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O QUEBRA-CABEÇA UCRANIANO

Abstract: o texto avança na análise das questões sobre a guerra na Ucrânia. Levanta a hipotese de que há uma
rejeição do mundo oriental ao dominio ocidental. Essa é com certeza a grande disputa geopolítica do
momento. Faz tambem uma abordagem de outras questões ligadas a própria sobrevivência existencial da
Ucrânia.

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Nos últimos dias o debate sobre o avanço das forças militares ucranianas em territórios ocupados pelos
russos e uma certa recuada das forças russas tem dominado alguns ambientes intelectuais e políticos. As
perguntas são muitas, mas as respostas baseadas em fatos são poucas. Há muita especualção.

A guerra de informação e contra informação é intensa. Aqui no Ocidente a midia tradicional segue atrelada
aos interesses da hegemonia anglo-americana. É quse impossível para um morador sul-americano conseguir
informações balanceadas entre os dois lados que patrocinam a guerra.

No Brasil as redes de televisão e radio, e mesmo a midia digital, com rarissimas exceções, repetem “ad
naseum” o que vem das grandes redes europeias e americanas. A lógica seguida nos últimos dias é mais ou
menos a seguinte: se os ucranianos estão avançando e vencendo a guerra, então, os russos estão desesperados
e estão ameçando atacar com armas nucleares. Esta é a lógica por trás do discurso do Presidente dos EUA ao
declarar que os russo estão ameaçando com armas nucleares.

Não há nenhuma declaração do Presidente da Rússia de que fará ataques com armas nucleares. Os russos
seguem uma doutrina militar que estaelece que em caso de risco à sobrevivência do povo russo todos os
recursos de defesa serão usados. Não há esse risco no momento. No entanto, Biden fez uma declaração
bombástica, como se estivessemos à beira de um ataque nuclear russo, e não há nenhum questionamento
sobre a veracidade e razoabilidade dessa afirmativa.

Os dois lados, os russos e as forças da OTAN, estão fecahdas em copa sobre os rumos estratégicos da guerra.
Podemos e devemos buscar compreender o desenrolar do conflito a partir dos fatos visíveis. Senão vejamos:

- é inegável a superioridade militar russa sobre os ucranianos;


- parte da Ucrânia está devastada e sua população emprobrecida;
- o inverno está se aproximando e as condições de sobrevivência dos ucranainos é precária;
- as sanções econômicas impostas pelo Ocidente não surtiram o efeito devastador sobre os russos, que as
forças de Washington e da OTAN esperavam;
- a Ucrãnia está sendo inundada de armas e material bélico pelos países do Ocidente;
- parte das terras recuperadas pela Ucrânia está a arrazada e sem infraestrurutra;
- a sabotagem do gasoduto Nord Stream coloca a União Europeia em uma condição francamente vulnerável
e a mercê dos interesses americanos para vender seu gás por tres ou quatro vezes o valor daquele russo;

O debate sobre uma ofensiva militar dos russos ou do avanço dos ucranianos parece pouco relevante agora.
Os neoconservadores de Washington continuam agarrrados as suas concepções de dominação do mundo, e
nada vai mudar lá. Os europeus estão presos na armadilha em que caíram. A defesa intransigente da
supremacia branca não os deixou perceber que o que estão defendendo é a supremacia americana. O
resultado militar russo foi óbvio a partir de fevereiro. Em seguida os americanos e europeus desencadearam a
guerra de sanções, que perdeu força, muito rapidamente. Fim da história?

Não exatamente. Andrei Martyanov, um analista militar russo, aponta que ninguém está a par dos planos do
Estado-Maior russo. Mas é evidente que os russos respondem de acordo com o que Washington faz. Não é só
um jogo de reagir ao que os americanos fazem. Muitas coisas são levadas em consideração, mas não se
pode dizer como: a Operação Militar Especial desencadeada pela Rússia, ou o que quer que ele se
transforme, será jogado no contexto do que parece ser uma rejeição mundial ao dominio ocidental.
Uma rejeição muito cautelosa do domínio ocidental - os neoconservadores de Washington têm levado muitas
mordidas - é um quebra-cabeça das respostas de cada país não ocidental, individualmente, cada um fazendo
sua própria avaliação de quão longe é seguro ir, para sair desse domínio. E essa não é uma questão trivial.

