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OPINIÃO | UCRÂNIA

O nazismo ucraniano, ontem e hoje – uma trilogia


(I)
José Goulão

POR JOSÉ GOULÃO SEXTA, 27 DE JANEIRO DE 2023

É longo o desfile dos «heróis nacionais» ucranianos proclamados pelos


dirigentes do actual regime e que, directamente ou como colaboracionistas,
fizeram parte do aparelho nazi de extermínio.

Marcha de tochas dos partidos nazis Svoboda and Pravy Sektor, nas imediações do gabinete
do presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, para assinalar o 113.º aniversário do
nascimento de Stepan Bandera. Kiev, 1 de Janeiro de 2022 Anna Marchenko / TASS

1. O decálogo assassino e a «grande democracia»


O maior cego é aquele que não quer ver
(sabedoria popular)

Em Outubro do ano passado, o Parlamento e o presidente da Ucrânia proclamaram


como «herói nacional» ucraniano um indivíduo de nome Miroslav Simchich, que
completou 100 anos neste mês de Janeiro1. Simchich, que morreu no passado dia
18, é uma personagem de culto do regime de Kiev e foi agraciado como figura
militar e pública pelos «seus méritos na formação do Estado ucraniano e pelos
muitos anos de actividade política e social frutuosos».

Miroslav Simchich (Krivonis) é um nazi, um criminoso de guerra. Foi destacado


dirigente da entidade terrorista designada Organização dos Nacionalistas
Ucranianos, mais conhecida por OUN, e do seu braço armado, o Exército
Insurgente da Ucrânia (UPA). Estes grupos tiveram como um dos fundadores e
figura de referência o conhecido colaboracionista nazi Stepan Bandera, nome
identificado como um dos principais dirigentes e proselitista do chamado
«nacionalismo integral» ucraniano, inspiração ideológica dos grupos terroristas de
inspiração nazi que enquadram os actuais governo e Estado ucranianos. O objectivo
contido na palavra de ordem institucional proclamada pela UPA, associado à
doutrinação do nacionalismo integral, era «um Estado ucraniano etnicamente puro
ou morte».

No período a seguir à Segunda Guerra Mundial, Bandera instalou-se na Alemanha


ao serviço do MI6 e da CIA, respectivamente serviços secretos britânicos e norte-
americanos. A reciclagem «democrática» de bandidos nazis foi um método
utilizado pelos Estados Unidos, potências ocidentais2 e, posteriormente, pela
NATO, de uma maneira sistemática e sustentada. Bandera é, como não podia deixar
de ser, «herói nacional» da Ucrânia: estátuas distribuídas por todo o país, marchas
anuais em sua honra, sobretudo em Lviv, romagens oficiais ao seu túmulo;
recentemente, a principal avenida de Kiev foi rebaptizada com o seu nome. Para os
nazis de hoje na Ucrânia, uma das referências míticas é a Divisão Galícia3, unidade
da UPA associada de maneira lendária ao culto actual de Bandera4 que a partir de
19435 lutou ao lado das tropas hitlerianas ocupantes da União Soviética6.
O Oberfuhrer das SS, Fritz Freitag (à esquerda), um fanático nazi directamente envolvido no
assassinato em massa de judeus, saúda os colaboracionistas ucranianos da então recém-formada
14.ª SS Divisão Galícia (1943). Os modernos nacionalistas ucranianos defendem que a unidade não
foi nazi nem apoiou os nazis / Esprit de Corps

Biografia sangrenta de Simchich

Estudar a biografia do criminoso de guerra e novo «herói nacional» da Ucrânia


Miroslav Simchich não é uma tarefa linear, sobretudo através da internet, porque
numerosos sites sobre o assunto, especialmente os relacionados com os massacres
de polacos, judeus, resistentes ucranianos, russos e soviéticos em geral, cometidos
entre 1941 e 1945, estão censurados sob mensagens advertindo que se trata de
«páginas de conteúdo perigoso». Investigar a história, conhecer mais sobre os
pesadelos que encerra pode, ao que parece, fazer mal aos cidadãos.

Abundam, pelo contrário, as informações sobre as


actividades «heróicas» de Simchich contra o Estado
soviético e lamentos sobre os longos anos que passou,
por conta delas, «nos campos de trabalho
bolcheviques».

Há teses e investigações, porém, que escapam à


malha censória, sobretudo os trabalhos que foram
executados por alguns professores norte-americanos
de universidades elitistas da Ivy League, como a de
Yale.

O professor Keith A. Darden, precisamente de Yale,


conversou com Simchich e ouviu-o proclamar que «os
Miroslav Simchich (sentado) numa objectivos nacionais justificavam as formas mais
reunião de veteranos da UPA, extremas de violência e considerável sacrifício»7.
organização paramilitar
nacionalista ucraniana responsável
por massacres étnicos durante a
Entre a Primavera de 1941 e o Verão de 1943, a OUN
Segunda Guerra Mundial / GLUZD (B), organização comandada por Stefan Bandera
depois de uma cisão com a facção Melnik,
considerada «moderada», e a UPA dedicaram-se a uma metódica limpeza étnica
dos polacos das regiões da Volínia e da Galícia Oriental8. Tratava-se de «purificar»,
na perspectiva ucraniana, os territórios soviéticos então sob ocupação alemã e que,
de acordo com as suas previsões e desejos, seriam integrados numa Ucrânia
independente com a vitória da Alemanha Nazi. No primeiro ano da presença alemã
no território ucraniano soviético a OUN exortou os seus membros a participarem
no extermínio de pelo menos 200 mil judeus na região da Volínia. Além disso, criou
a Milícia Popular Ucraniana, que realizou pogroms por sua própria iniciativa e
colaborou com os invasores alemães a prender e executar cidadãos polacos, judeus,
comunistas, soviéticos e resistentes em geral9

Ainda antes do início da Grande Guerra, os nacionalistas integrais da Ucrânia


realizaram frequentes pogroms durante os quais assassinaram dezenas de milhares
de compatriotas com origem judaica.

