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All content following this page was uploaded by Amaury Patrick Gremaud on 20 May 2014.
mentos (Oates, 1972):3 se a moeda é emiti- das esferas sub-nacionais estão inspira-
da centralmente e a política monetária é das nesse ponto de vista.
responsabilidade federal, a política fiscal, Contudo, merece destaque o fato
uma vez que está entrelaçada com a mone- de que, em alguns países, programas bem
tária, também deve ser centralizada. Outra conduzidos de descentralização têm au-
forma de colocar o argumento, é que o ris- xiliado na manutenção de políticas ma-
co de monetização dos déficits fiscais de croeconômicas estáveis, dados os ganhos
governos sub-nacionais pode colocar em de responsabilidade e de eficiência na
dificuldade a capacidade do Banco Central gestão dos recursos alcançados nestas
de realizar plenamente suas funções de ad- experiências. Não se pode dizer que paí-
ministrador da moeda nacional. ses como a Suíça e o Canadá tenham gra-
As dificuldades das políticas de es- ves problemas macroeconômicos em fun-
tabilização dos países da América Latina ção de sua elevada descentralização. Por
são sempre referidas para validar as teses outro lado, a unificação monetária euro-
acima mencionadas,4 especialmente le- péia recolocou a mesma discussão (Hem-
vando em consideração as liberdades en- ming e Spahn, 1997), porém em outro
tão existentes quanto ao endividamento contexto: até que ponto é possível ter
sub-nacional.5 Não é sem razão que as uma política monetária européia unifica-
propostas e medidas recentes de reforma da, dando forte autonomia aos países da
fiscal atuam em sentido inverso, isto é, coalizão? Em que medida deve-se impe-
mesmo sem modificar os recursos possu-
dir os diferentes governos europeus de
ídos pelos diferentes níveis governamen-
tomarem recursos empestados? A res-
tais, diminuem a capacidade dos mesmos
posta até aqui é que é possível este par,
em determinar impostos e em tomar em-
ou seja, pode-se unificar a política mone-
préstimos. A própria Lei de Responsabi-
tária e cambial dos países e manter um
lidade Fiscal no Brasil e as diferentes re-
alto nível de descentralização (autono-
gras quanto ao gasto e endividamento
mia), inclusive com endividamento dos
3 Mais recentemente ver Tanzi 5 Tanto por meio dos países membros.
(1996) e Prud´homme (1995) bancos públicos estaduais Assim, surgiu uma série de novos
4 Ver por exemplo quanto no próprio mercado elementos, recolocando em discussão al-
Prud´homme (1995), Banco privado.
guns aspectos teóricos que balizavam a
Mundial (1999) e Burki, Perry
& Dillinger (1999). postura de incompatibilidade entre a des-
custos na colocação dos títulos e forne- se regular estas emissões de títulos (ou
cer maior transparência, parece interes- mesmo todo o endividamento dos mu-
sante a criação de um organismo espe- nicípios). Desta forma temos diferentes
cífico que atue com títulos sub-nacionais, “modelos” reguladores que vão desde o
que promova uma padronização mínima, empecilho completo ao lançamento de tí-
estabeleça diretrizes para a preparação e a tulos por parte dos governos sub-nacio-
própria colocação dos títulos, faça a cus- nais, até a total liberdade, deixando ao
tódia e a liquidação, dando transparência mercado e sua auto-regulação o controle
ao mercado. O objetivo deste organismo sobre o endividamento municipal.
é múltiplo, mas parece fundamental a Dentro de um modelo em que exis-
idéia de existirem referenciais de preço te completa liberdade de lançamento de tí-
para o mercado, de modo a permitir a tulos, a regulação far-se-ia pelo próprio
avaliação das diferentes emissões. mercado,12 basicamente com os investido-
3.1.2_ Os modelos de controle de endividamento 11
res recusando-se a financiar o lançamento
Como frisamos anteriormente, a possi- de títulos muito arriscados, sendo que este
bilidade de descontrole das políticas de risco poderia vir do volume excessivo de
estabilização e os riscos de uso político colocações da municipalidade, inviabilizan-
do endividamento traz a necessidade de do a solvência da mesma no longo prazo.