Nesse quebra-cabeça, particularmente a linha tomada pela Índia e pela China, é, tanto um fator nos cálculos
russos quanto nas exigências imediatas da situação militar na Ucrânia. Uma das razões, apenas uma, mas
muito importante, pela qual a Operação Militar Especial parecia mais uma operação de libertação de reféns
do que uma guerra real, é que se os russos tivessem entrado desde o início com todas as armas em fogo
cerrado, eles certamente teriam perdido o apoio ou a aquiescência dos países da Organização para
Cooperação de Xangai, que agora desfrutam.

No Ocidente, somos fracos na análise da China, perigosamente fracos, mas o que quer que os chineses
estejam fazendo, eles certamente se apegaram à noção de que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Aqui
no Ocidente, particualrmente na América Latina, não se deu a menor importância ao acordo firmado entre os
“paises do outro mundo” na cidade Samarcanda, no Ubequistão, em meados de setembro. É como se o que
metade da população mundial discutisse e levasse em conta não tivesse o menor significado para as
potências ocidentais. Um erro grosseiro. O acordo alcançado em Samarcanda foi a preliminar essencial para
o discurso do Presidente Putin no St George's Hall; e com esse acordo atrás deles, os russos têm praticamente
uma mão livre na Ucrânia.

Ainda restam três perguntas não examinadas.

A primeira recebeu pouca atenção até agora, mas é fundamental. Os russos voltarão às suas demandas de
segurança de dezembro de 2021? A colocação, já antecipada por Macron, da necessidade de uma nova
"Arquitetura de Segurança" surgirá novamente, agora que os europeus perderam a guerra de sanções? Se
não, o mundo ficará com armas nucleares, possivelmente estacionadas em locais com um tempo muito curto
de voo para Moscou e uma continuação do barulho da OTAN na fronteira russa.

Tempos de voos curtos para armas nucleares não é uma boa premissa existencial. Aumenta o risco de
acidente. Quanto ao barulho da OTAN, isso já foi feito nos anos 90, quando essa força militar afirmava que
os russos tinham tropas prontas para atacar. É pouco provável essa narrativa, mas não seria a primeira vez
que a OTAN mentiria para a opinião publica mundial, que os russos tivessem tropas de qualquer
consequência em sua fronteira ocidental. A OTAN simplesmente vai repetir a receita?

Do lado ocidental, Scholz e Stoltenberg estão falando apenas de remilitarização e de fazer ainda mais
barulho nas fronteiras orientais. Os europeua sabem o que é viver sob ameaça de uma catástrofe nuclear por
acidente. Também sabem o que é “viver em um acampamento armado”, perigosamente instável. Vão querer
isso?

Não vejo essa primeira questão sendo resolvida ou mesmo examinada agora. Nem as próximos duas, que
estão relacionadas.

As informações que temos sobre as condições do regime de Kiev são inaceitáveis, lamentávelmente. Os
ucranianos vivem sob um regime eivado de corrupção, de fanatismo, de violência etnica contra os seus
conterrâneos do Donbas, Lugansk e Donetsk. Não é crível acreditar que os oito anos que viveram de Glória
aos Heróis e dos acampamentos de verão de Biletsky transformaram todos eles em “Banderitos” de coração e
alma. Isso é importante porque tem uma influência direta na terceira questão. Até onde irá o povo ucraniano
na sustentação desse regime?

A terceira questão diz respeito a própria questaõ existencial da Ucrânia. Uma parte claramente aceita a
hegemonia russa e os avanços instiucioanis para guarda desses teritórios na Federação Russa já estão em
curso. E outra parte da Ucrânia, que é resitente aos russos? Como a Rússia vai lidar com o remanescente da
Ucrânia? Caso venha a ocupar o grande remanescente, o custo de manutenção será enorme, pois a população
é em grande parte antagônica, especialmente no sudoeste do país. Se isso não acontecer, então Washington e
a OTAN continuarão alimentando de armas e armas, cada vez de mais longo alcance o remanescente da
Ucrânia e a Rússia ainda ficará confrontada, com uma ferida aberta na sua fronteira, com a qual convivem
desde 2014.
Esse é o quebra-cabeça que os neoconservadores de Washington e da OTAN estão colocando para a Rússia
resolver. Salvo um acordo de paz abrangente, que Washington e a OTAN tem frustado há seis meses e
parece que continuará a frustrar, como esse quebra-cabeça será resolvido?

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