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Revista Científica da FAESA, Vitória, ES, v14, n1, p 201-2017, 2018 ISSN: 1809-7367

ISSUE DOI: 10.5008/1809.7367.146

VENTILAÇÃO FORÇADA NO FOSSO


DO VIRADOR DE VAGÕES
FORCED VENTILATION IN THE PIT OF RAILCAR DUMPER
Milton Carvalho Bernardo 1, Rafael De Paula Pinheiro2,

RESUMO
A mineração é uma atividade praticada no país desde o início de sua história, e
tem evoluído com o avanço da tecnologia. O virador de vagões foi um equipamento que
otimizou a maneira como o minério é transferido. A presente pesquisa teve como
objetivo o estudo das condições de trabalho quanto a renovação de ar necessária no
fosso para atender as exigências de salubridade de trabalho e permanência no local,
avaliando a ventilação natural existente e a necessidade de um sistema complementar.
As condições de insuflamento de ar natural mostraram-se ineficientes para a renovação
recomendada, portanto foi dimensionado um sistema de insuflamento e exaustão que
garante as exigências previstas. Para a determinação dessas condições foram utilizados
conceitos ligados a mecânica dos fluidos e fenômenos de transporte e aspectos
inerentes ao local de instalação do virador.

Palavras-Chave: Ventilação, virador de vagões, mineração

ABSTRACT
Mining is an activity practiced in the country since the beginning of its
history, and has evolved with the advancement of technology. The railcar dumper
was an equipment that optimized the way the ore is transferred. The present
research had the objective of studying the working conditions regarding the
renovation of the necessary air in the pit to meet the requirements of work health
and stay in the place, evaluating the existing natural ventilation and the need for
a complementary system. The conditions of natural air insufflation were inefficient
for the recommended renewal, therefore a system of insufflation and exhaustion
was designed that guarantee the expected requirements. For the determination

1Msc Tecnologia do Ambiente (FAACZ), Docente da FAESA Centro Universitária ; milton.carvalho@faesa.br


2Graduando em Engenharia Mecânica (FAESA),rafael_d_pinheiro@hotmail.com
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of these conditions were used concepts related to fluid mechanics and transport
phenomena and aspects inherent to the installation site of the railcar dumper.

Keywords: Ventilation, railcar dumper, mining

INTRODUÇÃO

Mineração compreende em processos que têm como objetivo extrair substâncias


minerais a partir de depósitos geológicos. O Brasil tem uma relação próxima com a
mineração desde o início de sua história quando ainda era colônia de Portugal, onde a
exploração do ouro, prata e cobre, além de pedras preciosas era muito intensa.
Atualmente a mineração ainda é uma atividade econômica de grande
importância no cenário brasileiro, destacando-se a exploração do minério de ferro, que
além de abastecer o mercado interno também é exportado para diversos países do
mundo na forma de pelotas.
O minério de ferro sai das usinas de pelotização por meio de correias
transportadoras e é levado aos vagões, onde por sistemas ferroviários, são destinados
aos portos.
Nos portos, os vagões carregados com as pelotas de minério de ferro são
direcionados a um equipamento chamado Virador de Vagões, que tem como objetivo
girar o vagão sobre um fosso para descarregar o minério em chutes de descarga
(equipamentos mecânicos que funcionam como um funil e levam o material ás correias
transportadoras do Carregador de Navios).
O fosso do virador de vagões fica abaixo da elevação do terreno a 12,15m de
profundidade, uma vez que os vagões são descarregados por gravidade, por esse motivo
e pela geometria de construção característica do fosso, a troca de ar no local é
extremamente limitada.
Os trabalhadores que precisam permanecer no local, tem a respiração
prejudicada por causa da queda na quantidade disponível de oxigênio no ar, devido a
ineficiência da renovação. Essa condição tem potencial para causar mal-estar súbitos,
acidentes e doenças em longo prazo.
Os objetivos desta pesquisa foram verificar as condições de renovação de ar ideal
para permanência e trabalho no fosso do virador de vagões, analisar as taxas de
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renovação de ar existente, verificar se essas taxas atenderiam as recomendações e caso


a ventilação natural fosse ineficiente determinar um sistema de ventilação forçado para
adequar as condições ideais.
A relevância deste estudo está na conservação das condições salubres de
trabalho dos funcionários expostos ao ambiente estudado. Após o resultado desta
pesquisa, pretende-se ser estabelecido um método de melhoria na eficiência da taxa de
renovação de ar, garantindo assim que a saúde e bem-estar dos trabalhadores portuários
que atuam no local estará segura e conforme as condições recomendadas.

