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ESTUDO E APLICAÇÃO DE SANITÁRIOS DE COMPOSTAGEM (BASON) EM


COMUNIDADES DESPROVIDAS DE SANEAMENTO BÁSICO NO ESTADO DO
CEARÁ

Conference Paper · February 2010

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Márcio Pessoa Botto Francisco Suetônio Bastos Mota


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Estudo da viabilidade técnica, econômica e social do saneamento ecológico (Ecosan) em comunidade rural no Estado do Ceará desprovida de saneamento básico com
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II-162 - ESTUDO E APLICAÇÃO DE SANITÁRIOS DE


COMPOSTAGEM (BASON) EM COMUNIDADES DESPROVIDAS
DE SANEAMENTO BÁSICO NO ESTADO DO CEARÁ

Márcio Pessoa Botto(1)


Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará. Mestre em Saneamento Ambiental pela Universidade
Federal do Ceará. Doutorando em Saneamento na UFC.
Francisco Suetonio Bastos Mota
Doutor em Saúde Ambiental pela Universidade de São Paulo. Professor Titular do Departamento de
Engenharia Hidráulica e Ambiental (DEHA) da Universidade Federal do Ceará. Membro da Academia
Cearense de Ciências.
Ronaldo Stefanutti
Doutor em Ciências/CENA/USP. Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental
(DEHA), Universidade Federal do Ceará.
André Bezerra dos Santos
PhD em Saneamento Ambiental pela Universidade de Wageningen, Holanda. Professor Adjunto do
Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (DEHA), Universidade Federal do Ceará.

Endereço(1): Rua Água da Prata, 2991, Casa 05. Bairro: Edson Queiroz. CEP: 60834-414. Fortaleza, Ceará. Brasil.
Telefone: +55 (85) 99951578. E-mail: marciobotto@yahoo.com

RESUMO
Os estudos sobre tratamento de efluentes sanitários existentes enfatizam a construção de grandes estações de
tratamento de esgoto, local onde todo efluente recolhido da cidade é tratado. A implantação de um sistema de
esgotamento sanitário requer elevados custos de investimento, operação e manutenção do sistema, o que o
torna não sustentável para muitas situações. Portanto, é necessário buscar infra-estruturas alternativas de
tratamento de efluentes, diferentes do sistema tradicional (fossa séptica e ETE), que sejam de fácil construção
e manutenção, aliadas a preocupação com a qualidade ambiental e de vida, baseados nos princípios da
sustentabilidade. Este trabalho tem por objetivo estudar o uso de um modelo de sanitário ecológico
denominado de BASON em comunidades pobres situadas no Estado do Ceará, bem como avaliar a viabilidade
da aplicação do composto estabilizado na agricultura. A pesquisa foi realizada em quatro comunidades,
escolhidas segundo perfil do saneamento ambiental no contexto estadual. Foram realizados durante quatro
meses, trabalhos de sensibilização e capacitação, a partir de oficinas participativas com a comunidade,
distribuição de cartilhas educativas e parcerias com as escolas e postos de saúde, a fim de vencer preconceitos
e esclarecer as comunidades sobre a importância de inserir hábitos de higiene no cotidiano de destinar
adequadamente os excretas humanas. A implantação de sanitários ecológicos possui um potencial de
aceitabilidade e replicabilidade maior em comunidades rurais quando comparadas às comunidades urbanas e
peri-urbanas. Em áreas urbanas é bem mais difícil a implementação de métodos alternativos de saneamento. O
preconceito cultural, a preocupação com outros problemas, como segurança e posse da terra, aliado à maior
rotatividade dos moradores, possivelmente, são os motivos que explicam a falha de implantação da tecnologia.
O composto final do BASON, retirado após um ano de estabilização, mostrou-se rico em nutrientes, quando
comparado com adubo de origem animal e compostos orgânicos, e livre de contaminação bacteriana. Portanto,
o mesmo possui um grande potencial de aplicação na agricultura familiar. Com uma contaminação de apenas
3NMP/g, o composto apresentou uma excelente qualidade microbiológica, bem inferior ao máximo
recomendado pela OMS de 1000/g. O composto do BASON foi considerado de boa para aplicação como
biofertilizante e condicionante do solo, quando comparado aos adubos orgânicos, como eqüino, suíno, bovino
e ovino.

