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Reabilitação Oral

com Próteses Totais

Alessandro Ribeiro Gonçalves


Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves
Orgs.
Reabilitação Oral
com Próteses Totais
Autores e organizadores:
Reabilitação Oral
com Próteses Totais

Alessandro Ribeiro Gonçalves


Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves
Orgs.
Universidade Federal do Piauí
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Reitor
Gildásio Guedes Fernandes Reitor
Gildásio Guedes Fernandes
Vice-Reitor
Vice-Reitor
Viriato Campelo Viriato Campelo

Superintendente de Comunicação
SuperintendenteSocial
de Comunicação Social
Samantha Viana Castelo Branco
FenelonRocha
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da Rocha Neto

Diretor da EDUFPI Editor


Cleber de Deus Pereira da Silva
Cleber de Deus Pereira da Silva
EDUFPI - Conselho Editorial
EDUFPI - Conselho Editorial Revisão
Cleber de Deus Pereira da Silva (presidente)
Cleber de Deus Pereira da Silva
Cleber(presidente)
Ranieri Ribas deAlmeida Aécio Rômulo Tupinambá Rodrigues
Cleber Ranieri Ribas de AlmeidaGustavo Fortes Said
Gustavo Fortes Said Nelson Juliano Cardoso MatosProjeto Gráfico, Capa e Diagramação
Nelson Juliano Cardoso Matos Nelson Nery Costa Renan Marques
Viriato Campelo
Nelson Nery Costa Wilson Seraine da Silva Filho
Viriato Campelo
Wilson Seraine da Silva Filho DIAGRAMAÇÃO
Delson Ferreira Bonfim

REVISÃO ORTOGRÁFICA
Aécio Rômulo Tupinambá Rodrigues
FICHA CATALOGRÁFICA
Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí
Biblioteca Setorial do CCS
R281
Reabilitação oral com próteses totais / Alessandro Ribeiro Gonçalves, Caroline
de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves, org. Teresina : EDUFPI, 2021.
277 p. : il.

ISBN: 978-65-5904-212-8. Livro Digital.

1. Reabilitação oral. 2. Prótese total. 3. Implante. I. Gonçalves, Alessandro


Ribeiro. II. Gonçalves, Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues.
CDD 617.6
Elaborada por Fabíola Nunes Brasilino CRB-3/1014
Processo Nº: 23111.049924/2021-24 Pág.: 6 de 193

Editora da Universidade Federal do Piauí – EDUFPI


Campus Universitário Ministro Petrônio Portela
CEP 64049-550 • Bairro Ininga - Teresina-Piauí - Brasil
Todos os direitos reservados
Autores e organizadores

Alessandro Ribeiro Gonçalves


Mestrado em Prótese Parcial Fixa pela UNESP – São José dos Campos
Doutorado em Reabilitação Oral pela UNESP – Araraquara
Prof. Associado do curso de Odontologia da Universidade Federal do Piauí

Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves


Mestrado e Doutorado em Dentística Restauradora pela UNESP-Araraquara
Profa. Adjunto do curso de Odontologia da Universidade Federal do Piauí
Colaboradores

Ana Clarissa Cavalcante Elvas Bohn


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Coordenadora e Professora do curso de aperfeiçoamento em Dentística do
Instituto Latosensu - PI

Cacilda Castelo Branco Lima


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Doutorado em Odontologia pela Universidade Federal de Minas Gerais
Profa. Adjunto do curso de Odontologia da Universidade Federal do Piauí

Carlos Henrique de Carvalho e Souza


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí

Carolina Veloso Lima


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Doutorado e Pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Odontologia da
FOP-UNICAMP, área de concentração em Cariologia
Profa. de graduação em Odontologia da Faculdade UNINASSAU – Teresina

Danila Lorena Nunes dos Santos


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Doutorado em Odontologia pela Universidade Federal do Maranhão

Éllen Maria Matos de Andrade


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Profa. e coordenadora do curso de graduação em Odontologia do Instituto Superior
de Educação de Caxias (ISEC)
Profa. de graduação em Odontologia da Faculdade UNINASSAU - Teresina
Erika da Silva Luz Alvarenga
Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Odontóloga do Instituto Federal do Piauí

Germana Miranda Damascena


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí

Janayla Moreira Abreu


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí

Jessyca Leal Moura Fé


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Profa. Visitante da Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, ABCD - PI, Brasil

Laynna Marina Santos Lima


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí Profa. Visitante da
Associação Brasileira de Cirurgiões-Dentistas, ABCD - PI, Brasil

Lorenna Bastos Lima Verde Nogueira


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Técnico Administrativo em Educação (Odontólogo) no Instituto Federal do Piauí,
IFPI, Brasil

Luana Carmem Lino Gomes


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí

Lucas Lopes Araújo Sousa


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Odontólogo do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí, Brasil

Maria Janaína Barroso Andrade


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Cirurgiã-Dentista do Instituto Federal do Piauí e Cirurgiã-Dentista da Prefeitura
Municipal de Teresina
Marina Sena Lopes da Silva Sacchetto
Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Odontopediatra no Centro de Especialidades Odontológicas da Prefeitura de Belo
Horizonte
Clínico geral no Hospital das Clínicas da UFMG, em Belo Horizonte

Moema Modesto Fonseca Rocha


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí

Neusa Barros Dantas Neta


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Doutorado em Odontopediatria pela Universidade Federal de Minas Gerais
Professora de Radiologia da Faculdade Integral Diferencial, Brasil

Rianny Maria Barros Lopes


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí

Suyá Moura Mendes Alencar


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí
Profa. do Centro de Educação Tecnológica de Teresina, Brasil

Thaís Alves Elias da Silva


Mestrado em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí Cirurgiã-dentista da
Prefeitura Municipal de Teresina
Profa. de cursos de pós-graduação em Periodontia da Associação Brasileira de
Odontologia Piauí
Profa. de Odontologia da UNINASSAU- Teresina
Prefácio

Em apertada síntese, este trabalho apresenta como tema central o


estudo sobre reabilitação com próteses totais.
Como seus autores e, também, organizadores, se algum mérito nos
coube nessa tarefa, creditamos ao fato da já longa experiência, tirocínio e
empenho acumulados na trajetória diuturna, como professores, à frente de
disciplinas do curso de Odontologia na Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Reconhecimento mais do que justo, entretanto, queremos prestar aos
demais autores (colaboradores) – seleto grupo de 21 colegas mestres e
doutores – que a nós se aliaram, ao participarem de forma ativa, dinâmica e
dedicada do curso de pós-graduação realizado na UFPI, no qual foi discutido
e atualizado todo o contexto do trabalho, e de que resultou o presente
texto.
A esses abnegados profissionais, sem distinção, nossos penhorados
agradecimentos, que dirigimos, por natural ascendência, em primeiro
lugar, a Deus, pela inspiração da ideia mater de concepção da obra, e os
estendemos igualmente às nossas famílias, pelo apoio incondicional e de
todas as horas.
Ao entregar o trabalho, assim revisado, à comunidade acadêmica,
esperamos, despretensiosamente, estar contribuindo, com mínima parcela
que seja, para a melhoria e aperfeiçoamento do ensino da Odontologia em
nosso país, mormente no que se relaciona ao estudo específico das técnicas
utilizadas na confecção de próteses totais.

Alessandro e Caroline Gonçalves


Maio/2021
Sumário

Capítulo 1 Exame Clínico e Anamnese...................................13

Capítulo 2 Moldagem Preliminar............................................39

Capítulo 3 Moldagem Funcional.............................................61

Capítulo 4 Bases de Prova........................................................79

Capítulo 5 Articuladores........................................................109

Capítulo 6 Dentes Artificiais.................................................135

Capítulo 7 Provas Funcionais e Instalação...........................161

Capítulo 8 Biomecânica..........................................................183

Capítulo 9 Reembasadores....................................................213

Capítulo 10 Overdentures e Próteses do Tipo Protocolo....235


Capítulo
Exame Clínico e Anamnese
1
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Germana Miranda Damascena
Jessyca Leal Moura Fé

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de, durante um exame clínico,
identificar fatores que possam influenciar a reabilitação oral com próteses
totais.

Sumário do capítulo:
1. Anamnese 2. Exame clínico
1.1 Identificação 2.1 Extraoral
1.2 Queixa principal 2.2 Intraoral
1.3 Aspectos psicológicos do paciente
1.4 Histórico médico 3. Exames complementares
1.4.1 Doenças cardíacas 3.1 Exames laboratoriais
1.4.2 Osteoporose 3.2 Exames de imagem
1.4.3 Diabetes 3.3 Modelos de estudo
1.4.4 Distúrbios Hormonais 3.4 Exame das próteses atuais
1.4.5 Alzheimer
1.4.6 Parkinson 4. Ficha clínica
1.4.7 Terapias por radiação
1.4.8 Deficiências nutricionais
1.4.9 Utilização de medicamentos
1.4.10 Herpes
1.4.11 Sífilis
1.4.12 AIDS
1.4.13 Hepatite B e C
1.5 Histórico odontológico

13
P
ara qualquer tratamento reabilitador, o exame do paciente tem
importância fundamental. O exame Odontológico pode ser definido
como o conjunto de procedimentos sistemáticos executados pelo
Cirurgião-Dentista com o objetivo de avaliar as condições de saúde geral
e bucal, a fim de obter dados para a elaboração do diagnóstico e plano de
tratamento.

Normalmente, o momento do exame clínico significa também o primeiro


contato entre profissional e paciente. A forma como o Cirurgião-Dentista
aborda o paciente nesse momento pode influenciar de maneira decisiva
no sucesso ou fracasso do tratamento. Vale ressaltar a importância de
uma abordagem educada e respeitosa, assim como o uso de vestimentas
adequadas e devidamente higienizadas. Dessa forma, o profissional aumenta
as chances de ganhar a confiança do paciente e facilita a obtenção de
informações importantes.

Para a realização de um exame clínico apurado, é fundamental que


o Cirurgião-Dentista tenha conhecimento amplo das condições normais
dos tecidos da cavidade bucal, de modo a ser capaz de detectar qualquer
alteração ou variação. Além disso, o exame deve seguir uma sequência lógica
e organizada, para que nenhuma informação importante passe despercebida.
A execução do exame de forma criteriosa está diretamente relacionada com
o sucesso do tratamento e a satisfação do paciente.

Durante o exame do paciente deve-se avaliar as queixas, necessidade de


tratamentos prévios, presença de patologias sistêmicas, perfil psicológico do
paciente, além de sua capacidade de cooperação e as dificuldades associadas
ao caso clínico. Com base nesses dados, são estabelecidos o diagnóstico,
o prognóstico do caso e os honorários profissionais necessários para a
execução do tratamento. Nesse momento, a conduta do profissional deve,
também, objetivar a compreensão do paciente sobre os limites e as diversas
possibilidades do tratamento.

Adiante veremos os passos a serem seguidos no exame do paciente:


anamnese, exame clínico e exames complementares.

14
1. Anamnese

A anamnese é uma entrevista feita pelo profissional, com o objetivo


de registrar todos os dados relevantes ao tratamento, para tanto deve-se
abordar a história médica pregressa do paciente e identificar fatores que
possam ter contribuído para a condição atual do paciente. O profissional
deve adotar uma postura séria e firme, porém simpática, inspirar confiança e
respeito e estar disposto a ouvir o paciente.

Tendo em vista a quantidade cada vez maior de ações judiciais de reparação


de danos movidas contra profissionais liberais, reforçadas pelo advento
do Código de Defesa do Consumidor, o Cirurgião-Dentista deve manter
toda a documentação referente aos tratamentos atualizada e arquivada. O
prontuário do paciente deve incluir a ficha clínica, radiografias, atestados e
receitas emitidas, consentimento informado, plano de tratamento, registro
dos honorários e faltas às sessões de tratamento. Toda esta documentação
deve ser assinada pelo paciente. A legislação sobre o prontuário odontológico
apresenta variações quanto ao tempo de guarda do mesmo, porém, segundo
o parecer 125/92 do Conselho Federal de Odontologia, o prazo é de 10 anos
após o último comparecimento do paciente ao consultório (BRASIL, 1992).
Recomenda-se, entretanto, que esse prazo se estenda ao máximo possível,
tendo em vista o Código de Defesa do Consumidor.

A anamnese pode ser dividida em: identificação do paciente, queixa


principal, histórico médico e odontológico.


1.1. Identificação do paciente

A individualização do paciente, com a anotação de suas informações na


ficha clínica, inclui aspectos como nome, gênero, idade, profissão e natura-
lidade. Estes dados, apesar de simples podem sugerir hábitos alimentares
típicos associados à naturalidade, problemas relacionados à idade, além do
estilo de vida e nível de estresse do paciente influenciados por sua atividade
profissional.

15
1.2. Queixa principal

A queixa principal é uma das principais informações obtidas pela anam-


nese. Ela refere-se ao motivo pelo qual o paciente buscou o serviço especiali-
zado. O profissional deve ouvir atentamente o paciente relatar suas queixas
e necessidades e, dentro do possível, deve realizar todos os esforços para
atendê-las. O profissional deve estimular, também, o paciente a relatar como
avalia sua prótese em uso.

1.3 Aspectos psicológicos do paciente

A compreensão do estado psicológico do paciente quanto a suas neces-


sidades clínicas e expectativas é fundamental para a elaboração do plano de
tratamento e prognóstico do caso. O perfil psicológico do paciente come-
ça a ser traçado pelo profissional desde o momento da primeira consulta.
A motivação do paciente em relação ao tratamento pode indicar seu futuro
grau de colaboração. Além disso, quando o paciente demonstra confiança no
trabalho do profissional e entende as limitações do tratamento, o caso pode
ser conduzido de forma mais satisfatória. Por outro lado, pacientes apáticos,
indiferentes, nervosos, pessimistas ou que passaram por experiências proté-
ticas fracassadas, tendem a dificultar o tratamento.

É importante compreender o paciente e suas dificuldades psicológicas


e dar-lhe informação adequada, fazendo-o compreender e compartilhar a
parte de responsabilidade do tratamento que lhe corresponde. Não se deve
prometer sucesso irrestrito do tratamento, deve-se apresentar as condições
favoráveis e desfavoráveis do caso e, assim, impedir que o paciente crie ilu-
sões que não poderão ser alcançadas.

1.4 Histórico médico

O estado de saúde geral do paciente deve ser investigado, para determi-


nar a presença de patologias ou condições sistêmicas que possam afetar o
tratamento protético ou o atendimento odontológico em si. Dentre as con-
dições a serem investigadas temos doenças crônicas, degenerativas e infec-
tocontagiosas.

16
1.4.1 Doenças cardíacas
Deve ser avaliada a pressão arterial do paciente e, em se constatando
hipertensão, o paciente deve ser encaminhado ao médico. A esta condição
deve ser dada maior importância, principalmente, se o paciente necessitar
de procedimento cirúrgico, como por exemplo, uma cirurgia de exodontia
de raízes residuais. O uso de anestésico com vasoconstritor nestes pacientes
não está contraindicado, porém para pacientes com doença cardiovascular
significativa, em particular doença cardíaca isquêmica, a dosagem de epine-
frina deve ser minimizada. Além disso, deve-se monitorar a pressão arterial
e frequência cardíaca no pré-operatório e 5 minutos após a injeção, limitar a
epinefrina a 0,04 mg, levonordefrina a 0,2 mg e evitar epinefrina na concen-
tração 1:50.000 (HAAS, 2002).

1.4.2 Osteoporose
A osteoporose causa um decréscimo na massa esquelética e a densidade
óssea aparece diminuída radiograficamente. Pode provocar severa reabsor-
ção óssea alveolar com o avanço da idade. Há uma tendência ao estreitamen-
to da crista óssea maxilar e alargamento da crista mandibular, direcionando
uma mordida cruzada para os dentes posteriores. Há possibilidade de fratura
óssea fisiológica (TURANO, 2010). A oclusão deve ser bem ajustada e a próte-
se confeccionada, a mais extensa possível, no intuito de distribuir melhor as
cargas oclusais.

1.4.3 Diabetes
Apresenta como principais sintomas: xerostomia, tendência à obesidade,
sede excessiva, aumento do apetite. Pode haver uma redução da tolerância
dos tecidos à prótese, aumento da reabsorção óssea, hiperemia mucosa, sus-
cetibilidade ao trauma e dificuldade de cicatrização. (TURANO, 2010).

1.4.4 Distúrbios hormonais


A menopausa é um período fisiológico da mulher que leva a alterações
hormonais. Ocorrem alterações ósseas e no sistema nervoso central (insta-
bilidade emocional), tendência a náuseas, secura e ardência na boca, paladar

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alterado e sensação de queimadura manifestada na língua e no palato. A fase
de ajuste da prótese deverá ser prolongada, devido a alterações na mucosa
e mudanças psicológicas (TURANO, 2010). Outros desequilíbrios hormonais
podem causar reabsorção óssea alveolar e reações inflamatórias bucais, com
alterações na mucosa e consequente diminuição da capacidade de tolerância
dos tecidos à prótese (CUNHA e MARCHINI, 2007; TURANO, 2010).

1.4.5 Alzheimer
Os pacientes portadores desta doença requerem vários e importantes
cuidados sistêmicos e comportamentais. Os problemas mais comuns in-
cluem dificuldade em comer e alteração do paladar. Estes pacientes também
têm um maior risco de disfunção salivar, principalmente devido à utilização
de múltiplas medicações, algumas das quais diminuem o fluxo salivar como
efeito colateral. Pode haver dificuldade desses pacientes em verbalizar suas
queixas, por causa das alterações cognitivas associadas. Episódios de agres-
sividade, comuns a esses pacientes, podem ser um obstáculo ao tratamento
odontológico (MACHADO et al., 2012).

1.4.6 Parkinson
Esta condição clínica leva a uma limitação dos movimentos, que ficam
prejudicados pela rigidez muscular. As alterações nas mucosas incluem hi-
poqueratose, mucosa flácida e suscetibilidade a estomatite provocada pelas
próteses. Ocorrem tremores musculares e a salivação é aumentada, prejudi-
cando a retenção da prótese. Deve-se ensinar a estes pacientes uma higiene
bucal cuidadosa, usar condicionadores de tecido e lançar mão de uma oclu-
são balanceada bem ajustada (TURANO, 2010).

1.4.7 Terapia por radiação


Os pacientes submetidos a radioterapia na região de cabeça e pescoço
têm a mucosa oral intensamente afetada, podendo manifestar mucosite oral
por radiação, com diferentes níveis de gravidade, que vão desde a palidez da
mucosa, eritema, edema, até a formação de úlceras, que constituem porta
de entrada para infecções (ANDREWS e GRIFFITHS, 2001; ALBUQUERQUE e
CAMARGO, 2007; TOLENTINO et al., 2011). Além disso, pode haver xerosto-
mia, quando a radiação atinge as glândulas salivares, osteomielite, necrose e

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trismo nos músculos da mastigação. Nestes casos, o uso de próteses totais
fica limitado, devido à redução da dimensão vertical de oclusão por causa
do trismo muscular, da xerostomia, da impossibilidade de sobre-extensão
da área da prótese, para evitar ulcerações de borda (ANDREWS e GRIFFITHS,
2001; TURANO, 2010). Dentes com prognóstico questionável devem ser ex-
traídos antes do início da radioterapia, devido ao risco de osteorradionecrose
(VISSINK et al., 2003). Os dados da literatura sobre a extração de dentes nes-
ses pacientes são confusos e indeterminados, por isso, Tolentino et al. (2011)
sugeriram um protocolo de atendimento odontológico em que preconizam
que os pacientes não devem ser submetidos a procedimentos odontológicos
durante a radioterapia e, sim, somente antes ou após a mesma. Segundo es-
tes autores, procedimentos invasivos devem ser realizados até 30 dias antes
do início da radioterapia ou somente após 6 meses do fim do tratamento
radioterápico, com profilaxia antibiótica.

1.4.8 Deficiências nutricionais


Podem ocasionar xerostomia, perda de peso, debilidade em geral, fragili-
dade capilar, reabsorção óssea e suscetibilidade a traumas ocasionados pela
prótese. A mucosa torna-se fina e facilmente escoriada, reduzindo a resistên-
cia à infecção.

1.4.9 Utilização de medicamentos


Os antidepressivos, diuréticos, anti-hipertensivos e antipsicóticos podem
causar xerostomia, o que afeta a retenção das próteses, aumenta a susceti-
bilidade a infecções orais, causando desconforto, resistência ao tratamento
protético e diminuição da capacidade de adaptação à prótese. Afetam tam-
bém a tonicidade dos músculos faciais. Podem levar a movimentos espasmó-
dicos dos músculos orais, linguais e faciais. Os imunossupressores e antibióti-
cos de largo espectro por longo tempo podem causar infecção por cândida.

1.4.10 Herpes simples


O paciente relata o surgimento de bolhas transparentes, normalmente
ao redor dos lábios ou na boca, que após alguns dias se rompem e formam
feridas (Figura 1). Após um período de 7 a 15 dias as lesões normalmente
desaparecem por completo e ressurgem após períodos de estresse, esfor-

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ço físico intenso, exposição excessiva aos raios solares, associadas a outras
doenças como gripes e resfriados ou a períodos menstruais nas mulheres. O
vírus é transmitido através do contato direto com as lesões ou com objetos
contaminados, porém, pode ser transmitido através de perdigotos (partícu-
las de saliva lançadas durante a fala, tosse ou espirro).

Figura 1: lesão herpética no lábio superior.

A fase de maior risco de contágio ocorre durante o rompimento das vesí-


culas. Ressalta-se a importância da paramentação adequada, com a utilização
de equipamentos de proteção individual, incluindo o uso de barreiras para evi-
tar a contaminação cruzada. Os procedimentos clínicos eletivos em pacientes
com lesões herpéticas (fase contaminante) devem ser evitados, até que haja
o estabelecimento da cura clínica da doença. Deve-se orientar o paciente so-
bre a forma de transmissão para evitar a contaminação de familiares ou levar
as lesões para outras áreas como os olhos, por exemplo. Deve-se prescrever
medicamentos antivirais à base de Aciclovir para uso tópico sobre as lesões.
A pomada deve ser aplicada com cotonete (evitar contato das lesões com o
dedo) desde o surgimento dos primeiros sinais das lesões, 5 vezes ao dia, com
intervalo de 4 horas durante 5 dias. Deve-se evitar dormir com a pomada.

1.4.11 Sífilis
É uma doença sistêmica altamente contagiosa com manifestações
intrabucais frequentes. Pode haver a transmissão da bactéria presente nas
lesões bucais do paciente para o profissional por meio de uma lesão prévia
nas mãos ou um acidente perfuro cortante.

20
1.4.12 AIDS
É uma doença progressiva que pode levar ao comprometimento do
sistema imunológico. A possibilidade de transmissão durante um acidente
perfurocortante com sangue contaminado é menor que as hepatites, tendo
em vista que o agente etiológico, o vírus HIV, é frágil à luz solar e ao meio
ambiente e possui vida extracorpórea curta. É preciso ficar atento às lesões
de candidíase, leucoplasia pilosa e doença periodontal, pois estas são mani-
festações bucais comuns aos sinais clínicos da AIDS.

1.4.13 Hepatites B e C
Os vírus transmissores são considerados de elevado risco de transmis-
são durante a prática odontológica, que pode ocorrer por meio de acidentes
perfurocortantes contaminados com saliva e sangue. Cirurgiões-Dentistas
apresentam risco duas vezes maior de infecção do que a população em geral.
Ressalta-se, porém, que existe imunização para a hepatite B, e que tal proce-
dimento reduz significativamente o risco de desenvolver a infecção (DEMAS
e McCLAIN, 1999).

1.5 Histórico odontológico

Durante o histórico odontológico, recomenda-se investigar a presença


de hábitos parafuncionais, pois eles estão diretamente relacionados com o
prognóstico das próteses. Em casos severos de hábitos parafuncionais, pode
haver a fratura da prótese ou o desgaste dos dentes.

O motivo da extração dos dentes (cárie, doença periodontal, trauma) in-


dica o padrão de reabsorção óssea. Doença periodontal, por exemplo, depen-
dendo da gravidade, pode levar a muita perda óssea. O tempo de edentulis-
mo, também, pode indicar como vai ser a reabsorção e predizer o nível ósseo
atual.

Outro aspecto importante refere-se ao tempo de uso e condição da últi-


ma prótese, em que se deve observar as condições de higiene da prótese e
a qualidade dela, por meio da avaliação da adaptação, estética, extensão das
bordas, retenção, estabilidade e distância oclusal da prótese em uso. Reco-
mendamos que uma prótese total deva ser trocada em média a cada 5 anos.
Aproveita-se esse momento, também, para indagar sobre as expectativas
dele em relação ao tratamento e à nova prótese.

21
2. Exame clínico

Constitui investigação de alterações anatômicas ou patológicas e levan-


tamento de informações relevantes para o prognóstico do tratamento pro-
tético.

2.1 Exame extraoral

Nesse momento é possível se avaliar a cor da pele, dos cabelos, a forma


do rosto, o perfil facial, lábios, linha mediana, tonicidade muscular facial, as-
simetrias de face, desvios na abertura e fechamento de mandíbula, além de
lesões a serem tratadas previamente (Figura 2).

Dentre as lesões, a queilite angular é frequentemente encontrada em


pacientes desdentados, devido a uma diminuição do comprimento da altura
da face devido a reabsorção óssea ou desgaste dos dentes, provocando o
acúmulo de saliva na região dos ângulos da boca, retendo umidade e favore-
cendo a infecção por leveduras. Caracteriza-se por eritema, fissuração e des-
camação, provoca dor e limitação na abertura de boca (Figura 3). A queilite
angular normalmente cicatriza quando a estomatite é tratada por drogas an-
tifúngicas locais ou sistêmicas, mas é importante corrigir a dimensão vertical
para evitar recidivas (GENNARI FILHO, 2004; NEVILLE, 2008).

Figura 2: Paciente com lesões na face Figura 3: Queilite Angular.

No momento do exame clínico extraoral deve ser investigada, também, a


presença de sintomas de Disfunção Temporomandibular. As disfunções tem-
poromandibulares (DTM) são problemas clínicos articulares e musculares que

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acometem o sistema estomatognático. Segundo Oliveira (2002), os sinais e
sintomas mais comuns são: dor, ruídos articulares e funções irregulares ou
limitadas da mandíbula. Uma importante medida para avaliação de DTM é a
realização da palpação muscular, que é utilizada para verificar alterações na
sensibilidade e no tônus muscular. Outra técnica utilizada no exame de DTM
é a avaliação do nível de abertura bucal, cuja variação normal é de 53 a 58mm
(OKESON, 2000). Essa medida equivale a aproximadamente três dedos e
pode ser facilmente mensurada durante o exame do paciente. Além disso, é
importante observar a presença de desvios e estalos durante a abertura e o
fechamento bucal, que podem indicar a presença de DTM. Desse modo, após
a investigação dos sintomas de DTM, se estas condições clínicas estiverem
presentes, a DTM deve ser tratada antes de iniciar qualquer tipo de tratamen-
to reabilitador.

2.2 Exame Intraoral

O exame dos tecidos orais não pode ser negligenciado, pois, está intima-
mente relacionado com a adaptação da prótese e o conforto do paciente.
Com o passar da idade, a cavidade bucal envelhece assim como o resto do
corpo, e surgem alterações de grande relevância para a confecção de próte-
ses totais. Deve-se inspecionar o rebordo remanescente, a relação intermaxi-
lar e tecidos moles (GENARI FILHO, 2004).

Rebordos residuais

O rebordo é composto pela mucosa de revestimento, submucosa, periós-


teo e pelo osso alveolar residual. As cargas que incidem sobre estas estrutu-
ras são multidirecionais (verticais, horizontais e diagonais), por isso as bases
da prótese devem apoiar-se na maior área possível para distribuir as forças
e diminuir sua intensidade por unidade de área (ABRÃO, 2008). A forma e o
tamanho dos rebordos influenciam a retenção e estabilidade das próteses.
Quanto à forma os rebordos são classificados em (Figura 4):

23
• Paralelo: Oferece boa retenção à prótese devido às paredes
paralelas. É o mais favorável.
• Afilado: Apresenta a base mais larga e região da crista mais estreita.
• Retentivo: Esse tipo de rebordo possui menor largura na base
do que na crista. Sob o ponto de vista de retenção é o mais
desfavorável. Não oferece resistência ao esforço mastigatório e
constitui uma dificuldade para a moldagem. Há necessidade de
alívio no momento da confecção da moldeira.

A B C

Figura 4: Tipos de rebordo quanto à forma


A: Paralelo B: Afilado C: Retentivo

A partir de uma secção transversal no modelo de estudo de pacientes


edentados é possível observar a altura dos rebordos e, por esse critério, clas-
sificá-los em (Figura 5):

• Normal - Quando se apresenta com o formato de um triângulo


equilátero.
• Alto - Quando a base do triangulo é menor que as faces laterais.
• Baixo - Quando a base do triângulo é maior que as faces laterais.

A B C

Figura 5 : Tipos de rebordo quanto à altura


A: Normal B: Alto C: Baixo

24
A relação intermaxilar orienta a montagem dos dentes artificiais e segue a
classificação de Angle, podendo ser alterada à medida que ocorre reabsorção
óssea.

• Classe I: A cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior


alinha-se diretamente sobre o sulco vestibular do primeiro molar
inferior (OKESON et al., 1992). Nesse caso há harmonia entre os
dois rebordos, favorecendo a montagem dos dentes.
• Classe II: A cúspide mesiovestibular do primeiro molar inferior
alinha-se com o sulco vestibular do primeiro molar superior
(OKESON et al., 1992). Normalmente se reflete em uma retrusão
da mandíbula em relação à maxila.
• Classe III: A cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior
se situa sobre a ameia entre o primeiro e segundo molar inferior
(OKESON et al. 1992). Normalmente se reflete em um avanço da
mandíbula em relação à maxila.

As classes II e III dificultam a montagem dos dentes.

A forma dos maxilares é bastante variável, o mesmo paciente pode


apresentar arco superior diferente do arco inferior, o que pode resultar em
dificuldade na montagem dos dentes artificiais.

A forma dos maxilares (Figura 6) também pode resultar em uma melhor


ou pior distribuição de forças de acordo com sua forma, considerando-se uma
mesma distância entre as tuberosidades:

• Triangular: Por resultar em uma menor área de superfície, resulta


em uma pior distribuição de forças, sendo assim mais desfavorável.
Comum em respiradores bucais.
• Quadrangular: Forma mais favorável por oferecer maior área e
melhor distribuição de forças.
• Ovóide: Corresponde à situação intermediária.

25
A B C

Figura 6: Formas dos rebordos: A - Triangular; B - Ovoide; C - Quadrangular

Assim como os tecidos de suporte, os tecidos moles interferem nos pro-


cedimentos protéticos, especialmente nas moldagens e consequentemente
na adaptação das próteses. A cor da mucosa oral saudável varia nos diferen-
tes locais da cavidade bucal, mas a coloração mais comum é a rosa pálido.
Se a mucosa estiver inflamada ou com alguma lesão é necessário realizar o
tratamento antes de qualquer procedimento para confecção da prótese, pri-
meiro, para não correr o risco de agravar as lesões e segundo, para que se
tenha um modelo de trabalho que corresponda a uma condição mais estável
(mucosa normal). Se a prótese for instalada durante a recuperação dos teci-
dos, esta poderá ter sua estabilidade e retenção diminuída (ABRÃO, 2008).
Quanto ao tipo, as mucosas classificam-se em:

• Mucosa mastigatória – camada queratinizada de pouca resiliência


que recobre a crista do rebordo alveolar e o palato duro. É a mucosa
que transmite as forças da mastigação ao osso subjacente.
• Mucosa de revestimento – camada móvel, não queratinizada e
vascularizada que reveste lábios, bochechas, fundo do fórnix, palato
mole, assoalho bucal e gengiva livre, com a função de proteger e
nutrir os tecidos que recobre.

Com relação à resiliência, as mucosas podem ser classificadas em:

• Normal: Espessura média de 2 mm, o que lhe confere certa


resiliência, sendo considerada a melhor. Permite íntima adaptação
da base da dentadura.
• Rígida: Espessura média menor que 2 mm, possuindo assim baixa
resiliência, estando mais sujeita a traumas.
• Espessa: espessura média superior a 2 mm, tornando o tecido
flácido, o que, dependendo da extensão, pode prejudicar o suporte
e estabilidade da prótese.

26
Os maxilares podem apresentar alterações anatômicas ou patológicas,
que podem interferir na confecção e adaptação da prótese:

Estomatite Protética

Figura 7: Estomatite protética

Consiste em uma lesão geralmente localizada na mucosa palatina de pa-


cientes que utilizam próteses totais (Figura 7). Pode apresentar sintomato-
logia como dor, halitose, prurido e queimação, ou pode estar assintomática.
Esse tipo de lesão é uma associação entre a candidíase e o trauma por fricção
causado pela prótese total. É indicado que as próteses sejam removidas tem-
porariamente (durante o sono). Deve-se instruir o paciente portador sobre a
adequada higiene da boca e da prótese, recomenda-se ainda a utilização de
antifúngicos e /ou condicionadores de tecido (SCALERCIO, 2007).

Hiperplasia fibrosa inflamatória

Também conhecida como epúlide fissurada, caracteriza-se por um cres-


cimento tecidual frequentemente encontrado na face vestibular do rebordo
alveolar, em resposta a uma irritação causada pelas bordas de próteses mal
adaptadas (Figura 8). Como tratamento deve-se optar pela redução das bor-
das irritantes da prótese e remover cirurgicamente o excesso tecidual (NE-
VILLE, 2008). Esse tipo de lesão também pode ser encontrada no palato de
pacientes que utilizaram próteses com câmara de sucção como mecanismo
auxiliar de retenção. Nesse caso, o tratamento irá depender da extensão da
lesão. Se for uma hiperplasia branda, deve-se remover mecanicamente pelo
preenchimento gradativo da câmara de sucção (Figuras 9 e 10). Porém, se for
uma lesão volumosa, a correção deve ser cirúrgica seguida da confecção de
uma nova prótese (Figura 11).

27
Figura 8: Hiperplasia Fibrosa Inflamatória.

Figura 9: Hiperplasia fibrosa causada por câmara de sucção.

Figura 10: Câmara de sucção preenchida com resina acrílica autopolimerizável e aspecto
clínico intrabucal após uma semana.

28
A B C

Figura 11: A e B - Hiperplasia fibrosa inflamatória do tipo pedunculada, C- Aspecto clínico


após a remoção cirúrgica

Tórus

Proeminência óssea benigna que ocorre frequentemente na porção cen-


tral do palato (Figura 12). Nesse caso é possível realizar, apenas, um alívio na
prótese. Porém, quando está localizado na região de mandíbula e sua posição
compromete a adaptação da prótese, é indicada a correção cirúrgica.

Figura 12: Tórus mandibular

Câncer bucal

Câncer é uma doença crônica que resulta em alta morbidade e mortalidade,


por isso, quanto mais precoce for o seu diagnóstico e tratamento, maiores
serão as chances de sobrevida ou cura do paciente. A cavidade bucal é um sítio
anatômico de fácil acesso para exame, permitindo que cirurgiões-dentistas,

29
médicos generalistas ou o próprio paciente, através do autoexame, possam
visualizar diretamente alterações suspeitas de câncer, levando ao diagnóstico
precoce. Lesões cancerígenas bucais podem se manifestar de diferentes
maneiras, como: máculas, lesões eritematosas ou esbranquiçadas, pápulas,
nódulos ou úlceras. O diagnóstico definitivo é realizado por biópsia e exame
histopatológico (NEVILLE, 2008).

Macroglossia

A língua desempenha papel importante na estabilidade e retenção princi-


palmente da prótese inferior e, por isso, deve ser avaliada quanto a:

• Posição: a língua retraída em relação aos dentes compromete a re-


tenção e estabilidade da prótese inferior porque eleva o assoalho e
rompe o selado periférico.
• Mobilidade: o movimento lingual e coordenação muscular é essen-
cial para o controle da dentadura inferior na boca durante os movi-
mentos fisiológicos como fala, mastigação e deglutição.
• Tamanho: a língua pequena dificulta a retenção da prótese inferior;
a língua grande ou macroglossia é uma condição adquirida, frequen-
temente observada em pacientes edentados que não foram reabili-
tados por longos períodos de tempo. Ocorre o relaxamento da mus-
culatura da língua que se posiciona além do assoalho mandibular.
Esse fato deve ser observado previamente à confecção da prótese,
pois pacientes sem experiência de prótese anterior devem ter uma
maior assistência e um maior tempo de adaptação, para que a língua
possa se reposicionar (TURANO, 2010).

Xerostomia

A saliva desempenha importante função com relação à retenção das den-


taduras, devido a sua propriedade física entre a base da dentadura e a muco-
sa. A xerostomia ou escassez da saliva é observada pela aderência pegajosa
das membranas mucosas à prótese, ao espelho e ao dedo durante o exame
clínico. Isso provoca o ressecamento da mucosa, que é facilmente lesionada,
prejudicando a retenção da prótese total.

30
Causas da xerostomia:

• Alteração hormonal
• Idade avançada
• Diabetes
• Ansiolíticos e antidepressivos

O excesso de saliva também interfere na confecção da prótese, pois difi-


culta a moldagem.

Quanto à qualidade da saliva, podemos classificá-la em:

• Serosa ou aquosa: saliva pobre em mucina, interfere no selamento


das dentaduras e concede uma pobre proteção contra a fricção e ul-
ceração.
• Espessa ou mucosa: saliva rica em mucina, pode ser provocada devi-
do a uma dieta rica em carboidratos. Interfere na técnica de molda-
gem e constantemente provoca náuseas.

3. Exames complementares

Adicionam informação àquelas colhidas durante a anamnese e o exame


clínico e contribuem para a elaboração do diagnóstico e plano de tratamento.

3.1 Exames laboratoriais

Devem ser solicitados quando há suspeita de alguma patologia sistêmica,


como diabetes, leucemia ou discrasias sanguíneas ou como exames de rotina
prévios a cirurgias pré-protéticas. Constatando-se alguma alteração ou, no
caso da suspeita de uma condição mais grave, o paciente deverá ser encami-
nhado ao médico.

3.2 Exames de imagem

O diagnóstico por imagem para desdentados totais é importante para a


elaboração do plano de tratamento, pois muitas são as alterações passíveis
de serem encontradas no rebordo alveolar e estruturas associadas.

31
Radiografias: devem ser empregadas como rotina antes do início do trata-
mento protético, em virtude das altas taxas de achados radiográficos de alte-
rações patológicas, presença de raízes residuais, cistos, dentes inclusos, cor-
pos estranhos ou alterações anatômicas (JINDAL et al., 2011). Radiografias
panorâmicas apresentam a vantagem de permitir a visualização global da ma-
xila, mandíbula, ATM e estruturas adjacentes, além de constituir um proces-
so que se realiza em menor espaço de tempo e com menos radiação para o
paciente (Figura 13). Diante da impossibilidade de realização de radiografias
panorâmicas, deve-se optar por outras técnicas radiográficas passíveis de se-
rem realizadas pelo cirurgião-dentista clínico geral, que são mais acessíveis e
em muito contribuem na obtenção de um diagnóstico. Nestes casos, pode-se
lançar mão de radiografias oclusais e/ou periapicais que são menos onerosas
e de simples execução, possibilitam a análise das estruturas na mesma sessão
do exame clínico e dispensam a necessidade do paciente se deslocar a uma
clínica especializada.

Figura 13: Radiografia panorâmica de desdentado total

Tomografia computadorizada: é utilizada para avaliar a altura e largura do


remanescente ósseo através de imagens de cortes sagitais de maxila e man-
díbula. Os tomógrafos mais atuais permitem a geração de imagens em três

32
dimensões do tecido ósseo, que podem ser manipuladas em computadores
pessoais utilizando programas simples, tornando-se poderosos auxiliares nos
planejamentos para implantes osseointegrados, cirurgias ortognáticas e ava-
liação de lesões ósseas (Figura 14).

Figura 14: Tomografia computadorizada com reconstrução 3D da maxila.

Os modelos de estudo são importantes recursos para a avaliação do


problema do paciente, auxiliando no diagnóstico e elaboração do plano de
tratamento. Eles permitem uma observação das áreas maxilar e mandibular,
dos detalhes anatômicos, das inserções de freios, das áreas retentivas e da
necessidade de cirurgias paraprotéticas (Figura 15). Além disso, são usados
para a confecção das moldeiras individuais para a moldagem funcional. Po-
dem ser úteis, também, para a avaliação das relações intermaxilares, quando
montados em articulador.

Figura 15: Modelos de estudo superior e inferior

33
3.3 Exames das próteses atuais

O exame das próteses atuais dos pacientes pode proporcionar uma série
de informações úteis, como: o nível de higienização do paciente (presença ou
não de tártaro) e o cuidado com o trabalho protético (dentes fraturados ou
ausentes, próteses coladas).

4. Ficha clínica

É o documento onde o CD anota os dados referentes a identificação do


paciente, sua história médica e odontológica, as informações obtidas no
exame clínico que nortearão seu diagnóstico, o plano de tratamento e a des-
crição da sequência minuciosa dos procedimentos clínico-cirúrgicos realiza-
dos (LEAL e ZIMMERMANN, 2002).

Características:

• Fácil manejo e conservação


• Conter todos os dados necessários do paciente
• Conter espaços necessários para futuras anotações
• Ser objetiva e clara

Objetivos:

• Individualizar o paciente
• Conhecer o estado clínico da boca do paciente
• Conhecer do paciente o estado geral e psíquico
• Anotar fases do tratamento
• Anotar honorários

Abaixo temos uma sugestão de modelo de ficha clínica.

34
MODELO DE FICHA CLÍNICA

Prontuário n° ________________.

