minha boca com a dele.

Mmmmm… sim.

Eu devolvi seu beijo com paixão, sentindo o meu sabor em sua


língua.

Saboreando o prazer de senti-lo tão dentro de mim enquanto me


extasiava com a sensação da boca dele na minha. Ele me comia de
forma diferente de Maverick, mas em tantos sentidos, ainda do
mesmo jeito. Mais tarde seria divertido focar na comparação. Mas
por enquanto...
Por enquanto eu buscava Maverick para mostrar-lhe o que seu
amigo já experimentara. Olhei nos olhos dele enquanto lambia sua
vara brilhante, gemendo ao ritmo das estocadas de Gage. Ele tinha
um jeito de mover os quadris num lindo, apertado círculo no fim de
cada estocada, eu adorei a sensação das mãos dele na minha
bunda.

Tão forte. Tão imponente.

De novo e de novo eles trocaram de lugar, cada homem assumindo


seu posto com avidez no meio das minhas pernas. Eles me viraram
de barriga para cima. Me viraram de barriga para baixo. Um pegou
meus tornozelos, abrindo bem minhas pernas, me segurando contra
seu corpo teso para que o outro tivesse o devido acesso para me
foder física e emocionalmente até o talo.

E, graças a Deus, foi assim de novo, de novo, e de novo.

Fui inclinada sobre a cama e levei com força por trás. Jogada contra
a parede e comida de pé, cara a cara, beijando, acariciando e
gemendo o tempo todo.

Em certo momento, Gage me levantou por trás, com os braços


compridos sob meus joelhos e me carregando no ar contra o peito.
Eu estava de braços e pernas abertos. Totalmente indefesa e
aberta...

– Mete.

Ele grunhiu para Maverick, que veio com tudo e colocou em mim.
Era a altura perfeita. A posição mais incrível imaginável. Fui
carregada como se não pesasse nada, com as costas arqueadas,
as pernas abertas enquanto Maverick metia de novo e de novo, me
comendo com força e rapidez e Gage mordia meu ombro. Ele
sussurrava no meu ouvido enquanto seu amigo me fodia. Coisas
sujas. Coisas safadas. Mas, também, coisas inimaginavelmente
sensuais que eles planejavam fazer comigo e que me derreteram na
hora.
Ele me disse quantas vezes iam me comer naquela noite, e como
planejavam continuar até eu desmaiar de prazer. Aninhada entre os
dois, com um corpo rijo na minha frente e outro atrás, explodi
novamente. Meu clímax foi forte, quase violento na intensidade,
pulsando e apertando o membro potente que me estocava no fundo
do ventre. Meu orgasmo deve ter provocado o dele, porque de
repente Maverick gemia e grunhia e me apertava com força contra
seu membro totalmente dentro de mim.

– NNNNGHHH…

O barulho que ele fez foi sexy, lindo, animalesco. Ele baixou o rosto
e eu o apertei contra os seios enquanto ele bombeava até me
encher, seu membro pulsando e puxando dentro de mim ao
descarregar até o último mililitro da quente semente da vida.

CARALHO, Juliana!

Esse homem incrível, maravilhoso acabara de gozar dentro. Tanto


que dava para senti-lo escorrendo nas minhas coxas. Tudo foi muito
louco, abrir as pernas para esses caras que eu mal conhecia!
Entregar-me completamente a eles de todas as formas que eles
quiseram, para fazer o que quisessem com o meu corpo.

Mas sob toda essa falsa indignação, eu sabia que eu amara. Eu


com certeza amara foder com eles. Eu amei o jeito que eles se
encarregaram de

mim, agindo sem trocar palavras e em conjunto. Imaginei que fora


como uma missão em equipe para eles. Havia alguma comunicação
silenciosa entre esses homens, construída nos longos anos
treinando juntos, combatendo e Deus sabe o que mais.

Finalmente Maverick se afastou e nós três olhamos para o seu


trabalho. Ainda estava segura por Gage. Os músculos dos seus
braços estavam deliciosamente esticados, até que ele me colocou
de volta na cama.
– Vem cá.

Estendi os braços, mexendo os dedos e abrindo as pernas ainda


mais para convidá-lo. Não precisei esperar muito tempo. O SEAL
alto se enganchou em mim num instante, mergulhando até o final da
minha cálida essência encharcada de sêmen.

Você está louca.

Sim, talvez. Ou talvez só estivesse aproveitando uma fantasia da


vida toda enquanto encerrava uma seca épica. O que foi que Aric
dissera sobre molhar o biscoito? Abrir os Portões de Mordor?

Caralho, eu abrira metendo o pé na porta.

Capítulo 17
JULIANA
– Aqui, mata.

Os músculos do braço de Maverick se flexionaram sob a pele


bronzeada quando ele raspou o resto dos ovos para o meu prato.
Meus olhos não puderam deixar de filmar a bunda dele quando ele
se dirigiu até a pia.

A forma perfeita de bolha se movia sob o fino calção de malha


enquanto ele passava água quente com sabão na panela.

Não podia acreditar que era a mesma bunda que eu apertara com
tanta força nas mãos, com seu corpo metido entre minhas pernas.
Devia ter marcas de unhas naquela bunda agora, que eu que
deixara. Estava decidida a descobrir antes de ir embora.

– E o governo deixa vocês aqui mesmo – continuei – como parte do


contrato?

Gage balançou a cabeça sobre a caneca de café.

– Nós que viemos para cá – ele me corrigiu. – O Tio Sam nos


subsidia de algumas formas como parte do contrato. Mas esta casa
é nossa. As coisas são nossas.

– A maioria, pelo menos – respondeu Maverick.

Eu o vi olhar pela janela por cima do ombro. A 45 metros da casa


estava uma forma enorme e familiar coberta de lona cor de areia. Eu
reparara quando Maverick fora dar uma olhada nela na noite
anterior, logo antes da tempestade.

– Aquilo é um helicóptero, não é?


Ele se virou e se inclinou sobre o balcão, sorrindo.– Nada mal.

– Tecnicamente, é um helicóptero de ataque – disse Gage, pondo a


caneca na mesa. Ele colocou mais um pedaço de bacon na boca,
despreocupadamente – Já que estamos sendo sinceros.

– Vocês têm um helicóptero de ataque estacionado em casa? –


disse eu.

– Um Aérospatiale Gazelle, isso – disse Maverick, sua expressão


assumindo rapidamente um ar orgulhoso. – Descomissionado, é
claro. É

francês.

– Eu nem sabia que se podia ter um helicóptero de ataque


descomissionado.

– Bom, tecnicamente não se pode – ele sorriu com os lábios


fechados

–, mas é parte do nosso contrato.

Balancei a cabeça, impressionada. Não só com tudo à minha volta,


mas com todas as coisas incríveis que eles me contaram. Na
verdade, fora uma baita manhã. Começando comigo sendo
acordada por uma quarta ou quem sabe quinta rodada de amor,
dependendo da forma de contar.

– Parece que esse é um puta contrato – disse eu, terminando de


comer os ovos. – Quero saber mais.

Eles se olharam, e então olharam para mim.

– Desculpa, não podemos.

Eu ri.

– Jura?
– É sério – confirmou Maverick. – Você já sabe mais que qualquer
outra pessoa. Se te contássemos mais, teríamos que...

– Me matar e me enterrar no deserto?

Sorri da minha própria piada, enquanto apontava para fora com o


garfo. Por trás da janela, além da parede exterior da propriedade
aparentemente militarizada, o deserto se estendia infinitamente até
o horizonte distante.

– Eu ia dizer te embebedar até você esquecer tudo que dissemos –

disse Maverick. – Faz menos sujeira e não teríamos que te enterrar.

– Ah, mas vocês sabem enterrar – eu disse, e não estava falando


exatamente de pás. – Pode crer.

– Já tentou cavar por aí? – protestou Gage – Não é só areia como


nos filmes, é carbonito de cálcio sólido. Dá para quebrar o pulso.

Ele empurrou o prato e se inclinou na cadeira, dobrando os braços


compridos atrás da cabeça loira. Eram os mesmos braços fortes que
me carregaram como se eu fosse uma pluma enquanto seu amigo
me comia até eu atingir um clímax de abalar as estruturas. Os
mesmos braços que me abraçaram no meio da madrugada, quando
eu acordei sonolenta com a sensação de ele abrindo caminho até o
meio das minhas pernas, logo antes de deslizar duro e grosso para
dentro de mim novamente.

– Mas a gente precisa ir para outras bases para várias coisas –


disse Maverick. – Então... helicóptero de ataque.

– Além disso, com ele a gente chega na cidade em vinte e quatro


minutos contados – adicionou Gage. – Muito útil para ir buscar leite.

– Claro – eu ri – se quiser gastar 800 dólares de combustível só


para buscar leite.

Maverick acenou concordando.


– Na verdade, é mais ou menos isso aí.

Eu me mexi na cadeira e cruzei as pernas. A dorzinha gostosa entre


elas me lembrava de uma noite bem passada.

– Não, enterrar essa beleza toda no deserto está fora de questão –


disse Gage, levantando da cadeira. Indo para trás de mim, ele se
inclinou e beijou meu pescoço, justo embaixo da orelha. Tive
arrepios instantâneos no corpo inteiro.

– Além disso – ele sussurrou – dá para pensar em coisas muito


melhores para fazer com esse corpo...

Capítulo 18
JULIANA
– E já falei, está tudo sob controle. Estou mandando você ficar onde
está e curtir.

A voz de Aric estava severa e autoritária, mesmo que não 100%

convincente. Não que ele pudesse me dar ordens, de qualquer


forma. Mas era divertido ver ele tentar.

– E o que eu estou curtindo, exatamente? – perguntei.

Pude enxergar o sorrisinho de Aric, mesmo sem vê-lo.

– Você sabe. Qualquer que seja o nome dele.

Parte de mim queria rosnar no telefone. Uma parte maior ainda, por
mais surpreendente que seja, queria deixá-lo de queixo caído dando
dois nomes em vez de um.

Com meu silêncio, não fiz nem uma coisa nem outra.

– Qual foi a última vez que você tirou férias, realmente? – ele
perguntou pela terceira vez.

– Isto não são férias – protestei de novo.

– Tenho quase certeza que foi aquela vez que você foi para Vale –

continuou meu assistente. – Você brigou com aquele fulano e foi


embora depois de dois dias. Se eu me lembro bem da contabilidade,
você pagou três mil dólares no voo de volta para casa.

Fechei a cara com amargura, lembrando da minha raiva. Brandon –


o crianção que eu namorava na época – fora um babaca ciumento
total. Nossa

viagem para o Colorado, que eu esperei ansiosamente por meses,


acabara antes de sequer começar.

– Olha, você está obviamente se divertindo – apontou Aric. – Eu sei


que está. Se não estivesse, você já estaria em casa.

Diversão. Não era exatamente a palavra que eu usaria, mas era


quase isso. Maverick e Gage me levaram de volta para o
Renaissance no dia seguinte à tempestade, onde me traçaram mais
uma vez antes de me deixarem toda bagunçada e ensopada no
meio da cama do hotel. Fiquei lá com a cabeça girando um
tempinho, olhando para o teto e curtindo a adrenalina de ser tão
completamente e duplamente possuída. Pensando se eu ia ter
tempo ou não de comer antes de entregar o carro alugado no
caminho do aeroporto para voltar para Nova York.

Só que eu não fui para o aeroporto.

Nem entreguei o carro alugado.

Em vez disso, estendi minha estadia, reservei o carro por mais


alguns dias e tomei o mais longo, mais quente, mais batismal banho
da minha vida.

Daí jantei no hotel, retornei ligações e respondi e-mails e dei uma


organizada geral na agência.

Finalmente, sem mais nada para fazer, voltei dirigindo para a casa
dos dois e bati na porta novamente.

Bati sim, bati para caralho.

Era falta de vergonha e eu sabia, mas Maverick e Gage ficaram


super felizes de me ver assim mesmo. Eles me receberam de
braços abertos, e eu os levei aos seus respectivos quartos e fiz de
tudo no mundo para demonstrar como estava feliz de estar lá.
Isso fora quatro dias atrás. E eu ainda estava lá.

– Juliana?

A voz grave, de barítono de Aric me trouxe de volta para a


realidade.

Eu passara quase uma semana de muito sexo numa nuvem de


euforia, correndo seminua por essa linda casa no deserto, passada
de um para o outro desses dois militares gostosíssimos. Eles me
comeram em quase todos os aposentos, me deitando sobre quase
todas as superfícies. E fui safada ao possuí-los, também. Fui tão
ousada e depravada quanto eles nas minhas próprias vontades,
necessidades e desejos...

– Depois de amanhã – declarei finalmente. – Chego em casa depois


de amanhã.

Ouvi o som familiar dos óculos de Aric batendo na superfície de sua


mesa de vidro. Eram onze da noite em Nova York e ele ainda estava
no escritório. Eu podia vê-lo esfregando os olhos cansados.

– Tudo bem – disse ele por fim –, mas sério, fique o tempo que você
quiser.

– Por quê, para você roubar minha empresa enquanto isso?– eu


brinquei.

– Talvez – admitiu ele –, embora isso talvez demore mais que uma
semana só.

– Já fez esse cálculo?

A quatro mil quilômetros de distância, meu assistente deu uma


risada maligna.

Bem nessa hora Gage entrou, passando sob um arco à minha


esquerda. Ele estava em absoluta glória, sem camisa. Seu corpo
inteiro brilhava com o suor do treino da tarde, e agora brilhava ao sol
da tarde.

Ele me viu curvada casualmente sobre uma das mesinhas do hall,


de papel e caneta na mão, e sorriu.

– Aric, escuta – disse eu no telefone. – Segura as pontas. E quando


eu chegar aí...

Duas mãos me agarraram pelos quadris. Elas se enfiaram na cintura


dos meus shorts e foram puxando-os para baixo, um lado de cada
vez.

– Eu... uhh...

Meu corpo tremeu de excitação quando Gage se inclinou sobre mim


por trás. Ele tirou os próprios shorts, e um segundo depois eu senti
algo quente, grosso e extremamente familiar pressionado contra a
minha bunda.

– Tenho certeza que eu... Bem, eu...

Mordi o lábio e ofeguei de leve quando meu fio dental foi puxado
para o lado. Ouvi um barulhinho gostoso quando Gage o esticou por
cima da minha nádega esquerda e o soltou como um elástico.

– Você o quê?– perguntou Aric, confuso.

Meu amante abriu minha bunda com a mãozona, e com a outra se


esfregar para baixo e para cima na minha boceta, que já estava
pingando.

Eu ficava molhada o tempo todo nesse lugar. E com razão.

– Nada – respondi, ainda mordendo o lábio de ansiedade pela


primeira estocada. – Acho que eu só queria... agradecer.

– Você me agradecendo? – riu Aric – Sério?


– Sim, por quê?

– Porque dá para contar nos dedos de uma mão o número de vezes


que você me agradeceu espontaneamente só por fazer o meu...

A voz de Aric sumiu quando Gage enfiou sua ereção lentamente na


minha boceta. Minhas pálpebras ficaram subitamente pesadas.
Meus joelhos fraquejaram. O prazer já conhecido me tomava tão
completamente que me encontrei com dificuldades de me apoiar na
mesa.

– Aric...

– Sim, capitã?

– Eu... Eu tenho que ir.

Apertei o botão vermelho para desligar duas vezes, depois conferi


de novo ainda. Quando estava satisfeita que meu assistente não
assistiria a um sex show improvisado por telefone, olhei por sobre o
ombro.

– Você é ruim, sabia?– xinguei Gage – Ruim mesmo.

– É mesmo?– ele respondeu, divertido. Ele foi com mais força, me


empalando com estocadas longas, profundas. – Bom, seus quadris
estão contando outra história.

– Mas eu acabei de tomar banho – lamentei, sem muita convicção.

– Dá para ver. Seu cabelo está com cheiro de morango.

Suas mãos foram para os meus seios, seus dedos girando


gostosamente sob a minha blusa. Arqueei as costas quando ele me
puxava para si, me fodendo numa posição quase de pé que lhe
dava controle absoluto.

– Sério?
Nós dois giramos para encontrar Maverick de pé do outro lado da
porta. Ele estava com um pano de prato na mão. Vi molho de
tomate no pano.

– Achei que íamos esperar até depois do jantar?

Encolhi os ombros, impotente, ainda rebolando no amigo dele. Gage


só riu.

– Você sabe que ela acabou de tomar banho, não sabe?– disse
Maverick.

– É, bom, ela vai ter que tomar de novo, só isso – disse Gage. –
Então por que você não dá uma pausa no jantar e me ajuda?

Maverick fingiu fechar a cara e contrair os lábios. Mas seus olhos


cheios de luxúria ainda estavam cravados nos movimentos e
contorções do meu corpo. Ele estava curtindo assistir. Cada vez
mais, cada vez que fazíamos isso.

E fizemos várias vezes.

Finalmente ele se aproximou, tomando meu rosto entre as mãos


com cuidado. O beijo que ele se inclinou para me dar foi lento e
quente.

Estrondosamente lindo. Olhando fundo nos meus olhos, só o toque


de seus dedos no meu rosto trouxe cada um dos meus sentidos à
vida, afiados, palpitantes.

– Então tá – ele suspirou, jogando o pano sobre o ombro largo. Ele


acenou em direção à sala de estar. – Se vamos bagunçar ela agora,
ao menos traz ela para o sofá.

Capítulo 19
JULIANA
O prédio, o elevador, os escritórios de vidro eram exatamente os
mesmos. Era como se eu nunca tivesse saído. Como se eu tivesse
descido para tomar um café, um pretzel quente de trufa e cheddar
do carrinho do Sigmund em vez de férias de uma semana num
parque de diversões sexual com dois anfitriões muito generosos.

Mas por outro lado, era como se eu tivesse ficado uma vida longe.

– Bem vinda de volta, chefe.

Um dos meus novos artistas gráficos deu um aceno alegre ao


passar –

Jonathan, acho, era seu nome. Com a recente explosão de


contratações era difícil de lembrar. Fui cumprimentada por mais
meia dúzia de funcionários no caminho para a minha sala, mas
antes de chegar lá, localizei Aric no labirinto de paredes de vidro. Fiz
um desvio para interceptá-lo, sentindo-me como um hamster num
túnel de plástico. Deus, essas paredes eram uma bênção e uma
maldição.

– Olha só para ela!

Aric relaxou o nó da gravata e me olhou através dos óculos, me


medindo dos pés à cabeça. Ele deve ter gostado do que viu, porque
suas sobrancelhas se ergueram e seu sorriso se alargou.

– Caramba, moça, você pegou um bronze mesmo.

– É – concordei –, o deserto faz isso com a gente.


Ele me ofereceu uma garrafinha d’água de um dos frigobares
espalhados pelo escritório.

– O deserto, né?

– Umm-hmm.

– Quer me dizer aonde exatamente no deserto você foi?– ele deu


um sorrisinho – Ou estava em busca dos mistérios e de visões para
encontrar seu verdadeiro eu e não pode falar sobre?

Tomei um longo gole de água gelada e fechei a tampa da garrafa.

– Nada de mistérios. Nada de busca por visões.

– Uma cerimônia indígena de purificação, então?

– Nada a ver.

– Vendo estrelas?

Balancei a cabeça, concordando e impressionada

– Fala sério. O deserto tem um céu maravilhoso.

– É, não tem poluição luminosa – continuou Aric. – Fui num


casamento uma vez, perto de Sedona. Fomos de buggy até o meio
de um lago seco. Depois da cerimônia, o sol se pôs e o céu explodiu
com um bilhão de estrelas – ele soltou um longo suspiro nostálgico.
– Foi a segunda coisa mais linda que eu já vi.

– É mesmo?– desafiei – Qual foi a primeira?

O sorriso de Aric mudou completamente.

– Aposto que você está doida para saber.


Deixei-o com seus segredos ao voltarmos juntos para a minha sala.

Deus bem sabia que eu tinha os meus. Aric não insistiu em mais
detalhes da viagem, e não ofereci mais nenhum. Desde que
chegara em casa no dia anterior, eu deixara as malas no chão, caíra
na cama e dormira feito pedra por umas boas dez ou onze horas
seguidas.

Foi estranho chegar num apartamento vazio. Pela primeira vez em


uma semana, estava total e completamente sozinha. Sem chance
de ser abordada por alguém e carregada de surpresa por um par de
braços fortes, ou de fazer amor. Não havia vozes amigas na
cozinha. Ninguém fez café da manhã para mim ou me passou uma
xícara de café.

Ainda mais estranho, minha casa no zum-zum-zum da cidade não


parecia mais um lar. Eu me acostumara demais à solidão do meio
do nada.

Mimada demais pela ideia de ser inclinada, aberta e satisfeita sobre


cada superfície quentinha e acolhedora da gostosa casa no deserto.

– Sra... Sra. Emerson?

A assistente de Aric ficou na nossa frente, temporariamente


bloqueando o caminho. Era uma estagiária nervosa de cabelo loiro
Joãozinho e uma leve mordida cruzada que lhe dava uma beleza
exótica.

– Tem alguém procurando a senhora – disse ela. – Ele queria


esperar na sua sala, mas obviamente eu não podia deixar, então...

– Então colocou ele na minha?– perguntou Aric por trás de seus


óculos.

A expressão da estagiária passou de nervosa para aterrorizada.


Mas ela concordou mesmo assim.
– Eu... Eu não sabia o que fazer!– exclamou ela – Ele insistiu muito
que...

– Tudo bem, Jenny – sorriu Aric. – Não tem problema. Deixa com a
gente.

A esta distância, o vidro distorcia o homem grande andando de um


lado para o outro na sala de Aric. Só consegui ver quem era quando
entramos.

E nesse momento, meu coração saltou pela boca.

– Olá, Juliana.

Devyn trajava um uniforme branco impecável da Marinha, completo


com botões dourados, listras e fitas. Era difícil tirar os olhos do
número incrível de quadrados coloridos que dominavam o lado
esquerdo de seu peito.

– É... Oi!

Eu o abracei imediatamente, passando os braços por seu corpo


robusto e rijo. Enquanto isso, podia senti-lo olhando diretamente
para Aric por sobre meu ombro.

– Quando você voltou?– disse eu, sem traquejo – E como veio parar
logo em Nova York?

– Não vai me apresentar?

Dei um passo para trás, vendo os dois se encararem no meio da


sala de vidro. Aric era quase da altura do SEAL, mas de constituição
muito mais esguia, refinada. Os dois se olhavam com igual
intensidade.

– Aric, este é Devyn. Devyn, Aric.

Uma mão de manga branca irrompeu para a frente, pairando no ar


entre eles. Finalmente, Aric a apertou.
– Prazer.

Pela primeira vez, notei os arranhões recentes no rosto escurecido,


barbado de Devyn. Havia pelo menos oito ou nove deles, de vários
comprimentos, marcando uma diagonal torta do queixo até a testa.

– Meu Deus!

Estendi a mão para tocá-los, recuando no último segundo quando


percebi que passar os dedos sobre eles provavelmente doeria.
Devyn não moveu um músculo. Apenas voltou os olhos para baixo e
me encarou, os olhos azuis e brilhantes ainda mais bonitos em
contraste com o uniforme imaculado, branco como a neve.

– Não é nada – disse finalmente. – Só um arranhado.

– Mas o que houve?

Ele olhou para Aric, depois para mim.

– É uma longa história. Vamos dar uma volta e eu te conto.

Ainda incrédula, o máximo que conseguia fazer era refrear minha


própria agitação. Finalmente, fiz que sim com a cabeça.

– Me encontra no elevador. Já estou indo.

Devyn cumprimentou brevemente Aric de novo, girou nos


calcanhares e saiu da sala do meu assistente. Depois que a porta
se fechou e ele já estava a uma distância segura, meu assistente
soltou uma longa respiração contida.

– É ele? – chiou, com uma pinta de admiração.

– Quem?

– O cara com quem você passou a semana!

Balancei a cabeça rapidamente antes mesmo de pensar.


– Não é, não.

– Mentira – cuspiu Aric.

– É sério. Não é ele que...

– Juliana, olha só para ele!– exclamou Aric, seu olhar concentrado


como um laser através de várias camadas de vidro – Um soldado?
E um oficial da Marinha, ainda?

– Ele é um SEAL, na verdade.

Meu assistente quase se engasgou.

– E você voltou depois de só uma semana?

– Aric...

– Eu não te culparia se você ficasse fora o ano inteiro!

Cruzei os braços com um suspiro resignado. Mas Aric já se decidira,


e aparentemente nada que eu dissesse o convenceria do contrário.
Não que eu tivesse uma história crível para contar, de qualquer
forma.

– Então?– disse ele finalmente, me expulsando da sala.

– Então o quê?

– Vai!

Virei os olhos. Ele virou os dele em resposta.

– Juliana, acredita em mim, caras assim – ele apontou


dramaticamente

– não aparecem todo dia. Quando aparecem, você tem que


aproveitar o máximo possível.
– Não estou me aproveitando de ninguém – protestei – É só que...

– Então você está doidinha da Silva – piscou Aric.

Capítulo 20
JULIANA
Havia poucos lugares mais frescos para dar uma volta do que o
Central Park, principalmente na primavera e no verão. Com as
folhas das árvores e os exuberantes gramados verdes, quase dava
para esquecer que se estava em Nova York. Andando bastante, não
dava nem para ver mais os prédios. Era como ser teletransportado
de repente para outro mundo onde o barulho do trânsito sumia e
tudo desacelerava.

Num dia como aqueles, era perfeito: nem quente demais, nem frio
demais. Ao passarmos pela Cedar Hill rumo ao Great Lawn, o céu
se abria sobre nós como um grande mármore azul. Surpreendi-me
com a tranquilidade do céu, com fofas nuvens brancas rolando que
me faziam esquecer do trabalho, do meu apartamento e até da
cidade.

– Então... estilhaços.

Devyn concordou de novo, caminhando ao meu lado. Ele me disse


que a missão fora rápida e que em vez de voltar para casa, pegara
carona num C-130 a caminho de Nova York. Ele não dera muitos
detalhes, mas quaisquer que tenha sido a missão, fora curta e
violenta.

– Achei que você fizesse resgate em alto mar – eu disse.

– Eu faço – confirmou ele – mas não é só o que eu faço.

Sua mão roçou a minha sem querer. Enquanto pensava se passava


ou não meu braço pelo dele – eu podia colocar a culpa no morrinho
que estávamos subindo – Devyn pegou minha mão e entrelaçou os
dedos nos meus.
– Digamos apenas que eu ajudei umas pessoas do outro lado do
mundo – disse o SEAL. – Gente boa.

Meus olhos seguiram a série de feridas em seu rosto. Minha voz


caiu uma oitava.

– Mas te feriram – disse com pesar.

– Sim.

– Gente ruim?

Ele acenou com solenidade.

– Tudo bem. Eu as feri também.

Devyn apertou minha mão gentilmente, me guiando pelo caminho.


Eu não parava de pressupor que conhecia a cidade melhor do que
ele. Em retrospecto, essa linha de pensamento era provavelmente
falsa.

– Os outros estão bem?– perguntei, tirando o cabelo dos olhos –

Digo... do seu grupo...

– Equipe UDT.

Percebi que seus olhos azuis escaneavam o parque, de um extremo


ao outro. Contudo, sua mente estava em outro lugar.

– E o que isso significa?

– Equipe de Demoli...

Ele parou de andar abruptamente, depois voltou-se para olhar para


mim. Havia um conflito interno em seus olhos, mas também uma
profunda, infinita paciência.
– Todo mundo da equipe está bem – disse, por fim. – Mais ou
menos.

Um par de pedicabs passou, levando turistas pelo caminho


pavimentado sobre grandes rodas de aro de alumínio. Como
sempre, desviei deles. Eles sempre paravam de repente para
apontar algum local histórico do parque.

– Você não chegou a me contar de você – eu disse a Devyn. –


Quando o helicóptero veio te buscar, nosso tempo juntos acabou
sendo interrompido.

– Pois é.

– Queria saber como você acabou no meio do deserto – disse eu. –

Queria saber da sua vida, sua família, sua criação aqui em Nova
York.

Sob a gola do uniforme, via-se o volume da plaqueta de


identificação que ele sempre usava. Estendi a mão e toquei-a com
cuidado.

– Também queria saber sobre isso.

Sem uma palavra, o SEAL alto me puxou pela mão, passando por
uma dezena ou mais de pessoas sentadas em bancos, alimentando
os pombos.

Juntos, saímos do caminho, subindo uma inclinação leve até chegar


numa parte plana no alto de uma pequena colina.

Lá nos sentamos, esticando-nos sobre a grama fresca. Devyn


desabotoou a gola e abriu-a, revelando a forma serrilhada da
plaqueta escurecida.

– Isso era do meu pai – disse ele, solenemente. – Ele também


serviu, muito tempo atrás.
– Oh.

Devyn não estava olhando para nada em particular. Seu olhar


parecia repousar sobre algo muito distante.

– Ele faleceu quando eu era muito jovem. Foi morto numa


emboscada numa missão secreta especial em algum lugar da
Bósnia.

Embora estivéssemos sentados lado a lado com os joelhos


dobrados, nossas mãos se tocavam. Fechei a minha sobre a dele,
com empatia.

– A pior parte é que ele foi traído por alguém da própria unidade –

continuou. – Alguém que foi capturado e entregou os próprios


companheiros de armas.

Devyn estremeceu, ou talvez apenas voltou-se para o sol. Percebi


naquele momento que ele estava contando a história tanto para si
mesmo quanto para mim.

– Um dos homens da unidade acabou matando o traidor – ele


terminou – e me contou quando eu tinha idade suficiente – ele deu
um tapinha na plaqueta. – Ele me deu isso, tirado diretamente do
pescoço do meu pai.

O silêncio à nossa volta pareceu abruptamente sereno. As árvores


não farfalharam, o vento não soprou. Até o canto dos pássaros
parou.

– Devyn, eu sinto muito.

– Tudo bem – disse ele, forçando um sorriso. – Foi há muito tempo


atrás.

Ele se inclinou sobre os braços e notei um círculo de pele rosada


bem na base de seu pescoço. A plaqueta de identificação estava tão
torta, tão estilhaçada pelo que acontecera ao seu pai, que
aparentemente vinha machucando a sua pele por muito, muito
tempo.

Nossa.

Mas Devyn não estava sangrando. A região já estava tão cicatrizada


que não importava mais. Eu nem podia imaginar por quantos anos
ele a carregava no pescoço.

– Sei o que você está pensando – disse ele solenemente – mas


nunca consegui me fazer aparar as pontas ou desfazer o amassado
– ele ergueu a mão para tocar a relíquia. – Eu a aceitei exatamente
como ela é. A dor e o sangue são um lembrete constante do meu
pai e de pelo que ele lutava – no fim, ele encolheu os ombros. –
Depois de todos esses anos, já nem machuca mais.

Capítulo 21
JULIANA
Aproximei-me de Devyn quando três crianças começaram a jogar
frisbe por perto. Nós as observamos em silêncio por um tempo, e eu
voltei o rosto para ele.

– Entendo perfeitamente que você siga os passos do seu pai – disse


eu

– mesmo se sua família não tiver aprovado. Principalmente com


você sendo um SEAL e tudo.

– Você ficaria surpresa – respondeu ele rapidamente. – Minha mãe


foi muito compreensiva, na verdade, quando eu disse que queria me
alistar. Ela mesma me deu carona para o alistamento.

Soltei um assobio baixo.– Essa daí é uma mulher forte.

Devyn acenou com a cabeça.

– Fui criado por mulheres fortes – concordou ele. – Junto dela e de


minhas duas irmãs mais velhas, eu tive uma infância muito feliz.

Tentei imaginá-lo correndo pelas ruas de South Brooklyn, vivendo


como uma criança comum enquanto passavam os anos da
adolescência.

Embora sua história fosse triste, não havia melancolia nele. Ele
parecia tão feliz e bem ajustado como qualquer outra pessoa que eu
conhecia, ou talvez ainda mais.

– O segredo é não viver no passado – disse ele, como se lesse


minha mente. – O problema é que a maioria das pessoas não
consegue fazer isso.
Gastam muita energia olhando para trás e não conseguem
aproveitar o que vem a seguir.

Ele respirou fundo e depois se levantou e me puxou. Cara a cara,


suas mãos continuaram nas minhas até finalmente nos olharmos
nos olhos.

– Eu... Eu tenho que te contar uma coisa – murmurei.

Sob os cortes no rosto, a expressão de Devyn permaneceu


completamente inalterada. Tive a impressão que ele estava olhando
através dos meus olhos e além da minha alma. Talvez até para
aquele pequeno lugar secreto em que admitia a entrada de
pouquíssimas pessoas.

– Voltei para Nova York ontem – admiti. – Eu passei a semana


inteira no deserto... com o Gage e o Maverick.

Não houve choque, nenhuma surpresa. Nenhuma raiva ou


decepção, também.

– Eu sei.

Meu queixo caiu.

– Sabe?

– Claro – ele fungou despreocupadamente. – Eles me contam tudo.

Hesitei, mas só por um instante.

– Tudo?

Lentamente, definitivamente, Devyn fez que sim com a cabeça.

Por um breve segundo eu congelei, sentindo como se estivesse em


um elevador despencando. No entanto, quanto mais eu olhava para
ele, mais eu percebia que não importava. Pelo menos não para ele.
– Eu esperava que você voltasse – disse eu, com sinceridade –
embora eles tenham dito que provavelmente não voltaria. Pelo
menos não em um mês ou mais.

– Normalmente é assim.

– E teve aquela tempestade forte no deserto – eu disse. – Uma bem


feia. Ficamos presos dentro de casa, mas aquela foi só a primeira
noite –

admiti – e a tempestade passou. Depois disso, bom, sei lá. Eu só...


fiquei.

Ele ainda me fitava, ainda me encarava impassível e, graças a


Deus, sem julgamento. Mas fora uma sugestão de sorriso que eu
vira então nos cantos de sua boca?

– Eu precisava passar um tempo longe de casa – eu disse, como se


isso explicasse tudo. – Eu não tinha percebido isso até viajar, mas
sair da cidade realmente... Bom, realmente...

As mãos de Devyn passaram para a minha cintura, e me puxaram.


Ele envolveu meu corpo em seus braços fortes e me apertou contra
o peito.

E aí de repente ele começou a me beijar.

Foi tudo muito rápido, mas eu respondi ainda mais rápido, trazendo
sua doce língua para minha boca e enlaçando-a com a minha.
Tantas vezes eu sonhara com esse momento. Eu me dera prazer só
imaginando como seria beijar esse espécime perfeito de homem, e
agora isso estava acontecendo de fato, no meio do Central Park e
com todo o mundo por testemunha.

Deixei os dedos vagarem famintos por seu espesso cabelo escuro,


tomando cuidado para não esbarrar nos arranhões de estilhaços em
seu rosto. Mas eu queria beijar essas feridas, também. Eu queria
muito cuidar delas e assumir a carga de qualquer sofrimento que ele
já tenha passado sem nenhum outro fim além de aliviar a sua dor.