PALAVRAS-CHAVE: sanitários secos, banheiro ecológico, Ecossaneamento.

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INTRODUÇÃO
O Brasil é um país com profunda desigualdade social, que torna um desafio às ações de promoção da saúde.
Infelizmente, ainda é precário o atendimento à população, por serviços de saneamento básico, especialmente o
esgotamento sanitário.

Devido ao lançamento nos recursos hídricos de efluentes sem tratamento, muitos com elevada carga de
poluição, a população está sujeita a captar água de poços ou de mananciais superficiais, imprópria
sanitariamente para consumo humano.

No estado do Ceará, quase todos os municípios não possuem esgotamento público nem fossa séptica em mais
de 50% dos domicílios. Ao todo, 73% das famílias cearenses não têm suas casas conectadas aos serviços de
coleta pública de esgoto. Não obstante, o indicador que mais impressiona é a falta de banheiros ou sanitários.
Uma a cada três casas no estado do Ceará não dispõe de um sanitário ou banheiro (PNAD, 2007).

Os estudos sobre tratamento de efluentes sanitários existentes enfatizam a construção de grandes estações de
tratamento de esgoto, local onde todo efluente recolhido da cidade é tratado. A implantação de um sistema de
esgotamento sanitário requer elevados custos de investimento, operação e manutenção do sistema, o que o
torna não sustentável para muitas situações. Adicionalmente, muitas vezes as redes só são implantadas na sede
das cidades, deixando a população afastada do centro urbano, sem qualquer cobertura de esgoto. Nesses casos,
vêm se utilizando com bastante freqüência fossas sépticas, que tem muitos inconvenientes como a não
reutilização dos nutrientes contidos nos excretas, e a poluição das águas por construções inadequadas, aliada à
baixa eficiência da tecnologia.

Portanto, é necessário buscar infra-estruturas alternativas de tratamento de efluentes, diferentes do sistema


tradicional (fossa séptica e ETE), que sejam de fácil construção e manutenção, aliadas a preocupação com
qualidade ambiental e de vida, baseados nos princípios da sustentabilidade.

O conceito e a filosofia do Ecossaneamento estão sendo disseminados por toda parte do mundo, como sendo,
uma prática segura, sustentável e ecologicamente correta de destinar os excretas humanas, por ser um processo
cíclico de energia, devolvendo ao solo os nutrientes necessários para o cultivo agrícola.

O saneamento ecológico baseia-se em uma abordagem mais ecossistêmica. Os nutrientes e a matéria orgânica
contida no excreta humana são considerados como um recurso (e não como um resíduo) e tratados
apropriadamente por sua contribuição aos sistemas locais de produção de comida. Além disso, o Ecosan
permite recuperar e reciclar os nutrientes de modo racional, seguro e não poluente, com descarga zero. Isso é
especialmente importante por sua relação com a agricultura, ao permitir que se feche o ciclo dos nutrientes,
facilitando o cultivo de legumes e hortaliças de modo ecológico, sem o uso de agroquímicos. Essa tecnologia
atende as necessidades das residências e promove o envolvimento comunitário. Além disso, associado à
agricultura, melhora a dieta das famílias, beneficia sua economia, e promove a auto-estima de seus membros
(ESREY et al., 1999).

Existem duas características básicas nos projetos de saneamento ecológico. Um deles é a separação da urina,
evitando-se que ela se misture com as fezes. O interior do vaso sanitário tem uma parede divisória, de modo
que a urina sai pela parte da frente enquanto que as fezes caem pela abertura na parte de trás do vaso. Outro
tipo de projeto combina a urina com as fezes, de modo que possam ser processadas juntas ou separadas. Em
ambos os casos é possível gerenciar o excreta com pouca ou nenhuma água, e também é possível mantê-lo
longe do solo e das águas superficiais e subterrâneas.

A prática de retornar esses fertilizantes naturais ao solo (urina e fezes) pode garantir mais a sua fertilidade do
que a incorporação de fertilizantes comerciais, além de poderem aumentar a produção de comida e renda da
comunidade. Entretanto, a implantação de um projeto de ecossaneamento depende da aceitação da comunidade
em que ele será inserido, já que envolve muitas vezes mudanças de hábitos culturais e a participação efetiva da
comunidade para a garantia da sua sustentabilidade ao longo dos anos.