CIRURGIÃO-DENTISTA - CLÍNICO GERAL


CRO-(UF) N° _______
Endereço completo

1. IDENTIFICAÇÃO
Nome _____________________________________________________________
RG. n°. _______________ Órgão Expedidor __________ CPF n°.____________/____
Data de Nascimento ___/___/___ Sexo ___________ Fone: _____________________
Naturalidade ________________________ Nacionalidade ____________________
Estado Civil ____________________ Profissão ____________________________
Endereço Residencial ___________________________________________________
Endereço Profissional ___________________________________________________
Indicado por ____________________________________________________________
Nome do Acompanhante:________________________________Data ____/____/____

2. QUEIXA PRINCIPAL
______________________________________________________________________

3. HISTÓRICO MÉDICO/ODONTOLÓGICO

( ) Sim ( ) Não Sofre de alguma doença? Qual: ___________________________


( ) Sim ( ) Não Está em tratamento médico atualmente? Qual: ______________
( ) Sim ( ) Não Teve alergia? Qual: _________________________________
( ) Sim ( ) Não Já foi operado? ______________________________________
( ) Sim ( ) Não Teve problemas com a cicatrização? ______________________
( ) Sim ( ) Não Teve problemas com a anestesia? ________________________
( ) Sim ( ) Não Teve problemas de Hemorragia? ______________________
( ) Sim ( ) Não Tem ciclos menstruais normais? ________________________
( ) Sim ( ) Não Está gravida? _______________________________________
( ) Sim ( ) Não Fumante ou ex- fumante? _____________________________
( ) Sim ( ) Não Sente sede com muita frequência? _______________________
( ) Sim ( ) Não Tem lábios ressecados? _______________________________
( ) Sim ( ) Não Dor nos músculos mastigatórios? _______________________
( ) Sim ( ) Não Dor ou ruído na ATM? _______________________________
( ) Sim ( ) Não Usa prótese atualmente? Sup ( ) Inf ( ) ___________________
( ) Sim ( ) Não Tem hábitos deletérios (ranger os dentes, roer as unhas)?_____

Sofreu/Sofre de alguma das seguintes doenças?

( ) Sim ( ) Não -Febre Reumática


( ) Sim ( ) Não -Problemas Cardíacos
( ) Sim ( ) Não -Problemas Renais
( ) Sim ( ) Não -Problemas Gástricos
( ) Sim ( ) Não -Problemas Respiratórios
( ) Sim ( ) Não -Problemas Alérgicos
( ) Sim ( ) Não -Problemas Articulares ou Reumatismo
( ) Sim ( ) Não -Diabetes
( ) Sim ( ) Não -Aids
( ) Sim ( ) Não -Hipertensão Arterial
( ) Sim ( ) Não -Sífilis
( ) Sim ( ) Não -Hepatite

35
Antecedentes Familiares: _______________________________________________
Outras observações importantes:__________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
____________________________________________________________________

4. EXAME CLÍNICO

( ) Sim ( ) Não Existem áreas retentivas? Regiões:_________________________


( ) Sim ( ) Não Existem áreas flácidas? Regiões:____________________________
( ) Sim ( ) Não Presença de lesões? Regiões:______________________________
( ) Sim ( ) Não Presença de torus? Regiões:_______________________________
( ) Sim ( ) Não Existem elementos remanescentes? Regiões:__________________
Exame radiográfico requisitado________________________________________
Obs:_____________________________________________________________
Exames complementares solicitados: ___________________________________
Obs:________________________________________________________________

Informações adicionais:
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

Tratamento proposto Orçamento Plano de pagamento

Declaro que as informações acima prestadas são totalmente verdadeiras.

______________________________________________________________________
Local, Data, Assinatura do Paciente ou de seu Responsável Legal

36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRÃO, W; BÉRGAMO, P.M.S. Prótese total para o clínico geral. 1ª ed.


Livraria e Editora Tota, 2008.

ALBUQUERQUE, I. L. S.; CAMARGO, T. S. Prevenção e tratamento da mucosite


oral induzida por radioterapia: revisão de literatura. Revista Brasileira de
Cancerologia, v. 53, n. 2, p. 195-209, 2007.

ANDREWS, N.; GRIFFITHS, C. Dental complications of head and neck


radiotherapy: part 2. Australian Dental Journal, v. 46, n. 3, p. 174-182, 2001.

BRASIL- Código de Ética Odontológica. Parecer 195/92. CFO: Rio de Janeiro;


1992.

CUNHA, V. C. P.; MARCHINI, L. Prótese total contemporânea na reabilitação


bucal. 1 ed. São Paulo: Editora Santos, 2007.

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Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology and Endodontology,
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GENNARI FILHO H. O exame clínico em prótese total. Revista Odontológica


de Araçatuba, v.25, n.2, p. 62-71, 2004.

HAAS, D. A. An update on local anesthetics in dentistry. Journal of Canadian


Dental Association, v. 68, n. 9, p. 546-551, 2002.

JINDAL, S. V.; SHEIKH, S.; KULKARNI, S.; SINGLA, A. Significance of pre-


treatment panoramic radiographic assessment of edentulous patients - a
survey. Medicina Oral, Patología Oral y Cirurgía Bucal, v. 16, n. 4, p. 600-
606, Jul 2011.

LEAL, M. C. C.; ZIMMERMANN, R. D.; Processos Odontológicos de


Identificação. In: Campos, M. S. et al. Compêndio de Medicina Legal Aplicada:
1ª ed. Recife: EDUPE, 2000, Cap.2. p.54-68.

MACHADO, M. C.; LOPES, G. H.; MARCHINI, L. Oral health of Alzheimer’s


patients Geriatrics & Gerontology International, v. 12, n. 2, p. 265-270, Apr
2012.

37
NEVILLE, B. W. et al. Patologia oral e maxilo facial. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Koogan, 2008. p.144-420.

OKESON, J.P. Dor orofacial, guia de avaliação, diagnóstico e tratamento.


São Paulo: Quintessence; 1998. p.116-7.

SCALERCIO, M. et al. Estomatite protética versus candidíase: diagnóstico e


tratamento. RGO, v. 55, n.4, p. 395-398, 2007.

TOLENTINO, E. S.; CENTURION, B. S.; FERREIRA, L. H. C.et al. Oral adverse


effetcs of head and neck radiotherapy: literature review and suggestion of
a clinical oral care guideline for irradiated patients. Journal of Applied Oral
Science, v. 19, n. 5, p. 448-454, 2011.

TURANO, J. C.; TURANO, L. M.; TURANO, M. VB. Fundamentos de prótese


total: 9 ed. São Paulo: Editora Santos, 2010.

VISSINK, A.; BURLAGE, F. R.; SPIJKERVET, F. K. L.; JANSMA, J.; COPPES, R. P.


Prevention and treatment of the consequences of head and neck radiotherapy.
Critical Reviews in Oral Biology & Medicine, v. 14, n. 3, p. 213-225, 2003.

38
Capítulo
Moldagem preliminar
2
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues
Maria Janaína Barroso Andrade
Neusa Barros Dantas Neta

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de identificar as áreas de suporte
e alívio no paciente desdentado, bem como confeccionar modelos de estu-
do e moldeiras individuais, considerando a técnica e material de moldagem
adequado.

Sumário do capítulo:
1. Tipos de moldeira
2. Materiais de moldagem
2.1. Godiva
2.2. Alginato
3. Anatomia dos tecidos de suporte
4. Técnica de moldagem anatômica
4.1 Seleção e individualização da moldeira
4.2 Moldagem do arco superior
4.3 Moldagem do arco inferior
5. Obtenção dos modelos preliminares
6. Análise dos modelos e determinação da área basal
7. Delimitação da área basal e zonas de alívios
8. Confecção de moldeira individual

39
A
moldagem anatômica, preliminar ou de estudo é um conjunto de
procedimentos clínicos que visam obter a impressão da área em que
a futura prótese total irá se apoiar (área chapeável), utilizando mate-
riais próprios e moldeiras adequadas. A moldagem propriamente dita carac-
teriza-se pelo ato de obter a cópia em negativo da boca, chamada de molde.
Uma vez obtido o molde, vaza-se gesso sobre este e como resultado temos
um modelo, que é a réplica positiva da boca do paciente.

O modelo preliminar tem como finalidade completar o diagnóstico, dan-


do ao cirurgião-dentista uma visão geral do rebordo moldado; permitir a con-
fecção de uma moldeira individual, além de avaliar a necessidade e possibili-
tar um melhor planejamento das cirúrgicas pré-protéticas.

1. Tipos de moldeira

Moldeira é um dispositivo que serve para levar o material de moldagem


à boca do paciente e colocá-lo em contato com a área a ser moldada. Após a
presa do material obtém-se o molde. Existem dois tipos de moldeiras usadas
para a moldagem em pacientes edêntulos: pré-fabricadas (ou de estoque) e
personalizadas (ou individuais). Quanto a material podem ser de metal, plás-
tico ou resina acrílica (CUNHA e MARCHINI, 2007) (Figuras 1 e 2).

Figura 1: Moldeiras de estoque de metal Figura 2: Moldeira individual de acrílico au-


topolimerizável.

40
As moldeiras de estoque para desdentados possuem uma bacia mais rasa
e cabo biangulado, o que permite um melhor posicionamento sobre rebordo
alveolar, sem deformar as inserções musculares (Figura 3). Elas devem abran-
ger todo o arco a ser moldado. Geralmente confeccionadas em metal, podem
ser lisas ou perfuradas. As moldeiras lisas para prótese total são utilizadas
com godiva em placa, enquanto, as perfuradas, com alginato.

1 – Cabo

2– Recorte para freios

3 - Arestas ou bordas

4- Sulco ou goteira

5 – Bacia

Figura 3: Partes constituintes da moldeira de estoque



As moldeiras possuem tamanhos variados, entretanto são padronizadas
de fábrica. Isto faz com que, por vezes, a moldeira não se adapte bem à zona
a ser moldada, como, por exemplo, a moldagem da zona palatina, que apre-
senta uma grande variação em profundidade dos palatos. Isto ocasiona a ne-
cessidade de individualização destas moldeiras com cera utilidade (ABRÃO e
BÉRGAMO, 2008).

2. Materiais de moldagem

Os materiais para moldagem de bocas desdentadas são classificados


quanto às suas propriedades físicas em elásticos e rígidos (Tabela 01). Os
materiais elásticos são aqueles que, após a presa, apresentam elasticidade
sem prejudicar a fidelidade do molde. Alguns exemplos são: hidrocolóides

41
irreversíveis ou alginatos, mercaptanas e siliconas. Já os materiais rígidos são
aqueles que após sua reação de presa não apresentam elasticidade. Este é
o caso da godiva e da pasta de óxido de zinco e eugenol. Para a moldagem
anatômica em prótese total normalmente utiliza-se a godiva em placa ou o
alginato (ABRÃO e BÉRGAMO, 2008; DAOU, 2010; TURANO et al., 2010).

2.1 Godiva em placa

A godiva é um material à base de resinas termoplásticas, que pode ser


especialmente útil para moldar rebordos edentados inferiores severamente
reabsorvidos. Este material consegue afastar bem a musculatura inserida no
rebordo, entretanto comprime e deforma mais os tecidos. Para a manipulação
desse material é necessário a utilização de um plastificador de godiva, que é
um aparelho que mantém a água na temperatura adequada para plastificar
o material (55 a 60ºC). Isto torna o uso desse material inadequado para os
atuais padrões de biossegurança, pois há a dificuldade técnica de esterilizar o
plastificador. Outra desvantagem do material é que é contraindicado quando
há áreas retentivas no rebordo residual, devido à rigidez do mesmo após o
resfriamento. A godiva também não deve ser usada em casos de rebordos
flácidos, pois, por ser muito densa, altera a posição dos tecidos durante a
moldagem (ABRÃO e BÉRGAMO, 2008; DAOU, 2010; TURANO et al., 2010).

2.2 Alginato

O alginato é o material elástico de escolha para moldagens preliminares.


Ele é de fácil manipulação, produz menores deformações aos tecidos de
revestimento e apresenta boa fidelidade de cópia. Além disso, ele sai com
facilidade das zonas retentivas. Devido a sua baixa densidade, o alginato não
afasta os tecidos bucais, sendo esse papel desempenhado pela moldeira de
estoque que pode ser personalizada com cera utilidade nas áreas em que as
bordas não conseguem chegar ao fundo de sulco (CERVINO et al., 2018). Este
material é passível de sinérese e embebição, o que pode causar distorções.
Por isso deve-se vazar o molde logo após a desinfecção, que normalmente é
realizada em 10 min, utilizando-se glutaraldeído a 2% ou hiplocorito de sódio
a 1%.

42
Existem dois tipos de alginato, que são classificados segundo o tempo de
presa. O alginato Tipo I possui presa rápida (1 a 2 minutos a 23ºC). O Tipo II
apresenta presa normal (2 a 4 minutos a 23ºC).

Tabela 1: Comparação entre os materiais utilizados para moldagem de eden-


tados totais.

Godiva em placa Alginato

Material rígido Material elástico

Necessidade de plastificador de godiva Fácil manipulação, mas necessita de


para manipulação vazamento imediato

Dificuldade em sair de zonas retentivas Sai facilmente de zonas retentivas

3. Anatomia dos tecidos de suporte

A área que se deseja moldar é dividida em zona principal de suporte, zona


secundária de suporte (zona de estabilidade), selado periférico e zona de
alívio (REIS et al., 2007).

As zonas principais de suporte são áreas do rebordo residual onde as


forças oclusais incidem perpendicularmente e que, geralmente, estão mais
preparadas para suportar a carga. As zonas secundárias correspondem às
regiões onde há maior facilidade de reabsorção do rebordo residual. Também
são definidas como áreas de estabilidade das próteses totais, pois as forças
geralmente não incidem perpendicularmente sobre elas (REIS et al.,2007).

As zonas de selado periférico correspondem ao vestíbulo dos maxilares


em toda sua extensão, sendo delimitadas por uma linha sinuosa que segue
as inserções musculares até o limite de zona de transição. Por fim, as zonas
de alívio podem ser descritas como dependentes do tipo de rebordo dos
pacientes e são relacionadas ao grau de resiliência da fibromucosa, à presença
de áreas retentivas e de regiões anatômicas que não devem ser comprimidas
(REIS et al., 2007).

43
Maxila

As zonas principais de suporte correspondem à região posterior do


rebordo e à área plana do palato duro. As zonas secundárias de suporte
são: a zona não plana do palato duro, às vertentes do rebordo residual e à
região anterior do rebordo residual. As zonas de selado periférico seguem as
inserções musculares até o limite de zona de transição. As zonas de alívio são:
região de papila incisiva, rafe palatina mediana e regiões afiladas do rebordo
residual (Figura 4) (REIS et al.,2007).

Figura 4: Zonas de suporte na maxila: Azul - zona


principal; Amarelo - zona secundária, Laranja - zona
de alívio

Mandíbula

As zonas principais de suporte correspondem à região posterior de rebor-


do e à região de flanco bucal. As zonas secundárias correspondem à região
anterior de rebordo e aos planos inclinados correspondentes às vertentes
ósseas. As zonas de selado periférico seguem as inserções musculares até o li-
mite de zona de transição. As zonas de alívio são: regiões afiladas do rebordo
residual e forame mental nos casos de excessiva reabsorção (Figura 5) (REIS
et al.,2007).

44
Figura 5: Zonas de suporte na maxila: Azul -zona
principal; Amarelo - zona secundária, Laranja - zona
de alívio

4. Técnica de moldagem anatômica

Devido a questões de biossegurança explicitadas anteriormente reco-


menda-se a utilização de moldeiras para desdentados perfuradas combina-
das com alginato como material de moldagem. Se o paciente já usar prótese
total, esta poderá ser útil na seleção da moldeira, bastando compará-la com
as moldeiras de estoque.

4.1 Seleção e individualização da moldeira

O paciente deverá sentar-se na cadeira odontológica e apoiar a cabeça no


encosto a esta reservado. Para a seleção da moldeira superior a cadeira do
paciente deve ser deitada até a posição horizontal, momento em que o pro-
fissional, sentado no seu mocho pode observar por visão direta se a moldeira
está cobrindo todo o rebordo na maxila inclusive tuberosidades, se a borda
da moldeira está chegando ao fundo de sulco e se a extensão posterior da
mesma chega até a linha que divide os palatos duro e mole, também chama-
da de linha vibratória. Para facilitar a identificação dessa linha pede-se ao pa-
ciente que fale a letra “A”, então se observa onde se inicia a movimentação do
palato mole (CUNHA e MARCHINI, 2007; ABRÃO e BÉRGAMO, 2008, TURANO
et al., 2010; GENARI FILHO, 2013).

45
Para avaliar a mandíbula, a cadeira deverá ser inclinada até 45° e o ope-
rador sentado em seu mocho deve avaliar se a moldeira é capaz de cobrir o
rebordo anterior e posterior (até a papila piriforme).

Para ambas as arcadas o método de escolha é por tentativas, iniciando-


-se sempre com as moldeiras médias e avaliando-se as demais se necessário.
Ao se inserir a moldeira na boca, uma técnica bastante eficaz é afastar uma
comissura com a borda da própria moldeira e afastar a outra com o dedo ou
com o espelho bucal (Figura 6).

Figura 6: Seleção de moldeiras


A: Teste de moldeira superior
B: Teste de moldeira inferior

Outro detalhe importante é que deve existir um espaço de 2 mm ente


a moldeira e a face interna a ser moldada, com a finalidade de acomodar o
material de moldagem. Caso a moldeira esteja com o tamanho adequado em
sua maior parte, mas falte um pouco de comprimento em alguma borda, por
exemplo, essa extensão pode ser complementada com cera utilidade (Figura
7 – moldeira individualizada com utilização de cera).

O acréscimo de cera deliberadamente em toda a borda da moldeira para


todos os casos, com o objetivo de não machucar o paciente é um passo desne-
cessário, pois a moldeira de estoque não possui bordas cortantes. Se durante
a prova uma moldeira estiver machucando o paciente, provavelmente está
com o tamanho inadequado e o acréscimo de cera não resolverá o problema.

Esta técnica pode ser utilizada quando a maior moldeira para desdentado
não conseguir atingir o fundo de sulco do paciente em nenhuma área devido

46
à altura excessiva do rebordo residual. Nesses casos opta-se por acrescentar
cera utilidade em toda a borda da moldeira, caso esta, ao ser posicionada
na boca, revele uma distância de 2 a 3 mm do fundo de sulco. Quando essa
distância for superior a 3 mm, a melhor opção será tentar se utilizar de uma
moldeira para dentado.

Figura 7: Individualização de moldeira e prova em boca.

4.2 Moldagem do arco superior

O primeiro passo, após a seleção da moldeira, é posicionar a altura da


cadeira para a realização da moldagem. Com o encosto da cadeira o mais ver-
tical possível, a altura é regulada de modo que o antebraço do operador fique
na altura da comissura labial do paciente. O profissional deverá ficar em pé e
ereto, com o braço fletido, formando um ângulo de 90º, e apoiará seu coto-
velo junto ao corpo com o antebraço ao nível da comissura labial do paciente
(Figura 8).

47
Figura 8: Posicionamento da cadeira para moldagem
superior e inferior.

O paciente deverá estar sentado com a cadeira na vertical e com a cabeça


apoiada no encosto, levemente para trás. Depois de acomodado conforta-
velmente na cadeira odontológica o músculo orbicular do lábio deverá estar
relaxado. O profissional deverá orientar o paciente que durante o procedi-
mento permaneça calmo, respirando lentamente pelo nariz e, após a com-
pressão da moldeira, abaixe a cabeça. Esses cuidados servem para diminuir a
possibilidade de náuseas, já que a respiração nasal diminui a movimentação
do palato mole, e a inclinação da cabeça faz com que o excesso de material
caia sobre a língua em vez de escorrer em direção ao palato mole.

Para a manipulação do material de moldagem, duas ou três porções de


alginato, dependendo do tamanho do rebordo, são misturadas a água na
mesma proporção, de acordo com as recomendações do fabricante. A ma-
nipulação se faz através de movimentos circulares, pressionando o material
contra a cuba de borracha e utilizando-se uma espátula plástica ou metálica
(ANUSAVICE, 1998). Após a manipulação, o alginato é aplicado no interior da
moldeira com o mínimo de incrementos possível a fim de diminuir possíveis
bolhas. (Figura 9).

48
3x

Figura 9: Proporção e manipulação do alginato

Em seguida, o profissional se posiciona à frente do paciente, leva a mol-


deira com alginato até a boca do mesmo, afastando um lado da comissura
labial com a moldeira e o outro com o dedo ou espelho bucal.

Figura 10: Inserção da moldeira com alginato e


posicionamento do operador

49
A moldeira é centralizada, tendo-se como referência a ponta do nariz. Na
sequência, o profissional se posiciona atrás da cadeira de operações, pede ao
paciente para abaixar a cabeça, apoia o dedo indicador na bacia da moldeira
ou na região da goteira correspondente aos pré-molares exercendo pressão
firme e uniforme para eliminar o excesso do alginato, e pede para o paciente
relaxar a musculatura. A moldeira fica em posição até que ocorra a presa do
material (Figura 10).

Para a retirada do molde, deve-se tracionar com uma das mãos a boche-
cha para cima e para baixo, a fim de permitir a entrada de ar no molde, e com
a outra mão deve-se deslocar a moldeira no sentido vertical. Em seguida, la-
va-se o molde e este é analisado (CUNHA e MARCHINI, 2007; ABRÃO e BÉR-
GAMO, 2008; TURANO et al., 2010; GENARI FILHO, 2013).

4.3 Moldagem do arco inferior

Para o arco inferior normalmente duas porções de alginato são suficien-


tes. O material deve ser manipulado e distribuído na moldeira. O profissional
se posiciona em pé à frente do paciente para inserir a moldeira na boca do
paciente; para tanto, deve-se afastar uma das comissuras labiais com a borda
da moldeira e a outra comissura com um cabo de espelho ou dedo. O pacien-
te é orientado a colocar a língua por cima da moldeira antes de aprofundar a
moldeira, pois a elevação da língua impede que os tecidos do assoalho bucal
penetrem na moldeira e danifique o molde (Figura 11).

O molde deve ser pressionado de forma homogênea com os dedos in-


dicadores apoiados na região da goteira da moldeira correspondente aos
pré-molares, permitindo o escoamento do alginato. O operador permanece
à frente do paciente até o fim do procedimento. Após a presa do alginato
retira-se a moldeira e o molde deve ser lavado em água corrente, depois ava-
liado e desinfectado (CUNHA E MARCHINI, 2007; ABRÃO E BÉRGAMO, 2008;
TURANO et al., 2010; GENARI FILHO, 2013).

50
Figura 11: Moldeira carregada com
alginato e posicionamento do operador
para moldagem inferior.

O molde deve reproduzir os detalhes da área moldada (Tabela 2) e estar


livre de bolhas, falta ou excesso de compressão, centralizado, possuir textura
homogênea e envolver todas as áreas do rebordo. Deve ultrapassar as
tuberosidades (no arco superior) e não apresentar rasgamento. Se constatada
alguma imperfeição a moldagem deverá ser repetida (Figura 12).

Figura 12: Moldes após remoção da boca.

Se o molde estiver com boa qualidade, ele deve ser lavado com água
corrente e desinfetado com glutaraldeído 2% ou hipoclorito de sódio a 1%
durante 10 minutos. Para evitar alterações dimensionais o vazamento deve
ser realizado imediatamente após a desinfecção. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2006; SECRETÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006) (Figura 13).

51
Figura 13: Desinfecção do molde

Observações:
Para a moldagem, tanto o dentista quanto o auxiliar devem estar
utilizando os equipamentos de proteção individual (máscara, gorro, óculos,
luva e jaleco). Se for observado que o tempo de presa do alginato está muito
rápido, pode-se utilizar água gelada para retardar a presa.

Tabela 2: Estruturas anatômicas que devem ser registadas nas impressões


preliminares.

Maxila Mandíbula

 Rebordo alveolar residual e


 Rebordo alveolar residual,
papilas piriformes
tuberosidades e chanfradura hamular
 Sulco labial e vestibular; freios e
 Sulco labial e vestibular; freios e
inserções musculares
inserções musculares
 Sulco lingual, freio lingual, crista
 Palato e transição palato duro/palato
milo-hióidea e espaço retromilo-
mole
hióideo

5. Obtenção dos modelos preliminares

Após a desinfecção dos moldes, estes devem ser vazados em gesso. En-
tretanto, o molde inferior necessita de um suporte para língua antes que se
coloque o gesso. Então, seca-se o molde inferior, aplica-se ou uma lâmina de
cera utilidade, ou uma porção de alginato ou ainda papel úmido, que servirá
de suporte para aplicação de alginato.

52
O gesso tipo II é o mais indicado para a confecção dos modelos prelimina-
res em prótese total. A espatulação deve ser vigorosa por aproximadamente
45 segundos, tempo suficiente para incorporar todo o pó ao líquido, obtendo
uma massa cremosa e homogênea (Figura 14).

Figura 14: Espatulação do gesso.

Os dois modelos são preenchidos com gesso sob vibração (utilizando o


vibrador ou apenas batendo o dorso da moldeira na bancada para o gesso es-
parramar-se sobre a bancada) através do depósito em única área para evitar
a inclusão de bolhas. Deve-se aguardar 40 minutos para separação e recorte
do gesso.

6. Análise dos modelos e determinação da área basal

Os modelos devem apresentar a topografia anatômica detalhada, não


apresentando bolhas ou fraturas (Figura 15).

Figura 15: Detalhes anatômicos nos modelos de gesso superior e


inferior.

53
7. Delimitações da área basal e zonas de alívio

A área chapeável maxilar é delimitada com o auxílio de um lápis ou grafi-


te. Inicia-se o traçado contornando-se o freio anterior avançando em direção
ao sulco alvéolo-vestibular sendo demarcado 2 mm aquém deste, contorna-
-se o freio lateral indo em direção ao processo zigomático da maxila e tube-
rosidade. Na região do palato o traçado deve alcançar o limite entre o palato
duro e palato mole, ao nível das fóveas palatinas. A papila incisiva, rugosida-
des palatinas, rafe palatina e áreas retentivas devem ser aliviadas com cera 7
(Figura 16).

Figura 16: Delineamento e alívio do modelo superior.

Na mandíbula, a área chapeável é delimitada traçando-se uma linha 1 mm


aquém da extensão do sulco vestibular, contornando o freio anterior, sulco
alvéolo-vestibular inferior, freio lateral e a linha oblíqua externa. O traçado
contorna a papila piriforme posteriormente, avançando pela zona retromilo-
hióidea (ou fossa retromolar), linha milioídea, sulco alvéolo lingual chegando-
se ao freio lingual. O traçado continua com o lado oposto. Nos modelos
devem ser aliviadas as áreas correspondentes aos forames mentonianos e
áreas retentivas (Figura 17).

Figura 17: Delineamento e alívio do modelo superior.

54
8. Confecção de moldeira individual

É confeccionada sobre o modelo obtido com a moldagem preliminar. O


material utilizado para a construção de moldeiras individuais deve ser rígida
e dimensionalmente estável ao longo do tempo, sem sofrer deformação ao
ser inserido na cavidade bucal, ou até o molde estar apto a ser removido.
Deve ser atóxico, confortável e resistente, além de ser facilmente ajustável
por desgaste ou acréscimo.

Vários materiais podem ser utilizados para a confecção da moldeira indi-


vidual: resina acrílica quimicamente ativada, termicamente ativada, fotoativa-
da ou acetato. Entretanto o material mais utilizado é a resina acrílica quimica-
mente ativada (DAOU, 2010).

A confecção da moldeira individual só deve ser realizada após a delimi-


tação e realização dos alívios, seguindo as orientações dadas anteriormente.
Os modelos devem ser protegidos com isolantes para resina acrílica, a fim de
evitar a aderência da mesma (Figura 18).

Figura 18: Isolamento do modelo superior com isolantes para acrílico e material necessário
para a confecção da moldeira individual.

Abaixadores de língua podem ser posicionados nas extremidades entre


as placas de vidro para que sirvam como espaçadores, determinando a espes-
sura da moldeira individual. Em seguida, proporciona-se o pó e o líquido da
resina acrílica seguindo as recomendações do fabricante, utilizando-se para
isso um pote de Paladon com tampa. O momento de trabalho ideal é no final
da fase pegajosa, quando se formam fios ao se tocar a resina com a espátula.
Nesta fase, a resina é assentada no centro das placas entre os abaixadores. As
placas de vidro devem ser isoladas com sabão para evitar que a resina grude.
Recomendamos que se realize pressão das placas até contato dos abaixado-

55
res. Ao final deve-se obter um lençol de resina acrílica com espessura deseja-
da (Figura 19).

Figura 19: Proporção e manipulação da Resina acrílica.

O lençol de resina deve ser assentado manualmente sobre o modelo e


o excesso recortado com uma espátula lecron, considerando a delimitação
previamente realizada no modelo (Figura 20). A imersão da ponta do lecron
no líquido da resina acrílica facilita o corte, evitando aderência à espátula.

Figura 20: Adaptação e recorte do lençol de resina acrílica sobre o modelo.

As sobras de material são utilizadas para confecção do cabo da moldeira


que deve ser posicionado em um ângulo de 45º com o corpo da moldeira
(Figura 21). É importante o uso da resina transparente, apesar de não obriga-
tória, pois facilita a observação da delimitação área basal.

Figura 21: Moldeira individual após recortes.

56
Observado o estágio exotérmico e presa final de acordo com as instru-
ções do fabricante (aproximadamente 15 minutos), recortam-se os possíveis
excessos, áreas cortantes devem ser suavizadas e ampliam-se as áreas dos
freios e inserções laterais com auxílio de um disco de carborundum para não
machucar o paciente no momento da avaliação da moldeira. Considera-se
ideal aguardar um período mínimo de 24 horas após a confecção da moldeira
para que seja realizada a moldagem funcional, com a finalidade de não trans-
mitir as distorções que ocorrem após a polimerização inicial da resina para o
material de moldagem a ser utilizado (MEDEIROS, 1999).

Ajuste da moldeira individual

O ajuste da moldeira individual tem por objetivo evitar traumas aos teci-
dos bucais e verificar se há espaço suficiente para o material a ser utilizado
na moldagem de borda. A borda da moldeira sem ajuste, geralmente invade
o espaço funcional e empurra o material contra as inserções musculares e
tecidos do fundo de vestíbulo. Após a conclusão da prótese total, esse pe-
queno descuido pode resultar em deslocamentos sucessivos da prótese du-
rante a execução de movimentos, além de poder causar lesões traumáticas e
hiperplásicas nos tecidos moles. Dessa forma, interferências com os freios e
demais tecidos paraprotéticos devem ser eliminadas (REIS et al., 2007)

A avaliação da moldeira superior deve ser realizada com o paciente em


posição horizontal e o operador sentado em posição ergonômica. Para essa
avaliação, o lábio superior deve ser tracionado horizontalmente. Com o dedo
indicador ao longo da borda da moldeira verifica-se a presença de 1 a 2 mm
do fundo de sulco, caso não haja faz-se necessário o desgaste dessa borda
com broca de tungstênio. A região posterior deve ser ajustada de modo a
seus limites ficarem em palato duro. As inserções musculares, freios e bridas
também devem ser analisadas e caso haja interferência, alívios podem ser
realizados com disco metálico dupla face ou disco de carborundum (Figuras
22 e 23).

57
A B

C D

Figura 22: Avaliação e ajuste da moldeira individual superior.

Na avaliação da moldeira inferior o paciente e o operador devem estar


sentados. Os dedos indicador e médio devem ser apoiados na região oclusal
de pré-molares e realizados movimentos circulares na bochecha e traciona-
mento anterior do lábio; se houver movimentação da moldeira, essa deve
ser desgastada na região avaliada. Na região interna, o paciente é instruído
a tocar a língua na comissura labial direita para avaliar a região esquerda da
moldeira, onde a musculatura será tracionada.

Figura 23: Ajuste da região posterior.

58
Da mesma forma, pede-se que o paciente toque a comissura esquerda a
fim de verificar o lado direito e caso haja movimentação da moldeira, o des-
gaste está indicado. Para avaliação do freio lingual, o paciente deve posicio-
nar a ponta da língua na região posterior de palato duro. Vale lembrar que os
movimentos devem estar dentro dos limites fisiológicos. O paciente sempre
deve ser questionado se há algum desconforto durante a prova da moldeira.
Superfícies cortantes devem ser devidamente polidas (Figura 24). Após a rea-
lização dos ajustes o próximo passo será a realização da moldagem funcional.

Figura 24: Avaliação e ajuste da moldeira individual inferior.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRÃO, W.; BÉRGAMO, P.M.S. Prótese total para o clínico geral. Curitiba:
Tota, 2008.

ANUSAVICE, KJ. Materiais dentários. 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 1998.

CERVINO, G. et al. Alginate Materials and Dental Impression Technique: A


Current State of the Art and Application to Dental Practice. Marine drugs,
v.17, n.1, December 2018.

CUNHA, V.P.P.; MARCHINI, L. Prótese total contemporânea na Reabilitação


Bucal. São Paulo: Santos, 2007.

DAOU, E.E. The elastomers for complete denture impression: A review of the
literature. Saudi Dent J, v. 22, n. 4, p. 153-60, 2010.

59
GENNARI FILH O, H. Moldagens em prótese total. Revista Odontológica de
Araçatuba, v. 34, n. 1, p. 50-55, Janeiro/Junho, 2013.

MACHADO, M.S.S.; EDUARDO, J.V.P.; GUARIGLIA, A.C.A.P. Moldagem


anatômica em prótese total: modificação de técnica. PCL, v. 5, n. 2, p. 467-
474, 2003.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Serviços


Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos. Brasília: Ministério da
Saúde, 2006.

REIS, J.M.S.N.; PEREZ, L.E.C.; NOGUEIRA, S.S.; ARIOLLI FILHO, J.N.; MOLLO
JÚNIOR, F.A. Moldagem em prótese total – uma revisão da literatura. RFO, v.
12, n. 1, p. 70-74, Janeiro/Abril, 2007.

SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO. Portaria do Centro de


Vigilância Sanitária, 11, São Paulo, 1995.

TELLES, D.; HOLLWEG, H.; CASTELLUCCI, L. Prótese Total - Convencional e


Sobre Implantes: 1ª ed. São Paulo: Santos, 2009.

TURANO, J.C.; TURANO, L.M.; TURANO, M.V.B. Fundamentos de Prótese


Total: 9ª ed. São Paulo: Santos, 2010.

60
Capítulo
Moldagem Funcional
3
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues
Érika da Silva Luz Alvarenga
Thaís Alves Elias da Silva

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de realizar a moldagem funcional
bem como selecionar corretamente os materiais mais adequados observan-
do as características individuais dos pacientes.

Sumário do capítulo:
1. Vedamento periférico
1.1 Materiais utilizados
1.2 Testes de retenção

2. Moldagem da área basal


2.1 Materiais utilizados
2.2 Testes de retenção e avaliação final da moldagem

3. Dicagem ou debrum da cera


4. Desinfecção do molde

61
M
oldagem funcional é o ato de moldar somente a área que será co-
berta pela prótese com material moldador fluido e em pequena
quantidade, que não comprima os tecidos, ou os comprima pouco,
utilizando uma moldeira individual. É mais elaborada que a moldagem ana-
tômica, pois reproduz, além dos detalhes anatômicos da área chapeável, as
inserções musculares em seu estado de tensão. Pode também ser denomi-
nada de “segunda moldagem”, “moldagem de trabalho”, “moldagem correti-
va”, “moldagem secundária” e “moldagem final” (CUNHA e MARCHINI, 2007;
ABRAÃO e BERGAMO, 2008; TURANO et al., 2010).

A moldagem funcional proporciona vedamento periférico e pode ser rea-


lizada em duas etapas: a primeira etapa constitui o vedamento periférico que
deve ser realizado com godiva em bastão, cera ou silicona densa; a segunda
etapa constitui a moldagem propriamente dita, quando o material entra em
contato com a área basal e, por isso, deve-se utilizar um material de boa re-
produtibilidade (ABRÃO e BÉRGAMO, 2008; TELLES et al, 2009; PARDIM e
CUNHA, 2019; ZARONE et al., 2020).

1. Vedamento periférico

O vedamento periférico é a primeira etapa da moldagem funcional,


consistindo na colocação de um material de moldagem somente nas bordas
da moldeira individual. Ele permite que os tecidos estabeleçam relações
de contato com o material de moldagem, modelando-o de acordo com as
necessidades funcionais (TELLES et al., 2009).

O objetivo principal dessa técnica é promover o íntimo contato das


bordas da prótese com os tecidos, além de permitir a formação de bordas
arredondadas, melhorando não só o conforto da futura prótese como
também sua retenção.

1.1 Materiais utilizados

O material mais comumente utilizado para este procedimento é a godiva


em bastão, mas outros também têm sido propostos como a cera utilidade,
resinas termoplásticas, siliconas pesadas e pastas de óxido de zinco e eugenol.

62
A godiva de baixa fusão tem sido utilizada tradicionalmente na confecção de
selado periférico devido a uma série de vantagens (REIS et al., 2007; TURANO
et al., 2010; DAOU, 2010):

• Boa adesão à moldeira;

• Pequena viscosidade quando plastificada e rigidez após resfriamento;

• Boa estabilidade dimensional à temperatura bucal e ambiente;

• Pode-se acrescentar ou remover mais godiva sobre a já existente


quando necessário;

• A moldeira pode ser removida da boca a qualquer momento;

• Caso haja falha na moldagem com o material principal, é possível


removê-lo preservando a godiva do selado.

Porém, esse material também apresenta algumas desvantagens como:

• Risco de queimar o paciente com a godiva plastificada;

• Maior tempo gasto quando comparado com a cera utilidade;

• A técnica é mais sensível, o que exige mais atenção e empenho do


profissional.

Outra opção existente é a cera utilidade e que pode ser colocada nas
bordas da moldeira diretamente com as mãos, sendo aquecida ligeiramente
somente antes de levar à boca, o que reduz o tempo clínico sensivelmente
e apresenta algumas vantagens como (GENNARI FILHO, 2013; PARDIM e
CUNHA, 2019):

• A chance de causar queimaduras no paciente diminui sensivelmente;

• O procedimento se torna mais rápido;

• Menor custo.

63
Mas esse material também apresenta algumas desvantagens como:

• Adesão inferior à moldeira em relação à godiva, sendo que dificil-


mente se aproveita o vedamento periférico caso haja necessidade
de repetir a moldagem funcional;

• A cera possui menor estabilidade dimensional em comparação com


a godiva, necessitando de alguns cuidados após a moldagem funcio-
nal, como não pressionar os bordos do molde, manter a moldeira
distante de fontes de calor e vazar o molde assim que possível a fim
de evitar deformações.

Como citado anteriormente, existem outros materiais que também po-


dem ser utilizados com o mesmo propósito, sendo apenas uma questão de
escolha individual do profissional. O importante é conhecer os materiais de
trabalho e entender suas vantagens e limitações.

A moldagem funcional é realizada com auxílio de moldeira individual, e


esta deve ter sido adequadamente ajustada e desinfetada. Para a moldagem
da borda, o paciente e o operador devem se posicionar da mesma forma que
no ajuste da moldeira individual.

Na maxila, a borda da moldeira deve ser dividida em duas partes mol-


dando uma parte por vez. Na chama de uma lâmpada de álcool, a godiva é
plastificada e depositada sobre a borda, podendo usar as pontas dos dedos
molhados em água para melhor acomodá-la.

Na sequência, a godiva é novamente aquecida até apresentar uma apa-


rência brilhante e lisa, para isso podendo ser utilizada uma lâmpada do tipo
Hanau. Aguardam-se em torno de 30 segundos, fazendo-se movimentos de
vaivém a fim de esfriar um pouco a godiva. Em seguida, a moldeira é intro-
duzida na boca do paciente, devidamente centralizada e se realiza uma leve
tração do lábio superior (Figura 1).

64
Figura 1: Deposição da godiva plastificada na borda da
moldeira, inserção na boca e tracionamento do lábio.

Segundo Telles et al. (2009) se a godiva se apresentar afilada, é sinal que


não alcançou os tecidos no fundo do sulco, ou por recorte demasiado da mol-
deira, ou por falta de material. Para correção, deve-se repetir o procedimen-
to, colocando uma nova quantidade de godiva sobre a já existente. Se não
houver êxito, será necessário confeccionar uma nova moldeira.

Na sequência, faz-se a moldagem da segunda metade da borda de manei-


ra similar a já descrita, mas desta vez tracionando-se a bochecha horizontal-
mente, de forma leve, e em seguida, dobrando-a sobre a borda. Aguardam-se
alguns segundos, traciona-se a bochecha, e se observa, por visão direta, se
a godiva preencheu todo o espaço entre a moldeira e o fundo de sulco. Em
caso positivo, ela deve ter um aspecto fosco, com a borda arredondada, sem
dobras, mostrando assim que a moldagem foi bem-sucedida (Figura 2).

65
Figura 2: Plastificação da segunda parte da borda, inserção na
boca e tracionamento da bochecha.

Eventualmente, algum excesso de godiva escorre para o interior da mol-


deira, que deve ser removido com uma espátula lecron aquecida, a fim de
evitar falhas de assentamento da moldeira nas próximas etapas.Já na região
posterior, a godiva é colocada sobre a borda, levada em posição e realiza-
da a compressão digital; nesse momento, pedimos ao paciente para falar
“AAAAA”, com o objetivo de movimentar o palato mole e evitar interferência
dessa região na futura prótese (Figura 3).

66
Figura 3: Aspecto final após a moldagem de
borda da moldeira funcional superior.

Na mandíbula, a moldagem dos flancos bucais e labial é obtida pelas téc-


nicas de tracionamento, semelhante ao arco superior (Figuras 4 e 5).

Figura 4: Moldagem de borda na região de fundo de sulco vestibular anterior da mandíbula.

Figura 5: Moldagem de borda na região da linha obliqua externa na mandíbula.

67
Já para os flancos linguais e sublingual são moldados orientando o pa-
ciente a fazer os movimentos da língua dentro dos limites fisiológicos, ins-
truindo que ele posicione a língua nas comissuras labiais direita e esquerda
alternadamente (Figura 6).

Figura 6: Moldagem de borda da região milo-hióidea do lado direito e aspecto final após
conclusão de todos os bordos.