Mas agora, o beijo era tudo que importava. A pressão dos lábios de
Devyn sobre os meus enquanto nossos corpos ondulavam
ternamente um contra o outro. Mesmo com toda a paixão e
emoções reprimidas aflorando do meu lado, eu podia sentir as
mesmas coisas da parte dele, também. O

SEAL moreno com certeza já imaginara isso. Na verdade, ele


provavelmente até aguardara por isso com paciência enquanto
completava obedientemente a missão que o levara tão pronto e tão
rudemente.

Beijamo-nos como amantes por um minuto inteiro antes de nos


separarmos. Quando finalmente o fizemos, devo ter parecido um
cervo surpreendido por um par de faróis de carro.

– Estava querendo fazer isso desde que você apareceu na minha


porta

– murmurou Devyn.

Ainda estávamos com os rostos próximos um do outro. Ergui os


olhos com timidez e retribuí seu agora largo sorriso.

– Estava querendo fazer isso há mais tempo ainda – confessei para


ele. – Muito mais tempo.

Estava louca para ele me beijar de novo. Não conseguia pensar em


mais nada além do volume de seus lábios, da enorme força de seus
braços.

Do lento e estável ritmo de seu coração batendo contra o meu.

Mas ele não me beijou, apenas inclinou a cabeça para o lado.

– Ainda quer ter um filho meu?


Engoli em seco, e então acenei com fervor. Meu corpo inteiro
parecia em chamas.

– Mais do que tudo.

Devyn colocou algo na minha mão. Algo fino e familiar.

Quando olhei, vi que era uma chave de quarto de hotel.

– Só vou ficar uma noite – murmurou ele, seus lábios


provocativamente a poucos centímetros dos meus. – Hotel Bowery.
Quarto 503.

Seus olhos azul anil brilharam selvagemente. Seu rosto com sombra
de barba – riscado de cicatrizes – sofreu um leve espasmo antes de
ele desviar o olhar.

– Chega cedo, talvez a gente vá jantar.

Capítulo 22
JULIANA
O resto do meu “dia de trabalho” foi muito diferente do que devia. Eu
estava distraída demais, dominada demais por pensamentos sobre
Devyn e sobre o que aconteceria entre nós mais tarde naquela
noite.

Eu estava eufórica, mas nervosa. Aliviada que ele voltara em


segurança e relativamente sem ferimentos da missão perigosa para
a qual o levaram de mim, e também um pouco excitada pelo
fodástico que ele era e pelo que ele presumivelmente já fizera.

Tá, tudo bem. Muito excitada.

Além de tudo, ele era absolutamente delicioso, de todas as formas


que as fotos prometeram. Eu estava determinada a ter um filho com
ele há quase um ano, mas apenas recentemente de fato me
apaixonara pelo homem por trás da amostra de esperma.

Por todas as razões acima, saí mais cedo, fui para casa e tomei um
banho quente e demorado. Me arrumei e fiquei me olhando no
espelho.

Peguei um táxi até a East 3rd Street e caminhei o último quarteirão


com pernas firmes e autoconfiantes. Quando cheguei no Bowery
Hotel, estava mais que pronta para o que desse e viesse.

Tem certeza que é isso mesmo que você quer?

Veio-me essa pergunta retórica quando saí do elevador no quinto


andar. Pode apostar que era isso. E eu queria duplamente, no
sentido que eu queria tanto o Devyn quanto o suprimento da parte
biológica necessária para ter um filho.
Como ele já me dera a chave, não precisava bater, mas bati assim
mesmo e então abri a fechadura e a maçaneta.

O quarto estava à meia luz, mas não escuro. Eu esperara de


propósito até o sol se pôr, portanto já era razoavelmente tarde.
Chegar cedo e jantar era a última coisa que eu queria. Além disso,
eu nunca gostei de fazer o que mandavam.

– Estava imaginando se você ia dar as caras.

A suíte de Devyn era uma das melhores. Ele estava atrás do bar,
entre a cozinha e a área de estar, servindo um líquido de intensa cor
âmbar num copo de cristal.

– Vou querer tomar um pouco, seja lá o que isso for – disse eu. –
Por favor.

Ele deu um aceno seco.

– Uísque, então.

A porta se fechou atrás de mim enquanto eu pendurava a bolsa no


encosto da cadeira mais próxima. Estava com um vestido preto que
valorizava o corpo, justo, mas confortável, que marcava minhas
curvas e atraía olhares, mas que ainda era adequado para ir jantar
se Devyn insistisse.

Pela forma que ele estava vestido, no entanto, eu sabia que


provavelmente não seria o caso.

– Quer gelo?– perguntou ele, com um par de pinças sobre um


segundo copo.

– Não, obrigada.

Ele pausou, obviamente impressionado.

– Boa menina.
Cheguei mais perto, deixando meus olhos percorrerem seu corpo,
se assim o quisessem. E, cara, se eles queriam. Devyn estava com
uma camisa branca completamente desabotoada na frente. Na parte
de baixo, nada além de uma cueca boxer ciclista justa e vermelha.

– Desculpe – disse ele, notando meu olhar. – Você me pegou no


meio do processo.

Ele indicou com a cabeça onde o resto do uniforme estava esticado


sobre uma tábua de passar roupa. As calças já estavam passadas e
penduradas num cabide. A definição das pregas era perfeita.

Mas foram as pernas nuas de Devyn que me deixaram babando,


perfeitas e musculosas, terminando na barra vermelha da cueca.
Pareciam extremamente perigosas. Repletas de poder.

– Aqui.

Ele me entregou o copo bem quando meus olhos passaram pelo


volume considerável na parte da frente do boxer. Eu devia ter
desviado o olhar, mas não me dei esse trabalho. Além disso, ele já
tinha me dado uma conferida na cara dura em mais de uma ocasião.

– À concepção da criança mais linda do mundo – sorriu ele,


erguendo o copo de repente. Pega de surpresa, hesitei por um
momento. Finalmente bati o copo no dele, brindando nervosa.

Bebemos e foi um baita de um gole. Principalmente com o líquido


âmbar aparentemente inofensivo me queimando um buraco no
estômago, depois de descer pela garganta.

– Que foi?

A queimação diminuiu lentamente e começou o desenvolvimento do


sabor. Senti a doçura do mel, o almiscarado da turfa. O líquido era
pungente e defumado, mas surpreendentemente gostoso.

– Nada – disse. – Acho que só estou... bem vestida demais.


Prendendo-me em seus olhos de safira, Devyn tomou um longo gole
antes de colocar o copo na mesa. Ele era tão bonito que me
intimidava. Tão imponente e lindo que eu perdia o ar.

– Então vamos dar um jeito nisso.

Ele chegou mais perto, e a cada passo, eu sentia meu coração


acelerando. Eu me senti, de súbito, inusitadamente indefesa. Depois
de uma vida de predadora, eu me senti presa.

– Aqui, deixa eu ajudar.

Seus braços me envolveram, puxando o zíper do meu vestido. Ele o


abriu até o meio das costas, então parou e puxou as mangas para
baixo, expondo meus ombros.

– Você é inacreditavelmente linda – murmurou ele, plantando um


beijo leve, suave, na lateral do meu pescoço nu. – Sabia?

Não tive tempo para concordar ou discordar. Um segundo depois


suas mãos passaram por baixo da minha bunda, seus dois braços
grandes se flexionando como pistões hidráulicos. Eles me ergueram
no ar, depositando-me com facilidade sobre o bar.

Nossos rostos estavam tão próximos que nossos narizes se


tocavam.

Devyn pausou um momento sentindo essa proximidade,


aproveitando a intimidade. Eu estava louca para beijá-lo.
Desesperada para sentir a língua dele na minha, mas de alguma
forma consegui me segurar.

E então minha boca avançou sobre a dele, e eu não me segurei


mais.

SIM.

Fui para cima dele com tudo, segurando seu rosto com as duas
mãos.
Sentada no bar, eu o beijei como se não houvesse amanhã. Como
se o mundo inteiro estivesse próximo de um fim de fogo e caos e a
única coisa que importasse era chegar com a alma tão próxima da
dele quanto humanamente possível.

Queria tirar meu vestido. Queria jogar a cueca dele no chão. Mais
que tudo, eu queria o grande volume do crescente membro de
Devyn mergulhado completamente dentro de mim enquanto eu o
envolvesse com os braços, agarrando sua bunda perfeita e
puxando-o para frente e para dentro.

Mas Devyn deu um passo para trás. Seus olhos encontraram os


meus novamente, sua expressão estranhamente serena,
considerando a gravidade da nossa união iminente.

– Escuta – disse ele com gentileza –, quero que você saiba que não
precisa ser assim, se você não quiser.

Fiquei emocional e fisicamente chocada. Não quiser?! Ele estava de


brincadeira?

– Você quer um filho meu?– repetiu ele – Eu te dou. Já tomei todas


as providências.

Minha cabeça ainda estava girando. Consegui apenas dizer com o


olhar ausente:

– Providências?

Devyn fez que sim com a cabeça.

– Eu contatei a clínica e eles reativaram o meu perfil. Amanhã de


manhã eu vou até lá para fornecer uma amostra nova. Você pode
usá-la para conceber.

Eu nem estava pensando nisso. Estava preocupada com outras


maneiras mais excitantes de conseguir o esperma dele.

– É muito legal da sua parte – disse eu, por fim. – Obrigada, Devyn.
Ele passou a mão no meu rosto de novo. Dessa vez com tanto
cuidado, tanto amor, que derreteu meu coração.

– Se alguém deveria ter um filho comigo, é você – sorriu ele. – Você


é tão determinada, Juliana. Tão forte e inteligente e...

Eu o beijei com força, obliterando o resto do argumento. Minha boca


estava faminta. Meu corpo também.

– Quero ter um filho seu – disse a ele com firmeza. – Mal posso
esperar para senti-lo crescendo dentro de mim.

Minha mão desceu e parou dobre o volume quente e firme que


esticava a cueca dele.

– Mas isso não me impede de querer isso.

O volume disparou para frente sob meu toque, movendo-se como se


tivesse vida própria. Eu o apertei de leve, tentando não perder o
fôlego com o tamanho da massa sob a palma da minha mão. Eu
não sabia como ele dava conta daquele tamanho todo, mas eu
sabia de uma coisa: Que me faria muito, muito feliz.

Enquanto Devyn estava parado, imóvel, tomei outro gole de uísque.

Talvez para criar coragem. Talvez porque o sabor me lembrava do


interior de sua doce, linda boca.

– Tem certeza absoluta?– sussurrou ele – Quer isso mesmo?

Como resposta, deixei o copo no bar e beijei-o de novo. Um beijo


quente, molhado, e deixei meu cabelo cair em cascata de cada lado
de nós.

Nossas bocas rodantes tornaram-se uma. Os dedos da minha mão


livre desceram por sua nuca e meus lábios moviam-se lenta e
sensualmente contra os deles.

Então saltei do bar e caí de joelhos.


– São palavras ao vento – eu disse, erguendo o olhar para seu
corpo magnífico e seus olhos. – Numa situação tão intensa,
palavras nada significam.

Minhas mãos encontraram o elástico da cintura da cueca, cada vez


mais justa. Com destreza, meus dedos desceram o quente tecido
por suas coxas magníficas.

– Deixa eu te mostrar.

Capítulo 23
DEVYN
O quarto girou quando Juliana me chupou, minha mente voando
pelo calor, o prazer e o espaço. Deixei meu corpo relaxar e a cabeça
pender para trás, meus dedos vagavam sem rumo por seu cabelo
macio, farto e fragrante.

Finalmente...

Eu voltara para casa depois de uma semana. Uma semana inteira e


uma eternidade. Eu devia estar totalmente focado na missão,
totalmente dedicado à tarefa em mãos. Mas por uma vez, não fora o
caso. Pela primeira vez, as distrações de casa me fizeram
descuidado. O que provavelmente me causara as feridas no rosto.

Isso porque em todo esse período eu estava pensando nela.

Não, garanti a mim mesmo em pensamento. A munição que


disparou prematuramente não teve nada a ver com ela.

A corveta Bayandor não afundara, mas esse não era o objetivo final.

Eu fiz um buraco grande o suficiente no casco para distrair o porto


inteiro, e o consequente ataque ao esconderijo em Bandar Abbas
fora um sucesso.

Todos os seis alvos estratégicos foram resgatados sem incidentes


ou ferimentos. Exceto pelos arranhões no meu rosto, claro, e pelos
tímpanos estourados do subtenente.

Graças a Deus, Langston estava se recuperando bem e meus


arranhões nem deixariam cicatrizes. Logo cheguei em casa e fiquei
sabendo por telefone da semana bem interessante que meus
amigos tiveram.
– Mmmm…

Naquele momento, a sensação da boca de Juliana passando por


toda a extensão do meu pau era nada menos que incrível. Ela
estava extraordinariamente sexy de joelhos. A bagunça de cabelos
que eu segurava para ver seu belo rosto parecia um rolo de seda
em minhas mãos sôfregas.

Mas sim, eu estava com ciúme da semana que ela passara com
Maverick e Gage. Não ciúme por eles terem dormido com ela. Sob
tais circunstâncias, como eu poderia culpá-los?

Não, eu estava com mais ciúme por eu não ter estado lá.

Quanto mais eu ficava sabendo sobre Juliana, mais eu gostava


dela. E

sim, meus amigos me contaram um bocado de coisas. Ela era


inteligente e intensa. Ferozmente competitiva, quase a ponto de ser
um defeito. Mas ela também era meiga. Carinhosa, afetiva e alguém
que valorizava a família.

E linda. Meu Deus, ela era linda, tão linda.

Para falar a verdade, eu já me decidira antes mesmo de levá-la para


almoçar que sim, claro que eu a ajudaria a conceber um filho. Nós
tínhamos muitas coisas em comum, muitos objetivos iguais. Minha
doação passada ao banco de esperma não era algo em que eu
pensava e da qual eu mal me lembrava, mas naquele momento eu
estava total e completamente disposto a dar a essa mulher o filho
que ela queria.

Eu só queria ficar mais um pouquinho com ela, só isso.

E agora aqui ela estava, finalmente nos meus braços. Rolando


minhas bolas com experiência na palma de sua mãozinha gostosa
enquanto me levava para além daqueles lábios tão bons de beijar e
para dentro de sua linda garganta.
Eu deixei ela continuar por um tempo, aproveitando os frutos de sua
boca talentosa. Tatuando a lembrança dessa linda mulher – a que
caíra de joelhos com tanta boa vontade – sobre o tecido da minha
mente.

Finalmente eu a ergui nos braços e a aninhei no meu peito. Sua


boca estava molhada, seus lábios inchados com o trabalho. Beijei
aqueles lábios carinhosamente enquanto a levava até a cama, do
outro lado do quarto, e a depositava sobre os lençóis.

Caramba.

Juliana virou de bruços para que eu tirasse seu vestido. Quando ela
virou de costas novamente, seu sutiã e tanguinha pretos fizeram
meu pau já

coberto de saliva latejar sozinho.

Ela é perfeita.

Ela era mesmo, de todas as formas possíveis. Seu único defeito era
morar em Nova York, milhares de quilômetros a leste. Mas o pior
defeito era, claro, meu: a total impossibilidade de trazer alguém
assim – com horários e estrutura (e logo menos, um filho) – para um
mundo caótico e imprevisível como o meu.

Portanto, esta seria nossa única noite juntos. Nosso único incrível,
inesquecível rendez-vous. Decidi torná-lo memorável, para que anos
após, quando pensasse no pai biológico de seu filho, tivesse algo
especial para se lembrar. Algo que compartilhamos, aqui, agora.

Não importa o que acontecesse, eu queria que fosse tão lindo


quanto possível.

Concentrando-me, deixei as mãos deslizarem pelas laterais nuas de


seu corpo, onde elas passearam sobre uma tatuagem delicada na
costela, na forma de um poema ou ditado. Não tive paciência para
lê-lo. Estava ocupado posicionando meu corpo sobre o dela. Imerso
em puxar seus braços por sobre a cabeça e segurar seus pulsos na
cama com um suspiro suave, quase inaudível.

Então percorri aos beijos sua barriga macia e bronzeada e enterrei o


rosto na boceta dela.

– Ohhhhhh!

Ela estava mais do que apenas molhada, ela estava completamente


encharcada. A calcinha preta, ainda mais. Eu a afastei para abrir
caminho, alternando entre enfiar a língua e lamber seu doce mel.

Juliana não estava apenas curtindo, estava ficando louca. Suas


mãos se enrolaram no meu cabelo, seus dedos me puxavam mais
fundo e mais forte e ainda mais rápido contra seu corpo a se
contorcer. Logo ela começou a rebolar em perfeita sincronia com
minha boca, usando a superfície da minha língua para banhar
completamente suas dobras quentes e inchadas.

Suas mãos ficavam mais tensas, suas unhas se cravavam em mim


quando ela queria que eu fosse mais fundo. Elas também relaxavam
quando a área ficava muito sensível e ela queria que eu fosse com
calma.

Eu a chupei até ela explodir como uma bomba, apertando meu rosto
com força entre suas coxas exuberantes. Mas eu não parei. Não
ergui a cabeça a até o tremor diminuir, seus dedos relaxarem e seu
corpo tombar sem forças contra a maciez da cama. Só então, o
rosto ainda coberto por seu doce, viscoso sexo, subi para beijá-la de
novo e de novo, enquanto a provocava esfregando a cabeça do pau
para baixo e para cima na sua entrada agora encharcada, até que
ela gemesse e implorasse pelo que viria a seguir.

– Me fode...

Foram as palavras mágicas – as únicas palavras no universo inteiro


que eu precisava ouvir. Em um único avance, contraí as nádegas e
mergulhei a cabeça dentro dela. Ela era tão apertadinha... Eu a vi
abrir a boca e seus olhos tornarem-se vítreos com a intensidade do
prazer, mas também vi algo completamente inesperado.

Algo parecido com amor.

Capítulo 24
JULIANA
Ele entrou em mim devagar, o que foi bom, já que era a única forma
que isso funcionaria. Carne contra carne, centímetro a centímetro, o
homem com quem eu sonhara por tanto tempo finalmente me
transpassava até o âmago.

Cace...

Agarrei os lençóis com uma mão e a bunda dele com a outra. Parte
de mim queria gritar, mas estava ocupada demais beijando-o
enquanto o trazia mais para dentro. Devyn era grande, talvez até
enorme, mas sabia exatamente o que fazer. Ele me deu a medida
certa de controle para que eu pudesse relaxar e aceitá-lo no meu
corpo, e eu estava já tão excitada que nada o impediria de se enfiar
até o útero no meu canal quente, molhado.

CACETE!

Deus, que delícia! Mas também me sentia insegura. Se ele


começasse a me comer com o mínimo que fosse de velocidade e
ferocidade, eu não sabia se daria conta, embora lá no fundo eu
ainda o desejasse assim mesmo.

Tudo me parecia perigoso, como brincar com fogos de artifício.


Excitante e com um quê de perigo, a emoção de andar na corda
bamba entre a dor e o prazer.

Seu corpo caiu sobre o meu, e qualquer pensamento racional


desapareceu. Minhas pernas se abriram por vontade própria
enquanto meu corpo se rendia ao dele. Ele ia me tomar e eu ia me
perder. Algo em seus olhos me dizia para confiar, e não havia razão
para não o fazer.
– Ei...

Devyn se afastou com o som da minha voz, mas só o suficiente para


me olhar com aqueles estonteantes olhos azuis. Neles eu vi meu
reflexo sob a luz das janelas.

– Eu já queria isso faz tempo.

Sua expressão era de profundo respeito, até de admiração. Ele


acenou com a cabeça.

– Eu também.

Ofeguei quando ele recuou com delicadeza, e então lentamente


entrou de novo no meu corpo. Uma, duas, três vezes ele o fez, e
cada vez era mais maravilhoso.

Mergulhado em mim, enlaçado nas minhas pernas, ele beijou minha


testa.

– Pensei em você a semana toda, Juliana. Do outro lado do mundo.

Não importa o que eu estivesse fazendo... – ele balançou a cabeça


– eu não conseguia te tirar da cabeça.

Ele entrou de novo e de novo, ainda com vagarosidade rítmica. Eu


sentia suas nádegas indo para baixo e para cima sob minha mão
trêmula.

Como um animal adormecido, flexionando-se ao mudar de posição.

– Você ficou... chateado que...

– Não – disse ele de pronto, balançando a cabeça. – Gage e


Maverick... eles são meus irmãos. Nada no mundo poderia ficar
entre nós –

ele pausou por um momento, pensando. – E não há nada no mundo


que não compartilharíamos.
Com isso ele me beijou de novo, sua língua dançando quente junto
à minha enquanto movia os quadris com mais força. Ele foi tão
fundo que perdi o fôlego, mordendo seu lábio sem querer. Mas
Devyn só sorriu e me beijou mais, sua bunda maravilhosa se
contraindo e relaxando com cada avance. Sua vara grande e grossa
me esticava maravilhosamente ao entrar e sair de mim, enquanto
seu corpo firme, trincado, ia para frente e para trás.

Compartilhar.

A palavra me causou uma onda de euforia da cabeça aos pés. Era


uma palavra tão simples. Mas uma palavra que carregava um
significado tão complexo.

Não há nada no mundo que não compartilharíamos.

Não restava dúvida que Gage e Maverick me compartilharam. Mas


agora Devyn também me queria. Pelo visto, ele me desejou de
formas que o atormentaram silenciosamente durante a semana,
principalmente após ficar sabendo que seus colegas de casa e
companheiros de armas me possuíram em seu lugar.

Mas para ele, isso nada mudou. Se alguma coisa, talvez fez com
que me quisesse ainda mais. Talvez ao saber que eu me comportei
tão livremente com seus camaradas, ele tenha se sentido à vontade
para vir para Nova York atrás de mim. Ou talvez ele sentira ao me
conhecer o quanto eu estive obcecada pela ideia de me deitar com
ele e, portanto, ele também ficou a fim.

Eu o beijei ainda mais, com mais voracidade, enquanto pensava


nessas coisas. Ser compartilhada por esses homens era eletrizante,
das formas mais ousadas. Era socialmente proibido. Explicitamente
tabu. Tão sensual e sexy e, oh, tão safado e me dava borboletas no
estômago toda vez que eu pensava nas quase infinitas
possibilidades.

Mas, caralho... eu queria assim mesmo.


Com um movimento dos quadris, empurrei Devyn para cima e então
sobre a cama, onde montei nele passando uma perna sobre sua
cintura.

Erguendo-me levemente, sentei. A sensação de ele me abrindo por


dentro foi extasiante, mas nada comparada a quando acabei de
sentar sobre seu abdômen e ele ficou inteira e completamente
dentro de mim.

MMMMMmmmm…

Eu queria ficar assim para sempre. Permanecer montada sobre seu


corpo ridiculamente forte, deixando-o marinar dentro de mim. Abri as
mãos sobre sua barriga perfeita, dando rédea solta aos dedos para
explorarem cada linha do tanque durinho pelo qual ele batalhara.
Então, olhando em seus olhos novamente, comecei a oscilar para
frente e para trás.

Nossos movimentos ficaram lentos e encantados. Irradiando euforia.

Sem pressa, sem afobação. Sem junção frenética dos corpos que
por fim amontasse num clímax violento. Não. Nós nos balançamos
juntos, esfregando-nos profundamente um contra o outro. Parecia
que nossas almas estavam ligadas. E havia um calor e um conforto
– até uma familiaridade –

ao nos perdermos nos olhos um do outro.

Não sei por quanto tempo ficamos assim. Apenas que transamos
devagar, confortavelmente, e no fim nos demos as mãos e
entrelaçamos os dedos para nos apoiarmos enquanto cada um de
nós se aproximava da beira do abismo. Foram muitos toques,
muitos beijos. E de repente Devyn se enrijecia sob mim, seus olhos
estelares fazendo a pergunta que só eu poderia responder.

– Goza...
Sorri a palavra para ele, logo antes de ele soltar. Era tudo por qual
ele esperava. Tudo que ele precisava para finalmente deixar vir.

E então ele me inundou, me preencheu por dentro. Mexendo-se,


latejando e pulsando dentro de mim até eu sentir a aspersão quente
de sua semente lá perto da parte mais profunda da minha essência.

Yessssss!

Devyn grunhiu e gemeu, seu corpo de repente duro como uma


estátua de granito. Eu cavalguei até atingir meu próprio clímax, que
foi lento e tremendo. Cheguei lá quando ele ainda se esvaziava
dentro de mim, e de alguma forma tive a presença de espírito de
estender a mão e dar uma apertadinha de leve e em círculo nas
bolas.

Nossos corpos continuaram se contorcendo por muito tempo depois,


até que os espasmos posteriores de prazer finalmente se
apaziguaram.

Quando isso aconteceu, eu estava inclinada sobre as coxas de


Devyn, com cara de total satisfação.

– Nós vamos fazer de novo – ofeguei com malícia, adicionando uma


piscadela – e de novo depois.

Meu amante sorriu.– Não vai sobrar nada para amanhã – reclamou
ele. – Você vai me drenar por completo.

– E daí?

– Daí que... lembra?– ele urgiu – Eu não ia fazer um depósito?

Levantando os quadris, inclinei todo o corpo para a frente até estar


com o corpo moldado contra o dele. Ri na boca dele, beijando-o de
troça.

– Se não conseguir, não conseguiu – brinquei encolhendo os


ombros.
– Mais uma razão para voltar para Nova York.

Capítulo 25
JULIANA
– E você achou ele?– insistiu Addison – Você realmente se
encontrou com esse cara?

Usei o pegador de plástico para me servir de um rolinho de


primavera, e então o passei para minha amiga. Mas o prato de
Addison já estava cheio.

Mal cabia mais alguma coisa, então ela só estava me seguindo pelo
bufê.

– Achei – disse, finalmente. – E me encontrei com ele.

– Sozinha?

Lambi o dedo e fiz que sim com a cabeça.

– Caramba, Juliana – xingou ela. – Que perigo.

– Por quê?

– Porque o endereço que eu te dei era no meio do nada!– exclamou


minha amiga – Você podia ter morrido. Podiam ter te colocado no
porta-malas do carro ou te enterrado no meio do deserto!

– Pelo visto não é tão fácil enterrar alguém no deserto – eu disse a


ela.

– O deserto é de carbonito de cálcio sólido.

– Depende do deserto – retrucou Addison. – E é carbonato, não


carbonito.

Suspirei e virei os olhos simultaneamente.


– E você devia participar de um desses programas de TV de
perguntas e respostas com toda a cultura inútil que tem guardada
nessa cabecinha loira

– retruquei eu. – E obrigada por sempre me corrigir. Você sabe que


eu adoro.

Minha amiga dispensou meu comentário com um resmungo. Soou


como o resmungo de alguém tentando se esquivar do assunto.

– De qualquer forma, só estou cuidando de você – disse ela por fim.


Eu não quis dizer...

– Não, a babaca sou eu – admiti. – Desculpe. Só estou meio... no


limite.

Seguimos na linha de petiscos e pratos quentes, onde coloquei


ainda mais comida no meu segundo prato. Porque sim, eu estava
manejando dois pratos de uma vez. E o que mais se deve fazer no
melhor self-service chinês de Nova York?

– E o que aconteceu?– perguntou Addison – Sabe, com o Bishop.

– Devyn.

– Foda-se.

Chegamos no final e peguei mais um par de guardanapos sem


razão.

Após voltar para a mesa, sentamo-nos uma na frente da outra e


começamos a comer.

– Basicamente, eu o encontrei bem onde você disse que ele estaria



eu disse a ela – e bati na porta. Ele era igual nas fotos, Addison.
Talvez um pouco mais velho, mas envelheceu como vinho.

Eu me senti mal por contar isso a ela depois de mais de um mês.


Ela estava perguntando há semanas, mas nós duas estávamos
ocupadas demais para nos encontrarmos. Eu poderia assumir toda
a culpa, porque minutos depois de deixar Devyn na manhã seguinte,
fora direto para o trabalho. Mas Addison também estava fazendo
uma quantidade insana de horas extra. As ruas de Nova York nunca
estiveram tão turbulentas.

– E aí foi lá e pediu para ele?– perguntou minha amiga, incrédula –

Você deu um copinho de coleta para ele ou...

– Não, não – balancei a cabeça. – Não foi assim.

– E você teve que convencê-lo?

Lembrando bem, encolhi os ombros.

– Sim e não. Quer dizer, ele mais que se prontificou a entregar outra
amostra. Mas teve uma... Sei lá...

Addison franziu o cenho.

– Sei lá o quê?

– Teve uma conexão entre nós, também. Eu sei que parece


bobagem, mas eu senti, Addison. E eu sei que ele também sentiu.

Minha amiga pausou, ainda desembrulhando os hashis. Ela estava


puxando uma longa tira de papel enquanto me encarava, confusa.

– Está dizendo...

– Não, não estou dizendo nada disso – cortei. – Só que foi um


momento bonito. E ele era legal, também. Mais legal até do que
parecia pelo perfil.
– Ele era praticamente um adolescente no perfil – lembrou-me
minha amiga.

– Eu sei.

Ela começou a servir o chá de um bule fumegante, o que não era


muito a minha praia. Mas eu tomava assim mesmo, por causa dela.
Também talvez para expandir meus horizontes.

Mas hoje a ideia de tomar chá me embrulhou o estômago.

– Então você conseguiu o que você queria – disse ela finalmente. –

Você achou ele, graças a mim, muito de nada, e ele fez outra
doação para a clínica.

Fiz que sim com a cabeça, pegando um espetinho de frango. Girei o


espetinho nos dedos, fitando-o com o olhar vazio.

– E quando você vai fazer?

Pisquei. Foi como sair de uma hipnose.

– O quê?

– Quando você está pensando em tentar?– perguntou Addison – Vai


esperar alguns meses, tentar ter o bebê no verão, ou já quer
começar de cara?

Era uma pergunta lógica. Eu ainda nem tinha ligado para a clínica.
Eu sabia que Devyn tinha ido lá, porque eles me mandaram três
mensagens diferentes dizendo isso. E o próprio Devyn ligara, pouco
depois de aterrissar em Phoenix.

No Arizona...

Eu falara duas vezes com eles nesse mês, e não por falta de
esforço deles. Maverick me mandara umas mensagens muito fofas
e Gage mandara o triplo de mensagens engraçadas. Por mais que
eu quisesse interagir, a vozinha chata no fundo da minha mente
dizia que provavelmente não era boa ideia.

Mas, caramba, eu nem sabia por quê.

Ao invés disso, eu voltara a imergir no escritório, que sempre fora


meu único santuário para acalmar a mente. A Shameless Marketing
precisava de uma organizada, principalmente com as contratações
recentes.

Eu tinha que promover o pessoal competente. Podar os


incompetentes. Aric e eu faríamos a empresa operar com eficiência
nos meses de outono e inverno. A partir daí, eu poderia revisitar a
ideia de implantação e conceito.

– Meu Deus, Juliana, você não se concentra em nada!

Olhei para a frente, onde Addison estava ocupada comendo gyoza.


Eu ainda nem tinha destacado os hashis. Mas ela estava certa. Eu
estava distraída para além da razão.

– Você realmente quer isso, não quer?

Acenei com o olhar vazio. Talvez não tenha convencido muito.

– Olha, eu sei que é muita coisa – disse Addison. – Eu mesma


tenho três, lembra? Criar filhos é um trabalhão da porra, e é um
serviço vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Às vezes
dá vontade de arrancar os cabelos.

– Não era bem esse o encorajamento que eu esperava – sorri com


ironia.

Estendendo o braço, minha amiga colocou a mão sobre a minha. O

sorriso dela era caloroso e verdadeiro.

– Mas quer saber?– continuou ela – Quando eles te olham com


aqueles olhinhos lindos e brilhantes? E fecham a mãozinha no seu
dedo?

Minha amiga se recostou na cadeira e suspirou, feliz.

– É aí que você percebe que é a coisa mais incrível, mais


gratificante que existe.

Capítulo 26
MAVERICK
– É, concordo – disse eu com solenidade, olhando para uma série
de fotos. – Esse aqui... Esse é o grandão.

Toquei na terceira foto, bem embaçada. O homem estava atrás de


uma parede. Só parte de sua cabeça estava visível, mas tinha pixels
o suficiente para distinguir exatamente quem era.

Principalmente porque o caçávamos há quase dez anos.

– Quando exatamente ela foi tirada?– perguntou Gage.

– Há dois dias – grunhiu Ramos. Ele apontou para uma marcação


de horas – 55 horas, para ser exato.

O Contra-Almirante coçou a barba grisalha, bem mais grisalha


desde a última vez que eu o vira. Ele parecia cansado. Acho que em
certa altura todos nós nos cansamos. Só que alguns custam mais
tempo para chegar lá do que outros.

– Então, quando vamos pegá-lo?– perguntou Devyn, ansioso –

Devíamos sair agora mesmo.

Ramos balançou a cabeça.

– Ninguém vai pegar ninguém – disse ele. – Ainda não, pelo menos.

Joguei as mãos para cima.

– E por que não, porra?

– Porque há um procedimento, por isso – revidou Ramos. – Regras


a serem seguidas. Sim, está confirmado que Bashir voltou para a
Somália.

Mas é tudo que temos por enquanto, até que chegue o resto das
informações.

O quarto era quente demais, pequeno demais, simples demais para


o meu gosto. Eu nunca entendi a mentalidade por trás dessas
coisas. Voamos até Point Loma, em San Diego, para um briefing de
emergência, só para sermos socados num cubículo do tamanho de
um banheiro.

– Ele pode já estar do outro lado da África quando chegar o resto da


informação – disse Devyn, com o que sempre chamávamos de sua
voz

“diplomática”. – O senhor realmente acha que é inteligente esperar?

– Muito mais inteligente do que sair correndo e dar com um monte


de papel de bala e garrafinhas d’água vazias – rosnou Ramos – e
depois levar uma chuva de morteiro na cabeça. – A expressão do
Contra-Almirante se ensombreceu. – Preciso te lembrar da
Damasco? Foi um maldito fiasco! A maior zona que eu já vi!

Damasco. Claro que ele precisava mencionar isso de novo. Nunca


uma das mais de vinte missões bem sucedidas que realizamos para
ele. Não.

Sempre Damasco.

– Sabem quantos meses eu passei explicando que merda


aconteceu –

gritou Ramos – para metade do puto comando? E tudo porque


vocês não esperaram. Nós deixamos vocês lá debaixo do fogo, com
as calças na mão, só para...

– Tá bom, tá bom – Gage amenizou –, deixa para lá.

Ramos deu uma risada mecânica.


– Deixa para lá?

– Nós entendemos – reiterei. – Confie em nós.

– Não, vocês não entenderam!– respondeu Ramos em voz alta –

Porque se tivessem entendido, não teriam perguntado. Não


estariam pressionando para...

– Damasco foi um tiro no escuro desde o começo – interrompeu


Devyn. – Uma fantasia desesperada com base em informações não
confiáveis, empurrada por gente do alto escalão querendo fazer um
nome para si a todo custo.

O Contra-Almirante contraiu os lábios. Ele não podia falar nada.

Disso ele sabia.

– Ele está certo – eu disse com calma. – As coisas foram


apressadas de todos os lados.

Ramos estava andando de um lado para o outro desde que


aparecemos. Só agora ele finalmente parara.

– Olha, estamos todos do mesmo lado – finalmente ele concedeu. –

Todos queremos pegar esse maldito.