O massacre de judeus em Lviv, em Julho de 1941, foi antecedido de espancamentos e humilhação


pública, com particular encarniçamento sobre as mulheres. A milícia nacionalista ucraniana
participou nas execuções e incitou a ferocidade da turba, como testemunharam os poucos
sobreviventes. Alguns dos assassinos, como Ivan Kovalishin e Mikhailo Petcharskyi (na foto) foram
reconhecidos / Invissin.ru

Simchich explicou que os participantes nas chacinas não manifestavam quaisquer


remorsos pelos seus actos, apesar de as vítimas serem quase exclusivamente civis –
homens, mulheres e crianças, tanto fazia. Cumpriam, disse, a divisa da OUN
segundo a qual «a nossa única diplomacia é a arma automática»10. Como se
percebe, olhando para o que se passa hoje, há coisas que nunca mudam para as
cliques ucranianas nacionalistas/nazis.
Os terroristas da OUN(B)/UPA guiavam-se pelo decálogo da organização, bastante
elucidativo em termos programáticos. O sétimo mandamento reza assim: «Não
hesitar em cometer o maior crime se o bem da causa assim o exigir». O oitavo
mandamento recomenda que se olhem «os inimigos com ódio e perfídia»; e o
décimo estipula que os ucranianos devem «aspirar a expandir a força, a riqueza e
dimensão do Estado ucraniano mesmo através de meios que transformem os
estrangeiros em escravos».

Transcorreram oitenta anos, mas o tempo não passou por sucessivas gerações de
nacionalistas integrais ucranianos até à actual. Consultemos a lei dos povos
indígenas promulgada há um ano pelo presidente Volodymyr Zelensky, herói de
todo o Ocidente, e ali se inscreve a discriminação e a recusa de direitos aos não-
ucranianos, como por exemplo o ensino e o uso das línguas pátrias e a proibição de
meios de comunicação nesses idiomas. Nos termos da mesma lei, só os cidadãos
considerados ucranianos «têm o direito de desfrutar plenamente de todos os
direitos humanos e de todas as liberdades fundamentais».11

As crianças são formadas, desde tenra idade, no espírito segregacionista e xenófobo


dessa lei; nos livros escolares oficiais ensina-se, por exemplo, que «os russos são
sub-humanos».

Identificação de vítimas de um massacre da OUN-UPA, antes do seu funeral. Lipniki, concelho de


Kostomyl, distrito de Lutz, região de Volínia, Ucrânia, Março de 1943. Fonte: Lughistory.ru

Miroslav Simchich [Krivonis], orgulha-se de ter sido pessoa destacada nos


massacres de 1941 a 1943, comandando as unidades que dizimaram as aldeias
polacas de Pistyn e Troitsa12 13 e ordenando pessoalmente o assassínio de mais de
cem pessoas entre polacos, judeus e ucranianos. O cariz da OUN(B)/UPA,
organização da qual se consideram herdeiros os vários grupos nazis que controlam
o actual governo de Kiev, pode avaliar-se também pelo facto de entre os ucranianos
dizimados estarem não apenas resistentes ao nazismo, mas também membros da
facção dissidente de Melnik, OUN(M), mais inclinada para negociações e alinhada
ideologicamente com o fascismo italiano.

Mais de cem mil polacos da Volínia, Galícia Ocidental e até de Kiev foram
chacinados entre 1941 e 1944 em consequência da colaboração íntima operacional
entre as tropas de assalto nazis envolvidas na invasão da União Soviética e as
organizações de inspiração banderista/nacionalismo integral. Com eles foram
assassinados ainda dezenas de milhares de judeus, resistentes ucranianos, cidadãos
soviéticos, húngaros, romenos, ciganos, checos e de outras nacionalidades que
manchavam a «pureza» nacional ucraniana.

No «domingo sangrento», 11 de Junho de 1941, unidades da OUN arrasaram cerca


de 100 aldeias polacas da Volínia, incendiaram as casas e assassinaram pelo menos
oito mil pessoas – homens, mulheres e crianças. Os ocupantes alemães receberam
ordens para não intervir; porém, oficiais e soldados das tropas nazis forneceram
armas e outros instrumentos para o massacre em troca da partilha do saque.

Outro dos acontecimentos mais sangrentos desta limpeza étnica foi o massacre de
Babi Yar, em 29 e 30 de Setembro de 1941, no qual mais de 30 mil judeus,
prisioneiros de guerra e resistentes soviéticos foram fuzilados num desfiladeiro
então nos arredores de Kiev por acção conjunta das Waffen SS e de grupos
nazis/nacionalistas que afirmavam defender a independência do seu país.

