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OPINIÃO | UCRÂNIA

SS e a sua trupe de prestidigitadores


José Goulão

POR JOSÉ GOULÃO QUINTA, 18 DE MAIO DE 2023

Tornou-se um delito de opinião associar o nazi-banderismo ao nazismo


hitleriano que lhe serviu de ovo. O regime de Kiev ganhou estatuto de
“democrático” e ai de quem se atreva a dizer o contrário.

Presidência da Ucrânia / Agência Lusa

N
“ós libertámo-los… Eles nunca nos perdoarão por isso”

(Gueorgui Jukov, marechal soviético, herói das batalhas de Leninegrado,


Stalinegrado, Kursk e de recuperação da Ucrânia, comandante das tropas
da URSS que entraram em Berlim em 1945)
As palavras irónicas contidas nesta frase do lendário marechal Jukov, a quem se
devem vitórias heróicas e decisivas, como as de Stalinegrado e Kursk, que
proporcionaram a travagem da ofensiva das tropas hitlerianas para leste e o
princípio do fim do pesadelo nazi, são de uma actualidade flagrante e certamente
sentidas como insultuosas por quem não consegue, não tenta ou não quer colocar-
se fora do redil onde vigora a opinião única sobre o que se passa no mundo. A qual
omite, quando não inverte, o papel determinante, insubstituível, decisivo da União
Soviética no esmagamento da Alemanha nazi.

Jukov e os seus camaradas que comandaram o Exército Vermelho e o povo


soviético na defesa do país, na resistência às hordas invasoras – que pareciam
imparáveis – e acabaram a persegui-las até à rendição na capital alemã, libertando
pelo caminho infernais campos de morte, viraram o sentido da Segunda Guerra
Mundial. Tornaram possível que os países da frente ocidental fizessem a sua parte
no arranque para a vitória total.

Até então, devido à prioridade dada por Hitler à frente leste, as elites dos aliados
ocidentais foram moldando as suas estratégias em função dos acontecimentos na
Operação Barbarossa contra a União Soviética; como hoje se percebe, no círculo
dos poderes ocidentais havia quem desejasse que os hitlerianos concretizassem
aquilo que eles próprios muito ambicionavam (e ambicionam) – a desagregação da
União Soviética, da Rússia. Um objectivo replicado através da História,
acumulando insucessos desde o séc. XIII, quando suecos e alemães esbarraram
contra Alexandre Nevsky; ou em 1812, quando Napoleão bebeu champanhe em
Moscovo e depois “foi a pé para Paris”, recorrendo à imagem preciosa do major-
general Agostinho Costa; e também na primeira metade dos anos quarenta do
século passado, quando os nazis acabaram derrotados e perseguidos até Berlim.

No lado soviético ficaram 26 milhões de mortos (26 milhões, é possível imaginar a


dimensão dessa carnificina, duas vezes e meia a população de Portugal?), além da
destruição de grande parte de um país que ainda estava em construção. Nos
territórios da antiga União Soviética é praticamente raro ainda hoje encontrar uma
pessoa que não tenha perdido pelo menos um parente na tragédia. E nenhum país
foi amputado, nem de perto, de tantos dos seus cidadãos.

Por isso, passados que são quase 80 anos, os russos e alguns outros povos que
estiveram integrados na União celebram a vitória como nenhuns outros. Para eles
não foi a “Segunda Guerra Mundial” mas a Grande Guerra Pátria ou Patriótica. A
derrota imposta ao nazismo permitiu a sobrevivência das suas nações: não foi
apenas uma guerra, foi um combate existencial. Tal como hoje.
A consciência vívida dessa memória torna compreensível que os russos se sintam
acossados porque nos últimos 25 anos têm vindo a ser cercados pelo maior
aparelho militar mundial e também, mais recentemente, pelo recrudescimento do
nazi-fascismo nas suas vizinhanças; ao mesmo tempo que, na Europa e na América
do Norte, se manifestam ainda com maior intensidade os sentimentos de
russofobia, uma degeneração xenófoba que nada tem de rigorosamente justificável
à luz da nunca comprovada ameaça militar ou económica por parte da Rússia.