Dois requisitos parecem importantes neste
caso, além das observações feitas no item
11 Ver Ter-Minassian (1999). 15 Um elemento importante
anterior:13 de um lado, o mercado de capi-
12 Pode-se citar como que faz parte da restrição
exemplos de países que em orçamentária rígida é o tais deve ser livre, relativamente aberto e
parte adotam este sistema: não-socorro do Governo estar bem desenvolvido a fim de que efeti-
Finlândia, Portugal, Canadá Federal, ou que este socorro vamente o seu poder de auto-disciplina se
para suas Provincias e, de esteja previsto e ocorra com efetive;14 de outro, regras claras de procedi-
certa maneira, o próprio Brasil regras preestabelecidas e
em alguns momentos disponíveis a todos os mento quanto ao default das municipalida-
13 Especialmente as relativas à municípios. des, tais como execução de garantias e leis
disponibilidade de informações 16 Temos aqui como exemplo de falência municipal.15
e às operações de bailing-out. os Estados Unidos e a Itália e Outro modelo possível é o estabe-
14 A obrigatoriedade de também a Lei de
lecimento por parte do Governo Federal
aquisição de títulos públicos Responsabilidade Fiscal e das
sobre os agentes não parece resoluções do Senado de regras sobre o endividamento munici-
ser aqui uma boa prática. brasileiro sobre o tema. pal.16 Neste caso também existem várias
derais em efetivamente fazerem as regras gras. Porém em condições institucionais pré-estabelecidas temos um
endividamento coordenado
serem cumpridas. Os sistemas de conta- onde a cooperação é incentivada, os re- entre as esferas (Ter-Minassian,
bilidade e informação também devem ser sultados podem ser superiores ao de um 1999). Como exemplos
claros e transparentes e a possibilidade de modelo de regras definidas. internacionais temos: Austrália,
utilização de truques contábeis para fugir Um último modelo possível é o África do Sul, Bélgica,
Dinamarca, entre outros.
às regras deve ser mínima. O maior pro- controle direto,19 em que todo endivida- 18 Os governos subnacionais
blema deste modelo é a inflexibilidade. mento deve ser autorizado por parte do neste modelo devem estar
Esta pode ser vista de duas óticas: de um Governo Federal ou, no limite, nenhum ativamente envolvidos no
lado, as regras são impostas dando trata- endividamento é autorizado. processo de formulação dos
mento pouco diferenciado aos municípi- Podemos, para encerrar, levantar objetivos macroeconômicos
do país e dos parâmetros
os, que possuem realidades diferentes, um aspecto importante que poderia fazer fiscais subjacentes.
assim podemos voltar à situação de dese- parte dos modelos de controle sobre o 19 Ocorre na Áustria, Grécia,
quilíbrio horizontal; por outro lado, po- endividamento: é o seu controle social. Noruega e Espanha.
dos, de modo que se possa prescindir da Existem assim três tipos de projetos:
presença do Estado, enquanto patrocina- i. full-recourse – aquele que conta com o
dor. Quando se fala em project finance, aval do Tesouro, constituindo-se
compreende-se que o projeto é financia- em garantia soberana (fundada,
do com base em suas próprias perspecti- em última instância, em um fluxo
vas e riscos, tornando-o independente de receita de impostos), o que di-
da(s) empresa(s) originária(s) que o faz minui o risco do empréstimo, uma
(em), isto é, há uma cisão entre projeto e vez que independe da qualidade
empresa. Dessa forma, o financiamento do projeto e do seu retorno;
não depende do suporte de crédito dos ii. non-recourse – em que a única ga-
patrocinadores do projeto, mas da expec- rantia que os credores possuem
tativa de receita a ser gerada pelo projeto é o próprio fluxo de caixa do
ao longo do tempo. Assim, mesmo que o projeto. Neste caso, um amplo
município participe do projeto, o financi- estudo de viabilidade econômica
amento está ancorado no seu retorno e (perspectivas de receitas e cus-
não na base fiscal do município. tos, capacidade operacional e tec-
O próprio projeto torna-se uma nológica dos patrocinadores etc.)