Duzentos mil polacos fugiram para regiões mais a Ocidente logo no início das
matanças; oitocentos mil seguiram posteriormente o mesmo caminho,
aterrorizados pela cadência e a crueldade das operações, na sequência das quais
nada restava dos agregados populacionais invadidos, incendiados e saqueados.

O número de cem mil mortos é calculado pelo Instituto de Memória Nacional da


Polónia, ciente de que a organização de Bandera decidiu, em Fevereiro de 1943,
expulsar todos os polacos da Volínia para obter «um território absolutamente
puro».
Reprodução da confissão de um banderista que confirma o papel de Simchich (aliás, «Kryvonis»)
nos assassinatos cometidos em Pistyn, na região de Volínia, Ucrânia (s/d)

Pelo que o colaboracionismo absoluto da Polónia de hoje com um regime que tem
as suas raízes nestas práticas genocidas é um insulto à memória de todos os
cidadãos polacos e de outras nacionalidades vítimas desta limpeza étnica. Escrevem
autores norte-americanos com investigações dedicadas a estes acontecimentos que
a partir de Março de 1943 «unidades da UPA montaram um esforço concertado
para aniquilar as populações polacas da Volínia e depois da Galícia Oriental».
Nessa vertigem de morte nem os cidadãos polacos que pretendiam negociar foram
poupados, logo assassinados a sangue-frio.

A UPA foi oficialmente fundada em 14 de Outubro de 1942. Muito


significativamente, 14 de Outubro tornou-se o dia das Forças Armadas na actual
Ucrânia «democrática».

Perguntaram ao «herói nacional» da Ucrânia Miroslav Simchich quantos russos


matou ao longo da vida, ao que ele respondeu: «tantos quanto o tempo que tive
para isso». Hoje, aquele que ficou conhecido como «o maior carrasco de polacos
vivo», é «cidadão honorário» de Lviv e de Kolomyia, a terra da sua naturalidade,
onde tem uma estátua com três metros de altura. Em 2009, o regime de Kiev, ainda
mesmo antes do golpe de Maidan, dedicou-lhe o filme «heróico-patriótico»
intitulado A Guerra de Miroslav Simchich. Note-se que os Estados Unidos e a
Alemanha Federal recorreram no pós-guerra à experiência de Bandera e dos seus
sequazes para efeitos de guerra fria. O habitual.

O ovo da serpente

O escritor e crítico literário Dmytro Dontsov14 é considerado o pai do nacionalismo


integral «de características ucranianas», aparentado – mas único – com o
movimento integralista que percorreu a Europa a partir da segunda década do
século XX. Conviveu com o francês Charles Maurras, que terá figurado entre os
inspiradores do ditador Oliveira Salazar, seguindo depois cada um o seu caminho
embora coincidindo ideologicamente no essencial: Maurras identificou-se com o
colaboracionismo hitleriano do governo pétainista de Vichy e Dontsov instalou-se
temporariamente na Alemanha de Hitler: o ovo do nacionalismo integral ucraniano
desenvolveu-se na serpente do nazismo, complementaridade que se tornou
marcante até hoje. Grupos que controlam o actual governo da Ucrânia, como o
Azov, o Aidar, o C-14, Svoboda, Sector de Direita e outros, com as respectivas
milícias paramilitares e unidades integradas nas Forças Armadas regulares do país,
consideram-se herdeiros da linha ideológica fundamentalista traçada por Dontsov e
Bandera, miscigenando o nacionalismo integral com o nazismo, circunstância que
se tornou operacional através das chacinas étnicas em território polaco-ucraniano a
partir do início da invasão da União Soviética pelas tropas hitlerianas.

A ambição de uma Ucrânia com uma população


«pura» e «homogénea» não se extinguiu nos dias de
hoje, como é patente pelas operações de limpeza
étnica e genocídio da minoria russa da região do
Donbass desencadeada após a chamada «revolução
de Maidan» em 2014; a qual, segundo o chefe do
grupo C-14, Yehven Karas, não teria passado «de uma
parada gay» se não fosse o envolvimento das
organizações de inspiração nazi como a sua. Uma
carnificina afinal contra um povo «não-indígena» –
respeitando a terminologia da legislação de Zelensky
– que só foi travada com a intervenção das forças
militares da Federação Russa a partir de 24 de
Dmytro Dontsov (1883-1973), um
antigo socialista que se tornou um Fevereiro de 2022. Citando o vice-primeiro-ministro
admirador de Mussolini e de Hitler. ucraniano Alexey Reznikov, «povos indígenas e
Foi o teórico do nacionalismo
integrista ucraniano, anti-judaico, minorias nacionais não são a mesma coisa». Dito de
anti-maçónico, anti-polaco, anti- outra maneira: nos termos da lei, perante qualquer
russo e anti-comunista
/ Wikimedia Commons
tribunal, os não-ucranianos não podem invocar «o
direito de usufruir plenamente de todos os direitos
humanos e todas as liberdades fundamentais». Em
resumo, racismo, apartheid institucionalizado no regime mais querido dos Estados
Unidos e dos governos e instituições autocráticas da União Europeia. Exceptuando
talvez Israel onde – sem ser coincidência – o apartheid também floresce.

