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Armar a Ucrânia é reavivar a maior

onda do nazifascismo no Ocidente?


10:00 04.02.2023

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Marina Lang João Werneck


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Especiais

Na guerra midiática que envolve o conflito ucraniano, há


narrativas postas aos espectadores ocidentais para
convencer e justificar uma guerra de procuração contra a
Rússia. A supressão do envolvimento de Kiev com
batalhões nazistas é um dos perigos negligenciados pelo
Ocidente. Afinal, por que muitos estão acobertando os
nazistas ucranianos?

A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender a questão.


Durante a celebração do Natal Ortodoxo no começo de janeiro, data
comum  tanto para ucranianos quanto para russos , espanhóis ficaram
perplexos com uma reportagem veiculada por uma emissora do país.

Reportagem sobre o Natal dos ucranianos na Espanha. Eles escolhem,


claro, uma família que tem um retrato do colaborador durante a invasão
nazista Stepan Bandera, responsável pelo genocídio de judeus e
poloneses. A normalização do fascismo já é rotina.
Poucos anos antes da  operação militar especial , os EUA tomaram uma
série de medidas para condenar o que estava sendo chamado, na época,
de "nazistas modernos da Ucrânia".
O Congresso norte-americano votou, em março de 2018, pela proibição de
ajuda militar dos EUA à Ucrânia para o Batalhão Azov. No ano seguinte, 40
senadores assinaram uma carta exigindo que o Batalhão Azov (e outros
grupos da extrema-direita ucraniana) fosse designado como organização
terrorista.
No entanto, desde o início do conflito na Ucrânia, que completa um ano no
próximo dia 24, essas preocupações foram esmagadas, dando lugar ao
apoio midiático e  consecutivos pacotes de armas e munições  avaliados
em bilhões de dólares.
Operação militar especial russa

'Patrocinadores do nazismo': político americano


condena democratas que votaram a favor da Ucrânia
24 de dezembro 2022, 06:53

Agora que as forças ucranianas estão lutando contra a Rússia, os EUA e


seus aliados na Europa e na Organização do Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), bem como os meios de comunicação ocidentais, estão apoiando
Kiev de forma ainda mais acrítica.
Mesmo as redes sociais norte-americanas, como a Meta (cujas atividades
são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas), mudaram
suas regras recentemente para permitir que seus quase três bilhões de
usuários elogiassem o Batalhão Azov.
O próprio presidente dos EUA, Joe Biden, definiu o conflito como uma
batalha pela "democracia e liberdade", embora apoie o presidente
ucraniano, Vladimir Zelensky, que proibiu partidos de
oposição e fechou veículos jornalísticos.
É diante desses fatos que a Sputnik Brasil questionou três analistas
internacionais: afinal, armar a Ucrânia seria reavivar a maior onda do
nazifascismo no Ocidente?
"Armar a Ucrânia está não somente reavivando essa grande onda
nazifascista como está fomentando a escalada de guerra. E uma coisa
é ligada à outra. Quanto mais o conflito se expande, mais a população se
sente atingida, mais incomoda a opinião pública, mais xenofobia se instala.
E mais a ideologia nazifascista cresce por trás. Porque são coisas que
estão atreladas. Esse tipo de xenofobia, a russofobia, está muito atrelado a
esses ideais neonazistas. Que estão incutidos e que vêm reverberando
sobretudo dentro do batalhão Azov, que detém influência dentro da
Ucrânia. Então isso faz com que não deixemos de mencionar a importância
disso e do Ocidente ainda não ter admitido formalmente o quão grave é
esse problema. Porque sim, estamos sofrendo muito com a russofobia,
sofremos ataque de todas as espécies e nos piores termos. Pela
população russa do país, da sua cultura, da sua história e com ódio, que é
aquele ódio fomentado por ideais, por ideologias de cunho nazifascista.
Não são aquelas ações pontuais de racismos isolados, de intolerâncias
isoladas. Não. É um conjunto. É obra do que vem sendo pregado e
infelizmente propagado", opina Carolina Bernardes Enham, professora e
coordenadora do curso de pós-graduação em projetos internacionais do
Instituto de Educação Continuada (IEC) da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas), vice-presidente regional da Câmara Brasil–
Rússia de Comércio, Indústria e Turismo no estado e cônsul honorária da
Rússia em Belo Horizonte.
"Então, quanto mais você arma e fomenta um conflito cujas
raízes são nazifascistas, você está propagando essas bases
para o mundo, o que é grave porque ganha uma força perigosa
que o mundo já conheceu e sofreu muito uma vez e que era
absolutamente desnecessário que se passasse por isso de
novo."