CONDIÇÕES PARA QUALIDADE DO AR RESPIRÁVEL


De acordo com Costa (1991, p. 103) o ar considerado respirável, se encontra
próximo ao nível do mar, em uma camada correspondente a 1 ou 2% da espessura total
da atmosfera. Este ar quando dito puro, possui em sua constituição média cerca de
20,99% do gás oxigênio (O2).
Ainda segundo Costa (1991, p. 105), quando em repouso, o organismo humano
consome em média 16 litros de O2 por hora, e apenas 5,5% do volume total do ar
inspirado é aproveitado de fato na respiração. Assim são necessários 300 litros de ar por
hora, no caso ideal.
Porém, valendo-se do que Costa (1991, p. 105) diz:
O problema, entretanto, não é de substituição e sim diluição, pois o ar
de ventilação é misturado com o do ambiente, o qual embora já
utilizado, volta novamente a ser respirado. Nessas condições,
dependendo da atividade das pessoas (que aumenta o seu
metabolismo e, portanto, o seu consumo de oxigênio) e do tipo de
ambiente (produção de contaminantes), a quantidade de ar necessária
à ventilação pode ser cera de 25 a 150 vezes superior à indicada acima
(8 a 50 m³/h).

Para garantir que o nível de O2 no ar, seja suficiente para a respiração, faz-se
necessária a renovação do ar no local estudado. Para facilitar a seleção dos índices de
renovação de ar, a fábrica de ventiladores Clarage (E.U.A.) citada por Costa (1991, p.
107), recomenda o quadro 1 abaixo, onde ƞ representa o número de renovações por
hora, de acordo com cada ambiente.
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Quadro 1 – Renovações do ar ambiente por hora


Ambiente ƞ

Auditórios, igrejas, túneis, estaleiros 6

Fábricas, oficinas, escritórios, lojas, salas de diversões 10

Restaurantes, clubes, garagens, cozinhas 12

Lavanderias, padarias, fundições, sanitários 20

Fonte: Costa (1991, p. 107).

VENTILAÇÃO NATURAL

As forças naturais de ventilação provem da força do vento e da diferença de


temperatura entre o ar interior e exterior da edificação. Essas forças podem agir
individualmente ou em conjunto dependendo do projeto, localização e condições
atmosféricas no local da construção. Os resultados obtidos com a ventilação natural
variam também com a velocidade e direção dos ventos (MESQUITA; GUIMARÃES;
NEFUSSI, 1977, p. 122).
Quanto à produção de ventilação pelo uso dos ventos, tem-se que:

Considerando-se o uso de ventos para produção de ventilação, devem


ser levados em conta os seguintes parâmetros: (a) a velocidade média
do vento, (b) a direção predominante do vento, (c) as variações diárias
e sazonais do vento e (d) a interferência local nos ventos devido a
edifícios próximos, colinas e outras obstruções de natureza similar.
Como regra geral, pode-se dimensionar o sistema utilizando-se uma
velocidade de ventos de 50% do valor da velocidade média sazonal.
(MESQUITA; GUIMARÃES; NEFUSSI, 1977, p. 123).

A equação (1) pode ser usada para calcular a vazão de ar insuflada pelo vento
através das aberturas na edificação (MESQUITA; GUIMARÃES; NEFUSSI, 1977, p. 123).

Q = ExA (1)

Onde,

Q =Vazão de ar em m³/s; E = Coeficiente de aberturas, entre 0,5 e 0,6 para


aberturas perpendiculares a direção do vento e 0,255 e 0,35 para ventos diagonais; 𝐴 =
Área livre para entrada de ar em m².
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Quanto a produção de ventilação por diferença de temperatura, Mesquita,


Guimarães e Nefussi (1977, p.123) dizem que a produção de ventilação de ar devido ao
efeito chaminé pode ser calculada pela equação:

Q = 9,4 x A x (h x (Ti − Te))1/2 (2)

Onde,
Q= Vazão de ar em m³/s; A= Área livre de entradas e saídas; h= Diferenças de altura
entre entrada e saídas de ar; Ti= Temperatura média do ar interior, à altura das aberturas
de saída; Te= Temperatura média do ar exterior à construção.