Dontsov tinha um ódio obsessivo por judeus e ciganos e fez com que essa tendência
marcasse a fundação da OUN, que resultou da fusão dos grupos nacionalistas
integrais de Stepan Bandera com a União dos Fascistas Ucranianos. A corrente
nacionalista integral ucraniana baseava-se, como algumas outras, na deificação da
nação, no tridente hierarquia, sangue e disciplina e na estratificação horizontal da
sociedade entre nativos e não-nativos. Onde teria ido Volodymir Zelensky definir os
parâmetros da sua actualíssima lei dos povos indígenas? Tal como hoje se aprende
nas escolas do regime de Kiev, Dontsov ensinou no seu livro Nacionalismo, de
1926, que «os russos não pertencem à espécie de Homo Sapiens».

A «pureza», segundo Dontsov


Dmytro Dontsov foi buscar as suas teses sobre as
origens do povo ucraniano «puro» à entrada dos
varegues, um povo viking então oriundo da Suécia,
nos territórios das actuais Ucrânia, Rússia e
Bielorrússia no fim do século IX. Deslocaram-se
através dos rios da Europa Oriental, fundaram a
cidade de Novgorod – na Rússia – e depois o Reino
de Kiev. Os verdadeiros ucranianos teriam assim uma
origem nórdica e não eslava.

O povo varegue era conhecido também como rus,


termo que terá dado origem às palavras russo e
Rússia. Rus vem, ao que parece, de linguagens
nórdicas antigas e ainda hoje significa «Suécia» em
Capa do livro Nacionalismo (1926), alguns países da região como Estónia e Finlândia.
de Dmytro Dontsov, em que este
desenvolve o conceito de
Na sua obra, Dontsov associa a «pureza» ucraniana
nacionalismo integral
/ Wikimedia Commons aos nórdicos e protogermânicos e à sua suposta
superioridade rácica sobre os eslavos, sobretudo os
eslavos orientais ou «pretos da neve», em linguagem pejorativa – os russos.

Combater a Rússia, segundo o pai do nacionalismo integral ucraniano, «é um papel


histórico que estamos destinados a desempenhar». Ideia que pormenorizou em
1961 quando, exilado no Canadá, publicou a sua obra O Espírito da Rússia: «O
Ocidente, tanto nas Primeira e Segunda Guerras Mundiais, como hoje, não
percebeu realmente o que é a Rússia como império, os venenos, destruição moral e
cultural que carrega». Seis anos depois envolveu a ideia num espírito místico-
religioso ao escrever que «os ucranianos são criados do barro com que o Senhor
cria os povos escolhidos». Fervor que levou a actual deputada Irina Farion, do
partido do presidente Zelensky, a declarar que «viemos a este mundo para destruir
Moscovo». À direita da deputada oradora pode ver-se o assumido nazi Oleh
Tyahnybok. Repare-se que, afinal, o problema não é Putin ou o regime político em
Moscovo, qualquer que ele seja; o problema é a existência da Rússia e dos russos. O
que deixa o Ocidente envolvido numa cruzada étnica, o que aliás é coerente com a
sua História.

De acordo com a teorização de Dontsov, no ocaso da dinastia de Rurique, monarca


varegue que fundou o Reino de Kiev, o povo de origem nórdica foi escravizado pelos
russos. De onde poderá deduzir-se que, para os nacionalistas integrais ucranianos,
há uma necessidade de vingança contra a Rússia que atravessou séculos de história
e está em curso, por exemplo, com a tentativa de limpeza étnica no Donbass.
Para Dontsov o combate à Rússia é o «Ideal
«Há uma ligação Nacional», terminologia adoptada pela rede de
ideológica directa grupos nazis que controla o aparelho de Estado.
entre o regime do Utilizam o símbolo nazi Wolfsangel de forma
III Reich, as invertida, explicam, porque essa posição expressa
organizações e os visualmente as letras I e N de «Ideal Nacional». O
dirigentes facto de a simbologia dos grupos ucranianos coincidir
com a nazi tem essencialmente a ver, na sua
ucranianos que se
argumentação, com o facto de ambas as partes terem
inseriram ou
recorrido a imagens de vigor, valentia e identidade,
colaboraram com
originariamente nórdicas e vikings.
ele e os
comportamentos e A guerra contra os russos vivendo no território
actividades ucraniano, principalmente no Donbass, iniciada em
termos militares em 2014, será, portanto, uma
actuais dos grupos
expressão do «Ideal Nacional» que tem a sua génese
que se dizem
na afirmação da superioridade dos autóctones
herdeiros
nórdicos sobre os «ocupantes internos» eslavos,
daqueles que há sobretudo orientais – «sub-humanos».
oitenta anos
A utilização do termo nazi para os grupos
foram
nacionalistas integrais ucranianos que sustentam o
instrumentos das
regime de Kiev parece bastante mais apropriada às
forças
circunstâncias do que o de neonazi15. Há uma ligação
hitlerianas» ideológica directa entre o regime do III Reich, as
organizações e os dirigentes ucranianos que se
inseriram ou colaboraram com ele e os comportamentos e actividades actuais dos
grupos que se dizem herdeiros daqueles que há oitenta anos foram instrumentos
das forças hitlerianas. Existe uma herança em linha recta: não há inovação, há
continuidade. Então no que diz respeito à «pureza da raça» a sobreposição é
absoluta, os conceitos do regime de Kiev, expressos claramente na lei dos povos
indígenas de Zelensky, nada trazem de novo ao nazismo.
O tridente e a suástica num desfile em Lviv, durante a Segunda Guerra Mundial / Foto Koshkin