– Então vamos pegá-lo.

– Nós vamos – garantiu o Almirante. – Mas não é só questão de


descobrir seu paradeiro, é também de confirmar se ele está
acessível.

Gage bufou e cruzou os braços.

– O senhor quer dizer garantir que ele não está escondido nos
fundos de um orfanato, ou acampado num hospital infantil.
– Infelizmente, sim.

Bashir era escorregadio, mas principalmente por jogar sujo com


suas táticas. O homem passara a vida se cercando de inocentes e
alvos incidentais. Nós assistimos impotentes enquanto ele plantava
minas e bombas caseiras nas estradas que levavam às cidades
onde se acoitava, para então ir embora sem ligar para o caos e
danos colaterais em seu rastro.

Em resumo, já limpáramos a bagunça dele vezes demais.

– Temos que pegá-lo antes cedo do que tarde – aconselhei. – Seu


exército não encolhe, apenas cresce.

A boca de Ramos se contraiu, concordando com amargura.

– Esse é o problema. Ele já recrutou crianças dos vilarejos próximos


nos últimos dez anos suficientes para criar um segundo exército
inteiro.

– E então usou esse exército para ficar rico por meio de sequestros

adicionei.

Olhei mais uma vez para o arquivo aberto na mesa. O lugar onde
fora fotografado poderia ser um esconderijo, ou mesmo uma base
de operações.

Ou poderia não ser nada – só um lugar onde dormira uma noite


enquanto viajava para algum lugar ainda mais no coração da África.

Merda.

O problema é que era um puta continente enorme. A última coisa


que queríamos era perder a chance.

– Desculpe trazê-los até aqui para o que acaba sendo só uma


provocação – disse Ramos –, mas eu precisava atualizá-los. Eu
queria que vocês soubessem que podemos avançar com isso muito
em breve.

– Em breve quando?

– Talvez dias – ele encolheu os ombros – ou semanas ou meses.

– Ou nunca – Gage franziu o cenho.

O Contra-Almirante concordou com solenidade.

– É uma possibilidade, também.

Houve uma leve batida na porta, seguida por um Segundo-Tenente


colocando a cabeça para dentro. A lufada de ar fresco foi o paraíso.
O

homem murmurou alguma coisa, e o Contra-Almirante se dirigiu


para a porta.

– Podem ficar o tempo que quiserem nisso – disse Ramos,


apontando para o arquivo. – Depois, podem se considerar
dispensados.

A porta se fechou e o quarto voltou a ser o asfixiante armário que de


fato era. Gage balançou a cabeça.

– Tem burocracia demais – disse quase cuspindo. – Bem mais do


que quando a gente começou.

Ele não estava errado. Parecia que já se passara mil anos desde a
BUD/S e os soldados de quem fomos colegas já estavam longe. Eu
mal reconhecia o pessoal daquele tempo, inclusive os de alta
patente. Era bom ver gente das antigas, como Ramos, mas
restavam poucos.

– Vamos resolver isso – disse Devyn, puxando uma cadeira – e ir


para casa.
– Por que não ficar uns dias em San Diego?– perguntei – Mudar de
ares.

– Mudar de ares?– riu Gage – Sério?

– É. A casa está vazia.

Eles me olharam, e como sempre, eu soube no que eles estavam


pensando. A casa nem sempre fora vazia, pelo menos não desde
um mês, desde que ela esteve lá. Mas nós não tínhamos notícias
dela há semanas. A viagem repentina de Devyn a Nova York
aparentemente dera a Juliana exatamente o que ela queria.

Gage e eu, contudo, preferiríamos que ele tivesse voltado para


casa.

Assim, ela teria que vir buscá-lo em pessoa.

– Olha, eu não quero nem saber – disse Devyn na defensiva. –


Vocês passaram dias com ela. Não fiquem putos por eu ter querido
também.

– Mas...

– Sem “mas” – ele cortou Gage. – Olha, talvez ela ligue. Talvez não.

No fim das contas, o que está feito está feito. É isso aí.

– É isso aí?– repeti, tirando sarro. Empurrei o mapa de Mogadíscio


para o canto da mesa e abri um sorriso sardônico – Tem mais algum
ditado ou palavras sábias para compartilhar?

– Claro, tem um bem aqui.

Com isso, Devyn enfiou a mão no bolso por uns segundos e nos
deu o dedo do meio.
Capítulo 27
JULIANA
A decisão de ter um filho não fora repentina, mas fora com certeza
firme. Era ratificada toda vez que eu visitava meus muitos sobrinhos
e sobrinhas. Cimentada como algo que eu queria
desesperadamente depois de ficar com Addison, Evan e seus três
lindos pimpolhos.

Estava sentindo o impacto de completar trinta anos logo, mas isso


foi só o catalisador. Porque o verdadeiro fator motivador era
simplesmente estar sozinha. Voltar para um apartamento vazio toda
noite, sem nada para mostrar para o mundo depois de todo o meu
trabalho duro além de uma lista infinita de coisas materiais.

Não me entenda errado: as coisas materiais eram legais, também.


Mas como a mais nova de cinco irmãos, eu sempre ficava com a
sensação de estar perdendo alguma coisa. Eu tinha lembranças de
bons momentos, feriados e até de algumas férias com meus irmãos
e irmãs mais velhos. Mas eles sempre foram mais unidos, seus
laços mais fortes. Cinco anos mais nova que eles, sempre me senti
como se tivesse perdido muita coisa. Havia muitas histórias que só
eles compartilhavam. Muitas piadas internas e risadas espontâneas
que, infelizmente para mim, eu perdera por ter nascido tarde
demais.

Família. Era uma coisa muito importante para mim quando eu era
mais nova. E ainda assim eu sacrificara os poucos relacionamentos
com os parentes que eu tinha ao vir para Nova York e me
estabelecer aqui. Claro que eu ia para casa às vezes, e sempre me
recebiam de braços abertos. Mas era nesses períodos que eu
realmente via o que estava perdendo. Era nessas viagens que eu
babava na Abbyzinha dormindo tão gostoso nos braços do
meu irmão Patrick, ou via Colin, de três anos, erguer os olhos para
minha irmã Jessica e lhe dar um sorriso lindo e brilhante capaz de
chacoalhar o mundo.

E tinha os gêmeos lindos do Andrew, Zach e Kaitlyn. A escadinha


dos meninos da minha irmã Mariah: Jonah, Louis e Randall. Eu
tinha tantos sobrinhos que praticamente precisava de uma
secretária para não me esquecer de nenhum os aniversário e
cartões e presentes de Natal e Páscoa.

Mas sempre que eu chegava em casa, meu apartamento estava


escuro e silencioso.

Eu não queria esperar cinco anos e acabar com um filho pequeno


demais para brincar com seus muitos primos. Mas era mais do que
apenas isso. Algo me cutucava no meio da noite, enquanto eu
olhava para o teto.

Uma parte do meu coração sempre faltou, admitisse isso ou não.

Eu queria a maternidade.

Todos esses pensamentos rodopiavam pela minha cabeça quando


entrei pelo hall de carpete da clínica novamente. Eu sabia o que eu
queria, agora. Eu já fizera os exames de sangue e estava pronta
para a série de vitaminas e injeções pré-natais. Já lera tudo sobre o
procedimento de estimulação ovariana e extração de folículo. De
criação e implantação de embrião.

Às vezes tudo me parecia muito frio, atado a fórmulas e planejado,


mas eu sempre fora uma planejadora. Percebi que era o meu estilo.
Se tudo corresse bem, eu poderia conceber em dois ou três meses.
Eu carregaria uma criança. Eu a nutriria dentro de mim...

O filho de Devyn.

Biologicamente sim, mas apenas isso. E não só do Devyn.


Meu filho.

A ideia me aquecia por dentro. Em mais níveis que até eu jamais


imaginara.

– Ah, Sra. Emerson!

O diretor estava na porta de sua sala, atrás da recepcionista. Ele me


convidou para entrar, apontando para dentro com a ponta dos
óculos de armação de arame.

– Por favor. Sente-se.

A sala estava exatamente igual, os livros nas prateleiras não


pareciam ter sido tocados. Por alguma razão, isso me entristeceu.
Eu me perguntei quantos livros velhos, obsoletos, estavam parados
na mesma prateleira da Biblioteca Pública de Nova York, década
após década. Sem serem tocados, sem serem abertos.
Completamente esquecidos.

– Recebemos os resultados do seu exame de sangue – começou o


diretor, batendo uma pasta na mesa – e tenho boas e más notícias
para a senhora.

Meu estômago se embrulhou, dando-me náuseas repentinas. Isso


andava acontecendo muito, ultimamente.

– Certo – suspirei – comece pelas más.

O homem me olhou com muito cuidado, então cruzou as mãos


sobre a mesa.

– Temo que não poderemos ajudá-la a conceber – disse ele, sem


imprimir emoção na voz. – Pelo menos não por enquanto.

Fervi de raiva. Meu lábio superior se crispou num movimento


autônomo.

– Por quê?– perguntei – Perdeu a amostra do Sr. Bishop de novo?


Lentamente, sem dizer palavra, o diretor balançou a cabeça.

– Não, de forma alguma.

– É o meu exame de sangue, então? – inclinei a cabeça.

– Está tudo normal – ele me acalmou e puxou um papel da pasta. –

Boa função hepática. Baixo colesterol. Na verdade, a senhora está


muito saudável.

Saudável. Saudável era uma coisa boa, não?

– Não estou entend...

– A senhora seria a candidata ideal para fertilização in vitro – disse o


diretor alegremente. – Exceto por uma coisinha que, contudo, a
desqualifica.

Minha boca ainda estava aberta quando ele girou o resultado do


exame em 180º e o passou para mim.

– A senhora já está grávida.

Capítulo 28
JULIANA
A viagem foi tão mais longa dessa vez, tão menos agradável. Teve
uma escala na Filadélfia. Um atraso na pista. Acabou que a
locadora de carros perdera minha reserva, então passei mais uma
hora no aeroporto Sky Harbor esperando só para ser atochada num
carro apertado.

Não importava. Eu ia devolver o carro em poucas horas.

O caminho pelo deserto foi sombrio e frio, meus olhos cansados


fixos na comprida linha reta de asfalto que se estendia pelo escuro.
Duas horas depois eu estava na frente da casa. Todas as luzes
estavam acesas, mas ela parecia muito menos calorosa e
convidativa do que da última vez que estivera ali.

A enorme aldrava de ferro estava pesada e fria ao toque. Quando a


bati contra a porta de madeira, tive a sensação de que meu corpo
estava vinte quilos mais pesado.

– CARALHO! Ju!

O sorriso de Gage era tão verdadeiro, tão sincero, que quase partiu
meu coração. Ele me tomou no maior, mais incrível abração da
minha vida, praticamente me rodopiando pelo hall enquanto os
outros vinham correndo de dentro.

Devyn foi o próximo, me esmagando contra o peito enquanto eu


forçava um sorriso. Mas meu sorriso não durou muito. Ele sumiu
durante o resto dos cumprimentos, até Maverick acabar de me
abraçar e finalmente me colocar de novo no chão.

– Não acredito que você está aqui!– disse Maverick – Nunca


imaginei que você faria uma surpresa ass...
– Estou grávida.

As palavras apagaram os sorrisos, a felicidade e a animação. Não


porque não estivessem mais felizes ou coisa assim, mas porque os
três homens calaram a boca de choque.

Por um bom tempo, o único som foi o vento do deserto lá fora. Ele
uivou pelo átrio aberto, como uma estranha música sobrenatural.

– G-Grávida?– disse Devyn.

– Sim.

– Tem certeza.

Inclinei a cabeça e franzi o cenho.

– Certo, desculpe – disse ele. – Claro que você tem certeza. Sua
expressão de choque transformou-se em uma de hospitalidade
constrangida

– Entre! Entre, por favor.

Eu não queria entrar. Eu não queria ir a lugar nenhum. Eu só queria


o que vim buscar, e o que eu vim buscar levaria só três minutos.

– Olha, não é que eu não quisesse isso – comecei. – E estou muito


feliz com isso. Podem crer. O único, é... detalhezinho é...

Eles já estavam a meio caminho da cozinha, me levando pelo


corredor como fizeram da última vez. Eu segui com relutância, e
quando cheguei Gage já estava pegando as taças. Maverick lhe
olhou feio e ele rapidamente me ofereceu uma garrafa de água.

Eu recusei. Devyn puxou uma cadeira para mim, que eu recusei


também.

– Preciso de algo de vocês – disse, tentando ser corajosa –, de


vocês todos.
Gage olhou para baixo, pousando os olhos na minha barriga.

– Parece que você já ganhou uma coisa da gente – ele deu um


sorrisinho.

Ignorei a piadinha. Peguei três tubos de plástico com cotonetes


dentro do bolso da jaqueta. Cada um tinha uma etiqueta com um
nome diferente.

A cozinha ficou ainda mais silenciosa do que o hall.

– Você quer saber quem é o pai – disse Maverick sem rodeios. –


Por isso que você veio.

Acenei lentamente com a cabeça. A expressão deles ficou


indecifrável.

– Deve ser de um deles – disse Devyn, indicando os outros com um


movimento do queixo. – Você passou uma semana aqui com eles. A
gente só passou uma noite juntos.

– Talvez – concordei –, mas a noite que passamos juntos foi mais


perto da minha ovulação. Aproximadamente, pelo menos. Então é
concebível que seja de qualquer um de vocês.

– “Concebível” – repetiu Gage, mas dessa vez a piada não tinha


alegria.

– Desculpe. Podia ter fraseado melhor.

Os homens ficaram um longo tempo parados, olhando com


curiosamente para os cotonetes. Eu estava com eles na mão,
apontando cada um na direção de um deles. Mas ninguém se
mexeu.

– Olha, eu sei como isso é ridiculamente formal – eu disse – mas


preciso saber. Nós não usamos uma clínica de fertilização nem
nada, obviamente. Mas estou disposta a assumir 100% da
responsabilidade no tocante à guarda, gastos e tudo mais. Quando
a paternidade for determinada, vou pedir a meus advogados para
redigirem uma petição de renúncia ao pátrio poder...

– Você está de brincadeira, não é?– interrompeu Maverick – Foi por


isso que você veio?

– Quê?

– Você quer o nosso DNA? Você veio até aqui por causa disso?

Eu estava confusa, cansada, desorientada. Pasma, encolhi os


ombros.

– Então você não veio para nos ver ou falar com a gente – Gage me
olhou com olhos apertados. – Você veio pegar amostras de saliva...
e só?

Minha boca ficou tão seca quanto o deserto lá fora. De repente eu


desejei ter aceitado a água.

– Eu... eu só queria...

– Queria o quê?– disse Maverick – Um filho? Bom, parece que


agora você tem um. Mas você não quer um pai, não é? Não, isso
não. Você só quer um doador. Um doador que não está nem aí.

– Mas sempre foi isso – respondi. – Nada mudou. Sempre foi isso
que eu queria.

– É mesmo?– disse Gage – E o que a gente quer?

Odiei ver Gage assim. Ele sempre fora o que me fazia sorrir, me
fazia rir. Mas nesse momento ele parecia confuso. Magoado. Até
com raiva.

Merda.

Recompondo-me, tentei analisar a situação racionalmente. Eu ainda


não estava entendendo a reação deles. Eles sabiam por que eu
viera aqui pela primeira vez, eles sabiam o que eu estava buscando.
Devyn tinha até se oferecido para tanto, mas Devyn estava
anormalmente quieto.

Eu fiquei sob a arcada, ainda me recusando a entrar na cozinha.


Eles se revezaram olhando-se em silêncio. Por muito tempo,
ninguém disse nada.

– Bom... parabéns, então.

Devyn finalmente falara, do outro lado da cozinha. Inclinando-se


sobre a bancada com os braços cruzados, sua expressão era
estoica.

Completamente indecifrável.

– Façam o que ela quer.

Ele foi o primeiro, tomando seu cotonete da minha mão. Olhando-


me nos olhos, ele abriu a boca e passou a ponta do cotonete dentro
da bochecha, virando-o dos dois lados. Eu me perguntei quantas
vezes ele já fizera isso para o exército. Mais de uma vez, parecia.

Quando devolveu o cotonete ao tubo protetor, os outros já estavam


fazendo o mesmo.

– Aqui – disse Maverick quando terminaram. Ele foi o último a


entregar o cotonete. – Agora você tem o que queria.

Tentei engolir, mas não consegui. Só consegui concordar com a


cabeça.

– O-Obrigada.

– Quer que te deixemos num hotel?– perguntou ele.

Suas palavras foram frias. Cirúrgicas. Longe estava o calor, a


leveza, o afeto.
– Não, Estou de carro.

– Ótimo, então – disse ele virando as costas. – Dirija com cuidado.

Um por um eles deixaram o cômodo, com Devyn saindo por último.

Ele me deu um último olhar – algo que me pareceu compreensão,


talvez, mas com um traço de tristeza.

E então partiu.

A caminhada de volta pelo hall pareceu ser de mil passos, mas eu a


fiz sozinha. Fechei a porta, dei partida no motor e engoli o choro ao
fazer o retorno na entrada.

Capítulo 29
JULIANA
A gente pode se sentir mal e a gente pode se sentir um total e
completo cocô. Os dois são péssimos, mas a terceira opção –
sentir-se um total e completo cocô com um toque de raiva
incontrolável e irracional – é o pior de todos.

A volta para casa foi um pesadelo que combinava passar raiva,


dormir, acordar e me sentir terrível de novo. Eu sabia que tinha
lidado mal com a situação. Eu dera a notícia a eles de forma fria e
impessoal num momento em que estavam super felizes por me ver.

Mas, repito, eu precisava cortar laços. Quanto mais eu adiasse esse


afastamento, mais difícil seria para todos nós. Obviamente, eu
precisava contar a eles e precisava saber quem era o pai biológico
do meu filho. Mas não precisava de mais ninguém na minha vida
para além disso. Eu mal teria tempo para o bebê. E o bebê, eu
sabia, exigiria toda a minha atenção.

Pela próxima semana ou mais eu adormeci minhas emoções,


imersa no trabalho. Eu ficava o máximo possível no escritório, para
depois chegar em casa exausta e desmaiar na cama.

Finalmente marquei uma consulta com um obstetra bem


recomendado. Recebi um diagnóstico de que estava com boa
saúde, um regime de vitaminas pré-natais e ordens severas de
evitar estresse, cafeína e mais um monte de coisas. A partir daí,
tentei focar na alegria de finalmente estar grávida. Eu até montei o
quartinho, móvel por móvel, decorando com amor tudo que eu podia
sem ainda saber o sexo do bebê.

Mas não importa o que eu fizesse, não havia alegria. Não havia
felicidade naquilo sabendo como eu deixara as coisas com eles.
Merda.

Até então, eles me deram espaço e não entraram em contato.

Provavelmente porque era o que eles imaginaram que eu queria. E


era o que eu queria... até certo ponto. Pelo menos era o que eu dizia
a mim mesma que eu queria, por umas boas vinte e três horas por
dia.

Mas sempre tinha aquela hora final, logo antes de dormir, em que
era assaltada pela dúvida. Aqueles delirantes últimos momentos
antes que o sono me levasse, quando a solidão era mais forte, meu
coração doía e as lembranças dos três invadiam minha mente
exausta.

Foi em uma noite dessas, logo antes da meia-noite, que peguei o


celular de repente. Coloquei o número de telefone dos três e mandei
uma única mensagem com uma única palavra, para garantir que eu
clicaria em

“enviar” antes que algo dentro de mim me fizesse mudar de ideia:


Desculpe.

Achei que assim eu me sentiria melhor. Eu não senti nada. Talvez


porque, como Gage apontara, eu ainda estava pensando somente
em mim mesma. Eu só estava tentando racionalizar as coisas na
minha própria cabeça e aliviar minha própria culpa. Eu ainda não
estava pensando nas necessidades deles, nas vontades deles, nos
desejos deles.

Para resumir, eu era babaca.

Eles ainda não tinham respondido à minha mensagem e eu também


não esperava realmente que respondessem. Eu só podia torcer que
eles tivessem acreditado na sinceridade do pedido.
As amostras de DNA dele ainda estavam no porta-lápis em um
canto da escrivaninha do meu apartamento. Três tubos de plástico.
Três nomes.

Três homens incrivelmente corajosos e extraordinários que fariam


inveja em qualquer mulher do mundo. Homens que seriam um
incrível pai biológico, qualquer um deles.

E ainda assim eu não sabia.

Exames de DNA pré-natais já eram tão simples e não invasivos.


Nada como a antiga amniocentese, que incorria em risco. Só
precisava de uma amostra de DNA dos pais em potencial e uma
pequena amostra de sangue da mãe, tirada do braço. Era rápido.
Fácil. Definitivo. E podia ser feito logo na quinta semana de
gravidez, que eu já tinha passado há muito tempo.

Então por que eu ainda não fizera?

Essa era a pergunta de um milhão de dólares. Alguma coisa me


segurava, alguma razão desconhecida me impedia de ir em frente e
descobrir se meu filho seria de Maverick, Gage ou Devyn. Eu pensei
muito nos três. Eu poderia até admitir que amava cada um deles de
um jeito diferente e ficaria muito feliz independentemente de quem
acabasse sendo o pai do meu filho.

Não, o problema com certeza não era eles.

O problema era eu.

Eu estava completamente absorvida em resolver as idiotices diárias


quando Aric entrou de supetão na minha sala, andando pelo
corredor de vidro pelo menos 50% mais rápido que o normal. Sua
cara de Clark Kent parecia preocupada. E preocupação não era algo
que lhe caía bem.

– Acho que temos um problema.


Parei de olhar os projetos de arte da Bagel Maniac, para quem eu
prometera fazer a abertura de cinco lojas nos cinco distritos de Nova
York.

A campanha seria divertida, engraçada e agressiva. Eu estava


curtindo bastante.

– Acabei de falar com o Robert Valentine – disse Aric. – Foi um


telefonema muito estranho. Fiquei com a impressão que ele talvez
esteja nos dispensando.

– O Valentine? – eu ri – Fala sério. É paranoia.

– Pode ser – cedeu Aric –, mas você poderia dar um alô para ele só
para eu ficar tranquilo? Ou prefere ser pega de surpresa?

Robert Valentine era o nosso cliente mais antigo. Nosso maior


cliente.

Ele era o CEO e chefe de criação da Legendary Gaming – a


empresa que eu

“viralizara” com minha campanha de publicidade zumbi.

Nós fazíamos todo o marketing da LG desde a fundação. Todo o


conceito artístico, toda a promoção. Absolutamente todas as áreas
de

marketing, desde campanhas no mundo real até cada canal de suas


redes sociais.

– O que ele disse, exatamente?

– Não foi o que ele disse – respondeu Aric. – Foi o que ele não
disse.

Ele parecia muito nervoso e não perguntou nada. Não ajustou


nenhum prazo, não mudou nada no conceito. Não quis acompanhar
o progresso de nada. Foi o call semanal mais curto que já fizemos
com ele. Quando ele desligou, todo mundo na sala de conferências
se entreolhou, perplexos.

Aric ainda parecia preocupado. Isso me preocupou.

– Tudo bem. Vou dar uma sondada nele.

– Obrigado, chefe.

Observei enquanto ele saía tenso da sala, sem seu andar tranquilo
de sempre. Ele estava nervoso mesmo. Em algum momento eu teria
que contar que estava grávida, e esse momento chegaria mais cedo
do que tarde. Aric era a única pessoa em que eu confiava, e não
poderia esconder isso dele por muito tempo. Além disso, eu estava
meio que doida para contar. Até então, manter minha gravidez em
segredo fazia-a parecer quase irreal. Como se não fosse verdade
mesmo.

Pegando o celular, liguei para o número direto de Robert Valentine.

Talvez eu ainda não pudesse abrir o jogo sobre o filho que estava
esperando, mas pelo menos podia tranquilizar meu assistente.

Capítulo 30
GAGE
O motor do buggy de areia engasgou quando eu virei a chave,
dando uma última tossida que ecoou pela garagem. Definitivamente
precisava de conserto. Principalmente considerando o quanto a
gente o usava.

Mas às vezes, você tem que ir para o meio do deserto para pensar
nas coisas.

Foi um desses pores do sol inesquecíveis. O tipo que te faz dirigir


até o lugar mais remoto que encontrar e só ficar lá, absorvendo o
silêncio. Vi o céu ficar amarelo, depois laranja, depois um intenso,
lindo vermelho. Fiquei para vê-lo ficar azul e roxo, também, só
pensando nas coisas.

Foi aí que tomei a decisão de ligar para ela.

Eu estaria quebrando o acordo e odiava essa parte. Mas ao fim e ao


cabo, eu não conseguia parar de pensar na Juliana. Não só porque
ela talvez estivesse carregando o meu filho, embora isso também
influenciasse. Mas principalmente porque no pouco tempo que
passamos juntos, eu me senti mais próximo dela do que de qualquer
outra mulher na vida inteira.

Apaguei os faróis e entrei pelo pátio, passando sob a arcada dupla


que levava até a parte principal da casa. Ouvi música alta vindo da
academia: parecia AC/DC, o que significava que era Devyn quem
estava lá. Maverick teria escolhido alguma coisa ridícula como
Mozart ou Beethoven, o que eu nunca consegui entender. Como ele
conseguia levantar peso ao som de alguém tocando piano sempre
foi um mistério para mim.
Subi as escadas discretamente, quase me sentindo como se
estivesse fazendo algo errado. Mas a essa altura, eu já não me
importava. Eu achava

que era ainda mais errado não voltar a falar com essa mulher que
caíra de paraquedas na nossa vida como uma bomba atômica. Eu,
pelo menos, estava de saco cheio de viver nas ruínas radioativas do
nosso silêncio amargurado.

– Escuta, nós estamos fazendo o que ela queria – Devyn nos


garantira, várias e várias vezes. – Pode acreditar, é isso que ela
quer.

Eu não estava 100% certo disso, mas respeitei assim mesmo.

Contudo, a mensagem de desculpas que ela mandara alguns dias


atrás era uma boa indicação de que ela ao menos pensava na
gente. Que ainda não estávamos completamente no passado. Pelo
menos no coração dela, se não na cabeça.

A porta de Devyn estava fechada e a televisão ligada. Eu ri


lembrando-me de como ele ficou puto quando soube que ficamos
com Juliana pela primeira vez na cama dele. Não foi de propósito,
foi só que o quarto dele era o primeiro do segundo andar. O primeiro
lugar em que finalmente poderíamos ficar com ela.

Entrando em meu próprio quarto, lembranças daquela noite


esvoaçaram pela minha mente. Recordei a intensidade visceral da
nossa conexão a três. Quão molhada e sedenta Juliana estava de
nos ter entre aquelas coxas quentes e lindas. Maverick e eu fizemos
tantas coisas maravilhosas com ela ao longo daquela semana, tanto
juntos como a sós.

Nós a dividimos de novo e de novo, até o corpo inteiro dela tremer.

Eu ainda me lembrava dela entrando no meu quarto no meio da


noite, depois de ter apagado Maverick de sexo. Eu ainda me
lembrava da maciez dos seus lábios. Do toque de seu corpo quente
e nu – ainda ruborizado pela transa – deslizando deliciosamente
para o meu lado.

Foi fazendo amor assim no meio da noite, olhando fundo nos olhos
um do outro, que nós realmente nos aproximamos. Que nossos
vínculos mais pessoais foram formados.

Eu adorava fazê-la rir, até enquanto estava dentro dela. O sorriso


dela virou o meu mundo. A risada dela era o remédio que curava
minha alma.

Tudo parecia ridiculamente sentimental, lembrando-me ao acordar.


Mas agora, sozinho no quarto vazio, eu entendi que não havia nada
de ridículo naquilo.

Vê-la voltar para Nova York foi agridoce, mas até onde dependia de
mim, sempre haveria chance para algo mais. Não tinha como nós
três termos nos dado tão bem e não querer repetir a dose,
principalmente depois de nos despedir com tanto carinho.

Mas agora, graças a um de nós, pelo menos, ela conseguira


exatamente o que queria. E agora que ela conseguira...

Foda-se.

Peguei o celular, atravessei o quarto e tranquei a porta. Então,


sentando na cama que compartilhamos, disquei o número dela...

...e torci que ela tivesse a coragem de atender.

Capítulo 31
JULIANA
– Uhmm... Gage?

Já era bem depois da meia-noite, e por alguma razão eu acabara de


fechar os olhos. Eu não tinha exatamente dormido ainda. Mas
também não estava completamente desperta.

Mas o nome que apareceu na tela do meu celular...

– É, oi. Sou eu.

Eu me sentei na hora, apoiando as costas no travesseiro.


Colocando o cabelo atrás das orelhas, liguei o viva-voz.

– Desculpa ligar tão tarde – ele se desculpou. – Sei que aí são


algumas horas mais tarde que aqui, mas...

– Não, não – cortei –, tudo bem.

– Mas você estava dormindo?– arriscou ele.

– Não sei se dá para falar que era isso – suspirei –, mas tudo bem.

Houve um momento de silêncio, enquanto nós dois esperamos que


o outro falasse. Se ele estava me ligando a essa hora, ele devia ter
algo importante a dizer.

Mas é do Gage que estamos falando.

– Então, como vai o nosso filho?

– O nosso filho?

– Sim.
Não consegui segurar o riso.

– E por que você acha que é seu?

– Porque sei que fui mais longe que os outros – disse ele com
orgulho

– e mandei mais fundo, também.

– É mesmo?– desafiei – E como você sabe?

– Sabendo.

Eu ri mais.

– Você é bem confiante.

– E você não seria, se fosse eu?

Eu conseguia enxergar o sorriso dele do outro lado do telefone.

Alegre. Moleque. Caramba, como eu sentia falta desse sorriso.

– Então, como você está?– perguntou ele.

– Bem – respondi. – Acho que o enjoo matinal já passou. Não estou


mais com náusea, pelo menos.

– Parece um bom sinal.

– É.

– Mas você ainda tem várias coisas ótimas pela frente – adicionou
ele, alegre. – Azia, cansaço, pé inchado. Ir no banheiro o tempo
todo.

– Ótimo – eu ri.

– Insônia.
– Essa aí já superei – grunhi.

– Síndrome das pernas inquietas. Enxaqueca...

– Enxaqueca?– disse preocupada – Sério?

– Acho que sim – admitiu Gage. – Lembro de ler alguma coisa


assim.

Voltei a me deitar, puxando as cobertas. Elas estavam quentinhas.

Confortáveis.

– Então você andou lendo sobre gravidez?– perguntei.

Houve uma pausa curta do outro lado da linha. E então:

– Um pouquinho, sim.

– Que fofo, Gage.

– Fofo?

– Muito.

Fazia tanto tempo que eu não ouvia a voz dele que até me
esquecera como era. As lembranças voltaram com tudo, todas de
uma vez. Junto com outras lembranças, quisesse eu ou não.

– Acabei de voltar do deserto – disse ele. – Pensei um bocado.


Refleti um bocado.

– Pensou no quê?

– Um monte de coisa – murmurou Gage.

Andando no deserto. Correr por longos pedaços de areia no meio do


nada. Soava incrível naquele momento.
– E onde você está agora?– perguntei a ele.

– Na cama – disse Gage. Ele ficou em silêncio de novo. – Você


lembra da minha cama, não é?

Um nó se formou em algum lugar da minha barriga. Um nó


quentinho.

– Umm-hmm.

– Minha cama está com saudade – disse Gage. – Ela não está mais
com o seu cheiro.

Abri a boca para falar, mas acabei fechando de novo. Eu não sabia
o que dizer.

– Outras partes seletas de mim também estão com saudade –

adicionou ele.

– É – dei um sorrisinho –, aposto que sim.

O viva-voz fez um ruído de estática quando ele deu um suspiro


comprido.

– Ju?

– Quê?

– Eu estou com saudade.

O nó se apertou. O calor na minha barriga se espalhou.

– Eu... Eu também estou com saudade.

Pronto. Falei. As palavras viajaram três mil quilômetros em questão


de segundos, e eu não poderia mais retirá-las.
– Estou com saudade dos três, na verdade – adicionei, pensando
que poderia diluir o impacto do que acabara de dizer. Pensando em
retrospecto, provavelmente foi o oposto. – Odeio a forma com que
deixei vocês. Aquilo tudo... Eu conduzi as coisas errado.

Era isso o resto do pedido de desculpas? Se fosse, não era como


eu normalmente me comportava. Eu não suportava estar errada e
odiava admitir estar errada. No entanto, só de pronunciar essas
poucas palavras, senti uma catarse. Como tirar um peso dos meus
ombros já tensos.

– Era uma situação difícil – disse Gage. – Acho que não tem um
jeito simples de lidar com uma coisa assim.

– Mas...

– Olha, você é uma pessoa direta, Ju. É uma das coisas que
admiramos em você. Nunca se desculpe por falar as coisas direto e
reto.

Ele se esticou, fazendo um barulhinho com o fundo da garganta.


Soou masculino. Sexy.

– É, bom, mas tem jeitos melhores, com certeza – admiti. – Eu não


levei os sentimentos de vocês em consideração, e isso foi errado.

Meu edredom me pareceu pesado e seguro então, me esquentando


até um outro nível de relaxamento. Por um segundo imaginei que
Gage estava atrás de mim, me abraçando por trás. Seus longos e
lindos braços me enlaçando com força, em vez do cobertor.

– E o resto está bem?– perguntou ele.

Respirei fundo, devagar, e soltei o ar num suspiro.

– Basicamente sim. Só umas coisas no trabalho que eu tenho que


dar um jeito. Mas nada que eu não dê conta.

Ele deu uma risada no fundo da garganta.


– Disso eu sei.

– E vocês?– perguntei – Como Maverick está? Ainda está perigoso?

– Mais perigoso que nunca – disse ele com a voz do Iceman. – Não
estou chegando nem perto dele.

Meu sorriso se alargou.

– E o Devyn?

– O Devyn é o Devyn – disse ele com simplicidade. – Talvez ele


esteja um pouco mais quieto que o normal. O que eu e o Maverick
preferimos, na verdade.

Imagens voltaram, lembranças da casa, dos caras e de tudo que


fizemos lá. Queria focar nas boas. Mas não parava de ver o
helicóptero decolando. Os três lentamente saindo da cozinha, me
dando as costas depois de entregar os cotonetes.

– Os outros sabem que você me ligou?– perguntei abruptamente.

– Não – confessou Gage –, mas vão saber amanhã.

– Porque vocês contam tudo um para o outro.

– Sim, sempre.

Acenei com a cabeça para o telefone. A saudade voltara, os


sentimentos ficaram mais fortes, mais perigosos. Como Maverick
rodeando a torre, em Top Gun.

– Tenho que dormir um pouco – disse a Gage.

– Beleza. Sem problema.

– Tenho uma reunião amanhã cedo. É meio importante.

– Arrebenta então – disse ele. – Isso é uma ordem.


Suspirei de novo, com mais sono dessa vez.

– Boa noite, Gage – bocejei.

– Boa noite, Ju.

– Ah, só mais uma coisa... – pausei, mas só por um momento –


Pode me ligar de novo – disse eu. – Sabe... se você quiser.

Sem nem fechar os olhos, eu já enxerguei seu sorriso largo e


branco, cheio de dentes.

