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ACIDENTE DE CHERNOBYL

HISTÓRIA
O acidente de Chernobyl aconteceu em 26 de abril de 1986, quando o
reator 4 da usina nuclear de Chernobyl explodiu e lançou material radioativo
na atmosfera.

Em virtude do acidente de Chernobyl, em 26 de abril de 1986, a


cidade de Pripyat, no norte da Ucrânia, foi abandonada.

O acidente de Chernobyl, que aconteceu em 26 de abril de 1986, foi


o maior acidente nuclear da história. Essa tragédia ocorreu na Usina
V. I. Lenin, localizada na cidade de Pripyat, a cerca de 20 km da cidade
de Chernobyl, na extinta União Soviética (atual território ucraniano).
Matou milhares de pessoas e contribuiu para apressar o fim da União
Soviética.

O que aconteceu em Chernobyl?


O acidente de Chernobyl aconteceu às 1h23min47s, portanto, na
madrugada do dia 26 de abril de 1986. Esse acidente aconteceu no
reator 4 da usina de Chernobyl e foi resultado de falha humana, uma
vez que os operadores do reator descumpriram diversos itens dos
protocolos de segurança. Além disso, foi apontado posteriormente
que os reatores RBMK (usados em Chernobyl e em outras usinas
soviéticas) tinham um grave erro no seu projeto, o qual permitiu que
o acidente acontecesse.

Tudo ocorreu durante um teste de segurança que estava em curso e


resultou na explosão do reator 4. Com a explosão, dois trabalhadores
da usina foram mortos e, na sequência, um incêndio no reator 4
iniciou-se e estendeu-se durante dias. A explosão deixou o reator
nuclear exposto, e o incêndio foi responsável por jogar na atmosfera
uma elevada quantidade de material radioativo O vento levou o material
radioativo lançado na atmosfera, principalmente para o oeste e norte de
Pripyat, e a radiação espalhou-se pelo mundo. Rapidamente, foram
identificados altos níveis de radiação em locais como Polônia, Áustria,
Suécia, Bielorrússia e até locais muito distantes, como Reino Unido, Estados
Unidos e Canadá.
Os primeiros a alertarem a comunidade internacional de que algo havia
acontecido na União Soviética foram os suecos. Os questionamentos
realizados ao governo soviético levaram-no a admitir que o acidente havia
acontecido no dia 28 de abril. Até então, os soviéticos trataram de esconder
o que havia acontecido, temendo os impactos disso para a reputação do
país

Como funcionava a usina de Chernobyl?


O princípio básico de funcionamento da usina de Chernobyl era similar ao
das demais usinas nucleares: o reator, local onde são armazenados os
combustíveis físseis, faz com que a energia emitida pela fissão de
elementos instáveis, como urânio ou plutônio, aqueça e evapore água pura
a cerca de 270 ºC. Essa água é mantida sob altas pressões e, por isso,
quando liberada, tem força suficiente para movimentar um conjunto de
turbinas conectadas a um gerador. Os geradores, por sua vez, são como
grandes ímãs e ficam envolvidos em uma enorme quantidade de bobinas
condutoras. A produção de energia elétrica acontece de acordo com o
fenômeno chamado de indução eletromagnética: enquanto o gerador
estiver em rotação, haverá geração de corrente elétrica.

A usina de Chernobyl era equipada com quatro reatores nucleares RBMK-


1000, capazes de gerar cerca de 1000 MW de energia elétrica cada. Na
época do desastre, a usina de Chernobyl produzia aproximadamente 10%
de toda a energia elétrica consumida pela Ucrânia. Além disso, Chernobyl
foi a terceira usina nuclear produzida pela União Soviética a utilizar os
reatores RBMK, produzidos por uma tecnologia ultrapassada, criada cerca
de 30 anos antes da data do acidente.

No interior dos reatores nucleares, havia centenas de pastilhas de urânio-


235. Essas pastilhas estavam dispostas em compridas varetas metálicas, as
quais estavam mergulhadas em um tanque de água pura (destilada), usado
para regular o processo de fissão nuclear. Todo o reator era recoberto por
uma grande e espessa armadura de grafite.

Os quatro reatores usados na usina de Chernobyl foram construídos entre


1970 e 1977 e usavam a grafite como moderador das reações nucleares. A
moderação consistia em desacelerar os nêutrons emitidos
pelas fissões nucleares, tornando-os nêutrons térmicos, de modo que a
energia emitida por eles fosse transferida para a grafite em forma de calor.
Ao entrar em contato com as paredes de grafite, a água também absorve
calor e evapora de forma controlada.