As imensas riquezas naturais, energéticas e de capacidades humanas do país, essas


sim são cobiçadas pelas oligarquias e respectivos serventuários políticos e militares
do chamado Ocidente global através de uma mistificação apresentada segundo
contornos indisfarçáveis de cruzada política, democrática e civilizacional. O assalto
em termos políticos e económicos ao espólio da União Soviética funcionou durante
os anos noventa do século passado por um período demasiado curto para satisfazer
as ganâncias imperiais, pelo que a opção militar começou a tornar-se ostensiva e
associada a intenções confessadas de mudar o regime político de Moscovo e
desmantelar o país em várias entidades “independentes”. Afinal, o velho desígnio
ocidental de extirpar o cancro russo mantém-se vivo apesar dos seus vetustos oito
séculos, desde a Idade Média aos tempos da “pós-verdade”. Como previu o
marechal Juvkov, limitando-se a ler a História, “nós libertámo-los… Eles não nos
perdoarão”. Podendo acrescentar-se, sem deturpar o sentido do raciocínio, que
“eles não desistirão”.

Em suma, os russos, tendo presentes as suas


«No lado soviético entranhadas memórias, somaram dois e dois,
ficaram 26 sobretudo a partir do momento em que os Estados
milhões de mortos Unidos e a União Europeia tomaram conta da
(26 milhões, é Ucrânia, em 2014, aplicando uma estratégia golpista
possível imaginar para restauração operacional e do protagonismo de
a dimensão dessa correntes políticas e terroristas que historicamente
engendraram uma independência ucraniana à boleia
carnificina, duas
da invasão nazi da União Soviética. À aposta
vezes e meia a
ocidental sub-reptícia no nazismo alemão para
população de
liquidar a URSS sucede hoje a reactivação do nazi-
Portugal?), além banderismo de inspiração hitleriana como tropa de
da destruição de choque para provocar uma guerra que culmine,
grande parte de desejam os seus mentores, no desmembramento da
um país que ainda Rússia. Uma continuação, afinal, do
estava em desmembramento da União Soviética em 1991.
construção. Nos
territórios da É fundamental perceber, para uma leitura abrangente
antiga União e objectiva do que está a acontecer nesta guerra entre
a NATO e a Rússia, que a reimplantação fronteiriça
Soviética é
do nazismo – na Ucrânia e em países bálticos –
praticamente raro
desperta as mais negras memórias entre os russos,
ainda hoje
determinando inevitavelmente que se mobilizem,
encontrar uma respondam e actuem. Não existem, por isso,
pessoa que não quaisquer dúvidas sobre quem provocou quem.
tenha perdido
No entanto, tornou-se um delito de opinião, um crime
pelo menos um
imperdoável, associar o nazi-banderismo, ao qual foi
parente na
outorgada pela NATO a missão de gerir
tragédia. E
nominalmente a Ucrânia, ao nazismo hitleriano que
nenhum país foi lhe serviu de ovo; o regime de Kiev ganhou estatuto
amputado, nem de “democrático” e ai de quem se atreva a dizer o
de perto, de tantos contrário.
dos seus
cidadãos.»
A quina excursionista

Quem não tolera que se manifeste qualquer


dissonância em relação à verdade oficial sobre o que se passa na Ucrânia é essa
singular figura da classe política portuguesa – melhor dizendo, do federalismo e do
natismo – que se chama Santos Silva (ou SS para encurtar espaços), que depois de
desempenhar o papel de ministro dos Negócios Estrangeiros como qualquer
delegado do Departamento de Estado norte-americano foi promovido a presidente
da Assembleia da República, segunda figura do Estado em que isto está, também
chamada a “casa da democracia”.