– Pode contar com isso – disse ele, e desligou.

Capítulo 32
JULIANA
Eu não via Robert Valentine há quase seis meses, exceto em
reuniões do Zoom. E não ia à Legendary Gaming há quase o dobro
disso, desde que Aric assumira as tarefas cotidianas do
relacionamento com o nosso principal cliente.

Era o mesmo prédio, embora estivessem ocupando mais andares. A


Legendary adquirira algumas empresas de vídeo game novas e
recentemente engolira uma grande concorrente. Eles estavam
expandindo rápido para o terreno da realidade virtual e criaram um
simulador de ponta que aparentemente ia deixar todos os outros “no
chinelo”, se conseguissem lançá-lo. O problema é que o projeto
nunca era aceito. As especificações mudavam constantemente com
a invenção de novas tecnologias, e às vezes parecia que nunca ia
acontecer.

Eu não invejava esse problema aparentemente infinito, nem ficara


ressentida com Robert por mal ter falado comigo no telefone no
outro dia.

Mas pensando nas coisas uma segunda e terceira vez e repassando


nossa ligação na cabeça, eu tinha que concordar com a avaliação
simples, porém vaga de Aric:

Algo com certeza estava errado.

O elevador me deixou no mesmo lobby de sempre, onde encontrei a


nova recepção deles e o novo recepcionista. Tudo estava maior e
mais impressionante, exceto pelo homem baixo e pálido por trás do
balcão, que não se encaixava no cenário.

– Bom dia, senhora, como posso ajudar?


Até a voz do homem era fraca e metálica. O enorme balcão da
recepção parecia engoli-lo, dando a impressão de que ele era
pequeno e fora de lugar. Como um garotinho experimentando os
sapatos do pai.

– Vim me encontrar com o Sr. Valentine.

Ele arregalou os olhos. Após um momento olhando algo na mesa


diante de si, ele balançou a cabeça.

– Não tem nenhuma visita marcada para...

– Pode deixar. Eu mesma o encontro.

Passei por ele e me dirigi à porta com moldura de aço ao lado.


Antes que o recepcionista pudesse protestar, estendi a mão e
apertei o botão que eu sabia que permitiria a minha entrada. O
balcão era novo, mas o botão ainda era o mesmo... e estava no
mesmo lugar.

– S-Senhora!– gaguejou ele – A senhora não pode simplesmente...

Quaisquer outras objeções que ele tinha foram cortadas quando a


porta se fechou às minhas costas. Passei com rapidez pelo labirinto
dos primeiros corredores e cheguei ao andar da gerência de
projetos.

– Caramba.

Antigamente, esse fora o coração da Legendary Gaming – a área de


brainstorm dos criativos contratados. Antigamente ficava cheio de
escrivaninhas e mesas que não combinavam, até alguns sofás aqui
e ali. As discussões tinham vida. As pessoas tomavam café juntas e
se amontoavam sobre notebooks enquanto olhavam gráficos,
propostas e concept art.

Mas não mais.


Os sofás, as mesas, o artesanal, a raiz, tudo se fora. A distribuição
aleatória das mesas fora substituída por longas linhas e colunas de
paredes pré-fabricadas e divisórias brancas. O espaço virara uma
grande série de cubículos, com gente sentada à distância padrão
em cadeiras de escritório padrão e trabalhando em terminais
idênticos.

Igual a plantinhas crescendo em vasinhos quadrados.

Algo que Aric disse uma vez em que estávamos concorrendo para
uma campanha num escritório no mesmo estilo. Fiquei triste na
época.

Fiquei ainda mais triste agora.

– Juliana! Oi!

Uma mulher morena de meia idade veio correndo até mim e me deu
um abraço semiformal. Tori era uma das primeiras seis funcionárias
da Legendary e já estava na empresa há tempo suficiente para me
chamar pelo primeiro nome. O que é muita coisa.

– Meu Deus, não te vejo há um século! – engasgou-se ela – Como


que você está?

Gravidona, eu quis dizer. Mas essa notícia ainda não estava


circulando.

– Nada mal – sorri, em vez de contar, e devolvi seu abraço. – E


você?

– Maravilhosa – declarou ela – tirando as mensalidades de três


faculdades diferentes no lombo de uma vez só.

– Faculdade!– sorri – Já?

– Já – disse ela revirando os olhos. – Mas foi ideia do David ter um


filho depois do outro, então a culpa é dele. Se dependesse de mim,
eu teria dado um tempo entre cada um. Dado uma folga para o meu
pobre corpinho, sabe?

Fiquei lá por um momento, tentando lembrar os nomes dos filhos


dela, mas só me dava um branco. Por sorte, a própria Tori acabou
com o meu sofrimento.

– Veio ver o Robert?

– Sim, por favor.

– Ele está pirando esses dias – resmungou Tori –, principalmente


com todas essas coisas novas. Mas vem comigo. Eu sei onde ele
está.

Passamos por meia dúzia de portas e subimos dois lances de


escadas por trás de paredes de vidro. As salas dos andares
superiores encaravam a parte exterior do prédio e todas tinham
janela. Em forma de U, também tinham vista para o andar dos
projetos.

Encontrei Robert Valentine no fundo de uma salinha de café


executiva, misturando açúcar sintético numa caneca fumegante de
café forte. Quando ele me viu, seus olhos ficaram do tamanho de
bolas de sinuca.

– Juliana!– exclamou ele – Que surpresa ótima!

Em menos de meio segundo o medo em seu rosto foi substituído


por um carinho tão verdadeiro que quase me amoleceu. Ele me deu
o abraço de praxe e me fez entrar rapidamente no que pelo visto era
sua nova sala. Que, eu notei, era menor que a antiga.

– Não sabia que a gente tinha uma reunião hoje – começou ele. –
Não achava que...

– Vamos lá – cortei, com uma olhadela que dizia tudo. – Sou eu.
Robert parou de falar enquanto eu andava por sua nova sala,
observando tudo. Sua mesa era a mesma de sempre, mas nessa
sala ficava grande demais. E não tinha mais plantas. Metade de
suas miniaturas de avião também não estavam mais lá.

Ahhhh, bosta.

Com certeza absoluta algo estava errado. Algo tão grande que nem
Robert estava conseguindo administrar.

– Quer me dizer o que está acontecendo?– perguntei.

O rosto normalmente alegre de Robert estava rabiscado de sono e


rugas de estresse. Mas a sua expressão preocupada mudara.
Naquele momento ele exibiu a resignação aliviada de alguém
cansado de fugir.

Alguém desesperado para finalmente confessar.

– Desculpe, Juliana – disse ele com voz oca e derrotada. Erguendo


um braço cansado, ele apontou para uma cadeira vazia. – Sente-se
e vou te contar tudo.

Capítulo 33
JULIANA
– Caralho Robert!– gritei de novo – Assim? Depois de todo esse
tempo!?

A notícia era de cair o queixo, contudo uma parte ainda maior de


mim acreditava sem problemas. Eu me tornara cegamente
autocomplacente.

Insensatamente confortável. Eu achei que meu maior, mais antigo


cliente ficaria comigo de forma incondicional, e agora finalmente a
água batera na bunda.

A Legendary Gaming ia contratar outra agência.

– Quem?– perguntei – Quem poderia...

– Vamos assinar com a Skyline– disse Robert, curto e grosso.

Era a pior coisa que ele poderia dizer. Preferia que ele tivesse me
dado uma facada no estômago.

– Aqueles abutres?– grunhi – Sério?

– Juliana, não foi uma decisão minha – reiterou ele.

– Você é o CEO!– disse com rispidez – O dono! O fundador! O...

– A gente abriu o capital e agora temos acionistas – apontou Robert.


Agora temos um outro nível de superiores. Estão acima até de mim.

Balancei minha cabeça rodopiante, ainda tentando entender o que


acontecera. Nosso maior cliente. Pior ainda, nossa maior fonte de
renda.

Tirada bem debaixo do nosso nariz.

– Desculpe – disse Robert pela centésima vez – Eu lutei por você


para valer, pode acreditar. Não é que você não tenha feito um bom
trabalho, mas

tem outros fatores.

– Outros fatores?– dei uma risada amarga – Como o quê?

– Conectividade – disse Robert com simplicidade. – A Skyline tem


escritórios na costa oeste além do de Nova York. No tocante a
público, o braço deles é mais longo. Eles têm muito mais alcance.

– E daí?– desafiei – O custo deles é o dobro. E é você que vai pagar


a conta.

– Mas é muito mais do que isso – disse Robert. – Eles estão ligados
no...

O discurso era tão batido que eu acabei gargalhando antes que ele
terminasse. Ri muito e por muito tempo, mas por dentro estava triste
por Robert ter comprado essa palhaçada.

– Ouvi falar que eles não são nem orgânicos – praticamente cuspi. –

Já foram flagrados várias vezes comprando seguidores. Eles usam


fazendas de cliques para fazer os números subirem e fazem as
campanhas dos clientes parecerem muito mais bem-sucedidas do
que de fato são.

Robert juntou as pontas dos dedos. Ele parecia estar pensando.

– Ouvi falar disso também – disse ele, por fim. – Mas o negócio já
foi praticamente fechado e a decisão já foi tomada – ele se mexeu,
desconfortável, na cadeira. – Vamos terminar todos os contratos
atuais com você, é claro. Vamos completar tudo que estamos
fazendo com a Shameless no momento, não importa o que
aconteça.

Soltei uma risada curta, sardônica.

– Que magnânimo, você.

– Juliana...

– Lembra do começo, Robert?– interrompi – Quando era só você e


eu? Quando você veio para mim com meio conceito de jogo e zero
de orçamento e eu mesmo assim te aceitei e arrisquei tudo que eu
tinha?

Ele baixou a cabeça e olhou para a mesa.

– Lembro.

– Nós forjamos nossas empresas naquele dia – disse eu com


orgulho –

do fogo da criatividade. Você tinha colhão naquela época, Robert!


Nós dois

tínhamos. Tanto colhão que a gente não se intimidava de por eles


para fora da calça e balançar.

Ele riu.

– Bom, essa é uma imagem, não?

Todavia, sua tentativa de amenizar caiu em ouvidos moucos.

– Adeus, Robert.

Girei nos calcanhares e disparei em direção à porta. Ele me


chamou, mas percebi que da boca para fora. Talvez, percebi, tudo
que ele fazia era da boca para fora desde que abrira o capital.
Lembre-se deste momento.

Meu amigo finalmente se vendera, por assim dizer. Mas era ele
quem realmente estava errado? Pelo menos ele enchera o bolso de
dinheiro antes de passar o bastão. Talvez a otária fosse eu.

Pelo menos no momento, eu com certeza me sentia feito uma.

Capítulo 34
JULIANA
As próximas semanas foram um redemoinho de trabalho e estresse,
piorado mil vezes por só poder tomar café descafeinado. Eu tinha
que jogar fora o café que Aric me trazia em algumas manhãs e
colocar o meu escondido no copo. Também tive que interromper
nossas reuniões com sushi de sexta-feira fingindo estar com desejo
de comida mexicana ou tailandesa.

Aric e eu passávamos o dia todo, todos os dias correndo atrás de


clientes novos enquanto nossa equipe fazia das tripas coração para
manter os clientes atuais satisfeitos. Sentamos com os contadores.
Analisamos os números de todas as perspectivas. Mas no fim, a
resposta era clara: a perda da Legendary Gaming afetaria nossa
empresa radicalmente, de formas que me davam um arrepio só de
pensar.

Droga.

Eu me culpava 100%, é claro, por apostar todas as fichas numa


coisa só. Eu só achava que a aposta seria certeira sempre. Também
era culpada por não prestar mais atenção na Skyline e sua
dominação crescente no ramo do marketing. A empresa explodira
tão rápido e em tantas direções que eu devia ter me precavido
contra algo assim.

Mas não estava tudo tão mal.

Por exemplo, os rapazes começaram a me ligar de vez em quando.

Eles se revezavam para me ligar à noite e não me “cansar”. Gage,


claro, dissera a eles que conversamos. Com relação a isso, ele
reabrira a caixa de Pandora.
Mas nesse estado, eu agradecia por isso.

Ainda mantendo segredo até o segundo trimestre, eu não tinha com


quem falar da gravidez, nem mesmo com minha família. Mas com
Devyn, Maverick e Gage, eu tinha um trio inteiro para chorar no
ombro. Eu contava tudo sobre minhas dores, mudanças de humor e
desejos. E era bom simplesmente poder falar com eles de novo.
Seus conselhos, por mais estranhos e engraçados que fossem às
vezes, sempre eram bem vindos.

Outra coisa aconteceu: Gage começou a mandar presentes para o


bebê. Eles começaram pequenos: macacõezinhos camuflados
lindos, ou babadores com dizeres engraçados. Foram progredindo
para mordedores, brinquedos e até livros, alguns dos quais eu não
tive coragem de lhe dizer que custariam anos para poderem ser
lidos. Em certo momento, os presentes ficaram maiores: andadores
multiatividades e cadeirinhas, até uma poltrona de amamentação
que parecia bem cara e que me levou umas boas duas horas para
montar. O pior é que ele sempre mandava as coisas para o
endereço do escritório, aonde sempre chegavam embrulhadas em
papel pardo.

Comecei empilhando os presentes no fundo da minha sala, atrás de


um vaso grande de figueira e uma cadeira de espaldar alto. Mas
chegavam presentes demais. Tantos que eu até parei de abrir. Um
dia Aric entrou, fechou a porta, e a cara que ele fez era de pura
animação sarcástica.

– Você sabe que as paredes aqui são de vidro, não é?

Pensei numas duas ou três mentiras dentro de cinco rápidos


segundos.

Mas nenhuma que colaria.

– É isso?– o rosto do meu assistente se iluminou – Você está?


Ele leu nos meus olhos antes que eu abrisse a boca. Pela primeira
vez em um bom tempo, eu me permiti um sorriso verdadeiro.

– Sim. Estou.

Aric saltou para frente gritando de alegria, me engolfando naqueles


grandes, longos braços. Foi maravilhoso, ser abraçada por ele.
Devolvendo o aperto, permiti que uma única lágrima rolasse pelo
meu rosto feliz.

– Juliana! PARAB...

E então as comportas se escancararam e eu comecei a chorar sem


disfarçar no peito dele.

Foi tudo incrível. O calor. O conforto. A proximidade física de alguém


que eu conhecia, respeitava e até amava me abraçando forte
enquanto eu extravasava semanas de emoções reprimidas e
tensão. Por um minuto eu só fiquei lá, chorando, mas sem soluçar.
Sem nem me importar que as paredes eram de vidro e que a
empresa inteira veria meu aparente colapso.

– Isso é maravilhoso – dizia Aric – Melhor que maravilhoso! Já


contou para a sua família? São eles que estão mandando os
presentes?

Balancei a cabeça. Aric fez cara de ponderação.

– Oh! Entendi! – ele deu um apertãozinho nos meus ombros – São


dele – ele examinou minha expressão, tentando ler alguma coisa. –
E isso é ruim ou bom?

– É bom – disse com voz embargada.

– Então estou muito feliz por você – disse ele com sinceridade. – Eu
sei o quanto você queria isso, Juliana. Eu sei quantos obstáculos
você superou para chegar até aqui.
Ele me olhou como um irmão e tocou meu rosto. Seu sorriso era tão
largo que era contagiante.

– Não acredito! Você vai ter um bebê!

– Vou mesmo.

– Caralho. Puta que pariu!

– Eu sei – eu ri. – Ainda não caiu a ficha.

– Espera até o coitadinho descobrir com quem ele está lidando!–

declarou Aric – A mãe dele é uma tirana impiedosa! – Ele pausou


por um momento, passando a mão no queixo e pensando. – Ou
talvez seja ele ou ela quem vá tiranizar você – teorizou ele.

– Duvido – dei um sorrisinho.

– Não, eu acho que vai ser isso mesmo – insistiu Aric. – Um lindo
garotinho que vai roubar seu coração. E se for menina... – ele
balançou a cabeça devagar – Ela vai ser uma versão sua em
miniatura. Ela vai te ter bem sentadinha na palma da mão dela e
você vai chegar chorando todo dia, implorando a minha ajuda.

Eu ri e a risada foi tão gostosa que não consegui parar. Nós dois
acabamos rindo até chorar e secar as lágrimas, embora a camisa de
Aric

ainda estivesse molhada com elas.

Finalmente ficamos em silêncio, só olhando um para o outro.


Através da armação de arame dos seus óculos, o olhar de Aric
prendeu o meu.

– Você sabe que a gente vai superar isso – disse ele com
delicadeza.
Ele girou um dedo comprido em círculos – Que a Shameless vai
ficar bem.

Funguei e fiz que sim com a cabeça.

– Ótimo. Porque preciso de você focada – disse Aric. – Preciso de


você maldosa. Preciso da velha, impiedosa Juliana, a que não
aceita “não”

como resposta. Que manda bala e nem assopra a arma, porque


assoprar é para perdedores.

Meus olhos cintilaram. Eu nunca o admirara mais do que agora.

– Ela está aqui – disse eu com firmeza –, prometo.

Ele me olhou por mais um longo segundo ou dois, então deu um


aceno seco com a cabeça. Quando ele finalmente me soltou,
apontou para a pilha de presentes no canto.

– Podia pedir para alguém tirar isso daí – disse com um sorriso
irônico

– antes que achem que vamos abrir um berçário.

Capítulo 35
JULIANA
Acordei no outro dia renovada e energizada, pronta para conquistar
o mundo. E pelas próximas doze horas eu conquistei o mundo, o
que me deixou sem fôlego e feliz e um pouco exausta, pelo menos
mentalmente, quando finalmente cheguei em casa.

Era uma sexta e eu costumava me presentear com uns drinques no


bar na esquina de casa. Como atualmente isso não era opção, eu
estava deixando minhas últimas sextas-feiras serem motivadas por
comida.

Minha indecisão me parara na frente do meu prédio, no meio da


calçada. Eu estava tão faminta que estava com vontade de comer
naquela mesma hora. Eu podia ir em direção a norte, para o
restaurante grego na Terceira Avenida. Ou ir para o Lexington, a um
quarteirão, onde tinha um delicioso...

– Ei, gatinha.

Girei nos calcanhares, pronta para dar minha melhor tirada. Mas em
vez de um estranho, estava olhando para o rosto da familiaridade.

– Meu Deus!

Saltei para a frente jogando os braços em volta de Maverick tão


rápido que nem me importei como ele chegara ali. Eu só estava feliz
de vê-lo.

Surpresa e choque e explicações – tudo isso podia ficar para


depois. No momento, a única coisa que importava era a sensação
de seus braços incríveis me apertando forte.

– Você veio... – ofeguei.


– Claro que sim.

Ele não estava usando uniforme, farda, nada remotamente militar.

Estava de calça jeans e botas pretas. Camisa verde-floresta e


jaqueta de couro preta.

– Está voltando de algum lugar?– perguntei – Como o Devyn, ou...

– Não – disse Maverick. – Eu vim para te ver.

Engoli a emoção e percebi que ele estava de tocaia na porta do meu


prédio. Não sei quanto tempo ele ficara ali, me esperando. Só sabia
que estava feliz e agradecida.

– Está com fome?– perguntei.

– Claro.

Segurei a mão dele.

– Vamos. Conheço um lugar legal.

Pelos próximos dois quarteirões nós guardamos um silêncio feliz,


andando de mãos dadas como um casal. Foi bacana. Mais que
bacana, na verdade. Quanto mais nós andávamos, mais feliz eu
ficava.

– Comida italiana?– perguntei, apontando para o toldo do


restaurante.

– Você que manda – sorriu Maverick.

Deixei-o entrar primeiro de propósito só para ver que linda a bunda


dele ficava naquela calça jeans apertada. Maverick estava tão
gostoso quanto eu me lembrava. Talvez ainda mais, já que minha
gravidez me deixara com três vezes mais tesão do que o normal.
O restaurante não estava vazio, mas também não estava tão cheio
e ainda havia muitas mesas no fundo. Escolhemos uma cabine
escura no canto. Uma em L, para podermos ficar perto um do outro.

– Você não faz ideia de como é bom te ver – disse Maverick. Ele
desceu os olhos para a minha barriga – Então, como você está...

Eu me inclinei para trás, mostrando a ligeira curva que finalmente


começara a me aparecer no ventre. Ainda não era uma barrigona,
mas dava para ver que tinha alguma coisa lá.

– Posso?

Eu ri com gosto.

– Está brincando? Claro!

Ele passou a mão pelo meu abdômen com gentileza, com amor. Eu
a vi subir e descer, a palma grande de sua mão passando em lentos
movimentos circulares logo abaixo do meu umbigo.

– Então, é meu?– perguntou ele sem rodeios.

Peguei um pedaço de pão da cestinha no meio da mesa e encolhi


os ombros. Ele pareceu confuso.

– É do Gage ou do Devyn, então?

– Na verdade, eu não sei – respondi. – As amostras ainda estão na


minha mesa, intactas.

Maverick inclinou a cabeça com curiosidade, mas não disse nada.

– É estranho – eu disse a ele. – É tipo, eu quero saber, mas também


não quero. Quer dizer, eu sei que preciso saber, pelo menos em
algum momento. Mas também... É como se eu quisesse que fosse...

– Dos três?
Fui invadida por uma onda de alívio. Eram as exatas palavras que
eu não conseguia encontrar.

– Sim. Exatamente – baixei os olhos por um momento. – Você acha


isso estranho?

– Na verdade, não – disse Maverick. – De forma alguma.

A garçonete chegou e fizemos o pedido. Mas quanto mais eu olhava


para Maverick, mais eu perdia o interesse na comida.

– Então você veio me ver, não é?– perguntei quando ficamos


sozinhos de novo.

– Sim.

– Por quê?

Ele levantou um braço esculpido e o passou por meus ombros.

Puxando-me para perto, seus olhos folha seca encontraram os


meus.

– Gostaria que voltasse para casa comigo – disse ele. – Ou melhor,


gostaríamos.

– Gostaríamos?

– Sim.

Senti de novo um calor na barriga. Dessa vez, mais quente que


nunca.

– Para casa?– murmurei – Para o Arizona.

Maverick encolheu um ombro lindo.

– Nós falamos de você o dia todo, todo dia – disse ele. – Juliana,
estamos obcecados.
– Comigo?

– Claro que com você!– sorriu Maverick – Você apareceu do nada e


abalou o nosso mundo. E agora vai ter o nosso filho. Mas você está
aqui em Nova York, sozinha, e isso nos deixa loucos.

Balancei a cabeça, confusa.

– Por quê?

– Porque queremos cuidar de você – disse ele com voz ofegante. –


E

não só de você, mas da criança dentro de você. Você está


encarando tudo sozinha, indo no médico e fazendo ultrassom sem
ninguém ao seu lado.

Seus olhos brilharam com compaixão, com amor. Já fora enganada


pelos melhores, e eu mesma também era capaz de muita enrolação.
Mas naquele momento, eu soube que Maverick falava de coração.

– Gage, Devyn e eu... a gente quer te dar comida, cuidar de você,


fazer massagem nos seus pés à noite – continuou ele. – A gente
quer estar presente nessas coisas com você. A gente quer ouvir as
batidas do coração do bebê.

Ele estudou minha reação, mas eu estava chocada demais para


sequer piscar. Surpresa demais para reagir.

– Sei que parece besteira – começou ele – até bobinho...

– Não é bobinho – interrompi – nem besteira.

Coloquei a mão sobre a angulosa e masculina curva de sua


mandíbula com barba.

– É lindo.

Eu queria tanto beijá-lo. Beijá-lo com força, beijá-lo por muito tempo.
Mas eu também queria mais.

Muito mais.

– Eu vou.

As palavras caíram dos meus lábios, completamente inesperadas. E

não me arrependi.

– Pelo menos por uns dias – disse eu. – Mas sim, eu vou. Nós
vamos.

O rosto de Maverick ficou tão radiante que foi uma gracinha. Mas
não sei se ele ficou 100% convencido.

– É sério?– perguntou ele, esperançoso – Porque hoje ainda tem


voos.

Podemos...

Aí eu beijei ele, minha boca faminta devorando a sua. Sem falta de


jeito, sem hesitação.

Mmmmmmm….

Suspirei aquiescente quando sua língua buscou a minha,


passeando sensual pela minha boca com o impacto de um trovão.
Naquele instante fomos amantes de novo. Como se nem um
segundo tivesse se passado.

– Podemos comer primeiro, é claro – ele sorriu, quando finalmente


nos separamos –, antes de...

– Ou você pode me seguir até ali e me inclinar – apontei para uma


porta ao lado –, puxar minha calcinha de lado e me foder por trás.

Nem esperei resposta. Escorreguei do banco, andei até metade do


corredor nos fundos do restaurante e entrei de fininho pela porta que
mencionara.

Meu coração se acelerou quando ela se fechou ao som de passos


às minhas costas.

Capítulo 36
JULIANA
O banheiro unissex era limpo e bonitinho – uma versão bem
mantida de uso único dos outros dois ao lado. Eu já sabia disso,
porque já estivera ali. Mas nunca assim.

A luz estava apagada. A fechadura da porta se abriu.

– Vem cá.

Foram as únicas palavras que ele disse. A única coisa que Maverick
disse antes de me agarrar pelos quadris, me girar e me empurrar
para frente com a força da mão direita.

Sim!

Minha saia foi levantada. Quando o ar frio beijou a pele quente do


meu traseiro, ouvi o estalo de uma fivela de cinto e o som de um
zíper apressado.

Um segundo depois, dedos ágeis puxavam minha tanguinha para o


lado.

Isso aí.

Agarrei a porcelana fria da pia com as mãos, empurrando a bunda


para trás enquanto as mãos de Maverick desciam para o meio das
minhas pernas. Ele passou três dedos para cima e para baixo,
deixando-os melados, e então usou esse mel para se lubrificar
também.

Quando ele entrou gostosinho, minhas pernas já tremiam de


ansiedade.

– Oooohhhhhhh…
Não consegui conter minha excitação quando ele veio por trás.

Mergulhado dentro de mim, o corpo quente curvado sobre o meu,


Maverick tapou minha boca com severidade.

– Psiu – ofegou ele no meu ouvido. – Não pode fazer barulho.

Com isso ele se afastou e veio com tudo de novo, abafando meus
gemidos com a palma grossa da mão. Mais forte e mais forte ele foi,
pegando velocidade, me fodendo no escuro com visceral, selvagem
abandono. Uma mão apertava tanto o meu quadril que quase doía.
A outra cobria a minha boca.

Ai-meu-Deus, ai-meu-Deus, ai-puta-que...

Meus gemidos lentamente tornaram-se queixumes, e então suspiros


ofegantes. Cuidadosamente, Maverick tirou a mão, passando-a para
meu quadril para pegar mais impulso...

E aí começou a me foder feito louco.

Meu corpo era dele. Parecia que minha bunda pertencia às suas
mãos, fortes e capazes, que a puxavam para frente e para trás.
Finalmente meus olhos se adaptaram à escuridão, e com a luz
passando pelas frestas da porta, consegui me ver no espelho me
mexendo para trás ao encontro das estocadas. Era uma delícia me
ver assim. Me ver totalmente possuída, totalmente dominada.

Pooorra!

Meu cabelo balançava, selvagem. Minha boca se abriu, paralisada


num “O” de puro êxtase. Nossos corpos bateram um contra o outro
de novo e de novo, o prazer crescendo, a excitação contida de
finalmente ser tomada de novo me inundando e apagando qualquer
outra coisa no mundo.

Meu DEUS, eu precisava disso.


Eu precisava, e ainda não tinha percebido o quanto. Eu passara de
uma semana de ménages à trois incríveis sempre que eu quisesse
para uma noite de paixão com um terceiro amante que me possuíra
de novo e de novo. E então... nada.

Nos últimos meses eu estivera com mais tesão do que nunca,


repassando todos esses encontros sexuais na cabeça. E além
disso, estava grávida. Quaisquer hormônios loucos que estivessem
disparando pelo meu corpo me deixavam sempre excitada, sempre
molhada. No começo fiquei

assustada com o quanto eu ficava a fim, mas com o tempo aprendi


a suprimir isso. Eu tinha coisas demais para fazer. Coisas demais
para me preocupar.

Mas agora...

Agora, pelo menos pelo próximo fim de semana, eu decidira me dar


de presente um “foda-se”. Eu me rendera com prazer ao toque
desse Navy SEAL gostoso louco para me comer até apagar, e logo
depois eu ia atravessar o país e dar para os amigos dele, também.

E eu sabia que ia amar cada segundinho disso.

– Juliana... – ouvi Maverick grunhir em aviso. Ele falou por


soquinhos, como se estivesse contendo algo. Algo tremendo.

– Manda ver – ofeguei, já chegando nas alturas.

Nós gozamos rápido e explosivamente, um logo depois do outro.

Nossos grunhidos baixos, nossos suspiros saindo por dentes


cerrados ao chegarmos ao clímax em silêncio no calor e no escuro.
As mãos de Maverick apertaram a curva da minha cintura quando
nos enroscamos um contra o outro, tão apertado e com tanta força
que com certeza teríamos hematomas no dia seguinte.
Todo esse encontro foi de três, no máximo quatro minutos. O que
era absolutamente perfeito.

Meu amante se retirou de mim com um grunhido animal, e então


cobriu com a calcinha minha boceta inchada, cheia de sêmen. Deu
duas batidinhas para finalizar e puxou minha saia para baixo
também.

– Agora eu estou com fome.

Capítulo 37
JULIANA
Voltar de avião foi tão melhor com uma companhia. Tão mais
relaxante com Maverick ao meu lado, olhando abraçadinhos as
nuvens e o céu pela janela oval.

Arrumei as malas em cinco minutos. Em dois minutos liguei para


Aric e disse que ia dar uma fugidinha de Nova York, e meu
assistente garantiu com alegria que ele “seguraria as rédeas”
enquanto eu estivesse fora.

Quando aterrissamos no Sky Harbor ainda parecia sexta-feira, e


ainda era, praticamente. A mão de Maverick guiou o volante ao
deixarmos as luzes de Phoenix para trás, adentrando a escuridão do
deserto e sendo engolidos pelo céu noturno.

Eu estava exausta, mental e fisicamente, mas fiquei animada de


novo quando a casa começou a se fazer visível. Saboreei o calor, o
brilho laranja e amarelo das muitas janelas. Ansiei pelo carinho e a
camaradagem que eu sabia me esperar lá dentro.

Devyn e Gage não apenas estavam acordados àquela hora, como


também empolgados de me ver. Eles saíram correndo pela porta e
vieram até o carro, me abraçando e me girando alegres, mas com
delicadeza, cada um olhando para a minha barriga e se
perguntando quanto eu aguentaria.

– Não se preocupem – sorri para eles. – Estou longe de estar frágil.

Eles rapidamente me tiraram da noite fria e me fizeram entrar na


casa, onde o calor e o aconchego me envolveram como um cobertor
querido saindo direto da secadora. Então vieram os beijos, primeiro
rápidos e então lentos. Eles formaram um pequeno círculo e eu
fiquei no meio, devolvendo
os beijos e apertando várias partes de seus corpos lindos,
malhados, de que eu me lembrava tanto.

Mas estava tarde. Muito tarde. No meio da madrugada.

Por sorte, eles já estavam preparados para isso.

– Vamos lá – disse Devyn, passando o braço pela minha cintura –,


foi uma viagem longa.

Ele me levou para a sala, onde a lareira a gás já estava ligada, com
seu calorzinho aconchegante. Todas as janelas estavam fechadas
até o chão. As luzes, apagadas. Tudo estava escuro e quentinho.

Na pouca luz, pude ver uma vasta pilha de cobertores e travesseiros


espalhados pelo chão. Os caras me levaram nessa direção, então
se revezaram para tirar a minha roupa. Eles me deixaram só de
calcinha e sutiã, cada um deles roubando um momento para
deslizar a mão vagarosamente sobre a leve elevação da minha
barriga de grávida. Era uma graça ver com que cuidado eles faziam
isso. Talvez a coisa mais linda que eu já vira.

Então eles também tiraram as próprias roupas e meus olhos não


pararam de passear por cada trinca de músculo à luz de lareira.

Finalmente, me puxaram para o ninho de travesseiros e edredons


no chão e se aconchegaram de cada lado meu. Fizeram conchinha
e me abraçaram. Fui envolvida por braços quentes, beijada por
lábios macios.

Eles mexeram seus corpos rijos contra o meu, cobrindo cada


centímetro de pele exposta com seu calor. Enquanto isso, a fogueira
crepitava ao fundo.

Mmmmmmm…

Estava no céu. No puro nirvana. Melhor de tudo, era o extremo


oposto da solidão, agora com três homens incríveis me cercando,
me abraçando, me protegendo do mundo. Três homens que eu, por
alguma razão, sabia que cuidariam de todas as minhas
necessidades.

Com o tempo, os beijos ficaram mais sonolentos, os toques mais


lentos e preguiçosos. Entre as sombras aquecidas da luz
bruxuleante do fogo, minhas pálpebras ficaram tão pesadas que foi
impossível mantê-las abertas.

Então não mantive.

A última coisa de que me lembrei quando o sono me levou foi que


Devyn me abraçava por trás, seu rosto apoiado levemente no meu.
Ele sussurrou suave, docemente, seu hálito quente e elétrico sobre
a minha orelha.

– Agora você está em casa.

Capítulo 38
JULIANA
Sonhei, e no sonho eu nadava nua num lindo e plácido lago com
uma ilha no meio. A água estava quente e gostosa. Cristalina. Ela
me envolvia com um calor maravilhoso enquanto eu nadava, me
deixando com sono e feliz.

Depois de nadar por muito tempo, fui para a ilha e emergi sob um
céu estrelado de tirar o fôlego. Eu estava sem roupa, sem toalha,
mas não senti frio. A lua cobria tudo com um calor estranho, quase
como o sol, mas de alguma forma diferente.

No centro da ilha havia uma casa com um brilho cálido vindo de


dentro. Entrei na casa sem bater e me encontrei num hall com
muitas portas.

Todas abertas. Luz dourada e macia saía de cada uma.

Atravessei o hall e descobri que cada sala estava cheia de gente


rindo, bebendo e se divertindo. Elas me ignoraram, em geral. Quase
como se não pudessem me ver ou me ouvir. Mas uma pessoa em
cada sala podia me ver, e essa pessoa parava o que estava fazendo
para pegar alguma coisa de mim.

Só que eu não tinha nada. Eu não levava nada, não usava nada.

Olhando para baixo, percebi que estavam levando pedacinhos


meus.

Por alguma razão não fiquei assustada, embora devesse. Continuei


andando, continuei parando em cada porta. E as pessoas
continuaram pegando partes minhas. Tirando pedacinhos dos meus
braços, pernas, torso.
Não doía. Não me afetava ou me impedia de continuar. Na verdade,
eu até que gostava.

O sonho continuou comigo compartilhando pedacinhos meus até


não restar quase nada. E então saí, entrando de novo no lago.
Entregando-me à quentura da água, sua calidez tranquila e
apaziguadora.

Pouco a pouco, eu me permiti dissolver até não restar mais nada.


Mas o fiz voluntariamente. Com prazer. Eu apenas boiei sob o céu
estrelado até que a escuridão me tomou e um sono restaurador que
eu sabia ser irremediavelmente eterno finalmente tomou conta de
mim...

