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Montes Claros
2018
DIEGO GONÇALVES PESSANHA SUZANO
JÚLIO CÉSAR FARIA
LORRANY RAICY COSTA
Montes Claros
2018
INTRODUÇÃO
Em poucos momentos da história recente do Brasil, a crise fiscal esteve tão em voga
como neste momento. Os recursos arrecadados pelos entes federativos parecem não serem
suficientes para o pleno custeio da máquina pública nos seus níveis federais, estaduais e
municipais. No poder executivo, essa realidade recai especialmente sobre os munícipios, parte
mais capilarizada de todo este contexto político e econômico. Entretanto, como o governo de
forma geral, tem função social de prover serviços à população, sem dúvida os usuários destes
serviços são a parte mais sensível desta interação, sofrendo cada dia mais com a dificuldade
de acesso aos aparelhos públicos (PAULINO, PIRES, 2017; MERCÊS, FREIRE, 2017;
BARBOSA FILHO, 2017).
Embora o mau uso do dinheiro público seja uma realidade do nosso país e deva ser
combatida de forma implacável, a aprovação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) ainda
que tenha como objetivo proporcionar um maior controle sobre os gastos públicos dos seus
entes federados (BRASIL, 2000) acabou por minar de forma significativa a flexibilidade
financeira do poder executivo a nível nacional, estadual e municipal. O resultado disso é o
natural entrave para realocações de recursos, o que sacrifica contas públicas com maior
flexibilidade como a de investimentos, gerando efeitos imediatos na redução nos níveis
criação de novos ativos bem como na manutenção destes (SANTOLIN, JAYME, REIS, 2009;
SOUZA, 2015; ARAUJO, SANTOS FILHO, GOMES, 2015).
Ainda que estes contratos entre público e privado alcancem êxito nos seus objetivos
iniciais, automaticamente há um impacto na cesta de consumo do cidadão. Concessões que
impliquem em tarifas cobradas diretamente dos usuários por melhores serviços, reduzem a
disponibilidade de recursos financeiros destes. Por sua vez, estruturas e atendimentos que são
aprimorados por estes contratos, mas tem seu custeio feito totalmente pelo poder público,
gerarão automaticamente excedentes financeiros nas famílias, visto que o capital empregado
por serviços particulares anteriormente, já não será mais necessário de ser utilizado em
estruturas públicas de qualidade (VILLIN, 2014; KURY, 2014).
REVISÃO DE LITERATURA
Para optar por um contrato de PPP, a administração pública, deve antes de tudo, fazer
uma análise de viabilidade do projeto, análise esta também conhecida como Value for Money.
Esta ferramenta visa comparar a execução do projeto como PPP, como concessão comum e
como obra pública. É após esta verificação que a PPP pode ou não ser apontada como melhor
alternativa, visto que são analisados diversos aspectos como custo, qualidade, tempo e
capacidade de financiamento do poder público (PINHEIRO, 2017).
Por sua vez, as concessões administrativas são aquelas onde não há pagamento de
tarifas por parte da população. O estado é usuário direto ou indireto da operação, e desta
forma, os pagamentos públicos são a única fonte de receita para a concessionária exploradora.
São exemplos clássicos deste modelo de PPP, as concessões de hospitais e escolas públicas e
cidades administrativas, que não cobram taxas dos usuários, ou o estado é o beneficiário
direto do contrato (BRASIL, 2004).
Além das PPPs, outra modalidade de contratação para transferência de atividades do
poder público para o poder privado, é a Concessão Pública (concessão comum), largamente
empregada na concessão de transporte coletivo urbano e cemitérios para a iniciativa privada.
Somente no ano de 1995, foi sancionada a Lei Federal 8.987, tratando sobre estas Concessões
Públicas, modalidade esta que se mostra muitas vezes vantajosa, devido ao fato de ocorrer a
remuneração do ente concedente (poder público) através de outorgas pagas pelos privados
exploradores do serviço, provendo entrada de recursos significativos para aplicações em
outras áreas prioritárias do município (PECI, CAVALCANTI, 2004).
Estes recursos foram fundamentais para suavizar a dívida externa do país, reduzir os
gastos públicos, e pavimentar o caminho para a implantação da Lei de Responsabilidade
Fiscal (MATOS FILHO, OLIVEIRA, 1996). Fora o benefício financeiro destas operações,
notoriamente diversos setores privatizados se desenvolveram melhor ao saírem da gestão
estatal, como as telecomunicações e o setor de mineração.
