Você está na página 1de 8

19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

Ministério da Justiça e Segurança Pública - MJSP


Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE
SEPN 515, Conjunto D, Lote 4, Edifício Carlos Taurisano, - Bairro Asa Norte, Brasília/DF, CEP 70770-504
Telefone: (61) 3221-8445 - www.gov.br/cade
  

NOTA TÉCNICA Nº 1/2023/SG-TRIAGEM AC/SGA1/SG/CADE

PROCESSO Nº 08700.002166/2022-07

Tipo de processo: Procedimento Administrativo para Apuração de Ato de Concentração

Representante: brMalls Participações S.A.

Caio Mário da Silva Pereira Neto, Ricardo Ferreira Pastore, Schermann Chrystie
Advogados:
Miranda e Silva, Antonio Bloch Belizario e Mydyã Nascimento Lyra

Canada Pension Plan Investment Board, Aliansce Sonae Shopping Centers S.A. e
Representadas:
Regatas Fundo De Investimento em Ações

Bárbara Rosenberg, Guilherme Morgulis, André Luis Menegatti, Bernardo Cascão,


Advogados:
Polyanna Vilanova

EMENTA: Apuração de Ato de Concentração. Lei nº 12.529/2011.


Aquisição de ações realizada em bolsa de valores. Inciso II do art. 90
da Lei nº 12.529/2011 c/c art. 9º e 10 da Resolução CADE nº
33/2022. Operação de notificação obrigatória (art. 9º c/c art. 10 da
    Res. 33/22) que independe de aprovação prévia do CADE para sua
consumação (art. 109 do Regimento Interno). Vedação de exercício
dos direitos políticos relativos à participação adquirida até a
aprovação do ato de concentração pelo CADE (art. 108, § 1º do
Regimento Interno). Operação notificada ao CADE.

 
VERSÃO DE ACESSO PÚBLICO
 
I.                     RELATÓRIO
1. No dia 31 de março de 2022, a brMalls Participações S.A. (“brMalls”, “Companhia”, ou
“Representante”)  protocolou o documento SEI nº  1042229 intitulado "Representação pela Instauração de
Procedimento Administrativo Para Apuração de Ato de Concentração (APAC)" ("Representação").
2. A Representação trouxe ao conhecimento desta autarquia uma série de sucessivas aquisições em
bolsa de valores pelo Canada Pension Plan Investment Board ("CPPIB") e Aliansce Sonae Shopping Centers S.A.
("ALSO") de ações representativas do capital social da brMalls, as quais foram consolidadas na linha do tempo
exposta abaixo.
Figura 1

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 1/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

Fonte: brMalls.

