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Introdução à

ventilação em
mina subterrânea
Ronei Tiago Stein

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Definir a importância da ventilação em minas subterrâneas.


> Descrever as possíveis consequências de uma ventilação ineficiente.
> Apresentar casos específicos de ventilação em minas subterrâneas.

Introdução
Engana-se quem pensa que as minas subterrâneas consistem apenas em túneis
espalhados pelo subsolo. As minas devem proporcionar condições de trabalho
que preservem a segurança e a saúde ocupacional dos mineradores e demais
colaboradores. Logo, a ventilação exerce um papel crucial em minas subterrâneas,
sendo responsável por controlar os agentes químicos (poeira, gases, vapores,
entre outros) e pelo conforto, sobretudo térmico, dos ambientes de trabalho.
Neste capítulo, vamos explicar a importância da ventilação em minas subter-
râneas e as possíveis consequências de uma ventilação falha ou ineficaz. Além
disso, por meio de exemplos práticos, vamos descrever os tipos de ventilação
em minas subterrâneas.
12 Introdução à ventilação em mina subterrânea

Importância da ventilação em minas


subterrâneas
Conforme mencionam Curi (2017) e Botkin e Keller (2018), a mineração pode
ocorrer na superfície (a céu aberto), a céu aberto, mas seguida de um estágio
de transição à lavra subterrânea, ou de formas subterrânea (no subsolo) ou
simultânea (combinação de métodos de lavra a céu aberto e subterrânea).
Porém, normalmente são adotadas as minas a céu aberto ou subterrâneas,
que se diferenciam pelos seguintes motivos.

„ Minas subterrâneas são muito menores que as minas a céu aberto.


„ Atividades de mineração em minas subterrâneas são menos visíveis,
pois áreas menores na superfície são perturbadas.
„ Mineração subterrânea produz relativamente menos resíduos de rocha
se comparada à mineração a céu aberto.
„ Minas a céu aberto frequentemente produzem enormes volumes de
resíduos de rocha, com impactos bem visíveis.
„ Mineração de superfície é mais barata, mas produz maiores efeitos
ambientais diretos.

Na maioria dos casos, o ar de minas subterrâneas é seco, contendo


um volume de 20,93% de O2, 79,04% de N2 e 0,03% de CO2. Além des-
ses gases, a atmosfera subterrânea contém pequenas quantidades de outros
gases, como metano (CH4), monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio
(Nox), hidrocarbonetos não oxidados e parcialmente oxidados, amônia (NH3),
gás sulfídrico (H2S) e dióxido de enxofre (SO2), mesmo sob condições normais.

Segundo Gancev (2006), os gases presentes na atmosfera de minas subter-


râneas podem ser provenientes dos motores a combustão, das detonações,
do maciço, da oxidação de madeira ou minérios sulfetados, entre outros.
Esses gases podem ser divididos em gases tóxicos e gases explosivos. Dife-
rentes técnicas são utilizadas para manter os gases em níveis aceitáveis no
interior de uma mina. Entre essas técnicas, as mais comumente adotadas são
a prevenção da formação de gases, a prevenção da exposição de pessoas, a
diluição dos gases e a remoção dos gases (GANCEV, 2006).
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Especificamente falando da remoção dos gases, um elemento essencial e


que não pode faltar em minas subterrâneas é a ventilação (Figura 1). Existe,
inclusive, uma legislação do Ministério de Minas e Energia que fala sobre
a ventilação em minas, a Portaria nº 36, de 16 janeiro de 2015. Segundo o
art. 6.1.2 da referida portaria, tem-se:

Para cada mina deve ser elaborado e implantado um projeto de ventilação com
fluxograma atualizado periodicamente contendo no mínimo os seguintes dados:
a) localização, vazão e pressão dos ventiladores principais; b) direção e sentido
do fluxo de ar; c) localização e função de todas as portas, barricadas, cortinas,
diques, tapumes e outros dispositivos de controle do fluxo de ventilação (BRASIL,
2015, documento on-line).