Hoje, entretanto, conhecemos um grave problema relacionado a esse tipo


de reator: eles não são muito seguros quando operam em baixas
potências. Em regimes de baixas potências, a grafite acaba moderando
uma quantidade excessiva de nêutrons, liberando muito calor. Com isso, a
fração de vapor de água no interior do reator aumenta significativamente,
bem como a sua pressão interna. Como o vapor de água não é tão eficiente
quanto a água em estado líquido para refrigerar as células de combustível, a
reação em cadeia é acelerada até que não seja mais possível moderá-la.

Além das peculiaridades dos reatores que utilizam a grafite como


moderador, os reatores de Chernobyl careciam de um dispositivo de
segurança crucial para evitar o vazamento de material nuclear: uma cúpula
de contenção

Causas do desastre
O desastre de Chernobyl foi ocasionado por uma sucessão de erros
humanos e violações de procedimentos de segurança. No dia 25 de abril
de 1986, durante um desligamento de rotina, os técnicos da usina realizaram
um teste no reator Chernobyl 4. O teste consistia em determinar quanto
tempo as turbinas eram capazes de girar após uma queda abrupta de
energia. O teste em questão já havia sido executado no ano anterior, quando
se percebeu que as turbinas haviam parado muito rapidamente. Para
resolver isso, novos dispositivos foram instalados ao longo do ano e
precisavam de testes.

O operador da usina cometeu alguns erros cruciais durante o experimento,


como a desativação do mecanismo de desligamento automático do reator e
o desligamento de quatro das oito bombas de água que o refrigeravam.
Quando o operador percebeu o estado em que o reator encontrava-se, já
era muito tarde. A reação nuclear já estava extremamente instável, e a
quantidade de energia que ele produzia já ultrapassava 100 vezes a sua
potência usual.

Os técnicos da usina decidiram que era necessário bombear


gás xenônio para o interior das varetas que continham as pastilhas com
cerca de 210 toneladas de urânio-235, já que esse gás tem a capacidade
de absorver os nêutrons emitidos pela fissão nuclear. A instalabilidade do
reator tornou impossível o controle da fissão exclusivamente pelo uso
do xenônio. Dessa forma, hastes contendo o elemento boro foram inseridas
manualmente, para frear a emissão de nêutrons, porém, quando inseridas,
as hastes expeliram certo volume de água do reator, consequentemente, a
água restante sobreaqueceu e evaporou, expandindo-se violentamente

Dentro do reator das usinas nucleares, há centenas de hastes, como


as da foto, recheadas de material radioativo.
A pressão produzida pela água foi suficientemente grande para soltar a
placa de cobertura do reator, que pesava nada menos que 1000 toneladas.
Nesse momento, uma grande quantidade de vapor foi responsável por
liberar os produtos da fissão nuclear, como iodo-131, césio-137 e estrôncio-
90 para a atmosfera.

Dois ou três segundos após a primeira explosão, uma segunda explosão


ejetou fragmentos das pastilhas de combustível, bem como grafite
aquecido (cerca de 300 kg de fragmentos de carbono). O núcleo do
reator fundiu-se graças às altíssimas temperaturas e tornou-
se incandescente, dando início a um grande incêndio. Com isso, uma
enorme nuvem de gases altamente contaminados com diversos tipos
de radioisótopos escapou para a atmosfera.

Após a ocorrência da segunda explosão, a metade do reator 4 estava


comprometida. Cerca de 300 toneladas de água foram usadas por hora para
abaixar a temperatura do reator. Entre o segundo e o décimo dia, com a
ajuda de helicópteros, foram despejadas cerca de 5000 toneladas de boro,
dolomita, areia, argila e chumbo sobre o reator incandescente, como uma
tentativa de cessar a emissão de partículas radioativas.

O acidente de Chernobyl liberou cerca de 100 MCi (megaCuries), ou


4.1018 becquerels, dos quais cerca de 2,5 Mci foram de Césio-137 – o maior
acidente radioativo da humanidade. A grandeza becquerel diz respeito à
taxa de desintegração nuclear, ou seja, ela mede o número de decaimentos
que acontecem a cada segundo. Em outras palavras, nas proximidades do
reator 4, ocorriam 4.000.000.000.000.000.000 de desintegrações nucleares
por segundo, dando origem à nuclídeos perigosos como o de Césio, cuja a
meia vida é de cerca de 30 anos.

