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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ.


FACULDADE DE GEOGRAFIA – FAGEO
DISCIPLINA: GEOGRAFIA AGRÁRIA
DOCENTE: ROSIVANDERSON CORRÊA
DISCENTE: WESLLEY DE SOUZA.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia Agrária: Perspectivas no início do século


XXI. Texto apresentado na mesa redonda “Perspectivas da Geografia Agrária” no II
Simpósio Nacional de Geografia Agrária/ I Simpósio Internacional de Geografia Agrária –
“O Campo no Século XXI”, realizado em São Paulo, 05 a 08/11/2003

Fichamento apresentado como


requisito parcial de avaliação da
disciplina Geografia Agrária. Orientada
pelo Profº. Dr. Rosivanderson Corrêa,
da Faculdade de Geografia (Campus
Universitário do Tocantins Pará).

UFPA
CAMETÁ-PA
2020
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia Agrária: Perspectivas no início do século
XXI. Texto apresentado na mesa redonda “Perspectivas da Geografia Agrária” no II
Simpósio Nacional de Geografia Agrária/ I Simpósio Internacional de Geografia Agrária –
“O Campo no Século XXI”, realizado em São Paulo, 05 a 08/11/2003

“Abrir a discussão sobre as múltiplas dimensões que envolvem as análises sobre o


campo significa mergulhar no debate político, ideológico e teórico. Assim, tratarei a
temática ponderando as contradições vividas pelo campo no Brasil e no mundo atual e,
o estado da arte da Geografia brasileira”. (p.1)
“O capitalismo monopolista mundializado adquiriu novos padrões de acumulação e
exploração, e, é esta nova feição que muitos chamaram de modernidade, pós-
modernidade, etc”. (p.1)
“O debate filosófico travado no século XIX tinha como centro a possibilidade das
ciências humanas possuírem estatuto científico próprio, e era esta discussão que
opunha positivistas e historicistas e ambos a aqueles influenciados pelo pensamento
hegeliano.” (p.2)
“A difusão destas idéias, particularmente do postulado de uma ciência axiologicamente
neutra, apareceu também, fora do quadro estrito do positivismo, alcançando mesmo o
historicismo e o marxismo”. (p.3)
“A história do pensamento geográfico na Geografia Agrária, não foi, em hipótese
nenhuma, diferente a influência desta corrente de pensamento, sobretudo, na sua
versão atual, teórico-quantitativista, está claramente presente entre os geógrafos que
estudam o campo”. (p.3)
“A história do pensamento geográfico na Geografia Agrária também foi fortemente
influenciada, pelo historicismo”. (p.3)
“O avanço da fenomenologia no pensamento geográfico. Talvez, estas duas correntes,
neo-historicismo e fenomenologia, estejam se constituindo na base do maior número
de trabalhos em desenvolvimento na Geografia na atualidade. Pesquisas sobre
percepção e modo de vida das populações do campo estão se tornando prática usual na
Geografia Agrária. A dialética por sua vez, como corrente filosófica na Geografia, a
meu ver, constitui-se em uma espécie de raiz, propositadamente esquecida, do
pensamento geográfico”. (p.4)
“O estudo da agricultura brasileira tem sido feito por muitos autores que expressam
diferentes vertentes do pensamento marxista. Por exemplo, há autores que defendem o
ponto de vista de que no Brasil houve feudalismo, ou mesmo, relações semifeudais de
produção. Por isso eles advogam a seguinte tese: para que o campo se desenvolva seria
preciso acabar com estas relações feudais ou semifeudais e ampliar o trabalho
assalariado no campo”. (p.5)
“A luta pela reforma agrária seria um instrumento que faria avançar o capitalismo no
campo”. (p.5)
“Outra vertente entende que o campo brasileiro já está se desenvolvendo do ponto de
vista capitalista, e que os camponeses inevitavelmente irão desaparecer, pois eles
seriam uma espécie de "resíduo" social que o progresso capitalista extinguiria. Ou seja,
os camponeses ao tentarem produzir para o mercado acabariam indo à falência e
perdendo suas terras para os bancos, ou mesmo, teriam que vendê-las para saldar as
dívidas. Com isso, os camponeses tornar-se-iam proletários”. (p.5-6)
“Assim, para estas duas vertentes, na sociedade capitalista avançada, não há lugar
histórico para os camponeses no futuro desta sociedade. Isto porque, a sociedade
capitalista é pensada por estes autores como sendo composta por apenas duas classes
sociais: a burguesia (os capitalistas) e o proletariado (os trabalhadores assalariados)”.
