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Manaus – AM
2010
1
Stephanie Lopes do Vale
Manaus – AM
2010
2
À todos que existiram,
mesmo sem serem vistos.
3
Agradecimento
O trabalho que lerão é o final de uma etapa de minha vida onde escolhi meu
caminho pela História. Nestes últimos quatro anos encontrei obstáculos, inclusive em
mim mesma, que me fizeram aprender e entender sobre esse ofício. Este texto é apenas
o começo de minha jornada pela História.
Nestes quatro anos aprendi e tive apoio de pessoas muito importantes. Agradeço
primeiramente a minha orientadora, Professora Doutora Marcia Eliane Alves de Souza e
Mello, que me mostrou o caminho da pesquisa e a todo seu apoio, compreensão e
paciência. E agradeço também ao Núcleo de Pesquisas em Políticas, Instituições e
Práticas Sociais – POLIS, da Universidade Federal do Amazonas pelas oportunidades
dadas e abertura as pesquisas que desenvolvi na instituição.
Também agradeço ao Departamento de História da Universidade Federal do
Amazonas – UFAM, especialmente aos professores Aloysio Nogueira, Maria Eugênia
Mattos, Hideraldo Lima da Costa, Sínval Carlos Gonçalves, James Roberto Silva,
Patrícia Melo Sampaio, Francisco Jorge dos Santos e Auxiliomar Ugarte, tanto por seus
exemplos de vida e trabalho, como por suas palavras, compreensão, incentivos e
expectativas.
Digo obrigado ainda a Robeilton Gomes que me ajudou disponibilizando seu
material bibliográfico e sendo um espaço de debate, poucos que somos os historiadores
setecentistas da Amazônia.
Em minha vida pessoal devo uma eterna gratidão a minha mãe, que espera tanto
de mim, e sonha o melhor para mim. E aos meus tios Eneida e Gilberto Vasconcelos
que durante todos esses anos me ajudaram a estudar e sorrir. A família Cruz que fez e
fará sempre parte da minha vida, agradeço a todo carinho e cuidado da Senhora Nazaré
Cruz que foi como uma mãe em diversos momentos, e a Caio Cruz que me acompanhou
desde a adolescência, crescendo comigo, é e sempre será um de meus maiores amigos.
Agradeço toda compreensão e paciência neste último ano de Renan Cambize,
que entrou em minha vida há pouco tempo, mas já é tão importante, dando apoio e
carinho em momentos de crise. No mesmo sentido sou grata a meu caro amigo Ygor
Olinto por seus conselhos e amizade.
Agradeço novamente a todos que passaram e estão em minha vida.
4
RESUMO
Esta pesquisa procurou encontrar alguns dos oficiais das Tropas de Auxiliares e as
Tropas de Ordenança, do Estado do Grão-Pará e Maranhão, ressaltando sua real
existência com os nomes de seus oficiais. O resultado das pesquisas produziu uma
monografia, onde estão apresentados e discutidos os 598 militares atuantes nas quatro
capitanias encontradas na documentação: Pará, Rio Negro, Maranhão e Piauí. Foram
pesquisadas as correspondências entre o estado e a metrópole e as nomeações de patente
entre 1750 e 1772. Quando da analise tivemos o contexto do Tratado de Madri de 1750,
o Diretório dos Índios de 1755 e a reforma militar e administrativa da segunda metade
do século XVIII no Império Ultramarino Português, especialmente as medidas do conde
de Lippe a partir de 1760, como arestas. O trabalho procurou localizar os militares do
estado, mas não o quantitativo absoluto, pois a primeira preocupação era saber se estas
tropas foram efetivas no estado, localizando os nomes e os locais de exercício.
Encontramos apenas 246, ou seja, 41 % dos nomeados eram indígenas, o que mostrou
que é ainda necessário relativizar as relações entre brancos e índios, e que a fronteira era
uma linha tênue negociada.
