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PROCESSO Nº 08700.002871/2020-34
Caio Mário da Silva Pereira Neto, Ricardo Ferreira Pastore, Felipe Zolezi
Advogados Cielo:
Pelussi e Gabriel de Carvalho Fernandes
VERSÃO DE ACESSO PÚBLICO
I. RELATÓRIO
1. Em 17 de junho de 2020, esta Superintendência-Geral (“SG”) abriu denúncia ex officio
(0768746) com o objetivo de apurar operação de parceria firmada entre o Facebook, Inc.(“Facebook”) e a
Cielo S.A. (“Cielo”) para a realização de pagamento direto por meio do aplicativo de mensagens
WhatsApp.
2. No dia 18 de junho de 2020, foram enviados ofícios ao Facebook (Ofício nº 4472/2020 -
0769398) e à Cielo (Ofício nº 4474/2020 - 0769447) solicitando esclarecimentos relacionados à parceria,
bem como à necessidade de notificação desta operação ao CADE.
3. Em 23 de junho de 2020, por meio do Despacho SG nº 665/2020 (0770953), considerando
os iminentes impactos a serem gerados pelo citado acordo entre o Facebook e a Cielo, a SG determinou a
instauração de procedimento administrativo para apuração de ato de concentração (APAC), nos termos
do art. 10 da Resolução Cade nº 24/2019.
4. Ainda nesse mesmo dia, por meio do Despacho SG nº 672/2020 (0771106), com base na
Nota Técnica nº 06/2020 (0770967), que identificou a presença de fumus boni iuris e periculum in mora
em relação à operação, esta SG decidiu pela adoção de medida cautelar, determinando aos
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15. Tendo em vista os faturamentos brutos de ambos grupos (Facebook[4] e Cielo[5]) acima de
R$ 750 milhões de reais no ano anterior à operação (2019), conclui-se que ela preenchia os requisitos de
notificação obrigatória do art. 88, incisos I e II, da Lei 12.529/11[6].
16. Diante das hipóteses de atos de concentração previstas no art. 90 da Lei 12.529/11[7], a
única na qual poderia ser enquadrada a parceria firmada entre Facebook e Cielo para realização de
pagamento direto por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp seria a de contrato associativo (inciso
IV):
"Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração quando:
I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem;
II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta
de ações, quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis
ou intangíveis, por via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou
partes de uma ou outras empresas;
III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou
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de compartilhamento tanto de riscos quanto de resultados[11]. Como notam as Representadas, esses são
requisitos complementares, e não alternativos, conforme já afirmado por esta SG[12].
27. As Representadas informaram que, [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES].
28. Por sua vez, [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]. Afirmaram, assim, que, [ACESSO
RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES].
29. Além disso, as Representadas argumentaram que, ainda que se entenda que as Partes
eventualmente compartilhariam ganhos e prejuízos [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES][14].
30. Nesse sentido, defenderam as Representadas que [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS
PARTES][15].
31. Assim, diante das informações apresentadas quanto a este aspecto, é possível concordar
com as Representadas quanto à assertiva de ausência de compartilhamento de riscos e de resultados
entre Cielo e Facebook no contexto do contrato objeto da operação, estando delimitados os papéis,
receitas e responsabilidades de cada parte.
32. Quanto ao terceiro ponto, ausência de relação de concorrência entre as Partes nos
mercados relevantes objeto da operação, as Representadas alegaram não ser possível afirmar que Cielo
e Facebook atuam como concorrentes em quaisquer dos mercados relevantes objeto da operação (art.
21, II, da Resolução n° 17/2016), alegando que ela não passa de uma relação vertical [ACESSO RESTRITO
AO CADE E ÀS PARTES][16].
33. As Representadas destacaram que Facebook e WhatsApp não atuam em qualquer aspecto
da indústria de meios de pagamento no Brasil. Realçaram que as empresas só realizam atividades que
não se confundem com as de uma credenciadora e, exatamente por esse motivo, não são reguladas pelo
Banco Central do Brasil ("Banco Central" ou "BCB").
