IMIGRAÇÃO INTELECTUAL DURANTE O PERÍODO DOS REGIMES FASCISTAS EUROPEUS (1933 – 1945)
Desde 1925, quando Mussolini se declarou ditador até 1945 com a
queda de Berlim, a Europa foi assolada pelos regimes fascistas. Durante esses anos o programa fascista foi instaurado e seguido na maior parte do continente, no qual foram desenhados e efetivados uma série de crimes contra a Humanidade. As perseguições, os massacres, o genocídio, o obscurantismo, os cultos a violência, e a tortura são alguns dos crimes perpetrados pelos fascistas que tiveram consequências graves para o gênero humano e que ecoam até hoje no presente.
Para entendermos a fuga de cérebros da Europa para o Mundo, viz.
Estados Unidos e URSS, é necessário conceituar o quadro intelectual que já se encontrava estabelecido, quais eram seus sujeitos constituintes e como esses sujeitos se enquadraram no regime fascista. O foco do trabalho será no caso da intelectualidade alemã nos anos de 1930 e 1940, considerando os casos de Walter Benjamin e dos cientistas atômicos que trabalhavam nas universidades alemãs durante a ascensão do regime.
Com a instauração do nazifascismo na Alemanha tendo o ponto de
realização na ascensão de Hitler como o fuhrer da nação, o programa nazifascista agora podia se efetivar dentro do Estado, e então a partir deste se irradiar pela sociedade. A violência e a perseguição de determinados grupos sociais foi sistematizada a partir do Estado, judeus, comunistas, homossexuais, eslavos, ciganos e outros grupos começaram a ser perseguidos e executados sistematicamente em uma política de genocídio. Em 1933 muitas intelectuais já haviam se exilado da Alemanha na França como foi o caso de Walter Benjamin, com a derrocada do exército francês e a ocupação da França pela Alemanha em 1940, muitos dos intelectuais tentaram fugir para os Estados Unidos através da conexão França – Espanha – Portugal. Walter Benjamin tentou a exata rota, mas ao ter sido identificado pelas tropas franquistas na Catalunha optou pelo suicídio no lugar da captura. O desenvolvimento da Guerra e o surgimento dos frontes e a maior rigorosidade do policiamento das fronteiras dos países neutros foram obstáculos para a circulação dos cientistas e intelectuais do período, com dificuldades para obterem vistos e evitarem a repatriação para a Alemanha.
A maior parte dos cientistas atômicos europeus emigraram antes do
ápice da escalação do conflito mundial em 1940. 1 A partir de 1932 os físicos nascidos na Europa e que se encontravam na Alemanha já viam um quadro desastroso se desenhando. Com a ajuda de fundações de apoio a pesquisa nos Estados Unidos, como a Rockfeller Foundation, muitos dos físicos que trabalhavam em universidades alemãs conseguiram bolsas em universidades norte-americanas.2 A emigração dos cientistas para o solo americano, permitiu que suas pesquisas continuassem nos Estados Unidos, contribuindo para o avanço da pesquisa atômica nos quadros acadêmicos norte- americanos.
A Segunda Guerra Mundial teve uma série de consequências, no
âmbito da discussão do trabalho é interessante levantar duas consequências
1 FERMI, Laura. Illustrious immigrants: The intellectual migration from Europe,
1930-41. Plunkett Lake Press, 2021, p. 174-186. 2 STAPLETON, Darwin. Intellectuals Flee from Fascism: Rockefeller Support of Social Scientists, 1933-1945. Rockefeller Archive Center, 2010. uma primeira que se dá durante a Guerra e outro a posteriori: (i) a restrição da movimentação de pessoas e ideias e (ii) a acumulação do conhecimento, técnicas e tecnologias em determinados polos geopolíticos.
(i) Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial em toda a sua
amplitude em 1940, a movimentação de pessoas e ideias foi interrompida ou radicalmente restringida. Os canais de comunicação internacional das ciências foram prejudicados e a movimentação para a realização de pesquisas, colaborações e experimentações também. Ali já se começava a desenhar a fronteira científica dos blocos que surgiriam no pós guerra.
(ii) Após a Segunda Guerra Mundial, com a sua resolução o mundo
se dividiu em dois blocos, um centrado nos Estados Unidos e outro na União Soviética, igualmente as técnicas, tecnologias e os cientistas também se concentraram nesses polos. Portanto, trata-se da construção de dois centros hegemônicos que durante o período pós guerra acumularam cérebros e tecnologias que permitiram o avanço tecnológico dos blocos em oposição.
Bibliografia: FERMI, Laura. Illustrious immigrants: The intellectual migration from Europe, 1930-41. Plunkett Lake Press, 2021, p. 174-186.
STAPLETON, Darwin. Intellectuals Flee from Fascism:
Rockefeller Support of Social Scientists, 1933-1945. Rockefeller Archive Center, 2010.