Quando a ventilação natural não é suficiente para a troca de ar recomendada, a


ventilação forçada pode ser utilizada para suprir a necessidade da renovação de ar. Como
descrito por Costa (1991, p. 111) na ventilação forçada, quando não há possibilidade de
capturar todo o contaminante do ar antes de este ser espalhado pelo recinto, utiliza-se
a ventilação do tipo diluidora por insuflamento, onde o ar externo de ventilação é
misturado com o ar viciado do ambiente, conseguindo-se com isso, uma diluição do ar,
para que a concentração de gases esteja em um nível admissível. Assim, em uma
instalação de ventilação forçada por insuflamento, será constituída basicamente pelos
seguintes elementos: dutos de ar exterior, ventilador de insuflamento com motor de
acionamento, dutos de insuflamento, bocas de insuflamento, bocas de exaustão, dutos
de exaustão, ventilador de exaustão com acionamento e descarga de ar.

EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE E EQUAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA ENERGIA

Como constatado por Macintyre (1990, p. 117):

O sistema de dutos de ventilação vem a ser uma disposição de


tubulações para a condução do ar sob pressão pouco elevada, onde,
portanto, a compressibilidade do ar pode ser desprezada, não
ocorrendo no escoamento os fenômenos termodinâmicos que se
verificam, por exemplo, nas linhas de ar comprimido e de vapor.

O dimensionamento, qualquer que seja o método adotado, baseia-se


na Equação de Continuidade e no Princípio de Conservação da Energia
para os Fluidos em Escoamento, traduzida pela equação de Bemoulli.

A Equação de Continuidade mostra que o valor de vazão é obtido pelo


produto da área da seção normal aos filetes líquidos em escoamento
pela velocidade média na mesma seção.
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Desta forma tem-se que:

Q = VxA (3)

Onde,
Q = vazão em m³/s; V = velocidade do escoamento em m/s; A = área em m².

A equação de Bernoulli revela características importantes sobre o escoamento


do fluido entre dois pontos, como descritos por Macintyre (1990, p. 118), a energia do
ponto inicial será igual a energia do ponto final, somada as perdas, ditas perdas de carga,
no escoamento entre estes dois pontos. Além disto, mostra que a energia é constituída
por três parcelas, sendo elas energia de posição (h), energia de pressão (P/ɤ) e energia
cinética (V²/2g).
A energia total H da unidade de peso do fluido, em relação a um plano de
referência, pode ser descrita então da seguinte forma:

H = h + P/ɤ + V²/2g (4)

Onde,

h = cota em relação ao nível de referência, desprezível em instalações de ventilação;


P/ ɤ = pressão estática, onde ɤ é o peso específico; V = velocidade de escoamento do
fluído m/s; 𝑔 = aceleração da gravidade em m/s².

Esta energia requerida pelo sistema deve ser proporcionada pelos ventiladores.

PERDAS DE CARGA

Perda de carga corresponde à energia dissipada que ocorre em razão do atrito do


fluido ao longo do deslocamento no duto, nas mudanças de direção e de seção, nas
derivações e nos acessórios dos dutos.

PERDA DE CARGA EM DUTOS DE VENTILAÇÃO


Conforme Macintyre (1990, p.120):

O cálculo da perda de carga, ou seja, de energia em dutos circulares


pode ser realizado usando a fórmula universal de Darcy e Weisbach ou
diagramas baseados no emprego de dutos de determinado material
com rugosidade definida e válida para o ar de determinada densidade.
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O primeiro método é geral, aplicável quando se conhece a rugosidade


do material do duto, o peso específico da mistura gasosa e a
viscosidade da mesma. Vejamos como se procede na aplicação do
método universal.

Aplica-se a fórmula:

Δp = (f x l/d x V²/2g) x ρ (5)

Onde,
𝛥𝑝 = perda de carga em Pa; 𝑓 = coeficiente de atrito; 𝑙 = comprimento do duto
em m; 𝑑 = diâmetro do duto em m; 𝑣 = velocidade do escoamento em m/s;𝑔 =
aceleração da gravidade em m/s²; ρ: massa especifica do fluido em kg/m³.

De acordo com Fox e McDonald (2001, p.234), o coeficiente de atrito f pode ser
obtido através da equação de Colebrook, a saber:

1 𝑒/𝐷 2,51
= −2,0 log ( 3,7 + 𝑅𝑒 𝑓0,5 ) (6)
𝑓 0,5

Onde,
𝑓: coeficiente de atrito; 𝐷: diâmetro do duto em m; 𝑒: rugosidade do material do
duto mm; Re: número de Reynolds.