O que foi feito para conter o acidente?


Estrutura de contenção construída para impedir o vazamento de mais
material radioativo em Chernobyl.**
Logo depois da explosão do reator 4, os bombeiros de Pripyat foram
convocados para apagar o incêndio. Como o trabalho dos bombeiros não
trouxe resultados, decidiu-se jogar materiais, como areia e boro, para conter
o incêndio e diminuir a dispersão do material radioativo.

Apesar da gravidade do acidente, a população de Pripyat só começou a


ser evacuada 36 horas depois da explosão. A cidade, localizada no norte da
atual Ucrânia, contava na época com cerca de 50 mil habitantes, que foram
evacuados em 1200 ônibus enviados pelo governo soviético. A população
da cidade foi orientada a não levar seus pertences e foi informada de que se
tratava de uma evacuação temporária. Os habitantes de Pripyat foram
obrigados a abandonar alimentos e animais domésticos.

Além de realizar a evacuação dos habitantes da região, o governo


soviético criou uma zona de exclusão, a qual incluía locais que
apresentavam alto risco para a presença humana. Com isso, tudo em
um raio de 30 km de distância da usina de Chernobyl foi evacuado.
Por conta do acidente, uma comissão foi criada pelo governo soviético com
o objetivo de conter a dispersão do material radioativo. A escritora
bielorrussa Svetlana Aleksievitch apontou que foram mobilizadas 800 mil
pessoas na contenção dos danos na região de Chernobyl|1|. Soldados,
cientistas, bombeiros, mineiros, operários, entre outros, foram enviados às
pressas para a região.
Os chamados “liquidadores” realizaram diferentes tipos de trabalho na
região de Chernobyl. Alguns trabalhavam acompanhando os níveis de
radiação, mas existiam também aqueles responsáveis em conter a emissão
de mais radioatividade, fazer a limpeza da cidade, enterrar objetos
contaminados, matar animais, realizar a evacuação da população, revirar o
solo etc.

Muitos dos liquidadores enviados para Chernobyl não sabiam do risco que
corriam com o trabalho que realizavam, mas eram incentivados pelo
patriotismo e pelos benefícios oferecidos pelo governo soviético (como
salários acima do padrão da época). Um dos trabalhos mais perigosos era o
de realizar a limpeza do teto da usina, repleto de materiais radioativos que
faziam parte do interior do reator 4.

Os que trabalharam na limpeza do teto da usina ficaram conhecidos como


“biorrobôs”. Por fim, o trabalho de contenção contou com a construção de
uma estrutura que faria a contenção do material radioativo. Essa estrutura
ficou conhecida como sarcófago de Chernobyl e foi construída entre junho
e novembro de 1986.

Em novembro de 2016, uma nova estrutura metálica de confinamento do


reator 4 foi construída pelo governo ucraniano. O novo sarcófago, que
custou mais de dois bilhões de euros, foi construído para suportar
terremotos de baixa intensidade e projetado para funcionar até o final do
século XXI. Ele possui cerca de 7.300 toneladas de metal e 1000 metros
cúbicos de cimento|2|.

Consequências
As consequências do acidente de Chernobyl foram profundas, sobretudo
para três países: Ucrânia, Bielorrússia e Rússia, todas as três antigas
repúblicas da União Soviética. Nas questões políticas, o acidente de
Chernobyl reforçou as medidas do governo de Mikhail Gorbachev (então
presidente da URSS) de realizar o desarmamento nuclear da União
Soviética.

Além disso, o acidente também contribuiu para o fim da União Soviética.


Isso ocorreu porque houve impactos econômicos pesadíssimos para a
União Soviética, uma nação que se arrastava em uma crise econômica
desde a década de 1970 e que viu sua situação agravar-se na década de
1980 com a Guerra do Afeganistão (1979-1989) e o acidente nuclear.

Em questões ambientais, o acidente de Chernobyl foi algo sem precedentes


desde que o homem começou a manipular materiais radioativos. Acredita-
se que de 13% a 30% do material radioativo do reator 4 tenha sido lançado
na atmosfera e, desse material, cerca de 60% dele concentrou-se no
território da Bielorrússia|3|.