– Opa. Ela está viva!

Sentei-me abruptamente no mar de cobertores e travesseiros,


passando as mãos pelo cabelo embaraçado. A sala ainda estava
escura, mas só porque as persianas ainda estavam abaixadas.
Pelas frestas das janelas, eu conseguia ver a luz do sol lutando para
entrar.

– Q-Quanto tempo eu dormi?

Gage e Devyn estavam de pé sobre a arcada que levava à sala de


jogos, com dardos na mão. Eles tinham tomado banho. Se vestido.
Pareciam prontos para tudo.

– Umas onze horas – calculou Gage –, mais ou menos.

– ONZE horas!

Fiquei em pé de um salto, jogando os cobertores no chão. Percebi –


e ao mesmo tempo me lembrei – que estava só de calcinha.

– Parecia que você estava precisando muito dormir – Devyn


encolheu os ombros, lutando para olhar para o meu rosto.

– Mas...
– E você estava dormindo tão fundo e tão em paz – adicionou Gage
–, como um anjo. Só que mais sexy.

– Bem mais sexy – sorriu Devyn com malícia.

Então eles olharam, e por alguma razão não me dei ao trabalho de


me cobrir. Cocei a cabeça, me situei e fui em direção ao banheiro.

– Um anjo com uma senhora bunda, aliás – disse Gage.

Dei uma rebolada sem pensar e comecei a pegar minhas roupas.

Apesar de ter acabado de acordar, não estava com um pingo de


sono. Na verdade, eu me sentia fantástica.

– Suas coisas estão lá em cima – disse Devyn – no seu quarto.

Meu quarto. Então eu tinha um quarto.

– Cadê o Maverick?

– Jogando vídeo game – brincou Gage.– Na verdade ele está lá


fora, carregando o helicóptero – intercedeu Devyn – para a gente ir
almoçar.

– Almoçar?

– É, está meio tarde para o almoço – continuou Devyn – então é


mais um almojanta. Mas a gente pensou que você devia estar com
fome, então...

– Estou com fome – disse, percebendo o quanto ao dizer. – Na


verdade, estou faminta.

– Ótimo – ele devolveu o sorriso – Tome um banho e se vista para


um piquenique no deserto.

– Piquenique no deserto?– eu ri – E que roupa eu ponho para essa


ocasião?
Os dois homens se entreolharam para um momento, e depois
voltaram a olhar para mim. Braços cruzados, olhos passeando pelo
meu corpo quase nu, os dois caíram na risada.

– E faz diferença?– piscou Gage.

Capítulo 39
DEVYN
O Gazelle voou baixo, cortando o ar seco do deserto com suavidade
e eficiência ao nos lançarmos pelo cânion. Vou ter que elogiar os
franceses. O

helicóptero era uma peça de engenharia muito bem feita, própria


para velocidade e maneabilidade. O motor rugia com força. Gritava
de potência.

Mas na maior parte da viagem, meus olhos estavam nela.

Juliana se sentou ao meu lado no banco de trás, maravilhada com a


enorme beleza da paisagem espetacular. Passávamos a toda pelos
cânions vermelhos de Tonto Basin. Adiante se erguiam as silhuetas
das mesas a sudeste de Sedona, os platôs que gentilmente
beijavam o céu azul e amarelo.

Contudo, eu só conseguia focar na coxa macia e quente


pressionada contra a minha.

Primeiro pensei que fora um milagre Maverick ter conseguido


convencê-la a voltar para nós. Que talvez ele tivesse mais lábia do
que Gage e eu pensávamos. Mas quanto mais eu a olhava, mais eu
percebia que ela precisava estar aqui. O que quer que estivesse
acontecendo em Nova York a estava exaurindo. Dava para ver que
ela estava querendo fugir – pelo menos temporariamente – tanto
quanto queria estar conosco.

E Deus, eu estava torcendo que essa parte também fosse verdade.

Uma corrente nos jogou uns quinze metros mais para cima e a mão
de Juliana apertou minha perna um pouco mais forte. Era uma graça
vê-la tentar controlar o próprio nervoso. Sua curiosidade era
contagiante, e seu

encantamento quase infantil com a paisagem foi algo que eu


realmente invejei.

Subimos e subimos até o objeto da nossa busca estar visível.


Maverick sobrevoou a superfície plana da mesa com uma graça
despretensiosa, e após alguns segundos aterrissamos no duro solo
rochoso.

– Meu Deus!

Não era a terceira, nem a quarta, nem a quinta vez que ela dizia
essas palavras. Mas, sinceramente, não era culpa dela. Voamos
velozes e furiosos, e a vista de lá de cima era de cair o queixo.

– Desce aí, gente – disse Gage, saltando do helicóptero. – Tem


muita coisa para descarregar.

O barulho do motor do Gazelle morreu devagar, restando apenas o


silêncio varrido pelo vento. Ajudei Juliana a descer, trazendo-a para
a parte central da plataforma rochosa que conhecíamos tão bem. O
círculo rústico de pedras enegrecidas servia de fogueira, feita com
pedras que trouxemos da nossa propriedade.

– Então vocês já vieram aqui?– perguntou ela, olhando para baixo.

– Várias vezes – eu disse. – Mas você é nossa primeira e única


convidada.

Ela girou devagar, absorvendo a vista de tirar o fôlego que se tem a


900 metros acima do fundo do cânion. Seu cabelo balançava ao
vento, por trás de seu rosto perfeito. Seus olhos eram brilhantes e
lindos.

– Surreal – foi tudo que ela disse.


Incapaz de me controlar por mais um segundo, beijei seus lábios
cheios. Foi como beber da fonte da felicidade.

– Já volto.

Maverick já estava amarrando o helicóptero à série de suportes de


metal que instalamos na rocha anos atrás. Gage e eu começamos a
descer a carga, que continha tudo: de cobertores a comida e lenha.
Passamos metade da manhã juntando lenha enquanto nosso anjo
dormia, e tínhamos mais que o suficiente para ficar quentinhos.

Finalmente nos instalamos no lugar de costume, mas dessa vez,


com um monte de toalhas de piquenique e almofadas, para ficar
mais confortável. Estar com uma mulher requer algumas
adaptações. Não

estávamos acostumados a considerar confortos femininos, mas


acho que nós três descobrimos rápido que adorávamos oferecê-los.

Gage acendeu a fogueira, e com o vento e a madeira seca do


deserto, o fogo não demorou a pegar. Maverick descarregou a
comida – frutas, queijo e outras coisas que jamais teríamos trazido
se não fosse por ela – enquanto eu abria a tampa da primeira
garrafa de chocolate quente.

– Não acredito que estamos em cima de uma mesa – disse Juliana,


ofegando.

– E nem precisamos escalar – sorriu Gage.

Ri concordando.

– Escalada é para otários.

– Otários e “não pilotos” – disse Maverick, erguendo a caneca.

Brindamos com as canecas e bebendo a delícia de chocolate e leite


que Maverick fizera.
– Que demais – declarou Juliana, ainda olhando à volta,
maravilhada.

Não havia nada além de pedra e céu a dezenas de metros em todas


as direções. – E o melhor, é o exato oposto de Nova York.

– Ainda não entendo como você mora lá – disse Gage, balançando


a cabeça.

– Olha só – riu Maverick. – O carinha de Oklahoma não entende a


cidade grande. Quem teria imaginado?

Gage jogou uma uva sem semente nele. Ele se esquivou com
agilidade, mas um segundo lançamento quicou bem na sua cabeça.

– Talvez pareça um pouquinho – ofereci, apontando. – As outras


mesas podiam ser outros arranha-céus. Os lobos e onças pardas lá
embaixo podiam ser as pessoas.

– As cascavéis também – disse Gage – rastejando pelas ruelas dos


cânions.

Se Juliana nos ouvira, não demonstrou. Ela ainda olhava para o


céu, os olhos perdidos no horizonte distante. Naquele momento
preciso ela era de uma beleza lancinante, e me encontrei
imaginando no que ela estaria pensando. Em segredo, desejei que
fosse uma coisa boa.

– Ei... aqui.

Gage me cutucou quando ela não estava olhando, e vi que ele


estava com uma pequena garrafa de rum já destampada. Servi um
pouco na minha caneca, agradecendo com um aceno.

– Quem está com fome?

Maverick passou os sanduíches e comemos conversando e rindo e


alimentando o fogo. Juliana não falou muito do trabalho, e nós não
perguntamos. Ela perguntou muito sobre o que andáramos fazendo,
e embora tivemos que contornar certos detalhes, falamos um pouco
da viagem à Califórnia.

– Estamos meio que em standby – concedi, por fim.

Gage concordou ao colocar outro pedaço de lenha no fogo.

– Para uma coisa importante.

Finalmente, o sol beijou o horizonte, pintando o céu com uma paleta


espetacular de cores que mudavam minuto a minuto. Logo antes de
escurecer, Maverick me lançou um olhar e eu acenei com a cabeça.

– Quer passar a noite aqui?– perguntei, voltando os olhos para


Juliana

– Podemos, se você quiser.

Sua expressão foi de incredulidade cética. Ela olhou em volta, como


se de repente tivesse brotado uma casa da mesa, ou algo assim.

– Aqui?– perguntou ela – Como...

– Nós trouxemos uma barraca. Uma bem grande, aliás.

Seus olhos se abriram mais. Um sorriso que eu nunca vira se abriu


em seu rosto bonito.

– Sério?

– Podemos, sim. Mas só se você qui...

– Eu quero.

Gage sorriu com assombro infantil, prendendo-a nos braços e


dando-lhe um longo e profundo beijo. Senti uma pontada de ciúme,
mas um ciúme entrelaçado com um estranho novo calor. Um que
girava como uma turbina, cada vez mais rápido, em algum lugar no
meu âmago.
É sensual assistir eles.

Engoli em seco.

Assistir ela...

A percepção era pungente, mas inegável. Quanto mais eu olhava,


mais excitado eu ficava. Gage e Maverick tinham tentado me
explicar isso, como se sentiram da mesma forma durante a semana
em que estive fora. Eu não entendera realmente, até aquele
momento.

Maverick já estava no helicóptero, me chamando com um aceno


para ajudá-lo a descarregar a grande barraca de lona. Não restava
muita luz do dia. Ainda tínhamos que armá-la e prendê-la no chão.

– Um aviso – gritei para Juliana, corada de entusiasmo. – Com o


vento e o frio e a altitude... pode ficar bem frio aqui à noite.

Os outros concordaram juntos.

– Bem frio.

Mas nossa garota nem se abalou. Levantando-se para ficar entre


nós, ela colocou as mãos nos belos quadris.

– Não estou muito preocupada – disse ela sugestivamente. – Tenho


certeza que vou encontrar alguma coisa para me esquentar.

Capítulo 40
JULIANA
Entramos no conforto da barraca quando o vento ficou mais forte,
chicoteando o fogo de tantas direções diferentes que não dava mais
para saber de onde soprava. Já estava escuro e já tínhamos comido
e bebido até nos saciarmos. Falamos de tudo e de nada, exceto da
única coisa que realmente precisávamos esclarecer: por que eles
me trouxeram até aqui, em primeiro lugar.

Além da razão óbvia, é claro.

– Então me falem da sua obsessão.

Afundei na pilha de sacos de dormir, colocados sobre travesseiros


para acolchoar. A barraca era espaçosa e sólida, e alta o suficiente
para dois ou três deles ficarem de pé sem se inclinar. O aquecedor
portátil ligado na bateria mantinha o interior bem quentinho, mas só
de encostar a mão na lona fria eu me lembrava de quão rápido a
temperatura do deserto caía à noite.

– Obcecados?– perguntou Devyn, erguendo uma sobrancelha.

– Umm-hmm – repeti sem titubear, apontando Maverick com a


cabeça. – Foi essa a palavra que ele usou, pelo menos.

Um por um, eles se sentaram à minha volta, seus grandes músculos


mexendo e se flexionando ao se abaixarem. Gage se inclinou para
trás sobre as palmas das mãos. Devyn se sentou abraçando as
pernas, as mãos segurando as canelas.

Caramba, eles são lindos.

Eram mesmo. Os três eram lindos como modelos, mandíbulas bem


definidas, olhos ardentes. Tinham ombros de morrer, e braços
enormes.

Mesmo assim, nenhum sabia o que dizer.

– Vim porque precisava dar um tempo – disse eu, na falta de outro


assunto. – O trabalho está uma bosta. Nova York está finalmente me
afetando, e isso me assusta porque eu sempre amei a cidade, até
quando estava de saco cheio dela. Inclinei a cabeça e ri. – E tem
sentido nisso?

– Sim – disse Gage. – Mais do que você pensa.

Concordei com a cabeça, considerando como suas expressões


eram atenciosas. Os três me olhavam, os três estavam com os
olhos pregados em mim. Mas não da forma de costume.

– Juliana – começou Devyn, devagar – precisamos te dizer uma


coisa.

Algumas coisas, na verdade.

– Ai, ai – meu sorriso assumiu um tom irônico. – Lá vamos nós.

– São coisas boas – adicionou Maverick rapidamente – coisas


importantes.

Eu não estava acostumada com rodeios, nem eles. Esses não eram
homens de dizer palavras vazias ou fazer promessas vazias. Eram
homens bons, sinceros e diretos.

– Nós queremos esse filho – disse Devyn, com tranquilidade. –

Queremos ser parte da vida dele. Queremos ser seus pais.


Alimentá-lo. Até ajudar a criá-lo... mas só se você também quiser.

Um pedaço de lona batia lá fora ao ritmo das últimas rajadas de


vento.
Era a metáfora perfeita para o meu coração, que batia loucamente
no peito.

– Só tem um problema – continuou Devyn. – E é meio que um


problemão.

Contraí os lábios enquanto esperava o rojão.

– O quê?

– Não podemos ter filhos – disse Gage.

Baixei o queixo para olhar para baixo e esfreguei a barriga.

– Estou com uma barriguinha que diz outra coisa.

– Não é que não podemos ter filhos – Maverick corrigiu o amigo –, é


óbvio que podemos.

– Óbvio – respondi.

– Mas está no nosso contrato – explicou Devyn. – Não podemos


casar.

Não podemos ter filhos. Não podemos ter distrações. Nada para nos
segurar ou nos afastar dos nossos deveres.

Eu o olhei por alguns segundos, estudando seu rosto bonito.

Imaginando que tipo de contrato poderia decretar algo tão


específico, tão bizarro.

Tão solitário.

– Temos que estar prontos para sair a qualquer momento –


continuou Gage – e ir para qualquer lugar, por qualquer razão, sem
aviso prévio.
Pensei no helicóptero que pegara Devyn. Neles apostando quem
seria convocado.

– Entendo.

– Até agora isso não foi um problema – disse Devyn. – Nós nunca
quisemos nada além desse acordo. Mas agora...

– Quando o contrato expira?

– Já expirou várias vezes – disse Maverick – e nós sempre o


renovamos.

Encolhi os ombros.

– Então a escolha é óbvia – eu disse. – Vocês amam o que fazem.

Vocês fazem o que amam.

– Ou – continuou Gage com cuidado – nós simplesmente não


encontráramos razão para desistir ainda. Não encontráramos algo
que nos fizesse pedir dispensa.

Maverick concordou.

– Sempre pensamos que seria uma coisa nossa. Algo que


pudéssemos compartilhar, nós três, como tudo mais que fizemos na
vida.

– Um negócio?– perguntei – Ou talvez...

– Não – disse Devyn. – Algo como você.

Seus olhos ainda estavam fixos na minha barriga. Entendi de uma


vez o que ele estava dizendo.

– Eu.

– Sim.
– Compartilhar eu?

– Isso aí.

– Não sou uma pizza – franzi o cenho instintivamente –, ou um


sorvete, ou...

– Ei. Ju.

Parei tudo e olhei nos olhos azul-acinzentados de Gage. Pelo


menos uma vez, eles estavam sérios.

– Você sabe que não é assim.

Sua expressão me prendeu, impedindo-me de desviar o olhar.

Forçando-me a entender o que ele estava dizendo, mesmo que eu


não conseguisse acreditar completamente.

– Nunca conhecemos uma mulher como você antes – continuou


Devyn. – Você é forte. Corajosa. Firme nas suas convicções.

– Determinada e ambiciosa – adicionou Maverick. – Estou falando


como um elogio, mas você é um tubarão.

– E mesmo assim você também é doce – disse Gage, rápido. –


Você tem um lado gentil. Um lado sensível e carinhoso – ele
encolheu um ombro grande. – Além de tudo, é linda de morrer.
Sexualmente insaciável.

Os outros concordaram com a cabeça quando ele terminou.

– E nos deixa malucos.

Por outro longo momento, ninguém disse nada. Então Devyn pegou
minha mão.

– Então, sim, estamos obcecados com você – disse ele, olhos azuis
chamejantes. – Queremos o filho na sua barriga, mas queremos
você ainda mais. Juliana, a guerreira. A amante. A futura mãe.

– Queremos compartilhar você – reiterou Maverick. – Você e o


nosso filho. E queremos que vocês dois também compartilhem da
nossa vida.

Nosso filho. Essas duas palavras nunca tinham sido ditas juntas. Até
agora, era só eu.

– N-Nós nem sabemos de quem é o filho – ofeguei, tocando a


barriga.

– E não ligamos – disse Devyn com firmeza. – No que nos toca, é


de todos nós.

Engoli em seco, tentando fazer descer o nó que sentia na garganta.

Eles estavam sendo tão verdadeiros, tão compreensivos. Não havia


nada além de sinceridade entre os três.

– Um dia pode ficar óbvio quem é o pai biológico – disse Devyn –,


mas isso não mudará nada. Se você ficar conosco, se estiver
disposta a ser nossa, esse filho terá três pais em vez de um só.

– Três pais fodas – sorriu Gage com gentileza –, não vamos


desconsiderar essa parte.

Se tornar nossa.

As palavras me surpreenderam, me assustaram, até me deixaram


tonta. Mas também geraram uma onda de pura e desenfreada
excitação.

Três homens, três pais. Três namorados.

Puta que pariu.

Eles se aproximaram, cercando-me de três lados. A boca de


Maverick já estava bem próxima da minha orelha quando ele disse
quase num sussurro:

– Não precisa responder agora – murmurou docemente. – Não


precisa nem pensar nisso agora.

O calor da barraca, a segurança de estar cercada por eles... Tudo


isso me dava arrepios. Era maravilhoso, estar num lugar tão isolado,
tão remoto.

Tão distante, no meio do frio e do vento e da natureza selvagem,


mas tão protegida e relaxada ao mesmo tempo.

– Hoje, é só curtir o lugar – sussurrou Gage atrás de mim.

Seu corpo envolveu o meu num aconchego, passando as duas


mãos fortes pela minha cintura. Seu nariz passou pelo meu cabelo,
e eu já estava suspirando quando seus lábios pararam na pele do
meu pescoço.

– Hoje – disse Devyn – é só curtir a gente.

Sua boca investigou a minha lentamente, provocando o beijo de


língua mais sensual, mais bonito do mundo. Tomei ar com pressa
quando mais mãos começaram a percorrer meu corpo, me
esquentando desde fora para igualar o calor já crescendo de dentro.
Os beijos viraram gemidos,

seguidos por arrepios de prazer. Os três passaram minha boca de


um para o outro, bebendo dos meus lábios. Inspirando cada
respiração quente minha, com as mãos vagando com ânsia e com
delicadeza por vários lugares proibidos.

Cace...

No fim me rendi feliz, caindo contra o peito largo, esculpido de


Gage.

Ainda me beijando, ainda me tocando, eles me colocaram sobre a


maciez dos sacos de dormir e começaram a despir seus corpos
lindos, sarados.

E então despiram a mim.

Capítulo 41
JULIANA
O chão da barraca foi um ótimo playground, quentinho e macio. Um
ninho perfeitamente acolchoado que cedia nos lugares perfeitos,
principalmente quando algum dos meus companheiros queria me
rolar e me posicionar como desejasse.

E, pode crer, eles conheciam várias posições.

E tinha muitos, muitos desejos.

Mmmmmmm…

Mais de uma vez eu me prostrei sobre a superfície acetinada,


arqueando as costas ou abrindo as pernas para meus três amantes
sarados, queimados de sol. E eles me possuíram de novo e de
novo, juntos e separados. Me virando de barriga para baixo para me
comer por trás, ou me esticando entre eles para desfrutarem do meu
corpo e minha boca pelos dois lados.

Três caras.

Eu não conseguia acreditar. Até depois da última vez, com dois,


parecera coisa demais.

Três putos caras, Juliana!

Foi tudo muito sujo. Safado. Pervertido e errado. E quanto mais eu


pensava em cada uma dessas palavras, mais eu adorava.

No começo da noite eu me garanti primeiro, traçando cada um dos


meus amantes com fome, com ferocidade, até minha total e
completa satisfação. Cavalguei em Gage como se ele fosse um
garanhão e explodi
com força, colapsando sobre ele, então me inclinei em seu colo para
que Devyn pudesse me comer por trás. Passei as coxas pela cintura
sexy de Maverick e agarrei sua bunda enquanto ele metia até eu
perder o fôlego, e então cruzei os pés às suas costas para segurá-lo
dentro de mim quando ele finalmente gozou.

Usada e delirante, eu finalmente me rendi, sucumbindo com prazer


a todos os caprichos dos três homens. Entreguei meu corpo por
completo aos três guerreiros de aço que me viraram e reviraram e
carregaram. Eles se revezaram para me segurar, braços sobre a
cabeça ou às costas. Cada um me segurando contra o próprio corpo
quente enquanto os outros me fodiam até o talo, até minhas faces
brilharem com lágrimas de felicidade.

O melhor, eu por acaso bebera algum tipo de medida perfeita com


duas ou três canecas de chocolate quente, que me transportara a
uma zona quentinha e gostosa: o açúcar me manteve bem acordada
para saborear cada coisa maravilhosa que esse homens estavam
fazendo com o meu corpo, tanto juntos quanto individualmente. Mas
o calor do leite também me relaxara o suficiente para que cada ato
depravado, sensual, me levasse ainda mais perto do paraíso. Cada
arrepio de prazer aumentado pelo meu estado de confortável
embriaguez de chocolate.

Eu fiz sexo com um por um até eles dormirem, começando com


Maverick e terminando com Devyn. Eu os cavalguei e tirei todo o
leite até eles finalmente ejacularem em mim, me enchendo com
tanto de seu creme quente que a barraca inteira ficou cheirando a
sexo.

E, meu Deus, eu também amei isso.

Beijei seus rostos e testas e lábios até seus olhos fecharem e sua
respiração ficar regular. Mas também beijei outras partes de seus
corpos.

Partes como seus peitos largos e lindos e suas barrigas malhadas,


tanquinho.
Partes que, enquanto eles dormiam, eram só minhas.

No final só restaram Gage e eu, fodendo como coelhos. Beijando e


fodendo e friccionando os quadris um contra o outro, até que ele me
virou e encostou todo seu corpo às minhas costas.

– Ju...

Ele murmurou a palavra sonhadoramente no meu cabelo


encharcado de suor. O deserto por trás da lona estava congelando,
varrido pelo vento, mas dentro da barraca devia estar quase 27 ºC.

– Eu te amo.

Primeiro achei ter ouvido errado. Mas lá no fundo, eu sabia que era
isso mesmo.

– Eu também te amo.

As palavras saíram naturalmente, sem hesitação. Não havia


nenhum questionamento nelas. Nenhuma dúvida de que eram
absolutamente verdadeiras.

Eu o amo.

Com isso fui para cima dele uma última vez, batendo minhas
nádegas macias contra seu abdômen duro, definido. Era tudo que
ele precisava. O

estímulo final.

Eu amo todos eles.

Gage estremeceu ao explodir dentro de mim, seu pau se contraía e


se mexia ao latejar bem dentro do meu canal inchado. Seus
gemidos foram primitivos. A sensação do esguicho contra meu
ventre prenhe me levou a um clímax magnífico, uivando contra o
vento lá fora.
Puuuuta MERDA!

Várias vezes ele estremeceu contra mim, até estar completamente


drenado. Seus braços fortes me abraçaram apertado, firme. Sua
boca quente sussurrou ofegante no meu ouvido.

– Meu Deus, eu te amo...

Sorri, estendendo o braço para puxá-lo para mais perto sem tirá-lo
de dentro de mim enquanto caíamos de lado sobre o calor do saco
de dormir.

Fisicamente, eu estava no paraíso. Mas emocionalmente, eu


deveria estar assustada. Tal confissão teria me aterrorizado no
passado. Minha própria percepção que eu amava os três, ainda
mais.

Porém eu estava apenas satisfeita de virar o rosto e dar um beijo de


boa noite em Gage, enquanto uma mão grande deslizava para a
minha barriga. Segurei a mão dele. Era reconfortante. Até bonito.

Afagando o bebê juntos, compartilhando a sensação do tecido


sedoso de cetim contra nossa pele nua, finalmente caímos no sono.

Capítulo 42
MAVERICK
A viagem de fim de semana de Juliana se tornou de uma semana, e
então de dez dias. Eu não sabia quando ela ia voltar, ou se voltaria,
ou como ficariam as coisas entre nós.

Eu só sabia que eu amava tê-la por perto.

Era evidente que ela estava exausta e precisando


desesperadamente dessas férias. O que quer que estivesse
acontecendo em Nova York a estressara demais. Ela ainda não
tinha se aberto quanto a isso, mas passava um bom tempo no
telefone com o assistente, que aparentemente estava cuidando das
coisas enquanto ela estava fora.

Mas a cada dia que passava, seu sorriso se abria um pouco mais. A
cada noite que ela passava no meio de nós ou se revezando entre
nossas camas, sentíamos seu corpo liberando mais aquela tensão
contida.

Nós a levávamos ao deserto com frequência, e isso parecia relaxar


sua cabeça mais do que tudo. Nós sabíamos, porque conosco
também era assim.

Juliana adorava ir de buggy até o meio do nada e aproveitar a


solidão. Ela dirigia destemidamente, até imprudentemente às vezes,
nos preocupando tanto que algumas vezes precisamos tomar o
volante dela.

Um dia a surpreendemos com uma viagem para Phoenix, onde


marcamos um ultrassom. Fizemos isso porque sabíamos que ela
perdera uma consulta em casa, mas também havia outros motivos.
Motivos inteiramente egoístas da nossa parte:
Queríamos ouvir o coração do bebê.

Foi emocionante ouvir o alto-falante da máquina estalar com o


estranho e rítmico som. Mas inda mais impressionante foi olhar
juntos para o monitor, apanhando pequenos vislumbres do ser
humano crescendo dentro dela. Nós vimos mãos, dedos, pés. A
forma de bracinhos e perninhas ligados a um corpo do tamanho de
um limão.

Até então não parecera realidade, pelo menos não completamente.

Mas, sim, estávamos trazendo uma criança ao mundo. Um de nós,


pelo menos. Ou todos nós. Não importava realmente quem era o
pai. Nós o fizemos juntos, como sempre. E nesse respeito, era
perfeito.

Foi no décimo primeiro dia que eu soube que nossa temporada


juntos estava terminando. Juliana atendera mais um telefonema,
esse mais sério do que os outros. Ela pareceu brava dessa vez, em
vez de preocupada. Mas por alguma razão, achei ter gostado mais
da raiva.

– Você está indo embora, não é? – disse eu ao me aproximar por


trás dela, que estava inclinada sozinha no parapeito da varanda do
segundo andar. Juliana olhava o deserto. O vento afastava seu
cabelo de seu lindo rosto.

– Sim – respondeu ela – preciso ir.

Recostei-me ao parapeito ao lado dela, também me inclinando


sobre o horizonte.

– Como você sabe?

– Está no seu rosto. Está na sua linguagem corporal.

Ela considerou minhas palavras por um momento enquanto ficamos


em silêncio. O sol se punha e o céu estava inacreditável.
Finalmente, ela me encarou.

– Não é que eu não queira estar aqui – disse ela. – Você sabe que
eu quero. As últimas duas semanas foram as melhores da minha
vida, para falar a verdade.

Não havia como convencê-la, então eu nem tentei. Além disso, o


que ela disse não foi uma desculpa, ou uma dispensa, ou mesmo
um exagero.

Ela estava falando de coração.

– É só que... tem uma coisa que eu preciso resolver – explicou ela.


Algo que Aric não dá conta sozinho.

– Entendo.

Seus olhos castanhos se apaziguaram.

– Entende?

– Sim – acenei com a cabeça. – Nós três entendemos, Juliana.


Talvez seja um pouco diferente para nós, mas também já passamos
por isso.

Ela contraiu seus lindos lábios e então voltou a face para a luz do
sol morrendo. Eu estava começando a enxergá-la como duas
pessoas. A mulher por quem nos apaixonamos loucamente... e a
criança que ela carregava com tanto orgulho.

Eu admirava sua força, sua ambição, sua tenacidade destemida.

Testemunhando em primeira mão a vida que ela lutara para


conquistar, eu admirava tudo que ela construíra.

Mas agora, mais do que tudo, eu admirava sua coragem.


– Mas os outros não vão levar bem – eu disse –, não espere outra
coisa.

– Por quê?

Dei de ombros e sorri.

– Bom, o Devyn está obviamente obcecado por você, da mesma


forma que você estava pelo perfil dele.

Ela pareceu divertida com isso.

– É mesmo?

– Sim – eu ri.

– E você?

A pergunta me pegou de guarda baixa. Quase mordi a língua.

– Arriei os quatro pneus – respondi rápido – não está vendo?

Estava brincando sem brincar. Ela entendeu tudo.

– Sim – repetiu ela –, estou.

Seu olhar encontrou o meu e a forma com que ela olhou para minha
alma fez meu coração disparar. Era uma loucura que alguém tivesse
tanto poder sobre mim, quanto mais uma mulher. Mas, em outro
nível, eu não me importava.

– E tem o Gage... – continuei, mudando de assunto – Ele te ama


tanto quanto a ideia de ter um filho com você.

– Ama?– perguntou ela, voltando-se de novo – Você acha mesmo?

– Acho.
Havia fogo em seus olhos agora. Um calor emocionado por trás das
lindas íris castanhas.

– Bom, concordo com a questão do bebê – disse ela. – E é muito


fofo.

Você não faz ideia de quantos presentes para o bebê ele já mandou
para Nova York.

Soltei uma longa gargalhada.

– O quê?

– Você não sabe nem da metade – eu disse, pegando a mão dela. –

Vem comigo.

Levei Juliana para o calor da casa, onde o cheiro de molho marinara


subia do andar de baixo. O cheiro de alho, cebola e especiarias era
delicioso, bem superior aos pratos que Devyn e Gage normalmente
eram capazes de fazer. Notei sem prestar muita atenção que eles
estavam se esforçando.

– Onde estamos...

– Só vem.

Passamos pelo hall do segundo andar e pelos dois pares de


quartos.

Juliana conhecia bem os quatro, é claro. Mais outra curiosidade que


me excitava de formas com quais ainda não me acostumara.

– Aqui – disse eu, apontando para o último quarto no fim do


corredor.

– Abre.
Ela abriu, embora um pouco apreensiva de início. Mas ao entrar,
levou as duas mãos à boca.

– Meu Deus!

O quartinho estava completamente decorado do chão ao teto em


tons de azul pastel e suaves tons de branco. Havia um berço de
madeira preparado com lençóis azuis. Um tapete azul felpudo entre
uma cadeira de balanço e um cavalinho de balanço. As paredes
estavam pintadas com murais de árvores florindo e pássaros
cantando nos galhos. Animais sorriam da grama pintada logo acima
do rodapé ao longo de todo o quarto.

– O Gage fez isso?

Cruzei os braços, satisfeito.

– Bom, a ideia foi dele – admiti –, mas depois que ele começou,
Devyn e eu assumimos. Ele não gostou de início, mas no final acho
que o trabalho em grupo ficou melhor.

Juliana caminhou pelo quarto passando a mão sobre a grade macia


do berço. Seus olhos voavam de uma coisa azul-bebê para a outra.

– E como vocês sabem se é menino?– desafiou ela, com a mão na


barriga.

– Não sabemos – riu Gage abruptamente da porta – mas redecorar


seria tão legal quanto, e calculamos que é uma chance de 50%.

Devyn se materializou atrás dele e juntos entraram no quarto.


Juliana respondeu se aproximando, sorrindo e jogando os braços
em volta de cada um de nós por vez. Começando pelo Gage, claro.

– Isso é incrível – disse ela com voz embargada. – Quero dizer...

– Nós sabemos que você não vai estar sempre aqui – disse Gage
rapidamente – ou que talvez nem vá trazer o carinha para cá.
– Ou a mocinha – interrompeu Devyn.

– É. Mas...

Juliana o interrompeu com um beijo direto na boca. Ela me beijou


depois, animada e pressionando os lábios macios contra os meus, e
enquanto minha cabeça ainda estava girando, ela se afastou e
beijou Devyn.

– Ninguém nunca fez nada tão querido por mim antes – disse ela
com voz estrangulada, porém feliz. – Ou tão atencioso. Ou tão...
Tão...

– Obsessivo?– brinquei, olhando Gage de lado.

Os olhos de Juliana estavam molhados. Ela segurou o choro ao se


voltar para me encarar.

– Não é obsessivo – ela me corrigiu. – É incrível. Esse quartinho


inteiro é incrível – fungou ela, olhando em volta. – Eu... Eu agradeço
muito.

Por um momento só ficamos ali, deixando ela absorver. Finalmente,


Devyn pôs a mão no ombro dela.

– Bom, você merece – disse ele com gentileza.

– O bebê merece – Gage acenou com a cabeça.

O queixo de Juliana caiu com a contemplação de tudo que estava


acontecendo. Eu lia o conflito em seus lindos olhos. Ela sempre fora
tão decidida, tão segura de si em tudo. Talvez pela primeira vez na
vida, eu via que ela estava dividida.

– Preciso ir – disse ela, virando-se para encarar os outros – pelo


menos por enquanto.

As expressões deles mudaram rapidamente. Devyn fez cara de


cachorro abandonado. Gage sobressaltou-se visivelmente.
– Mas não para sempre – adicionou Juliana com cuidado.

Gage tossiu, e então limpou a garganta. Seus olhos estavam sem


brilho.

– Promete?

Ela pausou, então fez que sim com a cabeça devagar.

– Eu... Eu prometo.

Fizemos um círculo em volta dela e lhe abraçamos. Seu corpo era


incrivelmente quente. Seu rosto, bonito demais para chorar.

– Estaremos aqui sempre que você precisar – disse eu, embora sem
poder prometer que sempre seria verdade. – Esta casa é para
sempre sua.

Gage sorriu, passando a mão pela barriga dela.

– E dele.

– Ou dela – desafiou Devyn.

Juliana suspirou, fungou e limpou os olhos na manga. Ela nos olhou


e eu acenei com a cabeça.

– Que esse seja seu refúgio do caos da cidade, se nada mais –


disse eu.

– Um oásis para você e o seu bebê.

Ela conseguiu dar uma risadinha fofa.

– Meu oásis no deserto.

Eu a abracei forte.

– Sempre que você quiser.


Capítulo 43
JULIANA
– Vai lá – disse em voz retumbante, alto o suficiente para ser ouvida
por todo o escritório. – Manda ele entrar.