Panorama internacional

ONU adota resolução russa sobre o combate à


glorificação do nazismo; EUA vota contra
15 de dezembro 2022, 18:41

Para Alana Monteiro Leal Rêgo, da Associação Brasileira de Estudos de


Defesa (ABED), é o crescente nazifascismo dentro do país que "leva a
Ucrânia a buscar armamentos". A entrega de munição e material bélico dos
países ocidentais a Kiev, em sua avaliação, provoca "maior instabilidade
para a região, e a tendência é que ocorram implicações a longo prazo".
Já o historiador e professor Fernando Horta aponta uma visão
"pragmática" do Ocidente, que se baseia no materialismo histórico, ou seja,
uma interpretação que mais tem a ver com questões de poderio econômico
do que com a preocupação genuína em fomentar uma nova onda do
nazisfascismo no mundo.
"Havia os Estados Unidos que, durante o processo da Segunda Guerra
Mundial, foi tão antifascista. E que hoje estaria ligado à construção de uma
sociedade e de ajuda econômica a uma sociedade claramente alinhada
com o fascismo. Do ponto de vista da nossa moral e ética do século XX,
pode ser uma certa ironia, porque pode parecer que houve ali uma
mudança de lado. Mas, em realidade, quando você imagina a partir da
interpretação materialista da história, são interesses econômicos e
políticos que geram vantagens materiais específicas. Os norte-americanos
entram na Segunda Guerra simplesmente quando começou a ficar óbvio
pra eles que a Alemanha talvez não pudesse ser contida. Porque enquanto
isso não era óbvio, os norte-americanos ficaram tranquilos, ou seja,
quando eles perceberam que a Alemanha poderia efetivamente se tornar
uma força que viesse a questionar o espaço deles, é que eles acabaram
entrando efetivamente na guerra", explica.
"É a mesma coisa que está sendo feita agora. Quer dizer, agora
os norte-americanos estão apoiando a Ucrânia por conta dessa
formação, dessa coalizão oriental entre Rússia e China, que
pretende questionar a ordem ocidental. A diferença é meramente
na nossa análise moral. Se você for olhar especificamente a
partir dos marcos de interpretação materialista da história, a
ação norte-americana naquele momento é praticamente
idêntica ao que há hoje", aponta Horta.

Panorama internacional

Presidente da Sérvia: país se lembrará para sempre dos


libertadores do nazismo na 2ª Guerra Mundial
20 de outubro 2022, 15:56

Nazismo à porta da Europa


Os elementos nazifascistas da Ucrânia não estão limitados à periferia de
suas Forças Armadas. Generais como Valery Zaluzhny, um dos principais
do Exército ucraniano, com alguma frequência postam fotos nas redes
sociais com símbolos nazistas, como suásticas e desenhos do sol
negro.
Os símbolos também apareceram em fotos publicadas por Zelensky,
incluindo a notória imagem de seus guarda-costas usando um emblema da
"Totenkopf", distintivo de caveira usado pelas forças nazistas da
Schutzstaffel (SS) na Segunda Guerra Mundial.
Além das imagens nazistas usadas abertamente pelos combatentes de
Azov, membros regulares do serviço ucraniano foram fotografados
usando insígnias da SS e pintando suásticas em seus veículos.

Para Alana Monteiro, "não há dúvidas de que [a ideologia


neofascista] seja o maior combustível não apenas no conflito em
questão, mas no que vem ocorrendo em nações de todo o
mundo, ao instigar a violência e diversas formas de agressão que
partem dessa ideologia".
Panorama internacional

Zelensky apaga foto dele com militar ucraniano usando


emblema nazista
17 de setembro 2022, 12:57

Ela explica que os "pequenos focos nazifascistas ganharam maior poder


em todo o mundo", pois encontraram "uma base de apoio e alimento de
suas mais variadas intenções e propagação".
Para ela, o conflito trouxe não apenas maior incidência e notável presença
de nazistas, mas sobretudo a oportunidade de recrutamento, inclusive
internacional, intensificando a ideologia por meios ainda mais agravantes,
que é "o discurso de apoio à Ucrânia".
"É indiscutível que o grupo vem ocupando vácuos de poder", ganhando
"cada vez mais poder e espaço social", afirmou.
Para ela, ainda que o presidente ucraniano "negue vínculos com grupos
como o Azov, a influência e participação dessa milícia em episódios
políticos são indiscutíveis".

"O primeiro passo para lidar com a ameaça é reconhecer que ela
existe. Para isso, há de serem combatidas em práticas
imediatas, incorporadas medidas para contenção desde sua raiz,
para que não atinjam o ápice que atingiram e não possam
permitir derivar frutos futuros. O comprometimento social para
barrar quaisquer vias de propagação torna-se indispensável",
comentou.

