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OPINIÃO | UCRÂNIA

O nazismo ucraniano, ontem e hoje – uma trilogia (II)


José Goulão

POR JOSÉ GOULÃO DOMINGO, 19 DE FEVEREIRO DE 2023

Apesar de agirem sob designações diversificadas, os grupos nazis ucranianos têm uma origem, um
tronco e uma clique terrorista dirigente comuns com influência omnipresente no topo da hierarquia do
Estado.

Manifestantes neonazis do Svoboda (Liberdade) e Pravyi Sector (Sector de Direita)


protestam em Kiev/ REUTERS

2. A «democracia liberal» guiada pela «raça pura»


«Os meus homens alimentam-me com os ossos de crianças que falam russo»
(Dmytro Kotsyubaylo, comandante do grupo nazi Sector de Direita, condecorado
como «herói nacional» pelo presidente Zelensky)

«Não há nazismo nem banderismo na Ucrânia», proclamam analistas,


comentadores, especialistas, jornalistas, historiadores e outros bruxos da
modernidade que nunca se enganam e raramente têm dúvidas. É verdade que nem
sempre a realidade e os factos se ajustam à sua eminente sabedoria, estratificadora
da opinião oficial e única, mas a ignorância, a cegueira e má-fé são sempre dos
outros, que se atrevem a ter posições diferentes, mesmo que sejam sustentadas por
sólida investigação. Mas que culpa têm eles que assim seja? A realidade e os factos é
que estão errados.

O nazismo Uma atitude como esta não é sequer uma


ucraniano, minimização da realidade nazi ucraniana,
ontem e hoje admitindo-a como um fenómeno marginal, uma
– uma
trilogia (I) espécie de folclore inconsequente e bizarro. É
antes uma negação, uma perigosa negação que
vai muito além de qualquer desejado efeito de
propaganda; indicia que é possível conviver com um regime nazi – e apoiá-lo – sem
que uma tal promiscuidade traga consequências. Mais do que isso, no caso presente
recorre-se ao nazismo como instrumento para atingir objectivos próprios, os
chamados «nossos interesses», contra qualquer coisa «maléfica» que pretende
destruir a civilização «perfeita e superior» que construímos.

Os resultados da complacência perante o nazismo alemão e até a esperança de que


liquidasse o grande inimigo ocidental de então – a União Soviética – originou a
tragédia da Segunda Guerra Mundial. Além de irresponsáveis perante tão retintas
manifestações de nazismo a que assistimos, os dirigentes dos Estados Unidos e da
União Europeia são profundamente ignorantes em História, arrastando-nos para a
tragédia latente que decorre dessa inconsciência.

Batalhão SS 201 Schutzmannschaft, constituído por nazis ucranianos e alemães. Roman Shukhevych é o segundo à esquerda, na primeira fila. A unidade
distinguiu-se pela repressão de judeus e partisans bielorussos

Continuando o desfile de «heróis nacionais» ucranianos com um passado


«patriótico» e exterminador, esbirros que estiveram ao serviço de Hitler e
desejaram uma Ucrânia independente totalitária e etnicamente «pura», Roman
Shukhevych é outro dos venerados pelos terroristas de Kiev. Na Ucrânia de hoje
tem estátuas, um museu memorial, moedas cunhadas em sua honra, o nome de
importantes ruas em várias cidades e até em dois estádios1 – Lviv e Ternopil2.

A última pessoa a ser o seu contacto operacional, já durante a acção clandestina


contra a União Soviética guiada pelos serviços secretos ocidentais, e na sequência
da qual Shukhevych viria a morrer em 1950, foi Daria Gusyak, falecida o ano
passado. Gusyak fez parte da direcção do Congresso dos Ucranianos Nacionalistas,
partido neonazi fundado em 1993 por Slava Stetsko3 e, a pedido desta, fundou uma
organização do actual regime seguidora do nacionalismo integral, designada Liga
das Mulheres Ucranianas, que dirigiu até ao fim da vida.

Shukhevych comandou operacionalmente a OUN (B) (Organização dos


Nacionalistas Ucranianos, facção Bandera) e a UPA (Exército Insurgente
Ucraniano) na segunda metade da invasão alemã da União Soviética, período
durante o qual a limpeza étnica do território ucraniano e de áreas da Bielorrússia4
teve alguns dos seus episódios mais sangrentos. Por exemplo a chacina de Huta
Pieniacka, em 28 de Fevereiro de 1944, na qual as hostes de Shukhevych e a 14.ª
Divisão das SS ucranianas mataram mais de mil pessoas. Vinte e cinco mil a trinta
mil polacos foram assassinados durante essa fase na região da Galícia Oriental.