(p.6)
“A compreensão do papel e lugar dos camponeses na sociedade capitalista e no Brasil
em particular, é fundamental. Ou entende-se a questão no interior do processo de
desenvolvimento do capitalismo no campo, ou então, continuar-seá ver muitos autores
afirmarem que os camponeses estão desaparecendo, mas, entretanto eles, os
camponeses, continuam lutando para conquistar o acesso às terras em muitas partes do
Brasil. Um bom exemplo para esclarecer esta questão é o aumento do número de
posseiros no Brasil. Em 1960 existiam 356.502 estabelecimentos agropecuários
controlados por posseiros. Já em 1985, eles passaram para 1.054.542 estabelecimentos,
e em 1995 eram 709.710. Ou seja, ocorreu exatamente, neste período de grande
desenvolvimento do capitalismo (sobretudo industrial) no Brasil, um aumento dos
estabelecimentos ocupados por posseiros até 1985 e a sua redução em 1995 foi
provocado pela regularização fundiária realizada no governo FHC. Se as teses da
extinção do campesinato, de fato tivesse capacidade explicativa, estes posseiros
deveriam ter se tornados proletários. Mas não foi isto o que ocorreu”. (p.6)
“O que ocorre na agricultura brasileira é um processo diferente. Ou seja, o estudo da
agricultura brasileira deve ser feito levando-se em conta que o processo de
desenvolvimento do modo capitalista de produção no território brasileiro é
contraditório e combinado. Isto quer dizer que, ao mesmo tempo em que este
desenvolvimento avança reproduzindo relações especificamente capitalistas
(implantando o trabalho assalariado através da presença no campo do "bóia-fria"), ele
(o capitalismo) produz também, igual e contraditoriamente, relações camponesas de
produção (através da presença e do aumento do trabalho familiar no campo)”. (p.7)
“É através da compreensão desta lógica contraditória que procuro entender as
transformações que estão ocorrendo na agricultura brasileira neste início de século
XXI. Fiéis aos princípios da liberdade, autonomia e compromisso social, meus
orientandos vão a seus modos, criando vertentes novas no interior desta já clássica
concepção de entender a recriação camponesa no interior do capitalismo”. (p.7-8)
“Vamos prosseguindo nesta tarefa de formar pesquisadores para que através da
geografia agrária, possam compreender os processos recentes de construção
contraditória do território capitalista no Brasil, como se pode ver, nem sempre seguida
pelos meus orientandos”. (p.12)
“Parto, portanto, da concepção de que o território deve ser apreendido como síntese
contraditória, como totalidade concreta do processo/modo de
produção/distribuição/circulação/consumo e suas articulações e mediações
supraestruturais (políticas, ideológicas, simbólicas, etc) onde o Estado desempenha a
função de regulação. O território é assim, produto concreto da luta de classes travada
pela sociedade no processo de produção de sua existência. Sociedade capitalista que
está assentada em três classes sociais fundamentais: proletariado, burguesia e
proprietários de terra”. (p.13)
“Logo o território não é um prius ou um a priori, mas, a contínua luta da sociedade
pela socialização igualmente contínua da natureza. O processo de construção do
território é, pois, simultaneamente, construção / destruição / manutenção /
transformação. É em síntese a unidade dialética, portanto contraditória, da
espacialidade que a sociedade tem e desenvolve. Logo, a construção do território é
contraditoriamente o desenvolvimento desigual, simultâneo e combinado, o que quer
dizer: valorização, produção e reprodução”. (p.13)
“Assim, volto a insistir, que o capital é na sua essência internacional, porém a lógica
que envolve a terra é na essência nacional. Na formação territorial capitalista no Brasil
estes processos contraditórios produzem/geram movimentos de concentração da
população, primeiro, nas regiões metropolitanas e depois nas capitais regionais e em
geral nas cidades. Já faz muito tempo que a população urbana brasileira superou a
rural. Formou-se, pois, o locus da concentração do capital e da força de trabalho, as
grandes regiões industriais”. (p.14)
“O desenvolvimento, portanto, da agricultura (via industrialização) revela assim que o
capitalismo está contraditoriamente unificando o que ele separou no início de seu
desenvolvimento: indústria e agricultura”. (p.14)