O primeiro «governo ucraniano» e o actual

Em Berlim, Dmytro Dontsov ganhou proximidade com o número três do Reich,


Reinhard Heydrich, chefe das SS e da Gestapo. Tornou-se então administrador do
Instituto Imperial para a Investigação Científica em Praga quando este dignitário
nazi assumiu o cargo de «protector da Boémia e da Morávia».16 Estes factos são
confirmados por uma investigação conduzida pelo professor Trevor Erlacher, da
universidade norte-americana da Carolina do Norte.

Reinhard Heydrich, responsável pelo todo poderoso Gabinete Central de segurança


do Reich, que superintendia o aparelho repressivo nazi, foi o principal organizador
da Conferência de Wansee, em 20 de Janeiro de 1942, durante a qual as mais
elevadas estruturas do Reich planearam a «solução final», o extermínio dos judeus.

Em 30 de Junho de 1941, sob a cobertura das tropas nazis que ocupavam Lviv, a
OUN proclamou na varanda do n.º 10 da Praça Rynek, nesta cidade, a criação do de
um Estado ucraniano independente.

De acordo com as orientações de Stepan Bandera, o Estado assim fundado


assentava no conceito de nacionalismo integral, numa população etnicamente pura,
numa língua única, na glorificação da violência e da luta armada. A estrutura
orgânica previa o totalitarismo, o partido único e um funcionamento ditatorial.

Como presidente do «Conselho de Estado», cargo equivalente ao de primeiro-


ministro, foi designado Yaroslav Stetsko, então o chefe operacional da OUN.

Stetsko era um nazi e, segundo a ordem natural das


coisas, é hoje «herói nacional» da Ucrânia. Se dúvidas
houvesse quanto à sua obediência ideológica, no
«Acto de Proclamação do Estado Ucrânia» Stetsko
declarou solenemente que a nova entidade
«cooperará intimamente com a Grande Alemanha
Nacional-Socialista sob o comando de Adolph Hitler,
que está a criar uma nova ordem na Europa e no
Mundo».

Uma das primeiras iniciativas do primeiro primeiro-


ministro ucraniano foi o envio de uma carta a Hitler,
em 3 de Julho de 1941, expressando a sua «gratidão e
Cartaz da UPA com o slogan «Slava admiração» pelo início da ofensiva alemã contra a
Ukraina, Geroiam Slava», o mesmo União Soviética. Pouco depois, em Agosto do mesmo
que era usado pelos
colaboracionistas dos Nazes ano, enviou uma espécie de «currículo» às
autoridades alemãs elogiando o antissemitismo,
apoiando o extermínio dos judeus e a «racionalidade»
dos métodos de extermínio contraposta à assimilação17.

A Academia das Ciências da Ucrânia revela que Stetsko e outros chefes da OUN
prepararam acções de sabotagem contra a União Soviética juntamente com os
chefes da espionagem alemã, receberam pelo menos 2,5 milhões de marcos para
esse efeito e utilizaram aviões do Reich para o desenvolvimento das operações de
que foram encarregados pelos nazis.

Stetsko tornou-se mais tarde um activo da CIA e até 1986, ano da sua morte,
chefiou o Bloco das Nações Anti Bolcheviques, depois Organização Anticomunista
Mundial.

Para o regime actual de Kiev, a «restauração» do Estado ucraniano, 50 anos depois,


só foi tornada possível devido à proclamação de Lviv e a respectiva «ordem
nacional» por ela estabelecida.

Yaroslav Stetsko é autor do livro Duas Revoluções, o referencial ideológico do


partido Svoboda e de outras organizações de inspiração nazi que dominam a
estrutura estatal nominalmente chefiada por Zelensky.

O primeiro primeiro-ministro ucraniano tem hoje


«Para a uma placa de homenagem numa praça de Munique,
autocracia inaugurada pelo presidente ucraniano «pró-europeu»
europeia o Viktor Yushenko. Antes disso, em 6 de Maio de 1995,
baptismo das o primeiro presidente da Ucrânia actual, Leonid
principais ruas das Kuchma, homenageou o colaboracionista nazi em
cidades Munique e deslocou-se às instalações da CIA nesta

ucranianas com os cidade – onde Stepan Bandera trabalhou durante a


década de cinquenta – para visitar a viúva de
nomes de
Yaroslav Stetsko, Slava Stetsko. Foi um encontro de
criminosos de
cortesia e de trabalho: traduziu-se na integração na
guerra como Constituição ucraniana de uma formulação racista de
Bandera, Stetsko e índole nazi – artigo 16.º – segundo a qual «preservar
Shukhevych, a o património genético do povo ucraniano é da
proliferação de responsabilidade do Estado». Data dessa ocasião, e
estátuas em sua também por iniciativa da viúva de Stetsko, a
honra são recuperação e institucionalização nacional do grito
situações banais «Slava Ukraina, Geroiam Slava», o mesmo que era
que casam muito usado pelas organizações de Bandera.

bem com a Slava Stetsko foi convidada para proferir os discursos


democracia e a de abertura dos trabalhos do Parlamento Ucraniano
civilização (Rada) nas sessões de 1998 e 2002. Como se percebe,
ocidental» isto aconteceu ainda muito antes da «revolução de
Maidan», o que revela a profundidade das raízes do
nacionalismo integral/nazismo no moderno Estado
ucraniano.