Na moldagem com cera utilidade, um fino rolete de cera é adaptado so-


bre a borda da moldeira com as mãos. A cera é então ligeiramente aquecida
na lâmpada a álcool e a moldeira levada à boca. A partir desse momento a téc-
nica é semelhante à realizada com a godiva, lembrando sempre de remover
os excessos que possam escorrer para o interior da moldeira antes de seguir
para a próxima etapa (GENNARI FILHO, 2013; PARDIM e CUNHA, 2019). Para
essa técnica, recomenda-se utilizar a godiva de baixa fusão para a região do
palato, já que é a região mais crítica no que se refere ao selado e a que gera
maiores problemas de retenção na futura prótese total (Figura 7).

68
Figura 7: Aspecto final da moldagem de bordo
utilizando-se cera utilidade e godiva.

1.2 Testes de Retenção



Concluído o vedamento periférico, a moldeira deve apresentar retenção.
O teste da retenção global é realizado pela tração da moldeira verticalmente.
O teste do selado posterior e anterior é feito por leves toques no cabo da
moldeira por lingual ou palatina e por vestibular, respectivamente. Caso a
moldeira seja deslocada com facilidade em algum dos testes, significa que es-
sas regiões não foram adequadamente moldadas, necessitando de correção
antes de prosseguir para a moldagem da área basal (REIS et al., 2007; TELLES
et al., 2009; DAOU, 2010; TURANO et al, 2010).

2. Moldagem da área basal

A moldagem da área basal tem como objetivo copiar com detalhes a su-
perfície de suporte dos rebordos superior e inferior.

2.1 Materiais utilizados

Vários materiais podem ser utilizados para moldagem funcional, deven-


do a escolha levar em consideração o domínio da técnica pelo profissional
e o conforto do paciente. Como alternativas para moldagem da área basal
temos:

69
Tabela 1: Materiais utilizados no procedimento de moldagem funcional

MATERIAIS PROPRIEDADES E CARACTERISTICAS

Material anelástico;
• Baixo custo;
• Boa estabilidade dimensional;
Pasta de óxido de zinco e
• Material rígido;
eugenol
• Permite demora no vazamento
do gesso;
• Estabilidade dimensional.

• Materiais elásticos;
Siliconas de condensação e
• Permitem uma fina película de
Mercaptanas (polissulfetos)
material;
• Exigem vazamento quase que
imediato (até duas horas).

• Materiais elásticos;
• Propriedades hidrofílicas;
Poliéteres e Siliconas de • Molde preciso e sem bolhas;
Adição • Permitem demora no vazamento
do gesso - normalmente até
sete dias.

Inicialmente, é importante determinar as posições do paciente e do


profissional durante a moldagem. De maneira geral, seguimos o protocolo
apresentado para moldagem preliminar, utilizando as mesmas posições e to-
mando os mesmos cuidados. Os materiais devem ser utilizados seguindo as
recomendações de cada fabricante, devendo-se ter o cuidado de depositá-
-lo, também, sobre as bordas durante o procedimento de moldagem. Após a
inserção do material de moldagem na boca, toda a movimentação realizada
para a moldagem de bordo deve ser repetida (CUNHA e MARCHINI, 2007;
REIS et al., 2007; ABRÃO e BERGAMO, 2008; DAOU, 2010; PARDIM E CUNHA,
2019, ZARONE et al., 2020). (Figuras 8 a 10).

70
Figura 8: Aplicação do adesivo para poliéter.

Figura 9: Proporção do
Poliéter e sua manipulação
com movimentos circulares.

Figura 10: Carregamento da moldeira individual e posicionamento em boca.

71
Se a moldagem for realizada com a pasta zincoeugenólica, alguns cuida-
dos devem ser tomados, como, por exemplo, usar vaselina para proteger uma
possível barba e/ou bigode do paciente, pois o material de moldagem pode
aderir de forma irreversível aos pelos. Nesse caso, não há necessidade de se
utilizar nenhum adesivo na moldeira, uma vez que a pasta zincoeugenólica
tem boa aderência ao acrílico. Uma observação importante é que materiais
anelásticos estão contraindicados para regiões com áreas retentivas sob o
risco de machucar o paciente ou ter grande dificuldade de remover o molde
da boca do paciente (CUNHA e MARCHINI, 2007; ABRÃO e BERGAMO, 2008;
TURANO et al., 2010) (Figuras 11 a 14).

Figura 11: Proporção da pasta de óxido de zinco e eugenol e a moldeira superior carregada
com o material de moldagem.

Figura 12: Moldeira superior em posição na boca com o tracionamento da mucosa na


região anterior e posterior.

72
Figura 13: Moldeira superior em posição na boca aguardando o final da polimerização e
molde concluído.

Figura 14: Procedimento de moldagem inferior com pasta de óxido de zinco e eugenol e
molde finalizado.

2.2 Teste de retenção e avaliação final da moldagem

Os testes de retenção, suporte e estabilidade deverão ser feitos com o


molde em posição. Um molde superior com boa retenção não deverá deslocar-
se ao se tocar o cabo colocando uma força de cima para baixo (avaliação do
selado anterior) e nem no sentido contrário (avaliação do selado posterior). A
observação do suporte é feita por pressão sobre a moldeira na região central
dos rebordos, alternando-se os lados e verificando se há deslocamento do lado
oposto. Para analisar a estabilidade é necessário pressionar o cabo da moldeira
lateralmente, devendo haver o mínimo de movimentação (Figura 15).

73
A B C

Figura 15: Testes de retenção: A - Avaliação do selado posterior; B - Avaliação do selado


anterior; C - Avaliação da estabilidade

Após a remoção, o molde deve reproduzir todos os acidentes anatômi-


cos, com ausência de bolhas, trincas ou rachaduras e apresentar espessura
uniforme, indicando igualdade na pressão de moldagem. O material de mol-
dagem deve recobrir toda a moldeira e o material de vedamento periférico.
Áreas sem material de moldagem podem evidenciar compressão exagerada
durante o procedimento e, dependendo da extensão, necessitar repetição
do procedimento de moldagem (Figura 16).

Figura 16: Moldes funcionais superiores; na figura da esquerda foi utilizado poliéter e na
da direita pasta de óxido de zinco e eugenol.

3. Dicagem ou Debrum de cera

Com o objetivo de preservar a anatomia obtida no vedamento periférico,


utiliza-se cera utilidade em toda a periferia do molde, a aproximadamente 3
mm da borda. Uma espátula aquecida é usada para fixar a cera ao modelo.
(Figura 17).

74
Figura 17: Dicagem do molde.

75
4. Desinfecção do molde
Após a moldagem funcional e
previamente ao vazamento do
gesso para obtenção do modelo,
o molde deverá ser lavado em
água corrente e, posteriormente,
desinfetado em uma solução de
glutaraldeído a 2% por dez
minutos, por arspersão ou
imersão em recipiente fechado.
Recomenda-se o Glutaraldeído,
por ser um material que, para o
Figura 18: Lavagem em água corrente tempo recomendado, não causa
dano à superfície dos moldes dos
materiais utilizados para a moldagem funcional (Figura 18).

O hipoclorito de sódio é contraindicado para desinfecção de moldes com


a pasta de óxido de zinco e eugenol, devido a sua incompatibilidade.

O vazamento deverá ser realizado com gesso especial (Tipo IV) na


proporção recomendada pelo fabricante, geralmente em torno de 19 a 21
ml de água para cada 100 g de gesso. Normalmente para a confecção de um
modelo de prótese total são necessárias 150 g de gesso (Figura 19).

Figura 19: Modelos funcionais de gesso tipo IV recortados.

76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRÃO, W.; BÉRGAMO, P.M.S. Prótese total para o clínico geral. 1ed. Ribei-
rão Preto: Livraria e Editora Tota, 2008.

CUNHA, V.C.P.; MARCHINI, L. Prótese total contemporânea na reabilitação


bucal. 1.ed. São Paulo: Editora Santos, 2007.

DAOU, E.E. The elastomers for complete denture impression: A review of the
literature. Saudi Dent J, v. 22, n. 4, p.153-60, 2010.

GENNARI FILHO, H. Moldagens em prótese total. Revista Odontológica de


Araçatuba, v. 34, n. 1, p. 50-55, 2013.

MACEDO, L.D.; PARANHOS, H.F.O.; SILVA, C.H.L.; MUGLIA, V.A. Proposição


de uma técnica de moldagem de borda funcional por sucção empregada em
prótese total. Rev. Odont. Araçatuba, v. 26, n. 1, p. 49-55, 2005.

PARDIM, N.T.G.; CUNHA, M.A.P. Materiais para Moldagem Funcional usados


na Prótese Total: Revisão de literatura . Rev. Mult. Psic. v. 13, n. 48, p. 465-
475, 2019.

REIS, J.M.S.N.; PEREZ, L.E.C.; NOGUEIRA, S.S.; ARIOLLI FILHO, J.N.; MOLLO
JÚNIOR, F.A. Moldagem em prótese total – uma revisão da literatura. RFO, v.
12, n. 1, p. 70-74, 2007.

TELLES, D.; HOLLWEG, H.; CASTELLUCCI, L. Prótese total - convencional e


sobre Implantes. 1 ed. São Paulo: Editora Santos, 2009.

TURANO, JC; TURANO, LM; TURANO, MVB. Fundamentos de prótese total.


9 ed. São Paulo: Editora Santos, 2010.

ZARONE, F.; RUGGIERO, G.; DI MAURO, M.I.; SPAGNUOLO, G.; FERRARI, M.;
SORRENTINO, R. Accuracy of Three Impression Materials on the Totally Eden-
tulous Maxilla: In Vitro/In Silico Comparative Analysis. Materials (Basel), v.
13, n. 3, p. 515- 27, 2020.

77
78
Bases de prova e Relações intermaxilares
Capítulo 4
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves
Carlos Henrique de Carvalho e Souza
Janayla Moreira Abreu
Laynna Marina Santos Lima

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de confeccionar bases de prova
superior e inferior para pacientes desdentados e reconhecer planos e linhas
de referência.
Sumário do capítulo:
1. Base de Prova
1.1. Materiais utilizados para a confecção da base rígida
1.1.1. Placa base de godiva
1.1.2. Resina acrílica quimicamente ativada
1.2. Técnica de Confecção
2. Relações Intermaxilares
3. Determinação dos Planos de Orientação
3.1. Ajuste na base de prova superior
3.1.1. Suporte do Lábio
3.1.2. Altura Incisal
3.1.3. Paralelismo com a linha bipupilar
3.1.4. Curva de Spee:
3.1.5. Corredor Bucal
3.2. Ajustes na base de prova inferior
3.2.1. Dimensão Vertical
3.2.1.1. Métodos para a determinação da dimensão vertical
3.2.1.2. Procedimentos para registro da DVO
3.2.1.3. Demarcação de Linhas de Referência
3.2.2. Relação Cêntrica
3.2.2.1. Métodos de Determinação da RC
3.2.2.2. Procedimentos para registro da relação cêntrica
79
A
pós a confecção dos modelos de gesso obtidos a partir da moldagem
funcional, a próxima etapa a ser executada consiste na confecção das
bases de prova ou de placas articulares, seguida dos registros inter-
maxilares.

No paciente edêntulo, devido à perda de todos os dentes naturais,


existe dentro da cavidade oral um espaço chamado de Espaço Potencial da
Prótese Total. Este espaço é limitado pela maxila e pelo palato mole acima;
pela mandíbula e assoalho da boca abaixo; pela língua medianamente ou
internamente e pelos músculos e tecidos dos lábios e bochechas lateralmente
ou externamente. Dentro deste espaço há uma área que foi denominada de
Zona Neutra. A língua exerce forças que pressionam para fora, ao passo que
as bochechas e os lábios exercem forças que pressionam para dentro; forças
essas que variam em amplitude e direção individualmente e em diferentes
períodos da vida. A área na cavidade bucal onde há neutralização dessas
forças é exatamente na Zona Neutra. Para que a prótese total apresente a
estabilidade adequada é necessário que ela ocupe uma posição na cavidade
oral onde todas as forças estão neutralizadas.

As relações intermaxilares em pacientes dentados são dadas pela oclusão


dos dentes superiores com os inferiores; já em pacientes edêntulos, nos
quais não há oclusão estabelecendo as dimensões do espaço protético, a
falta dos dentes reflete a ausência de parâmetros intraorais que orientem
a colocação de próteses que restabeleçam o padrão oclusal e estético
perdido. Portanto, a obtenção da mordida nesses pacientes se transforma
em um procedimento relativamente complexo, em que o Cirurgião-Dentista
precisa ter conhecimento dessas características e de um meio adequado
para registrá-las e transferi-las à futura prótese, o que exige a utilização de
dispositivos especiais, as chamadas bases de prova (TELLES et al., 2004).

As bases de prova são dispositivos representativos dos arcos dentais


superior e inferior e que são construídos tendo como base a anatomia e
a fisiologia do sistema mastigatório de cada paciente, cuja execução deve
ser precisa e cuidadosa, pois quando finalizada deve relacionar-se com as
estruturas orais, de tal maneira que exista perfeita harmonia entre as mesmas,
cumprindo sem dificuldades suas funções durante a mastigação, deglutição,
fonação e respiração, e estando sujeitas às modificações de acordo com cada
caso clínico específico.

80
1. Base de Prova
A base de prova é confeccionada sobre os modelos funcionais, sendo
constituída de uma base rígida sobre a qual se fixa um rolete ou padrão de
cera.
A superfície rígida da base de prova funciona como elemento de fixação,
pois ela se prende aos tecidos de suporte da boca através dos fenômenos
físicos de adesão, coesão e tensão superficial. Enquanto os roletes de cera
constituem os elementos funcionais das bases de prova, já que é sobre eles
que serão registradas as relações intermaxilares, a altura e a inclinação do
plano oclusal, e definidas as formas das arcadas. Quando registramos no
padrão de cera as características individuais do paciente, ele passa a ser
denominado plano de orientação (CUNHA e MARCHINI, 2007; ABRÃO e
BÉRGAMO, 2008; TRENTIN et al., 2016).
As bases de prova funcionam como matrizes das futuras próteses,
permitindo ao profissional: testar a fidelidade das moldagens; determinar
a dimensão vertical; e determinar e registrar a relação cêntrica; além
disso, possibilitam a montagem dos respectivos modelos em articulador
semiajustável, a montagem dos dentes artificiais e as subsequentes provas
clínicas.
As bases de prova devem ser confeccionadas de tal forma que permitam
o registro das relações intermaxilares de maneira precisa. Por essa razão elas
devem apresentar características peculiares como: estabilidade, retenção e
boa adaptação ao rebordo residual; extensão adequada, cobrindo todos os
tecidos que constituem a área de suporte da prótese; espessura adequada e
uniforme, tanto na área de assentamento basal (1 a 2 mm), quanto na área das
bordas (3 a 4 mm); resistência e rigidez adequadas; a par disso, devem evitar
interferência com as atividades funcionais das estruturas orais (mastigação,
fonação, respiração, deglutição).

Se alguma etapa da confecção da base de prova for negligenciada ou


executada inadequadamente, tanto pelo Cirurgião-Dentista quanto pelo
técnico de laboratório, ocasionará uma série de dificuldades no decorrer do
tratamento, e consequentemente o resultado será insatisfatório.

81
Como citado anteriormente, as bases de prova possuem duas partes, as
bases rígidas e o rolete de cera.

1.1 Materiais utilizados para a confecção da base rígida:

Os materiais mais utilizados para a confecção do suporte rígido são a placa


base de godiva e a resina acrílica quimicamente ativada (CUNHA e MARCHINI,
2007; ABRÃO e BÉRGAMO, 2008; TRENTIN et al., 2016).

1.1.1 Placa base de godiva

É uma substância termoplástica de composição resinosa. Apresenta-se


em lâminas de 1 mm de espessura, nas cores marrom e rósea.

Vantagens:

• Simplicidade na confecção;

Desvantagens:

• Aparência desagradável;
• Baixa estabilidade dimensional frente às mudanças térmicas;
• Baixa resistência a impactos;
• Bordas pouco espessas.

1.1.2 Resina acrílica quimicamente ativada

Vantagens:

• Simplicidade de confecção;
• Boa aparência;
• Adaptação;
• Resistência;
• Rigidez;
• Boa estabilidade dimensional,
• Durabilidade;

Desvantagens:

• Contração inicial de polimerização (especialmente nas primeiras 24


horas).

82
A técnica de confecção da base de prova recomendada é a que utiliza
resina acrílica autopolimerizável, devido ao fato de ser resistente e permi-
tir ajustes tanto por acréscimo como por remoção e, quando necessário, po-
der ser reparada. Um detalhe importante é que a resina acrílica está sujeita à
contração de polimerização por pelo menos 24 horas após sua confecção, se
tornando mais estável a partir desse período. Assim, é conveniente aguardar
esse período com a base em acrílico imersa em água antes de ser realizado
qualquer ajuste em boca.

1.2 Técnica de Confecção

As técnicas mais comumente empregadas na confecção das bases de pro-


vas são: técnica laminada e técnica da resina fluida. A técnica laminada con-
siste em obter uma lâmina de resina com o auxílio de duas placas de vidro e
adaptá-la diretamente sobre o modelo funcional. Consideramos esta técnica
mais simples, pois garante uma espessura uniforme de resina acrílica, mesmo
para profissionais menos habilidosos. Apresenta, ainda, como vantagens a fa-
cilidade técnica e o baixo custo.

Para a confecção da base de prova, é necessário que os modelos funcio-


nais estejam recortados (Figura 1).

Figura 1: Modelos funcionais recortados.

Confeccionam-se alívios acrescentando cera n°7 aquecida e manuseada


com a espátula n°7 sobre as áreas retentivas. No modelo superior, geralmente
as áreas retentivas estão localizadas nas faces vestibulares da região anterior
e, no inferior, na fossa retromolar da região posterior lingual.

83
O próximo passo é a proteção do modelo com isolante para resina acríli-
ca. Utiliza-se um pincel para aplicá-lo no modelo, inclusive nas bordas. Caso
esta etapa seja negligenciada, existe o risco de quebra do modelo na etapa
seguinte, sendo necessária a realização de uma nova moldagem funcional.
Uma alternativa ao uso do isolante consiste na hidratação do modelo, com a
imersão deste em água por um período de dez minutos (Figura 2).

A B

C
Figura 2: Moldeira individualizada
A: Alívios nas áreas retentivas
B: Isolamento do modelo
C: Hidratação do modelo

Obtenção da lâmina de resina acrílica

Utilizam-se duas placas de vidro com duas espátulas de madeira interpos-


tas. Sobre uma das superfícies de cada placa deve-se colocar uma quantidade
razoável de detergente líquido distribuído em toda a extensão da placa a fim
de evitar a aderência da resina. A técnica consiste na prensagem de uma pla-
ca de vidro sobre a outra até que a resina adquira a forma de uma lâmina com
espessura em torno de 2 mm.

Para isso manipula-se a resina acrílica autopolimerizável num pote de Pa-


ladon, com o auxílio de uma espátula n°31 e aguarda-se que ela atinja a fase
plástica. Nesse momento, a resina é colocada sobre uma das placas de vidro
e realiza-se a prensagem da mesma com o auxílio da outra placa, sempre com
pressão uniforme e constante. (Figura 3).

84
A B C

D E F

Figura 3: Obtenção da lâmina de resina acrílica

Adaptação da lâmina de resina

Após a prensagem nas placas de vidro, faz-se a adaptação da lâmina de re-


sina acrílica no modelo, de maneira uniforme cobrindo toda a área chapeável,
sempre com o objetivo de conseguir a melhor adaptação possível. Coloca-se
uma pequena quantidade de monômero em um pote Dappen para umede-
cer a lâmina da espátula de Le Cron, com objetivo de facilitar o recorte dos
excessos de acrílico de maneira suave, sem deformação da lâmina de resina.
Recorta-se a lâmina de resina ao nível da borda externa do modelo e não ao
nível da linha de término da área chapeável, para que se obtenha um total
preenchimento do fundo de sulco em toda a sua extensão e largura.

Durante a retirada dos excessos é importante que não se perca a adap-


tação da resina ao modelo, principalmente na área do palato. Na região pos-
terior, deve-se recortar exatamente ao nível do término da área chapeável,
para evitar uma sobre-extensão da prótese em direção ao palato mole, o que
pode acarretar náuseas e desconforto ao paciente.

Aguarda-se a polimerização total da resina acrílica. Durante esse processo,


a base de prova deve ser deslocada da base do modelo algumas vezes, a fim de
evitar que a contração de polimerização impeça a posterior remoção (Figura 4).

85
Figura 4: Adaptação e recorte do lençol de resina acrílica sobre o modelo.

Acabamento da base rígida

Finalizada a polimerização da resina acrílica, remove-se a base rígida do


modelo e inicia-se a fase de acabamento e polimento dela. Os materiais
necessários para o acabamento e polimento são basicamente o micromotor
com a peça reta e broca de tungstênio.

Terminado o desgaste com a broca, realizam-se os alívios do freio mediano


labial superior e das inserções laterais. O alívio deve ser feito em forma de “V”
com o emprego de discos de carborundum e posterior arredondamento dos
ângulos.

Roletes de Cera

Terminada a confecção das bases rígidas superior e inferior, inicia-se


a confecção dos roletes de cera que consistem em uma muralha de cera
adaptada à base rígida dos modelos superior e inferior, através da qual
registram-se as relações intermaxilares, a altura e inclinação do plano oclusal,
bem como a definição das formas das arcadas.

É importante mencionar que, previamente à confecção dos roletes de


cera, devem ser feitas ranhuras com espátula Le cron aquecida na base acrílica
da área correspondente à crista do rebordo residual. Sobre estas ranhuras
deve-se depositar uma fina camada de cera nº 7 aquecida. O objetivo da
confecção dessas ranhuras e do banho de cera dado sobre elas é a adequada
fixação do rolete de cera sobre a base rígida (Figura 5).

86
Figura 5: Ranhuras para fixação do rolete de cera.

A técnica a ser utilizada é a da lâmina de cera dobrada, que consiste em


plastificar uma lâmina e meia de cera n° 7 ligeiramente sobre a chama da
lamparina, ao longo da sua largura, fazendo os movimentos de uma extremi-
dade à outra, até começar a plastificação. Dobra-se a cera sobre ela mesma
no sentido longitudinal, sendo suficientes 4 dobras de 10 mm de largura da
cera. Estas devem ser pressionadas até que as camadas de cera estejam bem
aderidas entre si. Após dobrar a cera no sentido longitudinal deve-se unir as
extremidades provocando uma dobra ao meio da cera. A conformação do ro-
lete assemelha-se a uma ferradura, obedecendo à forma do arco. (Figura 6).

87
Figura 6: Confecção do rolete de cera.

88
Posicionamento dos roletes de cera

O posicionamento do rolete de cera requer conhecimento prévio sobre


como ocorrem as reabsorções ósseas. Na maxila, a região vestibular é a que
mais sofre reabsorção, por isso o rolete de cera deve ser posicionado sobre
a base rígida à frente da posição que corresponde à papila incisiva, que serve
como referência para a colocação do rolete. Na mandíbula, a reabsorção ós-
sea é variável, sendo mais frequente na região vestibular anterior e na região
lingual posterior, nas quais se tem como referência o eixo longitudinal da pa-
pila piriforme para a determinação do centro da área chapeável inferior.

No sentido mésio-distal, o centro do rolete de cera deve coincidir com


o centro do rebordo alveolar residual, para corresponder ao centro da área
chapeável. Na região posterior superior, o rolete de cera não deve recobrir
as tuberosidades, por isso a sua extensão deve ser limitada a 1 cm do sulco
hamular.

O rolete superior deve apresentar na região anterior a distância média


de 20 mm entre sua superfície oclusal e o modelo de gesso; na região pos-
terior essa distância deve ser em torno de 5mm. A adaptação do rolete de
cera na região inferior deve ser adequada à anatomia do ramo ascendente da
mandíbula. Na região anterior a distância está em torno de 16 mm entre sua
superfície oclusal e o modelo de gesso; esta altura deve ser gradativamente
diminuída até alcançar a porção posterior, onde termina em zero ao nível da
papila piriforme.

Após a fixação dos roletes de cera sobre as bases rígidas, faz-se o preen-
chimento dos espaços entre o rolete de cera e a base rígida inferior com cera
n° 7 fundida, bem como o acabamento nas superfícies oclusais com auxílio
da espátula n° 36 aquecida (Figura 7).

89
Figura 7: Posicionamento, fixação e acabamento
do rolete de cera superior.

2. Relações Intermaxilares

Uma das etapas que merecem maior atenção do profissional durante


a confecção das próteses é, sem dúvida, a determinação das relações
intermaxilares, pois estas ditarão o restabelecimento correto e satisfatório
do sistema estomatognático e, por conseguinte, as funções de fonação,
mastigação e deglutição, além do fato de conferirem ao paciente uma
aparência estética agradável.

As bases de prova funcionam como a relação de oclusão inicial, a qual, ao


longo de uma série de ajustes, é individualizada para o paciente edêntulo.
Para facilitar o entendimento vamos traçar algumas considerações sobre as
relações intermaxilares e planos que orientam os primeiros ajustes.

A linha bipupilar corresponde a uma linha imaginária que cruza o centro


de ambas as pupilas e fornece uma orientação horizontal para avaliação do
plano anterior. É considerada de grande importância para o equilíbrio estético
do sorriso.

90
O plano de Camper corresponde ao plano que percorre o extremo da
espinha nasal anterior à porção superior do pório. Este ponto craniométrico
localiza-se na borda superior do orifício do conduto auditivo externo. O pório
pode ser representado nos tecidos moles pelo trágus, que se situa um pouco
adiante.

A linha Aurículo-nasal é a linha imaginária traçada sobre a pele do rosto


do paciente e percorre a linha mediana do trágus à implantação inferior e
lateral da asa nasal. Essa linha é paralela ao plano de Camper e é também
chamada de plano protético. A curva de compensação de Spee corresponde à
linha que une o ápice das cúspides vestibulares dos dentes superiores, tendo
seu ponto inferior em correspondência com a cúspide mesio-vestibular do
primeiro molar permanente; e possui angulação que está diretamente rela-
cionada aos movimentos dos côndilos. Acredita-se que, na falta dessa curva-
tura, haverá perda de contato entra os arcos superior e inferior nas regiões
posteriores, tanto durante a protrusão como também nos movimentos de
lateralidade, dificultando o balanceamento da prótese.

3. Determinação dos Planos de Orientação

A individualização das bases de prova é importante, pois, dessa forma,


serão expressas as características inerentes a cada paciente. Assim sendo, é
imprescindível entender que todos os ajustes realizados nas bases de prova
consistirão em uma orientação prévia da prótese final. Os esforços devem
ser destinados à tentativa de restaurar a naturalidade e a harmonia facial ao
paciente edêntulo, devolvendo a este o correto posicionamento dos lábios,
bochechas e dentes. Os passos devem seguir uma ordem de execução que
favoreça o resultado dessa etapa.

3.1 Ajuste na base de prova superior

3.1.1 Suporte do Lábio

Sem suporte adequado os lábios perdem o volume. Próteses com suporte


adequado atenuam alguns sulcos de expressão facial, notadamente o sulco

91
nasolabial, e rejuvenescem a fisionomia do paciente. Da mesma forma, um
excessivo aumento no suporte também interfere na estética do paciente, os
lábios podem ficar muito elevados e provocar um aumento do volume na
região.

Para avaliar o suporte, o operador deve posicionar a base de prova superior


na boca do paciente e observar o ângulo formado entre o lábio superior e a
base do nariz. Recomenda-se ângulo de 90 graus para obtenção de suporte
adequado (Figura 8).

Figura 8: Suporte do Lábio.

Caso o paciente já faça uso de próteses, estas podem ser utilizadas como
parâmetro para avaliar se já existe suporte adequado. Se houver, a nova
prótese poderá ser confeccionada em concordância com a prótese antiga,
mantendo-se o grau de suporte labial. Caso contrário, haverá necessidade
de modificá-la através do acréscimo ou remoção de cera na área vestibular-
anterior da base de prova (TELLES et al., 2004; CUNHA e MARCHINI, 2007;
ABRÃO e BÉRGAMO, 2008).

3.1.2 Altura Incisal

Os dentes anteriores não devem ser totalmente recobertos pelo lábio,


ao contrário, devem ser aparentes durante a fonação e sorriso. A exposição
exagerada fornece ao paciente aspecto de sorriso constante. Considera-se a
altura satisfatória quando o rolete de cera ultrapassa cerca de 1 a 2 mm do
tubérculo do lábio superior do paciente.

92
Para fazer essa avaliação, é ne-
cessário que os lábios do pa-
ciente estejam completamente
relaxados. O operador deverá
manipular os tecidos de forma
a obter o relaxamento muscu-
lar, e em seguida, posicionar-
-se em frente ao paciente para
análise adequada da altura do
Figura 9: Altura incisal da base de prova. rolete de cera (Figura 9).

Um detalhe fundamental para realizar a análise, não só da altura incisal,


mas também das demais orientações, é a presença de ângulos diedros bem
delimitados no plano de orientação. Isto favorece a visualização correta das
superfícies oclusal e vestibular, evitando equívocos no momento da análise.
Além disso, esse detalhe também será importante na etapa de montagem
dos dentes artificiais na cera, possibilitando o correto posicionamento e ali-
nhamento dos dentes no arco.

3.3.3 Paralelismo com a linha bipupilar

Essa etapa buscará obter um correto paralelismo na região anterior da


base de prova superior. O objetivo desse paralelismo é alcançar um relacio-
namento mais harmonioso entre as futuras próteses e o rosto do paciente.

Para realizar esse ajuste será utilizada como referência a linha bipupilar.
O operador poderá fazer uso de uma régua de Fox (Figura 10) ou então duas
espátulas de madeira (abaixador de língua) como método alternativo (Figura
11). Posicionando-se em frente ao paciente, deverá apoiar uma das espátulas
na região anterior da base de prova e a outra corresponderá à linha bipupilar.
O paciente deve ser solicitado a olhar diretamente para o operador para faci-
litar a correta identificação.

93
Figura 10: Paralelismo com a Linha Figura 11: Paralelismo com a Linha bipupilar
bipupilar utilizando a Régua de Fox. utilizando espátulas de madeira.

3.3.4 Curva de Spee

A curva de Spee é uma curva anteroposterior que vai dos da borda incisal
dos incisivos centrais até as cúspides dos molares. A curva de Spee deve ser
reproduzida mesmo em próteses totais com a finalidade de melhorar tanto a
estética como a função do paciente.

O plano oclusal da base de prova superior deverá ficar paralelo ao Plano


Protético com o intuito de obter a curvatura oclusal correspondente à curva
de Spee. Para verificar a inclinação serão utilizadas duas espátulas de madeira
ou régua de fox. Uma delas será introduzida na boca do paciente e apoiada na
região posterior do rolete de cera, enquanto a outra será posicionada parale-
la à linha aurículo-nasal. Essa avaliação deverá ser realizada nos lados direito
e esquerdo da base de prova (figura 12).

Figura 12: Ajuste do plano posterior

94
3.3.5 Corredor Bucal
O Corredor bucal corresponde ao
espaço entre a superfície vestibular
dos dentes posteriores e a mucosa
interna da bochecha. É necessário
determinar o corredor bucal no ro-
lete de cera, pois, caso o mesmo
não seja determinado, o paciente
mostrará excessivamente os den-
tes posteriores ao sorrir, o que con-
fere um aspecto desarmônico, apa-
Figura 13: Avaliação do corredor bucal.
rentando possuir um maior número
de dentes na boca. Dessa forma, se o arco vestibular do plano de orientação
estiver muito aberto, será necessário retirar cera na vestibular da região pos-
terior, fechando-se um pouco o arco e obtendo-se um formato do corredor
bucal esteticamente agradável (Figura 13).

3.2 Ajustes na base de prova inferior

De início, a altura incisal na região anterior deverá ser estabelecida ao


nível das bordas do lábio inferior ou 1 mm abaixo dele. Na região posterior, o
rolete de cera será desgastado até que termine ao nível da papila piriforme.
Esses ajustes consistem apenas em um ponto de partida para a adequação do
plano de orientação inferior. Realizados tais ajustes, provavelmente já estará
próximo de se estabelecer a dimensão vertical do paciente. Sendo assim, a fi-
nalização do plano de orientação inferior será obtida durante a determinação
da dimensão vertical.

3.2.1 Dimensão Vertical

A Dimensão Vertical é definida como a altura do perfil facial do paciente


medida através de dois pontos selecionados, um na maxila e outro na
mandíbula. Essa dimensão é dividida em dimensão vertical de repouso (DVR)
e dimensão vertical de oclusão (DVO). A Dimensão Vertical de repouso (DVR)
é a altura do perfil facial do paciente, medida através de dois pontos, quando
a mandíbula estiver em posição fisiológica de repouso em relação à maxila.
A dimensão vertical de oclusão corresponde à altura do perfil facial
do paciente quando medida através de dois pontos e os dentes estiverem
em oclusão. O espaço existente entre a DVO e DVR é denominado Espaço

95
Funcional Livre (EFL). Esse intervalo corresponde ao espaço intermaxilar
quando a mandíbula se encontra na posição de repouso ou equilíbrio postural,
sendo indispensável para a manutenção da saúde dos tecidos de suporte e
músculos da mastigação (CUNHA e MARCHINI, 2007). Na literatura clássica, o
EFL tem sido obtido através da seguinte fórmula: EFL = DVR – DVO.
A Dimensão Vertical aumentada provoca uma série de complicações,
caracterizadas, como exemplo, por: contato prematuro dos dentes durante
a fala; distorção da face porque o indivíduo tem dificuldade em fechar os
lábios; sensação de sorriso constante; dificuldade na deglutição, pois quando
os dentes estiverem em contato oclusal, não permitirão que os músculos
elevadores da mandíbula completem a sua contração. Com isso, os músculos
continuarão a exercer força para superar esse obstáculo e, como resultado, os
tecidos de suporte serão reabsorvidos, até que a distância seja restabelecida.
Caso haja diminuição da dimensão vertical, poderão ser aplicadas forças
excessivas aos rebordos residuais e tecidos moles (BABIUC et al., 2009).
Além disso, quando os dentes estão em oclusão, ocasionam um fechamento
exagerado, o que é prejudicial para articulação temporomandibular (ATM).
O espaço normal da língua fica limitado; os músculos da expressão facial
perdem tonicidade e a face parece flácida, em vez de firme; as comissuras
labiais tocam-se excessivamente e os lábios perdem volume. A etiologia
da queilite angular é muitas vezes atribuída ao fechamento exagerado e à
alteração da distância interoclusal, provocados pela diminuição da DVO
(BABIUC et al., 2009).
Dessa forma, para se devolverem as funções perdidas a indivíduos
reabilitados com próteses totais duplas, é importante a correta orientação do
plano oclusal e altura da dimensão vertical. A falta de estruturas de referência
reprodutíveis para determinar a dimensão é um problema. Desta forma, o
sucesso na reabilitação oral com próteses totais depende consideravelmente
das habilidades clínicas do operador (SIERPINSKA et al, 2009).

3.2.1.1 Métodos para a determinação da dimensão vertical

Para determinação da dimensão vertical, muitos métodos e técnicas já


foram descritos na literatura, como, por exemplo, o uso de dimensão vertical
de repouso como referência (THOMPSON e BRODIE, 1942), o método
fonético (SILVERMAN, 1953), telerradiografias (PYOTT e SCHAEFFER, 1954),

96
registros prévios às extrações (TURNER, 1969), força máxima de mordida
(BOOS, 1940), medidas faciais (WILLIS, 1935).
Willis (1935) acreditava no uso das proporções faciais para o
estabelecimento da dimensão vertical. Afirmou que as distâncias do canto
externo do olho até a comissura labial eram iguais à distância da base do nariz
ao mento, quando o paciente estivesse em posição de repouso muscular,
ou seja, em DVR. Quando os planos de oclusão dos pacientes desdentados
totais estão ajustados, estas distâncias devem coincidir. Para aferição dessas
medidas idealizou um instrumento denominado compasso de Willis (CUNHA
e MARCHINI, 2007).
Boos (1940) determinou a dimensão vertical de oclusão por medidas
de forças máximas da mordida usando o gnatodinamômetro. Por sua vez,
Shanahan (1955) propôs o método de deglutição fisiológica (na deglutição, a
mandíbula sobe para ocupar sua posição terminal habitual, após isto, esta é
retruída para a posição fisiológica de relação cêntrica); e Silverman (1953), o
espaço mais fechado da fala como guia para o restabelecimento da dimensão
vertical de oclusão, através de sons sibilantes.
Segundo Tamaki (1988), a dimensão vertical de oclusão pode ser
determinada diretamente; ou, inicialmente, se estabelece a dimensão vertical
de repouso, a partir da qual é obtida a dimensão vertical de oclusão. Chou
et al. (1994) propôs um método craniométrico para determinar a dimensão
vertical de oclusão.
Preti, Koller e Bassi (1992) classificam os métodos de determinação da
dimensão vertical de oclusão em: métodos fisiológicos e métodos mecânicos.
Os fisiológicos utilizam parâmetros clínicos como: posição de repouso,
relaxamento, deglutição, fonética e parâmetros neuromusculares, enquanto
os mecânicos utilizam registros de pré-extração e valores craniométricos.
Tamaki (1998) indicou a técnica mista para ser usada em desdentados to-
tais, isto com objetivo de que o profissional pudesse contar com maior núme-
ro de dados, para estabelecer uma medida mais adequada. Inicialmente dei-
xou o paciente à vontade, para conseguir a posição de repouso da mandíbula
e, a seguir, com o compasso de Willis mediu a distância da base do nariz ao
mento. Dessa medida subtraiu 3 mm que correspondem ao espaço funcional
de pronúncia, para obter a dimensão vertical de oclusão, que foi controlada
após a confecção dos planos de cera através da fonética e da estética.

97
O fundamento que considera a dimensão vertical de repouso (DVR) para
alcançar a dimensão vertical de oclusão (DVO) é bastante simples, bastando
determinar a posição de repouso mandibular e realizar a mensuração da
dimensão vertical de repouso entre dois pontos da face, sendo um na
mandíbula e outro na maxila. Em seguida deve-se reduzir deste valor à quantia
desejada de espaço funcional livre (EFL), ou seja: DVO = DVR – EFL, podendo
o EFL variar de 2 a 4 mm (WULFF e BERED, 1991).

3.2.1.2 Procedimentos para registro da DVO

Recomendamos que a determinação da DVO do paciente seja realizada


por meio da associação dos métodos Fonético, Métrico, Estético e da Deglu-
tição, conforme os passos a seguir indicados.
O paciente deverá ficar posicionado na cadeira odontológica sem apoiar
a cabeça, completamente relaxado e sem as bases de prova. Fazem-se duas
marcações no rosto do paciente, uma logo abaixo do nariz e outra próxima
ao mento. Baseando-se no método Fonético, instrui-se o paciente a falar “M”
três vezes, vagarosamente, se mede a distância entre os dois pontos marca-
dos logo após a emissão do som. Considerando que, após realização da fun-
ção fonética, a mandíbula volta imediatamente à posição de repouso, essa
medida corresponderia à DVR do paciente (Figura 14).

Figura 14: Avaliação da Dimensão Vertical de Repouso.

Baseando-se no método Métrico, se subtraem 3 mm (correspondente ao


EFL) dessa medida e determina-se a DVO.Após a determinação do valor da
DVO, as bases de prova são levadas à boca e se faz o ajuste da altura do ro-

98
lete de cera inferior, acrescentando ou removendo cera até que, quando em
oclusão com o rolete superior, ele fique próximo da DVO encontrada. Uma
observação importante é que normalmente só se fazem alterações no rolete
de cera inferior, o superior não deve ser mais alterado.
Após esse ajuste inicial, faz-se a avaliação pelo método Fonético, quando
se pede ao paciente para pronunciar a palavra “Mississipi” ou “sessenta”. Para
executar esses fonemas, a mandíbula se desloca de tal forma que as bases de
provas se aproximam, mas não se tocam. Caso haja toque entre os roletes de
cera, isso indica uma dimensão vertical alta, invadindo o EFL, necessitando
de remoção de cera em todo o rolete inferior até que não haja mais toque
durante a pronúncia.
Ainda com os planos de orientação em boca, faz-se a avaliação dos
fatores estéticos. Esse julgamento é baseado principalmente na proporção
facial, conformação dos sulcos nasogenianos e harmonia do terço inferior. É
importante observar se os lábios do paciente estão visíveis e se o contorno
dos lábios está adequado, pois lábios muito finos podem indicar perda de
sustentação devido a uma dimensão vertical diminuída.
Outro fator que deve ser verificado é o toque dos lábios quando o
paciente é solicitado a fechar a boca. Esse toque deve ocorrer de forma suave
e natural, sem que, para isso, o paciente precise exercer força. A melhor
forma de fazer essa avaliação é posicionando os planos de orientação na
boca do paciente e aguardando alguns minutos para que haja um completo
relaxamento muscular. Caso durante esse período os lábios deixem de se
tocar, é uma indicação de dimensão vertical elevada.
Por último, verifica-se a função de
deglutição do paciente. Com os pla-
nos de orientação em posição, o pa-
ciente é solicitado a deglutir porções
de água, sendo orientado a informar
se houver dificuldades durante a
realização do ato. Com uma dimen-
são vertical corretamente determi-
nada, a deglutição acontece natural-
mente (Figura 15). A medida da
Figura 15: Método da deglutição. dimensão vertical, também, pode

99
ser determinada com a utilização do compasso de Wills para realização das
medidas, seguindo os mesmos princípios já apresentados.