Sem grandes explicações às opiniões pública e publicada, como autêntico dono da


democracia na casa da democracia, SS montou uma delegação de cinco membros
do Parlamento, contando com ele, para empreender uma gesta solidária ao
encontro do regime da Ucrânia Ocidental. Ora tratando-se de uma equipa para
visitar as figuras coroadas de um sistema autocrático-democrático sustentado por
uma minoria terrorista nazi-banderista, parece mais natural designá-la como
“quina”, conceito inspirado na estrutura hierárquica da velha Mocidade Portuguesa
propício a que anfitriões e visitantes pudessem conviver em plataformas
equilibradas, proporcionando um diálogo fluído e produtivo.

E uma vez que os membros da delegação lusitana foram chamados a cumprir a


missão árdua, dir-se-ia impossível, de fundir a ditadura na democracia e vice-versa,
parece mais adequado qualificá-los como prestidigitadores. São necessários
extraordinários poderes mágicos, talvez nem ao alcance de David Copperfield ou
Luís de Matos, para ter êxito em número tão exigente.

Constituiu-se para o efeito uma trupe plural, como seria desde logo aconselhável
para compensar um hipotético défice democrático resultante do facto de no outro
lado não haver qualquer pluralismo. Seguiram viagem além do presidente, do PS,
os deputados Eurico Brilhante Dias (PS), João Paulo de Oliveira (PSD), Cotrim de
Figueiredo (Iniciativa Liberal) e Isabel Pires (Bloco de Esquerda). Em princípio,
nada a opor. O PS é o PS, expoente da democracia logo grande inimigo da Rússia e
amigo incondicional da Ucrânia, ainda que governada por banderistas. Que dizer
do PSD? Os namoricos de outrora com os retintos salazaristas e os de hoje com os
neo-salazaristas facultam-lhe a possibilidade de estar no mesmo comprimento de
onda dos nazis de Kiev. Quanto a Cotrim e respectiva IL, quem melhor do que um
admirador de Pinochet, Thatcher e dos sociopatas dos Chicago Boys para
confraternizar com os ucranianos afins? Há, porém, quem manifeste estranheza
pela presença do Bloco de Esquerda neste grupo excursionista solidário com o
regime institucionalmente racista e xenófobo que há nove anos lançou uma limpeza
étnica noutra região do país, o Donbass, para erradicar cidadãos “impuros”, “de
segunda”; uma região onde, no dizer do ex-presidente Porochenko, as crianças de
origem russa “devem estudar em subterrâneos” enquanto os filhos dos verdadeiros
ucranianos aprendem “em escolas alegres e com as melhores condições”. Uma
réplica da criativa parábola do inatacável democrata Borrel sobre o nosso “jardim”
e a “selva” do resto do mundo.

Não há, vistas bem as coisas, nada que estranhar. É


«E uma vez que os patente a confusão entre a designação do grupo,
membros da “Bloco de Esquerda”, e a autêntica prática de
delegação esquerda. Em política externa, a tentação pelo
lusitana foram federalismo e as afinidades com as motivações
chamados a invocadas pela NATO, já desde os tempos da
cumprir a missão sangrenta e arrasadora invasão da Líbia, há muito
que sintonizaram o agrupamento com a grande
árdua, dir-se-ia
irmandade da classe política que usurpou a
impossível, de
democracia de Abril. Acresce, como alívio da
fundir a ditadura
consciência cívica bloquista, que SS deverá ter
na democracia e executado os procedimentos necessários para que as
vice-versa, parece despesas da viagem a Kiev não saíssem do orçamento
mais adequado do Estado ou dos bolsos dos contribuintes, agora que
qualificá-los existe um imenso e generoso saco azul ocidental
preenchido com as toneladas de ouro roubado à
como Venezuela, os 300 mil milhões de dólares em reservas
prestidigitadores.» no exterior surripiados à Rússia e pelo menos dez mil
milhões de dólares desviados dos fundos do
certamente desafogado Banco Central do Afeganistão.
Pudemos testemunhar, em vários episódios, a dedicação extremosa de Santos Silva
na constituição do precioso tesouro à custa dos marginais que se desviam das
regras desta tão democrática e equitativa ordem internacional baseada em regras.
Nada como usá-lo para financiar uma nobre excursão ao coração do nazi-
banderismo democrático.