Enquanto ordenava, através do comando da UPA, que «combatam os polacos


impiedosamente, ninguém deve ser poupado, nem mesmo os casamentos mistos»,
Shukhevych declarava em 25 de Fevereiro de 1944: «Devido ao êxito das forças
soviéticas é preciso acelerar a liquidação dos polacos, eles devem ser totalmente
exterminados, as suas aldeias queimadas».

Antes de ascender ao comando da UPA, em certa medida porque Bandera foi preso
e enviado para a Alemanha (embora em condições principescas), porque nem
sempre o Estado ucraniano foi considerado «útil» e «oportuno» pelos chefes
militares do Reich, Shukhevych esteve integrado no exército alemão, a
Wehrmacht; contribuiu então para a formação de dois batalhões ucranianos,
Nachtigall5 e Roland, que entraram em território soviético com as tropas nazis.

O historiador sueco-americano Anders Rudling, da Universidade de Lund, deixou


uma pergunta que mereceria reflexão, até dos donos da verdade, sobre o
desenvolvimento do nacionalismo integral ucraniano e a sua relação com os
acontecimentos dos dias que vivemos6: «Será possível fazer de Shukhevych um
herói nacional sem legitimar a ideologia da organização que dirigiu?». Uma
resposta consciente faria estilhaçar mitos cultivados irresponsavelmente e que
deixam a humanidade à beira da maior das fatalidades.

Dois soldados SS colaboracionistas ao serviço dos alemães, diante de judeus assassinados, no ghetto de Varsóvia. Nacionalistas ucranianos participaram
na liquidação do ghetto de Varsóvia, em 1943.

Branquear o que não tem branqueamento


Os historiadores oficiais ucranianos tentam actualmente branquear a biografia de
Shukhevych e de outros terroristas colaboracionistas, alegando que converteu o
programa da OUN ao pluralismo político, constituiu uma plataforma de unidade
com outros movimentos ucranianos e abandonou o extermínio de judeus. Faltam,
porém, dados e documentos convincentes que comprovem essas versões7.

Em 2006, na sequência da «revolução laranja» promovida pelos Estados Unidos, o


presidente Yushenko, qualificado como «pró-europeu», designou o alegado
historiador Volodymyr Viatrovych como chefe dos arquivos centrais dos Serviços
ucranianos de Segurança8. A sua missão foi a de adaptar as biografias dos «heróis
nacionais» venerados pelo regime actual, tornando-as mais compatíveis com um
tipo de discurso tolerável pelos aliados e protectores de Kiev9. Situações e
ocorrências como o anti-semitismo da OUN e os massacres de polacos,
designadamente, quase desapareceram das biografias oficiais de Shukhevych,
Bandera e outras figuras. Nelas figuram praticamente em exclusivo os papéis
desempenhados por conta de serviços secretos ocidentais contra a União
Soviética10.

Parlamento Porém, as instituições de memória nacional da


ucraniano Polónia, pouco respeitadas pelo regime da NATO
aprova a em vigor em Varsóvia, registam que a OUN (B),
proibição
dos partidos também sob o comando de Shukhevych, decidiu
da oposição em Fevereiro de 1943 expulsar todos os polacos
da região da Volínia para obter um «território
etnicamente puro», incitando a «matar polacos e
judeus-moscovitas».
E se, por hipótese remota, Shukhevych se converteu ao «pluralismo», devemos
então deduzir que os seus herdeiros de hoje, comandados nominalmente pelo herói
ocidental Zelensky, regrediram nesse aspecto. O regime, como se sabe, proibiu
todos os partidos de oposição11 – o último foi o Partido Socialista – supostamente
por terem apoiado os acordos de paz de Minsk, assinados pelo governo de Kiev.
Recorda-se que a glorificação da violência foi um dos princípios fundadores do
Estado ucraniano em Junho de 1941, em Lviv, sob o alto patrocínio de Stepan
Bandera e dos ocupantes alemães.

O único «pluralismo» tolerado hoje por Kiev é o da nuvem de grupos nazis que
controlam as rédeas do Estado.
Roman Shukhevych, entretanto, continua a ser alvo de homenagens e festivais de
vários dias em sua honra. Às celebrações de 2017, por exemplo, seguiu-se um
ataque a uma sinagoga12. Apesar de o anti-semitismo estar oficialmente extinto na
Ucrânia e o chefe de Estado ser «um judeu».