5
ABSTRACT
This study sought to find some of the officers of the Auxiliary Troops and Ordinance
Troops, the State of Grão-Para and Maranhão, showing its existence with the names of
its officers. The result of research produced a monograph, which are presented and
discussed in 598 military working four captaincy found in the documentation: Pará, Rio
Negro, Maranhão and Piauí. We investigated correlations between the state and the
mainland and the appointments of patents between 1750 and 1772. When we examine
the context of the Treaty of Madrid in 1750, the Indian Directorate of 1755 and the
administrative and military reform in the second half of the eighteenth century the
Portuguese Overseas Empire, especially the measures of the Count of Lippe from 1760,
as limit. The study sought to find the state's military, but not the absolute quantitative,
because the first concern was whether these troops were effective in the state, finding
the names and locations of exercise. We found only 246, or 41% of those appointed
were indigenous, which showed that it is still necessary to relativize the relations
between whites and Indians, and that the border was a fine line negotiated.
6
SUMÁRIO
Lista de Quadros
Listas de Gráficos
Lista de Tabelas
Lista de Abreviaturas
9
O que entendemos efetivamente por documentos senão um
“vestígio”, quer dizer, a marca, perceptível aos sentidos,
deixada por um fenômeno em si mesmo impossível de captar?
10
INTRODUÇÃO
1750 e 1772. Apresentamos aqui o Estado do Grão-Pará e Maranhão, que tinha na sua
jurisdição as capitanias do Pará, Rio Negro, Maranhão e Piauí, a área do estado colonial
ia da região do nordeste até a região onde hoje é a cidade de Macapá, capital do Amapá,
período estudado foi influenciado pelo Tratado de Madri – 1750, mas o Tratado de
Santo Ildefonso – 1777 foi um tratado de reproduziu boa parte das definições do
Tratado de Madri, mas que trouxe perdas a Portugal na América portuguesa perdendo a
região dos Sete Povos das Missões e Sacramento. O Tratado de Santo Ildefonso surgiu
do fato das fronteiras não terem sido demarcadas, pois em 1761 o Tratado de El Pardo
estado. As analises do historiador Mauro Cesar Coelho nos informam que o Diretório
foi uma construção dinâmica das instâncias centrais com as locais, logo a medidas da
comum a outros países europeus – o Estado era visto como um corpo social no qual
todos tinham seu lugar no reino e ao rei cabia manter a justiça. A Justiça representava
assegurar a cada qual o que era seu por direito, o rei não podia limitar ou dar a alguém
algo que não lhe fosse devido, na verdade o espaço de ação do rei era pequeno, pois
caso fosse considerado tirânico – inteferindo, podendo ser afastado de sua posição real
historiadora Maria Fernanda Bicalho fala que os portugueses – também por uma questão
historiadora Maria Fernanda Bicalho como base legal: a Justiça, baseava-se ao uso de
na Ásia, África e América. Para conseguir administrar o grande espaço colonial sem
esgotar suas possibilidades humanas, o reino portgues promoveu associações entre sua
2
HESPANHA, Antonio Manuel (cood). História de Portugal. 4◦ vol. Lisboa: Estampa, 1998.
3
BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs.). O Antigo Regime
nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001. A questão que se debatia era até aonde esses nativos eram civilizados e civilizáveis.
Dentro da Igreja diferenciava-se o método de civilização e de catequização, justificando-se a escravidão
por argumentos vários e foi esse o ponto de maior debate e indecisão na legislação sobre os indígenas
americanos e de divergências na Igreja.
12
organização e a das colônias temos, assim, durante séculos instituições diversas e
Gouvea nos fala em seus textos que a base de ligação entre estas instituições e colônias
representantes locais, o que muitas vezes causou discórdias e guerras internas, ou criou
sintetizado pelo historiador Antonio Manuel Hespanha pela formular: dar, receber e
restituir, essa interação é uma obrigação que cria um circulo vicioso de obrigações que
As relações entre os súditos e o rei davam-se primeiro pela justiça, onde era
obrigação do rei dar e também obrigação do súdito receber e restituir o rei. O rei dá o
dom ou privilégio que está sobre sua jurisdição, sendo às vezes interpretados como seu,
como os postos em questão. O rei deve nomear aqueles que são aptos – os requisitos
variaram – de exercer os ofícios, logo é uma obrigação do rei, o súdito deve restituir o
rei com lealdade e sobriedade que o cargo exigiu, sendo obrigação do súdito, só que o
posto não passa a ser do agraciado pelo provimento. Em alguns momentos foi possível
vender terras ou mesmo titulo ou ofícios, sem, contudo que isto fosse legalizado.