pessoa jurídica, a chamada SPC (Special deve ser considerado na conces-
Purpose Company), com direitos (receitas) e são do crédito;
deveres, independente dos patrocinado- iii. limited-recourse – que se refere ma-
res, de modo que estes últimos compro- is propriamente ao project finance.
metem-se com os financiadores apenas É algo intermediário entre os do-
no montante do capital aportado no pro- is anteriores, não havendo garan-
jeto, constituindo-se, portanto, uma ope- tia plena do Tesouro, mas em
ração fora balanço. As grantias dadas ao que a estrutura contratual faz com
financiamento, isto é, o recourse do credor que as garantias não se limitem
em caso de fracasso do projeto, são de ao fluxo de caixa, havendo uma 21 No Brasil, o modelo
fundamentais importância para se definir repartição do risco entre os di- utilizado no pós-guerra
as suas condições. versos atores envolvidos.21 foi o full-recourse.
SPC, de modo a limitar o risco ao proje- guir que uma vez concluída a obra, a dívida
to, visando alocá-lo de forma apropriada seja renegociada para um prazo compatível
ao participante em melhores condições com o fluxo de caixa necessário para a sua
de reduzi-lo. Esta é a principal arte por amortização. Observa-se que na fase inicial
trás do project finance: a redução e a distri- (construção) o importante é a disponibili-
buição do risco de forma adequada é que dade de fundos, podendo inclusive ser
determina o sucesso na obtenção dos re- constituído de uma série de empréstimos
cursos necessários, o que se obtém pela de curto prazo renováveis (a dívida bancá-
constituição da base contratual. ria pode ser o mecanismo), mas uma vez
Os principais riscos existentes no concluída a obra existe a necessidade de
project finance decorrem, em grande parte consolidar esta dívida (fundar) em um pra-
da natureza dos investimentos de infra- zo longo para que as receitas geradas per-
estrutura: maior prazo de maturação do mitam o pagamento dos serviços e do prin-
investimento; não-recuperação dos re- cipal da dívida. Neste momento faz-se ne-
cursos investidos, caso o projeto não seja cessária a existência de mecanismos de fi-
concluído (sunk-costs elevados); mas, com nanciamento de longo prazo na economia.
perfil monopolista (utilidades públicas) e Um outro ponto é a necessidade de taxas
demanda estável (baixas substituição e de juros estáveis, uma vez que oscilações
sazonalidade, caráter essencial) com cres- das mesmas podem tornar deficitário um
cimento relativamente contínuo em fun- projeto que se mostrava rentável.
ção de pressões demográficas e do desen- Para que os riscos possam ser distri-
volvimento econômico. Assim, estes in- buídos adequadamente no project finance,
vestimentos tendem a ter um elevado risco eles devem ser delineados com muito mais
na fase de construção e um risco menor de clareza do que nos projetos públicos tradi-
mercado, mas sem que este desapareça. cionais. As principais contingências que de-
Percebe-se, portanto, que o grande vem ser consideradas são:
desafio de projetos de infra-estrutura é a i. riscos de construção – falhas no
fase de construção. É neste momento que cronograma de implementação
se devem garantir os recursos financeiros (demora na entrega que amplia o
de forma adequada para viabilizar a conclu- custo financeiro) ou custos que
são das obras. O segundo desafio é conse- excedam o previsto;
recebimentos. dades do projeto. Em geral, tem-se que com a questão das garantias
públicas, pois pode-se criar
Paralelamente a esta série de con- utilizar aporte de capital dos patrocinado-
um passivo contingencial
tratos, desenvolve-se uma base de segu- res, dívida bancária, títulos securitizados, (endividamento potencial)
ros que busca cobrir os riscos na cons- debêntures conversíveis, linhas de crédito difícil de ser avaliado.
Referências bibliográficas