É certo que a trupe de prestidigitadores poderia ter sido enriquecida com algumas
outras presenças que, sem dúvida, lhe garantiriam valor acrescentado.

O nazismo Faltou Ventura, por exemplo. Ao que se diz por


ucraniano, “castigo” do próprio SS por causa do
ontem e hoje comportamento arruaceiro dos neo-salazaristas
– uma
trilogia (III) durante a visita de Lula da Silva à Assembleia da
República. Reacção injusta, prepotente mesmo do
presidente parlamentar, uma vez que os protestos
indignados dos deputados neofascistas se deveu a uma defesa intransigente da
Ucrânia de Kiev, uma causa ameaçada com a visita de tão perigoso “pacifista”. Dir-
se-á, recorrendo aos saberes da Psicologia, que SS teve uma reacção “em espelho”
com o seu rival populista da ala direita do hemiciclo. Nessa matéria ambos
competem, sem hipóteses, com o venerando Chefe de Estado; é o populismo
sarrafeiro contra a sua variante elegante, com “afectos” e um savoir faire que vem
do berço. Que melhor prova desse fosso do que a outorga de uma das mais
importantes condecorações portuguesas ao presidente do regime ucraniano? Não
há competição possível.

Outra omissão desnecessária no grupo excursionista foi a do deputado Tavares,


especialista em liberdades. Sem dúvida que a diligência em Kiev desenvolvida em
nome da Casa da Democracia poderia, e deveria, ter sido enriquecida com o
contributo abalizado, um case study do eminente historiador federalista sobre o
banderismo democrático, fusão vanguardista entre o nazismo e a democracia.
Enfim, um talentoso prestidigitador indevidamente esquecido.

Talvez por ser pensada à pressa, a delegação não incluiu o caceteiro Mário
Machado. Nestas operações, é sempre uma ajuda recorrer a facilitadores que são
profundos conhecedores do ambiente de Kiev comandado por entidades como os
batalhões Azov, Aidar, Sector de Direita, C-14 e alguns outros. Um tradutor
familiarizado com as práticas nazis em nove anos de acção no terreno seria muito
útil. Uma falha de SS.

Faltou também Juan Guaidó, esse fascista protegido político de Santos Silva,
reconhecido temporariamente como presidente da Venezuela sem ter sequer
concorrido a eleições, apenas porque assim o determinou a Casa Branca. Dizer que
o actual presidente da Assembleia da República e o governo de que então fazia
parte foram coniventes com uma tentativa de golpe em Caracas é um disparate,
porque se tratou apenas de tentar repor a ordem democrática para corrigir a
decisão equivocada do povo venezuelano ao eleger de maneira legítima e
transparente alguém que, segundo as regras do Ocidente global, nunca poderia ser
presidente.

Guaidó estaria certamente disponível para a viagem, aborrecido como se sente no


exílio em Miami depois de ter sido expulso da Colômbia agora que o seu amigo e
comparsa Duque, um dos operacionais da tentativa de golpe, foi apeado por
vontade dos colombianos. A propósito, estará SS em condições de informar
finalmente os portugueses sobre os resultados do inquérito ao estranho
desembarque de Guaidó em Lisboa, num avião da TAP, acompanhado por um
familiar transportando engenhos perigosos e inadmissíveis num voo civil? Ou afinal
nem sequer se fez o logo prometido inquérito?