John James da Skyline andou pelo longo corredor em forma de L


que levava à minha sala antes de finalmente entrar. Eu o vi durante
todo o caminho, claro. Afinal, as paredes eram de vidro.

– Sra. Emerson – ele sorriu, fechando a porta atrás de si. – Muito


obrigado por...

– Vai direto ao assunto – eu o interrompi logo. – Há algum assunto


que o traga aqui, certo?

Pela visão periférica, meus olhos escanearam seu terno Brioni, seu
cinto Gucci e seus sapatos Balenciaga de couro de tubarão. O
homem era alto e magro e extremamente bem arrumado, desde o
cabelo estiloso, com gel, até as unhas feitas. Ele batia os dedos no
encosto da cadeira diante de si.

– Posso sentar?– perguntou educadamente.

– Não precisa – disse eu – não vamos demorar muito.

Eu sabia o que o homem queria e sabia exatamente por que ele


estava ali. Aric tentara me impedir de sequer aceitar essa reunião,
mas nunca fui de me intimidar diante de um bom confronto.

Além disso, depois de más notícias me obrigarem a voltar para casa


de avião, eu precisava muito dar risada.

– Muito bem – disse John James. – Comecemos pelos fatos, então.


Comecemos. Só um babaca pretensioso ou um bibliotecário
empertigado falaria assim na vida real. Eu acabara de conhecê-lo e
já não o suportava.

– Fato: sua agência de marketing recentemente perdeu a Legendary


Gaming para nós.

Ele disse isso de forma toda obsequiosa e imparcial. Por mais que
eu odiasse, a declaração ainda era verdadeira.

– Fato: provavelmente você vai segurar bem as pontas até


expirarem os contratos atuais, mas depois, vai sofrer uma sangria
de dinheiro.

Minha cara feia piorou. Eu também não podia negar isso, embora os
cálculos de tempo dele talvez estivessem um pouco errados.

– Fato: sua agência é bem competente. Extremamente competitiva.

Você tem um bom pessoal e ótimos recursos, em suma.

Bajulação, talvez. Ou isso, ou ele estava prestes a tratar do


principal.

– Você só apostou todas as fichas numa coisa só – disse o homem


com frieza. – Você expandiu rápido demais, sem diversificar as
fontes de renda –

ele deu de ombros teatralmente – e agora a água bateu na bunda.

Verdade ou não, eu o odiei por usar minha própria analogia contra


mim. Em vez de lhe dar a satisfação de saber disso, bocejei e fiz
minha melhor cara de tédio.

– Acabou?

O homem avançou ao invés de recuar. E então, contra a minha


vontade, ele realmente se sentou.
– Me vende a sua empresa – disse John James animadamente. Ele
se inclinou para a frente, olhos selvagens. – Deixa eu assumir a
Shameless!

Com isso, ele bateu com o punho na mesa. Instintivamente, estiquei


o braço e o agarrei pelo pulso.

– Que p...

A porta da minha sala se abriu tão rápido que quase se estilhaçou


em mil pedacinhos. Aric foi para cima do homem em um segundo,
passando o braço comprido bem debaixo do queixo dele e o outro
apertado por trás.

– Aric, não!

Ele apertou e eu vi o rosto de John James ficar roxo. Ele estava a


cinco segundos de perder consciência. Talvez três, considerando a
fúria de Aric.

– Solta ele, Aric! Por favor!

Meu assistente relaxou o aperto, embora não soltado o prisioneiro


totalmente. John James soltou uma grande lufada de ar quente e
olhou em volta como se não se lembrasse imediatamente de onde
estava. Muito lentamente, a cor começou a voltar ao seu rosto.

– Ele estava batendo nas coisas – disse Aric. – Eu o vi erguer a mão


para você e...

– Está tudo bem – cortei meu assistente. – Nosso convidado ficou


um pouco empolgado demais, só isso. Mas agora ele está bem. Não
é?

Devagar, grogue, o homem na cadeira fez que sim com a cabeça.


Ele não estava parecendo muito o CEO de uma grande agência de
marketing, muito menos um que roubara meu maior cliente. Na
verdade, estava parecendo um garoto de 25 anos que acabara de
acordar com uma ressaca terrível.

– Pega uma água para ele?– pedi a Aric.

Meu assistente estava relutante em sair. Finalmente, eu o mandei


sair.

– Pode ir. Vou ficar bem.

Aric recuou devagar, dessa vez deixando a porta da sala aberta.

Quando fiquei novamente sozinha com o convidado, virei-me para


encará-lo.

– Fato: seu papai rico, barão do ramo imobiliário, te deu dinheiro


para abrir a agência. No ritmo que você está gastando, vai pedir
mais para ele muito em breve.

John James pareceu confuso, então magoado, então enfurecido


pela acusação. Mas eu não terminara.

– Fato: sua agência usa fazendas de cliques e robôs para aumentar


a contagem de seguidores dos clientes nas redes sociais. Por isso,
você não consegue entregar nenhum resultado real. Os clientes que
você roubou vão te abandonar rapidinho, logo que entenderem que
estão pagando para nada.

O homem na minha frente esfregou a base do pescoço. Ele abriu e


fechou a boca algumas vezes, testando a mandíbula.

– Fato: você mesmo não sabe absolutamente nada de marketing –


eu disse. – Claro, talvez metade do seu pessoal seja bom, mas eles
nem chegam perto do calibre dos meus funcionários. E sabe por
quê?

Ele tossiu uma vez e balançou a cabeça.

– Não. Por quê?


– Porque eu montei essa empresa do zero – disse eu, com raiva. –
Eu dei duro nela, derramei meu sangue por ela e participei do
processo de seleção de cada um dos funcionários que estão aqui.

Aric voltou nesse momento com uma garrafa d'água. Uma a


temperatura ambiente da despensa, em vez de uma gelada dos
frigobares.

São as pequenas vitórias que te fazem seguir adiante, uma vez Aric
me dissera.

– Agora, você pode ter angariado a Legendary com um pitch


espalhafatoso – continuei – e a promessa de presença na costa
oeste. Mas na hora que você não entregar resultados, eles vão
enxergar a mentirada. Eles vão te dispensar tão rápido quanto me
dispensaram, só que não vão nem completar os contratos existentes
porque não te devem lealdade – eu me inclinei para trás e dei de
ombros. – Na verdade, eles podem até te processar por má
conduta, ou pelo menos pegar de volta o que já depositaram.

Não sei se foi apreensão o que eu percebi, mas com certeza a


dúvida estava nascendo. Em questão de minutos, toda a postura do
homem mudara.

A autoconfiança e a marra com que entrara tinham sido


completamente despedaçadas.

– Você vai perdê-los – terminei, girando a faca – e não há nada que


possa fazer para impedir isso. Então se prepare.

John James finalmente se levantou. Vermelho e quase tremendo,


ele colocou a garrafa d’água na minha mesa e me olhou
diretamente.

– Então você acha que vai recuperar a Legendary?– desdenhou ele


Esse é o seu plano maligno?


Dei de ombros mais uma vez.

– Talvez. Talvez não.

O homem soltou uma risada pelo nariz, virou-se e olhou feio para
Aric, que estava de pé em silêncio no canto da sala.

– Se eles vierem para mim de novo, com certeza vou aceitá-los de


volta – refleti. – Mas não com o preço antigo. Não com o preço
“somos parceiros leais há tempos” porque agora eu sei que a
lealdade deles é volúvel.

Minha própria raiva começou a ferver. Não com John James, porque
agora eu sabia que o CEO da Skyline não era mais que um menino
brincando de adulto com a vida dos outros.

Não, eu estava mais puta com Robert Valentine. Ou, mais


especificamente, com as pessoas acima dele que realmente
pensaram que economizariam deixando essa criança destruir a
marca delas.

– Nós nos falaremos em breve – disse minha visita não convidada


ao sair da sala. – Talvez mais breve do que pensa, Sra. Sabe-Tudo.

Ele disse essa parte com tanto desprezo que eu não consegui
segurar o riso.

– Eu não sei tudo – disse eu. – Nem perto disso. Mas, James?

Ele desacelerou o passo de forma contemplativa, até finalmente


parar para se virar no corredor de vidro.

– Eu sei que você nunca, nunca vai comprar a minha empresa.

Capítulo 44
GAGE
A ligação viera no pior momento possível, como de costume. Eu
estava deitado de barriga para baixo e de braços e pernas abertos
na cama.

Ainda tonto da bebedeira da noite passada, quando nós três saímos


para espairecer um pouco.

Espairecer... e tentar esquecer dela.

Não é que queríamos esquecê-la – bem o contrário, na verdade. Era


mais para parar de pensar nela por um momento. Juliana nos
deixara preocupados com mil pensamentos malucos, mas nas
poucas semanas desde que voltara a Nova York, ela ainda não nos
dera uma resposta.

E havia realmente uma resposta para dar?

De acordo com Maverick, nós a assustáramos. Já Devyn não tinha


tanta certeza, nem eu. Sim, o que sugerimos fora radical,
inacreditável, totalmente surreal. Do ponto de vista social, talvez
fosse impossível ser mais degenerado. Mas no fim, eu não ligava.
Isso porque fomos sinceros.

Dissemos a verdade.

– Levanta.

Grunhi, virando-me de lado em direção à porta. A forma de Maverick


formava a silhueta contra a luz que vinha do hall.

– Vão chegar em oito minutos.


Percebi que ele já estava calçando as botas. O que só podia
significar uma coisa.

– Está na hora?

– Sim.

Em algum momento da madrugada recebemos uma ligação. A


ligação, na verdade, a ligação pelo telefone que nunca tocava
exceto por uma só razão.

– OK – grunhi – estou de pé.

Rolando da cama, balancei a cabeça e tentei esquecer Juliana por


um segundo. Eu precisava esquecê-la, na verdade, se iríamos estar
focados no trabalho que os três precisávamos realizar.

E não focar no trabalho em questão teria consequências fatais.

Finalmente encontrei o banheiro, joguei água fria no rosto e olhei


para o espelho. Eu estava horrível. Cara, eu me sentia horrível. Mas
eu sabia que em uma hora ou duas eu me recuperaria totalmente.

– Não se esqueça de escovar os dentes – gritou Maverick se


afastando, satisfeito que eu não tinha voltado para a cama. – Dá
para sentir seu bafo de uísque daqui.

Ele desapareceu escada abaixo, deixando-me resmungando e


procurando qualquer escova de dentes no armário. Fiquei na frente
da privada um minuto inteiro, matando dois coelhos de uma
cajadada só, então voltei para o quarto e comecei a vestir meu
corpo seminu.

Encontrei os outros na cozinha, tomando café afobados. Estava


escuro feito breu do lado de fora. Eu já estava ouvindo o helicóptero.

– Acham que é hoje?– perguntei esfregando os olhos.


– Eu sei que é – disse Devyn com firmeza. – Estou com um
pressentimento.

Concordei com a cabeça.

– Ótimo. Eu também.

Maverick me entregou uma caneca e bebi o máximo possível antes


do vento do helicóptero começar a jogar areia contra as janelas da
cozinha.

Joguei o resto na pia.

– Falamos com ela? – a pergunta veio de Devyn. Ela ecoou pela


cozinha vazia, mesmo com o rugido do motor do helicóptero lá fora.

– Acho melhor não – disse Maverick. – Ir para lá com a cabeça


tranquila. Com o pé no chão.

Demos ainda mais espaço a Juliana desde que ela se fora, e ela
aceitara. Mas mantínhamos contato. Ainda conversávamos. Por isso
não parecia certo só partir sem dizer nada.

Mas mais importante que tudo, eu não queria preocupá-la.

– Ela está grávida, ela está estressada, ela não precisa disso –
disse eu.

– De acordo?

Os outros concordaram. Vimos o helicóptero pousar pela janela.

– Vamos – eu disse. – Vamos iniciar os trabalhos.

Saímos trancando a porta às nossas costas, imaginando, como


sempre, quando veríamos essa casa de novo. Ou se. Com um
trabalho assim, sempre havia o fator “se”. Era algo sobre o que você
adquiria uma consciência mais aguda quanto mais tempo
permanecia no serviço, até que um dia o “se” se tornava um
“quando” mais sinistro.

Por alguma razão, o helicóptero pousara do lado oposto do de


costume do caminho de pedra. Outro piloto, talvez. A adrenalina já
estava fazendo efeito. Fiquei totalmente desperto. Vivo. Pronto para
qualquer coisa.

– Bishop! Abraham!

Ninguém desceu do helicóptero dessa vez para nos receber. Em


lugar disso, um homem acenava para nós subirmos. Com traje de
voo, custei um segundo para reconhecê-lo como Ramos.

Meu sorriso se alargou imediatamente.

– Gunarson!

Corri até o helicóptero e pulei para dentro bem na hora em que ele
deixava o chão. Ramos acenou com a cabeça. O aceno disse tudo.

– Certo, então – sorri, batendo continência. – Já era hora.

O Contra-Almirante fez um gesto para o piloto, que imediatamente


embicou para frente e rodou a manete. Essa parte me fez rir. Voar
rápido era fantástico, mas se estivéssemos indo para onde eu
pensava que estávamos, tínhamos uma puta viagem longa e umas
boas paradas adiante. Uma viagem com bastante tempo para falar e
planejar e receber o briefing da missão.

Pelo menos por enquanto, eu podia recostar a cabeça e recuperar o


sono de que eu estava tão necessitado.

Capítulo 45
JULIANA
A viagem foi solitária como sempre, mas desta vez, com uma ponta
de empolgação. Peguei um avião no impulso. Saí de Nova York sem
dizer a ninguém, nem a Aric, para quem eu sempre podia ligar de
manhã.

Isso porque eu queria dar uma baita surpresa neles.

As últimas semanas pareceram uma viagem numa locomotiva sem


freio. Trabalhei sem parar. Fiz reuniões a todas as horas do dia e da
noite, de um extremo da cidade ao outro. Estava fazendo tanta coisa
que Aric chegou a realizar uma intervenção militar me trancando na
minha sala e me forçando a sentar no sofá sem fazer nada por uma
hora inteira. Foi a hora mais longa da minha vida. Como estar presa
na solitária, mas com paredes de vidro para ver todo mundo fazendo
tudo que eu não podia.

Aric também começara a me acompanhar no obstetra, e ele não


aceitava “não” como resposta. Era a coisa mais linda ver seus olhos
se arregalarem com o som do batimento cardíaco. Observar seu
assombro infantil quando o bebê se mexia e chutava, esticando os
bracinhos e perninhas diante de nós. Depois de dez minutos inteiros
de imploração, até deixei o técnico lhe contar o sexo, desde que ele
jurasse guardar segredo para mim. Quase chorei ao ver como ele
estava emocionado com a coisa toda. E foi nesse momento que
percebi que pai maravilhoso ele um dia seria.

Logo eu teria que contar à minha família que estava grávida e o


bombardeio de perguntas começaria. Eu teria que explicar o
processo de doação, principalmente para os meus pais. Eu teria que
inventar mais do que uma coisinha ou duas também.
Pelo menos por enquanto. Pelo menos até eu saber com certeza
que direção tomaria.

Pensei que conversar com eles só de vez em quando me permitiria


ter clareza para possivelmente seguir em frente. Na verdade, foi
bem o oposto.

Não ouvir suas vozes me deu mais saudade do que nunca e tentar
não pensar neles só enchia minha cabeça de ainda mais
pensamentos conflitantes.

E não tê-los em minha cama...

Deus, eu sentia falta deles desesperadamente! Mentalmente,


emocionalmente, mas, é claro, fisicamente também. Eu sentia falta
da sensação da pele deles quente e nua deslizando contra a minha.
Do pecado delicioso de ser aberta e preenchida por cada um deles,
eretos e enormes e de tremer as pernas.

Minha barriga crescia junto com a libido, agora irrefreável. Em busca


de dar prazer ao meu corpo (e ao deles), eles tinham me deixado
mimada, sexualmente falando. Como o efeito colateral de estar
claramente grávida, eu acordava cada vez mais excitada todos os
dias.

Mas meu apego a eles ia muito além disso, portanto a razão para eu
estar ali. Precisava de seus braços fortes, lábios firmes, mas
também de sua companhia. Precisava das risadas, do calor e da
amizade. Os três compartilhavam uma ligação indescritível que fazia
estar em sua presença naturalmente divertido e descontraído. E,
claro, eu os amava. E eles me amavam.

Pode crer que você ama eles para caralho.

A percepção fora mais uma epifania dessa vez, e menos um


entregar-se. Não havia razão para me segurar. Não havia razão
para erguer barreiras quando tudo que eu realmente queria era
derrubar as que eu mantivera por todos esses anos.
Então peguei um avião para Phoenix sem dizer nada. O pessoal do
aluguel de carros já estava começando a me conhecer pelo nome, e
em poucos minutos eu estava cortando o deserto, acelerando na
direção que eu sabia me oferecer calor, felicidade e aconchego.

Se eles queriam me compartilhar, eu estava disposta a


experimentar.

Eu já me dera a cada um deles, mente, corpo e alma, e eles não


fizeram nada além de me tratar maravilhosamente bem.

Agora era hora de lhes dar meu coração também.

O sol já se pora há horas quando entrei pelos portões abertos e a


casa parecia menos aconchegante e viva do que o normal. Ainda
haviam luzes lá dentro, mas não muitas. Era quase como se minha
própria equipe de sexy SEALs tivesse ido dormir.

Mais fácil então para fazer surpresa.

Estacionei longe das janelas, tomando cuidado para fechar a porta


do carro tão silenciosamente quanto possível. Então subi de
mansinho até as enormes portas de madeira. Eu não iria bater desta
vez. Da última vez que viera, depois de falar que essa casa era meu
oásis no deserto, os caras me presentearam com uma grande chave
de latão.

Dizer que eu era bem vinda “em casa” quando quisesse poderia não
ser mais que um gesto simpático. Mas agora, depois de pensar
bem...

Meu coração acelerou ainda mais quando inseri a chave na grande


fechadura de ferro. Ela virou com um clique e adentrei nas sombras
do hall.

A casa estava silenciosa, o interior iluminado principalmente pela luz


ambiente. Mas havia uma lâmpada acesa na cozinha. Mas sempre
havia uma lâmpada acesa na cozinha.
Eles estão dormindo.

Sorri pensando na surpresa que seria subir as escadas nua em pelo


e entrar na cama de um deles.

Mas de qual?

Decidi que escolheria a primeira porta, que era a do Devyn. Assim


não poderia ser acusada de favoritismo. Além disso, tudo começara
com o Devyn. Era a coisa certa a se fazer.

Sem contar que o quarto em que eu começaria não


necessariamente seria o quarto em que eu terminaria.

Dei uma olhadinha pela arcada para ver se a cozinha estava vazia.

Maverick costumava ter insônia de vez em quando e o apetite de


Gage às vezes o fazia acordar e preparar um lanche da meia-noite
mais louco que o outro. Fiquei feliz de pensar em quão bem eu
estava começando a conhecê-los. Mas ainda havia muito a
aprender. Tantas coisas que ainda tinha para compartilhar com eles.

Foi aí que eu reparei nas canecas na pia. E na cafeteira no meio da


bancada, ainda cheia até quase a metade do líquido preto e
espesso.

Ir dormir com a cozinha assim me pareceu estranho, principalmente


com a mania de limpeza obsessiva de Maverick. Mas subi as
escadas de qualquer forma, virei a maçaneta e silenciosamente abri
a porta de Devyn.

Ela se abriu para um quarto vazio e uma cama desfeita.

Franzindo o cenho, abri as outras portas e encontrei exatamente a


mesma coisa. Os três quartos estavam vazios. As três camas
estavam desfeitas.

Um frio me assaltou de repente quando percebi que estava sozinha


na casa, bem no meio do deserto. Fiquei extremamente consciente
da escuridão e das sombras. Cada barulhinho – o vento, a areia
jogada, os rangidos da casa – me davam um arrepio na espinha.

Foi aí que meu telefone tocou e eu quase dei um grito.

Capítulo 46
JULIANA
– Juliana?

Mal registrei a voz de Devyn por cima de um som agudo e um ruído


de fundo desconhecido. Ele ligara de um número estranho que eu
não reconheci. Mesmo com o coração a mil, fiquei muito agradecida
de ouvir a voz dele.

– Meu Deus, cadê vocês!?– me engasguei – Vocês não estão aqui.


E-Eu vim para a...

– Você foi para a casa – eu o ouvi dizer. – Sim. Nós sabemos.

Franzi as sobrancelhas.

– Como vocês sabem?

– Alarme silencioso. Câmeras. – a próxima frase foi cortada pela


estática. – Nós... um alerta... a porta da frente abriu.

Caminhei enquanto falava, ligando todas as luzes que encontrava. A


casa era muito mais convidativa com as luzes acesas. Muito mais
quente e segura do que no escuro.

– Suas caminhonetes estão aqui – disse eu. – O helicóptero


também.

Achei que vocês estavam dormindo, mas...

– Juliana, estamos numa missão agora – ele me interrompeu. – Ou


logo estaremos. Estamos super felizes que você esteja aí e nós te
convidaríamos para ficar, mas não fazemos ideia de quando
voltaremos.
Pode ser semanas. Meses, até.

Meu coração disparado afundou.

– E-E vocês nem iam me contar?

Houve uma longa pausa do outro lado da linha. Pensei por um


momento que a ligação tinha caído.

– Não quisemos te preocupar – disse Devyn com tristeza – e onde


nós estamos indo...

– Vocês vão ficar bem?– perguntei, assustada – É seguro?

Era uma pergunta idiota e eu sabia. Eles não eram apenas


soldados, eram de um batalhão especial. Eles realizavam as
operações mais perigosas do mundo.

– Nós vamos estar seguros – Devyn me garantiu –, eu prometo.

Sua promessa, contudo, não me deixou tranquila. Sentia uma pedra


no lugar do coração.

– Preciso ir – disse ele de novo, por cima do som de algum alarme.


Nós... eu...

– Tomem cuidado!– exclamei ao telefone – Por favor, diga aos


outros também. Cuidem uns dos outros! E eu...

Os ruídos pararam abruptamente. A ligação fora cortada.

BOSTA!

Minha mão tremia quando eu lentamente abaixei o braço com o


celular. Não apenas eu perdera a chance de falar com os outros,
como passara os poucos momentos que tinha culpando Devyn por
não me contar que partiram. Isso depois de aparecer do nada,
depois de várias semanas de pouco contato.

Que feio, Ju.

E agora eles foram levados de mim, mandados em alguma missão


perigosa Deus sabe onde. Com a tarefa de fazer Deus sabe o quê,
e jogados numa situação tão perigosa que eu poderia não ver um ou
mais deles nunca mais.

Tentei me convencer de que estava sendo dramática. Mas no meu


coração, eu sabia da gravidade da situação. E doía dez vezes mais
do que eu julgara ser possível.

Olhando em volta, percebi que passaria a noite numa casa vazia.


De jeito nenhum eu voltaria dirigindo para o aeroporto, pelo menos
não até a

manhã. Eu estava cansada demais. Além disso, estava me sentindo


péssima.

Fui para a cozinha, lavei as canecas e a cafeteira. Então afundei na


cadeira mais próxima, segurei a cabeça nas mãos e me preparei
para chorar.

Não. Foda-se isso.

A voz no fundo da minha mente interrompeu minha inevitável crise


de autopiedade antes mesmo que ela começasse. Era uma voz
forte. Uma voz assustadoramente feroz que eu não ouvia há
tempos.

LEVANTA.

Levantei. Os cabelos da minha nuca se eriçaram e meu corpo


começou a formigar. Mas dessa vez era um formigamento bom.

Ótimo. Agora segura a onda.


Sem hesitar, tranquei a casa, acendi a fogueira e parei na frente
dela.

Lá, olhando para o fogo azul e amarelo, eu relaxei o corpo e deixei


minha mente fazer o que ela sempre fez melhor: pensar.

Nos primeiros minutos, só consegui pensar nos meus homens.

Visualizei seus rostos bonitos, seus corpos rijos, suas vozes graves,
poderosas, ecoando pela casa agora vazia. Eu me lembrei que os
amava. Eu disse a mim mesma que não tinha nenhum problema
nisso. Eu convenci a mim mesma que os três ficariam bem e que
eles cuidariam um do outro e que voltariam para mim inteiros e
felizes e repletos de ainda mais amor por mim do que quando
partiram.

Então tirei meus lindos Navy SEALs da cabeça e comecei a pensar


em tudo mais.

Ideias se formaram. Planos foram concebidos. Corri para a cozinha


e achei papel e caneta em uma gaveta, sentei no sofá e comecei a
registrar a torrente incrível de consciência criativa que estava me
dizendo o que fazer, quando fazer, e a melhor forma de realizar
tudo.

Eu parecia ter voltado ao passado, ao tempo do meu antigo eu. Das


minhas primeiras semanas em Nova York e de como corri atrás dos
meus sonhos incansavelmente. Eu conquistara tudo com trabalho
duro, inteligência e suor. Mas, principalmente, eu o fiz chutando todo
o medo, negatividade e apreensão da minha frente.

Quando terminei, já era quase duas da manhã. Meu corpo já estava


exausto há horas, mas minha mente finalmente se esgotara.
Animada e

satisfeita, apaguei a lareira e voltei ao andar dos quartos. Uma vez


lá em cima, nem me troquei. Tirei a roupa, subi na cama de Devyn e
inalei o maravilho almíscar de seu corpo impregnado nos lençóis.
Adormeci no segundo que encostei o rosto no travesseiro.

Capítulo 47
DEVYN
Ramos nos levou até o litoral da Somália, mas nos separamos no
USS

Nimitz. Fomos introduzidos no porta-aviões sob a capa da escuridão


e nos esgueiramos pelas praias de areia branca. Invisíveis,
contornamos os vários barcos de pesca que salpicavam o porto,
avançando e saindo da praia sem qualquer ruído.

Nosso esquadrão circundou toda a extensão de Kismayo.


Passamos pela arquitetura caótica do porto antigo, transportando os
equipamentos pela passagem escaldada de sol ao avançar para
oeste. Antes do nascer do sol, já estávamos ocultos na província de
Juba Inferior, onde a espessa vegetação nos cobria inteiramente.

Infelizmente, esse não era o único verde.

Além de Maverick e Gage, nosso esquadrão consistia


principalmente de homens que conhecíamos e em quem
confiávamos. Havia Christian, capaz de rastrear uma formiga no
meio do mato. Evans, com seu rifle TAC-50, acertava o alvo a 135
metros de distância. Na retaguarda havia Hyde, que ganhara o
apelido porque metade do tempo ficava irracionalmente irritado e
Parker, que nunca, em catorze missões, nos deixara ser
emboscados por trás.

Mas também tínhamos três novatos sem experiência que pareciam


ter acabado de sair da BUD/S. Homens tão verdes que Gage
brincou que suas insígnias estavam tão brilhantes que ele ia mandá-
los passá-las no barro.

– Vaughan!
O batedor à frente parou e deu meia volta.

– Você está fazendo reconhecimento em força, não nos fazendo


reconhecer sua força.

Ele me olhou confuso. Caminhando em marcha dupla, eu o


alcancei.

– Se eu te perder de vista, não adianta nada – eu disse. –


Entendeu?

– Desculpe, senhor. É que isso tudo é tão... legal.

Ele soube que dissera a coisa errada no momento em que as


palavras saíram de sua boca. Li isso em sua expressão.

– Legal?– sibilei.

I homem baixou os olhos, mas, inteligentemente, não disse nada.


Pelo menos ele não era tão sem noção.

– Seu primeiro boquete é legal – disse eu com dureza. – Marcar o


gol decisivo aos 45 minutos do segundo tempo é legal. Precisa de
mais exemplos?

– Não, senhor – depois de um momento de silêncio, ele acenou com


a cabeça. – E-Entendi.

Talvez tenha entendido, talvez não. Eu o olhei de alto a baixo assim


mesmo, tentando determinar a resposta. Eu vira homens
experientes sofrerem uma morte atroz por doença da
descompressão por nada mais que dez segundos de descuido
hipóxico. Já vira outro SEAL erguer a mão para dar um hi-5
prematuro no companheiro após uma troca de tiros e um sniper
transformar sua mão numa névoa rosada.

A questão era: todo mundo erra – até profissionais. Às vezes um


erro significava a morte. Às vezes um erro podia te deixar com um
polegar onde devia estar a mão. Eu lembro do comandante
chamando aquele soldado de

"Fonzie" depois do incidente, uma referência que eu não entendi na


época.

Depois de pesquisar e ver quão brutal era, eu me senti ainda pior.

– Olha, não vai ser bom para ninguém se você der de cara com os
homens do Bashir e estivermos longe demais para sequer saber o
que aconteceu – disse eu a Vaughan. – Certo?

Ele deu um aceno seco com a cabeça e limpou a garganta.

– Não vai acontecer de novo, senhor.

Senti uma pontada aguda quando a extremidade serrilhada da


plaqueta de identificação do meu pai espetou a base do meu
pescoço. O que era

estranho, pois fazia anos que isso não acontecia.

– Ótimo – disse, sem prestar muita atenção. – Agora volte para lá


com o Christian. Ele vai descobrir alguma coisa logo, se já não
descobriu.

Eu o vi partir, tentando me lembrar do meu comportamento na


minha primeira missão. Porra, parecia mil anos atrás. Uns veteranos
me seguraram na rédea curta na época e eu me lembro de revirar
os olhos quando eles me diziam o que fazer. Mas agora que estava
no lugar deles, eu finalmente entendia.

– Você mandou aquele otário ir devagar?

Maverick aderira ao meu ritmo e me alcançara. Seus olhos ainda


estavam no horizonte.

– Sim. Mais ou menos.


– Pensei ter ouvido algo sobre um boquete?

Eu ri na minha mão.

– Prometi a ele que você o daria um se ele encontrasse Bashir


antes de Christian.

Maverick fez um som com a garganta e me olhou feio.

– Não vai rolar isso. De jeito nenhum.

– Eu sei. O Christian é muito bom – dei de ombros e sorri. – Mas


sinto muito se você estava querendo...

Um assobio agudo nos interrompeu no meio da provocação. Podia


ter sido um pássaro ou um inseto. Mas nós dois sabíamos que não.

À frente, olhando por cima da crista do morro, Christian fez o sinal


com a mão para pararmos. Nosso treinamento tomou conta das
próximas ações. Sem trocar palavra, sem fazer ruído, cada um de
nós se camuflou com a árvore mais próxima.

O batedor apontou e vi o mesmo que ele: uma espiral de fumaça


branca subindo preguiçosamente para o céu. Vinha bem do alto do
próximo morro, a uns bons quatro quilômetros.

– Chama o Travers aqui – murmurei para Maverick. – Ele está com


os binóculos.

Menos de um minuto depois eu estava com os binóculos top de


linha com medidor de distância na mão, vendo a anomalia que
Christian

observara. A fumaça não era de uma fogueira acesa, mas dos


restos de uma.

Uma fogueira para cozinhar, provavelmente.


– Eles estão se movendo – disse eu aos outros – o que significa que
nós também devemos.

Travers apertou os olhos na direção do despenhadeiro à nossa


frente, tão jovem e verde que nem uma linha se formou em seu
rosto. Mas devo dizer que ele parecia perfeitamente calmo.

– Equipamento de escalada?

Acenei com a cabeça, deprimido.

– É o único jeito.

Capítulo 48
JULIANA
Depois de uma semana inteira na casa deles, tenho de admitir que
já estava ficando bem à vontade. Na segunda semana, eu já
desenvolvera uma rotina diária bem definida. Ela incluía acordar na
cama de um deles, lavar o cabelo com o xampu deles e
cuidadosamente raspar as pernas com as mesmas navalhas que
eles usavam em seus lindos rostos. Eu treinava na academia
completa deles para descansar a cabeça, assistia à televisão deles
para me distrair e me sentava numa cadeira no pátio deles à noite
para ver as estrelas.

Imaginando se estavam olhando para as mesmas estrelas que eu.

Eu também comi a comida deles, bebi o leite deles, e terminei todas


as caixas de cereal da casa – principalmente os com açúcar. Porque
embora nunca tenha usado a gravidez como carta branca para
devorar qualquer coisa que quisesse, eu decidira desde o começo
que me permitiria ser a formiga que eu era.

A cada dois ou três dias, ia à Phoenix, onde assinava documentos,


fazia reuniões e começava a contratar a equipe que precisava para
realizar certas coisas. E as coisas estavam se realizando. Num ritmo
muito mais rápido e acelerado que eu jamais poderia ter imaginado.

E ainda assim, Aric não sabia de nada.

Essa parte me deixava meio culpada, mas no final era melhor


assim.

Apesar do que ele dizia, eu sabia que meu assistente seria


controlador demais, se envolveria demais. Além disso, logo ele
descobriria. Só não antes que pudesse fazer algo para me dissuadir.
E também não me sentia tão culpada porque a agência era minha, e
portanto, a escolha também. Se o que eu estava planejando daria
certo no final? Bom, então Aric receberia a melhor surpresa do
mundo.

– Aqui está, Sra. Emerson.

O advogado local que eu contratara era um tubarão sem alma, sem


o menor interesse em enrolação e sem capacidade de sorrir. Ou
seja, o advogado perfeito.

– Eles concordaram com as condições?

Ele acenou com firmeza ao me entregar o contrato de aluguel.

– Com todas.

Fiquei verdadeiramente impressionada.

– Muito bem.

– Leia os documentos com calma – avisou ele –, apenas lembre-se


de entregá-los até o fim da semana.

– Entrego amanhã de manhã – respondi – cedo.

Ele acenou novamente, dando a impressão de que ele estava


impressionado. Quase dava para pensar que ele era de Nova York.

– Ainda tem a questão do zoneamento – continuou– mas o


despachante garantiu que vai resolver isso em questão de dias.
Depois das transferências, vamos fechar.

– E pegar a chave.

O advogado limpou a garganta.

– E pegar a chave, sim.


Ele sabia que eu estava ansiosa, mas nunca se abalou com a minha
insistência. Eu pagara generosamente pela celeridade e era isso
que eu esperava. Cada dia que passava era uma oportunidade
perdida.

– Obrigada de novo – disse eu antes de me sair. – Qualquer coisa


mais, não hesite em me ligar. Independentemente da hora.

– Oh, tenho perfeita ciência disso – disse ele sem emoção. – Bom
dia, Sra. Emerson.

Com isso nos separamos, seguindo em direções opostas da


calçada.

Talvez seja pelo tanto que eu estava pagando, mas ele sempre me

encontrava em qualquer lugar que eu pedisse. E nos últimos dias,


eu estava ficando mais em Phoenix que na casa.

E se eles tiverem voltado?

Isso sempre me ocorria: que eles podiam voltar a qualquer


momento.

Eu ficava sempre com o celular na mão, sempre carregado, sempre


pronta para atender a qualquer número não importa se fosse
desconhecido ou estrangeiro. Até então eu atendera três pessoas
tentando melhorar meu plano de celular, outras duas querendo
saber se eu estaria interessada em painéis solares para a minha
casa e pelo menos meia dúzia de gravações dizendo que era minha
“última oportunidade” de renovar o seguro do carro.

Mas, infelizmente, ainda nada sobre Devyn, Maverick ou Gage.