3. Segundo a Representante, tais operações teriam ensejado o exercício de direitos políticos pela
ALSO antes da devida apreciação pelo Cade, em desacordo com o estabelecido nos artigos 108 e 109 do
Regimento Interno do Cade. A Representante aduziu, dentre outras coisas, que a Aliansce teria a intenção de
formar uma chapa para eleição de membros do Conselho de Administração da brMalls na próxima assembleia
de acionistas da referida empresa e que as Representantes teriam pedido procuração de outros acionistas da
brMalls com o objetivo de angariar votos suficientes para a eleição de novos membros para o Conselho de
Administração da brMalls.  Assim, a Representante entendeu que tais informações seriam utilizadas para
influenciar os acionistas da Companhia acerca da aprovação da proposta não solicitada de combinação de
negócios já rejeitada pela Administração da brMalls.
4. Sobre as participações adquiridas em bolsa, a brMalls defendeu que:
"41. Convém destacar, ainda, que a Resolução CADE n.º 2/2012 deste e. Conselho adotou o
patamar de 5% de participação no capital social de concorrente como o gatilho para a
obrigatoriedade da submissão de atos de concentração referentes a aquisições realizadas em
bolsa. Isso porque, tendo em consideração que, no contexto da Lei das S.A., a maioria dos direitos
políticos que permitem influenciar a administração de uma companhia dependeriam de uma
participação mínima de 5%.
42. No entanto, não se pode perder de vista que a Resolução CADE n.º 2/2012 traz parâmetros
meramente orientativos que não podem ser considerados absolutos. A preocupação central do
CADE não repousa sobre essa ou aquela participação societária, mas sobre a efetiva possibilidade
de que um concorrente, a partir da aquisição de participação acionária em seu rival, em bolsa,
influenciar o comportamento do concorrente e/ou ter acesso a informações concorrenciais
sensíveis, prejudicando a livre concorrência, antes da apreciação e aprovação da operação pelo
CADE.
43. Não por outra razão, na mesma Resolução o próprio CADE já estatuiu no art. 11, II e § 2.º que
'fica proibido o exercício de quaisquer direitos políticos atrelados aos títulos ou valores mobiliários
adquiridos até a aprovação da operação pelo CADE.', especialmente se estes outorgam ao
adquirente 'o direito de indicar membros dos órgãos de gestão ou de fiscalização ou direitos de
voto ou veto sobre questões concorrencialmente sensíveis'. Mesmo antes da edição de tal
Resolução, o Conselho, ao apreciar tal matéria, efetivamente impediu o exercício de direitos
políticos de um acionista em outro concorrente antes da análise da operação pela autoridade,
com vistas a preservar as condições de concorrência."
5. Nesse sentido, a Representante ressaltou que o CADE deveria considerar que os direitos políticos
detidos por minoritários (até menor que 5%) podem viabilizar influência determinante do grupo CPPIB/ALSO
sobre as futuras eleições e deliberações da brMalls, sem a prévia análise concorrencial do CADE. Segundo ela,
essa influência é especialmente relevante em uma companhia de capital pulverizado, sem controle definido e no
contexto em que o acionista concorrente declara abertamente não ver óbices para o exercício dessa influência.
6. A Representante também juntou parecer da lavra da professora Ana Frazão. No referido parecer,
em síntese, a professora fundamentou que: (i) as aquisições de participações configuraram ato de concentração
de notificação obrigatória por terem ultrapassado o percentual de 5% do capital social da brMalls; (ii) o exercício
de direitos políticos relativos à participação societária adquirida sem aprovação do CADE constituiria gun
jumping; e (iii) a legislação atual não permite o exercício de direitos políticos por parte do Grupo Aliansce.
https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 2/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