Desfile de «heróis nacionais» nazis

É longo o desfile dos «heróis nacionais» ucranianos proclamados pelos dirigentes


do actual regime e que, directamente ou como colaboracionistas, fizeram parte do
aparelho nazi de extermínio, sobretudo desde o início da Operação Barbarossa das
tropas hitlerianas contra a União Soviética.

Nem sempre as cliques dirigentes ocidentais e a própria oligocracia europeia


aceitaram com bonomia estas promoções de exterminadores a «heróis»
promovidas por uma «democracia» com a qual a NATO afirma ter «valores
comuns».

Quando o presidente Yushenko declarou Stepan Bandera como «herói nacional»,


em 22 de Junho de 2010, o Parlamento Europeu insurgiu-se. Parecia excessivo
agraciar o inspirador da Divisão Galícia18, parte das forças armadas hitlerianas
responsável por extermínios em massa; não parecia de bom tom endeusar alguém
que assassinou em nome da «pureza da raça» e dedicou anos da sua vida a
«expurgar» o território da pátria de «todos os não-ucranianos» e judeus. Não, isso
não poderia o Parlamento Europeu sancionar.

Desde 2014 que alastram na Ucrânia os monumentos e outros locais de memória a antigos
colaboradores nazis que participaram no extermínio de judeus, polacos e soviéticos / Forward

Mas tudo acabou por passar sem que nada de palpável acontecesse. Os deputados
das maiorias socialistas e das direitas festejaram depois o golpe da Praça Maidan,
encaram tranquilamente as marchas anuais em Lviv e outras cidades celebrando o
aniversário de Bandera, aceitam como «resistentes patrióticos» os bandidos nazis,
por exemplo o Batalhão Azov, que sequestram populações civis como escudos
humanos, que fuzilam soldados ucranianos ambicionando salvar a vida perante a
superioridade militar russa, que veneram Stepan Bandera e se orgulham de ter no
terrorismo da OUN e da UPA as suas fontes de inspiração. Para a autocracia
europeia o baptismo das principais ruas das cidades ucranianas com os nomes de
criminosos de guerra como Bandera, Stetsko e Shukhevych, a proliferação de
estátuas em sua honra são situações banais que casam muito bem com a
democracia e a civilização ocidental. Citando de novo a NATO: «A Ucrânia é uma
grande democracia».

José Goulão, exclusivo AbrilAbril

O presente artigo é o primeiro da série «O nazismo ucraniano, ontem e hoje – uma


trilogia».