Figura 1. Representação de um sistema de ventilação em uma mina subterrânea.


Fonte: SRK Consulting (c2021a, documento on-line).

Conforme a Portaria nº 36/2015, a ventilação em minas subterrâneas deve


seguir alguns requisitos, como promover o suprimento de ar em condições
adequadas para a respiração humana, renovação contínua do ar, diluição
eficaz de gases inflamáveis ou nocivos e de poeiras do ambiente de traba-
lho, e temperatura e umidade adequadas ao trabalho humano. Ainda, deve
ser mantida e operada de forma regular e contínua. Mesmo em dias em que
não haja operação em subsolo, no mínimo um terço do sistema principal
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de ventilação deve estar funcionando, e minas com emanações de gases


nocivos, inflamáveis ou explosivos devem manter o sistema de ventilação
integral (BRASIL, 2015).
Costa (1998) descreve que o modo como as galerias da mina estão conec-
tadas interfere na distribuição do ar e na queda de pressão de um sistema de
ventilação. Essas conexões podem ocorrer basicamente de duas maneiras:
em série e em paralelo. Contudo, normalmente os sistemas de ventilação
de minas são formados por galerias conectadas de uma forma complexa,
envolvendo os dois tipos de circuito combinados, recebendo a denominação
de redes, ou sistema, de ventilação.
Costa (2005) menciona que existem diferentes técnicas para realizar a
ventilação em minas subterrâneas, como as listadas a seguir.

„ Exaustão: o ar é retirado das frentes de trabalho com auxílio de venti-


ladores, os quais são instalados na boca da mina e ligados ao interior
dela por condutos de aspiração, geralmente executados em lona es-
truturada, chapa soldada ou madeira.
„ Insuflamento: o ar é levado até as frentes de trabalho através de ven-
tiladores, os quais são colocados na boca da mina e ligados ao interior
por condutos de insuflamento executados com os mesmos materiais
que os de aspiração.
„ Modo misto: reúne as duas técnicas anteriores, fazendo a exaustão após
as detonações de dinamite e demolições intensas, e insuflamento nas
horas de trabalho normal durante as quais não se verificam formação
de poeiras e fumaças em excesso.
„ Insuflamento pela entrada: o insuflamento de ar ocorre pela própria
galeria de acesso, através de ventiladores adaptados à boca da mina,
cuja entrada é estanque. Porém, a mineração deve ocorrer por duas
galerias paralelas, de forma simultânea, fazendo-se o insuflamento
por uma e a saída pela outra (Figura 2).

Figura 2. Ventilação de galerias pelo sistema de insuflamento pela entrada.


Fonte: Costa (2005, p. 81).
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Pela técnica de insuflamento pela entrada, as galerias vão sendo


interligadas à medida que a mineração progride, fechando-se as
interligações anteriores. Nas galerias mortas, as quais não são atingidas pela
ventilação geral, ocorre a ventilação secundária, com auxílio de pequenos
ventiladores, os quais “coletam” o ar da ventilação geral e o colocam na frente
de trabalho através de ramais especiais de insuflamento.

Consequências de uma ventilação


ineficiente em minas subterrâneas
Os sistemas de ventilação em minas subterrâneas apresentam um papel
fundamental. Entre os principais objetivos da ventilação, estão:

„ assegurar que o ar puro seja levado para dentro das minas subterrâneas;
„ criar melhores condições para o trabalho dos mineradores;
„ prevenir a estrutura de explosões e demais consequências quanto à
reação do acúmulo de pós e gases explosivos;
„ remover o calor produzido pelas máquinas e pelos homens;
„ manter a temperatura mais baixa, visando a um maior conforto dos
mineiros e demais colaboradores.