7. Diante desse contexto, a brMalls requereu na Representação, quanto ao mérito:


a) a imediata submissão à apreciação do CADE dos atos de concentração referentes às
aquisições, pelo grupo CPPIB/ALSO, direta ou indiretamente, de participações no capital social
da brMalls, (a) em janeiro de 2022 que lhes conferiu participação de 5,76%, conforme Fato
Relevante divulgado ao mercado em 24.01.202245 e (b) em fevereiro de 2022 que lhes
conferiu participação adicional de 5,05%, conforme Fato Relevante divulgado ao mercado em
21.02.202246, que somada à participação anterior atingiu o patamar de 10,81%; e
b) a adoção pelo CADE, com fundamento no art. 18 da Resolução CADE n.º 24/2019, de
medida cautelar, sob pena de multa de natureza astreinte, visando proibir que o Grupo
CPPIB/ALSO realize determinados atos que poderiam afetar e influenciar a votação nos órgãos
sociais da brMalls.[1]
8. No dia 1º de abril de 2022, a Superintendência-Geral realizou reunião com os representantes da
ALSO.
9. Após o recebimento da Representação, em 04 de abril de 2022, por meio do Ofício nº 2704/2022
(1044208), esta Superintendência requereu esclarecimentos à ALSO e CPPIB, além de pedir manifestação acerca
da Representação.
10. Em resposta ao ofício, o CPPIB esclareceu que possuía 23% de participação direta na ALSO e, em
14/04/2022, detinha na brMalls (a) participação direta de 0,43%; e (b) participação indireta por meio de ALSO
de cerca de 1,98%; e, (c) participação indireta de cerca de 2,20% por meio de SV2 Equity LLC ("SV2 Equity") e de
CC&L U. S. Q Market Neutral Onshore Fund II ("CC&L" e, em conjunto com SV2 Equity, os "Fundos Exclusivos"),
fundos exclusivos detidos integralmente pelo CPPIB, que têm poder discricionário em relação aos investimentos.
11. O CPPIB adotou interpretação de computar "pro-rata" a participação societária na brMalls, de
forma que, considerando as participações direta e indireta (proporcional), a participação total do CPPIB atingiu
4,61% em 08 de abril de 2022 e não teria ultrapassado 5% do capital da brMalls. Segundo o CPPIB, as
divulgações realizadas ao mercado que indicaram que ultrapassaram o percentual de 5% foram assim efetivadas
apenas para atender regulamentação da CVM, sendo que, apesar de integrar o bloco de controle da ALSO, o
CPPIB informou que a ALSO não pertence, exclusivamente, ao CPPIB, ao contrário do investimento conduzido
pelos Fundos Exclusivos.
12. Adicionalmente, o CPPIB afirmou que não exerceu quaisquer direitos políticos relacionados à sua
participação societária direta na brMalls desde janeiro de 2022 até a resposta ao ofício. Pela configuração
societária, o CPPIB não concordou com o entendimento de que o mero pedido, pelo FIA Regatas, da lista de
acionistas da brMalls, é suficiente para constituir gun jumping neste caso.
13. Por fim, o CPPIB garantiu que [Acesso Restrito ao CADE e ao CPPIB].
14. Em resposta ao ofício, a ALSO, por sua vez, manifestou-se no sentido de que: (i) não foi praticado
qualquer ato que decorra de um ato de concentração de notificação obrigatória ao CADE ("Operação
Notificável"), em violação aos art. 88, §3º e §4º, da Lei n. 12.529/11 (gun jumping); e (ii) inexistia qualquer risco
concorrencial no legítimo exercício de direitos políticos associados a ações adquiridas em operações que não
constituíam ato de concentração de notificação obrigatória (as quais chamaram de "Operações Isentas").
15. A ALSO resumiu seus fundamentos sustentando o indeferimento dos pedidos formulados pela
administração da brMalls fundamentado nas seguintes razões:
"(i) a Aliansce Sonae adquiriu ações da brMalls por meio de diversas operações distintas e
independentes em bolsas de valores ao longo de vários dias durante período de três meses, e,
assim, não houve uma operação única em que se adquiriu 5% ou mais do capital social ou votante
da brMalls, a configurar um Ato de Concentração isolado de notificação obrigatória ao CADE;
(ii) as ações da brMalls adquiridas pela ALSO em operações realizadas e consumadas antes da
configuração de um "ato de concentração de notificação obrigatória", i.e., Operações Isentas, não
estão sujeitas a qualquer restrição de exercício de direitos políticos ainda que uma operação de
notificação obrigatória posterior tenha ocorrido;
(iii) constituiria violação ao princípio da segurança jurídica e legítima expectativa admitir que
restrições aplicáveis somente a atos de concentração de notificação obrigatória ocorridos
posteriormente produzam efeitos sobre negócios jurídicos perfeitos anteriores;
(iv) a Aliansce Sonae apenas exerceu direitos (solicitação de lista de acionistas) como acionista da
brMalls permitidos pelas ações de sua titularidade que foram adquiridas em Operações Isentas,

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 3/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

i.e., que não configuraram atos de concentração de submissão obrigatória[2];