Uma missão colonial


As fronteiras da Ucrânia “são as da liberdade e segurança”, sentenciou SS depois do
encontro da sua quina com o presidente Volodymyr Zelensky, uma figura com que
há sempre muito a aprender em matéria de integridade política porque foi eleito
defendendo activamente os acordos de paz de Minsk sabendo que nunca iria aplicá-
los, como confessou depois. Na esteira de Merkel, François Hollande e do seu
antecessor Porochenko, subscritores de má-fé de um tratado de paz com o objectivo
de fazer a guerra, tal como a que aí está.

Liberdade e segurança: dir-se-ia que as mesmas


«Dizer que o buscadas por Hitler quando as suas tropas foram
actual presidente enviadas para destruir a União Soviética. Além disso,
da Assembleia da assegurou Santos Silva, a Ucrânia e Portugal são
República e o ambos países “europeus e ocidentais”, uma genial e
governo de que poética imagem de patética transmutação geográfica;
então fazia parte e, acrescentou, a Rússia “não tem de sentir-se

foram coniventes ameaçada com o alargamento da NATO”. Parece ser


com uma um pouco colonial esta mentalidade de dizer aos
tentativa de golpe outros, escaldados com invasões distribuídas por oito
séculos, como devem sentir-se quando cercados pelo
em Caracas é um
mais agressivo aparelho militar alguma vez reunido –
disparate, porque
agora ainda reforçado com a inclusão, de facto, da
se tratou apenas
imensa e vizinha Ucrânia colocada em mãos nazis;
de tentar repor a mas assim funciona a ordem internacional baseada
ordem em regras que faz mover o presidente da Assembleia
democrática para da República, sempre às ordens de Washington.
corrigir a decisão
O que foi um quase imperceptível tique de
equivocada do
colonizador transformou-se logo a seguir numa
povo venezuelano
aberta operação colonial com a qual a quina lusitana
ao eleger de ficou comprometida. SS prometeu ao chefe do regime
maneira legítima da Ucrânia Ocidental que implicará a “democracia
e transparente portuguesa” no esforço para fazer mudar a opinião
alguém que, dos países africanos e da América Latina sobre a
segundo as regras guerra ucraniana. Parece que eles sentem o assunto
do Ocidente “distante” e “apenas europeu”, lamentou Santos Silva,
provavelmente incapaz de julgar possível que outros
global, nunca
pensem e actuem de maneira soberana, segundo os
poderia ser
seus interesses específicos e de acordo com as
presidente.»
próprias cabeças.

NATO Sobretudo num


estende a momento em que
guerra da a esmagadora
Ucrânia à
Síria maioria desses
países se sentem
atraídos pela
nova ordem mundial verdadeiramente multipolar em desenvolvimento, propícia
para lhes permitir cortar, finalmente e como nunca, as seculares amarras coloniais.

Sobre a mesma matéria, já na última cimeira da NATO a “diplomacia portuguesa”


(na verdade, uma ficção) fora incumbida de puxar as orelhas a Moçambique por
não ter votado contra a Rússia na Assembleia Geral da ONU. Há realmente
mentalidades arrogantes que não mudam, a menos que sejam liminarmente
erradicadas pelas vítimas – o que vai acontecendo com uma convicção cada vez
mais eficaz. Os chicotes esclavagistas já não estalam como outrora
2 de Maio: a escolha milimétrica
Repescando nos excertos das declarações do chefe e dos prestidigitadores da
delegação portuguesa não é possível encontrar qualquer incitamento à realização de
negociações e à procura da paz na Ucrânia.

Não era de esperar uma atitude diferente nos círculos maioritários do Parlamento
português onde, a exemplo dos outros órgãos de poder actuando globalmente como
simples correias de transmissão de Washington/NATO e da União Europeia, a paz
só pode ser encontrada quando a guerra terminar com a derrota e a extinção da
Rússia. Assim o determinam o tartamudo Biden, Van der Leyen, Borrel e a ministra
alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, uma espécie de dona disto
tudo, uma dirigente “verde” que tem com a ecologia uma relação similar à do Bloco
de Esquerda com a esquerda. O fenómeno ecológico-militarista existe, aliás, há
mais de 20 anos, pois já o chefe verde alemão da época, Joschka Fischer, foi um dos
principais estrategos da agressão terrorista da NATO contra a Sérvia e da invenção
provocatória do Kosovo.