3.2.1.3 Demarcação de Linhas de Referência

Próxima etapa consiste em demarcar linhas no plano de orientação


superior que indicarão o posicionamento dos dentes na etapa de montagem
dos dentes em cera. Na face vestibular do rolete de cera superior delimitam-
se as seguintes linhas de referência (Figura 16), com auxílio de uma espátula
Le Cron:

• Linha mediana do paciente - linha vertical que corresponde à linha mediana


da face do paciente e define as faces mesiais dos incisivos centrais superiores;
• Linha da comissura labial - linha vertical correspondente à comissura do
lábio em repouso, que corresponde à região distal dos caninos;
• Linha alta do sorriso - linha horizontal correspondente ao ponto mais alto
atingido pelo lábio superior quando o paciente dá um sorrriso. Essa linha
corresponde à altura do incisivo central superior.

Figura 16: Marcação das linhas de referência.

100
3.2.2 Relação Cêntrica

A correta determinação da DVO deve ser conseguida junto ao registro da


Relação Cêntrica (RC) e qualquer alteração da dimensão vertical, para mais
ou para menos, acarretará um registro errôneo desta. A RC é considerada
uma posição maxilomandibular eleita para muitos trabalhos de reabilitação
dentária por ser a mais fisiológica e independente de contatos dentários
(TELLES et al., 2004; CUNHA e MARCHINI, 2007; ABRÃO e BÉRGAMO, 2008;
TRENTIN et al., 2016).

A Relação Cêntrica é uma relação maxilomandibular na qual os côndilos


articulam a porção mais fina e avascular de seus respectivos discos em uma
posição superior e anterior contra a superfície da eminência articular. Esta
posição é independente dos contatos oclusais (TELLES et al., 2004; CUNHA e
MARCHINI, 2007; ABRÃO e BÉRGAMO, 2008; TRENTIN et al., 2016).

A oclusão em relação centrica, é definida como sendo a oclusão dos


dentes quando a mandíbula está em relação cêntrica. Esta pode coincidir ou
não com a posição de máxima intercuspidação habitual (MIH), definida como
a completa intercuspidação dos dentes independentemente da posição
condilar.

De acordo com Kogawa et al. (2004), a RC consiste em uma posição


reproduzível e deve ser a solução final para reorganizar a oclusão,
principalmente em tratamentos protéticos quando não houver contatos
oclusais posteriores e, consequentemente, falta de estabilidade e perda
de dimensão vertical de oclusão. Christensen (2004) mencionou em seu
trabalho que a RC é a posição mais confortável da mandíbula quando esta
é manipulada bilateralmente num movimento posterior e superior em uma
posição retruída.

De acordo com Carlsson (2007), em casos em que o paciente não tem


necessidades oclusais complexas, seu tratamento pode ser realizado com
a posição de MIH. Entretanto, quando um tratamento oclusal extenso e
complexo é indicado, ou quando uma oclusão inteira deve ser reconstruída,
torna-se essencial que os procedimentos sejam realizados em RC.

Vários fatores podem influenciar o registro da relação cêntrica, tais como:


resiliência dos tecidos de suporte; estabilidade das bases de prova; a articula-

101
ção temporomandibular e mecanismos neuromusculares associados; a pres-
são aplicada durante o registro; técnica utilizada; associação de dispositivos
de gravação; a habilidade do dentista; a saúde e a cooperação do paciente; e
a postura do paciente (YURKSTAS e KAPUR, 2005).

3.2.2.1 Métodos de Determinação da RC

A controvérsia em torno da relação Cêntrica é evidente diante da diversi-


dade de métodos para defini-la e registrá-la, não havendo consenso sobre a
técnica ideal.

Foi originalmente proposto, por Shanahan (1956), que a deglutição de sa-


liva levaria a mandíbula a uma posição que coincidiria com a RC e com a DVO
apresentadas pelo paciente. Na deglutição, a mandíbula sobe para ocupar
sua posição terminal habitual; após isso, é retruída para a posição fisiológica
de relação Centrica. As principais vantagens do método de engolir são as de
que é possível determinar DVO e RC, ao mesmo tempo, e também obter a
posição intermaxilar funcionalmente.

Dawson (1993) descreveu a técnica da manipulação bilateral. O profissio-


nal posiciona os polegares sobre a sínfise mentoniana e os demais dedos sob
o ramo mandibular. Delicadamente, a mandíbula é aberta e fechada alguns
milímetros diversas vezes. Quando a mandíbula estiver movimentando livre-
mente, uma pressão firme é aplicada pelos polegares para baixo e os demais
dedos para cima, deslocando os côndilos para cima.

Nogueira et al. (1993) descreveu o método da manipulação guiada não-


-forçada, no qual o paciente ocluiu suavemente sob guia manual não forçada.
A técnica depende da sensibilidade do operador, devendo este orientar para
que o paciente posicione a mandíbula em condição de conforto.

Outro método simples e prático é pedir ao paciente para colocar a ponta


da língua na parte mais posterior do palato, inclinando levemente a cabeça
para trás, e fechar a boca com a língua nesta posição (ABRÃO e BÉRGAMO,
2008). A eleição do método mais adequado depende do conhecimento técni-
co do profissional e da situação clínica apresentada pelo paciente.

102
3.2.2.2 Procedimentos para registro da relação Cêntrica

Serão descritos os procedimentos para determinação da posição de RC


por meio do método da retrusão da língua.

Coloca-se uma pequena bola de cera na região central da superfície da


base de prova superior que recobre o palato logo atrás do rolete de cera.
Esse dispositivo serve de orientação para o paciente, que deve ser instruído
a abrir a boca, elevar a ponta da língua até que ela toque na bola e, em se-
guida, fechar a boca, mantendo a língua nessa posição até o completo toque
entre os roletes de cera. Com a ação combinada dos músculos elevadores e
retrusores, associados aos músculos estiloglosso e genioglosso, a mandíbula
é conduzida à posição de RC (Figura 17A).

Em seguida, deve-se registrar a RC com o uso de grampos de papel. Estes


são aquecidos e posicionados em ambos os lados, cuidadosamente para não
causar queimaduras na mucosa bucal do paciente, unindo os planos de orien-
tação superior e inferior na posição determinada (Figura 17B). Logo após, o
conjunto dos dois planos de orientação deverá ser removido da cavidade oral
(Figura 17C).

A B

Figura 17: Registro da relação cêntrica.

103
Outra opção para registrar a posição de RC é utilizando a pasta de Óxido
de Zinco e Eugenol. Com auxílio de um Le Cron deve ser confeccionada uma
canaleta na superfície oclusal do plano de orientação superior em ambos os
lados, em região de primeiro molar, em toda a extensão vestibulolingual do
rolete de cera. Em seguida, o rolete de cera superior é isolado com vaselina
em toda a extensão e reposicionado na cavidade oral (Figuras 18 e 19).

Figura 18: Canaletas confeccionadas na base de prova superior.

Figura 19: Base de prova superior com vaselina e base de prova inferior com ranhuras.

A pasta de óxido de Zinco e Eugenol, será preparada e adicionada na re-


gião correspondente às canaletas, sendo as duas bases de prova posiciona-
das na cavidade oral. Com os planos de orientação em posição, o operador
buscará estabelecer a posição de RC por meio do método da retrusão da lín-
gua. Após a presa do material, o conjunto será retirado da boca do paciente
(Figura 20). É importante ressaltar que durante todas essas etapas de con-
fecção e ajustes dos planos de orientação, estes precisam se manterem pla-
nos e se tocando em toda a extensão, o que facilitará a sequência de etapas
clínicas, proporcionando maior segurança no momento de uso na montagem
dos dentes.

104
Figura 20: Bases de prova posicionadas na boca com a pasta de óxido de zinco e eugenol
interposta e bases de prova fora da boca.

Finalizando as etapas discutidas neste capítulo, os planos de orientação


estarão prontos para a montagem em articulador.

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107
108
Capítulo
Articuladores
5
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues
Marina Sena Lopes da Silva Sacchetto
Moema Modesto Fonseca Rocha

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de identificar os tipos de articu-
ladores mais utilizados na prática clínica, bem como as vantagens, desvanta-
gens e indicação de cada um deles.

Sumário do capítulo:
1. Articuladores não ajustáveis (ANA)
2. Articuladores Semiajustáveis
3. Articuladores totalmente ajustáveis (ATA)
4. Componentes dos Articuladores Semiajustáveis
5. Arco Facial

109
O
articulador é um aparelho mecânico que representa os maxilares e
as articulações temporomandibulares (CUNHA e MARCHINI, 2007).
É um instrumento regulável que simula o movimento de mastigação
entre modelos de gesso (TASORA e SIMEONE, 2010). Essencial em tratamen-
tos reabilitadores extensos, pois, permite a simulação dos movimentos man-
dibulares (CANNING et al.,2011).

Existe uma grande variedade de marcas e modelos de articuladores dis-


poníveis no mercado, no entanto eles podem ser enquadrados em três tipos
principais: articuladores não ajustáveis (ANA), semiajustáveis (ASA) ou total-
mente ajustáveis (ATA).

1. Articuladores não ajustáveis (ANA)

Os articuladores não ajustáveis mais populares são o verticulador e a


charneira, que apresentam movimentos somente de abertura e fechamento
e que não reproduzem satisfatoriamente os movimentos da mandíbula.

Os verticuladores são constituídos de duas hastes horizontais, que per-


mitem movimento apenas no sentido vertical (Figura 1). São indicados para a
montagem de modelos parciais objetivando confeccionar elementos protéti-
cos isolados ou próteses fixas de até três elementos. Mas, essa indicação só é
válida quando todos os elementos estiverem localizados na região posterior
e o paciente apresentar guia anterior efetiva. Sua vantagem é a economia de
material, rapidez e simplicidade e a desvantagem é não permitir a realização
de movimentos laterais (PEGORARO,2004).

O articulador do tipo charneira apresenta movimento de dobradiça (Figu-


ra 2). Sua limitação é a incapacidade de realizar movimentos laterais e protru-
sivos, associado a um arco de abertura e fechamento diferente do realizado
pela mandíbula em condições normais.

110
Figura 1: Verticulador Figura 2: Charneira.

Essa característica determina alteração no posicionamento dos dentes


reabilitados, resultando em um maior número de ajustes durante a prova
do trabalho protético. Os articuladores não ajustáveis podem ser utilizados
somente para a realização de trabalhos indiretos unitários, lembrando que
os ajustes serão finalizados diretamente na boca do paciente, sendo assim
contraindicados para a confecção de próteses totais, próteses parciais remo-
víveis e reabilitações orais múltiplas.

2. Articuladores Semiajustáveis

Segundo Miyashita et al. (2010), o uso de articuladores semiajustáveis


ainda representa um desafio para muitos dentistas e estudantes de Odon-
tologia. Muitos consideram seu uso desnecessário ou muito demorado e
complicado para o dia-a-dia clínico. Isso ocorre, principalmente, por não com-
preenderem as vantagens de seu uso durante o curso de graduação, pare-
cendo uma “sofisticação” dispensável. Além de a teoria para seu uso, baseada
nos conceitos oclusais, parecer complexa em um primeiro momento, a mon-
tagem dos articuladores segue uma rotina que deve ser treinada como os
demais procedimentos odontológicos, tornando seu uso simples ao longo do
tempo desde que alguns cuidados sejam tomados durante a montagem dos
modelos no articulador.

O articulador semiajustável (ASA) simula boa parte dos movimentos da


mandíbula reproduzindo as posições oclusais de maneira aproximada ao que
se encontra na boca. O aparelho permite movimentos excursivos e o ajuste
de algumas guias importantes, como a medida da distância intercondilar

111
em valores médios (pequeno, médio e grande), trajetória condilar sagital e
lateral (Bennett) e trajetória incisal (CUNHA e MARCHINI, 2007; GENNARI
FILHO, 2007).

O articulador semiajustável reproduz parcialmente os fatores


determinantes da morfologia oclusal, gerando trabalhos protéticos mais fiéis
que os executados em articuladores não ajustáveis.

Tipos de ASA

Os articuladores semiajustáveis são classificados em ARCON e não


ARCON. A denominação ARCON ou não advém da contração das palavras
“articulador” e “côndilos” (MIYASHITA et al., 2010).

• Articuladores do tipo ARCON: possuem os ramos superior e inferior


independentes ou unidos, sendo que as esferas condilares se apresentam
fixas ao ramo inferior e as caixas articulares, que representam a cavidade
glenóide do crânio, então situadas no ramo superior (CUNHA e MARCHINI,
2007). No Brasil, esses são os aparelhos mais populares (MIYASHITA et al.,
2010) (Figura 3).
• Articuladores do tipo não ARCON: possuem ramos fixos entre si, a
cavidade articular é fixa ao ramo inferior, e os côndilos ao ramo superior
(CUNHA e MARCHINI, 2007).

Figura 3: Articulador semiajustável do tipo


ARCON.

112
Os articuladores semiajustáveis são utilizados nas seguintes situações
(MIYASHITA et al., 2010):

I - Determinação do Diagnóstico

O diagnóstico deve ser completo e preciso. Os modelos de estudo monta-


dos em um articulador semiajustável melhoraram a visualização das posições
estáticas e dinâmicas dos dentes, principalmente na região dos segundos
molares, onde há interferência dos tecidos moles da bochecha e da língua.
A visualização dos dentes pelo lado lingual também é possível e importante,
o que não se consegue clinicamente, facilitando o planejamento clínico por
promover uma análise oclusal mais precisa. A montagem facilita a observa-
ção dos movimentos mandibulares e dos contatos oclusais, sem a influência
do sistema neuromuscular que, por um mecanismo de proteção do sistema
mastigatório promovido pela propriocepção periodontal, evita que os conta-
tos dentários das interferências oclusais ocorram levando a um enrijecimento
muscular e dificultando a localização desses contatos clinicamente.

Para a confecção dos diversos tratamentos reabilitadores protéticos, os


modelos de estudo montados em articulador são essenciais, pois permitem
uma visualização mais precisa de espaço protético a ser substituído tanto em
relação aos elementos vizinhos, como em relação aos antagonistas (Figuras
4 e 5).

Figura 4: Visão frontal e lateral de caso clínico montado em ASA.

113
Figura 5: Visão posterior de contato prematuro de caso
clínico montado em ASA.

II - Estabelecimento de um Plano de tratamento / Planejamento

É importante que o resultado do tratamento, assim como os passos


necessários, seja imaginado antes de se iniciar do tratamento. Os articuladores
são ferramentas muito úteis nesse sentido, pois permitem:

a) a realização de enceramento diagnóstico, mudando inclusive a relação


funcional dos dentes, além de orientar na escolha do melhor método
para se atingir os objetivos, como, por exemplo, optar entre tratamen-
to ortodôntico ou protético ou a combinação de ambos. O enceramento
também permite que se tenha uma visão tanto do ponto de vista estéti-
co, como funcional do futuro tratamento reabilitador (Figura 6);

Figura 6: Visão posterior de contato


prematuro de caso clínico montado em ASA.

114
b) o planejamento do ajuste oclusal por desgaste seletivo antes de ser exe-
cutado na cavidade oral. Isso dá condições ao profissional de avaliar o
nível de desgaste necessário, planejar se será possível realizar tal procedi-
mento somente com pequenos desgastes ou será necessária a confecção
de prótese fixa, ou, ainda, se o desgaste está contraindicado e será neces-
sário encaminhar o paciente para tratamento ortodôntico (Figuras 7 a 9);

Figura 7: Modelos superior e inferior montados em


relação cêntrica no articulador.semiajustável.

Figura 8: Marcação em carbono da interferência oclusal nos modelos de estudo montados


em relação Cêntrica.

115
Figura 9: Marcação em carbono dos pontos de contato após o ajuste oclusal nos modelos
de estudo.

c) o planejamento de cirurgias ortognáticas ou de cirurgias pré-protéticas,


facultando a confecção de guias cirúrgicos que serão utilizados durante
o procedimento cirúrgico (Figura 10).

Figura 10: Planejamento de reposicionamento da mandíbula do paciente para futura


cirurgia ortognática.

III - Educação e orientação ao paciente

Com os modelos montados, pode-se mostrar ao paciente os problemas


da cavidade oral e, dessa forma, facilitar o entendimento do plano de tra-
tamento. O enceramento diagnóstico pode inclusive dar uma ideia final do
tratamento ao paciente.

116
IV - Execução de tratamentos protéticos

Todos os tratamentos protéticos indiretos, desde os mais simples aos


mais complexos, são realizados inicialmente em modelos montados no arti-
culador e posteriormente levados à boca do paciente para ajuste e instalação.
A montagem dos modelos em articuladores é o único método de confiança
para se desenvolver uma condição anatômica apropriada na oclusão de trata-
mentos indiretos. O seu uso é fundamental nos casos de reabilitações orais
(Figura 11).

Figura 11: Montagem dos dentes em cera no articulador de um caso de Prótese total
superior e Prótese Parcial Removível inferior.

3. Articuladores totalmente ajustáveis (ATA):

Esse tipo de aparelho é capaz de fornecer, além dos ajustes do ASA, a


medida da distância intercondilar milimetrada do ângulo de Fisher (CUNHA e
MARCHINI, 2007). Tal ângulo consiste em uma inclinação bucal da guia con-
dilar ao redor de um eixo, tornando as trajetórias inclinadas para dentro. Ele
irá determinar a inclinação das vertentes das cúspides palatinas dos dentes
superiores e vestibulares dos inferiores (GENNARI, 2007).

Os ATA surgiram baseados nos conceitos da gnatologia, que considera


fundamental a reprodução de todos os movimentos mandibulares para a
confecção dos trabalhos protéticos. Esses articuladores conseguem repro-

117
duzir todos os chamados determinantes da morfologia oclusal, propiciando a
construção de elementos protéticos mais compatíveis com a condição real de
oclusão do paciente, e reduzindo o tempo de ajuste oclusal. Entretanto, sua
utilização tem caído em desuso devido à complexidade do procedimento de
montagem e ao custo (PEGORARO, 2004).

Assim, os articuladores semiajustáveis são os que têm a melhor relação


custo-benefício, pois são relativamente baratos, de fácil manuseio e permi-
tem a confecção de trabalhos protéticos que precisam de poucos ajustes ao
serem levados à boca, quando comparados àqueles realizados em articulado-
res mais simples.

4. Componentes dos Articuladores Semiajustáveis

Vejamos, a seguir, as três partes constituintes dos Articuladores Semia-


justáveis.

O Corpo do articulador está representado por dois postes unidos, cuja


função é dar suporte a todo o conjunto, estabelecendo a distância entre os
ramos (entre 8 cm a 10 cm) para prover espaço suficiente ao posicionamento
dos modelos superior e inferior. Dependendo do articulador, podemos en-
contrar aí as esferas condilares, que são os mecanismos representativos dos
côndilos e que podem estar fixas (sem movimento) ou permitir a sua aproxi-
mação ou separação (distância intercondilar).

Os Ramos superior e inferior são hastes horizontais que devem estar pa-
ralelas durante o trabalho protético e que têm a função de manter os mode-
los em relação, pelos seus suportes.

As Guias são mecanismos responsáveis pela movimentação do articu-


lador, de forma orientada, através de ajustes. Elas são denominadas Guias
Condilares, em número de duas, e a Guia Incisal. As Guias Condilares, depen-
dendo do articulador, podem estar localizadas no ramo superior ou unidas
aos postes.

118
Nos articuladores do tipo Arcon elas situam-se no ramo superior e, nos
do tipo não Arcon, nos postes (Figura 12). Como elas representam as fossas
articulares, têm a finalidade de orientar os movimentos das esferas condila-
res tanto no sentido antero-posterior (trajetória condílica sagital), quanto no
sentido lateral (trajetória condílica lateral ou Ângulo de Bennett) (GENNARI
FILHO,2007). A guia sagital controla o deslocamento para baixo do côndilo
de balanceio quando ele se move durante os movimentos de protrusão ou
lateralidade (Figura 13). A guia lateral controla o deslocamento do côndilo
de balanceio quando ele se move para dentro durante a lateralidade (ângulo
de Bennett) (Figura 14). Essas guias podem ser ajustadas dentro de médias
predeterminadas; para o ângulo de Bennett usam-se 15° e na guia sagital 30°.
As guias condilares podem ser ajustadas individualmente para cada paciente
por meio de registros em cera. A guia incisal está situada na parte anterior e
mediana do aparelho; é constituída pelo pino ou haste incisal e pela platafor-
ma ou mesa incisal. Permite registrar a amplitude dos movimentos de latera-
lidade em três planos: horizontal, vertical e sagital (MIYASHITA et al.,2010).

Ramo superior
Guia Condilar

Corpo

Pino Incisal Placa de montagem

Ramo Inferior
Mesa Incisal

Figura 12: Componentes do Articulador Semi-Ajustável do tipo ARCON.

119
Figura 13: Guia Sagital regulada em 30º.

Figura 14: Ângulo de Bennett regulado em 15º.

As Placas de montagem são dispositivos que são presos aos ramos supe-
rior e inferior do articulador e permitem a fixação dos modelos de gesso ao
articulador. Elas podem ser metálicas ou plásticas ou até mesmo imantadas a
fim de facilitar a troca de modelos (Figuras 15 a 17).

Figura 15: Placa de montagem Figura 16: Placa de montagem metálica


metálica. imantada.

120
Figura 17: Placa de montagem plástica imantada para fixação nos ramos do articulador A7
Fix (Bio-art).

5. Arco Facial

O arco facial é um dispositivo acessório utilizado para registrar a posição


espacial da arcada dentária superior em relação ao crânio e transferir esse
registro para o articulador (TELLES et al.,2004; GENNARI,2007). Tem a função
de transportar para o articulador a posição do espacial da maxila, permitindo
a montagem do modelo superior no articulador em uma posição tridimensio-
nal semelhante à da maxila presa à base do crânio do paciente.

Classificação dos arcos faciais

Os arcos faciais são classificados em: arbitrários, cinemáticos e pantógra-


fos. Os arbitrários ou convencionais são aplicados sobre os côndilos no eixo
de rotação determinado arbitrariamente através de medidas anatômicas mé-
dias, ou, ainda, podem ser adaptados nos meatos auditivos. Os cinemáticos
permitem, além da montagem em articulador, o registro extraoral das traje-
tórias condílicas sagitais. E os pantógrafos permitem os registros de todos os
movimentos mandibulares com finalidade de ajuste dos articuladores (GEN-
NARI, 2007). O arco facial mais utilizado é o arco facial do tipo arbitrário e é
composto das seguintes partes:

121
• Arco: determina a distância intercondilar;
• Olivas: se adaptam aos condutos auditivos externos e localizam os
côndilos;
• Násio, relacionador ou posicionador nasal: se adapta ao nariz do
paciente, mais precisamente à glabela;
• Garfo: faz a conexão da maxila com o arco facial através de registros
oclusais que podem ser realizados através de uma base de prova
no caso de um paciente desdentado; ou através de godiva, cera
ou elastômero, nos casos em que os pacientes possuem dentes
superiores.

Obtenção do Arco Facial Arbitrário

Para o registro de pacientes desdentados totais com o arco facial, temos


três possibilidades: utilizamos o garfo para desdentado fixando este, por
aquecimento, na superfície vestibular da base de prova superior; o garfo
para dentado fixado diretamente, por aquecimento, na superfície oclusal da
base de prova sem ajuste e como terceira opção, garfo para dentado fixado
na base de prova superior já ajustada com o auxílio de silicone massa densa
(Figuras 18 e 19).

122
Figura 18: Posicionamento da base de prova no garfo para dentado utilizando silicone de
condensação densa.

Figura 19: Fixação da base de prova no garfo para dentado.

123
O procedimento de montagem é o mesmo para os três tipos de fixação,
observada a sequência clínica a seguir.Após a fixação da base de prova,
verificar a centralização da haste do garfo com a linha média do paciente.

• Leve o conjunto garfo e rolete até a boca do paciente de modo que


ele se encaixe sobre o rebordo alveolar.

• O paciente deve estar sentado na cadeira, a quem deve ser solicitado


que mantenha o garfo na mesma posição, apoiando os polegares
ao encontro da maxila (Figura 20). Leve o arco facial até o paciente
e introduza o conjunto de fixação do garfo na haste do garfo de
mordida, de modo que a borboleta de fixação fique virada para baixo.
Em seguida, adapte as aurículas do arco facial ao conduto auditivo
externo do paciente (Figura 21).

Figura 20: Garfo oclusal posicionado na Figura 21: Olivas do Arco facial sendo
boca do paciente. inseridas no conduto auditivo externo.

• Fixe o posicionador nasal (nasion) na barra transversal do arco, de


modo que o mesmo fique centrado e apoiado à sela do nariz do
paciente. Neste momento, as aurículas devem ser posicionadas o
mais internamente possível no conduto auditivo do paciente e o
posicionador nasal deve ser pressionado de encontro à sela do nariz
do paciente e o seu parafuso de fixação apertado. Em seguida, aperte
os parafusos de fixação do arco facial (Figura 22).

124
Figura 22: Fixação do posicionador nasal.

• Com o posicionador nasal e o arco apertados, empurre o conjunto


fixador do garfo (junção) deslizando-o sobre a haste do garfo, até
que este fique o mais próximo do lábio, mas sem tocá-lo, buscando-
se assim uma maior estabilidade. Em seguida, aperte a borboleta da
haste vertical e, subsequentemente, a borboleta da articulação dupla
(haste horizontal), de modo que o garfo fique em um ponto onde
haja menor indução de tensão sobre sua haste (Figura 23).

Figura 23: Fixação das hastes vertical e horizontal do arco-facial.

125
• Como o posicionador nasal, constitui apenas um referencial de
posicionamento, sendo que alguns tipos de arco facial possuem uma
haste a ser direcionada ao forame infraorbitário em substituição
a este dispositivo, não sendo necessário que o paciente solte o
conjunto para se verificar se a fixação está adequada. Dependendo
da forma do nariz do paciente, essa fixação no sentido vertical só
é conseguida com aplicação de uma grande força no posicionador
nasal, o que, além de desnecessário, pode causar algum dano ao
tecido retrodiscal, que está imediatamente à frente das olivas.
• Em alguns modelos de articuladores existem três números ou
letras na borda anterior do arco facial correspondentes às medidas
intercondilares: pequena, média e grande. Para os demais modelos
a distância intercondilar é fixa, na média de 110 mm, não havendo,
portanto, regulagem da distância intercondilar.
• Afrouxe o parafuso de fixação do posicionador nasal e retire o
suporte do bloco do násio. Em seguida, afrouxe o parafuso central
do arco facial e segure a barra transversal do arco ao mesmo tempo
que o paciente abre lentamente a boca, retirando todo o conjunto
com cuidado.

6. Montagem do Articulador

Antes da montagem dos modelos, o articulador deve ser ajustado. Os ele-


mentos condilares do articulador, que simulam os côndilos das ATMs, podem
ser fixados em três posições, de acordo com a distância intercondilar obtida
pelo arco facial. Esta distância pode ser explicitada como P, M ou G; ou 1, 2
ou 3, de acordo com o fabricante. Em caso de dúvida quanto à correta deter-
minação dessa distância, pelo alinhamento das marcações deve-se optar pela
maior. A distância intercondilar deve ser estabelecida nas guias condilares,
acrescentando-se ou tirando espaçadores das guias condilares (TELLES et al.,
2004).

As guias condilares devem estar ajustadas com o ângulo de lateralidade


(Bennett), em 15°; e, com o ângulo de protusão, em 30º. É muito importante

126
consultar o manual do articulador para se obter mais detalhes de cada mode-
lo (TELLES et al., 2004).

Alguns modelos de articuladores existentes no mercado têm o espaça-


mento da distância intercondilar e o ângulo de Bennet já fixados em valores
médios, não permitindo sua personalização.

Arco Facial X Mesa de Camper

É reconhecida a necessidade da utilização do arco facial na confecção de


próteses com necessidades estéticas e/ou reabilitações extensas, uma vez
que necessitam da referência da linha bipupilar e da inclinação laterolateral
da maxila, transferida somente pelo arco facial, o que influencia muito a po-
sição dental e a estética (MIYASHITA et al., 2010).

O posicionamento do modelo maxilar no articulador é bastante diferen-


te, tanto no plano vertical como no plano horizontal, quando se utiliza um
arco facial e quando se monta de forma aleatória através de uma mesa cen-
tralizadora de camper (ASSUNÇÃO et al., 2004) (Figura 24).

Figura 24: Mesa de Camper.

A utilização do arco facial apresenta como vantagem a manutenção da


posição anteroposterior do modelo em relação aos côndilos da cabeça da
mandíbula, bem como ajuda no posicionamento vertical e registro da relação
horizontal do modelo superior no articulador (LAZARRI,1955).

127
Montagem dos Modelos

Existem várias técnicas de montagem dos modelos nos articuladores.


Cada uma apresenta características específicas que dependem do número
de registros disponíveis e acessórios incorporados, tanto ao articulador como
ao arco facial. Mas a maioria dos articuladores segue a teoria do eixo terminal
de rotação, o que faz com que as técnicas de montagem sejam muito seme-
lhantes entre si.

Maxila:

• Leva-se o conjunto do arco facial ao articulador, adaptando–se


as olivas do arco facial aos pinos próprios do articulador. O ramo
superior do articulador repousa sobre a parte superior do arco facial
(para a montagem do modelo superior, remove-se o pino guia incisal
do articulador).
• No caso de instrumentos cuja distância intercondilar é regulável,
verifica-se, no próprio arco facial essa distância e ajusta-se o
articulador.
• Acrescenta-se gesso entre a placa de montagem e o modelo, tomando
o cuidado de utilizar pequena quantidade de gesso.
• Aguarda-se a presa do gesso antes de passar para a fase seguinte
(Figura 25).

Figura 25: Modelo superior montado em articulador.

128
Mandíbula:

• Fixado o modelo da maxila, removem-se o arco facial e a base de


prova, do articulador.
• Voltando ao paciente, tomamos os registros prévios: curva individual
de compensação, DVO, RC e linhas de referência.
• Fixadas as bases de prova entre si, na posição de RC, removemos o
conjunto da boca e levamos ao articulador.
• Após apoiar a base de prova superior ao modelo da maxila (já
montado), adaptamos o modelo da mandíbula à base de prova
mandibular. Os modelos são fixados entre si com palitos de madeira
e godiva aquecida, por ser essa a fixação mais efetiva e que não induz
tensão ao registro. O elástico para prender os modelos deve ser
utilizado somente quando não há registro interoclusal e os modelos
são montados diretamente um contra o outro e, ainda assim, deve-
se tomar cuidado para que não haja deslocamento da posição inicial
(Figura 26).

Figura 26: Modelo inferior montado em


articulador.

• Com o pino guia incisal fixado em zero (posição de montagem),


fecha-se o ramo inferior do articulador. Acrescenta-se gesso entre o
modelo mandibular e a placa de montagem. Aguarda-se a presa do
gesso.
• Após a presa final do gesso, os elementos de fixação podem ser
removidos e, se necessário for, os modelos podem ser reforçados
com nova porção de gesso.

129
7. Acessórios dos Articuladores Semiajustáveis

Existe uma série de acessórios dos articuladores semiajustáveis disponí-


veis no mercado para auxiliar os profissionais que se interessam por prótese.
Entre esses acessórios podemos citar as placas de montagem imantadas (já
citadas anteriormente), os arcos faciais profissionais, as placas de indexação,
mesa incisal metálica, suporte para montagem.

Os arcos faciais do tipo profissional são arcos faciais que possuem um


dispositivo de montagem acoplado a eles, o que permite, após a tomada do
arco facial, a montagem do modelo superior utilizando somente o dispositivo
de montagem que pode ser separado do garfo (Figura 27). A grande vanta-
gem desse dispositivo é a possibilidade de enviar ao laboratório apenas o
dispositivo posicionador para que seja feita a montagem do modelo superior,
dispensando o envio do arco inteiro, diminuindo o peso e a possibilidade de
mudança de posição do registro ao longo do trajeto (Figura 28).

Figura 27: Arco facial profissional. Figura 28: Dispositivo posicionador preso ao
articulador.

A placa de indexação ou sistema de padronização funciona da seguinte


forma: um dispositivo metálico, chamado de placa de indexação, é fixado no
ramo inferior do articulador, de modo que a placa para montagem de mode-
los se fixe ao articulador sobre a placa de indexação. Essa padronização pode
vir de fábrica ou ser realizada no laboratório de prótese. Isso permite que
após a montagem de um caso clínico no articulador do profissional, possam
ser enviados ao laboratório somente os modelos fixados às placas de monta-
gem, dispensando o envio do articulador inteiro (Figura 29).

130
Figura 29: Articulador com placa indexadora.

A mesa incisal metálica é um dispositivo que substitui a mesa incisal acrí-


lica e permite a individualização da guia incisal por uma série de dispositivos
mecânicos ajustáveis, tanto no sentido lateral como anteroposterior (Figura
32). O suporte para montagem nada mais é do que um suporte regulável em
altura, que evita que o garfo do arco facial se desloque durante a montagem
do modelo superior no articulador (Figura 33).

Figura 32: Mesa incisal metálica. Figura 33: Suporte para montagem.

131
8. Limitações

Apesar de que em toda a evolução a preocupação tenha sido caracterizá-


-lo como um aparelho mecânico, que conseguisse reproduzir os movimentos
da mandíbula de forma mais fiel possível, para que os trabalhos nele executa-
dos tivessem a mesma função e qualidade daquelas realizadas pelo sistema
mastigatório, ainda hoje isto se torna difícil considerarmos as limitações do
aparelho. Assim, um movimento executado a expensas de ação muscular di-
ficilmente será reproduzido, com todas as particularidades, mecanicamente
(GENNARI, 2007).

Por ser mecânico, o articulador não permite a reprodução in vivo dos te-
cidos moles, os quais interagem e interferem nos tecidos duros que procu-
ramos reproduzir. Além disso, a caixa articular possui ângulos retos que não
condizem com a realidade fisiológica da articulação temporomandibular, cuja
forma é curvilínea e, muitas vezes, difere do lado esquerdo para o direito
quanto à angulação; e possui os côndilos esféricos distintos dos mandibula-
res, que são elipsóides. Outro fator de limitação é que os aparelhos não pos-
suem dispositivos para registro do ângulo de Fisher, permitindo uma medida
intercondilar apenas simplificada.

Entretanto, os articuladores constituem um recurso clinicamente impor-


tante para a análise de modelos e confecções protéticas adequadas. O reco-
nhecimento de tais limitações permite um maior domínio das informações
obtidas em sua utilização, e, na prática clínica, aumenta a acuidade dos pro-
cedimentos reabilitadores (CUNHA e MARCHINI, 2007).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FERNANDO; GOIATO, M.C. Comparative study of the spatial orientation
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used of face bow Fonte: PCL. Rev. Ibervam. Prótese Clín. Lab, v. 6, n. 29, p.
77-92, Jan/Fev 2004.

132
CANNING ,T.; O´CONNELL, B.C.;HOUSTON, F.; O´SULLIVAN, M. The Effect
of Skeletal Pattern on Determining Articulator Settings for Prosthodontic
Rehabilitation: An In Vivo Study. Int. J Prosthodont ,v. 24, n. 1, p. 16-25, Jan/
Feb 2011.

CUNHA, V.P.; MARCHINI, L. Prótese Total contemporânea na reabilitação


bucal. 1ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2007, p. 205-210.

GENNARI, H.F. Articuladores. Rev. Odontol. de Araçatuba, v. 28, n.3, p. 46-


56, Set/Dez 2007.

MIYASHITA, E.; MESQUITA, A.M.M.; TEIXEIRA, M.L.; SOUZA, R.O.A.


Articuladores Semiajustáveis na Clínica Diária.In: Odontologia Clínica para
o Exercício Profissional Diferenciado (CIOSP 2010). 1a ed. São Paulo:
Napoleão, 2010 , p. 133-165.

PEGORARO, L.F. Prótese fixa. São Paulo: Artes Médicas, 2004.313p

TASORA, A.; SIMEONE, P. Development of a New Type of Incisal Table for


Prosthetic Articulators. Int Journal of Dentistry ,v. 2010, p. 1-5, 2010.

TELLES, D.; HOLLWEG, H.; CASTELLUCCI, L. Prótese total convencional e


sobre implantes. 2ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2004. p. 149-157.

133
134
Capítulo
Dentes Artificiais e Estética em Prótese Total
6
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues
Ana Clarissa Cavalcante Elvas Bohn
Rianny Maria Barros Lopes

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de selecionar e corrigir a posição
de dentes artificiais montados em cera.

Sumário do capítulo:
1. Seleção de dentes artificiais
2. Seleção da cor
3. Gengiva artificial
4. Montagem dos dentes
5. Enceramento Gengival
6. Referências bibliográficas

135
A
estética é uma das principais preocupações dos indivíduos, que provo-
ca sentimentos de aprovação e desaprovação, expectativas pessoais
e profissionais, interferindo nas relações sociais, sendo ela, portan-
to, importante para a saúde e bem-estar do indivíduo (CARRILHO e PAULA,
2007).

Estudos apontam que os olhos, a boca e, por consequência, o sorriso por


eles estampado, têm grande importância na estética facial, em relação às ou-
tras partes do rosto (CARRILHO e PAULA, 2007). Diante disso, a Odontologia
de hoje tem como missão, além de restabelecer a função oral do paciente,
propiciar um sorriso mais estético e atraente dentro do contexto facial e de
acordo com as características do indivíduo.

O sorriso é uma das mais importantes expressões faciais na vida social de


um ser humano, pois serve como forma de comunicação e provavelmente é a
maneira não verbal mais rápida e eficaz de fazer contato.

Essa supervalorização da aparência, com uma busca frequente dos pa-


drões de beleza e perfeição da forma e dimensão, levou a uma mudança no
foco da Odontologia, a qual anteriormente era mais reparadora e, atualmen-
te, é mais voltada para o interesse estético. Vale ressaltar que sempre houve
uma preocupação estética com o sorriso, já observada nos indivíduos desde
tempos remotos, qual seja a de repor os dentes perdidos.

São exemplos dessa preocupação os achados em tumbas fenícias e etrus-


cas datados em época por volta do ano 2500 a.C., nos quais eram empre-
gados dentes de homens e de animais (TURANO et al., 2010). Há relatos
posteriores da utilização de dentaduras artificiais esculpidas de marfim de
hipopótamo, até que, no final do século XVIII, a idealização do farmacêutico
francês Guerhard, associado ao conhecimento do dentista Chérmant, levou
à produção satisfatória de dentes artificiais de porcelana que passaram a ser
amplamente utilizados de 1820 em diante. A partir de 1940, com o surgimen-
to da resina acrílica, apareceram os dentes artificiais confeccionados com
base nesse novo material (TURANO et al., 2010).

136
1. Seleção de Dentes Artificiais

A seleção dos dentes artificiais para a confecção da prótese total é um


dos quesitos mais difíceis e importantes que o cirurgião-dentista enfrenta
a fim de que se obtenha um resultado estético final satisfatório, tanto para
o profissional quanto para o paciente, uma vez que os padrões estéticos va-
riam muito entre os grupos étnicos, sociais, de uma região para outra e entre
indivíduos de uma mesma sociedade, sendo ainda influenciada por fatores
cronológicos e históricos (CARRILHO e PAULA, 2007).

A estética deve ser utilizada como aspecto essencial nos tratamentos de


reabilitações orais complexas. Registre-se, preliminarmente, que a maioria
dos princípios estéticos na odontologia surgiu com estudos em próteses to-
tais, nas quais, teorias sobre tamanho, forma, arranjo e cor dos dentes foram
desenvolvidas e difundidas com a finalidade de tornar a prótese total o mais
próximo possível da dentição natural. Vale ressaltar que o primeiro aspecto
observado pelo paciente durante a instalação de uma prótese total é a apa-
rência.

Em relação ao material, os dentes de porcelana foram os favoritos duran-


te muitos anos, por causa do rápido desgaste dos dentes de resina acrílica.
No entanto, por serem caros, muito friáveis e não se aderirem quimicamente
à base de prova da prótese, caíram em desuso e hoje são difíceis de serem
encontrados no mercado brasileiro. Também produziam ruído em contato
oclusal, desgaste nos dentes naturais opostos, além da dificuldade no ajuste
oclusal e no polimento de superfícies desgastadas.

Então, a boa estética dos dentes de resina acrílica, a dispensa de mecanis-


mos extras de retenção mecânica (devido a união química com o material de
base da prótese), o baixo nível de ruído devido ao contato oclusal e, finalmen-
te, o desgaste mínimo aos dentes naturais e próteses opostas determinaram
a escolha desses materiais para confecção dos dentes artificiais, mesmo sen-
do necessário maiores cuidados com a higienização, devido à sua maior poro-
sidade em relação aos dentes de porcelana.

137
Outros fatores como elementos artísticos, cor, forma, altura dos dentes,
simetria, proporção, posição e alinhamento dos dentes são importantes para
restaurar esteticamente um paciente. Diante disso, várias teorias surgiram na
tentativa de auxiliar a escolha de diferentes tipos de dentes para atender o
maior número de indivíduos, que surgiam com o crescimento populacional e
a miscigenação das raças.

Existem vários métodos para a escolha dos dentes artificiais, não haven-
do, infelizmente, um método válido para todas as situações. Uma solução é
escolher o método que mais se adapte ao caso clínico e realizar uma prova es-
tética antes da acrilização da prótese a fim de avaliar a satisfação do paciente.

Tamanho dos dentes

Em relação ao tamanho dos dentes, esses devem ser proporcionais ao


tamanho da face e da cabeça dos indivíduos e deve-se considerar a altura (dis-
tância cervico-incisal) e a largura (distância mésio-distal) dos dentes basean-
do-se principalmente no aspecto vestibular do incisivo central superior, por
ser o dente que mais se destaca, sendo o primeiro a ser observado durante o
sorriso ou mesmo sem esboço de sorriso e por ser considerado o mais impor-
tante do ponto de vista estético.

Para a escolha do tamanho do dente, uma possibilidade é o método da


proporção biométrica; por esse método, o incisivo central superior tem 1/16
da largura da face) e 1/16 da altura do rosto (ZARB et al., 1997; CUNHA E
MARCHINI, 2007; ABRÃO E BERGAMO, 2008; TURANO et al., 2010) (Figuras
1 e 2).

138
Figura 1: A distância mésio-distal do Incisivo Central Superior corresponde a 1/16 da
distância bizigomática da face.