Dois dos 18 trabalhos do artista Roman Bonchuk, «Judeu com um porco» (na foto) e outro quadro representando um monstro a fatiar uma Torah
como shawarma foram retirados após um protesto da comunidade judaica local. Ivano-Frankivsk, Fevereiro de 2022 / Twitter

Nazismo à solta
No dia 30 de Março deste ano, mais de um mês depois do início da invasão militar
russa da Ucrânia, a insuspeita CNN admitiu que o Batalhão Azov, cujos membros
são olhados no Ocidente como «mártires» e «resistentes», tem um «histórico de
tendências nazis que não foram totalmente extintas com a sua integração na
Guarda Nacional» – corpo das Forças Armadas ucranianas13.
Meios de comunicação como The Economist, The Guardian e mesmo a Rádio
Europa Livre/Rádio Liberdade, um organismo de propaganda subordinado à CIA,
admitiram mais de uma vez que grupos nacionalistas e «patrióticos» têm
comportamentos ao nível das práticas, da simbologia usada e do culto da «pureza
da raça» que remetem para a inspiração hitleriana.
Josh Cohen, ex-membro da USAID – instituição golpista conspirativa ao serviço do
Departamento de Estado norte-americano – escreveu na revista Atlantic Council,
subordinada oficiosamente à NATO, que «A Ucrânia tem um problema real com a
violência de extrema-direita e não, não foi a RT (Russia Today, censurada no
Ocidente) que fez esta manchete». Revelou que «o grupo neonazi C-14» é
financiado pelo governo de Kiev para desenvolver «projectos de educação
patriótica»14, que outras organizações nazis têm elementos desempenhando altos
cargos, principalmente no Ministério do Interior, na polícia e nas Forças Armadas;
e deduziu que «a impunidade da extrema-direita também representa uma ameaça
perigosa ao Estado da Ucrânia». Ainda segundo Cohen, «não são as perspectivas
eleitorais dos extremistas que devem preocupar os amigos da Ucrânia, mas sim a
falta de vontade ou a incapacidade do Estado para confrontar os grupos violentos e
acabar com a sua impunidade».

Militantes do movimento neo-nazi C-14 desfilam para assinalar o 76.º aniversário da fundação da UPA, em Kyiv, a 14 de Outubro de 2018
Oleg Petrasiuk / Kyiv Post

A realidade da situação ucraniana não escapou até ao FBI, como se deduz num
relatório elaborado a propósito dos supremacistas brancos norte-americanos
formados nas hostes do Azov. No documento pode ler-se que este grupo «é
conhecido pela sua associação com a ideologia nazi e acredita-se que tenha
participado no treino e radicalização de organizações de supremacia branca nos
Estados Unidos»15.

O próprio New York Times costumava qualificar os terroristas ucranianos como


«abertamente neonazis», definição que adoçou muito recentemente para
«organizações ultranacionalistas» quando uma delegação do Azov, chefiada por um
«sobrevivente de Azovstal», em Mariupol, visitou os Estados Unidos, onde
participou em sessões públicas de homenagem «e se avistou com mais de cinquenta
congressistas», de acordo com um dos membros da missão. O Azov, organização
treinada por militares na reserva norte-americanos, correspondendo aos interesses
manifestados pela NATO, ainda é considerado oficialmente em Washington como
«um grupo nacionalista de ódio».

A negação, no Ocidente, da existência de nazis e banderistas na Ucrânia é uma


patética tentativa de esconder da opinião pública o gigantesco apoio a um regime
que cultiva a herança de Hitler e de colaboradores ucranianos do III Reich no
extermínio de centenas de milhares de pessoas, em nome de um «Estado
homogéneo e puro», entre os quais se destaca o «herói nacional» Stepan Bandera.

«Eu também sou um banderista», proclamou no Facebook o chefe da Polícia


Nacional, Serhiy Kryazev; «trabalho no Ministério do Interior, sou banderista e
estou orgulhoso disso», declarou Zoryan Shkyriak, conselheiro do Ministério do
Interior; Anton Shevchenko, porta-voz do Ministério do Interior e da Polícia
Nacional, fez a mesma profissão de fé.

O vice-ministro do Interior, Vadim Troyan, veterano do Azov e do grupo Patriota da


Ucrânia, declarou-se igualmente banderista, soltou um «Slava Ukraina» e pediu
oficialmente «desculpas», em nome do Ministério, quando um oficial da polícia
dispersou um ajuntamento de nazis e chamou «banderista» a um deles.

As informações foram divulgadas por Christopher Miller, jornalista da Rádio


Europa Livre e do site Bellingcat, um dos órgãos oficiosos da NATO16. Michael
Colborne, também um profissional deste site, definiu o Azov como «um perigoso
movimento extremista nazi» com «ambições globais».

O batalhão Azov, apoiado pela NATO e pelas lideranças da UE e dos EUA, e tratado pelos "mainstream media" ocidentais como «nacionalistas
ucranianos» ou «admiradores de Stepan Bandera», usa o símbolo nazi "Wolfsangel" na sua bandeira e uma das tropas de choque preferidas do governo
de Kiev, no Leste como no resto do país.

A verdade da ditadura
A acumulação na Ucrânia de elementos comprometedores para a «democracia
liberal», conceito que domina a propaganda atlantista, é tão evidente que forçou a
Rádio Europa Livre a reconhecer que a «polícia ucraniana declara admiração por
colaboradores nazis». Parafraseando o atrás citado Josh Cohen, «não, não foi a RT
que disse isto».