4
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São
Paulo: Companhia das Letras, 1997.
5
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs.). Cultura política e leituras do
passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. BICALHO,
Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs.), 2001.
6
HESPANHA, Antonio Manuel (cood), 1998.
13
Nas colônias a graça, dom ou privilegio dirigiam-se aos principais da terra7.
geralmente os ofícios dirigiam-se para pessoas que tinham como manter-se, pois a
maioria não pagava e justamente por isso buscava-se dar o cargo estes, pois não teriam
necessidade de lucrar com o posto. Até a primeira metade do século XVIII ainda havia
impura – inicialmente eram os judeus, mouros e depois agregou os negros e índios, foi
contexto teórico que o nosso trabalho está, escolhemos abordar os oficiais das Tropas de
entre 1750 e 1772 num momento de reformas militares e administrativas que tinham
viés iluminista.
***
A proposta desta pesquisa era encontrar os oficiais militares dos dois corpos de
1772, procurando vislumbrar a atuação índia nestas tropas. Procuramos ainda entender a
articulação que dava-se em torno dos provimentos e o que isso resultava localmente
numa dinâmica com o centro – tanto do estado, representado pelo governador como o
reino de Portugal.
7
ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs.), 2007; ALMEIDA, Maria Regina
Celestino de. Os Índios Aldeados no Rio de Janeiro Colonial - Novos Súditos Cristãos do Império
Português. Tese de Doutoramento. Campinas, SP: UNICAMP, 2000; e COELHO, Mauro Cesar, 2005.
BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs.), 2001.
14
Para localizar os indivíduos atuantes nas tropas fizemos uso de documentação
militares e onde exerciam os cargos, identificando os que são ou não índio segundo a
opressores onde a colônia é dominada até a anulação, a partir desse pressuposto teórico
resistência, onde a intenções da metrópole tem que ser negociadas com os lideres locais.
8
São diversas as leituras sobre a questão indicamos resumidamente: SOIHET, Raquel; BICALHO, Maria
Fernanda Baptista e GOUVÊA, Maria de Fátima Silva (orgs.). Culturas Políticas. Ensaios de historia
cultural, história política e ensino de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005; ABREU, Martha; SOIHET,
Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs.), 2007; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000; e COELHO,
Mauro Cesar, 2005.
15
capítulos, permitindo uma visualização dos resultados obtidos, distinguindo entre
sua área de atuação e incidência. Fechamos o capitulo expondo o exercício das tropas
no estado.
Falamos ainda das vila e aldeias, e da atuação militar dessas tropas, ainda falamos da
local e eram posições exercidas por moradores do estado, mostramos a modificação dos
O terceiro e último capitulo do texto fala dos números absolutos das tropas em
sendo ambos estratégicos. Ao falarmos dos valores absolutos por ano e depois por cargo
oficial exploramos os corpos militares em si. Terminamos ainda falando brevemente dos
soldados e das Tropas Regulares, que se relacionam com a formação oficial das tropas
Auxiliares e de Ordenança.
16
Procuramos mostrar neste trabalho um pouco da dinamicidade das relações
coloniais, que não foram bipolarizadas entre brancos e índios e que há outras formas de
benefícios, compartilhando inimigos comuns dos dois lados. Compreendemos que não
17
Capítulo 1
Pará, iniciando sua incursão pelo Vale Amazônico. Ao longo do século XVI Portugal
capitanias hereditárias. Entre estes períodos de tempo o Vale Amazônico era pelo
Marajó.
América portuguesa ficou desguarnecida. Nos anos do século XVI a região próxima ao
datas) pela Holanda e a ação mais agressiva francesa com as invasões e ocupação de
São Luis na América Portuguesa, mas também em Angola e Goa na África. Foi posto
9
Atual cidade de mesmo nome no estado do Maranhão.