34. Por fim, declararam que Facebook e WhatsApp continuarão a desempenhar suas
atividades atuais e que, em momento algum, sob o contrato que rege a parceria, passarão a desenvolver,
no Brasil, quaisquer atividades associadas às credenciadoras reguladas pelo BCB, sejam elas o
credenciamento de ECs ou a captura de transações.
35. Como exposto acima, as Representadas afirmaram que Facebook e WhatsApp passarão
apenas a ofertar um canal adicional para a realização de transações de pagamento entre usuários (P2P) e
entre usuários e ECs (P2M), [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES].
36. Reforçando a ideia de que a operação possui uma natureza essencialmente vertical, as
Representadas informaram que o contrato celebrado [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES].
37. Nesse sentido, as Representadas explicaram que:
"[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]".
38. Dessa forma, diante das informações apresentadas pelas Representadas, entende-se que
Cielo e Facebook não são concorrentes entre si nos mercados relevantes objeto da operação.
39. Assim, mediante as informações prestadas pelas Representadas, esta SG entende que o
contrato da operação não preenche todos os requisitos presentes no art. 2º da Res. 17/16, não
configurando assim um contrato associativo e, por conseguinte, um ato de concentração.
III. CONCLUSÃO
40. Em face do exposto, conclui-se pelo arquivamento do presente APAC, devido ao não
preenchimento cumulativo, pelo contrato que formaliza a parceria entre Facebook e Cielo, de todos os
requisitos para que um contrato possa ser considerado associativo (art. 2º, Res. 17/16), não configurando
a operação, portanto, espécie de ato de concentração[17].
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[1] Página 119 do Documento SEI nº 0772597: "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]".
[2] De acordo com os autos: "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]".
[3] De acordo com os autos: "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]".
[4] "O faturamento total do grupo econômico do Facebook no Brasil em 2019 foi de R$ [ACESSO RESTRITO AO CADE E AO
FACEBOOK]" (0802254).
[5] Vide Documento "RESULTADOS DO 4T19 e 2019" (pág. 3: Receita Operacional Bruta do 4T19 de R$ 3.277,1 milhões).
[6] Lei 125.529/11: "Art. 88 Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de concentração econômica
em que, cumulativamente: I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado, no último balanço,
faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou superior a R$
400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais); e II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registrado, no
último balanço, faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação, equivalente ou
superior a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais). § 1º Os valores mencionados nos incisos I e II do caput deste artigo
poderão ser adequados, simultânea ou independentemente, por indicação do Plenário do Cade, por portaria interministerial dos
Ministros de Estado da Fazenda e da Justiça." Portaria Interministerial MJ/MF nº 994/12: "Art. 1o Para os efeitos da submissão
obrigatória de atos de concentração a analise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, conforme previsto no
art. 88 da Lei 12.529 de 30 de novembro de 2011, os valores mínimos de faturamento bruto anual ou volume de negócios no
país passam a ser de: I - R$ 750.000.000,00 (setecentos e cinqüenta milhões de reais) para a hipótese prevista no inciso I do art.
88, da Lei 12.529, de 2011; e II - R$ 75.000.000,00 (setenta e cinco milhões de reais) para a hipótese prevista no inciso II do art.
88, da Lei 12.529 de 2011."
[7] Lei nº 12.529/11, de 30 de novembro de 2011 (Estrutura o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência; dispõe sobre a
prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica; altera a Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, o Decreto-Lei
nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal, e a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985; revoga dispositivos da
Lei nº 8.884, de 11 de junho de 1994, e a Lei nº 9.781, de 19 de janeiro de 1999; e dá outras providências).