Essa equação é transcendente como diz Fox e McDolnald (2001, p.234) por isso
é necessário um processo interativo para determinar o valor de f. Porém uma simples
interação pode produzir um resultado dentro de 1% de erro se o valor inicial for
estimado a partir da equação de Miller descrita a seguir:

𝑒/𝐷 5,74
𝑓0 = 0,25 [𝑙𝑜𝑔 ( 3,7 + 𝑅𝑒 0,9 )] −2 (7)

Onde,

𝑓0 = coeficiente de atrito inicial; 𝐷 = diâmetro do duto em m; E = rugosidade do


material do duto mm; Re = número de Reynolds.

O número de Reynolds, usado nas equações supracitadas, avalia se o escoamento


do fluido é laminar ou turbulento como descrito por Fox e McDolnald (2001, p.215). Este
valor pode ser obtido através da equação:

Re = (ρ x V x D) / μ (8)
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Onde,
ρ = massa especifica do fluido em kg/m³; 𝐷 = diâmetro do duto em m; 𝑉 = velocidade
média do escoamento em m/s; μ = viscosidade dinâmica do fluido em Pa x s.

Fox e McDonald (2001, p.233), listam os valores conhecidos de rugosidade para


tubos de materiais comuns de engenharia, como mostrado abaixo.
Quadro 2 – Rugosidade para tubos de materiais comuns de engenharia
Tubo Rugosidade e (mm)
Aço rebitado 0,9 - 9
Concreto 0,3 – 3
Madeira 0,2 – 0,9
Ferro Fundido 0,26
Ferro galvanizado 0,15
Ferro fundido asfaltado 0,12
Aço comercial ou ferro forjado 0,046
Trefilado 0,0015
Fonte: Fox e McDonald (2001, p. 233)

Segundo descrito por Macintyre (1990, p.121), à pressão atmosférica constante,


obtém-se as seguintes propriedades do ar:
Quadro 3 – Rugosidade para tubos de materiais comuns de engenharia
Temperatura (°C) Peso específico ρ (Kg/m³) Viscosidade Cinemática μ (Pa x s)
0 1,2922 1,7780 x 10-5
10 1,2467 1,7708 x 10-5
20 1,2041 1,8178 x 10-5
30 1,1644 1,8648 x 10-5
40 1,1272 1,9118 x 10-5
50 1,0924 1,9588 x 10-5
Fonte: Macintyre (1990, p. 121)

Ainda segundo por Macintyre (1990, p.123), as velocidades recomendadas para


o escoamento do ar, seguem o descrito na tabela abaixo.
Quadro 4 – Velocidades recomendadas e máximas para dutos de ar e equipamentos de sistemas de
baixa pressão (NB-10/1978)
Recomendadas (m/s) Máximas (m/s)
Escolas Escolas
Designação Prédios Prédios
Residências Teatros Residências Teatros
industriais industriais
ed. públicos ed. públicos
Tomada de ar exterior 2,5 2,5 2,5 4 4,5 6
resfriamento 2,25 2,5 3 2,25 2,5 3,6
Serpentinas
aquecimento 2,25 2,5 3 2,5 3 7,5
borrifador 2,5 2,5 2,5 3,5 3,5 3,5
Lavadores de ar
alta velocidade - - - - - 9
Descarga do mín 5 6,5 8 - - -
ventilador máx 8 10 12 8,5 11 14
mín 3,5 5 6 - - -
Dutos principais
máx 4,5 6,5 9 6 8 10
mín - 3 4 - - -
Ramais horizontais
máx 3 4,5 5 5 6,5 9
mín - 3 - - - -
Ramais verticais
máx 2,5 3,5 4 4 6 8
Fonte: Macintyre (1990, p. 123)
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Perda de carga localizada em peças do sistema de ventilação


Nas instalações de dutos de ventilação forçada existem peças que contribuem
para aumentar a perda de carga do sistema, em razão do atrito, das turbulências e das
variações de velocidade que provocam no fluido, como é explicado por Macintyre (1990,
p. 138).
Para determinar as perdas de carga localizada, pode-se seguir o método
explanado por Macintyre (1990, p. 138):

[...] na prática de ventilação é mais usual determinar individualmente


as perdas correspondentes a cada peça, exprimindo-as em polegadas
de coluna de água ou em mm de coluna de água.