Multiplicam-se os exemplos de que o Estado ucraniano, com Volodymir Zelensky –


tal como aconteceu com o seu antecessor Petro Porochenko –, está minado por
organizações nazis de inspiração banderista/nacionalista integral, que actuam
através da presença de membros nas estruturas de influência dos órgãos de decisão,
reforçada, quando é caso disso, por acções de intimidação e chantagem que não
poupam o próprio presidente. Essas nomeações não seriam possíveis sem o aval
dos chefes dos departamentos mais determinantes na hierarquia do Estado17.

Azov, Aidar, Dniepr 1 e Dniepr 2, Tridente, Batalhão Donbass, Sector de Direita, C-


14 e mais alguns são grupos que, em última análise, exprimem através da acção o
que algumas vezes tentam desmentir no discurso oficial, isto é que são inspirados
pelos «heróis» do Estado nacionalista integral fundado em 1941 sob a cobertura das
tropas alemãs invasoras da Ucrânia Soviética. Uma parceria que as instituições
oficiais de «memória» tentam agora esfumar através da censura de livros e do
argumento segundo o qual os colaboracionistas também foram vítimas dos
alemães. Desconhecem-se, porém, as provas de que alguma vez as organizações
banderistas como a OUN ou a UPA tenham atacado forças militares hitlerianas.

Pelo contrário, a História real revela que Yevgeny Konovalets, fundador da OUN em
1929, a par de Stepan Bandera, e durante alguns anos presidente da organização, se
avistou duas vezes com o próprio Hitler, na segunda metade dos anos trinta do
século passado, para preparar a criação de um Estado ucraniano, o que viria
realmente a acontecer pouco depois sob protecção germânica.

Primeiro presidente da OUN, Konovalets dirigira


«Yevgeny antes, a partir de 1920, a Organização Militar
Konovalets , Ucraniana (UVO), dedicada à acção armada contra o
fundador da OUN poder soviético e também contra a Polónia, depois do
em 1929, a par de fracasso da chamada «República Popular da Ucrânia»
Stepan Bandera, e (1917-1920). Foi também precursor da aliança entre a
durante alguns Alemanha e os nacionalistas integrais ucranianos,
mas não chegou a integrar operacionalmente os
anos presidente da
grupos colaboracionistas porque em 1938 foi vítima
organização, se
mortal de um atentado na Holanda, atribuído aos
avistou duas vezes
serviços secretos soviéticos18.
com o próprio
Hitler, na segunda Os restos mortais de Konovalets estão hoje ao lado
metade dos anos dos de Bandera, Melniuk e outros «heróis nacionais»
da OUN/UPA numa secção especial do cemitério de
trinta do século
Lychakivskiy, em Kiev, dedicada à «luta pela
passado, para
independência nacional da Ucrânia».
preparar a criação
de um Estado Apesar de agirem sob designações diversificadas, os
ucraniano, o que grupos nazis ucranianos têm uma origem, um tronco
e uma clique terrorista dirigente comuns com
viria realmente a
influência omnipresente no topo da hierarquia do
acontecer pouco
Estado desde a independência, em 1991. Apesar de a
depois sob
participação nos centros de decisão ser hoje mais
protecção discreta, conduzida sobretudo nos bastidores e não
germânica» tanto em cargos executivos directos, o seu poder
determina as linhas de rumo do aparelho estatal no
sentido nazi/banderista – o que aliás não é difícil de
perceber através da institucionalização, de facto, de um sistema ditatorial: adopção
de um apartheid oficial (lei dos povos indígenas), apoiado em teorias de
«purificação da raça»; a supressão dos partidos de oposição; a destruição de
milhões de livros ao estilo hitleriano; a violência terrorista contra os direitos de
opinião, de expressão e manifestação; a homofobia e a perseguição das minorias em
geral; as operações de limpeza étnica na região do Donbass; as restrições sindicais e
laborais; a proibição de línguas minoritárias – e não apenas o russo; o
encerramento de jornais e de cadeias de rádio e televisão, acompanhado pela
imposição de uma programação única às restantes sob as ordens dos serviços de
segurança; uma polícia política (SBU) sem freios; e a circulação de uma lista
inquisitorial contendo os dados pessoais dos «inimigos do Estado» a neutralizar, se
necessário eliminar – como tem acontecido frequentemente.

Os nazis ucranianos não inventaram a roda; os seus protectores ocidentais é que,


arrastados pela necessidade de não perderem o domínio mundial, assumem o
totalitarismo e a ditadura como expressões da «democracia liberal», talvez porque,
como proclama o inconfundível Borrell, existem efectivamente dois pesos e duas
medidas no cenário internacional. Ou, como disse o veterano criminoso de guerra
Henry Kissinger, os Estados Unidos apoiam este ou aquele ditador «porque são os
nossos ditadores».