As minas subterrâneas são consideradas espaços confinados, ou seja, áreas


que não são destinadas à ocupação humana, com insuficiência de oxigênio,
riscos potenciais de gases, vapores, eletricidade, com entrada restrita (SOUZA;
MINICHELLO, 2014). Os trabalhos em espaços confinados são abordados pela
Norma Regulamentadora (NR) nº 33. Nesses ambientes, os riscos provenien-
tes de uma entrada sem as devidas precauções podem gerar de pequenos a
grandes infortúnios, podendo, inclusive, provocar a morte dos mineradores.
Um sistema de ventilação auxilia no controle do nível de oxigênio dentro
das minas. Segundo Souza e Minichello (2014), o nível de oxigênio recomen-
dado para trabalhos em ambientes confinados é de 19,5%, mas esse valor
não pode ultrapassar os 23% em volume, pois, caso contrário, o ambiente se
torna explosivo. Caso o nível de oxigênio caia na faixa de 15%, o minerador
vai apresentar desorientação e problemas de coordenação. Com níveis de
oxigênio abaixo de 6%, os colaboradores podem ir a óbito em até 8 minutos.
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No século XIX, era comum colocar gaiolas com canários nas minas
a fim de monitorar os índices de gases tóxicos. Esses pássaros são
sensíveis a ambientes contaminados. Como não existiam equipamentos para
fazer esse monitoramento, os mineradores ficavam de olho nos pássaros; caso
eles morressem, era hora de deixar a mina.

Outra função dos sistemas de ventilação é garantir condições favoráveis


(temperatura e umidade) para que os mineradores desempenhem as suas
funções. O fato de estarem expostos a temperaturas diferentes do que podem
suportar por um determinado período os faz vulneráveis a disfunções orgâ-
nicas. A referência de temperatura corpórea do homem é de 36 a 37°C, não
suportando bem temperaturas ambientais acima de 40°C. Ambientes acima
dessa temperatura são inóspitos: o corpo não consegue amenizar o calor
fazendo a troca com o ambiente, uma vez que a evaporação não é realizada
adequadamente, e o seu bem-estar fica, então, comprometido.
O sistema de ventilação em minas subterrâneas também visa a renovar o ar
no interior da mina, visto que os poluentes e poeiras podem causar patologias
nos mineradores. Algumas substâncias podem provocar queimaduras, outras
irritações, asfixias (quando a pessoa fica sem poder respirar), problemas na
pele, tonturas e problemas em várias outras partes do corpo, que poderão
acarretar doenças facilmente curáveis até outras mais graves, como câncer.
Algumas substâncias provocam efeitos a curto prazo, isto é, logo que elas
entram em contato com o corpo ou caem sobre a pele. Outras apresentam
efeitos retardados, de modo que os danos só começam a aparecer após
alguns anos de trabalho ou mesmo após a aposentadoria do trabalhador
(FREITAS; ARCURI, 2000; ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2014).
Dessa forma, quando o sistema de ventilação na mina é ineficaz, uma série
de problemas podem assolar os mineradores, como descrevem Freitas e Acuri
(2000). Vejamos esses problemas a seguir.