18
cidade em mãos estrangeiras representava um ameaça a soberania lusa. De fato
individuais do que por processos organizados pela metrópole. Retrato disto são as
famosas bandeiras paulistas que a partir de 1580 foram dilatando a área portuguesa no
em comum.
problema sucessório onde Felipe II da Espanha assumiu o trono português como Felipe
10
Entre o Cabo Norte, atual Amapá e a região do Rio Branco, atual Roraima.
11
O presente trabalho não tem como foco a questão das bandeiras tão pouco este período. Mas a medida
de esclarecimento: estas incursões tinham um caráter local e direcionado inicialmente a região da Lagoa
dos Patos, com o esgotamento desta rumou-se para o norte – atual Minas Gerais e Goiás com a distancia
aumentando as expedições diminuíram pelo seu elevado custo. Tal logo poucas atingiram o Vale
Amazônico (somente duas). MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas
origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
19
e em 14 de julho de 1643 o Conselho Ultramarino 12. A historiadora Christiane
levou o reino a novas situações de guerra, fossem na defesa contra a ameaça espanhola
atenções, a tradição lusa de combate aos mouros era de caráter incerto e até heróico. No
entrar do século XV Portugal não possuía exército. No ano de 1508, o rei Dom Manuel
em urgências. Somente em 1549 (07/08/1549), quando o rei Dom João III publica um
Regimento que determina que a todos os súditos reais, no reino e nos arquipélagos
profissões15, além de os corpos militares se agruparem por províncias 16. Segundo Ana
12
No século XVIII um dos órgãos mais importantes, responsável por estudar, executar, fiscalizar,
observar a jurisdição e supervisionar geral de matérias e negócios, e propor ao rei a nomeação de
autoridades e oficiais para o Ultramar além de responder cartas, provisões, despachos e patentes do
Ultramar. MELLO, Christiane Figueiredo Pagano. Forças Militares no Brasil Colonial. Rio de Janeiro:
E-Papers, 2009. Pp. 44.
13
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 43-44.
14
Neste tópico as referências a datas e documentação vem de: MELLO, Christiane Figueiredo Pagano,
2009; COSTA, Ana Paula Pereira. Atuação de Poderes Locais no Império Lusitano: uma análise do
perfil das chefias militares dos Corpos de Ordenanças e de suas estratégias na construção de sua
autoridade. Vila Rica, (1735-1777). Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006; SALGADO,
Graça (cood). Fiscais e Merinhos. A Administração no Brasil Colonial. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
15
A determinação seria feita a partir da avaliação dos bens, o responsável inicialmente foi o Corregedor,
mais leis posteriores modificaram, e instaurou-se uma fiscalização que variou com as leis o tempo de 6
meses a um ano ou uma à três vezes no ano e o responsável por fazê-la. O que narrar aqui denotaria um
tempo e desviaria o eixo do trabalho.
16
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 29.
20
Paula Pereira da Costa, o historiador Joaquim Romero de Magalhães chamou de
de 1569 D. Sebastião assina a “Lei das Armas”, que estabelece que sempre deve haver
gente armada, a pé e a cavalo. Sendo este um meio de obrigar a população a ter armas e
cavalos, aprimorando a Lei anterior, e estipulava penalidade aos que não cumprissem 18.
mais oficiais das companhias de gente de cavalo e de p, e da ordem que devem ter em
disso afirma que as leis visavam à camada intermediaria da sociedade, que possuíssem
bens e renda suficiente para aquisição de cavalos e armas, sem levar em conta suas
origens:
A eleição dos oficias das Ordenanças era feita nas Câmaras, na presença do Capitão-
mor que era o senhor do lugar. No tocante a este cargo, a nova lei mudou bastante, pois
inseriu os espaços locais, o que será mais abordado posteriormente - falar no tópico
construção de uma área administrativa militar. “Varnhagen assegura que tais medidas de
19
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 32-33. Grifo próprio.
20
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 7.