Um dos principais sintomas da rejeição da paz e da


«Repescando nos aposta na continuação da matança implicitamente
excertos das manifestados pela delegação parlamentar portuguesa
declarações do em Kiev foi a coincidência minuciosa da data do
chefe e dos início da visita com a da celebração dos nove anos do
prestidigitadores crime que transformou antagonismos comunitários
da delegação no conflito armado existente: o massacre de Odessa.
Exactamente em 2 de Maio de 2014, poucas semanas
portuguesa não é
depois do golpe fascista de Maidan organizado pelos
possível encontrar
Estados Unidos, começou uma agressão militar e
qualquer
paramilitar nazi da junta de Kiev (escolhida em
incitamento à Washington) contra a população maioritariamente
realização de russófona do Leste e Sudeste da Ucrânia. Uma
negociações e à operação que rapidamente adquiriu as características
procura da paz na de limpeza étnica e originou a fuga de milhões de
Ucrânia.» pessoas, sobretudo para a Rússia. E cujo acolhimento
humanitário, principalmente das crianças, esteve na
origem da zelosa diligência do Tribunal Penal
Internacional (TPI) ao ordenar a captura do presidente da Rússia por “crimes de
guerra”. Quem lê a história ao contrário jamais se entenderá com ela e corre sérios
riscos de ser atropelado pela sua dinâmica.
Nesse dia 2 de Maio, bandos terroristas enquadrados pelos nazi-banderistas do
Sector de Direita de Dmytro Yarosh – posteriormente, em 2021, promovido a
conselheiro principal do chefe das Forças Armadas, general Valerii Zalushny –
atacaram manifestantes na cidade de Odessa que se opunham à junta de Kiev e
reivindicavam o federalismo para o país, forçados então a proteger-se no interior da
Casa dos Sindicatos. A horda banderista lançou fogo ao edifício, dentro do qual
mais de 40 pessoas foram incineradas. Outras perderam a vida depois de, em
desespero, se terem lançado através das janelas do edifício, transformadas em
tochas humanas. Uma outra foi assassinada nas mãos dos terroristas. Foram 48 as
vítimas mortais, sem que ainda ninguém tenha sido punido pelos crimes. Há
apenas um acusado de homicídio, mas as sucessivas manobras dilatórias nos
tribunais têm evitado qualquer julgamento.

O comandante operacional do atentado foi um alto


«Exactamente em quadro do grupo nazi Sector de Direita, Dmytro
2 de Maio de Kotsybaylo, condecorado por Zelensky como “herói
2014, poucas da Ucrânia” em 2021, em pleno Parlamento (Rada);
semanas depois faleceu recentemente em Artmovsk, cidade de
do golpe fascista fundação russa a que o regime de Kiev chama
de Maidan Bakhmut, e provavelmente não foi vítima de causas

organizado pelos naturais.

Estados Unidos, O criminoso comandante nazi-banderista foi


começou uma enterrado como “herói” e Zelensky compareceu na
agressão militar e cerimónia fúnebre. Ignora-se se o presidente da junta
paramilitar nazi de Kiev convidou os visitantes portugueses a visitar o
da junta de Kiev túmulo do carrasco de Odessa, ocasião que poderia
igualmente ser aproveitada para depor flores singelas
(escolhida em
na sepultura do pai e mentor do regime, Stepan
Washington)
Bandera, responsável directo e indirecto por chacinas
contra a
praticadas contra judeus, polacos, resistentes
população soviéticos e milhões de ucranianos que fizeram frente
maioritariamente à barbárie nazi. Seria um acto chocante? Também a
russófona do Leste insensibilidade manifesta perante o extermínio de um
e Sudeste da povo o é.
Ucrânia.»
Mesmo que essas homenagens não tenham sido
possíveis, a presença de SS e companhia no
Parlamento de Kiev teve um significado equivalente.
Em primeiro lugar deve registar-se que os viajantes prestidigitadores, num golpe de
magia negra, fizeram da Assembleia da República uma réplica da Assembleia
Nacional, colocando-a ao mesmo nível da câmara legislativa dos visitados. A
fraternidade manifestada em relação a uma espécie de União Nacional ucraniana
foi como se limpassem o 25 de Abril da Casa da Democracia.