Este trabalho tem por objetivo estudar o uso de um modelo de sanitário ecológico denominado de BASON em
comunidades pobres situadas no Estado do Ceará, localizadas em zonas rurais, urbanas e peri-urbanas, bem

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como avaliar a sua aceitação ao longo do tempo e a qualidade físico-química e sanitária do composto
produzido nos vasos.

MATERIAIS E MÉTODOS
ESCOLHA DAS COMUNIDADES
Para a escolha das comunidades beneficiadas com o projeto foi considerado o perfil do saneamento ambiental
das mesmas no contexto estadual. Mapeando-se os dados levantados pelo Censo de 2000 realizado pelo IBGE,
verificou-se que os municípios localizados no nordeste do Ceará apresentavam uma maior carência quanto aos
serviços básicos de saneamento. Respeitando esse critério, as comunidades selecionadas foram: Prainha do
Canto Verde (comunidade litorânea ou peri-urbana), em Beberibe; Nova Esperança, em Aracati; Camurim, em
Itaiçaba (comunidades rurais); e Cidade de Deus (comunidade urbana), em Fortaleza.

OFICINAS DE SENSIBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE


Alcançar soluções ecológicas para o saneamento requer uma mudança no modo como as pessoas pensam e
agem com relação ao excremento humano. Sabe-se que antes de tentar sugerir tecnologias de saneamento, é
preciso vencer preconceitos e esclarecer as comunidades sobre a importância de inserir hábitos de higiene no
cotidiano de destinar adequadamente as excretas humanas. Portanto, trabalhos de sensibilização e capacitação
foram realizados a partir de oficinas participativas com a comunidade, distribuição de cartilhas educativas e
parcerias com as escolas e postos de saúde (Figura 1).

Figura 1 e 2 – Oficinas de sensibilização em Camurim (esquerda) e capacitação em Nova Esperança


(direita).

Após a realização da campanha e o estabelecimento de um contato com as comunidades, com suas lideranças e
com os agentes de saúde, foram selecionados grupos de moradores a serem capacitados quanto ao uso da
tecnologia proposta. Esses moradores, chamados de multiplicadores ou promotores, foram divididos por área,
e cada um ficou responsável por visitar e acompanhar um grupo de no máximo 15 famílias. Foram distribuídos
aos multiplicadores materiais didáticos e educativos (apostilas sobre água, esgoto e higiene).

IMPLANTAÇÃO DOS SANITÁRIOS ECOLÓGICOS


Existem vários tipos de sanitários secos. Eles variam quanto à sua forma, tamanho, materiais e preço. Apesar
de serem diferentes, todos funcionam da mesma maneira: sem usar água, através da compostagem e sem poluir.
Desses sanitários, o chamado BASON foi escolhido por ser mais barato, menor e de construção mais simples.
Este sanitário foi criado pelo arquiteto holandês Johan van Lengen. Entretanto, tal concepção ainda não previu
a separação da urina das fezes e, portanto, pode ser melhorado.

O BASON (Figura 2) consiste em uma caixa semidividida em duas câmaras: uma, que recebe os dejetos
humanos e restos orgânicos domésticos e outra, onde estes sofrem o processo biológico de decomposição. Esse
sanitário é construído de forma bastante simples, com placas de um centímetro de espessura feitas de uma
mistura de cimento e areia grossa no traço 1:2; as placas que recebem no meio uma tela fina de plástico, por
exemplo, aquela usada para fazer sacos para frutas e verduras. Os moldes das placas são feitos com pedaços de

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madeira, dispostos em uma superfície regular coberta com plástico. As placas são feitas separadamente e
depois unidas para formar a caixa do sanitário, que possui três aberturas: uma para receber os dejetos, outra
para instalar uma tubulação de exaustão dos odores, e uma última para a retirada do composto. O BASON é
composto de um total de nove placas, possui um volume de aproximadamente 0,7m3 e é dimensionado para
uma família de cinco pessoas com uma freqüência de retirada do composto estabilizado após um ano.

Figura 2 - Desenho esquemático do banheiro de compostagem – BASON.

No total foram construídos sete banheiros: dois na Prainha do Canto Verde, dois em Camurim, dois em Nova
Esperança e um na Cidade de Deus. Cada banheiro possuía um lavatório, chuveiro e um sanitário de
compostagem BASON (Figura 3). Os sanitários de compostagem foram construídos em forma de mutirão,
participando mulheres, crianças e homens das comunidades.