21
Apud de SALGADO, Graça (cood), 1986. Pp. 99. A guisa de informação, o que Adolfo Varnhagen
chama de Segunda Linha é o corpo militar conhecido por Tropas Auxiliares ou Milícias, estas passam a
ter o nome de Tropas de Segunda Linha em 1790, por lei portuguesa.
22
Graça Salgado afirma que: “Neste sentido, talvez tenho sido a primeira lei que, aplicada
ao Brasil colonial, conseguiu organizar a força auxiliar e a defesa” 22. Com este
vincula-se o cargo com o local, pois o Regimento das Ordenanças reafirma este caráter
onde quem retirar-se do local de atuação perdia o posto. Dentre as mudanças realizadas
pela nova legislação uma das mais substanciais é a que dá espaço de exercício de poder
aos moradores locais, Ana Paula Pereira da Costa afirma que: “Refira-se desde já que as
Ordenanças na medida em que ficaram responsáveis pelas eleições dos oficiais, sendo
lugar – desde que residente no lugar – exercia o posto de Capitão Mor e este junto da
moradores para os cargos. Estas mudanças marcam uma maior presença portuguesa nas
colônias, no caso americano a partir de 1534. Apesar de parecer que essas instancias e
quanto as colônias, isto não é verdadeiro. Com o Regimento das Ordenanças se ver
específicos para o litoral, os “Vigias” – e a instalação de Câmaras, que são espaços das
elites locais. As mudanças são parte de uma perspectiva de Estado Corporativo 25, onde
cada qual tem seu lugar e cabe ao Rei distribui e manter a justiça.
22
SALGADO, Graça (cood), 1986. Pp. 100.
23
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 34.
24
O termo Defesa se refere a uma das estruturas gerais da realidade Moderna, no caso Portugal. Os
estudiosos da Época Moderna distinguem três espaços nos quais o corpo público era ordenado: Defesa,
Fazenda e Justiça. Entretanto é preciso ter em mente que esta distinção no período até praticamente o
século XIX, em alguns países, eram insignificante. As especificações de cargos era incomum, os
universos mesclavam-se.
25
Este aspecto está posto na Introdução.
23
Em 1574, o rei faz alterações no Regimento de Ordenança através da Provisão
das Ordenanças. A provisão modificou algumas exigências, como a vistoria que teve
sua freqüência diminuída. Afirma Christiane Figueiredo Mello que o rei de fato sabia
que seja por excessiva exigência. Crer a historiadora que os que tinham a
que D. Sebastião não via problema na demora da avaliação de bens (o prazo máximo era
dois anos para os que não possuíssem cavalos, ou seja, 1572) ou como Christiane
opressões27”.
pelas avaliações de bens que passam a ser os juízes de fora ou capitães mores e se adia o
proibindo o acesso a Cavalaria – especialmente aos que não tivessem fazenda para tal e
aqueles que tivessem cavalos utilizados para carga28. A Provisão de 1574 muda a
arrecadação das punições e a forma de fazê-lo, retira o posto de Capitão Mor nas vilas
onde existisse apenas uma Companhia de Ordenança “a não ser que, sobre o mesmo,
26
Cita Christiane Figueiredo Mello documentação: “escusam algumas pessoas de ir na Ordenança, que
conforme o Regimento devam ir nela, ou lhes levam peias, ou dádivas, ou fazem em seus cargos outras
cousas que não devam, e dão opressão ao povo, e que há nisso escândalo.” MELLO, Christiane
Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 41.
27
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 42
28
A tradição medieval dava a cavalaria um posição especial frente as outras tropas – infantaria e
artilharia, como sendo um corpo de reunia a aristocracia senhorial. Nos séculos aqui abordados houve
uma abertura e oficialização do exercito, que passará a ser perene e profissional com as medidas
pombalinas. Tão logo, a cavalaria se manteve como um lugar para privilegiados, mesmo não sendo mais
exclusivamente senhorial, principalmente pelo caráter militar do momento que encarregava o oficial de
armar-se e ter seu próprio cavalo.
24
de Companhia; determina que tabeliães, escrivães, oficias de justiça e de fazenda não
objetivo.