[8] Resolução nº 17, de 18 de outubro de 2016 (Disciplina as hipóteses de notificação de contratos associativos de que trata o
inciso IV do artigo 90 da Lei nº 12.529, de 30 de novembro de 2011 e revoga a Resolução Cade nº 10, de 29 de outubro de
2014).
[9] As Partes esclareceram que [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES], não haverá nenhum tipo de integração de pessoal
entre as Partes -, permanecendo vinculados e subordinados a suas respectivas empresas. [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS
PARTES] apenas informações que sejam estritamente necessárias para o cumprimento de suas obrigações ou o exercício dos
direitos de cada Parte no âmbito do Contrato, [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES].
[10] Vide o Parecer n° 342/2017/CGAA5/SGA1/SG no Ato de Concentração n° 08700.006533/2017-76 (Requerentes: Banco Boa
Vista Serviços S.A.e Serasa S.A.): "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]". Vide, ainda, o Parecer n°
14012019/CGAA5/SGA1/SG no Ato de Concentração n° 08700,002194/2019-11 (Requerentes: Novelis do Brasil Ltda. e outros):
"[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]."
[11] Conforme [ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES].
[12] "Quanto ao compartilhamento de riscos e resultados, também se faz necessário atentar para o fato de que ambos precisam
estar presentes para que um contrato possa ser enquadrado como associativo, ou seja, a Resolução n° 17/2016 determina que o
contrato estabeleça o compartilhamento dos riscos e resultados da atividade econômica que constitua o seu objeto, e não o
compartilhamento dos riscos e/ou resultados. Ou seja, a ideia é de complementaridade, e não de complementaridade ou
alternatividade" (grifos no original). (Ato de Concentração n° 08700.004121/2019-63. Requerentes: AstraZeneca do Brasil Ltda.,
Bayer S.A., Bristol-Myers Squibb Farmacêutica Ltda., Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. e Wyeth Indústria
Farmacêutica Ltda., não conhecido pela Superintendência-Geral, em 17.09 2019, por não atendimento aos requisitos
estabelecidos na Resolução CADE n° 17/2016).
[13] Taxa de desconto (Merchant Discount Rate).
[14] Vide o Parecer n° 342/2017/CGAA5/SGA1/SG no Ato de Concentração n° 08700.006533/2017-76 (Requerentes: Banco Boa
Vista Serviços S.A. e Serasa S.A.): "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]."
[15] Vide o Parecer n° 342/2017/CGAA5/SGA1/SG no Ato de Concentração n° 08700.006533/2017-76 (Requerentes Banco Boa
Vista Serviços S.A. e Serasa S.A.): "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]."
[16] Nesse sentido, vide Parecer 22/2016/CGAA5/SGA1/SG no Ato de concentração 08700.012334/2015-35 (Requerentes: Oi
Móvel S.A., Oi Serviços Financeiros S.A., Oi S.A. e Ace Seguradora S.A.): "[ACESSO RESTRITO AO CADE E ÀS PARTES]".
[17] Esta decisão está em linha com diversos precedentes do Cade envolvendo o não conhecimento de operações por conta do
não preenchimento de todos os requisitos do art. 2º da Res. 17/16, vide, por exemplo, os seguintes Atos de Cincentração:
08700.009646/2022-91 (CMA CGM S.A. e Air France KLM S.A.), 08700.007066/2022-69 (Discovery Networks Brasil
Agenciamento e Representação Ltda. e Sony Pictures Releasing of Brasil, Inc.), 08700.002526/2022-62 (Saipem do Brasil
Serviços de Petróleo Ltda e Technip Brasil Engenharia, Instalações e Apoio Marítimo Ltda.), 08700.003155/2020-74 (Colgate-
Palmolive Company e Philips Oral Healthcare, LLC.), 08700.004121/2019-63 (AstraZeneca do Brasil Ltda., Bayer S.A., Bristol-
Myers Squibb Farmacêutica Ltda., Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. e Wyeth Indústria Farmacêutica Ltda.).
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