(v) considerando que a Aliansce Sonae adquiriu por meio de Operações Isentas ações suficientes
para realizar os atos que a brMalls reputa como sendo exercício supostamente ilícito de direitos
políticos, os pedidos da brMalls devem ser todos indeferidos por um motivo simples: não há
possibilidade jurídica de instauração de APAC para Operações Isentas;
(vi) constitui mera especulação a alegação da brMalls de que a Aliansce Sonae não estaria atenta
às normas concorrenciais e, portanto, teria praticado algum ato tendente a "alterar as condições
competitivas do mercado", tratando-se de imputação sem lastro fático e probatório para
instrumentalizar a autoridade e envolvê-la em uma disputa privada, onde se busca evitar que os
acionistas de brMalls (i.e., os donos da companhia) votem a respeito da proposta apresentada
pela Aliansce Sonae; e
(vii) não há nos autos um exemplo concreto de como o hipotético exercício de direitos de acionista
por parte da ALSO poderia interferir na conduta comercial da brMalls."
16. A ALSO defendeu, portanto, que:
"(i) não há elementos fáticos e jurídicos suficientes para embasar a instauração de um
Procedimento Administrativo para Apuração de Ato de Concentração ("APAC"); (ii) não seria
cabível a instauração de um APAC, e que, por decorrência lógica, não restam verificados os
requisitos necessários para requerimento de medida cautela; (iii) não resta demonstrado qualquer
risco concorrencial efetivo a justificar uma medida cautelar, i.e., fumus boni iuris, de forma que a
própria operação que se busca aprovar em assembleia geral teria sua consumação sujeita à
aprovação prévia do CADE; (iv) diante da existência da vedação prevista no art. 88, §3º e §4º, da
Lei 12.529/2011 c/c arts. 108 e 109 do RICADE aplicáveis às ações cuja aquisição exige aprovação
concorrencial, não há periculum in mora, visto que, como tal restrição decorre da Lei, a medida
cautelar não é necessária, posto que a Aliansce Sonae (assim como qualquer administrado) já está
vinculada a agir em conformidade com as normas concorrenciais."
17. Após esses esclarecimentos, esta Superintendência realizou reuniões com os patronos da
Representante e da ALSO nos dias 18 e 19 de abril de 2022, respectivamente.
18. Em 25 de abril de 2022, a ALSO apresentou parecer lavrado pelo professor Vinicius Marques de
Carvalho, no qual o professor explicou, em síntese, que os atos adotados pela ALSO e que esta pretendia realizar
não violam o art. 88, § 3º da Lei nº 12.529/11, sendo direitos políticos conferidos a acionistas minoritários e com
viés de proteção ao investidor. Além disso, o professor concluiu que (i) não haveria razão para concessão de
medida cautelar no caso em tela; (ii) "apenas em operação realizada em 18 de fevereiro o patamar de 5% de
ações representativas do capital social foi atingido pela ALSO"; (iii) a participação indireta porporcional da CPPIB
não atingiu o patamar de 5% previsto na regulamentação do CADE; (iv) aquisição de ações em bolsa de valores
não dependem de aprovação prévia pelo CADE para sua consumação e não há um prazo estabelecido para sua
notifiação; e (v) a restrição de exercício de direitos políticos não deve restringir situação existente no cenário
anterior à operação notificável.
19. Em 27 de abril de 2022, a ALSO apresentou manifestação reiterando os argumentos
apresentados, relacionando em tabela as aquisições realizadas por ela:
Tabela 1 - Aquisições de ações realizadas pela ALSO por dia
[Acesso Restrito ao CADE e à ALSO]
 
20. Também em 27 de abril de 2022, esta Superintendência determinou a instauração do APAC.
21. Nesta mesma data, esta SG indeferiu, por meio da Nota Técnica nº  4/2022/SG-TRIAGEM
AC/SGA1/SG/CADE (1053633) o pedido de medida cautelar solicitado pela brMalls, visto que considerou
ausentes os requisitos de periculum in mora e fumus bonis iuris que justificariam a implementação de tal
medida.
22. As aquisições em bolsa realizadas por Also e CPPIB resultaram em mais de 5% considerando
CPPIB/Also.
23. É o relatório.
 
II.                   ANÁLISE DA NECESSIDADE DE NOTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA DA OPERAÇÃO

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 4/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