Para isto, conhecendo-se a velocidade média v de escoamento na


peça, calcula-se a altura representativa da velocidade hv, ou seja, a
pressão dinâmica expressa em pol.H2O ou em mmH2O. [...]

[...] Consultam-se tabelas adequadas, onde, para cada tipo de peça, se


encontra um coeficiente K que, multiplicado por hv, fornece a perda
de carga em pol.H20 ou em mmH2O.

Pode-se usar a fórmula com v em m/s e hv, pressão dinâmica ou


cinética, em mmH20, considerando o peso específico do ar igual a 1,2
kgf/m3.

hv = v²/16,34 (9)

Ainda segundo Macintyre (1990, p. 138), para calcular a perda de carga Δp, na
peça, basta multiplicar hv pelo K tabelado.

Δp = K x hv (10)

Onde,
Δp = perda de carga em m.m.c.a.; K = coeficiente de perda de carga
(característico da peça); h = pressão dinâmica ou cinética em m.m.c.a.; v: velocidade do
escoamento em m/s.

Quadro 5 – Fator K para curvas de seção circular

R/D K
0 0,8
0,25 0,4 - 0,5
0,5 0,25
1 0,16

Fonte: Macintyre (1990, p. 140)


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Também conforme diz Macintyre (1990, p. 141) as reduções graduais com ângulo de
estreitamento igual a 60°, possuem fator K=0,06.

CÁLCULO DA POTÊNCIA DOS VENTILADORES

Uma vez determinadas as perdas do sistema, é possível calcular a potência dos


ventiladores. Conforme descrito por Macintyre (1990, p. 166), a potência aplicada pelo
rotor a uma massa de gás obedece a seguinte equação:

N e = ϫ x Q x He (11)

Onde:

Ne: potência do ventilador em W; Ϫ: peso específico do ar em kg/m³; Q: Vazão do


ar em m³/h; He: Altura de elevação em m.c.a.

MATERIAIS E MÉTODOS

LEVANTAMENTO DE DADOS DO VIRADOR DE VAGÕES

O virador de vagões estudado pertence a uma grande mineradora e está situado


no litoral sul do estado do Rio de Janeiro. De acordo com funcionários responsáveis pela
área, a temperatura média no interior da câmara é de aproximadamente 30°C, valor
adotado como premissa para os cálculos nesta pesquisa. O objeto de estudo pode ser
dividido em duas áreas distintas, a câmara onde ocorre a virada dos vagões e o túnel por
onde passa o transportador de coreia. A entrada do túnel está orientada a 8° no sentido
horário em relação ao norte magnético da Terra. Conforme projeto apresentado abaixo,
a câmara do virador tem altura igual a 8,95m, largura 30,90m e profundidade 12,15m,
com aberturas na parte superior situados a cota de 4,8m em relação ao nível do mar,
com tamanhos de 2,8m x 4,0m e 2,5m x 4,0m, para içamento de cargas e caixa de
escadas respectivamente. O Túnel por sua vez possui comprimento total de 143,00m,
largura 2,90m e altura 4,0m, com entrada situada a cota de 3,0m em relação ao nível do
mar.
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A rede de distribuição de dutos projetada está mostrada nas figuras 1 e 2 abaixo,


onde os dutos na cor ciano representam os dutos do sistema de insuflamento e os dutos
na cor vermelha representam os dutos do sistema de exaustão, projetados em aço
galvanizado.
Figura 1 – Esquema distribuição dos dutos

Figura 2 – Esquema de distribuição dos dutos

LEVANTAMENTO DE DADOS ATMOSFÉRICOS E CLIMATOLÓGICOS

O governo do estado do Rio de Janeiro mantém na Bacia de Sepetiba a estação


meteorológica de número 20, nomeada Guaratiba. Desta estação podem ser coletados
valores de índice pluviométrico, dados de Temperatura, Pressão Atmosférica, Umidade
do Ar e Vento (WEBSEMPRE, 2017).
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CÁLCULO DAS CONDIÇÕES EXISTENTES

A ventilação natural por simples ação do vento pode ser calculada constatando-
se a posição da abertura da entrada de ar em relação a direção do vento predominante,
para assim determinar o valor a ser adotado do coeficiente de abertura (E). Com as
informações de área da abertura e coeficiente de abertura, calcula-se a vazão de
insuflamento através da equação (1).
Já na ventilação natural por efeito chaminé, calcula-se a área total de entrada e
saída de ar, e a diferença de nível entre elas. Usando os valores coletados de temperatura
média interna e externa ao ambiente, aplica-se a equação (2) para obter o valor da vazão
de insuflamento.
Essas duas vazões combinadas serão a vazão de insuflamento de ar natural total
do ambiente. Este valor de vazão irá proporcionar uma renovação de ar total do
ambiente em determinado tempo, de acordo com o volume do mesmo.

