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LICENCIAMENTO AMBIENTAL PARA INSTALAÇÃO NUCLEAR

4. USINAS NUCLEARES
4. 1. HISTÓRICO MUNDIAL
Nos anos 1940, já era conhecido o potencial da fissão nuclear para a comercialização da
energia (Zohuri & McDaniel, 2021). A descoberta da fissão nuclear (ilustrada na
imagem 1) é datada de 1394, pelo físico Enrico Fermi. Seus experimentos
demonstraram que o bombardeamento de nêutrons poderia dividir diversos átomos. Um
exemplo prático dessa experimentação proposta por Fermi é o bombardeamento do
urânio por rádio e berílio, que surpreendentemente, produz um novo elemento, o bário,
de massa atômica que corresponde à metade do urânio. É importante ressaltar ainda que,
Otto Hahn e Fritz Strassman também contribuíram para as descobertas mais
aprofundadas sobre o fenômeno da fissão nuclear (Feely, 1984).
Figura 1- Ilustração da fissão nuclear

Fonte: (TODAMATÉRIA, 2021)


Entretanto, nada foi substancialmente produzido até 1950 pela ocorrência da Segunda
Guerra Mundial. Em 1953, o atual presidente dos Estados Unidos da América propôs
um programa nuclear e criou diretrizes para a instalação de indústrias nucleares. Logo
mais, em 1957, foi criada a Agência Internacional de Energia Atômica, uma
organização que compõe a Organização das Nações Unidas, com o auxílio dos Estados
Unidos da América para o apoio e incentivo para a produção da energia nuclear no
mundo (Zohuri & McDaniel, 2021).
Em 1960, começou a instalação da usina nuclear de Westinghouse, no estado de
Massachusetts, EUA, possibilitando a evolução de diversos projetos de geração de
energia nuclear em todo o mundo (Zohuri & McDaniel, 2021). A Westinghouse
funciona através do reator de água pressurizada, ou seja, a fissão nuclear do urânio gera
calor que, transforma a água em vapor, esta que por sua vez aciona uma turbina e
produz eletricidade. Tal funcionamento é chamado de PWR.
Outro tipo de usina nuclear que funciona à base de água é a BWR, na qual a água
fervente em razão termodinâmica da transmissão de calor advinda da fissão nuclear do
urânio, e aciona diretamente uma turbina, gerando assim energia elétrica. Esse tipo de
funcionamento foi propriedade da primeira empresa privada de geração de energia
elétrica através das usinas nucleares nos Estados Unidos da América, a Commonwelth
Edison, criada em 1960 (Zohuri & McDaniel, 2021).
Diversas pesquisas que referenciaram as usinas nucleares também foram feitas na então
União Soviética, sendo o primeiro gerador elétrico movido a energia nuclear produzido
em 1954, o AM-1, perto de São Petersburgo, que operava usando o método RBMK. O
AM-1 portanto, é um reator de canais pressurizados resfriado por água, sendo utilizados
canais de grafites para a passagem do combustível utilizado que, no seu caso, é o
plutônio. Esse modelo de usina nuclear oriental foi utilizado como modelo de diversas
outras, incluindo a de Chernobyl. É importante citar ainda que, os soviéticos recriaram
também seus próprios modelos de BRW e PRW (Zohuri & McDaniel, 2021).
O Reino Unido percorreu um caminho diferente, e na década de 1960, produziu O
Magnox 50, um tipo de reator resfriado a gás, e abastecido pelo urânio, tendo como
moderador o grafite. Um moderador é um meio utilizado para diminuir a velocidade dos
nêutrons e favorecer as reações em cadeia. Atualmente, o Reino Unido utiliza reatores
do tipo PRW (Zohuri & McDaniel, 2021).
Na França, o desenvolvimento das usinas nucleares se deu a partir de 1956,
semelhantemente ao projeto Magnox 50, utilizando o gás-grafite como método
operacional. A partir de 1959, no entanto, a França também passou a utilizar reatores do
tipo PWR (Zohuri & McDaniel, 2021).
O tipo de reator nuclear utilizado pelo Canadá na usina conhecida como CANDU, de
1952, era baseado em urânio e água pesada como refrigerador e moderador (Zohuri &
McDaniel, 2021), isto é, água enriquecida com átomos de hidrogênios mais pesados,
pois possuem um nêutron e um próton, denominados deutérios. A única diferença desse
modelo para o PWR é que, o segundo tem por base a água leve, que possui apenas um