“Capitalista da indústria, proprietário de terra e capitalista da agricultura têm um só
nome, são uma só pessoa ou uma só empresa. Para produzir, utilizam o trabalho
assalariado dos "bóias-frias" que moram/vivem nas cidades”. (p.14)
“No primeiro mecanismo deste processo contraditório, ou seja, onde o capital se
territorializa, ele varre do campo os trabalhadores concentrando-os nas cidades”. (p.15)
“Já no segundo mecanismo, ou seja, quando o capital monopoliza o território, ele cria,
recria, redefine relações de produção camponesa, familiar, portanto. Ele abre espaço
para que a produção camponesa se desenvolva e com ela o campesinato como classe
social”. (p.15)
“O próprio capital cria as condições para que os camponeses produzam matérias-
primas para as indústrias capitalistas”. (p.15)
“A territorialização do monopólio e a monopolização do território, estão constituindo-
se em instrumento de explicação geográfica para as transformações territoriais do
campo”. (p.15)
“No Brasil, por exemplo, José Graziano da Silva acredita que o campo praticamente
acabou e que a agricultura é atividade de “tempo parcial”. (p.16)
“Em seu estudo “O Novo Rural Brasilelro”133 José Graziano de Silva também afirma
de forma categórica que: “O propósito deste texto é chamar a atenção para o que há de
novo no chamado meio rural brasileiro”. (p.16)
“José Graziano da Silva acerta no principal, ou seja, é verdade que o desenvolvimento
do modo capitalista de produção trouxe consigo o desenvolvimento e expansão do
urbano. O urbano tornou-se assim maior que a cidade e do que o campo tornou-se sua
síntese contraditória. Mas esta síntese contraditória não eliminou nem a cidade e nem o
campo. As suas relações tornaram-se mais complexas”. (p.16)
“Para a tese de Jose Graziano da Silva é impossível a existência da classe camponesa
na sociedade capitalista. Em sua concepção teórica, histórica, política e ideológica ela
é coisa do passado que o desenvolvimento do capitalismo superou”. (p.17)
“Nesse sentido o campo industrializou-se, urbanizou-se, porém ele ainda continua
sendo o campo, o mundo rural com suas especificidades, agora contraditoriamente
mais conflitado”. (p.17)
“É, portanto, pela negação da possibilidade histórica da existência do campesinato
como classe social no interior da sociedade capitalista, que está construída a tese de
José Graziano da Silva”. (p.18)
“Este intelectual afirma com apoio de parte da mídia brasileira que o campo
urbanizou-se e não há mais sentido falar-se em rural. A onda agora é o “novo rural
brasileiro”, que o Projeto “Rururbano” desvendou cientificamente”. (p.19)
“Vem sendo computado conscientemente como rural uma parcela expressiva da
população que é em verdade urbana, ou seja, “extensão da área efetivamente
urbanizada com loteamentos já habitados, conjuntos habitacionais, aglomerados de
moradias ditas subnormais, ou núcleos desenvolvidos em tomo de estabelecimentos
industriais, comerciais ou de serviços”. (p.21)
“É preciso ponderar que a amostragem das estatísticas da PNAD está contaminada
pela presença de grande número de amostras que caíram no urbano “clandestino”
computado como rural. Portanto, não são só as estatísticas registram um Brasil
majoritariamente urbano, mas, há de fato, em todas as partes deste país continente, o
modo de vida urbano dominando simultânea e contraditoriamente a cidade e o campo”.
(p. 21)
“Como este Instituto toma como base para seus levantamentos estatísticos o perímetro
urbano definido por lei em cada município do país, este critério adotado desde os
tempos getulistas, “esconderia” um Brasil majoritariamente rural, pois a maioria das
cidades brasileira vive das atividades rurais. Para ele, portanto, a maior parte da
população levantada como urbana pelo IBGE é, ao mesmo tempo nesta “ficção virtual
da também virtual teoria”, uma população rural. Este Autor tem influenciado trabalhos
na Geografia Agrária, em uma clara influência a-crítica, pois, os geógrafos que o
seguem, certamente esqueceram-se do debate que a Geografia Urbana tem travado nas
três últimas décadas”. (p.22)
“Portanto, o caminho percorrido por José Eli da Veiga, não só é discutível do ponto de
vista teórico, como não é sustentável do ponto de vista histórico”. (p.22)
“Veiga parte de um princípio claramente equivocado quando estabelece o exercício