„ Respiração: a forma mais frequente de entrada de poluentes no corpo


é por meio da respiração. Os danos que as substâncias poderão causar
vão depender do tipo de substância que se está respirando. Algumas
poderão provocar irritação logo no nariz e na garganta; outras provo-
cam dor e pressão no peito; outras podem ir até o pulmão. É comum
mineradores respirarem sílica e amianto, provocando a silicose e a
asbestose, doenças pulmonares consideradas graves. As substâncias
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que vão até o pulmão também podem passar para o sangue, sendo
levadas para outras partes do corpo.
„ Irritação na pele: algumas substâncias/poeiras podem provocar lesões
na pele, causando lesões superficiais ou penetrando na pele. Algumas
substâncias podem provocar reação alérgica, acarretando ferimentos ou
inchaços. Quando as substâncias penetram na pele, acabam penetrando
na corrente sanguínea e sendo, então, levadas para outras partes
do corpo. Nesse caso, o dano vai depender do tipo de substância. O
benzeno, por exemplo, pode provocar danos na produção do sangue.
Outras provocam problemas nos rins, no fígado, no coração ou em
outras partes do corpo.
„ Irritação nos olhos: algumas substâncias exercem ação irritante ou
corrosiva direta nos olhos.
„ Forma digestiva: normalmente ocorre de forma acidental, como por
contaminação quando se tem o hábito de comer, beber ou mesmo fumar
no ambiente de trabalho, ou devido formas inadequadas de trabalho.
Nesse caso, a substância pode provocar queimadura ou irritação já
na boca ou no caminho entre a boca e o estômago. Em outros casos, a
substância pode ser levada pelo sangue para outras partes do corpo.

Conforme Machado (2011), em minas (sejam subterrâneas ou superficiais),


é comum haver a presença de sílica, que é o elemento mais abundante na
superfície da Terra, constituindo-se em 97,6% da crosta terrestre. A sílica
é desprendida quando as rochas são cortadas, serradas, polidas, moídas,
esmagadas, entre outros tipos de beneficiamento mineral.
O maior problema está relacionado com o dióxido de silício, que pode
existir em duas variedades: amorfa e cristalina. A sílica amorfa, na forma
diatomácea, aparentemente oferece baixo risco à saúde; já a forma cristalina
e livre de combinações oferece alto risco, sendo que os mineradores podem
apresentar silicose com o passar do tempo. Esse risco vai depender de três
fatores: concentração de poeira respirável, porcentagem de sílica livre e
cristalina na poeira, e duração da exposição.

Silicose se refere a uma pneumoconiose, doença pulmonar causada


pelo acúmulo de poeira nos pulmões decorrente da inalação de
partículas de sílica. A sílica se deposita nos alvéolos pulmonares, causando
graves danos a eles e levando a uma fibrose pulmonar nodular irreversível
(CAPITANI; ALGRANTI, 2006).
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Com relação ao controle da poeira mineral no interior de minas, a NR nº 22


estabelece algumas medidas, especialmente umidificação, como as descritas
a seguir (GUIA TRABALHISTA, [201-?]).

„ Em toda a mina, deve estar disponível água em condições de uso, com


o propósito de controlar a geração de poeiras nos postos de trabalho,
onde rocha ou minério estiver sendo perfurado, cortado, detonado,
carregado, descarregado ou transportado.
„ As operações de perfuração ou corte devem ser realizadas por pro-
cessos umidificados para evitar a dispersão da poeira no ambiente
de trabalho.
„ Caso haja impedimento de umidificação em função das característi-
cas mineralógicas da rocha, impossibilitando a técnica, ou quando a
água acarretar riscos adicionais, devem ser utilizados dispositivos ou
técnicas de controle que impeçam a dispersão da poeira no ambiente
de trabalho.
„ Os equipamentos geradores de poeira com exposição dos trabalhadores
devem utilizar dispositivos para a sua eliminação ou redução e ser
mantidos em condições operacionais de uso.

Com o avanço tecnológico e a crescente escassez de recursos minerais,


cada vez mais se está aumentando a profundidade de exploração das minas
subterrâneas. É comum utilizar equipamentos a diesel, mas esses equipamen-
tos introduzem riscos relacionados com os subprodutos da sua combustão
em ambientes confinados. Muitas vezes, esses ambientes podem se tornar
irrespiráveis e causar danos irreversíveis à saúde humana.

Exemplos de ventilação em minas


subterrâneas
Conforme Saliba (2010), o sistema de ventilação deve atender a alguns requi-
sitos mínimos, como os elencados a seguir.