Os «nossos» homens em Kiev


Andriy Biletsky, Dmytro Yarosh, Andriy Parubi, Oleh Tyahnybok e Yehvan Karas
são alguns nomes da estrutura nazi que envolve e influencia os órgãos de poder
ucranianos.

Quase todos eles são oriundos do Partido Nacional-Social (a designação não deixa
dúvidas sobre as suas fontes ideológicas) e a partir dessa organização, depois
denominada Svoboda (Liberdade), acabaram por fundar os diversos grupos que
actuam no terreno, principalmente na sequência do golpe da Praça Maidan.
Partilham o conceito de supremacia étnica ucraniana, a ideia de «Estado puro e
homogéneo» (espelhando a herança de Dmytro Dontsov), o culto da violência e de
Stepan Bandera, o nacionalismo integral, simbologias e práticas de inspiração nazi.

A maioria dos grupos nazis que se foram formando receberam grande parte dos
apoios financeiros do corruptíssimo oligarca Ihor Kolomoysky, um judeu com
dupla nacionalidade ucraniana e israelita proprietário da estação de televisão onde
o humorista Volodymir Zelensky ganhou fama desempenhando, numa série de
ficção, o papel que exerce agora na chefia do Estado. A sua campanha política foi
financiada efectivamente por Kolomoysky – e agora partilham a fama devida a
quem pertence à elite das grandes fortunas escondidas em paraísos fiscais, como
demonstra, sem espaço para equívocos, a investigação jornalística Panama Papers.

Andriy Biletsky é conhecido como «o führer branco»


«A missão e tem um elucidativo cartão de apresentação: a
histórica da nossa missão da nação ucraniana é «liderar as raças
nação, neste brancas na cruzada final contra os sub-humanos
momento crítico, é conduzidos pelos semitas», escreveu no livro que se
liderar as raças tornou a bíblia dos acampamentos juvenis onde
brancas do Mundo crianças e adolescentes recebem formação
doutrinária nacionalista e treino militar. É um dos
numa cruzada
fundadores do Partido Nacional-Social e,
pela sua
posteriormente, dos seus derivados Svoboda e
sobrevivência. A
Patriota da Ucrânia. Mais tarde, na vertigem
cruzada contra os
nacionalista integral do golpe de Maidan, Biletsky
sub-humanos fundou o Azov e as respectivas milícias paramilitares
conduzidos por que se incorporaram em órgãos de vigilância
semitas» municipais, verdadeiros grupos de assalto e, por fim,
ANDRIY BILETSKY
na Guarda Nacional.
Ukraine's far-right children's camp: 'I want to bring up a warrior'

Biletsky tornou-se um dos assessores principais do primeiro-ministro Arsen


Avakov, designado na sequência do golpe de Maidan pelos norte-americanos
Victoria Nuland, do Departamento de Estado, e Geoffrey Pyatt, embaixador em
Kiev, sob a batuta do então vice-presidente Joseph Biden, beneficiário de lucrativos
negócios nos combustíveis fósseis ucranianos através do filho Hunter Biden.

A estrutura do primeiro governo depois da mudança de regime incluiu dez


membros de partidos e grupos nazis. A operação golpista custou cinco mil milhões
de dólares aos contribuintes norte-americanos, segundo informações divulgadas
pela própria senhora Nuland.

Como assessor do chefe do governo, Biletsky atribuiu ao então recém-fundado


Batalhão Azov a missão de «Polícia de Patrulha de Tarefas Especiais». A
organização criou para isso uma unidade nacional de vigilância territorial
designada Druzhina, uma réplica das SA hitlerianas que prestou juramento perante
o próprio fundador do Partido Nacional-Social.

Hoje a actuação de Biletsky processa-se mais na sombra, mas nem por isso é menos
eficaz. Muito recentemente foi o organizador da marcha nacionalista sobre Kiev
para «dissuadir» Zelensky de chegar a qualquer acordo com a Rússia. A iniciativa
integrou-se no conjunto de acções para intimidar o presidente no caso de este se
desviar da agenda nazi que, por exemplo, impediu a aplicação dos Acordos de
Minsk, neste caso com as conivências dos governos da Alemanha e da França. A ex-
chanceler alemã Angela Merkel e o ex-presidente francês François Hollande
confessaram recentemente que os Acordos de Minsk, entretanto transformados em
resolução das Nações Unidas, não eram para cumprir e não passaram de meros
instrumentos para a Ucrânia ganhar tempo e adquirir poder militar que lhe
permitisse travar uma guerra contra a Rússia.

Dmytro Yarosh foi um dos cofundadores do Partido Nacional-Social e depois


encabeçou uma das suas derivações, o Sector de Direita. Os destacamentos deste
grupo de orientação nazi têm-se distinguido na retaguarda das tropas ucranianas
envolvidas na guerra, «desencorajando», e mesmo fuzilando, os militares que em
situação crítica perante a superioridade operacional russa tentam salvar a vida
desertando.