Figura 2: A distância cervico-incisal do Incisivo Central Superior corresponde a 1/16 da


altura da face.

Atualmente, o método mais utilizado é a técnica que busca, na própria fi-


siologia do paciente, os parâmetros para a escolha dos dentes. Nessa técnica
o operador marca as linhas da comissura labial em repouso, linha média e a
linha alta do sorriso no rolete de cera (Figuras 3 a 5).

139
Figura 3: Marcação da Comissura labial Figura 4: Marcação da linha média.
direita.

Figura 5: Marcação da linha do sorriso.

A distância em curva entre as duas linhas das comissuras labiais, marcadas


na cera base de prova superior com o lábio em repouso, serve para determi-
nar a largura dos seis dentes anteriores superiores de distal a distal de canino
(Figura 6). Já a distância da superfície oclusal do plano de cera superior à linha
do sorriso forçado corresponde à altura da face vestibular do incisivo central
superior sem o colo (ZARB et al., 1997; CUNHA e MARCHINI, 2007; ABRÃO e
BERGAMO, 2008; TURANO et al., 2010) (Figura 7).

140
Figura 6: Distância em curva de uma Figura 7: Altura do incisivo central sem o
comissura labial à outra. colo.

Com esses dados em mãos o profissional deve consultar as cartas molde


fornecidas pelos fabricantes, para ver qual modelo de dente se relaciona
melhor com tais medidas. Determinado o modelo dos dentes anteriores
superiores, utiliza-se a tabela de equivalência dos mesmos fabricantes para
se determinar os demais dentes.

Independente da técnica utilizada para selecionar o tamanho dos dentes


o profissional tem que ter em mente que, nesse primeiro momento, a seleção
deve ser considerada preliminar, tornando-se definitiva quando todos os
dentes forem testados na boca e aprovados pelo paciente e profissional.

Forma dos dentes

Para seleção da forma dos dentes artificiais, a forma do rosto do paciente


pode ser utilizada como ponto de partida fazendo uma correlação deste com
figuras geométricas (quadrada, triangular e ovóide). No entanto, na maioria
das vezes, os dentes naturais não são tipos geométricos puros havendo a
necessidade de se criar dentes artificiais com variações de forma, além das
formas básicas. Esse critério tem sido cada vez menos utilizado em favor do
método das marcações no rolete de cera, como descrito em tópico anterior,
até mesmo porque poucas marcas de dente se referem às formas geométricas
nas cartas molde.

Os dentes artificiais são fabricados de várias formas para que se possa


eleger a mais conveniente para cada indivíduo, ou até modificá-los para

141
adaptá-los às necessidades estéticas de determinado caso, individualizando-o
de acordo com as características e com a idade da pessoa que irá usá-lo
(FRUSH e FISHER, 1955; GROSSI et al., 2001; SELLEN et al., 2002).

O sexo do paciente é importante na escolha e caracterização da forma dos


dentes, pois indivíduos masculinos requerem formas mais cubóides, ângulos
marcados e linhas retas, bem como requerem que o tamanho do incisivo
lateral seja mais próximo do tamanho do central, enquanto as mulheres
requerem formas tendentes ao esférico e ausência de ângulos vivos. E o
fator personalidade está na maioria das vezes relacionada ao sexo. A idade
também pode interferir na forma, tamanho, caracterização e cor do dente
selecionado, tendendo a serem menores e mais amarelados para simularem
o desgaste dentário na superfície incisal e oclusal e a exposição cervical que
acontece naturalmente com o avançar da idade (FRUSH e FISHER, 1955;
GROSSI et al., 2001; SELLEN et al., 2002).

Todas as escolhas e caracterizações devem ter a participação e


consentimento do paciente, já que todo o trabalho é realizado para atender
a sua necessidade tanto funcional, como estética. É necessária uma conversa
franca entre profissional e paciente, para que aspectos culturais e sociais
sejam levados em consideração. Percebe-se um movimento no sentido de um
aumento tanto na expectativa como na qualidade de vida do idoso, sendo que
os profissionais devem estar atentos a essas mudanças. Atualmente, a maioria
dos pacientes não quer aparentar a idade que possui, desejando, na maioria
das vezes, dentes mais claros e de aspecto mais jovial, além de recorrerem a
outros procedimentos estéticos no intuito de retardar os sinais da velhice.
Assim, aspectos sociais e culturais devem ser levados em consideração.

Recursos como registro dos dentes e fotografias são importantes meios


de auxílio na seleção da forma e tamanho dos dentes artificiais, no entanto
é quase impossível o paciente ter esse registro, porque eles perdem os
seus dentes naturais de diversas maneiras e ao longo de muito tempo. Já
fotografias são recursos de auxílio inestimável, pois contribuem, também,
para verificar a disposição dos dentes naturais e a posição dos lábios. Deve-
se observar, entretanto, que fotos antigas dificilmente eram feitas em close,

142
sendo que a qualidade fica comprometida quando temos uma distância
grande do objeto a ser examinado. Outro ponto a ser avaliado é a idade que
o paciente possuía quando tirou a foto.

2. SELEÇÃO DA COR

Um dos fatores que interferem na estética em prótese total é o que se


relaciona à cor dos dentes artificiais. A naturalidade de uma prótese está di-
retamente ligada à cor dos dentes escolhidos (RUSSI et al., 1990, MOLLO Jr.
et al, 2000).

Há quatro aspectos que devem ser considerados na análise da cor dos


dentes, ou seja, verificar se esses aspectos podem ser extrapolados para os
dentes artificiais a serem implantados, pois o objetivo é trazer a prótese o
mais próximo possível das características naturais:

• Matiz – é a própria cor. A matiz do dente deve se harmonizar com a


tez do paciente.
• Saturação – é a quantidade da cor. Ex.: Um dente pode parecer mais
escuro que outro quando possuir mais cor por unidade de área.
• Brilho – é a luminosidade de um dente.
• Translucidez – é a quantidade de luz que a região do dente permite
que ultrapasse através do mesmo.

Devemos considerar ao analisarmos um dente artificial sua possível seme-


lhança com os dentes naturais no aspecto da variação da cor. Estas alterações
ocorrem no próprio dente e na localização do elemento na arcada dentária.

Na estrutura dentária a opacidade vai se diluindo da região cervical para a


incisal, onde exibe um efeito de dispersão da luz, que cria a aparência branco-
azulada. Dentes mais velhos são naturalmente mais opacos e não possuem a
translucidez da borda.

Os dentes anteriores são mais claros que os posteriores, não só pela lumi-
nosidade, como também pela espessura dos dentes posteriores. Ao compa-
rarmos as arcadas, os inferiores tendem a ser mais escuros que os superiores.

143
As características do indivíduo que devem ser consideradas para a seleção
da cor dos dentes da prótese total são a idade, a cor e o sexo do paciente. À
medida que se envelhece, os dentes tornam-se mais escuros, pela incorpora-
ção fisiológica dos pigmentos bem como com a diminuição da câmara pulpar
e aumento da espessura da dentina. Pessoas mais jovens possuem dentes
mais claros com um tom opaco e apresentam bordos incisais azulados pela
passagem de luz (refração) através do esmalte, já um indivíduo de idade mais
avançada perde o bordo incisal azulado por desgaste, expondo a dentina aos
fluidos bucais, tabaco, bactérias cromógenas, tendendo a escurecer o dente
pela impregnação dos canalículos (GROSSI et al., 2001).

Quanto mais escura a pele, teoricamente, mais escuro deverá ser o dente.
Outro fator de variação é o sexo, geralmente temos nas mulheres tons mais
claros de dentes.

A estética é um meio de inclusão social. Dentes clareados destacam o


indivíduo e a sociedade atual os valoriza, por isso há uma recusa de muitos
usuários de prótese a dentes mais escurecidos. Contudo, o cirurgião-dentista
deve estar buscando o equilíbrio entre a opinião pessoal do paciente, suas
características físicas e aspectos culturais vigentes.

Os modernos dentes artificiais satisfazem muitas exigências estéticas e


permitem ao dentista obter matizes que preenchem as necessidades cromá-
ticas de cada caso clínico.

A definição da cor do elemento artificial, após analisarmos os critérios


relatados acima, será feita usualmente pela visão direta utilizando as escalas
de cores.

É imperativo utilizar a escala de cores do mesmo fabricante dos dentes


que iremos utilizar na prótese total. A tonalidade dos dentes artificiais varia
conforme a sua composição e processo de fabricação, apesar de existirirem
equivalências de nomenclatura entre algumas escalas de cores. É interessan-
te o profissional possuir diferentes escalas de cor de diferentes fabricantes
a fim de conseguir resolver uma gama maior de casos. Isso se torna crítico,
principalmente, nos casos em que há uma combinação de prótese total com
prótese parcial removível em um mesmo paciente.

144
A escolha da cor deve ser feita em ambiente iluminado com luz natural
(Figura 8), preferivelmente entre 9 e 16 horas. Cuidados especiais devem
ser tomados para evitar que cores dominantes possam interferir com nosso
critério:

 Sempre que possível, ver a escala com a luz natural indireta;

 Evitar a interferência da luz direta ou refletida das roupas, dos objetos e/


ou das cores do ambiente;

 Umedecer os dentes da escala no ato da comparação;

 Não ficar olhando muito tempo sobre a cor para não perder a noção das
pequenas nuances de tonalidade dos dentes;

 Não utilizar o foco de luz do equipo, para iluminar a boca do paciente,


quando da escolha da cor dos dentes artificiais. O foco de luz concentrado
em uma pequena área realça os dentes em detrimento da face, quebrando
a harmonia do conjunto;

 A fonte de luz utilizada deve possuir uma temperatura de cor de


aproximadamente 5.500 a 6.500 oK e um índice de rendimento de cor,
que é determinado pela proximidade da fonte de luz ao objeto, acima de
90%. Aparelhos que utilizam lâmpadas com essas características podem
ser encontrados no comércio e produzem resultados clínicos satisfatórios
(TELLES et al., 2009).

Figura 8: Presença de luz natural no ambiente para escolha


da cor.

145
Quando há algum remanescente natural, a cor deve ser escolhida por
este elemento, caso contrário, se comparam os dentes da escala com o tom
de pele do paciente (Figuras 9 e 10).

Figura 9: Escolha da cor pelos dentes Figura 10: Escolha da cor pelo tom de pele
do paciente

Julga-se conveniente fornecer um espelho ao paciente (Figura 11), para


que ele participe da escolha, dando sugestões. São relativamente frequen-
tes os casos em que nosso conceito de estética não coincide com a imagem
que o paciente idealiza para si próprio. Esse procedimento dá, ao paciente, a
responsabilidade de participar e colaborar na confecção da prótese, cabendo
a ele inclusive a palavra final. Assim, sendo a cor importante no sucesso da
prótese, pode ser fator determinante na aceitação ou não de todo o trata-
mento, uma vez que os pacientes geralmente não estão conscientes da com-
plexidade envolvida no sucesso estético da prótese e apenas avaliam o que
percebem, no caso, a combinação de cores (MOLLO JÚNIOR et al., 2000).

146
Figura 11: Paciente segura o espelho para colaborar com a
escolha da cor.

3. GENGIVA ARTIFICIAL
A cor e a caracterização da base da prótese devem receber atenção
do profissional. A gengiva emoldura os dentes e este conjunto deve estar
esteticamente harmônico.

Os contornos gengivais devem parecer naturais, com arquitetura gengival


e proeminências radiculares devidamente esculpidas para não alterar a forma
dos dentes e comprometer a estética. Características como o contorno, a
textura e a cor da porção visível da gengiva artificial podem influenciar a
percepção do arranjo dentário (TELLES et al., 2009).

A variação das cores deve seguir as semelhanças naturais. A localização


anatômica determina várias tonalidades gengivais: a gengiva inserida
e as proeminências radiculares são geralmente mais claras e as papilas
interdentais e mucosa alveolar são mais escuras. Outro ponto é a cor da pele,
pois indivíduos negros possuem gengiva mais escura e frequentemente com
manchas localizadas de concentração de melanina.

Pode-se caracterizar a gengiva artificial da base da prótese com aspectos


anatômicos, como vasos sanguíneos e texturas nas superfícies lisas de aspecto
de “casca de laranja”.

147
Marcas comerciais disponibilizam no mercado resinas termopolimerizá-
veis para gengiva em vários tons básicos (Figura12).

Figura 12: Escala de cores de gengiva artificial para prótese total.

Existe ainda a possibilidade de uma composição de cores mais sofisticada


para gengivas artificiais em acrílico, os chamados sistemas de caracterização,
sendo um dos mais conhecidos o Sistema Tomás Gomes. Este sistema dispo-
nibiliza para o cirurgião- dentista uma escala de cores para ser comparada
com a gengiva do paciente e, para o técnico, um conjunto de pigmentos com
as instruções necessárias para se chegar à cor da escala selecionada (Figura
13). O seu uso se torna mais efetivo nos casos de prótese parcial removível ou
pacientes com sorriso gengival.

Figura 13: Escala Sistema Tomás Gomes (STG).

148
4. MONTAGEM DOS DENTES
A montagem de dentes em prótese total é uma etapa laboratorial
minuciosa que deve levar em consideração cinco fatores: posição, disposição,
alinhamento, articulação e oclusão dos dentes artificiais. Existem diversas
técnicas de montagem descritas na literatura, como visualizado nas
ilustrações abaixo, uma adaptação da montagem da técnica da Faculdade de
Odontologia de Araraquara – UNESP.

INCISIVO CENTRAL SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo inclinado para vestibular
Contato oclusal: face incisal ao nível da oclusal do rolete de cera inferior.

INCISIVO LATERAL SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para mesial


Visto por proximal: longo eixo inclinado para vestibular
Contato oclusal: face incisal acima do nível da oclusal do rolete de cera inferior.

149
CANINO SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para mesial


Visto por proximal: longo eixo inclinado para vestibular
Contato oclusal: sua cúspide fica ao nível da oclusal do rolete de cera inferior.

1º PRÉ-MOLAR SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo vertical
Contato oclusal: suas cúspides ocluem com a oclusal do rolete de cera inferior.

150
2º PRÉ-MOLAR SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo vertical
Contato oclusal: suas cúspides ocluem com a oclusal do rolete de cera inferior.

1º MOLAR SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para distal


Visto por proximal: longo eixo inclinado para vestibular
Contato oclusal: suas cúspides ocluem com a oclusal do rolete de cera inferior.

151
2º MOLAR SUPERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para distal


Visto por proximal: longo eixo inclinado para vestibular
Contato oclusal: suas cúspides ocluem com a oclusal do rolete de cera inferior.

1º MOLAR INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para mesial


Visto por proximal: longo eixo inclinado para lingual
Contato oclusal: sua cúspide mesiovestibular oclui com a crista marginal distal
do 2º pré-molar superior e crista marginal mesial do 1º molar superior.

152
2º MOLAR INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para mesial


Visto por proximal: longo eixo inclinado para lingual
Contato oclusal: sua cúspide mesiovestibular oclui na crista marginal distal do
2º pré-molar superior e crista marginal mesial do 1º molar superior.

2º PRÉ-MOLAR INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo inclinado para lingual
Contato oclusal: sua cúspide vestibular oclui na crista marginal distal do 1º
pré-molar superior e crista marginal mesial do 2º pré-molar superior.

153
1º PRÉ-MOLAR INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo inclinado para lingual
Contato oclusal: sua cúspide vestibular na distal do Canino superior e crista
marginal mesial do 2º pré-molar superior.

INCISIVO CENTRAL INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo inclinado para vestibular
Posição oclusal: a sua incisal vestibular fica ligeiramente encoberta pela incisal
palatina do incisivo central superior, não contatando com esta.

154
INCISIVO LATERAL INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo vertical


Visto por proximal: longo eixo vertical
Posição oclusal: a sua incisal vestibular fica ligeiramente encoberta pelas
incisais palatinas dos incisivos central e lateral superior, não contatando com
estas.

CANINO INFERIOR

V L

Visto por vestibular: longo eixo inclinado para mesial


Visto por proximal: longo eixo inclinado para lingual
Posição oclusal: a sua incisal vestibular fica ligeiramente encoberta pelas
incisais palatinas do incisivo lateral superior e canino superior, não contatando
com estas.

155
PERSONALIZAÇÃO

É importante arranjar os dentes artificiais de maneira a individualizar ca-


racterísticas da personalidade do usuário. Depois de atendidas as especifica-
ções fisiológicas, deve-se pensar nas modificações estéticas.

Muitas posições podem ser usadas para a montagem dos dentes superio-
res anteriores, a fim de que se harmonizem com a feição do paciente:

1. Variar a inclinação do eixo axial da coroa.

2. Fazer com que a borda incisal do lateral fique mais curta.

3. Criar assimetria nas divergências das superfícies proximais.

4. Usar uma linha mediana excêntrica.

5. Deixar um incisivo central numa posição levemente anterior em


relação ao outro incisivo central.

6. Rotacionar um lateral em relação ao central.

7. Criar um espaço durante o sorriso entre os dentes posteriores e


a parte interna das bochechas (corredor bucal).

A opinião do paciente deve sempre ser levada em conta, pois elementos


estéticos captados em fotos antigas ou na observação de outros familiares
são muito válidos, entretanto deve-se considerar a aceitação do paciente a
esses “defeitos”, principalmente em tempos de busca pela estética “perfeita”.

CORREDOR BUCAL

O corredor bucal é o espaço existente, no momento do sorriso, entre a


bochecha e as faces vestibulares de pré-molares e molares. Esta característi-
ca se revela em grau variável na dentição natural, e sua reprodução nas pró-
teses totais é um fator de harmonização do sorriso.

156
Sempre o bom senso do profissional deve prevalecer, devendo estar ciente
de que a presença de um corredor bucal cria a sensação de profundidade
e naturalidade a um sorriso; por outro lado, a ausência de corredor gera
a percepção de um número exagerado de dentes na boca; e um corredor
exagerado causa uma impressão de poucos dentes ou dentes ausentes.

5. ENCERAMENTO GENGIVAL

Não existe uma regra definida para o enceramento da região gengival,


isso depende do nível de exigência do profissional e da habilidade e disposição
do técnico em prótese dentária. A seguir daremos algumas sugestões. O
enceramento do rebordo gengival deve seguir a anatomia. A gengiva recobre
o osso e este possui particularidades que refletem na naturalidade da prótese.

Papilas interdentárias e contorno gengival

As papilas interdentais devem ter o desenho condizente com a idade do


paciente. Principalmente, no que se refere ao comprimento, forma e largura
(Figuras 14 e 15).

Na escultura das papilas algumas particularidades devem ser seguidas:


a papila deve se estender até o ponto de contato, seus comprimentos são
variáveis entre os dentes anteriores e posteriores, seu desenho é convexo
em todas as direções. Essas observações são importantes, pois favorecem
uma área interdentária higiênica e proporciona reflexão da luz nesta área,
que permite a criação de uma ilusão de composição natural.A linha cervical
não deve ser posicionada numa única altura em todos os dentes. Nos incisivos
centrais, o contorno gengival deve estar um pouco aquém da linha alta do
sorriso. Um pouco mais baixo deve estar o contorno dos incisivos laterais e
nos caninos, esta linha encontra-se mais alta que os dois antecedentes. Essas
observações dão ao conjunto uma aparência mais semelhante à encontrada
nas dentições naturais. Após a montagem dos dentes e a realização do
enceramento gengival, a próxima etapa é a das provas funcionais, quando
faremos uma avaliação do trabalho realizado até o momento. (Figuras 14 e
15).

157
Figura 14: Enceramento simples. Figura 15: Enceramento mais elaborado,
reproduzindo o contorno radicular dos
dentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRÃO, W.; BÉRGAMO, P.M.S. Prótese total para o clínico geral. Editora
Tota. 1° ed. Ribeirão Preto:SP, 2008.

CARRILHO, E.V.P.; PAULA, A. Reabilitações estéticas complexas baseadas na


proporção aúrea. Rev. Port. de Est. Dent. e Cirur. Max. Facial., v. 48, n. 1, p.
43-53, 2007.

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bucal. 1ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2007.

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Dent., v. 5, p. 586-590, 1955.

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22: 86-88.

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propriate for the age and sex of the individual. How variable are dental staff
in their choice? J. Oral Rehabil.., v. 29, p. 853-57, 2002.

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TELLES, D.; HOLLWEG, H.; CASTELLUCCI, L. Prótese total convencional e so-
bre implantes. 2ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2009.

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9ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2010.

ZARB, G.A.; BOLENDER, C.L.; CARLSSON, G.E. Boucher’s Prosthodontic


Treatment for Edentulous Patients. 11th ed. St Louis: Mosby,1997.

159
160
Capítulo
Provas Funcionais e Instalação de
7
Próteses Totais
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves
Éllen Maria Matos de Andrade
Lorenna Bastos Lima Verde Nogueira

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de identificar as provas funcionais
a serem realizadas e os passos a serem seguidos durante a instalação.

Sumário do capítulo:
1. Introdução
2. Provas funcionais
3. Instalação
4. Adesivos para Prótese Total
5. Higiene Oral e da Prótese
6. Consultas de Retorno
7. Referências bibliográficas

161
A
prova dos dentes em cera, também chamada de prova funcional ou
clínica, é uma etapa essencial para o sucesso da reabilitação com pró-
teses totais e que precede à sessão de instalação das mesmas. Repre-
senta a oportunidade que o profissional tem de avaliar os passos realizados
até o momento, sendo, pois, a última chance de observar eventuais erros de
procedimento e fazer as correções necessárias. Além disso, esta etapa é um
momento importante também para o paciente, pois este tem uma visão mui-
to próxima do trabalho final, podendo dar seu aval ou não sobre o tratamen-
to (ABRÃO e BÉRGAMO, 2008).

Para que se possa ter uma prova funcional realmente válida é necessário
que as bases de prova com os dentes já estejam com o enceramento realiza-
do na sua totalidade (Figura 1).

Figura 1: Bases de prova com os dentes montados.

2. PROVAS FUNCIONAIS

As provas funcionais consistem em uma série de fatores a serem


observados com os dentes montados em cera antes da acrilização da
prótese total. Nesse momento normalmente se avaliam a estética, a relação
central, dimensão vertical, retenção e oclusão. Apesar de serem descritos
separadamente, os fatores são interligados e dependentes uns dos outros
(CUNHA e MARCHINI, 2007).

162
Estética
Por ser a principal queixa do paciente, a estética é avaliada com cautela.
Devem ser observados os contornos dos lábios e das bochechas, com o pa-
ciente de boca fechada. Espera-se um suporte labial harmônico com um ân-
gulo aproximado de 90° entre a base do nariz e o lábio, mas ressalvas devem
ser feitas com narizes angulados na ponta, tanto para cima como para baixo,
sempre devendo prevalecer o bom senso e a percepção do profissional (Figu-
ra 2). O filtro labial, depressão do lábio abaixo do nariz e que normalmente se
localiza na linha média do rosto do paciente, deve estar bem definido. Quan-
do o filtro desaparece, normalmente está associado a um suporte excessivo
do lábio. Verifica-se também a presença dos sulcos nasolabiais, que devem
estar discretos, mas presentes (Figura 3). Um sulco acentuado pode significar
ou suporte deficiente ou dimensão vertical inadequada; já um sulco ausente
pode significar excesso de suporte (ABRÃO e BÉRGAMO, 2008).

Figura 2: Avaliação do suporte do lábio com Figura 3: Análise estética com visão
as bases de prova na boca. frontal.

Deve-se observar uma harmonia dos terços da face, com a distância entre
as comissuras labial e palpebral próxima da distância da base do nariz ao men-
to, na posição de repouso mandibular.

Os lábios devem estar aparentes e se tocando sem esforço (Figura 4).


Para se avaliar a altura dos dentes anteriores, pede-se para o paciente abrir a
boca um pouco, deve-se observar a borda incisal dos incisivos e, ao ser falada

163
a letra “F”, os incisivos centrais devem tocar a linha “seco/molhado” do lábio
inferior. Esse último teste, apesar de não influenciar muito na fonética do
paciente, é muito importante para as mulheres, pois dentes muito compridos
na região anterior significam dentes constantemente manchados de batom.

Nessa fase faz-se, também, a avaliação da cor dos dentes e se, durante o
sorriso forçado, há coincidência do lábio com a cervical dos dentes anteriores
(Figura 5).

Figura 4: Lábios se tocando sem esforço. Figura 5: Avaliação estética do sorriso.

É importante entregar um espelho ao paciente e deixá-lo fazer sua pró-


pria avaliação, tirando todas as dúvidas, inclusive dando sugestões. Se pos-
sível, o paciente deve trazer um acompanhante nesta sessão clínica, com o
intuito de ajudar na avaliação estética. Essa contribuição pode ser decisiva
para a fase seguinte, a instalação, quando muitas vezes o idoso vai precisar de
um suporte psicológico para fase de adaptação, tendo em vista que, muitas
vezes, as mudanças estéticas são grandes entre a prótese antiga e a nova.

• Relação Centrica

Deve-se verificar a posição através da manipulação do mento ou com o


método de retrusão da língua, buscando-se o contato oclusal de todos os
dentes posteriores. Deve-se tomar o cuidado de manter as bases de prova
apoiadas nos respectivos rebordos para evitar a ilusão da posição correta
com os dentes se tocando, mas com uma das bases fora de posição, erro este
muito comum na prática clínica.

164
• Dimensão vertical

A estética é a grande auxiliar na avaliação da Dimensão Vertical (DV). Uma di-


mensão vertical adequada resulta em lábios se tocando sem esforço (Figura 4). Essa
avaliação é realizada de forma bastante simples, bastando colocar as bases de prova
na boca e pedir ao paciente para fechar a boca e aguardar. Caso ele consiga ficar
com os lábios selados por tempo indeterminado, isso é um bom sinal. Caso a dimen-
são vertical esteja alta, a musculatura labial fadiga e os lábios desencostam, ficando
os dentes aparentes (Figura 6). Fica aquele aspecto de sorriso constante. Por outro
lado, se a dimensão vertical está diminuída, os lábios se tocam, mas ficam pouco
aparentes, e há a presença de sulcos nasolabiais acentuados, trazendo um aspecto
de envelhecimento excessivo.

Figura 6: Dimensão vertical elevada, a paciente


apresenta dificuldade de tocar os lábios em repouso.

Outra maneira de se avaliar a dimensão vertical é através do teste foné-


tico, em que o paciente fala palavras com sons sibilantes como “sessenta” ou
“Mississipi”, esperando-se que não haja toque dos dentes artificiais ao serem
pronunciadas tais palavras; caso contrário, a dimensão vertical precisa ser re-
duzida.

O método da deglutição também pode ser bastante útil. O paciente deve


ser capaz de deglutir água ou saliva sem que ocorra um esforço excessivo.
Caso haja esforço, provavelmente a dimensão vertical está elevada (Figura 7).

165
Figura 7: Teste da deglutição.

Retenção

O teste de retenção global consiste em tracionar os incisivos, verticalmente,


esperando-se que a prótese ofereça resistência ao deslocamento.

No teste horizontal, em que se tracionam os incisivos para frente, com


toques por lingual, se a base se desprende, significa que o selado posterior
está insuficiente. O teste lateral é feito tracionando-se firmemente os
molares de palatina (ou lingual) para sentido vestibular, a fim de se verificar
a retenção lateral

Casos de falhas, nesse momento, devem ser avaliados com cautela.


Em primeiro lugar esses testes, assim como os de suporte e estabilidade,
já foram realizados no ato da moldagem funcional e apresentaram-se
satisfatórios, caso contrário o trabalho não deveria ter seguido em frente.
Alguns problemas com as bases de prova com relação à retenção decorrem
do seu próprio processo de confecção, que exige o alívio de áreas retentivas
com cera 7, resultando muitas vezes em bases ligeiramente desadaptadas
na boca. Essas falhas são corrigidas no momento da acrilização da prótese
total. Se a falta de retenção impossibilita as provas clínicas, pode-se utilizar
os adesivos para prótese total disponíveis no mercado, tomando-se sempre
o cuidado de, após a finalização dos testes, remover todo o adesivo da base,
para que este não atrapalhe seu assentamento no modelo funcional.

166
Oclusão

Nesse momento não se recomenda a realização de ajustes oclusais, pois


os dentes podem ser deslocados. Faz-se uma inspeção visual no próprio
articulador, para verificar se há algum dente posterior em infraoclusão, e
se essa correção deve ser realizada antes das bases irem à boca. Verifica-se
se a oclusão do articulador corresponde à do paciente em relação cêntrica
(Figuras 8 e 9).

Figura 8: Oclusão das bases de prova no articulador.

Figura 9: Oclusão das bases de prova em boca.

Caso haja alguma discrepância, como mordida aberta anterior, por exem-
plo, o problema deve ser corrigido como descrito a seguir. O primeiro aspec-
to a ser avaliado é se a base de prova superior preenche todos os requisitos
estéticos; caso isso se confirme, removem-se os dentes posteriores inferio-
res, acrescenta-se cera 7 nessas regiões e faz-se novo registro da dimensão

167
vertical e relação central, desta vez com os dentes superiores ocluindo contra
a cera na região posterior da base de prova inferior. Pode-se refinar o registro
com pasta de óxido de zinco e eugenol. Recomenda-se uma remontagem do
modelo inferior no articulador e reposicionamento dos dentes inferiores pos-
teriores para nova prova em boca, antes da acrilização da prótese.

No caso de a estética superior estar inadequada, recomenda-se a remo-


ção de todos os dentes de ambas as bases de prova, reconstrução dos roletes
de cera e reajuste das bases de prova por completo, com nova montagem
dos modelos em articulador.

Após a resolução de todos os problemas escolhe-se a cor da gengiva, uti-


lizando uma escala apropriada, e envia-se ao técnico de laboratório para ser
realizada a acrilização.

Ainda com relação às bases, deve-se verificar nesse momento se a exten-


são na região do palato da base superior está adequada, assim como a exten-
são dos flancos lingual e labial da base inferior.

Após a solução de todos os problemas, as bases de prova e os modelos


funcionais, são enviados ao laboratório para a acrilização das peças protéticas
na cor gengival selecionada anteriormente. A etapa seguinte é a instalação.

3. INSTALAÇÃO

A instalação das próteses totais é o momento mais esperado numa reabi-


litação com PT, tanto pelo paciente como pelo profissional, por ser o momen-
to em que todo o trabalho realizado, até esse instante, vai ser posto à prova
na boca do paciente. Apesar da eventual pressa em ver o trabalho concluído,
tanto por parte de profissional como pelo paciente, deve-se ter muita cautela
nesse momento, tendo-se a paciência de se instalar calmamente o trabalho
e dar todas as recomendações, para que nada passe despercebido. Muitas
vezes, a forma como se conduz a instalação pode resultar no sucesso ou fra-
casso do tratamento, independente da qualidade técnica dos procedimentos
realizados anteriormente.

168
A consulta de instalação requer uma sequência de procedimentos a se-
rem seguidos, devendo as orientações sobre os cuidados necessários e possí-
veis problemas ser abordadas como parte do plano de tratamento.

Tratamento Inicial da Prótese

Antes de se iniciar os procedimentos de instalação propriamente ditos, é


necessário realizar a imersão da prótese em água por pelo menos 24 horas para
que haja a eliminação do monômero residual do acrílico, além de compensar,
em parte, a contração de polimerização devido à expansão da peça protética
por absorção de água (ANUSAVICE, 2005). Para que não ocorra o processo
inverso e possível distorção da prótese, a partir da instalação, recomenda-se
ao paciente que, ao retirar a prótese da boca, permaneça com ela sempre em
água.

Antes de ser levada à boca do paciente, recomenda-se a desinfecção da


prótese total, para evitar possível infecção cruzada advinda do laboratório
protético ou do manuseio durante o transporte. Recomenda-se borrifar ou
imergir a prótese em glutaraldeído a 2 % por 30 minutos (AGÊNCIA NACIONAL
DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA). Após a desinfecção lava-se muito bem a prótese
com água e iniciam-se os procedimentos de instalação.

A consulta de instalação deve observar a seguinte sequência de


procedimentos:

a) Exame da Prótese Total

A base da prótese dever ser inspecionada visualmente e através do tato


para detectar irregularidades, tais como arestas, cristas agudas, nódulos de
acrílico, resíduos de gesso.

Essas irregularidades devem ser eliminadas, a espessura e extensão das


bordas devem ser avaliadas para o conforto do paciente, e um alívio dos freios
e músculos deve ser realizado, caso necessário, utilizando broca de tungstê-
nio e/ou disco de carborundum (figura 10).

169
Figura 10: Oclusão das bases de prova em boca.

Após esses procedimentos, devem-se polir as áreas externas das próte-


ses, nas regiões corrigidas com o fim de dar conforto ao paciente e evitar o
acúmulo de placa. Por outro lado, as áreas internas, que correspondem à su-
perfície basal da dentadura, não devem ser polidas, pois esse procedimento
pode resultar em desadaptação da mesma, prejudicando a retenção.

b) Ajustes das áreas de compressão

Para verificação das possíveis áreas de compressão, tentar prever os pon-


tos traumáticos e assim diminuir o desconforto do paciente, pode-se utilizar,
como pasta evidenciadora, a pasta catalizadora da pasta zinco enólica ou um
elastômero de baixa viscosidade (TELLES, 2004).

Para utilizarmos a pasta evidenciadora, deve-se iniciar o procedimento


com a limpeza e secagem da prótese, e, com o auxílio de um pincel de pelo, a
pasta será aplicada em uma camada fina e uniforme em toda a parte interna
da prótese (Figura 11). Então, leva-se a prótese à boca do paciente, manten-
do-a em posição, aplicando uma pressão manual uniforme para eliminação
do ar na região de pré-molares (Figura 12). Após a remoção da prótese, ob-
servam-se as áreas onde a pasta foi removida, realiza-se um desgaste e repe-
te-se o procedimento até a constatação de que não há nenhuma área com
compressão excessiva (Figuras 13 e 14).

170
Figura 11: Fina camada de pasta Figura 12: Pressão na região de pré-molares.
catalizadora da pasta de óxido de zinco e
eugenol.

Nas consultas de retorno, esse mesmo procedimento deve ser realizado,


porém a compressão da prótese deve ser realizada pela própria oclusão do
paciente.

Figura 13: Aspecto após a remoção da Figura 14: Desgaste das áreas de
boca. compressão.

c) Ajuste Oclusal
Em prótese total, se preconiza a Oclusão balanceada bilateralmente. Na
oclusão em prótese total, deve existir pelo menos um contato em cada cús-
pide cêntrica com sua fossa antagonista correspondente, e, nos movimentos
excursivos laterais da mandíbula (movimento de lateralidade), deve existir o
maior número possível de contatos dos com os dentes antagonistas, tanto do
lado de trabalho como de balanceio.

171
No movimento protrusivo, os contatos deverão ser simétricos e equili-
brados a partir da linha média e, se o biotipo do paciente permitir, com a
presença de contatos posteriores bilaterais (TURANO, 2010; ERVOLINO et
al., 2019). Os ajustes podem ser realizados com brocas esféricas em baixa
rotação fora da boca do paciente, e os contatos devem ser marcados com
carbono dos dois lados da arcada, ao mesmo tempo, para isso sendo bastante
úteis as pinças do tipo Miller, que reduzem sensivelmente o tempo de ajuste
(Figuras 15, 16 e 17).

Figura 15: Carbono posicionado na boca para registro


dos contatos oclusais.

Figura 16: Oclusão Centrica antes Figura 17: Oclusão Centrica após o
do ajuste oclusal. ajuste oclusal.

172
Caso se observe que a oclusão inicial não apresenta grandes discrepâncias,
o ajuste oclusal pode ser realizado durante a consulta de retorno, até mesmo,
porque a prótese ainda está em fase de acomodação na fibromucosa.

d) Dimensão vertical, Fonética e Estética

Os testes fonéticos e estéticos, já realizados na sessão de prova funcional,


devem repetidos para a certificação de que não houve nenhuma alteração
durante a execução dos procedimentos laboratoriais.

Estando o paciente com os dentes em oclusão e os lábios em posição


natural, observam-se a fisionomia e o perfil, avaliando posicionamento de
lábios e altura inferior da face. Se ocorrerem falhas, analisar onde e quais os
motivos e a possibilidade de ajustes.

Quando o paciente recebe próteses novas, é comum o surgimento de


alterações fonéticas, que normalmente são passageiras; por isso, este
aspecto não pode ser negligenciado, e, sim, informado ao paciente. Deve-se
observar, também, se o posicionamento dos dentes está coerente com o que
foi observado nas fases de prova, se há harmonia das linhas mediana, alta ou
do sorriso e dos caninos.

e) Teste de Retenção, suporte e estabilidade

Os testes de retenção, suporte e estabilidade, realizados durante o


procedimento de moldagem funcional, devem ser repetidos nessa fase.

Antes da realização dos testes, as próteses devem ser inseridas na boca


e deixadas no lugar com os dentes em oclusão durante 5 a 10 minutos. O
paciente deve ser capaz de abrir bem a boca, sorrir, falar, umedecer os lábios
e deglutir, sem que a prótese seja desalojada.

Para a realização do teste de retenção global, traciona-se a prótese no


sentido vertical, tendo como apoio os dentes anteriores. Espera-se que a
mesma resista a esse movimento.

173
No caso do teste de retenção posterior, realizam-se leves toques com o
dedo indicador na face palatina dos incisivos (Figura 18); no teste de retenção
lateral, leves toques no sentido lingual-vestibular dos pré-molares, no lado
oposto ao que está sendo verificado. Da mesma forma que na retenção
global, espera-se que a prótese resista em posição a esses movimentos.

Figura 18: Teste do selado posterior.

A seguir, o paciente deve realizar movimentos com a língua, tração dos


lábios e bochechas, verificando-se se a inserção dos músculos envolvidos está
livre, para que não haja interferência desses movimentos na retenção das
próteses (Figura 19).

Figura 19: Teste das inserções musculares. Parte laboratorial


realizada pelo laboratório de PPR da FOAR-UNESP.

174
Em algumas situações, pode ocorrer uma deficiência de retenção nesse
primeiro momento, é importante ter cautela e instalar a prótese assim mes-
mo, avisando o paciente da intercorrência e pedindo a colaboração deste
para que insista na utilização da mesma por uma semana. Existe a possibilida-
de de, após alguns dias, a prótese se acomodar aos tecidos orais e a retenção
ser conseguida. Caso não se obtenha sucesso, a prótese deve ser reavaliada
para possível reembasamento ou para a susbtituição da mesma (ZARB et al.,
1997, TURANO el al., 2010).

f) Orientações ao paciente
Ainda nessa consulta, instruções quanto ao período de adaptação, uso
e higiene das próteses devem ser repassadas tanto verbalmente como por
escrito, esclarecendo os seguintes pontos:

a) Pequenas dificuldades na alimentação podem acontecer, e por


isso, durante esse período, deve-se dar preferência aos alimentos
de consistência pastosa, a mastigação deve ser bilateral, com
porções pequenas e iguais ao mesmo tempo dos dois lados;
b) Problemas fonéticos estarão presentes, e deverão desaparecer
em alguns dias; para acelerar o processo, recomenda-se falar
o máximo possível, procurando pronunciar corretamente os
fonemas. Também é aconselhada uma leitura em voz alta durante
vários períodos por aproximadamente 10 minutos;
c) Se o paciente usa próteses pela primeira vez, ou ao se substituir
próteses muito antigas, ele tem a sensação de que a boca está
cheia, e concomitantemente as glândulas salivares começam a
trabalhar demasiadamente, enchendo a boca com uma saliva
espessa e viscosa. Estas sensações cessarão nos primeiros dias;
d) Caso a prótese esteja machucando em pontos que se apresentem
dolorosos, deve-se orientar o paciente para usá-la o maior tempo
possível dentro de sua margem de tolerância. Se a dor se tornar
excessiva, ele deverá removê-la imediatamente e aguardar até a
próxima consulta de retorno, e nunca tentar ajustá-la sozinho, sob
o risco de inutilizar a prótese;

175
e) Sempre que remover a prótese, o paciente deverá deixá-la em um
recipiente com água para que a mesma não sofra distorção;
f) Orienta-se o paciente a retirar a prótese, durante a noite. Esse
procedimento ajuda a preservar a saúde dos tecidos bucais
(mucosa e osso alveolar), pois é importante que eles sejam aliviados
da pressão exercida pela base da prótese de 6 a 8 horas por dia,
permitindo também que haja uma melhor circulação sanguínea
pelos tecidos mais afetados. Além disso, o uso noturno de Próteses
totais está associado a um aumento considerável da prevalência
de estomatites protéticas;
g) As próteses totais duram em média 5 anos, quando devem
ser substituídas por novas. Isso ocorre devido ao processo de
reabsorção óssea ser contínuo;
h) O paciente deve ser informado que durante esses 5 anos, ele
deve retornar para avaliações periódicas, ocasião em que pode ser
necessário a realização de ajustes ou mesmo reembasamentos.

O Anexo 1 sugere um modelo de orientações que deve ser


entregue por escrito ao paciente.

4. Adesivos para Prótese Total


O uso de adesivos para PT tem sido motivo de controvérsia, pois muitos
profissionais os associam ao insucesso da reabilitação. Entretanto, quando
devidamente orientados, os pacientes em uso de PT podem lançar mão
desses produtos (TELLES et al., 2004; SPENCIERE et al., 2009; CHOWDHRY et
al., 2011).

Os adesivos para prótese total são compostos de um componente


aderente, geralmente gomas vegetais, um componente antimicrobiano e um
componente aditivo úmido e aderente. Podem ser solúveis ou não-solúveis
(estes mais comuns atualmente). Idealmente, os adesivos devem ser atóxicos
e não irritantes aos tecidos orais, e devem ter sua forma como cremes ou géis,
para serem de fácil higienização. Devem garantir a retenção e a estabilidade à
prótese, dando mais conforto e segurança ao paciente (TELLES et al., 2004).