24. O presente processo se destina a avaliar se ocorreu desrespeito a um dos pilares do regime de
notificação prévia de atos de concentração no Brasil, notadamente a proibição de consumação de operação
antes da aprovação pelo CADE.[3]
25. A consumação prematura de operação é infração tipificada no art. 88, § 3º, da Lei nº
[4]
12.529/11 , contanto que tal operação seja de notificação obrigatória ao CADE, conforme cominações legais e
regulamentares desta Autarquia.
26. Para identificar se e quais operações de aquisição em bolsa de valores realizadas por ALSO e
CPPIB poderiam ter configurado hipótese de notificação obrigatória de ato de concentração, é preciso analisar
alguns ditames da legislação concorrencial.
27. De início, é necessário checar se os grupos envolvidos preenchiam os requisitos de notificação
obrigatória do art. 88 da Lei 12.529/11:
"Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de concentração
econômica em que, cumulativamente:
I - pelo menos um dos grupos envolvidos na operação tenha registrado, no último balanço,
faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 400.000.000,00 (quatrocentos milhões de reais); e
II - pelo menos um outro grupo envolvido na operação tenha registrado, no último balanço,
faturamento bruto anual ou volume de negócios total no País, no ano anterior à operação,
equivalente ou superior a R$ 30.000.000,00 (trinta milhões de reais).
§ 1º Os valores mencionados nos incisos I e II do caput deste artigo poderão ser adequados,
simultânea ou independentemente, por indicação do Plenário do Cade, por portaria
interministerial dos Ministros de Estado da Fazenda e da Justiça.
(...) "
28. Como informado nos autos, todos os grupos envolvidos, tanto ALSO e CPPIB no polo adquirente,
como a brMalls enquanto empresa-alvo, na ponta vendida, preenchiam os critérios de faturamento do art. 88.
29. Após essa constatação, cabe analisar se o tipo de operação se enquadra nas hipóteses do art. 90
da Lei 12.529/11, o qual traz as espécies de atos de concentração:
"Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração quando:
I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem;
II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta de
ações, quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou
intangíveis, por via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de uma
ou outras empresas;
III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou
IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint venture .
Parágrafo único. Não serão considerados atos de concentração, para os efeitos do disposto no art.
88 desta Lei, os descritos no inciso IV do caput , quando destinados às licitações promovidas pela
administração pública direta e indireta e aos contratos delas decorrentes. "
30. Como ALSO e CPPIB adquiriram partes da brMalls por meio de compra de ações, então, sim, essas
aquisições configuraram espécie de ato de concentração prevista no inciso II do art. 90 da lei vigente.
31. Antes de falar da regulamentação específica para aquisição de ações, é preciso explicar que a
ALSO, desde sua primeira manifestação dos autos, destacou que seu interesse com essas aquisições era atingir o
resultado de potencial combinação de negócios com brMalls. Dessa forma, não houve uma operação isolada em
que a ALSO tenha adquirido, de uma única vez, participação representativa de 5% do capital da brMalls, tendo a
ALSO aumentando suas participação societária na brMalls aos poucos entre os meses de janeiro e março de
2022. A ALSO reconheceu que a aquisição de ações em 18 de fevereiro de 2022 conferiu ao comprador
participação equivalente ou superior a 5% do capital social da brMalls, configurando um ato de concentração de
notificação obrigatória que seria notificado ao CADE, mas que não foram exercidos direitos relativos a essa
"operação notificável" (alegou que só foram exercidos os direitos adquiridos pelas Operações Isentas).
32. Por se tratarem de aquisições de participação societária, aplicam-se a elas os ditames dos arts. 9º
e 10 da Resolução 33/22. E, além deles, por se tratarem de aquisições em bolsa de valores, aplicam-se também
os comandos do art. 190 c/c §§ 1º e 2º do art. 108 do Regimento Interno do Cade:
https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 5/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

Res. 33/22
"Art. 9° As aquisições de participação societária de que trata o artigo 90, II, da Lei nº 12.529/2011
são de notificação obrigatória, nos termos do art. 88 da mesma lei, quando:
I – Acarretem aquisição de controle, unitário ou compartilhado;
II – Não se enquadrem no inciso I, mas preencham as regras de minimis do artigo 10.
Parágrafo único. Não são de notificação obrigatória as aquisições de participação societária
realizadas pelo controlador unitário.
 