A Bielorrússia, por sinal, foi o país mais afetado pelo acidente de Chernobyl.
Cerca de 23% do território bielorrusso foi contaminado e, com isso, o país
perdeu cerca de 264 mil hectares de terras cultiváveis por conta da
radiação. Além disso, ¼ das florestas bielorrussas foram contaminadas e,
atualmente, entre um e dois milhões de pessoas vivem em território
contaminado.

O governo bielorrusso, inclusive, estimou que, entre 1986 e 2016, o prejuízo


econômico causado pelo acidente de Chernobyl foi de, aproximadamente,
235 bilhões de dólares. Somente o governo bielorrusso gastou cerca de 18
bilhões em medidas emergenciais causadas pela disseminação da
radioatividade|4|.

No caso da Ucrânia, 7% de seu território foi afetado; no caso do território


russo, 1,5% foi atingido. O impacto do acidente na economia desses países
foi gigantesco. Até 2006 o governo ucraniano gastava de 5% a 7% do
orçamento do país com despesas relacionados a Chernobyl. Já a
Bielorrússia, somente em 1991, gastou cerca de 22,3% do orçamento do país
com consequências de Chernobyl. Esse número foi reduzido para 6,1% do
orçamento anual em 2002|5|.

As estimativas feitas por cientistas apontam que a região de Chernobyl


deverá permanecer inabitada por até 20 mil anos até que se torne segura
para a habitação humana. Apesar disso, existem evidências que apontam
que algumas pessoas voltaram a morar na chamada “zona de exclusão”.

A cidade de Pripyat, local no qual estava a instalação, foi abandonada e hoje


é uma cidade-fantasma. Passados mais de trinta anos do acidente, as
imagens mostram que a natureza retomou seu espaço na cidade
abandonada. Existem evidências que apontam que a quantidade de animais
presentes na zona de exclusão aumentou consideravelmente por causa da
pequena presença humana.

Outra importante consequência do acidente de Chernobyl foi o aumento da


quantidade de câncer na população ucraniana e bielorrussa,
principalmente. Existem estudos que apontam que, até 2005, cerca de 6 mil
crianças desenvolveram câncer de tireoide em consequência da exposição
à radiação. Existem também evidências que apontam o crescimento na taxa
de doentes por leucemia|6|.

Novos estudos nesse sentido ainda apontaram que a incidência de


câncer de tireoide em crianças aumentou 40 vezes desde a explosão; em
adultos, a taxa aumentou em até 7 vezes|7|. Além das doenças, o impacto
psicológico do acidente foi gigantesco sobre milhares de pessoas que
perderam tudo repentinamente e foram obrigadas a abandonar suas vidas.

Estudos sugerem que, entre aqueles que passaram por eventos


traumáticos (como o acidente de Chernobyl), o índice de ansiedade é maior.
As consequências psicológicas causadas pelo acidente de Chernobyl foram
identificadas como parecidas com as daqueles que passaram por
acontecimentos extremamente traumáticos, como o bombardeio atômico
sobre Hiroshima e Nagasaki.
Milhares de pessoas que estiveram em contato com a radiação foram
beneficiadas com compensações disponibilizadas pelos governos dos
países afetados e hoje recebem pensão especial, ou foram aposentadas por
invalidez, ou recebem tratamento médico especial etc. Os beneficiados
foram:

• Pessoas infectadas que adoeceram pela radiação;

• Liquidadores;

• Pessoas que trabalharam na região de Chernobyl em anos


seguintes;

• Pessoas que permaneceram em áreas contaminadas;

• Pessoas que foram evacuadas das áreas contaminadas.


Até hoje não se sabe a quantidade de pessoas que morreram por conta do
acidente de Chernobyl, e esse é um dos assuntos mais polêmicos quando
se fala do acidente. Entre as estatísticas levantadas, aponta-se que dois
trabalhadores morreram durante a explosão, 29 morreram dias depois do
acidente pela exposição à radiação e outros 18 morreram por doenças
causadas pelo contato com a radiação.

De toda forma, existem estudos que sugerem que, até 2006, cerca de 4 mil
pessoas tenham morrido em consequência do acidente, mas existem
estudos que sugerem números de mortes mais elevados. Alguns estudos
sugerem 9 mil, 16 mil, 60 mil, e existem estudos que apontam que até 90 mil
pessoas possam ter morrido por causa do acidente. A verdade é que nunca
se saberá ao certo quantas pessoas morreram.

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