próton no núcleo de hidrogênio, sendo este o mais usado no mundo.
Comercialmente, em 1972, entrou em produção o BN-350, um reator rápido de energia
nuclear instalado em Aktau, no Cazaquistão, obra de grandes cientistas e engenheiros,
que visavam a maior utilização desta tecnologia (Zohuri & McDaniel, 2021).
Em 1992, nos Estados Unidos da América, operavam 110 usinas nucleares, a maioria
PRW ou BRW que correspondiam a 22% de toda a matriz energética norte-americana.
Em 2000 o número de usinas caiu para 104, mas ainda era um número expressivo. Em
relação ao mundo, no início do século XXI, estavam em operação 440 usinas nucleares
em todo o mundo, sendo que 65% delas eram PWR, 23% BWR e 10% resfriadas a gás
(Zohuri & McDaniel, 2021).
Atualmente, 16% de toda a energia produzida no mundo advém das usinas nucleares,
sendo que os países mais desenvolvidos e pioneiros na energia nuclear, como EUA,
França, Japão, Coréia do Sul e Rússia correspondem a parte expressiva desse dado
(Zohuri & McDaniel, 2021).
Mesmo que as usinas nucleares sejam amplamente responsáveis por boa parte da matriz
energética mundial, seu desenvolvimento foi conturbado e passou por alguns
retrocessos, através de acidentes graves, como os de Three Mile Island e Chernobyl, que
serviram de lição, aprofundamento tecnológico e de segurança nesse tipo de geração de
energia elétrica (Zohuri & McDaniel, 2021).
O acidente na usina 2 de Three Mile Island, próxima de Harrisburg, no estado da
Pensilvânia, EUA, em 1979 é considerado o mais grave da história da usina nuclear no
país norte-americano e levou ao endurecimento e maior gerenciamento da segurança
nuclear, mesmo que não houve a datação de vítimas. O acidente em TMI-2 foi
desencadeado pela perda de água que abastece o vapor que gira as turbinas. O reator,
portanto, ficou superaquecido, o que levou ao derretimento parcial do combustível,
causando a liberação de xenônio e criptônio gasosos na atmosfera. Esse desastre não
causou danos humanos, mas levou à uma imensa comoção pela conscientização acerca
da segurança nuclear, e à criação do Comitê de Regulamentação Nuclear. Dessa forma,
houve a reformulação completa dos quesitos de segurança e operação da usina nuclear
no geral, bem como testes e controles. Posteriormente, tal postura foi adotada nos
demais países produtores de energia nuclear além dos Estados Unidos da América
(Zohuri & McDaniel, 2021).
Em contrapartida, o acidente nuclear de Chernobyl, em 1986, causou 31 mortes e efeitos
que causaram retardos na saúde de inúmeras pessoas que foram expostas à
radioatividade, além da evacuação local de 135 mil pessoas. O acidente em Chernobyl
foi resultado de erro humano: em um ato de descuido, toda a água do reator evaporou e
o núcleo derreteu-se completamente, causando aumento de pressão e a posterior
explosão, que fez desabar o telhado da usina. Restos radioativos foram liberados e
carregados para diversas regiões pela ação do vento. Lições importantes foram
novamente aprendidas, dentre elas a principal: a segurança da operação de reatores
RBMK, que é o caso de Chernobyl. O próprio design dos reatores RBMK foi motivo do
desastre maior, já que este não possui contenção de detritos, como os reatores de água
leve. Ademais, outra lição foi: a manutenção do coeficiente de vazio positivo, isto é, no
reator de Chernobyl, se o resfriamento for perdido pela falta de água, ele rapidamente
sofrerá aumento de energia, o que torna sua operação mais perigosa e instável. Destarte,
o modelo RBMK é totalmente inviável atualmente pelo conhecimento do desastre de
Chernobyl (Zohuri & McDaniel, 2021).
4.2. HISTÓRICO BRASILEIRO
O histórico nuclear brasileiro tem início na década de 1930, quando foram postuladas as
primeiras pesquisas nesse ramo (CARVALHO, 2012). No entanto, o interesse na
tecnologia nuclear se concretizou em 1945, com o ataque nuclear de Hiroshima (Ribeiro
Kuramoto & Appoloni, 2002).
Em 1956, foi criado o Instituto de Energia Atômica (IEA)

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