176
Os tipos de adesivos encontrados atualmente no mercado são os cremes
ou pastas, pós e fitas adesivas. Os cremes têm mostrado melhores resultados
quanto à retenção, e seu tempo de ação é mais duradouro, embora comece
mais tardiamente que as outras formas. O pó adesivo tem início de ação mais
rápido, mas cessa precocemente, removido pelo contato da saliva. As fitas
adesivas são as mais bem aceitas, têm mostrado bons resultados e tempo de
ação satisfatório, de 6 a 12 horas. A desvantagem desta é o seu custo, mais
elevado que os demais adesivos (TELLES, et al., 2004; SPENCIERE et al., 2009;
CHOWDHRY et al., 2010, POLYZOIS et al., 2011).
As principais indicações para o uso de adesivos para PT são:

• Pacientes com desordens neuromusculares, como doenças de


Parkinson, Alzheimer;
• Pacientes que receberão PT imediatamente a períodos de pós-
cirurgias;
• Pacientes com desordens que alterem o fluxo salivar;
• Para a sessão de provas funcionais, já que as bases de prova estão
ainda com alívios (TELLES et al., 2004; CHOWDHRY et al., 2010).

Na utilização rotineira, é necessário previamente lavar e secar bem a base


da prótese, e em seguida aplicar pequenas quantidades de adesivo à superfí-
cie de contato da prótese com a mucosa (se for pó, deve-se umedecê-lo antes
de inserir a prótese). Para remoção do adesivo, orienta-se ao paciente que o
faça com toalhas de papel ou gaze, lavando a prótese, e evitar o uso de ins-
trumentos cortantes ou que arranhem a sua superfície (TELLES et al., 2004).

5. Higiene Oral e da Prótese

Por não possuírem mais dentes, alguns pacientes tem a ideia errônea de
que não precisam mais higienizar a cavidade bucal e nem a prótese. É de-
ver do profissional destacar a importância da higiene oral diária e ensiná-lo a
como proceder.

A limpeza dos tecidos moles deve ser feita com pano ou gaze umedecida
em água, friccionando em todo o rebordo, mucosas e palato. A língua deve
ser limpa com escova macia ou com um limpador próprio. A prótese deve ser

177
escovada primeiramente com uma escova dura, como a escovinha de unhas,
e sabão de coco e, em seguida, com escova e pasta de dentes para a região
dos dentes (CUNHA e MARCHINI, 2007). A cada 30 dias, durante a noite, as PT
devem ser mergulhadas em solução limpeza, como a de hipoclorito de sódio
10%, para uma limpeza mais profunda. Essa solução pode ser preparada pelo
próprio paciente de forma simples e barata, bastando para isso misturar uma
colher de sopa de água sanitária em um copo de água filtrada.

Para os pacientes que possuem como antagonista uma prótese parcial


removível, está contraindicado o uso de hipoclorito de sódio, pois o uso
prolongado pode oxidar a estrutura metálica. Como alternativa pode-se
utilizar uma colher de chá de bicarbonato de sódio para um copo de água.

Existem soluções de limpeza próprias para uso em prótese total


disponíveis no mercado. Segundo Paranhos et al. (2008), esses agentes,
quando utilizados de acordo com as instruções dos fabricantes, não causaram
qualquer alteração de cor ou mecânica nas resinas acrílicas polimerizadas por
micro-ondas após um período simulado de 30 dias de uso.

Um dos produtos mais utilizados são as pastilhas efervescentes que,


segundo os fabricantes, limpam profundamente, sem arranhar a dentadura
e eliminam boa parte das bactérias que causam mau hálito. Segundo o
fabricante, sua utilização deve seguir os seguintes passos:

1º passo: coloque 1 comprimido em um copo contendo água morna (não


quente) suficiente para cobrir a dentadura.
2º passo: deixe a dentadura de molho na solução efervescente durante 5 a
15 minutos (dependendo da versão), e para melhores resultados, escove-a
com a mesma solução.
3º passo: em seguida enxague bem em água corrente. Após o uso, descarte
a solução.

O uso de pastilha efervescente é bem prático, mas resulta em maior


custo para o paciente em relação ao uso de soluções à base de hipoclorito.
Vale lembrar, também, que soluções de limpeza não substituem a escovação
da prótese total e a higiene das mucosas (MALHEIROS et al., 2008).

178
6. Consultas de Retorno

Durante a consulta de instalação, devemos deixar previamente marcadas


as consultas de retorno. O primeiro retorno deve acontecer em um intervalo
de 24 horas; o segundo, de 48 horas; o terceiro em uma semana; e as seguin-
tes, de 6 em 6 meses, ou de acordo com a necessidade do paciente.

No primeiro retorno, deve-se perguntar ao paciente o que mais o inco-


modou durante esse período, e deixá-lo relatar suas queixas. Deve-se avaliar
a cavidade bucal, observando as áreas machucadas e aliviando-as. Neste mo-
mento, realiza-se novamente a verificação das áreas de compressão, aplican-
do a pressão pela própria oclusão do paciente; e, se necessário, aliviam-se as
áreas de compressão excessiva. É nesta sessão clínica o momento ideal para
a realização do ajuste oclusal propriamente dito, como já descrito anterior-
mente.

O procedimento de retorno periódico ao consultório traz segurança ao


paciente quanto ao uso das próteses e previne contra eventuais danos. É im-
portante reforçar as orientações de uso e higiene das próteses a cada consul-
ta de retorno.

179
ANEXO 1

Recomendações aos Pacientes

Prezado Paciente, o sucesso de sua PROTÉSE TOTAL também depende


de você. Siga as instruções abaixo cooperando conosco:

1. Use a dentadura com confiança, se possível a remova para dormir.

2. Mastigue alimentos moles com cuidado, em ambos os lados.

3. Remova a dentadura se a mesma lhe causar algum ferimento.

4. Sempre que a remover, conserve-a imersa em água limpa.

5. Você poderá sentir dificuldade para falar; não se preocupe, pois


isso logo desaparecerá.

6. Não dê atenção às brincadeiras de parentes e amigos; eles


também logo se acostumarão com a sua nova aparência.

7. Não desgaste ou raspe a dentadura, somente o seu dentista


poderá fazê-lo.

8. Mantenha sua dentadura limpa, use escova dental e pasta dental


ou sabão neutro.

9. Procure a clínica nos dias determinados. Não falte, os ajustes são


necessários.

10. Lembre-se de que as dentaduras devem ser trocadas a cada 5


anos em média.

180
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRÃO, W.; BÉRGAMO, P.M.S. Prótese total para o clínico geral :1 ed. Ribei-
rão Preto: Tota, 2008.

ANUSAVICE, K.J. ; PHILLIPS . Materiais Dentários:11 ed. Elsevier, 2005.

CHOWDHRY, P.; PHUKELA, S.S. ; PATIL, R.; YADAV, H. A study to evaluate the
retentive ability of different denture adhesive materials: an in vitro study. J.
Indian Prosthodont Soc,,v. 10, n. 3, p. 176 -181, July/ Sept 2010.

CUNHA, V.P.C.; MARCHINI, L. Prótese total contemporânea na reabilitação


bucal: 1 ed. São Paulo: Santos, 2007.

ERVOLINO, I. C. S. et al. Instalação e controle de próteses totais convencio-


nais, Rev. Odontol. de Araçatuba, v.40, n.2, p. 22-26, Maio/Agosto, 2019.

MALHEIROS, A.L. et al. Effect of a denture cleanser on hardness, roughness


and tensile bond strength of denture liners. Braz. J. Oral. Sci., v.7, n. 26,
p.1580-1584, 2008.

PARANHOS, E.F.O. et al. Effect of chemical denture cleansers on flexural re-


sistance and color changes of microwave-polymerized acrylic resins. Braz. J.
Oral Sci., v. 7, n. 26, p 150- 4, 2008.

POLYZOIS, G. et al .Efficacy of denture adhesives in maxillary dentures using


gnathodynamometry: a comparative study. Odontology , v. 99, p. 155- 61,
2011.

SPENCIERE, M.C.R.L.; ZAVANELLI, A.C.; CARVALHO JÚNIOR, H.; ZAVANELLI,


R.A. Impacto do uso de fita adesiva no grau de satisfação de pacientes ins-
titucionalizados e usuários de próteses totais convencionais. Rev. Odontol.
UNESP, Araraquara, v. 38, n. 6, p. 335-40, Nov./Dez 2009.

TELLES, D.; HOLLWEG, H.; CASTELLUCCI, L. Prótese total convencional e so-


bre implantes: 2 ed. São Paulo: Santos, 2004.

181
TURANO, J.C.; TURANO, L.M.; TURANO, M.V.B. Fundamentos de prótese to-
tal: 9 ed. São Paulo: Santos, 2010.

ZARB, G.A.; BOLENDER, C.L.; CARLSSON, G.E. Boucher’s Prosthodontic


Treatment for Edentulous Patients: 11ed. St Louis: Missouri. 1997.

182
Capítulo
Biomecânica das Próteses Totais
8
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues
Carolina Veloso Lima
Danila Lorena Nunes dos Santos

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de identificar as provas funcionais a
serem realizadas, bem como os passos a serem seguidos durante a instalação.

Sumário do capítulo:
1. Introdução
2. Provas funcionais
3. Instalação
4. Adesivos para Prótese Total
5. Higiene Oral e da Prótese
6. Consultas de Retorno
7. Referências bibliográficas

183
Os
indivíduos portadores de próteses totais buscam qualidade de
vida com a colocação desses aparelhos, mas, muitas vezes, as
próteses não conseguem atingir as expectativas do paciente.
Cunha e Marchini (2004) relatam que, em um estudo longitudinal do Conse-
lho Regional de Odontologia de São Paulo, a Especialidade Prótese Dentária
apresentava o maior índice de queixas, sendo o registro com relação à reten-
ção das próteses totais o maior de todos.

O sucesso das reabilitações com próteses totais depende de uma boa in-
tegração entre os protesistas e a aceitação psicológica e funcional por parte
dos pacientes. Deve haver uma combinação entre as técnicas utilizadas e a
interação com o paciente, tentando conscientizá-lo da realidade da reabilita-
ção protética escolhida para o tratamento.

A moldagem é a cópia fiel dos tecidos da cavidade bucal, tendo o obje-


tivo de prover retenção, estabilidade e suporte para a prótese, assim como
cumprir requisitos estéticos e manter a saúde dos tecidos da boca (TURANO
et al., 2010). O reconhecimento, compreensão e incorporação de certos fato-
res biológicos, mecânicos e físicos asseguram um bom tratamento protético.
Esses fatores darão à prótese retenção, estabilidade e suporte (JACOBSON
e KROL, 1983).

A retenção é o meio pelo qual a prótese se mantém firme na boca, re-


sistindo às forças opostas, como, por exemplo, a força da gravidade, a ade-
sividade dos alimentos e forças de abertura de boca (TURANO et al., 2010).
A retenção é complexa, multifatorial e não depende única e exclusivamente
do cirurgião-dentista. Procedimentos bem realizados, bons materiais de mol-
dagem, fluxo salivar, a quantidade de rebordo remanescente, a resiliência da
fibromucosa, a tonicidade muscular e o selado periférico influenciam na re-
tenção das próteses totais (CUNHA e MARCHINI, 2004).

A retenção das próteses proporciona conforto psicológico para o pacien-


te, pois se uma prótese é facilmente deslocada durante a fala ou alimentação,
o paciente poderá ficar traumatizado com o constrangimento. Além disso,
contribui para que o paciente aceite mais facilmente o tratamento protético
(JACOBSON e KROL, 1983).

184
A retenção das próteses totais depende de fatores físicos, fisiológicos,
psíquicos, mecânicos e cirúrgicos. Fatores físicos como adesão, coesão, ten-
são superficial e pressão atmosférica contribuem para a retenção, mas é
necessária a presença de saliva para que esses fatores exerçam sua função.
Dentre os fatores fisiológicos estão as características anatômicas dos rebor-
dos alveolares, o grau de tonicidade dos tecidos, o controle neuromuscular, o
fluxo e qualidade da saliva. Fatores psicológicos relacionados a aceitação das
próteses também influenciam na retenção, pois alguns pacientes são incapa-
zes de se adaptarem física e psicologicamente às mudanças proporcionadas
pelo uso das próteses (CUNHA e MARCHINI, 2004).

A estabilidade é dada pela resistência a movimentos e forças horizontais


que alteram a relação da prótese com a mucosa oral. Representa a qualidade
que a prótese tem de voltar a sua posição de equilíbrio quando forças são
aplicadas (TURANO et al., 2010).

A retenção e estabilidade dão maior eficiência mastigatória e segurança


durante a fala, e para obtê-las é necessário conhecer os princípios e conceitos
básicos de confecção de uma prótese. Nem sempre é possível atingir resul-
tados satisfatórios, dependendo da anatomia do paciente. Em alguns casos,
pode-se ter ótimos resultados com relação a retenção, devido à abrangên-
cia da área chapeável, mas quando há negligência na distribuição das forças
aplicadas sobre a prótese, não haverá estabilidade. Da mesma maneira como
pode haver estabilidade, mas com retenção deficiente. O cirurgião-dentista
deve ter em mente que o funcionamento de uma prótese depende da quali-
dade de todos os seus procedimentos (Figura 1).

SUCESSO
Estabilidade

Suporte Retenção

Figura 1: Fatores que contribuem para o sucesso em Próteses Totais.

185
2. MEIOS FÍSICOS

2.1 Gravidade

É um fator físico positivo para as próteses inferiores, mas negativo para


as superiores (JACOBSON e KROL, 1983; TURANO et al., 2010). A força da
gravidade é insignificante comparada com as outras forças de retenção das
próteses (GEORGE et al., 1997). Houve uma época em que se aumentava o
peso das próteses mandibulares, com intuito de ter mais retenção devido à
força da gravidade. Com as leis da reabsorção óssea, essa prática é totalmente
contraindicada.

2.2 Pressão atmosférica

Se o ar contido entre duas superfícies em contato é retirado, é muito difícil


a separação desses dois objetos. Isso ocorre devido à pressão exercida pela
atmosfera. Quando se consegue um ajuste perfeito entre a base da prótese
e a fibromucosa, se impede a entrada de bolhas de ar entre essas superfícies,
mantendo a integridade da película de saliva, garantindo retenção da prótese.

A pressão atmosférica exerce sobre nós um pouco mais de 1 Kg/cm2,


ao nível do mar. A área basal de uma prótese total de tamanho médio é em
torno de 20 cm2. Isso significa dizer que cerca de 20 quilos de força estariam
atuando de forma permanente em uma prótese (TURANO et al., 2010).
Conclui-se, então, que a força retentiva é proporcional à área coberta pela
base da prótese (GEORGE et al., 1997; TURANO et al., 2010).

Pierre Fouchard, um médico que realizava tratamentos dentários no


século XVII, recomendava que a área basal da prótese superior fosse escavada
com a finalidade de se obter uma câmara de vácuo ou câmara de sucção.
Porém, com o tempo, percebeu-se que havia uma hiperplasia da fibromucosa
gengival e essa área era invadida por esse tecido, anulando o efeito da sucção
(TURANO et al., 2010). Hoje sabe-se que essas câmaras de sucção não são
indicadas devido aos transtornos causados à saúde dos tecidos moles (Figura
2).

186
A B

Figura 2: (A) Prótese total superior com câmara de sucção. (B) Aspecto clínico da mucosa
palatina hiperplasiada.

A pressão atmosférica é essencial na retenção das próteses totais durante


o repouso e quando forças são aplicadas para deslocá-las. Quando ela dimi-
nui, há interferência na retenção da prótese. Quando todas as outras forças
de retenção são anuladas, a pressão atmosférica mantém a prótese no local
(TURANO et al, 2010).

O selamento periférico é importante para o aproveitamento da pressão


atmosférica (GEORGE et al., 1997; TURANO et al., 2010). A moldagem funcio-
nal e técnicas de pressão seletiva no momento da moldagem são essenciais
para avanços no mecanismo de retenção (GEORGE et al., 1997). Próteses com
bordas largas e grossas e com selamento posterior melhoram a retenção,
desde que a moldagem reproduza fielmente a área chapeável (TURANO et
al., 2010). A retenção e estabilidade das próteses inferiores são mais difíceis
de serem alcançadas do que nas próteses superiores (CUNHA e MARCHINI,
2004).

2.3 Adesão

É a atração física de moléculas diferentes entre si (JACOBSON e KROL,


1983; TURANO et al., 2010). A adesão se dá pelas forças iônicas entre as glico-
proteínas salivares e a superfície do epitélio à resina acrílica, ocorrendo entre
a base da prótese e a saliva e entre a saliva e a mucosa (Figura 3) (GEORGE et
al, 1997).

187
Mucosa

Saliva Adesão

Base da Prótese

Figura 3: (A) Esquema demonstrativo dos locais de ação da força de


adesão.

Saliva viscosa e espessa traz inconvenientes para adesão, tende a se acu-


mular e deslocar a prótese. Por outro lado, a ausência de saliva (Xerostomia),
também prejudica a retenção das próteses (TURANO et al., 2010).

Em pacientes com xerostomia, o material da prótese adere à mucosa,


mas não tem uma retenção efetiva e o paciente sente incômodo e necessi-
dade de ficar molhando a boca. Pacientes com essa característica geralmen-
te não toleram muito bem as próteses totais, pois a ausência de saliva além
de diminuir a retenção das próteses pode causar inflamação e ulcerações na
mucosa oral, queilite angular, alteração no paladar (disgeusia), dificuldade na
mastigação e deglutição (HALLIKERIMATH e JAIN, 2012).

A xerostomia é definida como boca seca, devido à redução ou ausência do


fluxo salivar e alteração da consistência da saliva. É comum em idosos e em
pacientes com Síndrome de Sjogren, desordens endócrinas, pacientes que
receberam radiação na região de cabeça e pescoço, pacientes com insuficiên-
cia renal, HIV, diabetes mellitus e pacientes que fazem uso de certos medi-
camentos (antidepressivos, tranquilizantes, diuréticos e anti-histamínicos)
(HALLIKERIMATH e JAIN, 2012).

188
A xerostomia pode afetar a alimentação, a saúde bucal e ter efeitos psi-
cológicos. O tratamento desses pacientes pode ser a troca da medicação que
utilizam (caso essa seja a causa da xerostomia), uso de saliva artificial e gomas
de mascar, com o intuito de estimular as glândulas salivares e o uso de reem-
basadores resilientes (HALLIKERIMATH e JAIN, 2012).

A adesão depende da área basal da prótese, ou seja, quanto maior esta


área, maior a retenção (GEORGE et al., 1997; TURANO et al., 2010). Mandí-
bula e maxila menores oferecem menos adesão que mandíbulas e maxilas
maiores (GEORGE et al., 1997). A maxilas, normalmente, apresenta área de
superfícies muito maior que a mandíbula devido à cobertura do palato duro.

2.4 Coesão

A coesão é a atração física de moléculas iguais de uma mesma substância


(JACOBSON e KROL, 1983; TURANO et al., 2010); na prótese total, ela ocorre
entre as moléculas de acrílico e, na boca, entre as moléculas de saliva.

Quanto melhor for a adesão, quanto menor for a película de saliva e


quanto maior for a área basal, maior será o efeito retentivo proporcionado
pela coesão (TURANO et al., 2010).

2.5 Tensão superficial

A tensão superficial funciona como uma fina camada envolvendo a super-


fície da água. Ela ocorre devido a moléculas que se localizam na superfície e
fazem ligações com as moléculas localizadas abaixo e lateralmente, enquan-
to que as moléculas localizadas no interior realizam essas ligações em todas
as direções, tendo como consequência uma força resultante nula. Devido a
isso, a superfície da água se comporta como uma membrana elástica.

Nas próteses totais, o fenômeno de tensão superficial acontece na su-


perfície da película de saliva na região próxima às bordas das próteses. Estas
devem ser arredondadas com o intuito de manter esse fenômeno.

189
A tensão superficial depende da adesão, da extensão da área basal, pou-
co deslocamento dos tecidos moles, moldagem precisa, coesão e capilarida-
de (TURANO et al., 2010).

Schultzer (1921) desenvolveu a seguinte fórmula para estipular a força de


fixação da prótese total:

K – Força de fixação
a – Coeficiente de tensão superficial
K = 2ay Y – Superfície das bases
b b – Distância entre as bases

Isso significa dizer que a força para romper a retenção das próteses é pro-
porcional a duas vezes o grau de tensão superficial do fluido salivar, multipli-
cado pela área recoberta pela prótese total e inversamente proporcional à
espessura da película de saliva. Ou seja, quanto maior for a área basal de uma
prótese, maior será a força para deslocá-la. E quanto menor for a película
de saliva, também será necessária uma força maior para desalojar a prótese
(TURANO et al., 2010).

2.6 Capilaridade

A capilaridade é a força originada pela tensão superficial, causando a ele-


vação ou depressão de um líquido quando ele se acha em contato com um
sólido. Em um tubo capilar, existe a elevação da água. O mesmo ocorre com a
película de saliva, ajudando a reter a próteses. Então essa força é proporcio-
nal à área basal da prótese (TURANO et al, 2010).

Quando a prótese é colocada em contato com a mucosa, a saliva é pres-


sionada deslocando a tensão superficial para a região de selado periférico,
mantendo a integridade do filme de saliva e permitindo que os fenômenos
adesão e coesão mantenham a prótese no local. Quando a prótese é desloca-
da, o filme de saliva se rompe, devido à força de coesão da saliva ser inferior à
força de adesão entre a saliva e a prótese e entre a saliva e a mucosa. A com-
provação desse fenômeno pode ser observada pela presença de saliva tanto
na mucosa como na prótese após sua retirada da boca.

190
3. MEIOS FISIOLÓGICOS

3.1 Músculos

O controle muscular é um fator determinante para a retenção das próte-


ses totais. Pacientes experientes alteram e aprendem a função muscular para
que esta fique em harmonia com as próteses (JACOBSON e KROL, 1983). Al-
guns músculos que interferem na retenção das próteses: orbicular do lábio,
masseter, genioglosso, quadrado do mento e triangular dos lábios.

3.2 Zona neutra

Para determinar a posição ideal dos dentes artificiais, foi proposta a téc-
nica da zona neutra (TELLES, 2009). A zona neutra é caracterizada pela elimi-
nação das forças laterais e horizontais, causadas pela contração dos músculos
durante a fala, deglutição e mastigação; é a área onde ocorre uma neutraliza-
ção das forças da língua que pressionam os dentes para fora e as forças exer-
cidas pelo lábio e bochechas, que pressionam os dentes para dentro (PEKKAN
et al., 2007). O posicionamento dos dentes artificiais dentro da zona neutra
melhora a estabilidade das próteses.

Nessa técnica, o registro da posição dos dentes é realizado geralmente


com godiva fixada sobre uma base de acrílico. A própria movimentação da
língua e lábios define o espaço que servirá para a montagem dos dentes (TE-
LLES, 2009).

A técnica, apesar de eficaz, não é utilizada rotineiramente, devido ao


maior tempo clínico e laboratorial necessário.

4. MEIOS PSICOLÓGICOS

Efeitos psicológicos adversos influenciam na quantidade de secreção sa-


livar e afetam a retenção das próteses.

Má postura, maloclusão, bruxismo e outros problemas que envolvem a


musculatura mastigatória, a articulação temporomandibular e suas estrutu-
ras são classificadas como disfunção temporomandibular (DTM). Os sintomas

191
são dores musculares na região de cabeça e pescoço, nas articulações, limita-
ção dos movimentos mandibulares, ruídos articulares, deformidades faciais e
cefaléias (CÉSAR et al, 2006).

Hábitos parafuncionais causados por estresse induzem a atividade mus-


cular e problemas de coordenação e instabilidade das dentaduras. Isso pode
causar perda de rebordo alveolar, dor na mucosa oral, DTM, dor miofascial e
fadiga muscular (GONTEN et al., 1986).

O bruxismo consiste no ranger e apertar dos dentes, e é considerado fa-


tor etiológico para desordens temporomandibulares, desgaste dentário, per-
da de suporte dentário e insucesso de restaurações e implantes (ZORTUK et
al., 2011).

Alguns autores acreditam que pacientes portadores de próteses totais


possuem sinais e sintomas de DTM em maior número do que os pacientes
dentados naturais. Já outros autores relatam não haver correlação clara en-
tre o edentulismo, o uso de próteses e a presença de DTM (RIBEIRO et al.,
2002).

Os pacientes devem ser orientados e motivados a interromper os hábitos


parafuncionais e posturais deletérios, assim como preservar sua qualidade de
vida através da manutenção de baixos níveis de estresse emocional por meio
de vários recursos (exercícios físicos, terapia e lazer). Essa prática não é mui-
to frequente nos consultórios odontológicos, principalmente para pacientes
portadores de próteses totais.

5. MEIOS MECÂNICOS

A oclusão balanceada bilateral é preconizada há muito tempo nas próte-


ses totais. Esse tipo de oclusão dá mais estabilidade às próteses. O seu con-
ceito baseia-se na existência de contatos simultâneos bilaterais, durante o
repouso e nos movimentos excêntricos, dentro dos limites normais de fun-
cionamento mandibular (TELLES, 2009).

Telles (2009) acredita que a principal característica de uma oclusão balan-


ceada bilateral nas próteses totais está no pequeno trespasse vertical criado

192
no posicionamento dos dentes anteriores, essencial para obter os contatos
excursivos posteriores. Isso ajuda no desenvolvimento do controle neuro-
muscular por parte do paciente, ocasionando um menor grau de abertura
da boca nos movimentos excursivos. Esse padrão oclusal pode ser obtido em
próteses totais sem que haja a obrigatoriedade da existência de contatos
posteriores.

Farias Neto et al. (2010) defendem que as próteses totais podem ser con-
feccionadas com o uso da guia canina sem que isso resulte em diminuição da
retenção e estabilidade das próteses. Contatos balanceados bilaterais não
são encontrados no momento da mastigação devido à presença do bolo ali-
mentar e, por esse motivo, não são necessários fisiologicamente.

Para evitar problemas de retenção, estabilidade e reabsorção alveolar é


interessante instruir o paciente a colocar pequenos pedaços de alimento na
boca e sempre mastigar de ambos os lados (FARIAS NETO et al., 2010).

A oclusão ideal para as próteses totais, superior e inferior, deve ter as


seguintes características: estabilidade em relação centrica, dentes com cús-
pides baixas, movimentos excêntricos facilitados e dentes posicionados de
acordo com a forma do rebordo alveolar (TELLES, 2009).

6. MEIOS CIRÚRGICOS

6.1 Cirurgia pré-protética

Qualquer procedimento cirúrgico, seja em tecido ósseo ou em tecido


mole, realizado dentro da cavidade oral e que tenha o objetivo de melhorar
a adaptação das próteses com o rebordo alveolar é chamado de cirurgia pré-
-protética (PRADO e SALIM, 2004).

Alveoloplastia imediata é a regularização do rebordo alveolar logo após


as extrações dentárias. Pode ser necessária a remoção de exostoses ósseas,
como, por exemplo, os toros mandibulares e/ou palatinos. Com a utilização
de pinça tipo goiva, lima para osso e instrumentos rotatórios são removidas
espículas ósseas, toros e é dado um melhor contorno para o rebordo alveo-

193
lar. Esses procedimentos têm o intuito de melhorar a adaptação da prótese
sobre o rebordo remanescente.

As cirurgias de tecidos moles incluem a remoção de freio labial, também


denominada de frenectomia, que, em caso de pacientes desdentados, é indi-
cada para promover uma melhor adaptação e retenção das próteses. Podem
ser utilizadas ainda as técnicas de excisão simples, zetaplastia, epitelização
secundária, técnica da dupla pinçagem. A remoção do freio lingual pela fre-
nectomia lingual promove uma melhor retenção das próteses, evitando que
a cada movimento lingual haja deslocamento da mesma.

Tecido móvel fibroso, causado por reabsorção óssea ou próteses mal


adaptadas, deve ser retirado, caso o paciente possua uma quantidade óssea
suficiente para uma boa adaptação da prótese. Caso não haja osso suficiente,
esse tecido pode ser utilizado para fechamento de retalhos após a colocação
de enxertos.

Hiperplasias fibrosa e papilar podem ser causadas por próteses mal adap-
tadas. A remoção cirúrgica é a primeira opção de tratamento, sendo obriga-
tório o envio das peças para o exame histopatológico. Após a remoção desse
tecido, é necessária a confecção de uma nova prótese.

Em rebordos muito reabsorvidos, cirurgias de enxerto, reposicionamento


de inserções musculares, bridas, nervos, associados ou não a vestibuloplas-
tia, aprofundamento de vestíbulo são procedimentos cirúrgicos que podem
devolver ao paciente um rebordo alveolar favorável para colocação de uma
prótese que cumpra seus quesitos funcionais, mas tais procedimentos cau-
sam incômodo aos pacientes e os resultados nem sempre são alcançados.
Tais procedimentos vêm sendo substituídos pela instalação de implantes os-
seointegrados.

6.2 Implantes dentários

As próteses totais ficam apoiadas em tecido mucoso, que não foi feito
para desempenhar tal função, resultando em um processo de reabsorção do
osso remanescente e lesões nos tecidos moles (TELLES, 2009). Má oclusão,

194
alinhamento inadequado dos dentes nas próteses, deformação nas bases das
próteses e perda de dimensão vertical de oclusão são outros fatores que po-
dem acelerar o processo de reabsorção óssea. Forças geradas pelo funciona-
mento de uma prótese mal confeccionada podem causar pressão, inflamar os
tecidos de suporte e acelerar o processo de reabsorção óssea (KELSEY, 1971).

Tallgren (2003) relata em seu estudo que a reabsorção óssea em pacien-


tes que usam próteses totais ocorre de forma contínua, sendo maior no pri-
meiro ano de uso da prótese e na parte anterior da mandíbula, devido à trans-
missão de forças geradas durante a função para os rebordos alveolares. O
referido autor complementa que essa reabsorção pode variar de acordo com
a anatomia, fatores sistêmicos e atividade muscular do paciente.

O sucesso das próteses totais removíveis depende da arquitetura e quan-


tidade de osso presente na mandíbula. Muitas vezes a remodelação óssea
que ocorre após as extrações dentárias pode levar a situações de perda de
retenção, estabilidade e suporte, afetando o bom funcionamento das próte-
ses totais (KORDATZIS et al., 2003).

Esses fatores associados resultam em uma dificuldade de adaptação por


parte do paciente em utilizar as próteses totais, principalmente as inferiores.
Para minimizar essa dificuldade, podem ser utilizados meios de retenção adi-
cionais como, por exemplo, as raízes de dentes remanescentes e implantes
dentários osseointegrados (TELLES, 2009). O uso de implantes pode ajudar
a melhorar a retenção, suporte e estabilidade das próteses totais removíveis
(KORDATZIS et al., 2003).

A denominação mais comum para esse tipo de tratamento são as so-


bredentaduras ou overdentures. Esse tipo de tratamento é uma alternativa
atraente em função da simplicidade e do custo relativamente baixo; além dis-
so, ele traz estabilidade, retenção, conforto, função, preservação do rebordo
alveolar, eficiência, aumento do desempenho mastigatório e qualidade de
vida.

As overdentures apresentam inúmeras vantagens funcionais em relação


às próteses totais convencionais. A prótese passa a ser suportada por implan-

195
tes e pelo rebordo alveolar remanescente. Nessa técnica se utilizam 2 a 4
implantes instalados de maneira simétrica no rebordo alveolar e sobre esses
implantes são acoplados sistemas de retenção para conectar a prótese aos
implantes. Podem funcionar com sistemas rígidos, semirrígidos e resilientes
(Figuras 4 e 5).

Figura 4: Overdenture com encaixes do tipo O`ring.

Figura 5: Overdenture em posição na boca.

Ainda existem as próteses totais fixas, que são próteses completamente


fixas pelos implantes dentários. Nesses casos, é necessária a colocação de um
maior número de implantes dentários.

7. ESTABILIDADE

A estabilidade é a capacidade que as próteses apresentam de resistir


às forças horizontais ou de rotação (JACOBSON e KROL, 1983). A falta de
estabilidade pode tornar ineficazes os fatores envolvidos na retenção e
suporte.

196
Um plano inclinado desvia forças e provoca instabilidade. O protesista
deve procurar sempre forças que atuem em ângulo reto (TURANO, 2010).
Veremos, a seguir, fatores que diminuem a ação de forças oblíquas.

7.1 Ação e reação: bochechas e lábios versus língua

A superfície externa da prótese deve ser polida e desenvolvida em har-


monia com a massa muscular associada ao funcionamento da língua, lábios e
bochechas. Forças vestibulares e linguais geradas na musculatura dos lábios,
língua e bochechas são equilibradas (JACOBSON e KROL, 1983). Os dentes
devem ficar em uma zona neutra de forças para que haja mais estabilidade
(Figura 6).

Figura 6: Influência da força da língua


e bochecha na estabilização da prótese.

7.2 Oclusão

Durante os movimentos funcionais e parafuncionais as superfícies oclu-


sais não devem se tocar prematuramente em áreas localizadas. Esses conta-
tos causam tensões desiguais que são transmitidas para as próteses durante
o funcionamento, resultando em forças laterais e torção que afetam a esta-
bilidade (JACOBSON e KROL, 1983).

197
Quando as forças oclusais são geradas sobre as próteses, a sua estabi-
lidade dependerá em maior parte do apoio mucoso. Como a estabilidade e
retenção das próteses totais são obtidas em grande parte pelos procedimen-
tos de moldagem, o dentista precisa saber que o funcionamento oclusal de-
penderá da qualidade deste procedimento. A oclusão balanceada bilateral
tem sido indicada por promover estabilidade. Ela exige contatos simultâneos
bilaterais, tanto em RC como nos movimentos excêntricos, de lateralidade e
protrusão, dentro dos limites normais de função mandibular (TELLES et al.,
2009).

Quando os dentes antagonistas entram em contato, parte das forças so-


bre as cúspides são transmitidas para a base da prótese de forma oblíqua.
Esse fenômeno se acentua com a interposição do bolo alimentar, resultados
em movimentos laterais e/ou horizontais em relação ao rebordo (TELLES et
al., 2009). Segundo a terceira Lei de Newton, para cada força de ação existe
uma força de reação igual em sentido oposto. Por isso, devem ser evitados
movimentos de lateralidade e realizados mais movimentos verticais.

Então, o objetivo clínico das características oclusais em Próteses Totais é


manter a estabilidade e preservação das estruturas que as sustentam. Desse
modo, a oclusão ideal deve possuir estabilidade em relação central, dentes
com cúspides baixas, movimentos excêntricos facilitados, dentes posiciona-
dos de acordo com o rebordo remanescente. A relação cúspide/fossa deve
gerar movimentos verticais ao se contactarem. Se não obtidos, haverá trau-
matismo da mucosa que reveste o rebordo, principalmente nos locais onde a
mucosa for mais delgada (TELLES et al., 2009).

A eficiência mastigatória melhora com a altura das cúspides, porém a es-


tabilidade diminui. O esquema oclusal deve buscar um equilíbrio entre essas
duas características. Uma possível solução é a oclusão lingualizada em que
apenas a cúspide palatina superior faz contato com os antagonistas inferio-
res (TELLES et al., 2009). Uma oclusão equilibrada é limitada pela largura
vestíbulo-lingual e mésio-distal, assim como pela altura das cúspides. Forças
horizontais podem ser minimizadas quando o paciente coloca o alimento
bilateralmente para garantir o contato posterior simultâneo (JACOBSON e

198
KROL, 1983). Quanto mais paralelas forem as superfícies oclusais opostas,
melhor será a estabilidade das próteses (Figura 7).

Vestibular Lingual

Figura 7: Demonstrando a oclusão equilibrada.

7.3 Igualdade de pressão nas moldagens

Registro incorreto das relações intermaxilares pode ocasionar desarmo-


nias oclusais, difíceis de serem detectadas quando as próteses estão em uso.
A oclusão dos dentes no articulador não será a mesma da boca, e a prótese
final não atingirá um bom resultado (ABRÃO, 2008). A estabilidade da pró-
tese requer que os tecidos resistam a forças horizontais e isso depende de
uma correta moldagem e relação com a base da prótese (JACOBSON e KROL,
1983).

7.4 Altura das vertentes dos rebordos

A altura dos rebordos residuais e sua conformação influem diretamente


na estabilidade da prótese. Cristas alveolares grandes e quadradas oferecem
maior estabilidade quando comparadas a cristas pequenas, estreitas e côni-
cas (JACOBSON e KROL, 1983) (Figuras 8 e 9).

199
A B

Figura 8: Diferenciação da altura do rebordo e consequência na estabilidade.


A: rebordo mais baixo e menos estável que B.

Figura 9: Formato do rebordo em ordem crescente de


estabilidade da esquerda para a direita.

7.5 Altura da linha de oclusão

A determinação de um correto relacionamento maxilomandibular, tanto


no sentido vertical como horizontal, é essencial nas reabilitações protéticas.
Essa determinação é mais complexa em pacientes totalmente desdentados
que não possuem registros prévios. A altura do plano oclusão influi tanto na
estabilidade como na estética da prótese. O ideal é que o espaço intermaxilar
seja dividido em duas partes iguais (Figura 10).

Dentes anteriores e posteriores devem ser arranjados o mais próximo


possível da posição ocupada pelos dentes naturais, com pequenas modifi-
cações para melhorar a alavanca e a estética (JACOBSON e KROL, 1983). A
colocação do plano oclusal mais próximo a um rebordo provoca um sistema
de alavanca na arcada oposta. Desse modo, a estética será prejudicada, pois
os dentes ficarão cobertos pelo lábio na fonação ou sorriso (ABRÃO, 2008).

200
O ideal é que o plano oclusão não possua inclinação. Quando se inclina
no sentido anteroposterior, a prótese superior deslizará para a frente, e a
prótese inferior deslizará para trás. A inclinação do plano no sentido inverso
causa deslize para frente da prótese inferior e para trás da prótese superior
(ABRÃO, 2008).

Figura 10: A: linha de oclusão direcionada


para o maxilar superior. B: Arranjo ideal,
espaço intermaxilar dividido em alturas
semelhantes.

7.6 Regularização dos rebordos


A assimetria do rebordo, quando muito pronunciada, pode comprome-
ter a estabilidade da prótese. Quando o paciente apresentar espículas ósseas
não reabsorvidas, isso pode indicar que ele passou por exodontias recentes.
Nesses casos é indicada cirurgia reparadora antes do início da confecção das
próteses (TURANO et al., 2010).

7.7 Músculos

Alguns fatores envolvidos na relação entre a superfície polida e a muscu-


latura podem influenciar a estabilidade. Primeiramente, o cirurgião-dentista
deve saber que o funcionamento de alguns grupos musculares pode ser utili-
zado para aumentar a estabilidade. Em segundo lugar, alterações no contor-
no externo da prótese pode levar a uma relação dinâmica entre a prótese e a

201
musculatura, assim como a uma ação estabilizadora na prótese (JACOBSON
e KROL, 1983).

Se a inserção dos músculos mantiver uma ação direta ou indireta com a


prótese, esta poderá ser afetada em sua estabilidade. E isso ocorre, também,
quando as bordas das próteses invadem a área de inserção dos músculos (AB-
RÃO, 2008). A ação desse músculo é direta se sua própria contração interferir
na base da dentadura, e indireta quando sua contração mobilizar outras mas-
sas musculares que interfiram com a base da dentadura.

Para que o deslocamento da prótese ocorra, é necessário que as fibras


dos músculos formem um ângulo de 90º com as bordas da prótese. Quando
a direção de contração das fibras for paralela às bordas da prótese, esta pode
apoiar-se no músculo, sem o risco de ser deslocada e sem danos à função
muscular (ABRÃO, 2008).

MAXILA
Músculo Orbicular do Lábio
O músculo orbicular do lábio tem a forma de um esfíncter. Ele se insere
superiormente na linha mediana da maxila através do freio labial e, lateral-
mente, no canto da boca, numa formação nodular denominada modíolo (AB-
RÃO, 2008). O músculo orbicular do lábio, juntamente com o bucinador, for-
ma uma unidade funcional que depende da forma e da posição das arcadas
e a sua contração pode interferir com a borda vestibular anterior da prótese
(Figura 11) (ABRÃO, 2008).

Figura 11: Linhas alaranjadas representado a


direção das fibras do músculo orbicular do lábio.

202
Músculo Bucinador

Tem a forma de um leque e constitui a maior parte das bochechas. É com-


posto por três feixes de fibras (ABRÃO, 2008). Quando em contração, provo-
ca um abaixamento do fundo de sulco vestibular superior e levantamento do
sulco vestibular inferior (figura 12).

Figura 12: Linhas alaranjadas representando a


direção das fibras do músculo bucinador.

MANDÍBULA
Quadrado do Mento e Triangular dos Lábios

Esses músculos inserem-se na face externa da linha oblíqua externa, diri-


gindo-se para as comissuras labiais e linha mediana respectivamente. Quando
em contração, exercem pressão sobre o bordo vestibular anterior da prótese
total (Figura 13).

Figura 13: Linhas alaranjadas representando a


direção das fibras do músculo bucinador.

203
Músculo Orbicular do Lábio
Na região do flanco labial, o orbicular do lábio é o músculo mais importan-
te do ponto de vista de prótese total. Ele se insere no osso mandibular atra-
vés do freio labial e, no canto da boca, através do modíolo. Seus movimentos
não são capazes de deslocar a prótese do seu assentamento basal (ABRÃO,
2008).

Feixe Inferior do Músculo Bucinador

Quando os rebordos estão muito reabsorvidos, as fibras do músculo bu-


cinador proliferam em direção à crista do rebordo e invadem a zona principal
de suporte. Porém, em razão de o músculo bucinador se orientar no plano
horizontal, as próteses podem apoiar-se sobre ele sem causar danos à sua
função (ABRÃO, 2008).

Nos movimentos de abertura da boca ou quando da dinâmica muscular,


há uma projeção dos tecidos para diante, podendo deslocar uma prótese so-
bre-estendida. Na altura do trígono retromolar há um encontro das fibras
do músculo bucinador com o tendão terminal do músculo temporal em sua
porção mais inferior. Forma-se um coxim fibroso, a papila piriforme, que deve
ser sempre incluída dentro da zona de suporte da prótese inferior.