„ Ter ventilador de emergência com capacidade que mantenha a direção


do fluxo do ar, de acordo com as atividades para esse caso, previstas
no projeto de ventilação.
„ As entradas aspirantes dos ventiladores devem ser protegidas.
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„ O ventilador principal e o de emergência devem ser instalados de modo


que não permitam a recirculação do ar. Ainda, devem ter sistema alter-
nativo de alimentação de energia proveniente de fonte independente da
alimentação principal para acionar o sistema de emergência em caso de:
■  minas sujeitas a acúmulo de gases explosivos ou tóxicos;
■  minas onde a falta de ventilação coloque em risco a segurança das
pessoas durante a sua retirada.
„ Na falta de alimentação de energia e de fonte independente da ali-
mentação principal, o responsável pela mina deverá providenciar a
retirada imediata das pessoas.
„ A estação onde estão localizadas os ventiladores principais e de
emergência deve estar equipada com instrumentos para a medição
da pressão do ar.
„ O ventilador principal deve ser dotado de dispositivo de alarme que
indique a sua paralisação.
„ Os motores dos ventiladores a serem instalados nas frentes com pre-
sença de gases explosivos devem ser à prova de explosão.
„ Todas as galerias de desenvolvimento, após 10 metros de avançamento,
e as obras subterrâneas sem comunicação devem ser ventiladas por
meio de um sistema de ventilação.

Um sistema de ventilação em uma mina subterrânea é constituído de


diferentes elementos, como ventiladores, reguladores, portas, barragens e
cruzamentos de ar (Figura 3).

Exaustão
de ar
Ventilador
principal
Entrada da
de ar Entra
em Cruzamento de ar
rag
Bar
da
Entra nte
Fre lho
no ba
tas tor tra
Por Re d e
o r
ad
gul
Re

Figura 3. Principais elementos do sistema de ventilação.


Fonte: Adaptada de Cardoso (2014).
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Cardoso (2014) descreve que os ventiladores (Figura 4) são utilizados para


insuflar ou fazer a exaustão da vazão de ar para alimentar o sistema de venti-
lação de mina. Os ventiladores são turbomáquinas geratrizes ou operatrizes
que se destinam a produzir o deslocamento dos gases.

Figura 4. Exemplo de ventilador utilizado em minas subterrâneas.


Fonte: SRK Consulting (c2021b, documento on-line).

Já os reguladores consistem em um sistema que realiza a abertura e/ou


fechamento de orifícios a fim de regular a vazão de ar necessária para ventilar
uma seção da mina. Esse método compreende a instalação de uma porta
com um sistema de persianas ou com um painel de correr a fim de regular a
vazão de ar para determinada seção da mina pela abertura ou fechamento
dessas estruturas.
Por sua vez, as portas são instaladas onde é necessário manter um acesso
entre um sistema de entrada de ar e de retorno de ar. No caso, é um sistema
composto por duas portas separadas a uma determinada distância. A primeira
porta, ao ser aberta, permite que determinado equipamento ou veículo acesse
o espaço vago. Depois de fechada, abre-se a segunda porta para que o equi-
pamento ou veículo atravesse o sistema de portas. Assim, não há alteração
nas vazões de ar ou inversão do sentido da vazão (CARDOSO, 2014).
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Conforme determinada mina subterrânea vai sendo explorada, novas


seções são abertas e outras são fechadas. Quando uma frente de trabalho é
considerada exaurida, não há motivos para continuar mantendo a ventilação
desses locais. Portanto, ocorre o isolamento da seção pela construção de
uma parede (que pode ser de alvenaria, madeira ou aço). Esse fechamento
da seção é denominado barragem.
O cruzamento de ar ocorre onde a vazão de ar de entrada cruza com a
vazão de ar de retorno, mas esses fluxos de ar não podem se misturar. Então,
é realizada a construção de uma passagem, na qual a vazão de ar de retorno
usará um caminho da passagem e a vazão de ar de entrada usará o outro
caminho, de modo a não haver a mistura de ar (CARDOSO, 2014).