Art. 10. Nos termos do artigo 9°, II, são de notificação obrigatória ao Cade as aquisições de parte
de empresa ou empresas que se enquadrem em uma das seguintes hipóteses:
I – Nos casos em que a empresa investida não seja concorrente nem atue em mercado
verticalmente relacionado:
a) Aquisição que confira ao adquirente titularidade direta ou indireta de 20% (vinte por cento) ou
mais do capital social ou votante da empresa investida;
b) Aquisição feita por titular de 20% (vinte por cento) ou mais do capital social ou votante, desde
que a participação direta ou indiretamente adquirida, de pelo menos um vendedor considerado
individualmente, chegue a ser igual ou superior a 20% (vinte por cento) do capital social ou
votante.
II – Nos casos em que a empresa investida seja concorrente ou atue em mercado verticalmente
relacionado:
a) Aquisição que conferir participação direta ou indireta de 5% (cinco por cento) ou mais do
capital votante ou social;
b) Última aquisição que, individualmente ou somada com outras, resulte em um aumento de
participação maior ou igual a 5%, nos casos em que a investidora já detenha 5% ou mais do capital
votante ou social da adquirida.
Parágrafo único. Para fins de enquadramento de uma operação nas hipóteses dos incisos I ou II
deste artigo, devem ser consideradas: as atividades da empresa adquirente e as atividades das
demais empresas integrantes do seu grupo econômico conforme definição do artigo 4° dessa
Resolução."
 
Regimento Interno
"Art. 108. Em cumprimento ao disposto no art. 89, parágrafo único da Lei nº 12.529, de 2011, as
operações de oferta pública de ações podem ser notificadas a partir da sua publicação e
independem da aprovação prévia do Cade para sua consumação.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no caput deste artigo, fica proibido o exercício dos direitos
políticos relativos à participação adquirida por meio da oferta pública até a aprovação da
operação pelo Cade.
§ 2º O Cade pode, a pedido das partes, conceder autorização para o exercício dos direitos de que
trata o § 1º, nas hipóteses em que tal exercício seja necessário para a proteção do pleno valor do
investimento.
 
Art. 109. As operações realizadas em bolsa de valores ou em mercado de balcão organizado
independem da aprovação prévia do Cade para sua consumação e sujeitam- se às disposições
estabelecidas nos §§ 1º e 2º do art. 108."
33. Como as aquisições resultaram em participações para ALSO/CPPIB acima de 5%, em especial as
ocorridas a partir de 18 de fevereiro (vide Tabela 1), tem-se que elas seriam de notificação obrigatória, nos
termos do art. 10, II, a.
34. Ao se examinar o art. 109 do Regimento Interno, entretanto, chega-se à conclusão de que a
consumação dessas operações independia de aprovação prévia do Cade, uma vez que se realizaram em
ambiente de bolsa de valores, restando apenas proibido o exercício dos direitos políticos relativos à participação
adquirida por meio da aquisição em bolsa de valores até a aprovação da operação pelo Cade.
35. Nesse sentido, como apurado na supracitada Nota Técnica nº 4/2022/SG-TRIAGEM
AC/SGA1/SG/CADE (1053633), nem a ALSO nem o CPPIB exerceram direitos políticos para além dos 5% de

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 6/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

participação societária que ensejariam notificação obrigatória.


36. Reitera-se agora o que já havia sido constatado até o momento da decisão acerca de concessão
de medida cautelar: pelo que consta nos autos e esclarecimentos apresentados, não se vislumbra que tenha
ocorrido desrespeito à disposição normativa (art. 108, § 1º, do Regimento Interno do CADE) que veda o
exercício de direitos políticos concernentes a participação adquirida por meio de bolsa de valores.
37. Assim, a conclusão é a de que as aquisições em bolsa de valores efetuadas por ALSO e CPPIB que
configurariam notificação obrigatória ao CADE nos termos da Res. 33/22, arts. 9º e 10, não materializaram a
prática de gun jumping, uma vez que se subsumiram às regras estipuladas pelo art. 190 c/c § 1º do art. 108 do
Regimento Interno do Cade.
38. Posteriormente à decisão de indeferimento da concessão da medida cautelar, não foram
apresentados indícios de que a ALSO estaria na iminência de exercer ou teria exercido direitos políticos de forma
exorbitante aos que são regularmente permitidos pelos normativos do CADE. Nesse sentido, de forma a reforçar
este ponto, a presente investigação tramita nesta Autarquia de forma pública, tendo sido divulgada sua
existência na mídia[5]. Mesmo assim, nenhum acionista da brMalls apresentou qualquer manifestação acerca de
possível irregularidade no cumprimento da legislação concorrencial pela ALSO e CPPIB, sobretudo após a
aquisição de participação societária que exigia a aprovação do CADE.
39. Além disso, acerca da intenção de apresentar a operação para análise desse Conselho, na
primeira manifestação nos presentes autos (1049856), em 14/04/2022, a ALSO já informava que iria submeter
oportunamente à aprovação do CADE as operações em bolsa que exigiam sua aprovação, além do que a
empresa iria observar as limitações fixadas para o exercício de direitos políticos até a devida autorização pelo
CADE[6].
40. Por fim, registra-se que a combinação de negócios entre Also/CPPIB e brMalls foi submetida à
apreciação do CADE por meio de rito ordinário no âmbito do Ato de Concentração nº  08700.005088/2022-
94  (Requerentes: Aliansce Sonae Shopping Centers S.A, Canada Pension Plan Investment Board, BR Malls
Participações S.A.), restando pendente a decisão final do processo, uma vez que ela se encontra em análise
atualmente no Tribunal Administrativo do CADE.
 