E o presidente da Assembleia da República, perorando como se fora Amaral Netto,


o seu antecessor de 24 de Abril de 1974, dirigiu-se a uma assistência da qual foram
há muito banidos todos os representantes da oposição mas na qual estão presentes
quadros nazi-banderistas disseminados pelos partidos de Zelensky e Porochenko,
uma vez que as suas verdadeiras organizações não têm suficiente apoio eleitoral.
Como em qualquer ditadura nazi, sustentam o regime através do terror, da
repressão e da chantagem conspirativa, usando e abusando da polícia política a la
Gestapo, o SBU.

Pelo menos 12 partidos políticos estão proibidos na


«Em primeiro Ucrânia; e os cidadãos a quem tenham sido
lugar deve detectadas ligações a essas organizações são privados
registar-se que os dos direitos cívicos e eleitorais. Entre os partidos
viajantes proibidos figura o “Socialistas”, que se considera pró-
prestidigitadores, europeu e fez circular uma eufórica mensagem de
num golpe de congratulação quando o PS/Costa conquistou a
maioria absoluta nas eleições portuguesas. SS,
magia negra,
Brilhante Dias, para já não falar dos restantes
fizeram da
membros da equipa da Assembleia da República, não
Assembleia da
parecem sentir que esta medida de teor salazarista
República uma manche a venerada democracia ucraniana, nem
réplica da mesmo quando as vítimas são encartados
Assembleia compagnons de route.
Nacional,
Na sua oração parlamentar, Santos Silva prometeu
colocando-a ao
que a “diplomacia portuguesa” fará tudo pela
mesmo nível da
integração da Ucrânia na União Europeia e estará
câmara legislativa mesmo disposta a lutar para “reduzir” os requisitos
dos visitados. A exigidos, de maneira a facilitar “esta nova dinâmica
fraternidade de alargamento”. Talvez o fim das decisões por
manifestada em unanimidade, como vem sendo reclamado pelos mais
relação a uma democratas entre os democratas e federalistas da UE.
espécie de União Tudo em nome da ditadura “democrática” em vigor
na Ucrânia.
Nacional
ucraniana foi Missão cumprida
como se
SS e os seus prestidigitadores regressaram a Portugal
limpassem o 25 de
provavelmente com a consciência de que cumpriram
Abril da Casa da
a missão: garantir o apoio à Junta de Kiev no
Democracia.» seguimento, aliás, dos 250 milhões de euros que
António Costa retirou aos contribuintes portugueses
com elevadas hipóteses de servirem para alimentar o
império imobiliário de Zelensky em Londres, Miami e sabe-se lá mais onde, sem
contar com as suas contas offshore confirmadas pelas investigações de jornalistas
independentes (ainda sobram alguns); e da entrega pelo governo de Lisboa a Kiev
de aviões Kamov russos oferecidos por Moscovo para combater incêndios, além de
pelo menos dois tanques, ao que parece já coxos; mas o que conta é a intenção
ainda que, provavelmente, já tenham sido reduzidos a sucata.

Embora, segundo a confraria política e a máfia

12 mediática corporativa, a democracia ucraniana


avance a todo o vapor, nem tudo parece perfeito. O
Pelo menos 12 partidos
políticos estão proibidos Alto Comissariado das Nações Unidas para os
na Ucrânia; e os cidadãos a Direitos Humanos (ACNUDH) “detectou alegações de
quem tenham sido
detectadas ligações a essas desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e
organizações são privados incomunicáveis, tortura e maus-tratos perpetrados
dos direitos cívicos e
eleitorais. com impunidade pela polícia ucraniana,
principalmente por membros dos serviços secretos
SBU”. Andou, provavelmente, mão de Putin na elaboração deste parecer.