É importante mencionar que o sistema de ventilação deve ser levar


em consideração as condições topográficas, limitações do espaço
e outras características específicas do local de operação.

Os ventiladores, especificamente, podem ser divididos em dois modelos: os


centrífugos e os axiais. Conforme Cristal Jr (2020), os ventiladores centrífugos
(Figura 5) funcionam como bombas de ar. No mercado, há as seguintes três
opções de modelos.

„ Centrífugos com as pás radiais: mais indicados para trabalho pesados,


por ser um modelo robusto e barulhento.
„ Centrífugos com as pás para trás: são muito eficientes, mas não são
indicados para locais que precisem “retirar” grande quantidade de
poeira, devido à sua potência limitada.
„ Centrífugos com as pás para frente: são os modelos mais eficientes,
já que têm uma alta capacidade de exaustão até mesmo em baixas
velocidades.
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Pás radiais Pás curvadas Pás curvadas


retas para trás para frente

Figura 5. Tipos de ventiladores centrífugos utilizados em minas subterrâneas.


Fonte: Adaptada de PosColheita (2018).

Com relação aos ventiladores axiais (Figura 6), são mais indicados para
minas com altas profundidades, uma vez que apresentam um sistema de
baixa “perda de carga”, buscando a combinação de alta vazão e baixos níveis
de ruído e consumo.

Figura 6. Ventilador axial utilizado em minas subterrâneas.


Fonte: Cristal Jr (2020, documento on-line).
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Conforme Candia et al. (2009), são várias as causas de acidentes em minas


subterrâneas. Inclusive, Saliba (2010) menciona que a mineração é um dos
ramos de atividades que apresentam maior índice de acidentes do trabalho,
além da exposição aos fatores de risco físicos, químicos, biológicos e ergo-
nômicos passíveis de acarretarem doenças ocupacionais. Entre as principais
causas dos acidentes na mineração, conforme Candia et al. (2009), estão:

„ eletricidade;
„ enclausuramento em espaços confinados;
„ explosão de explosivos manufaturados;
„ explosão de dutos sob pressão;
„ queda e deslizamento de materiais;
„ queda da face, suporte ou pilar da escavação;
„ queda de rochas do teto da escavação;
„ incêndios;
„ manuseio de materiais, equipamentos e máquinas;
„ ferramentas manuais;
„ carregamento de minério;
„ transporte horizontal e vertical;
„ ignição ou explosão de gases ou poeira;
„ inundação.

Alguns desses acidentes/problemas podem ser evitados ou minimizados


pela instalação de um sistema eficiente de ventilação na mina. Logo, percebe-
-se a importância da ventilação nas atividades mineradores no subsolo.
Conforme Machado (2011), diferentes critérios são utilizados para o dimen-
sionamento de um sistema de ventilação em mina, como o número máximo
de pessoas em subsolo, o consumo de explosivos, a quantidade e os tipos de
veículos e equipamentos a óleo diesel, a tonelagem mensal desmontada, a
velocidade mínima do ar, a vazão de ar por metro quadrado da área da frente
em desenvolvimento, etc.

Referências
BOTKIN, D. B.; KELLER, E. A. Ciência ambiental: terra, um planeta vivo. Rio de Janeiro:
LTC, 2018.
BRASIL. Portaria nº 36, de 16 de janeiro de 2015. Altera as normas reguladoras da
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Oficial da União, Brasília, 20 jan. 2015. Disponível em: https://www.in.gov.br/materia/-/
asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/32116566/do1-2015-01-20-portaria-n-36-
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24 Introdução à ventilação em mina subterrânea

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Z6snFDF9qKD/?lang=pt. Acesso em: 1 set. 2021.
CARDOSO, R. R. Verificação do sistema de ventilação de uma mina subterrânea dividido
em três estágios de mineração para uma mina de carvão baseado na mina do Leão II
(RS). 2014. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Mecânica) —
Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014.
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Introdução à ventilação em mina subterrânea 25

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