 
III.                 CONCLUSÃO
41. Em face do exposto, conclui-se pelo arquivamento do presente APAC, por não terem as operações
objeto da presente análise infringido os ditames do art. 190 c/c §1º do art. 108 do Regimento Interno do Cade.
 
____________________________
[1] Dentre as medidas, a Representante requereu necessário (i) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de participar, direta ou indiretamente,
e votar na Assembleia Geral Ordinária da brMalls convocada para 29.04.2022 (sexta-feira); (ii) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de,
direta ou indiretamente, convocar, participar e/ou votar em qualquer Assembleia Geral Ordinária e/ou Extraordinária da brMalls, seja
com as suas ações ou ações de terceiros que venham a lhe outorgar procuração, até o pronunciamento definitivo deste CADE acerca do
mérito das operações objeto desta Representação; (iii) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de indicar diretamente, e/ou por meio de
quaisquer terceiros agindo em concerto com o grupo CPPIB/ALSO, de qualquer membro para o Conselho de Administração ou qualquer
outro órgão de administração/fiscalização da brMalls, seja na Assembleia Geral Ordinária da brMalls prevista para ocorrer em
29.04.2022, seja em outra ocasião futura até o pronunciamento definitivo deste CADE acerca do mérito das operações objeto desta
Representação; (iv) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de requerer a adoção ou participar do processo de voto múltiplo na eleição de
conselheiros da Companhia, previsto no art. 141 da Lei n.º 6.404/1976, como um direito assegurado aos minoritários detentores de ao
menos 5% (cinco por cento) do capital social, para facilitação da eleição de conselheiro que os represente na administração da
Companhia; (v) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de, direta ou indiretamente, se valer das participações acionárias detidas no capital
social da brMalls para acessar, requisitar, receber ou utilizar qualquer tipo de informação comercial sensível pertinente às atividades
econômicas desenvolvidas pela brMalls; (vi) a proibição do grupo CPPIB/ALSO e/ou de qualquer outra empresa e/ou fundo de
investimento integrante de seu grupo econômico e/ou de quaisquer terceiros agindo em concerto com o grupo CPPIB/ALSO de
solicitarem, por qualquer meio, pedido de procuração e/ou de atuarem como procuradores de outros acionistas da brMalls, na AGO de
29.04.2022 ou em qualquer outra ocasião, enquanto não submetidos e aprovados os respectivos atos de concentração objeto dessa
Representação; (vii) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de direta ou indiretamente, exercer, por qualquer meio e em qualquer esfera,
quaisquer direitos políticos que lhe seriam conferidos pelas participações societárias já detidas ou que venham a ser adquiridas no
capital social da brMalls, esterilizando-os por completo, até ulterior decisão definitiva deste Conselho acerca dos respectivos atos de
concentração econômica, ressalvado o exercício de direitos meramente financeiros, como a participação nos dividendos da Companhia;
e (viii) a proibição do grupo CPPIB/ALSO de efetuar aluguel ou empréstimo de ações da brMalls de sua titularidade, bem como valendo-