CÁLCULO DO SISTEMA DE INSUFLAMENTO

O número de renovações por hora (ƞ) mostrados no Quadro 1, corresponde a


troca total do volume de ar no ambiente no tempo determinado, portanto uma relação
que corresponde a vazão que deverá ser insuflada, no caso do projeto em questão, foi
adotado 10 renovações por hora.
O projeto determina a quantidade de pontos de insuflamento, bem como a
grelha de insuflamento utilizada, e, portanto, o diferente número de reduções na secção
transversal do duto a fim de manter a velocidade de insuflamento constante. Foram
definidos, portanto 7 pontos de insuflamento, utilizando 14 grelhas ao total. O Cálculo
dos diâmetros pode ser feito a partir da equação (3).
A perda de carga distribuída nos dutos é calculada em cada trecho
individualmente de acordo com os diferentes diâmetros e comprimentos, sendo a perda
de carga total distribuída a somatória destes valores. Inicialmente calcula-se o número
de Reynolds conforme equação (8). Em posse desses valores utiliza-se a equação (7) para
determinar um valor preliminar do coeficiente de atrito, e em seguida a equação (6) para
encontrar o valor real dentro de uma margem de erro aceitável.
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Com o valor do coeficiente de atrito, todas as variáveis necessárias para o cálculo


da perda de carga descrita na equação (5) são conhecidas.
A perda de carga localizada foi estimada com base nos acessórios previstos no
encaminhamento da rede de dutos, cada acessório tem um fator de perda K como
descrito no quadro 5. Com estes valores e a velocidade de projeto adotada com
referência no quadro 4, calcula-se a perda de carga, utilizando as equações (9) e (10). No
projeto, para o sistema de insuflamento foram necessárias 8 curvas com R/D = 1,0 e 6
reduções graduais como mostrado nas figuras 1 e 2.
O valor da perda de carga nas grelhas é obtido através do catalogo do fornecedor
e deve ser somado a perda de carga nos acessórios para obter-se então a perda de carga
localizada total do sistema.
Somando-se enfim a perda de carga localizada e a perda de carga distribuída,
obtém-se o valor da altura manométrica total do sistema.
Com os valores da perda de carga, vazão e peso específico do ar, pode-se
determinar a potência necessária para o ventilador que insuflará o ar a partir da equação
(11).

Cálculo do sistema de exaustão


O projeto determina a quantidade de pontos de exaustão, bem como a grelha de
retorno utilizada, e, portanto, o diferente número de reduções na secção transversal do
duto a fim de manter a velocidade no duto constante. Foram definidos, portanto 7
pontos de insuflamento, utilizando 14 grelhas ao total. O Cálculo dos diâmetros foram
feitos a partir da equação (3).
Os cálculos das vazões, perdas de carga distribuídas e localizadas, bem como a
potência do ventilador exaustor são idênticos aos utilizados no sistema de insuflamento.
Para o sistema de exaustão foram necessárias 8 curvas com R/D = 1,0 e 6 reduções
graduais como mostrado nas figuras 1 e 2.

RESULTADOS

VENTILAÇÃO NATURAL

A partir dos dados coletados pela estação meteorológica Guaratiba


(WEBSEMPRE, 2017), obtiveram-se 23144 valores medidos desde o dia 01/01/2017 até
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31/08/2017, que possibilitaram a realização dos cálculos das condições climatológicas


existentes. Os dados obtidos por média aritmética foram, direção do vento
predominante igual a 133,43° no sentido horário em relação ao norte magnético da Terra
e temperatura ambiente média de 26,83°C.
As forças naturais de ventilação provenientes da ação do vento e da diferença de
pressão promovem a insuflação de ar no fosso do virador de vagões mostrada abaixo e,
portanto, a renovação de ar do ambiente de 0,24 renovações por hora.