Panorama internacional
Zelensky usa imagem com insígnias nazistas em
postagens comemorativas do Dia da Vitória
9 de maio 2022, 16:10

Relativizando o nazismo ucraniano


Em dezembro de 2022, os EUA e a Ucrânia foram as únicas nações a
votar contra uma resolução da Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU) para combater a glorificação do nazismo.
Kiev considerou questionável um trecho da resolução que pedia a
proibição de celebrações comemorativas dos nazistas alemães.
Recentemente, o senador norte-americano Lindsey Graham, conhecido por
suas posturas russofóbicas, disse: "Se Putin for bem-sucedido na Ucrânia
e não for processado pela lei internacional, tudo o que dissemos desde a
Segunda Guerra Mundial se torna uma piada".
Ao comentar a fala do parlamentar, a professora Carolina Bernardes
Enham lembra que a própria ONU já reconheceu a influência dos
batalhões nazifascistas dentro da Ucrânia.
Ela aponta, porém, que há grupos no Ocidente que lucram em uma via
de duas mãos, ou seja, com o envio de armamentos, mas, também,
com a futura reconstrução da Ucrânia mediante empréstimos e auxílios
para essa finalidade.

"Percebe-se o quão irônica é essa afirmação quando quem


critica uma guerra é, na verdade, quem está financiando e
fazendo muito dinheiro com ela. Então lhe interessa que essa
guerra aconteça e se, para ela acontecer, as influências e o
fomento nazifascista precisem ser feitas, que assim seja. Então,
a despeito de que se haja essa ideologia por trás da guerra, os
lucros da guerra compensam que se faça essa vista grossa para
as abominações das ideologias nazifascistas", pondera Enham.

Operação militar especial russa

'Patrocinadores do nazismo': político americano


condena democratas que votaram a favor da Ucrânia
24 de dezembro 2022, 06:53
De acordo com Alana Monteiro, no decorrer da história, os Estados
Unidos têm se posicionado em condição de contradição acerca de diversos
episódios que dizem respeito às ações em guerras e conflitos pelo
mundo todo.
Ela cita como exemplo a participação do ex-presidente Barack Obama,
indicado ao Nobel da Paz, na guerra do Afeganistão, quando os EUA
tiveram "o maior número contingencial de norte-americanos enviados" ao
conflito.

Segundo ela, não apenas os EUA, mas França e


Alemanha reiteram esse discurso de relativização "e também se
dispõem a meios financeiros, diplomáticos, humanitários e
militares para suporte na ofensiva dos ucranianos", utilizando
vias bilaterais e a OTAN para esse fim.

A analista aponta que, além do apoio material, as sanções que atingem a


Rússia partiram de declarações de Joe Biden, "acompanhado por
presidentes das outras grandes potências, logo no início do conflito".
A imagem de Azov foi tão transformada que o cofundador do batalhão,
Giorgi Kuparashvili, além de outros cinco outros representantes, se
encontraram com mais de 50 membros do Congresso em
Washington em setembro, como parte da viagem da delegação aos
Estados Unidos.
Esses símbolos não são uma preocupação para os EUA e seus aliados
da OTAN.
Segundo Alana Monteiro, "há cobranças da comunidade internacional" que
demandam "uma presença maior em apoio à Ucrânia", mas há também a
"compreensão que vias práticas são necessárias para cessar o conflito e
estabelecer meios diplomáticos de comum acordo aos envolvidos, além de
alimentar mais a guerra".
Já o professor Fernando Horta lembra que "o nazifascismo, na
realidade, nunca morreu" no mundo, e que as pessoas estão se dando
conta disso de forma abrupta no século XXI.

"Todos os esforços que foram feitos no final do século XX parece


que não foram suficientes para consolidar um consenso social
que criminalizasse essa prática para manter a memória viva",
aponta.

"Agora, é indiscutível que, uma vez que a Ucrânia esteja nessa condição,
nesse momento de receber esse armamento todo, a gente tem que
perguntar o seguinte: se o conflito terminar amanhã, o que a Ucrânia faz
com esse armamento? O que esses grupos claramente nazifascistas
vão fazer com esse armamento de último tipo naquela região? Além
disso há, obviamente, não apenas o reforço do mito simbólico da Ucrânia
de direita lutando contra uma esquerda — só na cabeça de algumas
pessoas que [o presidente da Rússia, Vladimir] Putin é de esquerda —,
mas lutando contra um herdeiro do comunismo e vencendo. Então acho
que esses dois pontos a gente precisa colocar. O que vai ser feito desse
armamento, se há algum plano internacional para desarmar a
Ucrânia uma vez que o conflito termine. Ou vamos deixar isso tudo com
eles (e aí o perigo é grande)? E a segunda coisa é: como é que a gente
vai trabalhar esse mito dessa Ucrânia fortalecida, e renascida,
obviamente, sob tutela desse nazifascismo? Isso, sim, vai ser difícil."

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