Masseter

A região posterior ao último molar sofre a influência indireta do músculo


masseter. Este músculo insere-se no ângulo externo da mandíbula, por fora
do músculo bucinador. Durante sua contração pressiona o bucinador contra a
borda de prótese, provocando lesões na mucosa. Por isso, a borda da prótese
deve apresentar uma curvatura acentuada, em direção lingual, para acompa-
nhar o trajeto do feixe médio do músculo bucinador e evitar a lesão (Figura
14) (ABRÃO, 2008).

204
Figura 14: Linhas alaranjadas representando
a direção das fibras do músculo masseter.

Músculos que se inserem na Superfície Lingual da Mandíbula

A direção de contração das fibras dos músculos que se inserem na face


interna da mandíbula forma ângulos com aproximadamente 90°; portanto,
capazes de deslocar a prótese inferior (ABRÃO, 2008).

Músculo Palatofaríngeo ou Palatoglosso

O músculo palatofaríngeo estende-se desde a aponeurose do músculo


tensor do véu palatino, até a base da língua. Durante os movimentos da lín-
gua, ele é arrastado para frente e pressionado contra o contorno posterior
da prótese, lesando a mucosa que o recobre. Neste local, a borda da próte-
se deve curvar-se abruptamente para a frente, a fim de evitar contato com
o músculo. Logo, a extensão e o contorno da borda posterior da base de-
vem ser determinados pelos movimentos deste músculo (Figura 15) (ABRÃO,
2008).

205
Figura 15: Seta alaranjada - Músculo palatoglosso (Adaptado de
Fehrenbach & Herring, 2005).

Músculo Milo-hióideo

Na região interna da mandíbula, encontra-se o músculo milo-hióideo, que


forma a maior parte do assoalho da boca. Ele é composto por duas partes,
que se unem no centro do assoalho. Durante a função, o músculo movimen-
ta-se para baixo e para cima, alterando a profundidade do assoalho da boca.
Como a direção das fibras é quase que perpendicular à borda da prótese, o
músculo deslocará a prótese quando suas bordas ultrapassarem a linha mi-
lo-hióidea. Consequentemente, a extensão da borda deve ser determinada
funcionalmente, moldando o músculo numa posição intermediária (ABRÃO,
2008).

Porém, na parte posterior da prótese é possível estendê-la mais inferior-


mente, pois as fibras do músculo milo-hióideo descem quase verticalmente,
enquanto na parte anterior elas são direcionadas horizontalmente (Figura
16) (JACOBSON e KROL, 1983).

206
A

B C

Figura 16: A: direcionamento das fibras do músculo milo-hióideo. B: região


posterior, fibras mais perpendiculares. C: região anterior, fibras horizontais.
(Adaptado de Jacobson & Krol, 1983).

Músculo Genioglosso

Durante a deglutição, o músculo eleva-se e alcança a posição mais alta,


reduzindo, consideravelmente, a profundidade do assoalho da boca. Ele não
desloca a prótese porque os dentes estarão em contato, mas será lesado pela
borda da prótese. Portanto, o flanco sublingual deve ser determinado funcio-
nalmente, com o músculo numa posição intermediária, ou seja, em atividade
moderada (Figura 17) (ABRÃO, 2008).

Figura 17: Seta alaranjada demonstrando o músculo Genioglosso.


(Adaptado de Fehrenbach e Herring, 2005).

Dobra Sublingual
É uma dobra da mucosa do assoalho da boca, localizada próxima à linha
média. É formada quase que exclusivamente pelas glândulas sublinguais.

207
Durante os movimentos da língua, a dobra é empurrada para frente e
pressionada contra a borda da prótese, promovendo o selamento da borda.
Para obter um selamento mais efetivo, a borda da prótese deve preencher
todo o espaço compreendido entre o rebordo e a dobra sublingual. A região
da dobra pode ser considerada uma zona de travamento para a prótese
inferior (ABRÃO, 2008).

8. SUPORTE

Suporte é a capacidade que as próteses possuem de resistir às forças de


intrusão que as comprimem contra os tecidos da área chapeável (JACOBSON
e KROL, 1983). De acordo com o tipo de suporte, elas podem ser: muco-
suportadas (próteses totais convencionais), implanto-suportadas (próteses
totais sobre implantes), dento-muco- suportadas ou híbridas (overdentures).

A quantidade de força mastigatória, que uma prótese é capaz de suportar,


está em proporção direta com o tamanho da zona de suporte (área basal)
(TURANO et al., 2010).

8.1 Máxima extensão da base da prótese

O suporte é conseguido usando procedimentos de moldagem que


forneçam a extensão ótima (JACOBSON e KROL, 1983). Apesar da necessidade
de extensão da prótese, sensibilidade exagerada ao toque, podendo levar o
paciente a sentir náuseas, pode ser encontrada ao se atingir a porção mais
posterior do palato e da base da língua.

8.2 Técnica de moldagem e material utilizado

O uso de moldeiras individuais de acrílico, mais adaptadas à anatomia da


região a ser moldada, e de materiais de moldagem com menores alterações
dimensionais resultam na obtenção de moldes mais fiéis e por consequência,
bases de próteses com melhor adaptação. Esses fatores contribuem, assim,
para a produção de próteses com maior retenção e estabilidade.

208
8.3 Forma, superfície e volume dos rebordos

A função do rebordo é manter os dentes. Com a perda dos dentes, o re-


bordo perde sua função, havendo assim a reabsorção alveolar, que é progres-
siva e torna as cristas arredondadas e menos pronunciadas. Na maxila, ela
inicia pela tábua óssea vestibular, fazendo com que, no decorrer do tempo, o
rebordo fique mais fino. Na mandíbula, além da vertente vestibular, é envol-
vida a vertente lingual, causando diminuição na altura do rebordo. Em último
estágio da reabsorção óssea da mandíbula, ela fica plana.

8.4 Grau de flacidez dos tecidos

Vamos iniciar com dois conceitos que serão úteis:

• Tonicidade: é a resistência que a mucosa tem aos deslocamentos.


Pode sofrer alterações de acordo com o estado físico do paciente.
• Resiliência: é a capacidade da mucosa voltar ao seu estado original
após ter sofrido uma deformação em consequência de uma carga.
Ela está ligada à tonicidade.

A fibromucosa pode ser afetada pelo contingente de líquido presente,


bem como por alterações endócrinas do paciente. Por isso, não é raro a de-
sadaptação de próteses após o emagrecimento ou aumento do peso nos pa-
cientes.

Os tecidos moles possuem diferentes espessura, resiliência e tolerância


a pressão, e estão em constante adaptação conforme os estímulos a que são
submetidos. A natureza do tecido mole, que está em contato com a prótese,
determina o potencial que cada região irá tolerar em stress. O dentista deve
reconhecer os tecidos que necessitam de um alívio para minimizar a pressão
(JACOBSON e KROL, 1983). Mucosas firmes são mais delgadas e apresentam
irritação quando comprimidas. As mucosas resilientes possuem espessura
adequada e amortecem as forças oclusais sobre os rebordos ósseos. São as
mucosas mais favoráveis, sendo um fator positivo. As mucosas flácidas pos-
suem uma espessura exagerada, geralmente estão localizadas em áreas de

209
reabsorção óssea e são as mais desfavoráveis de todas (MILLARES e MUNIVE,
1995).

A mucosa muda de forma de acordo com sua compressão, e isso não ocor-
re de fmaneira uniforme, mas resultando em forças de alavanca que devem
ser controladas com a regularização e aumento em extensão da área basal da
prótese, aproveitando um melhor apoio ósseo.

Muitos fatores estão envolvidos no sucesso das Próteses Totais. Ao exe-


cutar uma prótese seguindo os princípios necessários para sua retenção, es-
tabilidade e suporte, o cirurgião-dentista aumenta a probabilidade de obter
êxito na confecção, assim como conseguir a satisfação do paciente.

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212
Capítulo
Reembasadores
9
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues
Luana Carmem Lino Gomes
Lucas Lopes Araújo Sousa

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de identificar a necessidade de


reembasamento de uma prótese e o tipo indicado para cada situação clínica.

Sumário do capítulo:
1. Introdução.
2. Indicações e contraindicações do reembasamento.
3. Tipos de Reembasadores.
4. Caso clínico.
5. Referências bibliográficas.

213
A
longevidade de uma prótese está diretamente ligada às condições
orais e aos cuidados que ela recebe ao longo do tempo. Dessa ma-
neira, é difícil estimar a sua longevidade. De forma geral, admite-se
que a cada 5 anos a prótese deve ser substituída, pois geralmente após este
período já ocorrem mudanças nos tecidos orais que afetam a adaptação das
bases das próteses, prejudicando as relações oclusais (FELTON et al., 2011).

O rebordo residual está constantemente sofrendo alterações na sua to-


pografia e morfologia. A reabsorção ocorre mais rapidamente nos primeiros
6 meses seguintes à exodontia. Após este período, há uma desaceleração do
processo, que se torna constante após 12 meses (TALLGREN, 2003). Ou seja,
a partir da perda do elemento dental, sempre o processo de reabsorção al-
veolar ocorrerá continuamente.

Outro fator que corrobora com a longevidade da prótese, é o seu desgas-


te natural ao longo do tempo. As alterações de cor, o desgaste dos dentes,
a perda de retenção e estabilidade prejudicam a estética e funcionamento
adequado do sistema estomatognático. Dessa forma, as próteses dentárias
devem ser avaliadas periodicamente, para que seus problemas estéticos e de
adaptação possam ser detectados e possivelmente corrigidos (LELES et al.,
2001).

Uma opção à confecção de uma nova prótese é o reembasamento, que


consiste na readaptação da base da prótese através da adição de um material
plástico à sua superfície interna, tornando-a novamente adaptada ao rebordo
residual do paciente. O reembasamento objetiva restabelecer as dimensões
maxilomandibulares possivelmente perdidas com as alterações na topogra-
fia do rebordo alveolar residual, tornando novamente a prótese adaptada
aos tecidos orais, devolvendo retenção e estabilidade, proporcionando con-
forto e permitindo o funcionamento adequado do sistema estomatognático
(FELTON et al., 2011; CASTRO et al., 2020).

2. Indicações e contraindicações do reembasamento.

Uma das dúvidas mais recorrentes em consultórios odontológicos é de


quando escolher entre reembasar ou substituir completamente uma próte-
se. De forma geral, os critérios de escolha dependem de uma análise criterio-

214
sa das características da prótese, dos aspectos clínicos do paciente e, princi-
palmente, dos seus desejos e necessidades (JUMBELIC e NASSIF, 1984).

Em virtude disso, realiza-se uma anamnese bem detalhada com o obje-


tivo de identificar os problemas e as queixas quanto ao uso da prótese. De-
vem ser discutidos aspectos como estética, retenção e conforto da prótese
atual, bem como limitações físicas e psicológicas do paciente. Normalmente,
o paciente relata um desconforto recente com a prótese, inclusive queixas de
machucados e perda de retenção e estabilidade, dificultando seu uso.

Na sequência, faz-se o exame intrabucal, com a avaliação da prótese atual


dentro e fora da boca. Durante o exame intraoral é importante a avaliação do
estado da mucosa que fica em contato com a prótese, pois, muitas vezes, há
a presença de ulcerações e inflamações devido à movimentação excessiva da
mesma. Nessas situações, indica-se um reembasamento temporário com um
condicionador de tecidos, para que essas áreas se recuperem normalmente
e, após uma semana, o paciente possa ser submetido a um reembasamento
definitivo ou a substituição completa da prótese. O mesmo efeito pode ser
conseguido com a suspensão do uso da prótese por alguns dias, mas essa é
uma prática penosa para pacientes idosos, já que isso dificulta a ingestão de
alimentos, além de comprometer o convívio social durante esse período.

Deve-se avaliar, também, a presença de disfunção temporomandibular,


que contraindica o reembasamento. Primeiro, deve-se buscar as causas des-
ta disfunção para que posteriormente ao seu tratamento seja realizado o
reembasamento ou mesmo a confecção de uma nova prótese (MIYACHI et
al., 2007).

O exame da prótese deve ser realizado com a prótese inicialmente fora


da boca, já que algumas condições como fragilidade da base da prótese (es-
pessura menor que 2 mm nas bordas da prótese) e presença de câmara de
sucção contraindicam o reembasamento (JUMBELIC e NASSIF, 1984).

A presença de dentes desgastados excessivamente ou fora de posição,


fraturas dentárias ou de borda e planos oclusais inadequados, também, po-
dem contraindicar o reembasamento. Entretanto, próteses recém-confeccio-
nadas, com os requisitos estéticos e oclusais aceitáveis, mas com eventuais

215
problemas de distorções na polimerização e consequente desadaptação da
resina acrílica na região de selado posterior podem ser reembasadas (FELTON
et al., 2011).

Ao se avaliar a prótese dentro da boca, observa-se a extensão da superfí-


cie basal da prótese. Esta precisa estar adequada, cobrindo toda a área cha-
peável e chegando ao fundo de sulco. Além disso, verifica-se o suporte do
lábio, a dimensão vertical, a linha do sorriso, oclusão e fonética. Caso algum
desses fatores esteja inadequado, o mais indicado é a substituição da prótese
(JUMBELIC e NASSIF, 1984).

Outro fator que deve ser levado em consideração nas indicações ou con-
traindicação de um reembasamento é o grau de sensilidade do paciente. Pa-
cientes com doenças terminais ou degenerativas como o Alzheimer, Parkin-
son são exceções à regra, indicando-se o reembasamento, mesmo que em
condições não ideais, pois a fragilidade e dificuldade de adaptação desses
pacientes podem tornar penosa e injustificada a confecção de uma nova pró-
tese.

Após a análise de todos esses dados, o profissional pode decidir qual a


melhor conduta a ser realizada. O Quadro 1 traz um resumo dos aspectos a
serem avaliados.

Quadro 1: Resumo comparativo entre as indicações e contraindicações


para um reembasamento.

Indicações Contraindicações

1. Próteses mal adaptadas em 1. Grande reabsorção óssea.


razão de reabsorção do rebordo 2. Presença de disfunção
residual, mas com os padrões temporomandibular.
oclusal e estético aceitáveis.
3. Grande desgaste dentário.

2. Pacientes debilitados. 4. Mal posicionamento dos


dentes artificiais.
5. Dimensão vertical alterada.
6. Oclusão inadequada.
7. Estética inadequada.

216
3. Tipos de Reembasadores
Os reembasadores podem ser classificados quanto à resiliência (rígidos
ou flexíveis) e quanto à técnica de confecção (diretos ou indiretos). Os mate-
riais resilientes, ainda, podem ser subdivididos em: de curta duração (condi-
cionadores de tecidos) ou de longa duração.

3.1 Classificação quanto à resiliência


3.1.1. Materiais Rígidos

Os materiais rígidos recebem essa denominação por não possuírem fle-


xibilidade após sua reação de polimerização. Dessa forma, as forças mastiga-
tórias aplicadas sobre a prótese são transmitidas diretamente para o tecido
subjacente, ocorrendo o aumento da carga sobre o rebordo residual.

Assim, esses materiais são mais indicados em casos de rebordos que apre-
sentem uma camada adequada de mucosa alveolar resiliente e elástica, de
forma que possa absorver e minimizar os impactos decorrentes das forças
mastigatórias. Se essa recomendação não for respeitada, pode acarretar em
irritação ou dor que se espalha na região basal do assento da prótese, devido
à compressão da mucosa fina entre a base da prótese e o osso duro durante
a mastigação (LELES et al., 2001).

Outra indicação para o uso desses materiais é para pacientes que apre-
sentem uma lenta reabsorção alveolar, uma vez que os referidos materiais
não sofrem deformações que acompanhem as modificações rápidas do re-
bordo alveolar.

Comercialmente, os materiais rígidos podem ser encontrados com rela-


ção a ativação da reação de polimerização em materiais termopolimerizáveis,
autopolimerizáveis e fotopolimerizáveis. Os materiais rígidos termopolimeri-
záveis apresentam características semelhantes aos materiais utilizados para
a confecção das bases de próteses totais. Dessa forma, apresentam boas pro-
priedades mecânicas favorecendo o aumento da longevidade e estabilidade
de cor. Entretanto, como a reação de polimerização ocorre sob elevadas tem-
peraturas, o reaquecimento da base da prótese durante o processo de reem-

217
basamento pode acarretar a modificações na sua estabilidade e nas suas pro-
priedades mecânicas (ANUSAVICE, 2005). Entretanto, são estes os materiais
que apresentam melhor adesão à base da prótese e maior longevidade.

Os materiais rígidos termopolimerizáveis são comercialmente distribuí-


dos na forma de pó e líquido, sendo o pó formado por esferas pré-polimeri-
zadas de poli(metacrilato de metila) e uma pequena proporção de peróxido
de benzoíla. O peróxido de benzoíla é o responsável por iniciar o processo de
polimerização sob ativação da elevação de temperatura. O líquido é compos-
to de metacrilato de metila não polimerizado com uma pequena quantidade
de hidroquinona. A hidroquinona é responsável por inibir e prevenir que a
reação de polimerização ocorra no líquido durante a armazenagem do pro-
duto (ANUSAVICE, 2005; CRUZ et al., 2020).

Outra desvantagem desse material é a necessidade de um equipamento


especial para a realização da reação de polimerização. Dessa forma, os custos
para a realização deste tipo de reembasamento são maiores e, além disso, o
paciente necessita ficar sem a prótese durante o período em que ela é reem-
basada.

Isso explica de certa forma o relativo sucesso da presença de materiais


autopolimerizáveis (quimicamente ativados) existentes no mercado. São ma-
teriais de relativa simplicidade de uso, podendo ser realizado o reembasa-
mento de prótese no próprio consultório e, diretamente na boca do pacien-
te, com economia de tempo e custos.

Esses materiais são fornecidos na forma de um pó e um líquido, podendo


ser de dois tipos. No tipo I, o pó é formado por poli(metacrilato de metila),
peróxido de benzoíla como iniciador do processo e pigmentos que propor-
cionam a coloração ao material, enquanto o líquido é composto por monô-
meros de metil metacrilato. No tipo II, o pó é formado por poli(metacrilato
de etila), peróxido de benzoíla e pigmentos, sendo o líquido composto por
N-Butil Metacrilato (MURATA et al., 2007). A diferença de composição entre
estes materiais, proporciona diferentes propriedades mecânicas e efeitos na
reação provocada pelo monômero residual.

218
A utilização de metacrilatos de alto peso molecular no líquido como eti-
la, n-propila e n-butila, tornam a temperatura de transição vítrea (Tg) pro-
gressivamente menor. A temperatura de transição vítrea é a temperatura em
que a massa plástica do material reembasador se transforma em um material
rígido, pouco deformável. Assim, a vantagem da utilização de monômeros
de alto peso molecular no líquido é que a reação de polimerização acontece
mais rapidamente, à temperatura próxima à da boca. Entretanto, o aumento
da velocidade desta reação permite que haja maiores instabilidades dimen-
sionais no material (ANUSAVICE, 2005).

O metacrilato de metila é um material altamente citóxico aos tecidos bu-


cais. À medida que a saliva penetra na matriz da prótese, ela se expande,
abrindo as cadeias poliméricas. Dessa forma, os monômeros que não reagi-
ram na reação são liberados e difundidos através da saliva, onde podem pro-
vocar reações adversas no organismo, além da reação local, como a sensação
de queimação na boca, vermelhidão, inchaço, edema, vesículas e ulcerações.
Alguns pacientes podem apresentar reações alérgicas mais graves, como as
conhecidas urticárias (CHAVES et al., 2012). Por isso, aconselha-se, após o re-
cebimento da prótese ou depois de efetuado o seu reembasamento, colocar
essa prótese imersa em água por um período de 24 horas, de modo que esse
monômero residual seja liberado, provocando menos danos aos pacientes.

Além disso, a utilização de produtos que contenham monômeros de alto


peso molecular no pó, são altamente recomendáveis já que estes monôme-
ros residuais são menos absorvidos pelos tecidos bucais e consequentemen-
te menos irritantes ( CHAVES et al., 2012).

A reação de polimerização exotérmica dos materiais autopolimerizáveis


para reembasamento representa uma desvantagem, já que são utilizados di-
retamente na boca do paciente, e assim, o calor liberado pela reação é trans-
ferido diretamente à mucosa bucal. Se o aumento de temperatura for muito
elevado pode provocar danos aos tecidos orais, como a sensação de queima-
ção, inchaço, vermelhidão, causando desconforto ao paciente (CHAVES et al.,
2012).

219
Visando contornar alguns destes problemas foram lançados no mercado
materiais fotopolimerizáveis ou de presa dual. Estes materiais possibilitam o
melhor controle do tempo de presa e da reação de polimerização, permitin-
do uma redução da quantidade de monômero residual. Além disso, propor-
cionam um melhor acabamento e polimento. Entretanto, são materiais rela-
tivamente caros e que necessitam de uma maior habilidade técnica para sua
utilização. De forma geral, estes materiais apresentam a mesma composição
química dos materiais autopolimerizáveis, com a diferença que o iniciador do
processo é um fotoiniciador (canforoquinona) que é ativado por luz (LELES et
al, 2001; MURATA et al., 2007; CHAVES et al., 2012).

3.1.2. Materiais Resilientes

Materiais de revestimento macios (soft liners) têm sido utilizados na


odontologia há mais de um século, sendo os primeiros revestimentos macios
criados a partir de borrachas naturais. Atualmente os materiais de revesti-
mento macios incluem resinas acrílicas plastificadas polimerizadas e elastô-
meros de silicone, que podem ser tanto termoativados como quimicamente
polimerizáveis (EL-HADARY e DRUMMOND, 2000; CRUZ et al., 2020).

Estes materiais têm larga utilização, principalmente, por causa de sua


capacidade de restaurar a saúde da mucosa inflamada. Os materiais macios
atuam como uma “almofada” entre a base dura da prótese e os tecidos orais,
redistribuindo forças mastigatórias e diminuindo o estresse e as forças em
áreas edêntulas, como rebordos alveolares com aspecto de “lâmina de faca”
(DOOTZ, KORAN e CRAIG, 1992, CASTRO et al., 2020).

Por isso, esses materiais têm sido indicados em casos de pacientes que
possuam uma fina espessura de mucosa na região suportada pela prótese, ou
que esta não apresente uma elasticidade adequada para absorver os impac-
tos decorrentes das forças mastigatórias. Além disso, o uso destes materiais
é também recomendado em casos de bruxismo, arcada oposta com dentes
naturais, por ter seus efeitos benéficos clinicamente reconhecidos (DOOTZ ,
KORAN e CRAIG, 1992).

220
Como estes materiais fluem sob pressão, adaptando-se a superfícies
basais da mucosa, são, também, indicados para pacientes que apresentem
elevada reabsorção alveolar. Cessado o período de reabsorção alveolar ou
recuperadas as condições de saúde dos tecidos orais, estes materiais podem
ser substituídos por materiais de consistência rígida (AKIN et al., 2013).

De forma geral, a composição dos materiais resilientes acrílicos termica-


mente e quimicamente ativados são próximas e possuem algumas proprieda-
des semelhantes aos dos materiais de reembasamento rígidos. Por isso, den-
tre os materiais resilientes são os que aderem melhor às bases das próteses.

Comercialmente, são apresentados na forma de um pó e um líquido. O pó


é composto polimetacrilado de metila ou polimetacrilato de etila e o líquido
contém álcool desnaturado (etanol), benzil e o plastificante ftálico. O plasti-
ficante é uma molécula grande responsável por minimizar o entrelaçamento
das cadeias ploliméricas e, portanto permite que as cadeias individuais de
polímeros deslizem umas sobre as outras. Dessa forma, permitem alterações
rápidas conferindo maciez e o efeito amortecedor ao material (EL-HADARY e
DRUMMOND, 2000).

Entretanto, como o plastificante não participa ativamente da reação de


polimerização, a ação da saliva propicia um efeito lixiviador a este compo-
nente. Dessa forma, o material reembasador resiliente se torna rígido com o
tempo.

Isto explica o maior sucesso da utilização de materiais a base de silicone


para reembasamento em prótese total. Como não são dependentes da lixi-
viação de plastificantes borrachóides, mantêm, portanto, suas propriedades
elásticas por mais tempo.

Estes materiais podem ser termicamente ou quimicamente ativados. Os


termicamente ativados são formados por um sistema único de pasta ou gel
e os quimicamente ativados formados por duas pastas contendo dióxido de
silicone, vinil dimetil polisiloxano e hidrogênio polisiloxano, que quando mis-
turados dão origem a um polímero de dimetil siloxano que apresenta pro-
priedades elásticas (AKIN et al., 2013).

221
Apesar das excelentes propriedades elásticas e serem quimicamente es-
táveis, estes materiais não apresentam uma boa adesão à base acrílica das
próteses, necessitando de um agente adesivo de união. A descolagem de re-
vestimentos macios de silicone da prótese é uma ocorrência clínica comum.
Além disso, apresentam alterações significativas de ganho e perda de água,
assim como uma porosidade que permite o acúmulo de microorganimos,
com retenção de odores, ocasionando difícil limpeza. Por isso a longevidade
destes materiais não é muito elevada (KASUGA et al., 2011, KREVE e DOS
REIS, 2019).

Visando minimizar a colonização de microorganismos nestes materiais,


alguns fabricantes têm adicionado substâncias químicas à base de zinco, por
seus efeitos reconhecidos quanto à redução da presença de fungos, como a
Candida albicans (IMAI e TAMAKI, 1999).

Os materiais reembasadores resilientes ainda podem ser classificados


em: de curta ou longa duração. Os de curta duração são assim chamados por
serem considerados provisórios, já que são instalados logo após a realização
de exodontias ou instalação de implantes osseointegrados, que não vão re-
ceber carga de imediato. São indicados para situações em que ocorre um pro-
cesso de cicatrização ou remodelação, ou, ainda, em casos em que a mucosa
se encontra inflamada, ulcerada, necessitando de condições especiais à sua
recuperação, para que posteriormente seja realizado outro reembasamento
ou mesmo a confecção de uma nova prótese. Por isso, também, são rotinei-
ramente chamados de condicionadores de tecidos.

Estes materiais geralmente apresentam uma composição química altera-


da, com uma diminuição de monômeros no líquido, de forma a reduzir o efei-
to da presença de monômeros residuais e seus possíveis danos aos tecidos.
Em contrapartida, estes materiais apresentam baixa longevidade, sendo sua
duração de dias ou semanas.

Por isso, os materiais que apresentam uma maior concentração de mo-


nômeros e, consequentemente, maior número de cadeias poliméricas resul-
tando em maior resistência, são chamados de materiais de longa duração.

222
Estes materiais estão indicados para próteses que estão em bom estado de
conservação, apoiadas em rebordos que estão em processo de reabsorção
lenta, mas que devido ao tempo precisam ser readaptadas na expectativa de
utilização por um longo período.

3.2 Classificação quanto à técnica de confecção

3.2.1 Reembasadores diretos

Com relação à técnica de confecção, os reembasadores podem ser classi-


ficados como diretos e indiretos.

Reembasadores diretos foram idealizados para a realização do reembasa-


mento diretamente na boca do paciente. Para isso sua formulação foi criada
com o intuito de minimizar tanto o aquecimento bucal proporcionado pela
liberação de calor decorrente da reação de polimerização como a absorção
do monômero residual pela mucosa do paciente.

Essa técnica apresenta como vantagem o menor tempo para a resolução


do problema, já que o reembasamento é realizado no próprio consultório em
uma única sessão e o paciente não fica sem a prótese em nenhum momen-
to. Além disso, resulta em menor custo, já que não envolve procedimentos
laboratoriais. A técnica apresenta relativa facilidade de execução e mantém
o padrão oclusal durante a sua readaptação. Por outro lado, o odor e o sabor
do material podem ser desagradáveis para muitos pacientes. O calor liberado
pela reação que acontece diretamente em contato com os tecidos orais pode
provocar uma irritação temporária da mucosa.

3.2.2 Reembasadores indiretos

No caso do reembasamento indireto, normalmente o profissional rea-


dapta a prótese do paciente com o auxílio de um material de moldagem e
o conjunto é enviado ao laboratório para que seja realizada uma inclusão
e prensagem a fim de substituir o material de moldagem pelo material de
reembasamento. A vantagem desse procedimento é que toda a reação exo-
térmica ocorre fora da boca do paciente e há uma quantidade bem menor de

223
monômero residual, já que o processo pode ser mais facilmente controlado.
Além disso, o processo permite um melhor acabamento e polimento da pró-
tese. Como desvantagem existe a questão do custo laboratorial e o paciente
ficar sem a prótese durante o processamento da base.

Observamos assim que o conhecimento dos diferentes materiais reem-


basadores é muito importante para a escolha adequada frente às diferentes
situações clínicas. O quadro resumo 02 aponta as principais situações clínicas
encontradas na prática diária, assim como os tipos de reembasadores mais
adequados para estas situações.

Quadro 2: Relação entre a situação clínica encontrada e o tipo de reemba-


samento indicado.

Situação Clínica Indicação

Paciente com reabsorção lenta, mucosa


saudável, podendo ficar sem a prótese Reembasamento rígido indireto.
por um período de 24 horas.

Paciente com reabsorção lenta, mucosa


saudável, mas que não pode ficar sem a Reembasamento rígido direto.
prótese.

Reembasamento resiliente direto


Paciente com reabsorção lenta e em um primeiro momento e, após
mucosa traumatizada. condicionamento do tecido (7 a 15
dias), reembasamento rígido.

Paciente com reabsorção lenta


e mucosa saudável, mas que não
Reembasamento resiliente indireto
consegue se adaptar à rigidez da resina
acrílica.

Reembasamento resiliente ou rígido


Paciente com reabsorção rápida e
direto dependendo do estágio de
mucosa normal.
reabsorção do rebordo

224
4. Caso Clínico

O paciente compareceu a clínica odontológica duas semanas após a con-


fecção de prótese total superior. O paciente queixava-se de que a prótese se
apresentava “folgada” e que machucava o rebordo alveolar superior. Durante
a anamnese, o paciente relatou que havia sido encaminhado para confecção
da prótese após a realização de tratamento periodontal e extrações den-
tárias. Quando da realização do exame clínico, constatou-se que a prótese
apresentava perda de retenção e estabilidade e o rebordo alveolar mostrava
pequenas ulcerações. Assim, ficou claro que o paciente estava em um perío-
do de rápida reabsorção do rebordo alveolar decorrente das extrações den-
tárias realizadas recentemente. Os tecidos orais ulcerados eram resultantes
dos impactos decorrentes das forças mastigatórias sobre o rebordo alveolar
pela prótese desadaptada (Figuras 1 a 3).

Figura 1: Teste de retenção do selado. Figura 2: Teste de retenção lateral.

Figura 3: Presença de ulcerações na mucosa.

225
Dessa forma, como a prótese superior havia sido confeccionada recente-
mente e apresentava-se esteticamente aceitável e com relações maxiloman-
dibulares adequadas, optou-se inicialmente pelo reembasamento resiliente
direto (Figuras 4 a 7), criando condições para a recuperação dos tecidos orais
e, ao mesmo tempo, devolvendo à prótese retenção e estabilidade adequa-
das à nova topografia do rebordo alveolar.

Figura 4: Material reembasador macio Figura 5: Alívio interno na prótese a fim


selecionado para o caso. de eliminar a superfície contaminada e
criar espaço para o material reembasador.

Figura 6: Aplicação de isolante na região Figura 7: Aplicação do material


vestibular da prótese. reembasador na base da prótese.

Um detalhe importante é que não se recomenda fazer o reembasamento


com compressão digital, e sim com o próprio paciente ocluindo contra o

226
antagonista, o que garante a manutenção da oclusão atual do paciente. O
passo seguinte é a remoção dos excessos com tesoura e lâmina de bisturi
(Figuras 8 a 15), seguido do ajuste oclusal.

Figura 8: Prótese na boca em oclusão.

Figura 9: Prótese após reembasamento. Figura 10: Prótese após reembasamento.

227
Figura 11: Remoção dos excessos. Figura 12: Remoção dos excessos.

Figura 13: Remoção dos excessos. Figura 14: Remoção dos excessos.

Figura 15: Prótese em posição após o


reembasamento.

228
Aguardou-se um período de 10 a 15 dias para cicatrização dos tecidos e
posteriormente foi realizado o reembasamento indireto rígido. O material
selecionado para a moldagem foi um elastômero (polissulfeto), devido
à presença de áreas retentivas (Figuras 16 a 29). Após esse procedimento
a prótese foi enviada ao laboratório para a nova prensagem e instalação
(Figuras 30 a 34).

Figura 16: Remoção do material Figura 17: Realização de um novo selado


reembasador resiliente. periférico com godiva.

Figura 18: Elastômero (Polissulfeto) Figura 19: Pastas Base e Catalizadora do


selecionado para a moldagem do caso clínico Polissulfeto.
devido a presença de áreas retentivas.

229
Figura 20: Adesivo do Polissulfeto. Figura 21: Adesivo sendo aplicado na
parte interna da prótese.

Figura 22: Proporção do material de Figura 23: Manipulação do material de


moldagem. moldagem.

Figura 24: Colocação do material de Figura 25: Paciente com a prótese em


moldagem na prótese. posição realizando os movimentos
funcionais com os dentes ocluindo
contra o antagonista.

230
Figura 26: Aspecto clínico após a Figura 27: Base da prótese após a
polimerização do material de moldagem. polimerização do material de moldagem.

Figura 28: Remoção dos excessos com Figura 29: Prótese após a remoção dos
lâmina de bisturi. excessos.

Figura 30: Prótese acrilizada. Figura 31: Prótese acrilizada.

231
Figura 32: Ajuste das áreas de Figura 33: Ajuste oclusal.
compressão.

Figura 34: Caso finalizado. Parte laboratorial


realizada pelo laboratório de PPR da FOAR-UNESP.

232
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AKIN, H. et al. Tensile bond strength of silicone-based soft denture liner to


two chemically different denture base resins after various surface treatments.
Lasers Med. Sci., v. 28, n. 1, p. 119-23, 2013.

ANUSAVICE, K. J. Phillips Materiais Dentários: 11ª ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2005.

CASTRO, D. S. M. et al. Reabilitação do sorriso por meio da utilização de


prótese total imediata: relato de caso. Revista Eletrônica Acervo Saúde,
n.47, 2020.

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materials: A systematic review. J Prosthet. Dent., v. 107, n. 2, p. 114-27, 2012.

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Chemistry of Imitating Life Frontiers in Bioengineering and Biotechnology. V.
8, art. 147, 2020.

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solubility, and tensile bond strength of two soft lining materials. J Prosthet.
Dent., v. 83, n. 3, p. 356-61, Mar 2000.

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233
KASUGA, Y. et al. Basic evaluation on physical properties of experimental
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Adhesion and Mechanical Properties. ScientificWorld Journal. v. 2019, 2019.

LELES, C. R. et al. Bonding strength between a hard chairside reline resin and
a denture base material as influenced by surface treatment. J. Oral Rehabil.,
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MIYACHI, H. et al. Detecting mental disorders in dental patients with occlusion-


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MURATA, H. et al. Dynamic mechanical properties of hard, direct denture


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TALLGREN, A. The continuing reduction of the residual alveolar ridges in


complete denture wearers: a mixed-longitudinal study covering 25 years.
1972. J Prosthet. Dent., v. 89, n. 5, p. 427-35, May 2003.

234
Capítulo
Overdentures e Próteses
10
do tipo Protocolo
Alessandro Ribeiro Gonçalves
Caroline de Deus Tupinambá Rodrigues Gonçalves
Cacilda Castelo Branco Lima
Suyá Moura Mendes Alencar

Ao final deste capítulo você deve ser capaz de identificar as diferentes


aplicações clínicas das Próteses Totais associadas a Implantes Dentários.

Sumário do capítulo:
1. Barras e clipes.
2. Anéis de retenção.
3. Próteses do tipo Protocolo.
4. Conceito da carga imediata.
5. Novas tecnologias aplicadas
6. Manutenção
7. Considerações finais
12. Referências bibliográficas.

235
A
prótese total (PT) é comprovadamente uma alternativa reabilitadora
eficaz para pacientes desdentados. No entanto, este tipo de
prótese apoia-se sobre tecido fibromucoso, não promove pleno
restabelecimento das funções e pode lesionar tecidos moles, resultando em
dificuldade de adaptação, principalmente nas próteses inferiores associadas
a um rebordo reabsorvido, o que compromete o restabelecimento da
qualidade de vida do indivíduo.
As overdentures podem ser definidas como próteses totais removíveis,
que cobrem raízes ou implantes osseointegrados. Inicialmente, seu objetivo
era interromper um processo de reabsorção óssea decorrente da mutilação
dos dentes, que se iniciara com a substituição protética desses elementos,
por próteses fixas pequenas, passando por próteses parciais removíveis,
progredindo com o passar do tempo para a condição de edentulismo
completo (TALLGREN, 1978).

Elas podem ser utilizadas sobre raízes ou dentes remanescentes (DOLDER,


1964), desde que estes possuam uma boa implantação periodontal e posições
favoráveis. Com o surgimento dos implantes osseointegrados, estes passaram
a ser utilizados para melhorar o desempenho das próteses totais, estendendo
suas indicações para um maior número de casos (DAVIDOFF e DAVIS, 1995;
WILLIAMS et al., 2001; ZITZMANN e MARINELLO, 2002; BONACHELA e
ROSSETI, 2003).
As overdentures sobre implantes são uma alternativa viável, devido à sua
simplicidade e custo relativamente baixo se comparado com próteses fixas
sobre implante, além de poderem utilizar a própria prótese total do paciente.
Soma-se a isso o fato de as overdentures serem uma excelente alternativa
nos casos em que o rebordo alveolar se encontra severamente reabsorvido,
pois a face vestibular da prótese mantém o suporte labial.
Nestes casos, a prótese será suportada pelos implantes e pelo
rebordo remanescente, sendo classificada como uma prótese
implantomucossuportada, sendo retida por 2 a 4 implantes na região de
caninos e pré-molares, de forma simétrica, e acoplados a sistemas de retenção
para conectar a prótese aos implantes.

236
Além disso, há uma dificuldade de indicação das overdentures pela falta
de espaço para os componentes protéticos, nos casos com pouca perda óssea,
principalmente quando implantes imediatos serão utilizados, com indicação
de remoção de osso. Nestes casos, as próteses antigas podem ser utilizadas
para avaliação do espaço protético. Se o paciente não as possui ou estas
sejam inadequadas, novas próteses deverão ser confeccionadas.

PRINCÍPIOS MECÂNICOS

Muito embora não exista ainda unanimidade de opiniões a respeito do


número, disposição, tipo de implante e que desenho o conjunto desses ele-
mentos determinariam para a confecção das próteses, sabe-se que a pre-
visibilidade de sucesso dos implantes pode ser alcançada, desde que haja
condição da colocação de implante único para suportar uma overdenture
(CORDIOLI et al., 1997), até múltiplos implantes na maxila e na mandíbula,
determinando a mesma condição de uso de uma overdenture (RENOAURD
e RANGERT, 1999). O tipo de sistema utilizado deve ser escolhido de acordo
com o número de implantes e suas localizações, conveniência e/ou viabilida-
de protética e o custo.

De acordo com os princípios mecânicos, os sistemas podem ser classi-


ficados em rígidos, semirrígidos e resilientes. Os sistemas rígidos limitam a
movimentação da prótese, reduzem a incidência de forças sobre o rebordo
e requerem mais implantes para suportar as forças oclusais, pois são supor-
tados exclusivamente pelos implantes (TELLES, 2009). Os sistemas semirrígi-
dos permitem uma pequena movimentação da prótese no sentido vertical,
fazendo com que parte das cargas oclusais recaiam sobre o rebordo residual
(TELLES, 2009). Já os sistemas resilientes permitem movimentos de rotação
em torno de um eixo e de translação vertical, onde o rebordo alveolar irá ab-
sorver parte das forças oclusais, e reduzir a carga sobre os implantes. Como
exemplo deste tipo de sistema podemos citar os casos com dois implantes
ou quando não há a possibilidade de neutralizar o eixo de rotação entre estes
(TELLES, 2009).

237
TIPOS DE DISPOSITIVOS DE RETENÇÃO OU ATTACHMENT

O sistema de retenção ideal para sobredentaduras deve proporcionar


boa retentividade, fornecendo estabilidade à prótese, de tal maneira que não
ocorra grande perda de sua capacidade retentiva ao longo do tempo; deve
ser de fácil manutenção e baixo custo, caso haja necessidade de substituição;
além de apresentar pouca altura para que possa ser utilizado em espaços in-
termaxilares reduzidos, favorecendo a estética. Deve, ainda, ter capacidade
biomecânica para auxiliar na distribuição das cargas funcionais aos implantes
e osso adjacente (TABATA et al., 2007).

Existem atualmente três tipos de dispositivos de retenção disponíveis no


mercado: 1) barra e clipe; 2) anéis de retenção e 3) magneto. A escolha des-
ses dispositivos é orientada pela conveniência do caso ou pela concepção e
filosofia do profissional.

O conhecimento da qualidade e da quantidade de retenção, bem como


do tempo de vida clínico desses dispositivos, é de extrema importância du-
rante a seleção do sistema de um attachment, tendo em vista os diferentes
tipos de planejamentos e o elevado número de modelos e marcas comerciais
disponíveis no mercado (FREITAS et al., 2003).

1. BARRAS E CLIPES

1.1 Composição

O sistema consiste em uma barra fundida em metal e de um clipe plás-


tico ou metálico (Figura 1). A barra fica unida aos remanescentes dentários
através de núcleos fundidos, ou parafusada a implantes osseointegrados. Os
clipes são fixados à prótese e, quando a prótese total é encaixada, abraçam o
corpo da barra, podendo ou não se apoiarem na mesma, a fim de estabilizar
e reter a sobredentadura. Quanto maior a área de atuação dos clipes sobre a
barra, maior a retenção e estabilidade da prótese.