Yarosh foi o organizador do massacre na Casa dos Sindicatos, em Odessa, em 2 de


Maio de 2014. O Sector de Direita incendiou o edifício onde se tinham refugiado
dezenas de manifestantes contra o golpe de Maidan e pelo menos 48 pessoas
perderam a vida. Segundo o chefe dos terroristas, tratou-se de um acto «para
defender toda a Ucrânia dos ocupantes internos» e «realizar a revolução nacional».
Yarosh chegou a ser colocado na lista dos procurados pela Interpol inserida no site
desta organização; num golpe de magia, porém, o seu nome desapareceu
rapidamente do rol.

Integrando a estrutura que supervisiona na sombra o comportamento do


presidente, do governo e do aparelho de Estado, Yarosh, tal como Biletsky, tem
Zelensky sob mira. Foi marcante a sua declaração segundo a qual «Zelensky disse
no discurso inaugural que estava pronto a perder audiência, popularidade, força
(no caso de fazer acordo com a Rússia). Não», acrescentou, «ele perderia a vida,
seria pendurado numa árvore qualquer em Khreschatyk no caso de trair a Ucrânia e
as pessoas que morrem na revolução e na guerra. É muito importante que ele
entenda isso».

Também nas palavras de Yarosh, «sinto que Zelensky é muito perigoso para nós,
ucranianos»; ele «não conhece os perigos deste mundo e as suas declarações de paz
a qualquer custo são perigosas para nós».

Quanto ao futuro, Yarosh quer dedicar-se à escrita «para ajudar nacionalistas e


patriotas ucranianos a ter uma nova visão sobre o país numa base ideológica sólida:
o legado» de figuras como Dontsov, Konovalets, Stepan Bandera, entre outros.

Oleh Tyahnybok fazendo a saudação nazi / Twitter

Para já, a sua tarefa cumpre-se visivelmente no activo. Em 2021, Zelensky nomeou
Yarosh como conselheiro do chefe do Estado Maior das Forças Armadas
ucranianas, general Valerii Zaluzhny. O presidente achou mais seguro «entender»
as mensagens do chefe do Sector de Direita.

Andriy Parubiy é outro dos nacionalistas integrais admiradores de Stepan Bandera


que fez o percurso do Partido Nacional-Social até ao Movimento Azov, passando
pelo Svoboda e pelo Patriota da Ucrânia.
Em 2016, invocando sempre Stepan Bandera como referência, tornou-se chefe do
Conselho de Segurança e de Defesa da Ucrânia. Foi igualmente presidente da Rada
(Parlamento) através do partido do presidente Petro Porochenko, também ele
ferozmente segregacionista, como se percebe consultando os seus discursos. O facto
de Parubiy, oriundo do Azov, ter sido eleito pelos deputados da Rada como
presidente da instituição é relevante para se perceber como o regime da Ucrânia,
sobretudo pós-Maidan, atribui alguns dos mais altos cargos do Estado a
banderistas confessos.

A falta de pudor é extensiva aos governos dos Estados Unidos e de países da União
Europeia que receberam oficialmente Parubiy, com muita cordialidade, apesar de
este nunca se ter preocupado em esconder as fotos de manifestações onde
participou ostentando simbologia nazi.
É certo que, ao tornar-se deputado pelo partido de Porochenko, Andriy Parubiy
teve de desligar-se formalmente do Movimento Azov. Porém, numa entrevista
concedida em 2016, em pleno exercício do cargo de presidente do Parlamento,
assegurou que não abdicou dos seus «valores».

Oleh Tyahnybok19 é outro membro da superestrutura nazi que controla o Estado


ucraniano. Chefia o Svoboda desde 2004, enquanto é aliado de Yarosh no Sector de
Direita, depois de ter participado na fundação do Partido Nacional-Social em 1991;
em 1998 foi integrado no Conselho Supremo da Ucrânia. Esteve nas cogitações de
Biden e Nuland para chefiar o governo ucraniano pós-Maidan e tornou-se
deputado.

O então vice-presidente Joe Biden cumprimenta Oleh Tyahnybok durante um encontro no parlamento, em Kiev, a 22 de Abril de 2014
Anastasia Sirotkina / REUTERS

Ao longo da carreira nunca escondeu as suas simpatias pela geração ucraniana


colaboradora do regime de Hitler e exibe-se como personagem de destaque das
manifestações anuais em honra de Bandera nas quais se grita «fora os judeus»,
«enforquem-se os russos». Fotos destes acontecimentos captaram-no a fazer a
saudação nazi em cima do palanque instalado no final de um dos desfiles. Em Abril
2014, pouco depois do golpe de Maidan, o então vice-presidente Joe Biden
mostrava-se sorridente ao encontrar-se em Kiev com o nazi Tyhanybok.