O bebê chutou de repente, como se soubesse que eu estava


pensando no pai dele. Ou nos pais, dependendo de como você
enxergasse as coisas.

Mas posso esperar para mostrar para eles...


Os soquinhos e chutes na minha barriga eram novidade. Eu
sinceramente achei que seria estranho, mas na verdade eu estava
achando lindo. Quanto mais eu me acostumava, mais eu ficava
ansiosa para ver os pequenos sinais de vida que estavam
aparecendo dentro da minha barriga.

Gage vai pirar!

Sorri, pensando em como os três seriam fofos quando me vissem de


novo. Minha barriga já estava bem mais redonda e mais baixa. Já
era perceptível independentemente da minha roupa, então parei de
tentar escondê-la e comprei umas camisetas oversized que
marcavam a barriga.

Embora eu tenha acordado naquele dia com a intenção de explorar


a cidade de forma menos profissional e mais pessoal, meu corpo
decidiu ir dormir cedo. Entrei no lobby do hotel com a barriga
roncando impacientemente e percebi que pulara o almoço. Eu tinha
coisas demais para fazer. Eu já fizera tantos contatos que era difícil
não perder a conta.

Mas quanto mais rápido eu agisse, mais rápido eu poderia voltar


para a linda casa no deserto.

E mais rápido eu poderia me enrolar nos travesseiros e cobertores


com o cheiro deles.

Capítulo 49
MAVERICK
O terreno era suficientemente uniforme para que todas as direções
parecessem iguais, mas a vegetação era esparsa, de forma que
seguir alguém era um saco ainda maior. Por isso ficávamos para
trás e escalávamos pontos mais altos sempre que possível.
Conseguimos observar os grupos à nossa frente, que determinamos
serem três facções diferentes.

Contudo, os outros não estavam a fim de ficar para trás. Por


enquanto Vaughan estava se comportando, mas dava para ver que
Travers e Langston estavam ficando nervosos. E quando o
paramédico fica nervoso, é de se levar em conta.

– Novidades?

Balancei a cabeça para Gage, que fazia a mesma pergunta pelo


menos cinco vezes por dia. Já estávamos seguindo os três grupos
há quase uma semana. Muito longe do ideal para uma missão que
devia ter durado dois ou três dias, no máximo.

– O Hyde está a 80% – disse ele, baixando a voz – talvez 85%.

A porcentagem Hyde era algo que inventáramos várias operações


atrás. Uma indicação de quanto da personalidade dele passara para
o lado sombrio, zangado. Até então, a porcentagem nunca passara
de 70%.

– Vamos escolher?

Eu estava perguntando a todos: Gage e Devyn, assim como Parker,


que chegara da retaguarda. Os três homens se olharam e acenaram
com a cabeça simultaneamente.
– Eles têm sido bem diligentes – adicionei com cuidado. – Acham
que vamos assustá-los?

– Vamos ter que dividi-los de qualquer forma em algum momento –

apontou Devyn – e não temos recursos para segui-los até o outro


lado do continente.

Esse ponto era apenas parcialmente verdade. Mesmo com os


recursos acabando, sempre havia formas de continuar. A real
pergunta era em que forma estaríamos quando chegássemos ao
final.

– Talvez seja mais fácil administrá-los separados – respondi. –


Esperar eles se dividirem. Agir nos nossos termos.

– Talvez – disse Parker –, mas aí podemos perder Bashir.

Asad Bashir era gente ruim do pior tipo. Um terrível chefe militar que
tomava conta de todos os recursos que encontrava e forçava a
submissão da população local pela fome. Se quiser comer, entra
para a milícia. Ou ele apareceria um dia na sua aldeia e levaria o
que quisesse, e isso incluía quem quisesse, também.

Assim seu exército crescia sempre, o que significava que precisava


estar em constante movimento para se manter. Havia poucos
lugares onde Bashir se demorava, e quando isso acontecia,
geralmente não era por muito tempo. O maldito era tão paranoico
quanto nômade. E considerando o número de inimigos que fizera,
com razão.

A inteligência determinara que Bashir e seu grupo de seguidores


mais próximos estavam nessa região. Isso, junto com mais um par
de fotos de má definição, foram o suficiente para iniciar nossa
introdução no território.

Teria sido mais fácil descer pela corda de um helicóptero Blackhawk


ou até por queda livre no quarto crescente ou minguante em vez de
atravessar esse maldito terreno. Mas os dois métodos alertariam
Bashir. Qualquer um o teria mandado correndo de volta para o mato,
como um rato por um milhão de buracos no taco.

Duas noites atrás, Evans localizara Bashir na mira com zoom do rifle
Schmidt & Bender. Se dependesse de mim, ele teria levado o tiro.
Mas não dependia e mim.

– Se eles seguirem o mesmo padrão, vão acampar cedo e sair


antes do amanhecer – disse eu finalmente. – Vamos manter
distância por enquanto, mas esta noite, se for tudo bem...

Os olhos de Parker brilharam perigosamente. Vi um canto de sua


boca subir num sorrisinho.

–... à 1:30 nós atacamos.

Gage aprovou imediatamente com a cabeça. Devyn, normalmente o


mais cauteloso, também concordou.

– Quero todos armados até o crepúsculo, armas conferidas, prontos


para agir. Sem desculpas. Sem atrasos.

Decisão finalmente tomada, fiz um movimento brusco com o queixo


para trás.

– E alguém avisa o Hyde, antes que ele chute um cactos.

Capítulo 50
JULIANA
– Sério?– insisti enquanto as portas do elevador se fechavam –
Você ainda não sabe por que eu te trouxe de avião até aqui?

O homem ao meu lado balançou a cabeça de novo, suando


profusamente. Não por estar nervoso, mas porque Robert Valentine
estava bem vestido demais para o Arizona.

– Não faço ideia – admitiu ele, puxando o colarinho. – E só para


constar, não foi você que me trouxe. Eu comprei minha própria
passagem.

Eu ri.

– E por quê?

– Porque você é pão-dura?

– Prefiro o termo “econômica” – dei um sorriso irônico –, mas, claro,


estou apertada de dinheiro agora. Por que mais, então?

Robert deu de ombros humildemente.

– Porque após o que houve entre nós, acho que eu te devia pelo
menos isso.

– Devia – confirmei, enquanto o elevador parava abruptamente –


mas você também veio por outra razão.

As portas se abriram. Como uma apresentadora de televisão,


estendi o braço com pompa.

– Você veio porque confia em mim.


Fiz Robert sair do elevador, num espaço do qual se via uma grande
sala vazia no andar abaixo. Um corredor com portas de escritório
circulava

o segundo andar, contornando todo o perímetro do edifício num


retângulo.

– O que é isso?– perguntou Robert.

– A Shameless West.

Ele apertou os olhos.

– Espera, o quê?

– Você disse que o conselho queria uma agência de marketing com


presença na costa oeste, não? Eu me aproximei do corrimão e fiz
um gesto para baixo. – Aqui está. Você está olhando para uma
agora mesmo.

O homem cuja empresa eu tornara real – e que por sua vez tornara
a minha real – voltou-se para me encarar. Ele ainda estava
incrédulo.

– Você está abrindo outra agência de marketing?– disse ofegante.

– Não outra, só uma extensão da que eu já tenho.

Robert Valentine inclinou a cabeça para o lado.

– Mas...

– Mas o quê?

Ele olhou de novo para o andar vazio.

– Não tem nada aí.

– Ainda não – argumentei.


– Nenhuma mesa, nem computador, nem gente...

– E se eu te disser que vamos entrar em operação em menos de


duas semanas?

Ele não conseguiu segurar o riso. Não pude culpá-lo.

– É sério. Já providenciei tudo para ontem. O pessoal que vai


instalar as divisórias, segmentar os departamentos. Trazer toda a
infraestrutura para montar um escritório do caralho...

Peguei o celular e apertei uns botões na tela. Ouviu-se o som de um


e-mail sendo enviado.

– Pronto, acabei de te mandar as maquetes, o projeto do andar e


todos os detalhes. Clique no link e você pode até fazer um tour
virtual.

Robert Valentine sempre fora um visionário e eu o trouxera para


esse espaço inacabado porque sabia que podia contar com sua
mente criativa.

Julgando pela sua expressão, eu soube que fizera a coisa certa.


Seus olhos escanearam o perímetro, onde ele visualizou os
escritórios e salas de conferência que se formariam. Ele visualizou a
agitação futura que por fim se tornaria o coração dessa nova filial da
minha empresa.

– O departamento de pesquisa é bem ali – apontei – vendas e apoio


ao cliente naquele canto. Contratei Jennifer Akin como a nova
gerente de mídias sociais.

Robert arregalou os olhos.

– A Jennifer Akin?

– Claro.

– Uau.
A admiração em seus olhos era verdadeira, o que foi bom de
constatar.

Principalmente desde que prometera a Jennifer a lua, Júpiter, as


luas de Júpiter e várias outras partes do sistema solar para
convencê-la a trabalhar para mim.

– Para a equipe de design, estou trazendo quatro pessoas de Nova


York mais três locais. Alguns vão se dividir entre os dois escritórios,
é claro. Ah, e claro, tem o Anthony McKenzie...

Robert ainda mirava o espaço vazio do escritório, absorvendo a


minha visão. Mas com a menção do último nome, ele girou na minha
direção tão rápido que achei que sua cabeça ia rodopiar até cair.

– Está falando com o McKenzie?

– Já falei, não estou falando – eu disse a ele – e sim, ele está


dentro.

Meu convidado cruzou os braços e balançou a cabeça.

– Mas ele está com a Skyline!

– Estava com a Skyline – corrigi eu. – Eu o contratei dois dias atrás.

Na verdade, ele chega amanhã.

– Mas...

– Na verdade, eu também roubei mais três funcionários da Skyline.

Todos muito bons – adicionei com orgulho. – O crème de la crème,


na verdade.

– Eles não estão sujeitos a uma cláusula de não concorrência?–

teorizou ele.
Eu balancei a cabeça.

– James é burro demais para fazê-los assinar uma.

– Caralho.

– Pois é.

Pela primeira vez em uma eternidade, vi um brilho do velho, sabido


desenvolvedor de software. O que eu conhecera numa cafeteria
grunge de Nova York uma década atrás.

– Quem você roubou?– ele deu um sorriso diabólico.

– Você vai saber quem, Robert. Pode acreditar.

Ele olhou para a sala vazia de novo, talvez enxergando o mesmo


que eu. Um escritório em Phoenix era a localização perfeita,
também. Eu tinha o Meio-Oeste, boa parte do Sul, e do aeroporto
Sky Harbor era um pulo até Los Angeles ou San Francisco. Junto ao
que eu já estabelecera em Nova York, ele abria mil portas novas
para mil coisas novas.

Caramba, eu devia era ter feito isso antes.

– Você é maligna – suspirou Robert finalmente. – Você sabe disso,


não?

– Sou mesmo?– eu ri – Porque pelo meu ponto de vista, se John


James pode roubar meu cliente número um, eu com certeza posso
passar a mão nos melhores funcionários dele. O que, claro, o deixa
com nada mais que um bando de recém-formados sem imaginação
nem experiência.

Eu vi seus ombros caírem. Não com tristeza, mas resignação.

– Os com ideias de publicidade bem ruins – continuei.


Caminhamos por toda a extensão da passarela do segundo andar,
passando pelas escadas curvas de estilo contemporâneo de cada
lado do andar principal. Ao voltarmos para o elevador, eu já sabia
que meu velho aliado já estava dentro.

– O que você precisa que eu faça?

– Você já sabe.

– Falar com os chefões?– ele suspirou – Dizer a eles o erro que


cometemos?

– A essa hora as primeiras campanhas devem estar começando –

encolhi os ombros. – Não precisa nem falar para eles como a


Skyline é ruim. É só mostrar.

– Isso não vai ser tão difícil, na verdade – reconheceu ele.

Dei um tapinha no ombro dele.

– E quando acabar, mostre aqui para eles. Diga a eles que podemos
restabelecer nossa relação, mas vamos precisar de um
compromisso um pouco mais sólido desta vez.

Ele limpou a garganta.

– Um contrato novo, menos escapável, suponho?

Peguei o celular de novo, apertei outros botões e ergui o polegar


sobre o botão "enviar".

– Acredite se quiser, também já preparei isso – sorri com ironia.

Capítulo 51
GAGE
A primeira parte da missão se desenrolou em silêncio, sem troca de
palavras e com a máxima precisão. A noite caíra. Nossos alvos
levantaram acampamento. Esperamos o suficiente até todos exceto
os guardas do perímetro estarem dormindo, então avançamos como
a lenta sombra da morte que realmente éramos.

Levamos três horas inteiras para avançar apenas cem metros,


rastejando sobre a barriga, movendo-nos apenas quando os
guardas viravam o rosto ou desviavam a atenção. Durante essas
três longas horas eu me senti num jogo zoado de vida ou morte de
“batatinha frita, 1, 2, 3”.

Mas a segunda parte da missão só levou três minutos.

Sob nossas ordens, Evans neutralizou os guardas de sua posição


no pico a sudoeste. Seu TAC-50 não fez som algum; apenas o
breve zumbido de uma bala supersônica cortando o silêncio da noite
seguido pelo ruído dos corpos caindo.

Daí invadimos o acampamento de todas as direções, as linhas letais


de nossas miras laser varriam a área passando de alvo em alvo.
Essas linhas só eram visíveis para nós, iluminadas apenas pelos
nossos óculos de visão noturna. Nossos óculos acendiam o
acampamento como se estivesse de dia, enquanto o exército
grogue de Bashir acordava apenas para sombras, escuridão e, por
fim, o nada.

Já decifráramos a hierarquia do campo muito antes de entrarmos, e


nessa questão a sorte esteve ao nosso lado. Os tenentes mais
próximos de Bashir e seus homens mais antigos constituíam o
círculo interno do
acampamento, enquanto os recrutas mais jovens e mais recentes
ficavam na periferia do círculo. Portanto, começamos pelo meio,
eliminando o elemento mais perigoso do exército antes de afugentar
os soldados mais novos e inexperientes para o mato. Nosso objetivo
ali era poupar vidas sempre que possível.

Devyn, Maverick, Travers e Langston assumiram um quadrante


cada um. Sua tarefa era eliminar quaisquer ameaças em potencial
de forma tão feroz e barulhenta que a maioria dos soldados jovens e
desarmados fugisse, confusos e gritando, para o coração da noite.
O plano funcionou perfeitamente, com apenas umas poucas
exceções. Três ou quatro jovens tiveram suficiente presença de
espírito para pegar em armas contra nós, mas foram imediatamente
neutralizados com uma coronhada ou, num caso, atacados e
amarrados por um Hyde super ansioso.

Tudo aconteceu tão rápido que quase nem percebemos os dois


homens que emergiram de uma das maiores barracas, disparando
fuzis AK-47 ao recuarem. Ouvi Parker gritar de dor, seguido pelo
clamor de outra bala .50

que atingira um dos homens no torso. Em uma fração de segundo o


braço que segurava sua arma se desintegrou, transformando-o num
chafariz de sangue rodopiante.

– BASHIR!

Eu estava correndo em direção a Parker quando a voz de Christian


desviou minha atenção para a direção oposta. Lá, com os contornos
perfeitamente desenhados pelos óculos de visão noturna
panorâmicos, nosso inconfundível alvo comprido e magro corria
direto para a parte mais densa da vegetação.

– Eu pego ele!

Pulei sobre dois homens já rendidos e meti o pé. Bashir era


surpreendentemente rápido, provavelmente devido a suas pernas
compridas.
Ele também não estava carregando quase trinta quilos de proteção,
armas e equipamento.

À distância, ouvi Evans no rádio dizendo que não podia mais atirar.

Meu alvo ganhava terreno. Ele já estava quase na linha das árvores.

Eu não queria atirar, mas talvez precisaria. Nossas ordens eram


capturá-lo e não matá-lo a menos que necessário. Mas era
necessário?

Bashir era o alvo de maior valor no continente no momento. Se ele


conseguisse escapar...

Bosta.

Eu odiava fazer essas escolhas. Normalmente eu as deixava para


Devyn ou Maverick ou...

Tropecei. Foi tão rápido que minhas pernas não notaram até meu
queixo bater no chão duro e no pó. Foi uma queda feia, também.
Uma que eu realmente devia ter sentido, não fosse a adrenalina.
Xingando e resmungando, rolei, levantei e sacudi a poeira. Mas
meus olhos...

Meus olhos não captaram nada além da escuridão.

Erguendo a mão para o capacete, percebi que perdera os óculos.


Ou perderam-se com a queda ou foram empurrados tão para trás
que eu não os alcançava mais. Mas não havia tempo para buscá-
los. Bashir já desaparecera na mata.

– GAGE!

Os gritos atrás de mim soaram mais como aviso do que incentivo.


Ou a ordem fora de parar no limite da clareira ou minha perseguição
se desviara completamente.
Que bom que meu rádio também caíra, porque de jeito nenhum que
eu ia obedecer.

Entrei no mato com um braço na frente do rosto para me proteger


de galhos e Deus sabe mais do quê. Aí eu senti – uma bota batendo
com força atrás do meu joelho. Minha perna voou e caí de lado,
girando o rifle ao tombar...

Então algo bateu no rifle, e também o perdi.

– Vai se foder!

Cuspi as palavras com tanto veneno, tanto ódio, que eu mesmo me


assustei. Olhei para cima e encontrei Asad Bashir diante de mim,
levantando uma pistola maligna para o meu rosto. Sua boca
contraída num rosando horrendo. Seus olhos selvagens e com sede
de sangue.

Ergui uma mão para proteger o rosto enquanto agarrava o braço


com a outra. Abruptamente, dois tiros ecoaram. Pensei que estava
morto com certeza, até que...

– ARRGHH!

O peso da pistola bateu com tudo contra meu capacete. Gritando de


dor, meu agressor se dobrou e caiu sobre mim agarrando o
estômago.

– Chefe!

Quando meu salvador chegou, eu já estava em cima de Bashir


puxando seus braços com violência para trás. Virei a cabeça para a
esquerda e vi Vaughan se aproximando.

– Tudo bem?

Notei uma leve fumaça saindo do cano de seu rifle. Ainda lutando
com a histeria de batalha que vinha com a overdose de adrenalina
habitual, acenei com a cabeça.
– Acho que o atingi – ofegou Vaughan.

Segurando seus pulsos, virei nosso alvo. O sangue já encharcava


sua camisa, logo abaixo do umbigo.

– Ele foi atingido – confirmei – duas vezes.

A expressão de Vaughan mudou de repente. Ele pareceu


legitimamente preocupado.

– Isso é bom ou ruim?

– Ruim para ele – dei de ombros, vendo o rosto de Bashir se


contorcer de dor. – Bom para a Somália.

Eu me levantei, recuperei o rifle e consertei os óculos. Então dei um


soco no peito de Vaughan e o abracei, as duas coisas no mesmo
intervalo de dois segundos.

– Parker?– perguntei rápido.

– Ele está bem – Vaughan me garantiu. – Levou um tiro na canela


esquerda. Parece que está doendo para caralho, mas a bala entrou
e saiu.

Dei uma risada aliviada.

– É a terceira vez que ele leva um tiro na mesma perna. Talvez


devêssemos colocar as medalhas de coração púrpura direto no
joelho dele.

Vaughan riu também até que outro ruído atraiu nossa atenção. Aos
nossos pés, os gemidos de Bashir estavam ficando mais altos.

Levei um momento para decidir – um longo momento, para falar a


verdade – antes de finalmente balançar a cabeça.

– Chama o Langston – cuspi, limpando a boca. – Por mais


agradável que fosse ver esse merda sangrar até a morte, prefiro vê-
lo apodrecer numa cela dois por dois pelo resto da vida infeliz dele.

Capítulo 52
JULIANA
Estava saindo do melhor banho da minha vida quando ouvi o ruído:
uma batida amortecida lá fora, seguida por uma segunda. Elas não
me deram um mau pressentimento, na verdade. Mas também não
soaram naturais.

E a essa distância da civilização, qualquer coisa não natural era


preocupante para dizer o mínimo.

Enrolando a toalha em meu corpo molhada, cruzei até o quarto de


Maverick. Colocando a mão entre os dois colchões, peguei a
pesada pistola negra que encontrara na primeira vez que trocara os
lençóis.

Eu já sabia que a arma era uma HK45C, com punho fino e mira
laser carmesim montada na parte inferior. Eu aprendera essas
coisas ao longo das várias aulas no clube de tiro Caswell que fizera
só porque me sentia mais segura sabendo atirar com a arma em vez
de só usá-la de porrete.

Pistola na mão, desci as escadas em silêncio para ver pelas janelas


do térreo. Um par de faróis se afastou, brilharam vermelhos por um
momento, e então passaram pelos portões antes de se voltarem
para a estrada.

Então a porta se abriu e duas grandes figuras entraram. Ergui a


arma.

Me agachando na escada, contraí os braços para ser um alvo


menor...

– Meu DEUS!
Um segundo depois deixei a arma cair e me joguei dos últimos
degraus nos braços abertos de Gage e Devyn.

– Como assim!?

Eles estavam morrendo felicidade de me ver, mas ainda mais


chocados que eu! Eles me beijaram e me abraçaram apertado, me
puxando tantas vezes dos braços um do outro que a toalha caiu.

– Você está... molhada! – Devyn riu, dando um passo para trás.

– E pelada!– notou Gage.

Eu me esquecera dessas coisas desimportantes inteiramente até


ver seus olhos baixarem para o meu barrigão. Então começaram a
me manusear mais devagar e com mais cuidado, tocando minha
barriga como se ela fosse a superfície de um forno quente.

– Eu não vou quebrar, sabe – ri.

Mesmo assim eles tomaram o maior cuidado, pasmos com o tanto


que a barriga crescera enquanto estiveram fora. Finalmente
começamos a nos beijar de novo, dessa vez com alguns beliscões e
agarrões no meu corpo nu que eles não conseguiram deixar de dar.

– Vocês estão de volta mesmo?– perguntei, preocupada com a


resposta.

– Mais do que você imagina – disse Gage.

Voltei os olhos para a porta, que eles fecharam às suas costas. Meu
queixo caiu abruptamente, meus olhos se arregalaram.

– M-Maverick???

– Ele está bem – tranquilizou-me Devyn rapidamente. – Ele está em


San Diego, chega amanhã. Ainda está dando o relatório.
Senti uma onda gigante de alívio reconfortante e abençoado. Eu os
abracei de novo, virando-me para olhar para cada um deles.

– E vocês estão bem?– perguntei, tocando com cuidado o rosto de


Gage. Parecia que tinha um arranhão feio de queda bem embaixo
do queixo

– Vocês estão bem?

– Melhor do que nunca – declarou Devyn. – Principalmente agora


que você está aqui.

– Falando disso – Gage sorriu feliz – o que você está fazendo aqui?

– Muitas coisas – disse com orgulho. – Muitas coisas muito, muito


legais.

A casa estava à meia luz e aconchegante – principalmente com a


lareira acesa, como eu deixava toda noite. Parecia quase que eu
estava esperando por eles. Preparando a casa para recebê-los.

– Ummm... mais uma coisa – disse Devyn.

Eu lhe dei um beijo na bochecha, feliz.

– Manda.

– Era uma arma que você estava apontando para a gente?

Encolhi os ombros, tentando parecer inocente.

– Que resposta você quer?

– A correta.

– OK, então sim – eu me encolhi.

Corando um pouco, expliquei tudo. Desde quando eu aparecera


tentando fazer uma surpresa algumas semanas atrás, até ficar mais
um pouquinho, até ficar na casa direto, até o presente. Contei que
encontrara a arma de Maverick e aprendi a usá-la. Até expliquei
como comprei uma cafeteira nova e molhei as plantas.

Mas não disse uma palavra sobre Phoenix.

– Então entramos no que deveria ter sido uma casa fria e solitária –

disse Devyn – e em vez disso você está aqui. O aquecimento está


ligado. A lareira está acesa. E você está nua. Nua e molhada.

– Nua e molhada e armada – adicionou Gage. – O que nem preciso


dizer que é ainda mais sexy.

Minha nudez não tinha nem me ocorrido, estava tão feliz de vê-los
de novo. Eu ficava tão naturalmente à vontade com eles que a
toalha ter caído foi de segunda importância.

– Precisamos conversar – disse eu, pegando a toalha do chão. Eu a


enrolei no cabelo ainda molhado e prendi. – Mas não até todos os
três estarem aqui.

Meu sorriso lhes disse que seria uma conversa boa, não ruim. Isso
os animou. Fez com que suas mãos voltassem a passear, dessa vez
por outras partes do meu corpo além da minha barriga de grávida.

– Maverick chega amanhã – disse Gage –, nós íamos buscá-lo em


Phoenix.

– Phoenix! – meus olhos brilharam – Perfeito.

Uma mão forte apertou minha bunda, e outra cobriu meus seios por
trás. Devyn baixou a boca molhada até meu ombro descoberto. Ele
me beijou e me apertou, fazendo eu sentir choques elétricos por
todo o corpo.

– Então o que a gente faz até lá?– ele murmurou na minha orelha.
Esticando os braços para baixo e para trás, fechei as mãos excitada
sobre um par de virilhas bem conhecidas.

– A gente pensa em alguma coisa.

Capítulo 53
JULIANA
O portão de chegada do aeroporto Sky Harbor fervilhava de vida
enquanto esperávamos a chegada de Maverick. Para fazer
surpresa, Devyn e Gage ficaram bem próximos lado a lado comigo
às suas costas. Assim fiquei totalmente eclipsada pelos dois SEALs
altos na minha frente, pelo menos até o último momento.

Eu devia estar doendo depois da noite passada. Eu deveria ter


recebido os dois homens com longas horas de amor vigoroso e
apaixonado que também deixasse eles doendo.

Em vez disso, eu os levei pela mão até a cama, onde os tomei um


de cada vez. Beijei Gage com paixão enquanto abria as pernas para
Devyn, apertando sua bunda e guiando-o sem pressa e com muita
intenção até um orgasmo monstro. Então empurrei Gage para trás e
montei nele com cuidado, dessa vez beijando Devyn enquanto
cavalgava sobre a vara grossa e linda de seu amigo até eu mesma
atingir o clímax.

Já era tarde quando ele se convulsionou e drenou-se dentro de


mim.

Satisfeitos e aéreos, nós três adormecemos com os dois homens


me abraçando de lado entre seus corpos nus e quentes.

Que sorte a minha.

Adiante começava o desembarque do último voo. Devyn e Gage


ficaram mais juntos por alguns momentos, então se separaram de
repente para me revelar.

Nem consegui gritar a palavra “surpresa”. Estava ocupada demais


correndo para os braços de Maverick e absorvendo a expressão de
pura

alegria que cruzou seu rosto no momento que ele percebeu que eu
realmente estava lá.

Nós nos abraçamos e nos beijamos e compartilhamos o momento,


que veio com mil perguntas. Mas essas perguntas teriam que
esperar até mais tarde.

– OK, agora venham comigo.

Eu os levei para fora, onde finalmente colocamos as malas na


caminhonete de Gage e saímos. Eu fui indicando o caminho. Quinze
minutos depois estávamos diante do prédio, e eles, ainda perplexos.
E cinco minutos depois...

– Voilà.

As portas do elevador se abriram, como se abriram para Robert


Valentine dias atrás. Muita coisa mudara desde então. E graças à
equipe, elas ainda estavam mudando, mesmo naquele momento,
diante de nós.

– Você não... – Devyn xingou após um breve momento de confusão.

– Sim.

A expressão de Devyn passou de choque para pura alegria. Seu


sorriso disse tudo.

– Sério?

Nós nos abraçamos ao mesmo tempo, apertando forte. Seu sorriso


era contagioso.

– Sério – disse eu, ofegante. – Sim!

Saí correndo na frente, emocionada de mostrar tudo para eles,


praticamente arrastando-os pelo caminho. Pelos próximos vários
minutos eu falei sem falar, contando tudo que eu planejara fazer,
mostrando cada corredor, cada sala, cada cantinho desse vasto,
lindo escritório que logo se tornaria uma filial da empresa que eu
com tanto orgulho construíra desde uma origem tão humilde.

Finalmente eu cheguei ao que logo seria a minha sala – uma


unidade ampla de canto cujo único vidro consistia em duas janelas
convergentes que davam para a correria da cidade. Após todas
essas semanas, Phoenix não me parecia mais tão estranha. Na
verdade, eu estava começando a me sentir bem em casa.

– Fechem a porta – acenei com a cabeça quando todos entraram.

Devyn foi o último a cruzar a soleira. Ele fechou a pesada porta de


carvalho às suas costas, separando-nos do barulho de martelos
batendo em pregos e serras do lado de fora.

– Na última vez que estivemos juntos eu fui burra e parti – disse eu.

Eu os afastei porque estava sempre preocupada demais em fazer


tudo sozinha. E isso é porque eu conseguia fazer tudo sozinha.

Lentamente eu me aproximei deles, chegando no “meu lugar” entre


seus corpos fortes. Eles se aproximaram, indo para suas posições
sem dizer palavra.

– Mas então eu percebi uma coisa – continuei. – Eu não quero fazer


tudo sozinha. Principalmente levando em conta que não estarei
sozinha por mais muito tempo.

Com isso passei a mão com carinho pela barriga. O bebezinho


dentro de mim se mexeu um pouco, como se tivesse seguido a
deixa.

– Eu amo vocês – disse com simplicidade. – Todos vocês. Cada um


de vocês. Primeiro eu tentei me convencer que não era possível.
Que eu estava me enganando pensando que vocês também me
amavam...

Olhei para baixo por um momento, buscando as palavras. Uma mão


cuidadosa tocou meu rosto, trazendo meu olhar de volta para eles.

– Você está se enganando pensando que não – disse Maverick


docemente.

Os outros concordaram. Havia adoração em seus olhos. Posso dizer


que naquele momento eu finalmente soube. Mas para ser
totalmente sincera, eu já sabia há muito tempo.

– Quando eu finalmente me dei conta, eu me assustei – eu disse a


eles.

– Esse filho era para ser só meu. Não porque eu quisesse que fosse
assim, mas porque comigo era assim. Sempre foi assim.

Gage me olhou com esperança e ergueu uma sobrancelha.

– Mas...?

– Mas agora estou cansada de resistir – suspirei. – Não consigo


viver sem vocês! Eu voltei para Nova York e fiquei tão infeliz que
soube que nem a alegria de criar um filho mudaria isso.

Engoli e quase me engasguei tentando segurar o choro. Mas de


alguma forma, eu consegui.

– Eu quero todos vocês – disse eu. – Quero ser sua. Sua


namorada...

A palavra saiu dos meus lábios com uma onda de incrível felicidade
que me aqueceu por dentro. Foi tão bom dizer isso. Tão natural. Tão
perfeito.

– Quero criar esse filho com três pais maravilhosos, em vez de


nenhum. E quero criar uma relação com todos vocês, com cada um
de vocês. Seja como for que isso se chame, eu quero isso tanto
quanto vocês.

Dois braços me envolveram, depois mais dois. E então fui abraçada.

Beijada. Erguida do chão por braços tão grandes e fortes que não
consegui segurar o riso, e quando as lágrimas começaram a rolar,
não consegui mais segurá-las.

– Quero vir morar aqui, é óbvio – solucei, secando os olhos. – Quero


trabalhar aqui. Construir aqui. Quero viver e amar e rir com vocês e,
principalmente, com nosso filho.

Tudo ficou borrado. Eram lágrimas demais de felicidade.

– Claro, vou arranjar uma casa aqui. Um lugar com espaço para
todo mundo, então quando vocês estiverem na cidade...

– Sem chance.

Devyn cruzou os braços e balançou a cabeça.

– O quê?

– Você vai morar com a gente – Gage explicou por ele. Ele olhou
para a minha barriga. – Os dois. Vocês são nossos agora. Somos
uma família...

– Mas...

– Nossa casa finalmente será um lar – adicionou Maverick – não só


um lugar no meio do deserto onde a gente fica esperando pelo
desconhecido. Ela finalmente terá calor. Amor. Estrutura.

– Não posso pedir isso a vocês – cortei rapidamente. – Vocês são


SEALs. Têm um contrato, e eu conheço os termos. Nada de esposa.
Ou de filhos. Vida nenhuma além da missão enquanto...
– Nós cancelamos o contrato – Gage interrompeu com frieza. – Ele
já não é mais válido desde ontem.

Parei de chofre. A ficha custou longos segundos para cair.

– É isso mesmo – disse Devyn. – A última missão foi realmente a


última. Tomamos essa decisão na Somália, antes mesmo de voltar.
Chega a hora em que é preciso parar de rolar os dados, Ju. Ou em
algum momento, você perde.

Eu o vi mexendo sem prestar atenção no colar com a plaqueta de


identificação. Talvez pensando em como as coisas poderiam ter sido
diferentes, mas não foram.

– Ainda há termos a serem discutidos e trabalhos que podemos


fazer –

adicionou Devyn –, mas nenhum que envolva viajar. Nenhum que


envolva nos levar para longe daqui... Ou, mais importante, de você.

Por um momento só consegui ficar parada, tentando absorver tudo


que eles estavam dizendo. Finalmente, balancei a cabeça. Tudo
parecia irreal.

– Mas esse trabalho é a vida de vocês – insisti. – É o que vocês


fazem.

– Não – Maverick me corrigiu com amor. – É o que nós fazíamos.


Por dez longos anos, bem mais do que a maioria.

O silêncio caiu. Eu precisava ter certeza.

– Vocês vão desistir de uma hora para a outra?– eu ainda estava


incrédula – Vocês realmente fariam isso por mim?

– Faríamos por todos nós – respondeu Devyn. Seus olhos desceram


para a minha barriga. – E por ele.

– Ou ela – disse eu com voz embargada.


O rosto bonito pelo qual eu me apaixonara através de uma tela de
computador me devolveu o sorriso.

– Ou ela.

Gage também estava sorrindo e me olhava com seus dois olhos


brilhantes.

– Você é a nossa vida agora – disse ele. – Você e o bebê que


vamos criar juntos.

As palavras me deram vontade de chorar de novo. Eu não


conseguia acreditar neles. Ou talvez eu não quisesse acreditar
neles.

Mas lá no fundo do coração, eu sabia que era verdade.

– Tem certeza que está preparada para ser nossa mulher?– Devyn
finalmente brincou – Porque o papel vem com certas...
responsabilidades.

Funguei de novo, limpei as lágrimas e deixei escapar uma risada.

– Posso testar por um período?

Ele encolheu os ombros.

– Pode ser.

– Parece bem a minha praia.

O calor de seus corpos estava me dando mais tesão do que nunca.


Eles tinham se aproximado alguns centímetros, vindos de todos os
lados. A ideia de possuir os três de novo era muito excitante. Eu
estava fantasiando com isso há semanas, e agora finalmente ia
acontecer.

– Querem me levar para casa?– murmurei com um sorriso safado –


Experimentar essa ideia de namorada compartilhada?

– Ver o quanto você dá conta?– perguntou Devyn.

– Ou ver o quanto vocês dão conta – respondi com uma piscadela. –

Um... por um... por um.

– Caramba – Gage mudou o peso de um pé para o outro. – Você é


insaciável mesmo.

Olhei para a minha tatuagem de “invencível” no braço.