DESENVOLVIMENTO
Ainda que parte da população diga em tom de brincadeira que os problemas do Brasil
iniciaram com a chegada dos Portugueses em 1500, é fato que não podemos incorrer neste
anacronismo e esquecer que os problemas do país têm sido gerados dia após dia, até chegar ao
presente momento. Vivemos em um ambiente político conturbado, com crise institucional em
boa parte do setor público. País, estados e municípios fecham em déficits financeiros
recorrentes, faltam recursos para operacionalização com qualidade da estrutura básica da
nação. A população como um todo carece de melhores serviços, mas são os brasileiros mais
carentes os que mais sofrem com a ausência de acesso a serviços públicos de qualidade
(CURADO, PORCILE, 2004; GRÜN, 2013).
Quando se fala nos equipamentos estatais a serviço dos brasileiros, a sensação obtida,
é que esta infraestrutura nacional não consegue se atualizar na proporção que a população
cresce e a economia se desenvolve (CAMPOS, PEREIRA, 2016) e desta forma, sempre os
serviços se apresentam de forma insuficiente à demanda existente. Há uma demanda latente
por uma nova interação entre o serviço público e a coletividade. São necessários serviços mais
adequados à realidade e configuração atual das famílias brasileiras, garantindo assim um
acesso cada vez mais universalizado, de forma a permitir que os direitos constitucionais como
o da saúde, educação, moradia e segurança, estejam disponíveis para todos os cidadãos
brasileiros (BRASIL, 1988).
É justamente em função deste cenário de restrição fiscal dos entes federados, que
novos arranjos tem sido criados especialmente nos últimos trinta anos. Alternativas como as
privatizações, concessões e PPPs tem sido cada vez mais empregadas de forma a promover
melhores serviços à comunidade. A aplicação destas soluções tem desafogado as contas
públicas em um cenário de escassez de recursos, permitindo também a criação de novos
equipamentos, adequação de outros, mas, sobretudo, transferindo ao setor privado o
financiamento da infraestrutura e dos serviços do país (CINTRA, 2014)
Todas estas medidas, além de visar à redução da concentração inicial de aportes
financeiros públicos na construção destas infraestruturas, permitem a priorização e
concentração dos esforços e verbas do estado em atividades prioritárias como saúde, educação
e segurança, delegando as demais atividades importantes, mas de cunho secundário para o
mercado particular. (BRAGA, 2002). Nestes contratos entre iniciativa privada e poder
público, há uma alocação de riscos para os parceiros privados, que por sua vez precisam estar
com robustez financeira e um bom planejamento operacional para maximizar seu retorno
durante o tempo de exploração do ativo ou serviço (BRASIL, 1995; PEREIRA, FERREIRA,
2010; CARNEIRO, MENICUCCI, 2013; SANTOS et al., 2014; LIMA, COELHO, 2015)
Por fim, dentre as formas de interação entre poder público e privado, a mais recente
delas são as PPPs, que tiveram seu início em 2004 e logo se espalharam por todo o país. O seu
sucesso deriva muito do fato de um dos grandes objetivos das PPPs ser o de apoiar a
administração pública, estruturando, aprimorando e melhorando a infraestrutura e qualidade
dos serviços prestados. As PPPs têm como vantagens a eficiência para viabilizar grandes
obras de infraestrutura, pagamento público condicionado à qualidade do serviço e
compartilhamento de riscos entre os parceiros (DELORENCI, 2015)
Neste caso, é possível depreender de forma clara, como uma PPP pode melhorar o
serviço prestado a população, sem necessariamente cobrar mais por isso. Esta realidade
microeconômica também permite a criação de um excedente econômico no emprego dos
recursos destinados ao consumo pelo usuário. Há uma melhoria no poder de compra deste
contribuinte, que se beneficia do fato de não precisar mais recorrer a hospitais e exames
particulares, além de ter a sua produtividade profissional aumentada, em função do tempo de
recuperação mais rápido em casos de doenças ou acidentes.
São fatos notórios, que, se não há condições de o poder público prover os serviços
básicos necessários a população, ou ainda que as possua, mas a iniciativa privada se mostre
vantajosa, a opção das Privatizações, Concessões e PPPs são naturalmente uma alternativa
racional e inteligente para solucionar esta demanda latente dos contribuintes.
CONCLUSÃO
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