Até o Departamento de Estado norte-americano, a chefia de SS, constatou que “a


ONU observou deficiências significativas na investigação sobre abusos de direitos
humanos pelas forças de segurança do governo (…) e alegações de tortura,
desaparecimentos forçados”. Outra vez a mão de Putin?

Embora o tempo fosse pouco, deveria a delegação portuguesa, apesar das suas
arreigadas convicções, ter procurado possíveis fontes independentes para se
inteirar com maior profundidade da realidade ucraniana. O relatório final da
missão, se chegar a ser elaborado, dir-nos-á – ou não – se os deputados
portugueses fizeram algum esforço para respeitar essa obrigação.

Saberemos então se SS e acompanhantes se aperceberam de que a Lei dos Povos


Autóctones, promulgada por Zelensky, institui um regime racista que favorece, em
direitos, os ucranianos puros em relação aos que têm origens familiares noutros
países mas são cidadãos nacionais desde a independência, em 1991; de que as
línguas minoritárias, designadamente russo, húngaro e romeno, não podem ser
ensinadas, estudadas e usadas livremente; de que, além da ilegalização de todos os
partidos políticos da oposição, existe na internet uma “lista de pacificação”
incluindo os nomes e minuciosos dados pessoais dos “inimigos do Estado”, ficando
assim expostos ao terror nazi público, partidário e privado; de que as rádios e TV’s
públicas e privadas foram intervencionadas para que tenham uma programação
única gerida pela presidência e a polícia política; de que os jornais e outras
publicações de oposição ou em línguas que não seja o ucraniano foram proibidos;
de que jornalistas, opositores políticos, deputados, sindicalistas e membros de
partidos proibidos, além de um participante governamental nas negociações de paz
de Istambul, em Março de 2022, foram assassinados ou “desapareceram”; de que
existem campos de férias financiados pelo Estado destinados apenas a “crianças
brancas” e nos quais é ministrado treino militar associado à doutrina banderista,
incluindo a pré-adolescentes; de que milhões de livros, entre eles clássicos
mundiais de outras culturas, que não a ucraniana, estão a ser destruídos.

Como é de prever, estas realidades de uma


Nave dos democracia sui generis tão apoiada e acarinhada
loucos pelos que se reclamam proprietários dos “nossos
valores”, da “nossa civilização” e dos “direitos
humanos” a la carte não foram metidas pelos
olhos dos deputados portugueses. Estes teriam de
ir ao seu encontro, se tivessem vontade, coragem ou integridade para isso. Não é
provável, sabendo-se até que Santos Silva não abdicará da última palavra, que os
prestidigitadores tenham recorrido às suas artes para investigarem no exterior da
redoma nazi, documentando-se de maneira a produzirem testemunhos sérios aos
seus colegas e ao país. Se, por absurdo, o fizessem, à luz da doutrina imposta e
segundo a qual quem não está connosco está contra nós, não se livrariam de ser
alcunhados de putinistas. Observe-se o que aconteceu agora ao professor de
Estudos Russos na Universidade de Coimbra: foi acusado com base em bufaria e
sumariamente despedido.

Não deliremos, porém, esperando por informações que exponham, nem que seja ao
de leve, a crueza da ditadura: para SS, tendo em conta os seus comportamentos
políticos, a realidade dos factos é coisa que não conta. A ordem internacional
baseada em regras assenta numa virtualidade paralela onde se conjecturam os
grandes e pequenos artifícios como esta delegação de prestidigitadores para
mascarar e mistificar uma situação que, no limite e tendo em conta os objectivos
telúricos confessados pela NATO, põe toda a humanidade em perigo.

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