Figura 3 - Sanitários de compostagem – BASON construídos na Prainha do Canto Verde (esquerda) e


Camurim (direita).

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ANÁLISE DO COMPOSTO PRODUZIDO PARA USO COMO CONDICIONANTE DO


SOLO
Após um ano de uso, foram retiradas amostras do composto (500g) de um banheiro da comunidade Nova
Esperança para avaliação. As análises de micro e macro-nutrientes do composto final foram realizadas no
Laboratório de Solos/Água do Departamento de Ciências do Solo da Universidade Federal do Ceará. A análise
microbiológica foi realizada no Laboratório de Microbiologia de Alimentos da Faculdade de Tecnologia
CENTEC Sobral. Para sua realização foram seguidas as diretrizes do Manual “Official Methods of Analysis”
da AOAC, 2005.

RESULTADOS
Nas comunidades localizadas no interior, apesar da menor acessibilidade às informações, a tecnologia BASON
e a idéia quanto à importância de destinar adequadamente os excretas humanas foram facilmente aceitos e bem
aplicados, diferentemente das comunidades urbana e peri-urbana, em que houve uma rejeição por parte dos
moradores em continuar com a tecnologia, havendo a interrupção e o abandono do sanitário com apenas um
mês de uso.

Na comunidade urbana, Cidade de Deus, o primeiro sanitário construído foi abandonado pela família
beneficiada. Cidade de Deus é um assentamento ilegal, oriundo da invasão de um terreno no bairro São João
do Tauape, em Fortaleza. Muitas vezes as famílias constroem suas casas e, devido a motivos particulares,
abandonam as mesmas ou vendem. A família que foi beneficiada com o sanitário de compostagem mudou-se
da comunidade e a nova família que veio morar na casa, por não ter participado das oficinas de capacitação e
sensibilização, teve forte rejeição à nova tecnologia, destruindo o banheiro.

Na comunidade Nova Esperança, um dos sanitários construídos está localizado na Associação de Moradores,
sendo o mesmo bastante utilizado pela comunidade. O composto estabilizado analisado neste trabalho foi
proveniente deste sanitário.

As oficinas participativas de educação sanitária foram fundamentais para a melhoria da qualidade de vida dos
moradores. Hoje os moradores, são mais conscientes quanto às rotas de contaminação e transmissão de
doenças, e das medidas de evitá-las, além da importância de tratar a água e o esgoto.

As Tabelas 1 e 2 apresentam os resultados analíticos dos teores de macro e micro-nutrientes presentes no


composto final proveniente do BASON.

As análises do composto mostraram ser um rico adubo orgânico. Comparando os resultados analíticos de
macro e micro-nutrientes do composto com outros adubos orgânicos, como esterco bovino, suíno e esterco de
origem vegetal, apontam para o potencial do uso desse composto na agricultura familiar.

Segundo Kiehl (1985), os teores de nitrogênio para o adubo animal são em porcentagem: 1,7 para esterco
bovino, 1,4 para esterco eqüino, 1,9 para suíno, 1,4 para ovino, 3,0 para aves e 1,4 para compostos orgânicos
(Tabela 3). Comparando esses valores, apenas os estercos bovinos, suínos e de aves possuem teores de
nitrogênio superiores ao BASON, em 18%, 26% e 53%, respectivamente. O restante (eqüino, ovino, composto
orgânico e resíduos urbanos) possui o mesmo teor. A Tabela 3 apresenta um resumo do teor de macro-
nutrientes de adubos de origem animal.

Tabela 1 – Teor de macro-nutrientes presentes no composto do sanitário de compostagem - BASON.


Teor de macronutrientes (%)
Composto
N P P2O5 K K2O Ca Mg
Sanitário de
1,4 0,4 0,9 1,9 2,28 24,4 1,1
compostagem

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Tabela 2 – Teor de micro-nutrientes presentes no composto do sanitário de compostagem - BASON.

Teor de micronutrientes (ppm)


Composto
Fe Cu Zn Mn
Sanitário de
926,1 45,6 101,1 246,1
compostagem

Tabela 3 – Teor de macro-nutrientes de adubo de origem animal.