Aqui cabe uma inflexão, pois de 1580 a 1640 Portugal vivenciou a União
Ibérica. Durante a década de 1570 o rei português Dom Sebastião desaparece na África
e boa parte da nobreza, enquanto batalhava com os mouros. Isto causou um problema,
pois o rei ainda não tinha herdeiros iniciando uma disputa dinástica. A questão foi
A monarquia dual foi aceita nas Cortes de Tomar, neste acordo estava estipulada
uma separação institucional dos dois reinos, mas os poderes soberanos seriam exercidos
pela mesma pessoa, ainda eram reinos separados. O acordo era favorável, pois fortalecia
os reinos no ultramar e frente à Europa, vale lembrar que não foi uma conquista
Maria Fernanda Baptista Bicalho afirma acerca desta organização comum século XVI
na Europa que,
29
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 43
25
entidade mais ampla, um rei, uma monarquia ou um Estado,
desde que as vantagens da união pudessem ser reconhecidas.30
de ambos sobre o continente. Mas está questão não cabe aqui, importa ter em mente que
Governador Francisco Giraldes (08/03/1588), que reafirmar o que já estava posto 31. Não
Bragança inicia sua ascensão ao trono. Dom João IV assumiu o trono na década de 40,
território, onde cada província seria dividida em comarcas e estas em Companhias, onde
30
BICALHO, Maria Fernanda. Dos “Estados nacionais” ao “sentido da colonização”: história moderna e
historiografia do Brasil colonial. In.: ABREU, Martha; SOIHET, Rachel; GONTIJO, Rebeca (orgs.).
Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de história. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 2007. Pp. 74-75.
31
SALGADO, Graça (cood), 1986. Pp. 103.
32
Formação militar de caráter profissional, onde os militares eram regularmente treinados, recebendo
soldo não podendo exercer outro oficio. Estes militares deveriam estar sendo postos ao serviço militar,
tendo atuação constante.
26
dois ajudantes tendo as companhias um capitão e os demais oficiais, da mesma forma
espaço colonial, mas somente em 1653 é que se determina que o regimento seja
militares33.
Composto por civis não renumerados que seriam treinados e armados para ser um
segundo escalão da força militar para auxiliar as tropas regulares. A organização dos
corpos regulares e auxiliares era baseada no sistema militar espanhol, potência militar
Terço34 de 1000 soldados, há uma discordância quanto ao último, pois o texto de Ana
Paula Pereira da Costa35 afirma que no total os Terços detinham 1000 homens no fim, já
Christiane Figueiredo Pagano de Mello36 afirma que eram no total 600 soldados. Abaixo
está posto visualmente a organização segundo Ana Paula Pereira da Costa, onde
33
Observar-se a criação de três postos: Vedor-geral do exército, Comissários de Mostra e Comissário de
Vedoria, que segundo Graça Salgado: “o cargo de VEDOR-GERAL DO EXÉRCITO, a quem cabia o
controle do pagamento dos oficiais e soldados, bem como a responsabilidade por todos os gastos com as
tropas das fronteiras. A seu serviço deviam estar quatro COMISSÁRIOS DE MOSTRA e que quatro
OFICIAIS DE PENA, encarregados de fazer as revistas, inscrições das tropas e elaborar as listas onde
constariam os dados pessoais do militar (nome, data de ingresso, posto, conduta, morte em serviço, baixa,
promoção e outros). Dessas listas era extraída a fé de oficio, que condicionava a promoção ou
rebaixamento de patente. Cabia também ao vedor-geral zelar pela qualidade dos suprimentos fornecidos
às tropas regulares, pelo estado das munições, armazéns e hospitais. As necessidades de cada praça eram
verificadas pelo COMISSÁRIO DA VEDORIA, que, em conjunto com os almoxarifes e capitães-mores,
assentava todas as despesas, cujas certidões deviam ser entregues ao vedor-geral e ao contador.” Nenhum
oficial podia impor obstáculo a estes trabalhos. SALGADO, Graça (cood), 1986. Pp. 102 e 103.