O chefe do Svoboda trabalhou activamente para o reconhecimento da importância


do papel da UPA na história da Ucrânia. Ainda muito antes do golpe de Maidan fez
um discurso junto às sepulturas de oficiais daquela organização: «Vocês são
aqueles que a máfia judaica-moscovita que governa a Ucrânia mais teme; vocês
lutaram contra os moscovitas e os judeus». Tyahnybok pediu em 2005 ao
presidente Yushenko, entronizado depois de uma «revolução cor-de-rosa»
organizada por Washington, a realização de uma investigação sobre «as actividades
criminosas do judaísmo organizado na Ucrânia». Jura que não é anti-semita.

José Goulão, exclusivo AbrilAbril

O presente artigo é o segundo da série «O nazismo ucraniano, ontem e hoje – uma


trilogia», iniciada com 1. O decálogo assassino e a «grande democracia»

1. Rudling, Per Anders. «The Cult of Roman Shukhevych in Ukraine: Myth Making with Complications», in Fascism, vol. 5, n.º 1,
May 2016, p. 26-65 (Leiden, Netherlands: Brill 2020). Ler aqui ou aqui.
2. Em Março de 2021, quando o conselho municipal de Ternopil decidiu atribuir o nome de Roman Shukhevych ao estádio
Vanguarda, construído em 1983, no tempo da União Soviética, o embaixador de Israel «condenou fortemente a decisão» de
homenagear o «infame capitão do Batalhão SS 201» e exigiu o seu «imediato cancelamento». O embaixador Joel Simon já
deixou a Ucrânia. O estádio municipal de Ternopil continua a perpetuar a memória do nazi Roman Shukhevych.
3. Sobre Slava Stetsko e o seu marido, o nazi Yaroslav Stetsko, ver «O nazismo ucraniano, ontem e hoje – uma trilogia (I)».
4. Rudling, Per Anders. «Rehearsal for Volhynia: Schutzmannschaft Battalion 201 and Hauptmann Roman Shukhevych in
Occupied Belorussia, 1942», in East European Politics and Societies, vol. 34, n.º 1, February 2020, p. 158-193 (Newbury Park,
CA: Sage Publications 2020).
5. Foi o primeiro comandante do Nachtigall. Os batalhões Nachtigall e Roland foram formados a 25 de Fevereiro de 1941 com
400 combatentes cada, após conversações directas entre Stepan Bandera e as chefias nazis. Ver «O nazismo ucraniano,
ontem e hoje – uma trilogia (I)».
6. Rudling, Per Anders. «The Return of the Ukrainian Far Right: The Case of VO Svoboda», in Ruth Wodak and John E.
Richardson (eds.) Analyzing Fascist Discourse: European Fascism in Talk and Text (London and New York: Routledge 2013), p.
228-255.
7. A recuperação do nazismo na Ucrânia actual, através da celebração da memória de criminosos de guerra responsáveis pelo
extermínio de resistentes e civis judeus, polacos e soviéticos, é acompanhada por manifestações de anti-semitismo em locais
públicos, escolas, igrejas e até em galerias de arte. A memorialização do banderismo nazi tem sido criticada por diversas
organizações e personalidades judaicas da Ucrânia, da Rússia, de Israel ou dos Estados Unidos, mas encontra-se dispersa.
Uma tentativa de sistematização dessa denúncia encontra-se na página «Nazi collaborator monuments in Ukraine», o mais
antigo jornal judaico independente nos EUA. A denúncia de casos de anti-semitismo que não encontram eco nos meios de
informação ocidentais tem sido feita por Eduard Dolinsky, que vive em Kiev e se mantém à frente do Comité Judaico da
Ucrânia, apesar das ameaças de morte que recebe.
8. Rudling, Per Anders. «WARFARE OR WAR CRIMINALITY? Volodymyr V’iatrovych, Druha pol’s’ko-ukains’ka viina, 1942–
1947 (Kyiv: Vydavnychyi dim “Kyevo-Mohylians’ka akademiia,” 2011)», 228 p., in Ab Imperio, n.º 1/2012 (Amherst, MA). Desde
2017 a Ab Imperio é publicada pela Universidade de Miami, FL, EUA.
9. Rudling, Per Anders. «The OUN, the UPA and the Holocaust: A Study in the Manufacturing of Historical Myths», in The Carl
Beck Papers in Russian & East European Studies, n.º 2107/November 2011 (University of Pittsburgh, PA).
10. O branqueamento dos crimes e do passado nazi dos nacionalistas ucranianos por Volodymyr Vyatrovich, que durante anos foi
director do Instituto da Memória Nacional da Ucrânia, tem sido severamente criticado, como, por exemplo, na americana
Foreign Policy. . Na Wikipédia polaca há mesmo uma página sobre a sua «falsificação da história genocida da OUN e da UPA».
Vale a pena comparar as versões inglesa, polaca, russa e ucraniana da sua entrada na Wikipédia, onde a dimensão dessa