238
Figura 1: Sistema tipo barra/clipe.

1.2 Sistemas de Ação

Permitem a sua utilização em sistemas rígidos e semirrígidos e necessi-


tam de mais espaço disponível, devido à maior dimensão dos componentes.
Então, o espaço protético disponível é um fator determinante para sua esco-
lha. Segundo Philips e Wong (2001), não é recomendável que a espessura da
base da prótese seja inferior a 2 mm e dentes artificiais (depois de desgas-
tados) tenham espessura inferior a 3 mm, medindo-se a partir da parte mais
profunda do sulco oclusal até o colo.

Este sistema objetiva a confecção de uma prótese mais estável, distri-


buindo as cargas entre os elementos que suportam a prótese, os implantes
e o que seria obtido com a união rígida destes elementos pela barra (TELLES,
2009).

1.3 Classificação

Podem ser classificados, de acordo com a secção transversal, em esfé-


ricas, ovais e paralelas, sendo que o tipo de secção determinará o grau de
movimentação da prótese. As barras esféricas permitem uma livre movimen-
tação de rotação da prótese (sistemas semirrígidos) e não devem possuir seg-
mentos posteriores muito longos devido ao risco de fratura ou deformações.
Já as barras com secção paralela limitam a movimentação, não permitindo
rotação e nem movimentos verticais da prótese (sistemas rígidos), sendo a
prótese obtida do tipo implantossuportada, com características mecânicas

239
muito semelhantes com próteses fixas, mas com possibilidades estéticas e
facilidade de higienização comparáveis às das próteses totais convencionais.

As barras podem ser pré-fabricadas, com liga de metal apropriada para


serem cortadas e soldadas a componentes protéticos, ou fundidas, a partir
de um padrão de plástico. Também, podem ser fresadas ou usinadas a partir
de um padrão previamente fundido pelo técnico em prótese.

As barras são fundidas ou soldadas aos componentes protéticos que são


conectados aos intermediários ou diretamente aos implantes e, por isso, po-
dem ser utilizadas com qualquer marca de implante, independente dos fabri-
cantes.

Os clipes mais utilizados são feitos de náilon ou de metal. Os clipes de


náilon são muito retentivos e indicados para planejamentos com diversos
segmentos de barra, a fim de obter uma prótese total mais estável em um sis-
tema rígido. Eles podem ser encontrados com diferentes graus de retenção,
permitindo adequar o desempenho da prótese às necessidades do paciente,
e necessitam de um estojo metálico para prender os clipes à resina da base
da prótese. Esse tipo de clipe pode ser facilmente substituído e apresenta
custo mais baixo, além de ter maior resiliência que o clipe metálico (TABATA
et al., 2007).

Já os clipes metálicos são um pouco menos retentivos, mas são passíveis


de ativação para recuperar a retenção perdida pela fadiga, sem que seja ne-
cessária a sua troca.

São utilizados em próteses apoiadas por apenas um segmento de barra


em sistemas semirrígidos. Há a necessidade do uso de espaçadores no mo-
mento da fixação dos clipes para deixar espaço entre o clipe e a barra, per-
mitindo algum movimento vertical da prótese e essa possa apoiar-se sobre o
rebordo, gerando um alívio na transferência das cargas mastigatórias para os
implantes de 75 – 85%. O clipe metálico é mais durável e proporciona melhor
retenção ao sistema, porém está mais sujeito a fratura e pode desgastar a
barra (TABATA et al., 2007).

240
1.4 Planejamento com Implantes
Para a sustentação de dispositivos do tipo barra/clipe são necessários
pelo menos dois implantes, que darão origem a um sistema semirrígido, no
qual o espaço limitado entre os implantes geralmente não permite o uso de
mais de um clipe, pois extensões distais em barras sustentadas por apenas
dois implantes não devem ser realizadas. Nestes casos, recomenda-se o uso
de sistemas independentes, pois dois anéis de retenção proporcionarão me-
lhor retenção, além de transferir menos esforços mastigatórios ao osso ao
redor dos implantes, independente da força aplicada (TELLES, 2009).

Com três implantes sustentados por uma barra, podemos confeccionar


prolongamentos distais para acomodar clipes, tornando a prótese mais es-
tável, pois a localização mais posterior dos clipes neutraliza parte das cargas
mastigatórias. Com dois clipes o sistema ainda será semirrígido, pois haverá
formação de um eixo de rotação (TELLES, 2009).

E com o uso de quatro implantes objetiva-se confeccionar uma prótese


bastante retentiva e estável e sem cobertura palatina em uma prótese total
maxilar. Neste caso há duas opções de planejamento: 1) dois implantes na
região de incisivos centrais e dois na região de caninos, dando origem a dois
segmentos de barra, além das extensões distais; ou 2) dois implantes em cada
lado com um segmento anterior mais longo para a colocação de dois a três
clipes, além dos dois nas extensões distais da barra. Nestes casos, o melhor
desempenho mecânico permite a remoção da cobertura do palato, pois nes-
te sistema semirrígido os clipes atuarão em diferentes planos (TELLES, 2009).

Barras com extensão distal devem ter o comprimento limitado a 12 mm


nos casos favoráveis e, com pelo menos, quatro implantes. Para a utilização
desse sistema é necessário que a barra não tenha comprimento maior que 20
mm, o que comprometeria sua estabilidade, levando a barra a sofrer grande
deflexão. A barra deve, também, ser posicionada sobre o rebordo para que
não cause a lingualização da prótese e ocupe o espaço funcional da língua.
Ainda, quando vestibularizada, a barra interfere na montagem dos dentes
artificiais, comprometendo a estética e o equilíbrio da prótese (TABATA et
al., 2007).

241
Segundo Bonachela e Rossetti (2003), a barra deve ser posicionada a pelo
menos 2 mm de altura em relação ao rebordo alveolar, para permitir adequada
higienização. Isso faz com que o espaço necessário para utilização do sistema
barra-clipe seja de, pelo menos, 5,5 mm, para acomodar os componentes do
sistema, somado ao espaço correspondente à altura dos dentes artificiais que
serão utilizados. Pode-se, então, dizer que a altura final de uma overdenture
com o sistema barra-clipe será de, no mínimo, 14 mm.

Mesmo em situações em que existem múltiplos implantes instalados, as


overdenture podem estar indicadas em detrimento a próteses fixas. Esse tipo
de situação ocorre em rebordos muito reabsorvidos em que há uma grande
deficiência de suporte labial, que muitas vezes não pode ser suprido somente
com a instalação de coroas protéticas sobre implante, pois resultaria em um
comprometimento estético severo.

1.5 Planejamento com dentes

O planejamento utilizando o sistema barra/clipe sobre dentes é similar ao


planejamento com implantes, ficando aquele limitado à existência de raízes
residuais que possam ser utilizadas para essa finalidade. Como normalmente
é difícil de encontrar situações ideais para se trabalhar o sistema de barra
com dentes, o mais comum é se utilizar, nos elementos remanescentes, o
sistema de anéis de retenção.

2. ANÉIS DE RETENÇÃO

2.1 Composição

Os sistemas do tipo anéis de retenção, também conhecidos como


O´rings ou colchetes, são compostos basicamente por encaixes do tipo
macho/fêmea, sendo o componente macho um encaixe esférico (tipo bola)
ou em anel cilíndrico, normalmente fixado ao implante, e apresentando
a forma de uma projeção com o pescoço mais estreito, no qual o anel de
borracha do componente fêmea se adapta (Figura 2). O componente fêmea
geralmente possui um anel de borracha envolvido por uma cápsula metálica,
que é incorporada na base da prótese e pode apresentar dimensões e formas
diferentes (MISCH, 2000).

242
Figura 2: Sistema tipo anéis de retenção: componente macho na boca do paciente e
componente fêmea na prótese total.

2.2 Sistema de Ação

Em geral, os anéis de retenção são concebidos para funcionarem como


um sistema resiliente e estão particularmente indicados nos casos com dois
implantes, pois é o número mais indicado para se obter um sistema resiliente
funcional.

2.3 Capacidade Retentiva

Cada anel de retenção determina um movimento de rotação para a pró-


tese, em torno de seu próprio eixo, determinado pelo ponto de incidência
das cargas oclusais (TELLES, 2009).

Esse tipo de encaixe permite movimentos verticais e rotacionais da so-


bredentadura, mas exige que os implantes estejam relativamente paralelos
entre si, para permitir a inserção da prótese.

Estima-se que o padrão de funcionamento mecânico dos anéis de reten-


ção promova um alívio de cerca de 75% a 85% das cargas oclusais para os
implantes (TELLES, 2009).

Pode-se utilizar um implante com um anel de retenção para reter uma


sobredentadura. Entretanto, do ponto de vista mecânico, a retenção propor-
cionada não seria suficiente e, principalmente, mal distribuída.

243
2.4 Indicações
Os anéis de retenção estão indicados quando a distância entre os implan-
tes ou raízes é muito grande, dificultando a obtenção de um segmento reto
de uma barra, ou muito pequena, que não justifique a confecção de uma bar-
ra para acomodar apenas um clipe. Também pode ser usada como comple-
mento para outros sistemas de encaixes (TELLES, 2009).

Outro fator a ser levado em consideração é a necessidade de um espaço


mínimo para uso deste sistema, que possui altura de 6 mm em média e, quan-
do somado à resina acrílica e ao dente artificial, necessita de, pelo menos, 15
mm de altura (TABATA et al., 2007).

2.5 Vantagens

Este sistema apresenta vantagens, como a possibilidade de uso com os


implantes isolados, o que diminui o custo do tratamento pela eliminação da
confecção de uma barra; oferece, ainda, a possibilidade da adequação da re-
tenção com a utilização de diferentes anéis de retenção, além de possuir me-
lhor capacidade biomecânica. Transfere menos estresse ao implante e produz
menor momento de força que o sistema barra/clipe, sugerindo que seu uso
pode ser vantajoso para as sobredentaduras implantorretidas, diminuindo a
transmissão de estresse ao tecido ósseo ao redor dos pilares e minimizando a
movimentação da prótese. Além disso, pela utilização de implantes isolados,
a higienização de próteses confeccionadas com esse sistema é mais simples
de ser realizada pelo paciente (TOKUHISA et al., 2003; TABATA et al., 2007).

Os anéis de retenção podem ser encontrados com diferentes alturas da


cinta do intermediário para que se possa estabelecer uma boa relação dos
componentes de retenção presos nas próteses com os tecidos gengivais. A
base de encaixe dos componentes retentivos deverá ficar acima do nível gen-
gival cerca de 1 mm, pois essa é a altura suficiente para manter a saúde dos
tecidos ao redor do intermediário, podendo ser aumentada em casos sem
uma faixa de gengiva inserida ao redor de todo o perímetro do intermediário
(TELLES, 2009).

244
2.6 Desvantagens
Esse sistema nem sempre funciona a contento nas próteses totais supe-
riores, uma vez que a formação de um eixo de rotação ao redor dos implan-
tes pode comprometer a retenção obtida pelo selamento periférico (TELLES,
2009).

Outra desvantagem seria a alta incidência e constante manutenção re-


lacionada à substituição do O’ring (TABATA et al., 2007), embora seja uma
desvantagem relativa, já que a substituição é realizada de maneira simples e
rápida.

2.7 Tipos de anéis de retenção

Os sistemas do tipo anéis de retenção são encontrados em basicamente


três tipos de materiais que apresentam algumas diferenças entre si: (1) com-
ponentes retentivos borrachóides; (2) componentes retentivos metálicos; (3)
componentes retentivos de náilon.

2.7.1 Componentes retentivos borrachóides

Composto por um intermediário tipo encaixe esférico e um anel de borra-


cha ou silicone alojado em um anel metálico, que fica preso à base de resina
acrílica da Prótese Total. A retenção é dada pela resistência de deslocamento
entre o anel e a esfera retentiva.

Comercialmente, são encontrados mais comumente com as denomina-


ções de O´rings, encaixes tipo bola (ball attachment) e encaixes esféricos. Um
dispositivo do tipo O´ring é composto por uma esfera sobre o implante e um
anel metálico que retém um elemento resiliente de borracha ou silicone, que
se adapta ao pescoço da esfera, promovendo retenção com a movimentação
(Figura 3).

245
Figura 3: Abutment do tipo O`ring e capsula metálica com borracha de retenção em
posição.

O anel metálico deve ser preso à resina da base da prótese, diretamente


na boca, com resina acrílica autopolimerizável, devendo a prótese ser manti-
da em oclusão durante a polimerização da resina. Normalmente os sistemas
comerciais disponibilizam espaçadores e borrachas de proteção para facilitar
o procedimento. Os espaçadores têm a função de evitar ou diminuir o conta-
to direto, entre a bola metálica do macho com o fundo da capsula metálica
da fêmea, o que poderia comprometer a vida útil dos componentes. Além
disso eles são disponibilizados com diferentes inclinações, podendo inclusive
corrigir em parte a falta de paralelismo entre os implantes. As borrachas de
proteção têm a função de evitar que a resina acrílica penetre na parte mais
estreita do macho e impossibilite a remoção e inserção da prótese total (Fi-
guras 4 e 5).

Figura 4: Borracha de proteção e espaçadores. O cinza tem 0° de inclinação, o verde 7° e o


vermelho 14°.

246
Figura 5: Conjunto macho/ fêmea/ espaçador cinza e borracha de proteção posicionados
do lado direito do paciente aguardando a captura na prótese total. À direita, foto dos
componentes fêmea presos no interior da prótese total após a captura com resina acrílica
autopolimerizável.

As borrachas são de baixo custo e fácil manutenção, mas com durabili-


dade reduzida, especialmente quando os implantes ou dentes apresentam
algum grau de divergência entre si. Isso aumenta o número de consultas de
retorno para a troca do anel retentivo de borracha. São contraindicados em
implantes ou dentes com mais de 20º de divergência.

2.7.2 Componentes retentivos metálicos

São compostos por um encaixe esférico e um colchete metálico que fica


preso à base de resina acrílica da prótese total. A retenção é dada pela resis-
tência de remoção do colchete à esfera retentiva. Comercialmente são en-
contrados mais comumente com as denominações de Dal-Ro e Dalla Bona.

O sistema possui discos metálicos flexíveis para facilitar a incorporação


dos dispositivos de retenção à base da prótese, diretamente na boca, sem
que a resina escoe para áreas retentivas da esfera, uma vez que nesse tipo
de procedimento a resina acrílica deve ser utilizada em consistência fluida. A
prótese deve ser mantida em oclusão durante a polimerização da resina.

Os componentes retentivos têm custo inicial mais alto e, quando apre-


sentam problemas relativos ao uso, devem ser totalmente substituídos. En-
tretanto, resistem mais no meio bucal e podem ser ativados algumas vezes,
quando perdem a retenção. São contraindicados em implantes com mais de
20º de divergência.

247
2.7.3 Componentes retentivos de náilon

São compostos por um intermediário tipo encaixe esférico ou anelar e


um anel de náilon alojado em um estojo ou housing metálico, que fica preso à
base da resina acrílica da prótese total. A retenção é dada pela resistência de
deslocamento do anel de náilon da esfera retentiva.

Comercialmente, são encontrados mais comumente com as denomina-


ções de Sistema ERA®, Sistema Locator® e Sistema Rhein®.

A incorporação à base da prótese, também, é feita diretamente na boca,


contemplando-se as particularidades de cada sistema. Em alguns sistemas,
essa incorporação pode ser feita durante o processo de acrilização da próte-
se, dependendo para isso de uma moldagem prévia de transferência.

Os anéis de retenção de náilon têm uma excelente relação de custo/be-


nefício, são de fácil manutenção e apresentam boa durabilidade. Além disso,
podem ser substituídos, ainda novos, se o paciente se queixar de retenção
insuficiente, ou quando perderem suas capacidades retentivas, o que nor-
malmente se dá por fadiga mecânica em um período que varia de seis meses
a um ano, dependendo da solicitação da prótese durante a mastigação e da
maneira como a prótese é manuseada.

Como os outros sistemas, os anéis de retenção de náilon funcionam mal


em implantes posicionados com uma divergência maior que 20º. Entretan-
to, tais sistemas oferecem componentes que permitem correções de parale-
lismo entre os implantes, seja pelo uso de componentes angulados ou pela
forma de captura. Isso torna esses sistemas bastante versáteis, por serem
capazes de contemplar situações complexas para outros sistemas. Segundo
Ortensi el al. (2019), os sistemas de overdentures sobre implante do tipo bola
(O’ring) apresentaram, em um prazo de três a cinco anos, um alto índice de
sucesso tanto para os implantes como para as próteses, com um baixo núme-
ro de complicações mecânicas e biológicas, alta satisfação dos pacientes e
bons parâmetros biológicos.

Um outro dado interessante foi revelado por Franchesco et al. (2019).


Após realizarem uma revisão sistemática, os autores concluíram que a taxa
de sobrevivência dos implantes e das overdentures e a satisfação dos pacien-

248
tes com uma overdenture maxilar suportada por quatro implantes não foram
influenciadas pelo tipo de projeto, e não detectaram diferença estatística en-
tre os grupos dos implantes esplintados e os isolados. Em outra meta análise,
Oh et al. (2015) concluíram que a perda óssea na região posterior da mandí-
bula com uma overdenture suportada por dois implantes é semelhante ao
uso de uma prótese total convencional; já a utilização de quatro implantes
diminui significativamente a reabsorção. Vale ressaltar aqui a importância de
controles periódicos para reavaliar essas questões.

ASPECTOS TÉCNICOS PARA OVERDENTURE

Nos casos que envolvam implantes, é importante utilizar os princípios do


planejamento reverso, planejando a reabilitação antes da instalação dos im-
plantes. Pode-se utilizar inclusive a prótese antiga do paciente, duplicada em
acrílico incolor, para ser utilizada como guia cirúrgico e assim conseguir uma
posição favorável dos implantes pensando na futura prótese definitiva (Figu-
ras 6 a 13).

Figura 6: Próteses antigas da paciente em boca e foto do rebordo inferior.

Figura 7: Prótese inferior atual do paciente.

249
Figura 8: Prótese inferior duplicada em acrílico incolor.

Figura 9: Tomografia computadorizada com reconstrução 3D da mandíbula para


planejamento de implantes osseointegrados.

Figura 10: Prótese duplicada já com as perfurações para servir de Guia cirúrgico para a
instalação dos implantes osseointegrados.

250
Figura 11: Guia cirúrgico em boca.

Figura 12: Perfuração óssea usando o guia cirúrgico e instalação de pinos guia para checar
o paralelismo das perfurações.

Figura 13: Avaliação do paralelismo das


perfurações após a remoção do guia.

251
Nas overdentures os processos para obtenção de registros intermaxila-
res e a marcação das linhas de referência nos planos de orientação e demais
procedimentos de sua execução são executados de forma exatamente iguais
aos da Prótese Total convencional. A única diferença seria que, nas overden-
tures, o grau de dificuldade na obtenção das bases de prova e sua utilização
é menor, dada a possibilidade de se aparafusar ou encaixar a base nos inter-
mediários, attachments ou componentes protéticos. Sendo assim, se ganha
muito na exatidão dos registros. Após a instalação da prótese convencional,
se faz a captura dos encaixes do tipo O´ring (Figuras 14 a 23).

Figura 14: Bases de prova com os dentes


montados em cera.

Figura 15: Prótese total inferior finalizada.

252
Figura 16: Prótese superior e inferior na fase de ajuste das áreas de compressão.

Figura 17: Aspecto da prótese total inferior antes e após o ajuste oclusal.

Figura 18: Borracha de proteção, capsula com a borracha de retenção e espaçadores.

253
Figura 19: Na imagem da esquerda, abutments O`rings instalados e à direita capsula
metálica com espaçador e borracha de proteção em posição aguardando a captura.

Figura 20: Inserção de resina acrílica autopolimerizável em


nichos criados na região que vai alojar as capsulas na prótese
total inferior.

Figura 21: Próteses totais na boca em oclusão aguardando o


acrílico polimerizar.

254
Figura 22: Visão aproximada das próteses em oclusão e a prótese inferior com as capsulas
fixadas.

Figura 23: Aspecto final das próteses totais em boca. Trabalho acrilizado pelo Técnico
Devandro José de Freitas.

3. PRÓTESES TIPO PROTOCOLO

Com o advento dos implantes, idealizados por Branemark na década de


60 e com a consolidação desse tratamento na década de 80, surgiu uma nova
alternativa para reabilitação de inválidos orais. Os pacientes que tinham ina-
bilidade para tolerar o uso de próteses totais convencionais ou que deseja-
vam maior retenção, estabilidade, função e estética, principalmente para a
arcada inferior passaram a ser reabilitados com próteses totais fixas implan-
tossuportadas (BERGMAN, 1983).

Essa reabilitação, conhecida como Protocolo de Branemark, surgiu inicial-


mente em 1967 e consiste na instalação de 5 a 6 implantes osseointegra-
dos na região anterior da mandíbula, fixados entre os forames mentonianos,
os quais suportam uma prótese total, em acrílico, sustentada por uma barra
metálica, com dois cantiléveres distais, para substituir os dentes posteriores
(Figuras 24 a 27).

255
Figura 24: Barra metálica de um protocolo inferior de Branemark. Nesse caso foram
utilizados 5 Implantes.

Figura 25: Visão lateral dos modelos montados em articulador.

Figura 26: Visão lateral do protocolo inferior concluído posicionado no articulador para
ajuste oclusal.

256
Figura 27: Protocolo metaloplástico inferior concluído, visão frontal e oclusal. Trabalho
laboratorial realizado por Laboratório Vagner LTDA.

A literatura relata a possibilidade de se utilizar até três implantes para a


confecção do protocolo, apesar de tornar a confecção da prótese um pouco
mais complexa (POPPER et al., 2003). Com a ampla concorrência das inúme-
ras empresas fabricantes de implantes, houve uma significativa redução de
custos tanto dos implantes como dos componentes protéticos nos últimos
anos, assim, consideramos a instalação de quatro implantes a melhor relação
de custo-benefício para o paciente por facilitar os procedimentos clínicos e
laboratoriais protéticos sem aumentar muito o custo do tratamento. A rea-
bilitação com quatro implantes é baseada no conceito chamado all on four,
amplamente relatada na literatura (GALINDO e BUTURA, 2012; SPINELLI et
al., 2013; DRAGO, 2017). Relatos clínicos sobre reabilitações utilizando o
Protocolo de Branemark corroboram o sucesso desse tratamento, visto que
80% a 90% dos implantes apresentaram sobrevida de 5 a 12 anos após o pri-
meiro ano de colocação (JEMT et al., 1989; VAN STEEBERGHE et al., 1990).
Um detalhe importante do conceito é que o cantilever deve ter no máximo
20 mm evitar fratura da infraestrutura (GALLUCCE et al., 2009).
O objetivo inicial a ser atingido na reabilitação com implantes osteointe-
grados era o de superar o desafio de tornar as próteses inferiores mais está-
veis, melhorando a qualidade de vida dos chamados inválidos orais, sendo,
portanto, uma prótese na qual o aspecto funcional predominava.

257
Mesmo tendo sido a primeira modalidade de tratamento da era dos im-
plantes osteointegrados, ainda hoje, a prótese do tipo protocolo metaloplás-
tica inferior encontra boa indicação em função das seguintes condições:

• Compatibilidade com a superfície oclusal nos casos em que o


paciente utiliza uma PT convencional como antagonista;

• Baixo custo, se comparada às próteses metalocerâmicas,


especialmente com a utilização de componentes protéticos de ligas
seminobres, o que desobriga que a barra protética seja fundida
com metais nobres;

• Excelente funcionalidade;

• Pode ser indicada para a maioria dos casos mandibulares em função


da disponibilidade óssea;

• Maior facilidade para realizar casos com aplicação de carga imediata;

• Pode ser feita com qualquer sistema;

• É muito previsível;

• Execução simples, pois demanda menos preocupação com a


estética.

Atualmente o conceito da prótese do tipo protocolo pode ser ampliado


para a maxila, sendo necessária para isso a instalação de, idealmente, seis
implantes osseointegrados, mas, em situações especiais em que se consiga
uma ótima distribuição dos implantes, pode-se utilizar até quatro deles uti-
lizando o conceito All on Four (GALINDO e BUTURA, 2012; SPINELLI et al.,
2013; DRAGO, 2017). O caso clínico apresentado utiliza cinco implantes para
a reabilitação maxilar (Figuras 28 a 35).

258
Figura 28: Visão lateral da base de prova superior em articulação com o modelo inferior.

Figura 29: Visão oclusal da base de prova superior e do antagonista. A opção protética
inferior foi fazer as próteses fixas unidas com o objetivo de corrigir as inclinações dos
implantes e possibilitar a confecção de uma prótese fixa sobre implante parafusada a fim
de facilitar futura manutenção.

Figura 30: Visão oclusal das infraestruturas metálicas superior e inferior.

259
Figura 31: Visão oclusal das próteses finalizadas. A superior é uma metaloplástica e as
inferiores metalocerâmicas.

Figura 32: Visão oclusal das próteses finalizadas. A superior é uma metaloplástica e as
inferiores metalocerâmicas.

Figura 33: Visão oclusal e cervical do protocolo superior.

260
Figura 34: Visão frontal do caso clínico finalizado no articulador e em boca.

Figura 35: Fotos frontais do suporte do lábio e do sorriso. Trabalho laboratorial realizado
por Laboratório Vagner LTDA.

Dependendo da condição econômica do paciente, existe a possibilidade de con-


fecção de protocolo metalocerâmico; de protocolo metalocerâmico com a parte
gengival em resina acrílica a fim de dar uma melhor estética gengival; e do protocolo
totalmente cerâmico utilizando infraestruturas de zircônia (Figuras 36 e 37).

Figura 36: Protocolo metalocerâmico com gengiva em acrílico. Trabalho laboratorial


realizado por Laboratório Vagner LTDA.

261
Figura 37: Protocolo exclusivamente metalocerâmico. Trabalho laboratorial realizado por
Laboratório Vagner LTDA.

4. CONCEITO DE CARGA IMEDIATA

Após a identificação dos fenômenos responsáveis pela osseointegração,


novos horizontes se abriram em função da possibilidade de se iniciar um tra-
tamento no qual dentes naturais extremamente danificados pudessem ser
substituídos por implantes que, rapidamente, pudessem receber próteses.

A estabilidade primária e o período de cicatrização sem carga dos implan-


tes dentais por aproximadamente 3 a 6 meses têm sido considerados, por
anos, importantes para permitir a osseointegração dos implantes. Entretan-
to, estudos recentes têm encorajado o encurtamento do período de cicatri-
zação e, em consequência, o carregamento imediato tem sido proposto para
pacientes completamente edêntulos (BASSO et al., 2008).

Altas taxas de sucesso são geralmente relatadas no carregamento ime-


diato. Apesar das evidências, muitas controvérsias ainda existem sobre a
confiabilidade dos dados relatados, frequentemente devido ao acompanha-
mento insuficiente, inadequado tamanho da amostra e à falta de critérios de
sucesso bem definidos (BASSO et al., 2008).

A complexidade do assunto vem gerando repercussões, motivando pes-


quisadores e profissionais da área a estabelecer metodologias que possam
assegurar uma previsibilidade de sucesso na confecção de overdentures e
protocolos sobre implantes carregados precocemente (BONACHELA e ROS-
SETTI, 2003; GALINDO e BUTURA, 2012; SPINELLI et al, 2013; DRAGO, 2017).

262
O aspecto psicossocial é um fator determinante nas novas tendências
reabilitadoras imediatas. O período de espera entre os dois estágios cirúrgi-
cos tem sido considerado inconveniente para os pacientes, pela demora para
se completar a reabilitação protética e pela dificuldade e/ou impossibilidade
de se usar uma prótese provisória durante o tempo de cicatrização e osseoin-
tegração.

Por isso, recentemente, a atenção dos clínicos tem se voltado a novos


métodos, como os procedimentos cirúrgicos de um estágio e o carregamento
imediato de implantes no momento da instalação, buscando reduzir o tempo
de tratamento (SIDDIQUI et al., 2001).

Porém, com o carregamento imediato dos implantes, os micromovimen-


tos podem ser potencializados, aumentando a chance de ocorrer o encap-
sulamento fibroso, fato que impede a aposição óssea direta. A esplintagem
pode reduzir os movimentos rotacionais e transferir cargas aos implantes em
direção vertical, sendo um efetivo meio de diminuir os efeitos mecânicos de-
letérios do estresse em implantes de carga imediata, possibilitando adequa-
da estabilidade (CHIAPASCO e GATTI, 2003).

Um acompanhamento rigoroso se faz necessário nestas próteses, prin-


cipalmente no primeiro ano de vida das fixações, onde problemas de ordem
oclusal ou instabilidade da base protética poderiam atuar desfavoravelmente
na sobrevida dos implantes.

Existem evidências científicas crescentes de que as overdentures podem


ser instaladas sobre implantes carregados imediatamente. Contudo, existe a
necessidade de uma maior quantidade de estudos longitudinais que possibili-
tem uma melhor definição dos critérios que contribuem para o sucesso desse
tipo de tratamento.

5. NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS

Estamos diante de uma nova revolução nos trabalhos protéticos com a


incorporação de tecnologias 3D de captação de imagem. Essas imagens nos
permitem criar modelos virtuais que podem tanto ser impressos como freza-

263
dos em acrílico. Hoje a utilização de impressoras 3D nos permite, por exemplo,
a impressão de moldeiras individuais, guias cirúrgicos, placas miorrelaxantes
e até mesmo próteses totais. As frezadoras nos permitem também trabalhar
com blocos de acrílico e chegar aos mesmos resultados, embora com um in-
vestimento superior em termos de equipamentos (Figuras 38 a 42).

Figura 38: Tomografia computadorizada com reconstrução 3D da mandíbula para


planejamento de implantes osseointegrados e confecção digital de guia cirúrgico.

Figura 39: Confecção digital de guia cirúrgico para cirurgia guiada de instalação de
implantes osseointegrados.

264
Figura 40: Impressora 3D à laser.

Figura 41: à esquerda guia cirúrgico impresso em impressora


3D com anilhas metálicas coladas para realização de cirurgia
guiada de implantes. À direita, simulação de cirurgia guiada em
mandíbula artificial.

Figura 42: Moldeira


individual impressa e
encaixada em modelo
de gesso.

265
6. MANUTENÇÃO

Na instalação e entrega das overdentures, seguem-se procedimentos se-


melhantes às próteses totais convencionais, como: eliminar possíveis exces-
sos da base da prótese; testar a retenção do sistema de conexão e a estabi-
lidade da prótese; checar a oclusão; ensinar o paciente a retirar e colocar a
prótese; fazer testes fonéticos e ensinar as técnicas de higiene bucal (BONA-
CHELA e ROSSETTI, 2003).

Os tratamentos com implantes osteointegrados apresentam excelentes


resultados a longo prazo, com baixas taxas de falhas, tanto para os implantes
como para as próteses. Todavia, não são isentos de complicações, requeren-
do manutenções eventuais e retornos periódicos, o que deve ser previamen-
te discutido com o paciente e incorporado ao plano de tratamento (TELLES,
2009).

6.1 Higiene

Antes da instalação dos implantes, a conscientização e orientação do pa-


ciente da necessidade e importância da aplicação dos princípios básicos de hi-
giene bucal constituem-se em elemento essencial para o sucesso dos implan-
tes. Muitas vezes, essa conscientização representa uma inversão dos hábitos
que contribuíram para levar o paciente à condição de edentado.

Durante o período entre as fases cirúrgicas, se houver, realiza-se um con-


trole mecânico adequado da higiene em intervalos apropriados, monitoran-
do a presença ou ausência de inflamação.

Em seguida ao posicionamento dos cicatrizadores, adotam-se cuidados


caseiros adicionais, especialmente antes da remoção das suturas, utilizando-
-se a clorexidina no controle da microbiota e da placa bacteriana.

O uso de uma escova dental com cerdas macias é um meio efetivo para
se limparem facilmente as áreas acessíveis, como os elementos de retenção
isolados.

266
Para as barras, o uso de gaze ou superfloss (Figura 43) como meio de hi-
gienização é bastante efetivo. A gaze pode ser cortada em tiras para permitir
a passagem através de áreas interproximais, de vestibular para lingual.

Figura 43: Higienização da barra com superfloss e gaze.

Para o caso de próteses do tipo protocolo, na presença de implantes


próximos, escovas interproximais estão disponíveis com várias formas, além
do Superfloss (Oral B). Para que isso seja possível, deve-se deixar o espaço
adequado para a higienização durante a confecção e instalação das próte-
ses (Figura 44). A principal precaução ao utilizar estas escovas é o arame da
sobre-estrutura que retém as pequenas cerdas que, quando exposto, pode
causar ranhuras nos intermediários de titânio, ou mesmo nos implantes. O
ideal seria o uso de escovas sem a sobre-estrutura metálica (TELLES, 2009).

Figura 44: Teste do espaço disponível para higienização


de uma prótese do tipo protocolo superior.

267
Entre as complicações mais comuns estão os problemas relacionados ao
tecido mole. A ausência de tecido ceratinizado ao redor dos implantes cria
uma região mais sensível e propensa à inflamação. Deve-se orientar o pacien-
te a realizar uma higienização mais cuidadosa no local na tentativa de mini-
mizar o problema. Em casos persistentes, uma cirurgia de tecido mole pode
ser indicada.

Revisões periódicas e reforço no protocolo de higiene bucal são neces-


sários para pacientes que apresentam um controle de placa bacteriano ina-
dequado. Pastas profiláticas e substâncias similares devem ser evitadas, pois
contêm abrasivos que danificam o titânio (TELLES, 2009).

As próteses com dispositivos do tipo anéis de retenção e magnéticos são


mais fáceis de ser higienizadas que os sistemas tipo barra/clipe, o que é parti-
cularmente importante em pacientes com dificuldades motoras.

6.2 Consultas de retorno

O paciente deve ser orientado a retornar após uma ou duas semanas da


instalação das próteses. Nesta consulta, verificam-se novamente a oclusão e
adaptação da prótese aos componentes e ao rebordo.

Controles posteriores devem ser repetidos com 1, 3, 6 e 12 meses após a


entrega das próteses ao paciente. Depois do primeiro ano, as visitas podem
ser anuais para o monitoramento da
integridade das próteses, controle de
placa e análise radiográfica (TELLES,
2009). Eventualmente, pode ser
necessária a remoção de próteses
do tipo protocolo parafusado, para a
remoção de tártaro da prótese e ao
redor dos implantes (Figura 45).

Figura 45: Prótese do tipo protocolo inferior


removida para manutenção. Presença de
tártaro na lingual.

268
No exame radiográfico, avalia-se a perda óssea vertical, cuja progressão
normal no decorrer do primeiro ano encontra-se em torno de 1,0 mm a 1,5
mm. Espera-se que, após o primeiro ano, a mesma seja inferior a 0,1 mm ao
ano, o que oferece um bom prognóstico a longo prazo (TELLES, 2009).

Instrumentos plásticos são preferíveis na remoção do cálculo que


eventualmente se forme, uma vez que o plástico é macio e não danifica a
superfície do titânio.

6.3 Fratura das bases das próteses

A principal complicação concernente às bases das sobredentaduras são as


fraturas que ocorrem como consequência da incorporação de elementos de
retenção, como anéis de retenção ou clipes, que enfraquecem as bases das
próteses. O problema pode também ocorrer com próteses do tipo protocolo,
principalmente se não forem seguidas as recomendações de extensão distal
máxima de 20 mm (GALLUCCE et al., 2009; TELLES, 2009). Ocorre com certa
frequência a fratura de próteses totais convencionais superiores quando são
antagônicas a próteses do tipo protocolo inferior. Isso ocorre provavelmente
por um aumento da carga mastigatória após a instalação da prótese sobre
implante (RISMANCHIAN et al., 2009; BILAHN et al., 2010; GECKILI et al., 2012;
GECLBOVEM et al., 2015; GRACHT et al., 2016; MELO et al., 2016; KUSUMOTO
et al.,2020).

O reparo das próteses overdentures fraturadas segue as mesmas


orientações para as próteses totais convencionais. Dentro de um limite ditado
pelo bom senso do profissional, a base da prótese pode ter volume aumentado
na região da fratura para tentar prevenir a recorrência do problema.

Nos casos persistentes, nos quais os reparos são feitos e a prótese volta
a fraturar no mesmo local, é indicada a confecção de uma estrutura metálica,
com um conector maior reforçando toda a prótese.

269
6.4 Manutenção dos dispositivos de retenção

Os dispositivos de retenção são responsáveis pela maior parte das manu-


tenções nas sobredentaduras, pois apresentam sinais de fadiga após uso con-
tínuo. Estes dispositivos são os componentes da prótese que mais absorvem
as tensões geradas ao sistema pela mastigação e hábitos oclusais parafuncio-
nais. Isso leva a uma degradação e/ou perda das suas capacidades de prove-
rem retenção e estabilidade às próteses. Por isso, necessitam ser ajustados
ou substituídos periodicamente.

Durante as etapas instalação da prótese e nas consultas de retorno, deve


ser enfatizada ao paciente a necessidade de a prótese ser encaixada através
de pressão digital bilateral, pois o hábito de encaixar a prótese pressionando-
-a através da oclusão dos dentes é extremamente prejudicial.

A padronização dos componentes pré-fabricados permite a substituição


com facilidade, embora a grande quantidade de marcas e fabricantes acabe
por causar confusões nos consultórios. Por isso, é importante que o dentista
conheça as marcas e fabricantes e características específicas de cada compo-
nente.

Os clipes e anéis metálicos podem ser ativados para recuperarem a reten-


ção. Alguns anéis de retenção emborrachados degradam-se mais rapidamen-
te, pois sofrem embebição dos fluidos orais. Quando precisam ser trocados,
provavelmente já se soltaram ou se romperam, assim, devem ser removidos
com uma sonda e substituídos com instrumentos de ponta romba. Já os cli-
pes e anéis de náilon são substituídos quando fraturam ou perdem retenção,
o que ocorre em cada 6 a 18 meses com o uso contínuo da prótese. As pe-
ças antigas devem ser removidas cortando-as com brocas para removê-las
do casulo metálico sem que este seja danificado. Caso haja necessidade de
reposicionamento do anel de retenção, deve-se remover o casulo da resina
para que seja novamente capturado na boca. Para isto, utiliza-se um ferro de
soldar (TELLES, 2009).

Além destes, os parafusos que prendem as barras aos intermediários


também apresentam complicações e a causa do problema deve ser identi-

270
ficada para prevenir sua recorrência. Geralmente esse problema ocorre por
uma falha no ajuste oclusal na fase de adaptação do paciente ou erro no pla-
nejamento. O afrouxamento dos parafusos predispõe à sua fratura e comu-
mente leva a complicações nos tecidos moles, como seu crescimento entre
os componentes, sensibilidade ao toque, formação de fístulas e acúmulo de
placa (Figuras 46 a 48).

Figura 46: Paciente procura atendimento para


a prótese do tipo protocolo inferior por estar
sentindo desconforto gengival e movimentação.

Figura 47: Arco superior e protocolo inferior. Chama à atenção a grande extensão distal do
cantilever principalmente do lado esquerdo. A paciente relatou ter refeito recentemente
a prótese superior com um segundo profissional por não ter se adaptado à prótese que foi
confeccionada junto com o protocolo. Ela não retornou ao primeiro profissional por este
morar em outra cidade.

271
Figura 48: Aspecto após a remoção da prótese inferior. Pode-se ver a fratura de dois
parafusos e a fratura do implante anterior do lado esquerdo. A causa foi provavelmente
resultado da combinação de um cantilever extenso somado a um ajuste oclusal.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O edentulismo resulta em perda de propriocepção dental, perda óssea


alveolar progressiva e transferência de todas as forças oclusais dos dentes
artificiais para a mucosa oral. A instalação de implantes para a reabilitação
de pacientes edêntulos em associação à overdenture pode ser considerada
segura e eficaz, proporcionando conforto e segurança devido ao aumento
da retenção e estabilidade das próteses e menos trauma para os tecidos su-
portes, além de promover ótima estética e melhor função mastigatória, fácil
manutenção, melhorando, sobretudo, a sua qualidade de vida, com redução
do número de restrições em suas atividades sociais e aumento da autocon-
fiança.

O planejamento protético prévio para definição da indicação de overden-


tures deve ser amplo, avaliando as condições bucais presentes e as expecta-
tivas do paciente.

Não existe no presente momento um consenso sobre o melhor sistema


de retenção para overdentures mucoso-implantossuportadas, sendo a análi-
se das características individuais de cada paciente (anatomia do rebordo al-
veolar, presença de dentes naturais na arcada oposta à overdenture, fator
econômico, etc.) o fator mais importante na decisão sobre qual o tipo de sis-
tema de retenção a ser empregado.

272
Os erros comuns na confecção de overdentures implantossuportadas
são: plano de tratamento deficiente, moldagem final imprecisa, modelos de
estudo e de trabalho distorcidos, estrutura inadaptada e escolha deficiente
de material e técnica.

O sucesso do tratamento depende de vários fatores, entre eles uma


integração cirurgião-dentista/protético, pois apesar de ser uma técnica
relativamente simples precisa ser bem planejada e executada. Outro fator
a ser considerado é inerente ao paciente, pois a manutenção das peças
protéticas depende da higienização correta e minuciosa, assim como de
obedecer às recomendações necessárias e realizar retornos periódicos para
controle.

Tanto as próteses do tipo overdenture como protocolo resultam em um


aumento da força de mordida do paciente e exibem altos graus de satisfação
quando comparadas com as próteses totais convencionais (RISMANCHIAN et
al., 2009; BILAHN et al., 2010; GECKILI et al., 2012; GECLBOVEM et al. ,2015;
GRACHT et al., 2016; MELO et al., 2016; KUSUMOTO Y et al.,2020).

Alguns dos requisitos básicos para o sucesso da overdenture ou prótese


protocolo implantossuportada são: adaptação passiva do sistema de
encaixes ou de fixação, boa higiene oral, biocompatibilidade dos materiais
selecionados, alta resistência biomecânica dos materiais selecionados,
oclusão funcional e equilibrada, aparência estética natural e ausência de
interferências na fonética após o período de adaptação.

273
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