Teor de macronutrientes (%)


Adubo
N P2O5 K2O
Esterco de bovinos 1,7 0,9 1,4
Esterco de equinos 1,4 0,5 1,7
Esterco de suínos 1,9 0,7 0,4
Esterco de ovinos 1,4 1,0 2,0
Esterco de aves 3,0 3,0 2,0
Composto orgânico 1,4 1,4 0,8
Resíduos urbano 1,4 0,2 1,0
Fonte: Adaptação de Kiehl (1985).

Comparando o teor do óxido de potássio (K 2O), o composto do BASON apresentou valor superior a todos os
adubos de origem animal, composto orgânico e resíduos urbanos. O teor de K 2O para o composto do BASON
foi superior ao esterco bovino em 38%, eqüino em 26%, suíno em 82%, ovino em 12%, de aves em 12%,
composto orgânico em 65% e resíduos urbanos em 56%.

Esse elevado teor de óxido de potássio, bem como de cálcio (24,4%) pode ser explicado pela adição de pó de
madeira e cinzas dentro do BASON feita pelos usuários para evitar possível proliferação de insetos (moscas) e
odores.

Analisando o teor de P2O5, o composto do BASON foi superior ao esterco eqüino, esterco suíno e resíduo
orgânico, igual ao esterco bovino e inferior ao esterco de ovinos em 10% e esterco de aves em 70%.

Os resultados da análise microbiológica também foram bastante favoráveis. A concentração de coliformes


termotolerantes do composto foi de apenas 3NMP/g, o que garante sob esse aspecto o uso subseqüente do
composto no solo com baixíssimos riscos de contaminação das pessoas que manipularem esse material.
Comparando este valor com os recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), verifica-se uma
contaminação insignificante, uma vez que o valor máximo é de 1000/g (WHO, 2006), ou seja, 333 vezes
menor ao recomendado.

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS


O projeto teve como princípio norteador a participação direta da comunidade no processo de divulgação do
sanitário de compostagem BASON. Acredita-se que a atribuição do papel de capacitadores e multiplicadores
das tecnologias aos próprios membros da comunidade facilitou a aceitação do método proposto.

A implantação de sanitários ecológicos possui um potencial de aceitabilidade e replicabilidade maior em


comunidades rurais quando comparadas às comunidades urbanas e peri-urbanas. Em áreas urbanas é bem mais
difícil a implementação de métodos alternativos de saneamento. O preconceito cultural, a preocupação com
outros problemas, como segurança e posse da terra, aliado à maior rotatividade dos moradores, possivelmente,
são os motivos que explicam a falha de implantação da tecnologia.

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O composto final do BASON, retirado após um ano de estabilização, mostrou-se rico em nutrientes, quando
comparado com adubo de origem animal e compostos orgânicos, e com uma contaminação bacteriana de
apenas 3NMP/g, portanto possuindo excelente qualidade microbiológica e um grande potencial de aplicação
na agricultura familiar.

Recomenda-se estudar a aplicação de sanitários ecológicos com separação das excretas (urina e fezes). Sabe-se
que o saneamento ecológico (Ecosan) segue a idéia de separar as diferentes formas de esgotos nas suas
origens, como água cinza (lavagem e banho), água amarela (urina), água negra (fezes), com o objetivo de
valorizá-los e aplicá-los em diversas formas para produção de comida e renda.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ESREY SA, GOUGH J, RAPAPORT D, et al. 1999. Saneamiento Ecológico. Estocolmo: SIDA.
2. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E TECNOLOGIA – IBGE. Censo Demográfico 2000.
Brasil. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 5 nov. 2004.
3. KIEHL, EJ. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba. Editora agronômica Ceres Ltda, 1985, 492p
4. MORGAN P. 1999. Ecological sanitation in Zimbábue Ð an overview. Paper presented at the
International Workshop, Ecological Sanitation Ð Closing the Loop to Food Security, 17-21 October 1999,
Cuernavaca Mexico.
5. PNAD (2007). Pesquisa Nacional de amostras por domicílios – Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística. Acesso em: 08 de julho de 2009. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/
populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2007/default.shtm.
6. WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO (2006) - Guidelines for the safe use of Wastewater,
Excreta and Greywater, Volume IV- Excreta and Greywater use in agriculture. Disponível em:
http://www.who.int/water_sanitation_health/wastewater/gsuww/en/index.html. Acessado em: 16/10/2009.

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