– Acho que vou fazer outra no outro braço também – disse eu,
provocando.

Capítulo 54
JULIANA
As ruas de Nova York pareceram vagamente estranhas quando eu
voltei, mas claro que era eu quem mudara. Eu ficara longe por
tempo demais. Pior ainda, eu estava traindo Manhattan com uma
cidade totalmente diferente, e pela forma estranha que as ruas me
olhavam, era quase como se elas soubessem, de alguma forma.

– Chefe!

Aric não me via há tanto tempo que entrou correndo na minha sala
com o que prometia ser um abraço de urso de quebrar as costelas.
Mas quando eu me virei de lado, ele viu meu perfil e congelou.

– Meu Deus...

Seu queixo caíra. Ele limpou os óculos.

– Você está imensa!

– Prefiro o termo “com muita quilometragem” – sorri divertida, sem


me importar realmente do que meu assistente me chamava –, mas
sim. Já está quase na hora.

Minha barriguinha de grávida já estava uma melancia, e logo ia ficar


maior ainda. Por isso eu não tinha tempo a perder.

– Aric, o que você acha dessa sala? Você gosta dela?

Pela expressão dele, essa era a última coisa que ele esperava que
eu perguntasse.

– Claro, chefe – respondeu ele, olhando para as quatro paredes de


vidro. – Tem uma vista ótima.
– Ótimo. É sua, então.

A expressão dele era de leve divertimento.

– Minha?

– Estou dando ela a você.

Uma ruga se formou na testa de Aric, logo abaixo do corte de cabelo


Clark Kent. Só faltava um pega-rapaz para ficar perfeito.

– E aonde você vai traba...

– Não vou – interrompi. – Eu vou embora.

A ruga se transformou em várias linhas de raiva.

– Embora?

– Sim, estou vazando – confirmei. – Não vou voltar. E Aric... Vou


deixar tudo com você.

Ele pareceu chocado. Assustado. Puto.

– Está saindo fora!? – ele praticamente gritou – Jogando a toalha?

– Não, eu...

– Se vendendo para a Skyline?– perguntou ele com raiva – Por


favor, não diz que vai deixar aqueles babacas ganharem! Depois de
tudo que a gente passou, depois de tudo que você disse...

– Aric, não é isso – garanti a ele. – A Shameless Marketing não vai


a lugar algum. Na verdade, vamos ser mais fortes do que nunca.

Principalmente com nossa nova filial sudoeste.

Minhas últimas palavras foram recebidas por um longo período de


silêncio embasbacado. Ele não entendera.
– Você vai assumir Nova York – disse eu– e eu vou abrir uma filial
nova em Phoenix. Vamos ter mais alcance, mais cobertura. Mais
contatos.

Mais tudo.

Sua expressão ainda não mudara. Parecia que ele fora atingido por
um raio, mas ainda não tinha notado.

– Mas mais do que isso, vou te transformar em sócio. 50%-50%.

Paridade de voto em tudo. Vamos mexer com os detalhes, o


dinheiro e o juridiquês depois, mas essa sala é sua agora. Você
pode moldá-la e transformá-la em algo só seu.

Meu assistente não estava só chocado, estava emocionado. E para


completar, já estava chorando a esse ponto.

– P-Por que você fez isso por mim?

– Porque eu te amo, Aric – eu disse. – Você é o terceiro irmão que


eu nunca tive, e o único do qual eu realmente sou próxima. Eu não
conseguia entender esse tipo de conexão antes, mas agora sim.
Mais do que nunca.

Meu assistente engoliu em seco, deu um passo para trás e se


apoiou na mesa para não cair.

– E também sei que gente igual a você só aparece uma vez na vida.

Aí sim ele me deu um abraço de urso, tomando cuidado para não


esmagar minha barriga de grávida. Seus braços me apertavam sem
parar enquanto eu sentia as lágrimas quentes rolando dos dois
lados de seu rosto.

Quando consegui respirar de novo, soltei uma risada.

– Calma aí, grandão.


Dei uns tapinhas em suas costas até ele finalmente me soltar. Então
nos sentamos e eu lhe contei o resumo de tudo. Combinamos de
almoçar para eu entrar nos detalhes da nova filial e do que
acontecera entre Robert Valentine e eu. Quando ele finalmente se
dirigiu à porta, eu limpei a garganta.

– Ah, e Aric?

– Sim?

Girei um dedo no ar.

– Talvez seja melhor se livrar desse vidro todo.

Os olhos do meu assistente se arregalaram com animação


verdadeira.

– Sério?

– Ah, sim – sorri – É igual morar num aquário.

Capítulo 55
JULIANA
Dias. Semanas. Meses.

O tempo voa ou se arrasta, dependendo do que estávamos fazendo


ou onde estávamos. Por alguma razão, nunca era um meio-termo.

Eu me mudara direto para a casa deles, e juntos transformamos a


linda casa no deserto em um lar de verdade. Era incrível estar com
os três ao mesmo tempo. Devyn, Maverick, e Gage eram atenciosos
e gracinha, tanto comigo quanto com nosso filho na barriga. A
medida que a barriga crescia, eles me acompanhavam em cada
consulta médica, cada ultrassom. Eles também faziam das tripas
coração para atender a todas as minhas necessidades, mesmo
quando eu não queria, ao ponto de eu ter de espantá-los do
caminho só para poder ir ao escritório trabalhar.

E tinha muito trabalho a ser feito.

A Shameless West abriu sem estardalhaço e já começou a pegar no


pesado, criando uma base de clientes própria sem sugar muitos
recursos do escritório de Nova York. Aric, claro, foi um salva-vidas.
Ele tomou conta de tudo na costa leste como eu sabia que iria, e
também assumiu várias tarefas remotamente que ajudaram nosso
lançamento a correr tão bem quanto o Papa-Léguas.

Tentei não transferir muita gente de lá, mas no começo eu precisei


delas. E elas vieram, uma por uma, algumas por semanas ou
meses, outras permanentemente. Aric me encheu o saco por causa
disso e me xingar de mentira, mas eu sabia que pelo menos em
alguns casos ele mesmo estava impelindo as pessoas a virem
ajudar, até oferecendo mais dinheiro e um
bom pedaço de seu próprio bônus. Agradeci a ajuda sem admitir,
fingindo que achava que ele estava segurando as pessoas. Era
parte do nosso jogo. A gente dava certo assim, e sempre daria.

Finalmente tive que contar da gravidez para meus pais e irmãos,


que ficaram chocados, deliciados, perplexos e zangados, nessa
ordem. Após passar por toda essa gama de emoções, ficaram
felizes por mim no final.

Mesmo que não conseguissem entender por que eu usara um


banco de esperma para ficar grávida no meio da abertura de uma
nova filial da empresa e de uma mudança para o outro lado do país.

Mas considerando que eles já me achavam uma workaholic maluca,


talvez não tenha sido tão surpreendente.

A real bagunça foi quando eu trouxe minha mãe e Mariah para me


visitar e dei um tour completo da casa que eu estava “dividindo” com
três colegas de quarto incrivelmente bonitos e sarados que por
acaso eram das forças armadas. Minha irmã foi embora babando
nos ombros e peitorais inacreditavelmente largos, mas minha mãe –
sempre a esperta – me lançou um olhar bem insinuante antes de
partir. O tipo de olhar que dizia: Eu sei que você está com um deles.

Pelo menos por enquanto, ela podia ficar achando isso.

Devyn e Maverick estavam surpreendentemente ocupados, e até


Gage, embora um pouco menos. Embora não mais disponíveis para
missões de combate no programa SEAL, eles tinham um vasto
conhecimento ainda incrivelmente valioso. Eles aceitavam qualquer
tipo de missões de treinamento em que tinham de ir a Great Lakes,
em Illinois, na academia BUD/S, e a San Diego, para prática de
combate terrestre. Quando não estavam em Norfolk, estavam em
Jacksonville, ou Corpus Christie, ou até em Pearl Harbor-Hickam.

Quando não estavam em nenhum desses lugares, ficavam em casa


comigo.
A melhor parte de ser o centro da atenção de três homens lindos era
que sempre tinha alguém me esperando quando eu chegava em
casa.

Sempre tinha um, dois, às vezes até os três passando seus braços
fortes por mim no fim de cada dia. Sempre tinha movimento,
animação, histórias para contar. E assim como eles entravam e
saíam da casa... também entravam e saíam do meu quarto.

Essa era a melhor, mais intensa parte de estarmos juntos. Eles me


compartilhavam das formas mais abrasadoras, emocional e
fisicamente, me deixando usada e saciada, mas sempre querendo
mais. Eu amava possuí-los juntos, deixando-os me possuir e me
foder e fazer sanduíche de mim. Eu também descobri que a
gravidez foi o período de maior tesão da minha vida. Ou talvez fosse
o fato de estar transando com três caras de uma vez, passando de
um para o outro como me desse na telha. Sendo inclinada para a
frente, ou empurrada para trás ou devorada sem dó até gozar
gritando...

enquanto os outros assistiam, esperando a sua vez.

Minha barriga de grávida também parecia excitá-los, e quanto mais


ela crescia, mais eles ficavam loucos para me agarrar e me usar.
Mas era uma graça como eram cuidadosos. A medida que os meses
passaram, eu comecei a sentir falta da violência, da velocidade, do
frenesi desesperado.

Mas eles sabiam que as coisas voltariam a ser como antes depois
do parto.

Até sussurravam sobre isso no meu ouvido, ao me passarem de um


para o outro.

Depois do parto, tudo voltaria a ser como antes.

Foi na penúltima semana da gravidez que a Legendary Gaming


finalmente voltou rastejando. Robert Valentine até veio de avião
para dar as boas notícias em pessoa. Eu lhe mostrei o escritório
completo e me sentei com ele para repassar os novos projetos e
dividi-los entre Aric e eu com base em que escritório melhor
atenderia às suas necessidades. Quando ele voltou para casa, nós
já tínhamos praticamente quadruplicado a receita. Ele também me
dera a mantinha de bebê de zumbi mais macia e incrível do planeta
de presente. Putz, talvez a única mantinha de bebê de zumbi do
planeta.

Todos os meus três homens ficaram em casa nos dias logo antes do
parto. Nossas vidas eram ocupadas, mas quase perfeitas.

E então nasceu Erin... e nossos corações derreteram.

Ela pesava três quilos e meio de pura felicidade nos braços de três
papais babões e uma mamãe orgulhosa. Ela ultrapassou todas as
expectativas de todos os nossos sonhos combinados. Ela nos levou
tão além de tudo que jamais pensamos que poderíamos amar juntos
que tanto nos sensibilizou quanto nos impressionou. Um belo feito,
considerando quanta experiência já tínhamos nesse departamento.

Levá-la para casa, torná-la o precioso centro do nosso universo, foi


a cereja no topo do maior sundae do mundo. No meio do deserto,
longe da confusão de Nova York, eu finalmente encontrara paz.
Felicidade. Amor vezes três... e agora vezes quatro.

Semanas se passaram, semanas que se transformaram em meses.


A gente trabalhava à beça e se divertia à beça e babava em cima da
nossa princesinha, que dormia no quarto de bebê mais bem
redecorado do mundo.

Essa parte foi até mais legal, porque a fizemos juntos. Assim como
quase tudo mais.

Até que uma noite no deserto a conversa ficou séria e os três Navy
SEALs ficaram de joelhos com precisão militar, exatamente ao
mesmo tempo. Um cintilante anel de diamantes foi colocado no meu
dedo trêmulo, refletindo a luz de milhões de estrelas brilhantes.
Chorei lágrimas de alegria quando eles me beijaram devagar e
ternamente, um por um, prometendo serem meus para sempre.
Eram homens acostumados a juramentos, homens que sabiam o
valor da lealdade e que sempre mantinham a palavra. Homens
devotados não só uns aos outros, mas também à mulher que
amavam e à filha que tiveram com ela.

E a partir daquele momento, nós cinco estávamos para sempre


ligados para além das palavras.

Epilogo
JULIANA
Eu me estiquei ainda mais na frieza dos lençóis de seda, arqueando
as costas e deixando o corpo se alongar para frente como um gato.
Meus pulsos estavam atados com um lenço à minha frente. Pelo
menos parecia um lenço, porque sem meus olhos era impossível
saber.

Cadê eles?

Expectativa, eu aprendera, podia ser insuportável. Principalmente


quando se está amarrada e vendada na própria cama, de cara para
baixo e bunda para cima. Esperando pelo inevitável som de passos
que acabariam com a agonia, porque eu estava literalmente
encharcada com a necessidade de ser total e completamente
comida por trás.

Anda logo!

Resmunguei com impaciência, deixando meu ronronado macio virar


rosnado. Foi aí que o vibrador ovo começou a pulsar dentro de mim,
acionado por um controle a bluetooth na mãozinha quente de um ou
mais deles.

CARALHO...

As vibradinhas eram incríveis, principalmente quando ondas rítmicas


atingiram meu clitóris. Elas começaram devagar, com vários
segundos entre cada pulso...

Eles vão ver só quando soltarem minhas mãos.

Mas lenta, provocantemente, o brinquedo dentro de mim começou a


pulsar cada vez mais rápido.
Dessa vez, a aposta era pela louça. Outras vezes era para tarefas
ainda maiores. Mas o jogo era sempre o mesmo: os três subiam e
faziam o que quisessem comigo, um de cada vez. Primeiro eles me
vendavam. Eles também me vestiam, logo depois disso. Mas se eu
adivinhasse quem era cada um e em que ordem me traçaram...
bom, então eu ganhava.

Mas se eu falasse qualquer coisa errado, eles ganhavam.

Quase não parecia justo, sendo três contra uma. Mas ao longo dos
últimos meses eu ficara bem boa em descobrir quem era quem.
Meus homens eram de espessuras diferentes, tamanhos diferentes.
Eles me agarravam e me tomavam de formas diferentes, também
com técnicas diferentes, embora recentemente tivessem ficado
malandros e me confundido de propósito.

Hoje era mais ou menos um aniversário, um ano desde que viera


morar com eles. Um ano de amor e risadas e sexo ardente. De
freneticamente tentar cuidar de um lindo bebezinho juntos, enquanto
cada um lançava as antigas carreiras em direções diferentes.

Hoje eles tinham se empenhado, fazendo um delicioso jantar de


cinco pratos à luz de velas para mim. Foi romântico. Foi lindo.

Mas tinham muitos pratos.

Esfreguei as pernas e senti minhas meias se agarrarem levemente.

Eles tinham escolhido meias-arrastão, isso era claro. Também me


colocaram cintas-ligas. Não sabia que calcinha eles colocaram em
meu corpo nu e vendado, mas elas não pareciam muito
substanciais. Um fio dental, provavelmente. Talvez até um micro fio
dental, só de tirinhas.

Já na parte de cima, me deixaram de peito de fora. O que, em


retrospectiva, deve ter sido uma manobra do Gage.

Talvez ele seja o primeiro, então.


Sempre era divertido tentar descobrir a ordem. Ainda mais divertido
era ficar jogada lá semidelirante, curtindo a sensação de ser total e
completamente dominada enquanto tentava determinar qual de
meus amantes anônimos estava dentro de mim no momento.
Porque... com toda a sinceridade? Nada – e eu digo nada – é tão
excitante quanto ser possuída às cegas... sem saber quem está te
traçando.

Finalmente, o som de passos no corredor me trouxe de volta à


realidade. Eles eram grandes demais, com passadas pesadas
demais para não fazer barulho. Não importa quantas vezes
tentassem entrar de fininho no quarto, eu sempre sentia quando
estavam ali. E no momento, um deles estava na porta, com certeza.

– Vai ficar aí olhando?– perguntei– Ou vai me comer?

Uma vez dera certo – fazer perguntas. No calor do momento


Maverick respondera sem pensar, e foi a coisa mais engraçada do
mundo.

Mas no momento, meu amante misterioso não disse nada. Só


atravessou o quarto, agarrou minha bunda e começou a apertá-la e
esfregá-la em suas grandes, lindas mãos. Enquanto isso, o ovo
continuava vibrando ritmicamente dentro de mim.

Ohhhhhh…

Ronronei pela garganta, contorcendo-me ainda mais nos lençóis.

Então, de repente, meu fio dental foi puxado para o lado e senti a
maravilhosa e familiar presença de lubrificante que esquenta
pingando sobre meu traseiro exposto.

– Então vai ser uma noite dessas, é? Suspirei suavemente.

Eles já tinham feito tudo de divertido e maravilhoso comigo nessas


sessões vendada. Usaram distrações como cubos de gelo e
palmatórias, até cera de vela – o fio da navalha entre a dor e o
prazer – para me impedir de descobrir quem estava comigo no
momento. Eu sempre gostei das inovações, mesmo enquanto lutava
para determinar em que ordem esses homens insanamente
gostosos gozavam dentro de mim.

E todos gozavam dentro. Porque, sim, eles estavam tentando me


engravidar de novo.

Puta, que gostoso.

Assim que eu disse isso, um dedo começou a me explorar lá trás.

Depois de esfregar a superfície da área por um momento, deixando-


a bem aquecida, ele entrou uns escandalosos cinco centímetros no
meu buraco apertadinho.

Pooorra.

Tive um pequeno espasmo para a frente, e o dedo acompanhou.

Quando eu já estava agarrando forte os lençóis, ele foi ainda mais


fundo,

me dando aqueles arrepios incrivelmente safados que eu sempre


sentia quando um ou mais deles comia o meu cu.

Esperando que ele subisse na cama e substituísse o dedo por algo


bem mais substancial, torci os punhos nos lençóis. Então tive a
conhecida sensação de um plug de vidro sendo empurrado para
dentro do meu cu.

– Mmmf…

Não era um grande, mas dava para sentir que também não era
pequeno. Talvez fosse novo. Com três namorados tarados, eu
acumulara uma bela coleção de sex toys ao longo do ano que
passara como sua mulher compartilhada.
O plug se encaixou bem no lugar, dando aquela sensação
maravilhosa de estar preenchida lá trás. Quem quer que estivesse
atrás de mim deu umas batidinhas nele, mandando choques
elétricos de prazer por todo o meu corpo que reverberavam do
vibrador ovo. Então ele tirou o vibrador, deixando-me atordoada por
um momento, antes de finalmente subir na cama e enterrar a cara
na minha boceta por trás.

POOORRA!

Estava dividida entre virar os olhos vendados e me entregar ou


tentar sentir pela sombra da barba de quem era a boca que estava
me devorando com tanta maestria. Todos os meus três SEALs eram
igualmente maravilhosos de chupada. Mas um deles – Devyn –
tinha uma língua que ia um pouco mais fundo que a dos outros. Mas
não dava para saber. Estava distraída demais pelo calor do
lubrificante, que ainda estava sendo massageado na minha bunda
por duas palmas calejadas e dez dedos vivazes.

– Se for o Gage, aperta uma vez – provoquei–. Ou aperta duas se


for o Maverick.

O homem atrás de mim não se alterou. Ele continuou beijando e


dando mordidinhas nos grandes lábios enquanto passava a língua
para baixo e para cima pela minha quente e molhada entrada.

– Tá, então é o Devyn – brinquei.

Um segundo depois fui puxada para trás e para a beirada da cama.

Duas mãos seguraram meus quadris e fui varada até a alma por um
pau grosso e latejante.

Simmm...

Euforia quente tomou conta do meu cérebro, confuso de sexo. Ser


penetrada tão profundamente, tão completamente – pareceu que
estava coçando uma coceira há muito esquecida. O homem atrás de
mim começou a investir, me fodendo com estocadas longas, fortes e
profundas que me diziam que ele estava tão desesperado para
gozar quanto eu.

– Agora sim – ronronei para os lençóis.

Com as mãos ainda atadas, levantei o quadril novamente. Minha


cabeça estava de lado, meu cabelo caindo sobre o rosto. Minha face
esquerda balançava para a frente e para trás contra os lençóis
enquanto quem quer que estivesse por trás tomava total controle
sobre meus quadris, minha bunda, minha essência encharcada de
lubrificante. Ele continuou e continuou sem parar, levando-me à
beira de um clímax irrefreável e direto até o outro lado.

FINALMENTE!

E então eu gozava, apertando-o dentro de mim. Ordenhando-o com


a vagina até senti-lo ejacular

– Quero ver, Devyn... – ofeguei, sexy– Entorna.

Devyn ou não, quem quer que fosse gozou feito um vulcão, jorrando
magma dentro de mim e apertando meus quadris com as duas
mãos. Outra pista de que era ele, talvez. Outra informação que eu
poderia usar no final, quando me tirassem a venda e os três me
rodeassem sorrindo, me desafiando a adivinhar quem era quem.

PÁ!

Com um gemido gutural, meu primeiro amante saiu de mim e me


deu um tapa na bunda brincalhão ao sair do quarto. Pareceu um
tapa bem Gage, ou talvez fosse do Devyn mesmo. Os tapas do
Maverick sempre eram meio desajeitados, ele nunca acertava o
contato perfeito palma-pele que deixava uma marca de mão
brilhante e vermelha por um minuto ou dois. Mesmo que essas
marcas pinicassem, eu amava vê-las no espelho. Elas faziam eu me
sentir torridamente safada, igual dar o cu.
Fiquei jogada na cama um tempinho, tremendo e vazando, até que
ouvi outra pessoa entrando. Ou talvez até mais de uma.

– Oi Gage – chutei–, é a sua vez agora?

Empinei a bunda de novo e a balancei de um lado para o outro,


obscena. Eu sentia um calor úmido escorrendo pela parte de dentro
da minha coxa. Com as meias, o plug anal e a calcinha puxada para
o lado, deve ter sido uma visão.

– Não?– suspirei ao receber apenas silêncio como resposta – Quer


que eu me vire ou...

Alguém me agarrou e me virou de lado. Meus braços ainda estavam


amarrados acima da cabeça, mas agora uma das minhas pernas
apontava para o teto, segura com firmeza pelo tornozelo.

– Eu queria que você...

Seja lá quem fosse, agarrou minha outra coxa de tesourinha para


abrir minha boceta encharcada de porra. Um segundo depois, senti
como se estivesse sendo deliciosamente partida ao meio quando
ele se enfiou inteiro dentro de mim.

OHHHHHHHHHHH…

A outra mão mexia minha perna para cima e para baixo como um
pistão, no ritmo em que meu novo amante entrava e saía do meu
corpo. A cama balançava para frente e para trás no que ele metia
com força, indo até o fundo a cada estocada.

Deve ser o Maverick!

Era a posição preferida dele... ou talvez eles estivessem tentando


me enganar. Seja lá quem fosse, ele não parou depois de gozar,
mas fez aquele esforço maravilhoso depois do final. Toda vez que
nossos corpos se juntavam, ele esfregava o saco bem na base do
plug anal, incrementando outra dimensão de prazer àquela
experiência sórdida.

Que loucura.

Mais forte e mais rápido continuou meu último Navy SEAL, me


comendo de lado até eu praticamente implorar para gozar de novo.
Foi tudo maravilhoso e extasiante. Tipo trepar com um cronômetro
para o fim do mundo.

– Puta m...

Meu amante deixou escapar, e eu lutei para adivinhar quem o


dissera.

Foi um sussurro, não uma fala, e levantei as orelhas para ver se


ouvia mais.

O xingamento – claro, de prazer – fora uma escorregada inevitável,


mas ainda assim uma escorregada.

De repente senti um rosto perto do meu quando o homem que me


fodia se inclinou sobre meu corpo. Ele puxou meu cabelo para o
lado e um par de lábios quentes deslizou pela minha orelha.

– Te amo, Ju – sussurrou o homem.

Era a voz do Gage... e não era. Mas ele era o único que me
chamava por esse apelido. A menos que um dos outros estivesse
tentando me enganar de novo e fazer eu adivinhar errado. Se era
para ser ardiloso, aí já era maldade.

Ou talvez seja só Gage disfarçando a voz. Tentando me fazer


pensar que é outra pessoa...

Minha mente se debateu sobre a voz por mais uns momentos,


evanescentes em face do meu segundo orgasmo que se
aproximava. Mas então o homem começou a gemer ao explodir
dentro de mim. Ele mais grunhiu de forma ancestral do que falou, a
enormidade de seu clímax eclipsando a razão.

Mmmmmm…

Seu corpo quente e pesado sobre minhas costas foi imensamente


gostoso contra minha pele exposta. Ainda derramando a semente
no meu ventre, seu hálito quente deu arrepios no meu pescoço e
ombros.

Ele não é alto o bastante para ser Gage.

A revelação me fez sorrir, mesmo quando dois lábios se fecharam


sobre os meus. O homem me beijou com força, mas sem revelar
muito, e saiu da cama quase no exato momento em que outro subia
do outro lado.

Eu sabia!

Quem seria o último também assistira meu segundo encontro. E em


questão de tendências voyeur, ninguém amava assistir mais do que
Gage.

– Seja lá quem for – provoquei – é melhor me fazer gozar.

Ouvi uma risada baixinha, seguida por duas mãos fortes que me
manobraram com destreza e rapidez. Fui deitada de costas, pernas
abertas, braços esticados acima da cabeça. Uma mão grande se
fechou sobre meus dois pulsos ao mesmo tempo, prendendo-os
sobre a cama enquanto meu

amante final subiu sobre meu corpo apoiando-se no outro braço. Um


segundo depois, ele abria minhas coxas insistentemente com o
joelho.

– Alguém está desesperado para transar, hã?– ri com orgulho por


trás da venda.
Nenhuma resposta, só ação. Meu último namorado contraiu as
nádegas e investiu com o quadril num único movimento. Quando ele
mergulhou em mim com a fúria de um guerreiro, eu tive certeza de
que meus olhos viraram.

Isso não vai durar muito...

Eu sabia que seria verdade para nós dois. Meu último clímax fora
interrompido abruptamente, e o próximo não estava distante. Eu
também sabia que estando tão quente, molhada e melada de
semente quente, o pobre homem que pegara o palitinho mais curto
não teria chance.

– Vamos – urgi, tentando travar os tornozelos por trás de seu corpo


me dá.

Encorajá-lo não adiantou nada. Este amante estava fazendo as


coisas no seu próprio ritmo. Ele socou devagar, mas profundamente
no começo, rebolando e me dando sensações de dentro para fora.
Havia amor em seus movimentos. Aumentando a excitação na
forma lenta, mas hipnótica com que girava os quadris.

Em um momento ele soltou meus pulsos e eu acariciei seu braço


estendido. Esplendidamente grande e grosso. Tão comprido e tão
lindo, principalmente com os músculos flexionados de sustentar seu
peso.

Em dado momento ele prendeu meus pulsos de novo e foi com


tudo.

A respiração do meu amante mudou drasticamente. Pequenos


gemidos começaram a escapar de seus lábios selados, e ele
investia rápido e forte, avançando sobre mim ao me empalar de
novo e de novo.

– Eu... Eu vou...
Eu estava falando com ninguém. Falando sem razão alguma
enquanto tudo que não fosse o clímax que se aproximava era total e
completamente borrado da minha mente. A venda não significou
nada. Estrelas prateadas dispararam por um campo cinza claro
cintilante tão incrivelmente lindo que parecia que todas as cores do
mundo se misturavam de uma vez.

Eu devo ter desmaiado, pois quando recuperei a consciência,


minhas mãos tinham sido desamarradas e a venda removida.
Também tinham removido o plug. Eu só estava deitada lá, usada e
exausta. Atravessada na minha cama num quarto permeado por
suor e sexo e tudo que é masculino.

Mas lá embaixo, eu ainda estava molhada e pulsando. Fiquei


deitada mais uns minutinhos para me recuperar e então tratei desse
problema com um banho de vinte minutos com muita água quente,
sabonete e vapor.

Encontrei os caras no andar debaixo seguindo o som de


campainhas e o zumbido dos eletrônicos. Os três estavam jogando
pinball no fliperama.

– Tudo bem?– Maverick deu um sorrisinho – Por um momento


pensamos que você tinha morrido.

Gage riu. Devyn sorriu, mas continuou jogando.

– Ah, estou bem – disse eu alegremente – e não vou lavar a louça,


também.

Com isso Devyn olhou para cima. Ouvimos distintamente uma


musiquinha de derrota quando a bola caiu no vão entre as palhetas,
logo antes de aparecer mais uma no lançador.

– Isso, senhorita, ainda está para ser demonstrado – provocou ele. –

Então... qual é o seu palpite?


Pensei em fazer uma pausa dramática, talvez até enganá-los e
brincar um pouquinho. Mas só cruzei os braços, triunfante, e me
inclinei contra a parede.

– Foi Devyn, Maverick e Gage. Nessa ordem.

Gage sorriu e assobiou, enquanto o queixo de Maverick caiu. Devyn


bateu com o punho no tampo de vidro da máquina de pinball.

– Merda!– xingou ele – Mas como...?

Inclinando o quadril, dei de ombros casualmente.

– Ela deu sorte – sugeriu Maverick.

– É, pode crer – eu ri entre dentes.

– Quer dizer que não foi sorte?

– Não.

– Então como você sabia?

Pausei por um momento e dei de ombros de novo.

– Cada um de vocês se trai de um jeito – eu disse a eles. – Como


jogadores de pôquer. Mas com sexo.

Eles se entreolharam, um por um mexendo a cabeça. Era óbvio que


ainda não tinham acreditado.

– Tá bom, você ganhou – disse Devyn. – Como nos traímos?

Ri alto.

– Acha que eu vou entregar? Olha de quanta louça eu me livrei!

Eles ainda pareciam céticos, porém só um pouco, agora. Dessa vez


Gage deu a cara a tapa.
– Quer saber – disse ele –, conta uma coisa que cada um faz. Se
concordarmos que você não está inventando, não precisa lavar
louça por um mês.

Meu sorriso se alargou.

– Um mês sem louça, é? Que mais?

– O que mais você quer?

Pensei por um momento.

– E se vocês me servirem e fizerem minhas vontades?

Maverick franziu o cenho.

– Te servir...

– Isso aí. Me dar comida. Fazer coisas para mim. Tipo isso.

– Tá – resmungou ele –, nós te damos comida. Agora fala. Como é


que a gente “se trai”?

Limpei a garganta.

– OK – disse eu, desencostando-me da parede – Bom, você, por


exemplo, tem o costume de agarrar meus quadris logo antes de
gozar.

– Isso não conta!– exclamou Maverick – Todo homem do mundo faz


isso.

– Eu falei que tinha terminado?– dei um sorrisinho irônico para ele.


O

trio ficou em silêncio de novo. Eu os circulei lentamente, como um


detetive examinando os três principais suspeitos.
– Então sim, vocês todos agarram meu quadris logo antes de, bem,
sabe... só que um de vocês não aperta os dedos todos ao mesmo
tempo. Um de vocês na verdade bate os dedos na minha bunda um
de cada vez, do dedinho ao polegar, antes de realmente apertar
com força...

Maverick e Gage se entreolharam com curiosidade. Já Devyn ficara


com a cara roxa.

– Você?– Gage xingou.

– É, talvez eu faça isso – admitiu Devyn encabulado.

Maverick balançou a cabeça e cruzou os braços.

– Tá bom. Que mais?

– Então, vocês três me comeram de lado – disse eu, encarando-o


de volta – mas você é o único que me segura pelo tornozelo e
aponta meu pé para o teto – dei uma risada no fundo da garganta. –
O que eu adoro, é claro, mas fico me sentindo uma bailarina. Uma
bem safada, pelo menos.

A cara de Maverick ficou toda amassada de derrota quando me


voltei para Gage.

– Por eliminação, você seria o terceiro – expliquei, dando uma


apertadinha no bíceps dele –, mesmo se eu não tivesse encostado
no seu braço. O seu braço é bem mais comprido que o dos outros,
aliás. Dos dedos ao cotovelo, do cotovelo ao ombro... Eu soube que
era você na hora que eu vi o tamanho desse braço gostoso. Sem
falar que você entrou no quarto rápido demais porque você sempre
gosta de ver.

Gage tentou fazer sua melhor expressão de raiva de mentira, mas


falhou miseravelmente. No fim, só riu e deu de ombros.

– Da próxima vez, vamos amarrar cada mão sua num pé da cama –


disse Devyn – para você não ter a vantagem do tato.

– Então vou arrumar alguma outra vantagem – retruquei – Pode


crer.

Eu sou astuta.

Desfilei triunfante para a sala com os três me seguindo. Caindo no


meu lugar favorito no sofá, estendi a mão e sorri para eles.

– Alguém me dá o controle?

Depois de certa murmuração, Devyn me entregou o controle.

– Pipoca?

Depois de alguns suspiros, ouvi o som de eles jogando pedra, papel


ou tesoura. Um momento depois, Gage sumiu na cozinha.

– Eu escolho o filme hoje, não é?

Eu já estava forçando a barra, mas queria ver até onde eles iriam.

Quando hesitaram de novo, sorri e fiz um gesto na direção de cada


lado do sofá.

– Ai, vem cá – eu ri. – Vocês podem escolher o filme. Podem até


escolher a comida, se quiserem, e o que vamos beber também.

Estendi as pernas cansadas para o colo de Maverick e mexi os


dedos do pé, fazendo graça.

– Desde que eu ganhe uma massagem...


Quer ler o EPÍLOGO BÔNUS flash-forward com final SUPER

FELIZINHO, água com açúcar,

muito sexy?

Claro que sim!

TOQUE AQUI PARA SE INSCREVER!

Ou abra este link no seu navegador:

https://mailchi.mp/kristawolfbooks.com/br-bonus-epilogue-sbns

para recebê-lo NA HORA por e-mail.

Sobre a Autora

Krista Wolf é uma amante de ação, fantasia e todos os bons filmes


de terror... bem como uma romântica incorrigível com um lado
sensual insaciável.

Ela escreve histórias cheias de suspense, repletas de mistério e


recheadas de voltas e reviravoltas

excitantes. Contos em que heroínas obstinadas e


impetuosas são a força irresistível jogada contra inabaláveis heróis
poderosos e sarados.

Você gosta de romance inteligente e espirituoso com um toque


picante? Você acabou de encontrar sua

nova autora favorita.

Clique aqui para ver todos os títulos na

Página da autora da Krista


Document Outline
Contents
Title Page
1 - Juliana
2 - Juliana
3 - Juliana
4 - Juliana
5 - Juliana
6 - Juliana
7 - Juliana
8 - Devyn
9 - Juliana
10 - Juliana
11 - Juliana
12 - Gage
13 - Juliana
14 - Juliana
15 - Maverick
16 - Juliana
17 - Juliana
18 - Juliana
19 - Juliana
20 - Juliana
21 - Juliana
22 - Juliana
23 - Devyn
24 - Juliana
25 - Juliana
26 - Maverick
27 - Juliana
28 - Juliana
29 - Juliana
30 - Gage
31 - Juliana
32 - Juliana
33 - Juliana
34 - Juliana
35 - Juliana
36 - Juliana
37 - Juliana
38 - Juliana
39 - Devyn
40 - Juliana
41 - Juliana
42 - Maverick
43 - Juliana
44 - Gage
45 - Juliana
46 - Juliana
47 - Devyn
48 - Juliana
49 - Maverick
50 - Juliana
51 - Gage
52 - Juliana
53 - Juliana
54 - Juliana
55 - Juliana
Epílogo
Sobre a Autora

Você também pode gostar