Vazão por simples ação dos ventos Q = 4,06 m³/h


Vazão por efeito chaminé Q = 1182,21 m³/h
Vazão total por ventilação natural Q = 1186,27 m³/h
Número de renovações por hora Ƞ = 0,24

SISTEMA DE INSUFLAMENTO
O sistema de insuflamento de ar composto por uma rede de dutos, 14 grelhas de
insuflamento, 8 curvas e 6 reduções graduais, com vazão que possibilita um número total
de 10 renovações por hora, foi calculado e apresenta os resultados mostrados a seguir.

Vazão de insuflamento Q = 50189,5 m³/h


Diâmetro 1ª seção D1=1332 mm
Diâmetro 2ª seção D2=1235 mm
Diâmetro 3ª seção D3=1130 mm
Diâmetro 4ª seção D4=1015 mm
Diâmetro 5ª seção D5=885 mm
Diâmetro 6ª seção D6=730 mm
Diâmetro 7ª seção D7=540 mm
Perda de carga distribuída Δp = 3,4653 m.m.c.a.
Perda de carga Localizada Δp = 38,0367 m.m.c.a.
Perda de carga total Δp = 41,5020 m.m.c.a.
Potência ventilador Ne = 2426,65 W

SISTEMA DE EXAUSTÃO

O sistema de exaustão de ar composto por uma rede de dutos, 14 grelhas de


insuflamento, 8 curvas e 6 reduções graduais, com vazão que possibilita um número total
de 10 renovações por hora, foi calculado e apresenta os resultados mostrados a seguir.
Revista Científica da FAESA, Vitória, ES, v14, n1, p 182-198, 2018 215

Vazão de exaustão Q = 50189,5 m³/h


Diâmetro 1ª seção D1=1332 mm
Diâmetro 2ª seção D2=1235 mm
Diâmetro 3ª seção D3=1130 mm
Diâmetro 4ª seção D4=1015 mm
Diâmetro 5ª seção D5=885 mm
Diâmetro 6ª seção D6=730 mm
Diâmetro 7ª seção D7=540 mm
Perda de carga distribuída Δp = 4,3301 m.m.c.a.
Perda de carga Localizada Δp = 38,0367 m.m.c.a.
Perda de carga total Δp = 42,3668 m.m.c.a.
Potência ventilador Ne = 2477,22 W

CONCLUSÃO

Os objetivos desta pesquisa foram verificar as condições de renovação de ar ideal


para permanência e trabalho no fosso do virador de vagões, analisar as taxas de
renovação de ar existente, verificar se essas taxas atenderiam as condições
recomendadas e caso a ventilação natural fosse ineficiente determinar um sistema de
ventilação forçado para adequar as condições ideais.
Com o referencial teórico é possível constatar a importância e necessidade da
renovação do ar local de acordo com cada ambiente de trabalho ou permanência. Pode-
se perceber ainda como se comportam os fluidos quanto a seu escoamento, ganho e
perda de energia de pressão.
Os resultados obtidos constatam que apenas com a ventilação natural obtém-se
uma taxa de renovação de pouco mais de 2% da necessária, assim pode-se constatar a
necessidade de um sistema auxiliar de ventilação para suprir essa necessidade.
O sistema proposto, portanto, atende as necessidades pré-estabelecidas e garante
que a taxa de O2 disponível para a respiração dos funcionários que permanecerão no
fosso do virador de vagões esteja sempre em valores aceitáveis, propiciando assim um
ambiente de trabalho salubre e sem riscos a integridade física dos mesmos.

REFERÊNCIAS
COSTA, E. C. Física aplicada à construção: Conforto térmico. 4. São Paulo: Blucher, 1991.
p. 103-154.

MACINTYRE, A. J. Ventilação Industrial e Controle da Poluição. 2. Rio de Janeiro:


Guanabara, 1990. p. 117 – 156.
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MESQUITA, A.L.; GUIMARÃES, F. A,; NEFUSSI, N. Engenharia de ventilação industrial. 1.


São Paulo: Associação dos funcionários da CETESB, 1977. p. 122 – 125.

FOX, R.W.; MCDONALD, A. T. Introdução à mecânica dos fluidos. 1. Rio de Janeiro: LTC,
2001. p. 215 – 240.

WEBSEMPRE, Estação: Guaratiba – 20. 2017. On-line. Disponível em:


<http://websempre.rio.rj.gov.br:8000/dados/20/>. Acesso em 01 set. 2017.

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