1. Por ocasião do seu 100.º aniversário, a 5 de Janeiro de 2023, Miroslav Simchich ofereceu a Volodymyr Zelensky, que
considera «um valoroso sucessor», «um sabre centenário» e «livros autografados sobre a história da UPA». As autoridades
ucranianas retribuíram o gesto do incorrigível nazi atribuindo-lhe um subsídio de um milhão de hryvnias. O filho mais velho de
Simchich, Ihor, combateu na região da Zaporíjia pelo Batalhão Azov.
2. O Canadá foi o país que, a seguir aos EUA, acolheu o maior número de colaboracionistas ucranianos de Hitler. Sobre o
branqueamento dos antigos SS e a tentativa de reescrever a história a seu favor veja-se o site militar canadiano Esprit de
Corps.
3. A 14.ª Waffen SS Divisão de Granadeiros (1.ª Galícia), conhecida como Divisão SS Galícia, foi constituída em Abril de 1943 por
nazis ucranianos, sobretudo provenientes da região da Galícia (Lviv, Ivano-Frankivsk e Ternopil), que Himmler considerava
«mais próximos dos arianos», devido à sua origem no Império Austro-Húngaro. Entre 1943 e 1945 mais de 20 mil ucranianos
integraram a Divisão SS Galícia. As Waffen SS (abreviatura de SchutzStaffel), à letra «esquadrões de protecção armados»,
foram unidades militares do Partido Nazi, directamente controladas por este. Inicialmente compostas exclusivamente por
alemães, com o desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial foram alargadas a voluntários nazis de outras nacionalidades.
Distinguiram-se pelas atrocidades e crimes de guerra que praticaram, em operações militares ou de polícia. Foram
condenadas no Tribunal de Nuremberga.
4. Sobre a personalidade e o mito de Bandera ver: Grzegorz Rossoliński-Liebe, Stepan Bandera: The Life and Afterlife of a Ukrainian
Nationalist: Fascism, Genocide, and Cult, 654 p. (Hannover: ibidem Press 2014); e Per Anders Rudling, «The OUN, the UPA and
the Holocaust: A Study in the Manufacturing of Historical Myths», in The Carl Beck Papers in Russian & East European
Studies, n.º 2107/Novembro 2011 (University of Pittsburgh, PA).
5. A Divisão SS Galícia foi a maior mas não foi a primeira colaboração militar dos nacionalistas ucranianos com os alemães.
Desde o início da Segunda Guerra que participaram em unidades especiais, dirigidas e pagas pelos serviços secretos nazis. Os
batalhões Nachtigall e Roland foram formados a 25 de Fevereiro de 1941 com 400 combatentes cada, após conversações
directas entre Stepan Bandera e as chefias nazis. Uma semana após a invasão, Bandera e a OUN-B proclamavam a
independência da Ucrânia e prometiam a cooperação do novo Estado ucraniano com a Alemanha Nazi, terminando a
mensagem com um «Glória à Alemanha heróica e ao seu Führer, Adolf Hitler». À declaração seguiram-se violentos pogroms.
6. Em Dezembro de 2022 o Supremo Tribunal da Ucrânia descriminalizou os símbolos da Divisão Galícia «de uma forma
definitiva e sem direito a apelo», alegando que os mesmo nada têm a ver com o nazismo. A decisão contraria a sentença
proferida em 1946 pelo Tribunal de Nuremberga, que estabeleceu a culpabilidade daquela unidade militar por diversos
crimes de guerra. Põe também fim à corajosa acção iniciada em 2017 pela destemida cidadã de Kiev, Natalya Myasnikova,
contra o Instituto da Memória Nacional da Ucrânia e o seu director Volodymyr Vyatrovich, acusando-os de «distorcer factos
históricos» e de branquear o fascismo, ao negarem o carácter nazi da Divisão Galícia. Em 27 de Maio de 2020, após 20
audições, o Tribunal Administrativo do Distrito de Kiev considerou pertinente a reclamação de Myasnikova, classificou os
símbolos da Galícia como nazis e, portanto, ilegais. Foi sol de pouca dura. Quatro meses depois, o Tribunal da Relação de Kiev
cancelou a decisão. O veredicto, veio a saber-se, foi pronunciado em circunstâncias reveladoras da qualidade democrática do
regime ucraniano: dois dos três juízes, Elena Kuzmishina e Natalya Buzhak, confirmaram terem sido previamente ameaçadas.
Segundo declararam à polícia, «patriotas» anónimos acusaram-nas de «serem cúmplices dos separatistas putinistas e dos seus
lacaios no poder» e prometeram puni-los caso a decisão do tribunal administrativo não fosse revertida. Na Ucrânia, tais
ameaças são levadas muito a sério.
7. Darden, Keith. «Resisting Occupation: Lessons from a Natural Experiment in Carpathian Ukraine», palestra no Kennan
Institute, Woodrow Wilson International Center for Scholars, Washington DC, 9 de Abril de 2007.
8. Katchanovski, Ivan. «Ethnic Cleansing, Genocide or Ukrainian-Polish War in Volhynia?» (27 de Agosto de 2020). Artigo
preparado para apresentação no Encontro Anual da American Political Science Association, 10-13 de Setembro de 20201.
9. Os discípulos de Dontsov e Bandera e as multidões por eles inspiradas, quando à rédea solta, comportaram-se como
verdadeiros psicopatas, em nada ficando a dever, em imaginação, aos piores sonhos de Sade: «[…] os partisans ucranianos e os
seus aliados [é assim que o autor designa os partidários de Bandera e os alemães] queimaram casas, dispararam sobre as
pessoas ou obrigaram-nas a voltar para dentro, e usaram foices e forquilhas as que foram capturadas no exterior. Igrejas
cheias de crentes foram totalmente queimadas. Os partisans expuseram corpos decapitados, crucificados, desmembrados ou
esventrados, para encoragar os polacos sobreviventes a fugir.». Ver Snyder, Timothy. The Reconstruction of Nations Poland,
Ukraine, Lithuania, Belarus, 1569–1999, Yale University Press (New Haven, London, 2003), p. 169. Um site antifascista russo
documentou o primeiro pogrom em Lviv (1941) e vários massacres na Volínia (1943), incluindo a reconstituição polaca de
várias formas de assassinato usadas pelos nacionalistas ucranianos. Um autêntico catálogo de horrores.
10. Em russo e ucraniano a frase é expressiva: «Наш дипломат это автомат» (lê-se «nách diplomát éta avtomát»).