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 7/8
19/08/2023, 02:33 SEI/CADE - 1175800 - Nota Técnica

se de qualquer instrumento de derivativo, direta ou indireta, em qualquer qualidade, de modo a proibir quaisquer esforços de
direcionamento do grupo CPPIB/ALSO de suas ações a quaisquer terceiros agindo em concerto com o grupo CPPIB/ALSO, que possam se
valer dos direitos políticos relativos às ações do grupo CPPIB/ALSO para votar na Assembleia Geral Ordinária da brMalls prevista para
ocorrer em 29.04.2022, convocar assembleias ou tomar quaisquer outras medidas que resultem em exercício indireto de direitos
políticos pelo grupo CPPIB/ALSO, até ulterior decisão definitiva deste Conselho acerca dos respectivos atos de concentração econômica.
[2] Dito de outra forma, todos os direitos exercidos e a serem exercidos pela Aliansce Sonae em relação às ações de que é titular (direta
ou indiretamente) na brMalls são conferidos, por lei, pela regulamentação aplicável às companhias abertas ou pelo estatuto social da
brMalls, a acionistas detentores de menos de 5% do capital total ou votante da brMalls.
[3] A operação em apuração já foi notificada no âmbito do Ato de Concentração nº 08700.005088/2022-94, que teve decisão desta
Superintendência em novembro de 2022, porém está em análise no Tribunal Administrativo do CADE.
[4] "Art. 88. Serão submetidos ao Cade pelas partes envolvidas na operação os atos de concentração econômica em que,
cumulativamente: (...). § 3º Os atos que se subsumirem ao disposto no caput deste artigo não podem ser consumados antes de
apreciados, nos termos deste artigo e do procedimento previsto no Capítulo II do Título VI desta Lei, sob pena de nulidade, sendo
ainda imposta multa pecuniária, de valor não inferior a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) nem superior a R$ 60.000.000,00 (sessenta
milhões de reais), a ser aplicada nos termos da regulamentação, sem prejuízo da abertura de processo administrativo, nos termos do
art. 69 desta Lei. (...)"
[5] Vide: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/04/28/br-malls-cade-limita-voto-da-aliansce-a-499-pontos-percentuais-das-
aes.ghtml.
[6] A ALSO explicou que, como pretendia realizar uma operação mais ampla que a mera aquisição de participações minoritárias,
aguardou o retorno da brMalls sobre sua última proposta (o que ocorreu somente em 17 de março de 2022) antes de submeter
qualquer notificação ao CADE, até porque não havia e não há qualquer intenção de exercer direitos políticos além daqueles permitidos
por lei. E considerou que a elaboração de formulários de notificação de atos de concentração sujeitos ao rito ordinário usualmente
envolve um esforço conjunto das partes, considerando o grande volume de dados e documentos a serem apresentados. Assim, por uma
questão prática, tais operações são usualmente apresentadas conjuntamente pelas partes, como era a intenção da Aliansce Sonae.

Documento assinado eletronicamente por Diogo Thomson de Andrade, Superintendente-Geral substituto,


em 12/01/2023, às 18:45, conforme horário oficial de Brasília e Resolução Cade nº 11, de 02 de dezembro de
2014.

Documento assinado eletronicamente por Ednei Nascimento da Silva, Coordenador-Geral, em 12/01/2023,


às 19:16, conforme horário oficial de Brasília e Resolução Cade nº 11, de 02 de dezembro de 2014.

Documento assinado eletronicamente por Rodrigo Monteiro Ferreira, Assistente, em 12/01/2023, às 19:27,
conforme horário oficial de Brasília e Resolução Cade nº 11, de 02 de dezembro de 2014.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site sei.cade.gov.br/autentica, informando o código
verificador 1175800 e o código CRC F55C7D7C.

Referência: Processo nº 08700.002166/2022-07 SEI nº 1175800

https://sei.cade.gov.br/sei/modulos/pesquisa/md_pesq_documento_consulta_externa.php?11fcbFkN81DNKUdhz4iilnqI5_uKxXOK06JWeBzhMdu… 8/8

Você também pode gostar