aritmético entre fenômenos, processos e sua evidência quantitativa”. (p.25)
“O urbano como fenômeno invadiu todo o rural, porém não o destruiu. Ao contrário,
trava com ele relações contraditórias”. (p.25)
“O urbano e o rural aparecem num movimento da reprodução saído da história da
industrialização”. (p.27)
“No espaço permitiu a realização da propriedade privada da terra, ao longo do
processo histórico, pela generalização da mercadoria-espaço”. (p.27)
“A realidade brasileira entra no estudo de Veiga apenas pelos números do IBGE, e o
pesquisador passa a procurar explicações para suas evidências, em uma clara inversão
do procedimento científico, onde realidade e teoria deveriam dialogar entre si”. (p.27)
“Outra discussão complicada no livro de Veiga é a incorporação do conceito de
território. Para ele, “o território é crucial para o desenvolvimento”167, o que quer
dizer, que o conceito de território foi guindado à sua condição geopolítica, qual seja,
de instrumento das políticas de um determinado Estado e governo. Mas, como nas
demais questões que envolvem o urbano e rural, Veiga ignora o debate teórico que os
geógrafos sempre fizeram sobre esta questão”. (p.29)
“Para Veiga o território é apenas e tão somente receptáculo das ações do Estado, e não,
produto concreto da luta de classes travada pela sociedade no processo de produção de
sua existência, sociedade capitalista que está assentada em três classes sociais
fundamentais: proletariado, burguesia e proprietários de terra, como já indiquei em
outra parte deste texto quanto discuto o conceito de território”. (p.30)
“Assim, o Brasil rural virou urbano para José Graziano da Silva ou então, o Brasil
urbano virou rural para José Ely da Veiga. Certamente, nem mesmo os mais dialéticos
dos filósofos imaginaria tamanha “dialética do virtual”. (p.30)
“É muito provável que nem um e nem outro tenha razão, por isso é preciso estudá-los
profundamente, e não simplesmente adotá-los como modismo na geografia agrária”.
(p.30)
“Mas há outros intelectuais, que movidos pela busca da compreensão do Brasil real,
vão ao campo estudar a luta travada pelos movimentos sociais”. (p.31)
“O campo assim, contém as duas faces da mesma moeda. De um lado, está o
agronegócio e sua roupagem da modernidade. De outro, está o campo em conflito”.
(p.31)
“Estamos diante da rebeldia dos camponeses no campo e na cidade. Na cidade e no
campo eles estão construindo um verdadeiro levante civil para buscar os direitos que
lhes são insistentemente negados”. (p.31)
“Mas, as elites ao contrário, como têm que garantir o passado, vêem na violência e na
barbárie a única forma de manter seu patrimônio expresso na propriedade privada
capitalista da terra”. (p.31)
“Parece que estas faces de um mesmo processo revelam que em uma, está a realidade
violenta e assassina das lutas no campo. Nela os latifundiários e seus jagunços
continuam a assassinar os camponeses à bala. Na outra face, está uma parte dos
intelectuais a “assassinar” em seus estudos os camponeses que lutam, morrem, mas
continuam a lutar pelo direito de possuir no futuro, um pedaço de chão deste país
continente apropriado privadamente por tão poucos. É por isso que as lutas rurais são
cada vez mais urbanas. É por isso também, porque as relações cidade campo precisão
ser decifradas. Um caminho é a sua compreensão pela relação contraditória entre
ambas”. (p.31-32)
“Um ponto importante nas contradições do desenvolvimento do capitalismo, tudo
indicando que ele mesmo está soldando a união contraditória que separou no início de
sua expansão: a agricultura e a indústria; a cidade e o campo”. (p.32)
“Este processo histórico, ao mesmo tempo em que aprofunda a luta pela reforma
agrária no campo (o aumento da violência é uma evidência deste processo) transfere
paulatina, mas decididamente, esta luta (pela reforma agrária) para as cidades”. (p.32)
“Violência tem ceifado, no campo e na cidade, a vida de trabalhadores do campo ou de
suas lideranças sindicais, políticas, religiosas, etc, nas cidades. Dessa forma, cidade e
campo vão se unindo dialeticamente, quer no processo produtivo, quer no processo de
luta por melhores salários, por melhores preços para os produtos agrícolas, e
particularmente pela reforma agrária”. (p.32)

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