11. O texto da lei define como «povo indígena da Ucrânia» uma entidade étnica minoritária, formada no território da Ucrânia e
que não tenha uma entidade estatal própria além fronteiras. A definição é feita com régua e esquadro para excluir os milhões
de cidadãos da comunidade russa, mesmo que esta seja maioritária em várias regiões do país. Para que não restem dúvidas,
um anexo da lei clarifica que apenas podem considerar-se povos autóctones os tártaros da Crimeia, os Karaims e os
Krymchaks – os dois últimos não chegam a mil habitantes. O responsável russo da Crimeia, Serguei Aksenov, comentando o
documento, declarou que nos sete anos de ligação da península à Rússia foi feito mais do que nos 23 anos em que a mesma
esteve ligada à Ucrânia. E lembrou a constituição da Crimeia, que garante direitos iguais às línguas russa, ucraniana e tártara,
sublinhando a diferença «entre uma política nacional responsável e politiquice». A deputada arménia Naira Zohrabyan,
membro da delegação do seu país ao PACE, considerou que a nova lei «oprime os direitos das minorias nacionais que vivem
no território» da Ucrânia, nomeadamente russos, húngaros, polacos, romenos, bielorrussos, eslovacos e gregos, e solidarizou-
se com o projecto da delegação russa a respeito dessas violações de direitos humanos. A lei de 2021, antecedida pela lei da
Língua Ucraniana como Língua do Estado (2019) e pela lei Sobre os Fundamentos da Política Linguística do Estado (2012), foi
o último prego no caixão de um edifício legislativo criado para liquidar a democrática Declaração dos Direitos das
Nacionalidades da Ucrânia (1991), a qual, «tomando em consideração que cidadãos de mais de 100 nacionalidades vivem no
território da Ucrânia, os quais, com os ucranianos, integram os mais de 52 milhões de pessoas» que constituem o país,
garantia expressamente o estatuto da língua russa, equiparada a uma língua estatal nas comunidades territoriais onde o seu
uso era predominante.
12. As localidades de Pristyn e Troitza ficam na região de Ivano Frankivsk. A atribuição do título de herói a Simchich despertou a
memória dos massacres que dirigiu e nos quais directamente participou. Fontes russas publicaram a descrição dos crimes e
incluíram fac-símiles dos depoimentos das testemunhas.
13. Eduard Dolinsky, que vive em Kiev e se encontra à frente do Comité Judaico da Ucrânia, está em perigo por denunciar
corajosamente a recuperação do nazismo na actual Ucrânia e o aberto antisemitismo reinante, que os meios de informação
ocidentais ocultam. Tem sido ameaçado de morte e faz parte da lista negra do site Mitrodvorets. A sua descrição na Wikipédia
ucraniana é significativa.
14. A biografia de Dontsov na Wikipédia, seja em inglês ou em português, está convenientemente «higienizada» quanto ao seu
relacionamento com o nazismo. Será preciso traduzir entradas noutras línguas para esclarecer esse ponto: «Com a chegada
de Benito Mussolini ao poder em Itália, Dmitry Dontsov é imbuído da sua política, admira-o pessoalmente. Sob a influência
das ideias fascistas Oeste-Europeias escreve e publica o livro Nacionalismo, no qual esboçou a teoria do nacionalismo integral
que, por sua vez, foi aceite como a ideologia oficial da Organização de Ucranianos Nacionalistas (OUN). «A subida ao poder do
Partido Nazi na Alemanha mereceu a sua aprovação. Escreve um prefácio para o livro Hitler, de Rostyslav Yendyk, em que fala
da grande relevância do hitlerismo para os ucranianos». Ver Wikipédia em russo.
15. Os actuais discípulos de Dontsov, tal como ele, só não se declaram fascistas ou nazis para garantir a singularidade do
movimento ucraniano, mas é fascista e nazi a essência da sua visão para a sociedade ucraniana. O historiador Rossoliński-
Liebe assinalou que «In the early 1920s, Dontsov also rejected “fascism” as a name for the Ukrainian movement, because the
Italians had used it already. Nevertheless, he approved of and was enthusiastic about fascism as a political system and was
pleased that Italian Fascism was so similar to Ukrainian nationalism.39». E quanto à identificação do pai espiritual dos actuais
nazis com Mussolini e Hitler, escreveu: «Dontsov’s fascination with fascism and fascist leaders began with his admiration of
Italian Fascism and Benito Mussolini, but the ideal of a fascist state and a fascist leader for him were Nazi Germany and Adolf
Hitler. Already in 1926, Dontsov translated into Ukrainian and published parts of Hitler’s Mein Kampf. When Mussolini’s The
Doctrine of Fascism (La Dottrina Del Fascismo) appeared in 1932, he translated and published it as well.» Rossoliński-Liebe,
Grzegorz. «The Fascist Kernel of Ukrainian Genocidal Nationalism», in The Carl Beck Papers in Russian & East European
Studies, n.º 2402/June 2015 (University of Pittsburgh, PA).
16. Após o assassinato de Heydrich pela resistência, em sua homenagem, a instituição passou a designar-se Instituto Reinhard
Heydrich. Trevor Erlacher, Ukrainian Nationalism in the Age of Extremes: An Intellectual Biography of Dmytro Dontsov, Harvard
University Press (2021), p. 388.
17. Stetsko não esperou pelos alemães para pôr em prática o extermínio de judeus. Uma «multidão carnavalesca» – como lhe
chamou o historiador John-Paul Himka – incitada pelos nacionalistas ucranianos liquidou, nesse mês de Julho de 1941, cerca
de 9 mil vidas. Três anos depois, quando os nazis alemães e os seus cúmplices ucranianos foram escorraçados, subsistiam
apenas mil dos 160 mil judeus do ghetto de Lviv. Himka, John-Paul. «The Lviv Pogrom of 1941: The Germans, Ukrainian
Nationalists, and the Carnival Crowd». Canadian Slavonic Papers, vol. 53, n.º 2-4, McGill University (Montreal, 2011), p. 209-
243.
18. Desfile da Divisão SS Galícia perante dignatários nazis, no dia da sua apresentação pública, em Lviv, no ano de 1943.

TÓPICO

Ucrânia

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