crítica assume formas muito diferentes.
11. Ver caixa acima.
12. Um relatório do insuspeito Departamento de Estado norte-americano sobre a liberdade religiosa na Ucrânia no ano de 2017,
é conclusivo sobre os frequentes ataques anti-semitas – e não só – dos neonazis ucranianos: «Nacionalistas organizaram uma
marcha, para honrar um dirigente nacionalista do tempo da Segunda Guerra Mundial, durante a qual os participantes
entoaram cânticos anti-semitas. Houve relatos de vandalização de monumentos cristãos, memoriais do Holocausto,
sinagogas, cemitérios judaicos e templos das Testemunhas de Jeová». Homenagens a Shukhevych, dois anos depois,
suscitaram um raro protesto conjunto israelo-polaco, apesar de a Polónia e Israel raramente falarem da glorificação rampante
dos colaboracionistas dos nazis na Ucrânia, país visto por muitos no Ocidente como uma almofada contra o expansionismo
russo», como observou na altura o Times of Israel.
13. Em reportagem de Agosto de 2022, a CNN já reconhecia que, «no seu auge como uma milícia autónoma, o Batalhão Azov
estava associado a supremacistas brancos e a uma ideologia e insígnias neo-nazis», e que já em 2014 e 2015, em Mariupol,
equipas da estação tinham documentado essa ligação.
14. Yehven Karas, chefe do grupo C-14, afirmou sobre o golpe de Maidan que não teria passado «de uma parada gay» se não fosse
o envolvimento das organizações de inspiração nazi como a sua (ver «O nazismo ucraniano, ontem e hoje – uma trilogia (I)». O
grupo a quem Kiev atribuiu fundos para «projectos de educação patriótica» é um bando de arruaceiros nazis cujo historial de
violência – ataques a minorias étnicas, à comunidade LGBT, a jornalistas, sindicalistas e partidos de esquerda, indignou até o
parlamento britânico, ao qual foi submetida uma moção censurando a BBC por reportagens que branqueavam a organização.
Menos conhecido é que, durante o golpe de Estado de Maidan, foi o C-14 que, entre outras violências e crimes, assaltou e
vandalizou, à boa maneira fascista, a sede do Partido Comunista da Ucrânia em Kiev.
15. Uma denúncia desta situação e dos perigos que representa para a esquerda americana pode ler-se no site antiracista Black
Agenda Report.
16. As informações recolhidas pelo autor foram utilizadas num documento sobre segurança interna dos EUA do Centro de
Combate ao Terrorismo de West Point, intitulado «The Nexus Between Far-Right Extremists in the United States and
Ukraine» e publicado no CTC Sentinel, vol. 13, n.º 4, de Abril de 2020.
17. Uma reportagem da Harper’s Magazine, «The Armies of the Right», revela a força dos neo-nazis nas ruas e a noção que têm do
seu poder sobre o Estado: «Se os movimentos de extrema-direita [na Europa] têm pouca margem de manobra por serem
quase considerados organizações terroristas, aqui todos percebem que os movimentos de extrema-direita não são uma
ameaça ao Estado. Em vez disso, passa-se o contrário. Eles são o motor que impulsiona o Estado.». Mikhail Didych,
organizador do Azov em Uzhgorod.
18. A execução do atentado contra Konovalets foi reivindicada por Pavel Sudoplatov (1907-1996) num livro que chegou a ser
publicado em português mas se encontra há muito esgotado: Operações especiais. Memórias de uma testemunha indesejada,
Europa-América (Lisboa, 1994). Pode ser encontrado em inglês. Sudoplatov, um nativo de Melitopol que falava fluentemente
ucraniano, foi um dos mais temíveis adversários do nacionalismo extremista ucraniano. Chegou a conseguir, em meados dos
anos 30, infiltrar-se na escola do partido Nazi em Leipzig, onde os militantes da OUN eram os únicos estrangeiros aceites –
um testemunho da precoce e estreita colaboração entre nazis alemães e nacionalistas ucranianos (ver capítulo «Duelo mortal
com a OUN», na edição russa do livro, aqui). Em Junho de 2022 as novas autoridades de Melitopol descerraram-lhe uma
estátua e atribuíram o seu nome à antiga rua Dmitro Dontsov – o pai do nacionalismo integral ucraniano [ver «O nazismo
ucraniano, ontem e hoje – uma trilogia (I)». Um Batalhão Sudoplatov, constituído por voluntários antifascistas russos,
ucranianos e de outras nacionalidades, foi recentemente constituído na região da Zaporíjia.
19. Também aparece grafado como Oleg Tyagnybok

TÓPICO

Ucrânia

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