34
A nomenclatura Terço refere-se a esta unidade equivaler a um terço (1/3) das Companhias de
Ordenanças, que eram de 3.000 soldados. COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 33
35
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 33 e COSTA, Ana Paula Pereira. Organização militar, poder
de mando e mobilização de escravos armados nas conquistas: a atuação de Ordenanças em Minas
colonial. Revista de História Regional. N. 11, V. 2. Inverno, 2006.
Pp. 07
36
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 47
27
diferentemente Christiane Mello afirma que cada Terço possui 10 Companhias de 60
homens, onde Ana Paula Costa não define quantos são os Terços:
Terço
Companhias
Companhias Companhias 60 soldados
Companhias 60 soldados 60 soldados
60 soldados
Esquadra
Esquadra Esquadra Esquadra 15 homens
15 homens 15 homens 15 homens
Cargos – Postos:
Terço:
Mestre de Campo;
Sargento Mor;
Ajudante
Companhia:
Capitão;
Tenente;
Alferes
Sargento;
Furriel;
Porta-Estandarte
Esquadra:
Cabo de Esquadra
Na relação dos cargos em cada unidade são iguais tanto nos esquemas das historiadoras Ana Paula Pereira
da Costa e Christiane Figueiredo Pagano de Mello.
28
Essa nova organização em Terços dirigiu-se inicialmente para os recém criados
Corpos Militares de Auxiliares, sendo depois estendida aos outros corpos militares. Este
corpo possui a diferença de que componentes seus viriam da Tropa Regular, no caso o
saber técnico que não tinham por não terem treinamento regular. As Tropas Auxiliares
ainda tinham a peculiaridade de que os cargos mais altos no Terço – mestre de campo –
1645, o Alvará dos Privilegiados os isentou de todo encargo tendo direito a privilégios
pagos.38
Somente em 18 de outubro de 1709 um Alvará Régio veio a alterar a maneira como era
realizada a escolha ou eleição dos ocupantes dos postos dentro do Corpo de Ordenança.
decisório dos altos oficiais, principalmente do Capitão Mor. De modo diversificado por
37
Lembrando que a Câmara era o principal espaço de negociação do poder local, onde tanto
internamento quanto na relação colônia – metrópole se dava negociações. Espaço onde era tecido as
relações clientelais e elemento imprescindível das redes imperiais. Acerca disto ver BICALHO, Maria
Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs.). O Antigo Regime nos Trópicos: a
dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
38
“De acordo com o Alvará de 24 de novembro de 1645, eram os seguintes os privilégios dos Auxiliares:
gozavam da isenção de contribuir com peitas, fintas, talhas, pedidos, serviços, empréstimos e outros
encargos das Câmaras Municipais; nem lhes tomem casa, adegas, estrebarias, pão, vinho, palha,
cevada, lenha, galinhas e outras aves, e gados e assim bestas de cela, não as trazendo a ganho,
usufruíam de todos os privilégios do estanco do tabaco; os que tivessem um ano de serviço nas fronteiras
poderiam eximir-se de para ali retornar; os que mais se distinguissem dentro de suas funções poderiam
filiar-se aos foros da Casa Real e enquanto alistados gozavam das regalias concedidas às tropas
remuneradas. “Alvará dos Privilégiados dos Auxiliares, de 24/11/1645.” In.: MELLO, Christiane
Figueiredo Pagano, 2009. Pp.48 cita Systema ou Collecção dos Regimentos Reais, compilados por José
Roberto de Campos Coelho e Sousa, tomo V, Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1789.
29
cargos39 os oficiais eram escolhidos entre os “da melhor nobreza, cristandade e
nomeação baseava-se que estes agraciados com a mercê por terem ganhos próprios não
teriam razão que querer auferir lucros do posto, que por si não remunerava40 . O Alvará
também ligou os indicados aos cargos a localidade e os capitães mores, sargentos mores
e capitães teriam suas patentes – antes era dado por provisão 41 – dadas por ordem e
sentido. Em 21 de abril de 1739, por exemplo, uma Lei recomenda que se restrinja o
numero de militares de acordo com o lugar: cada vila 43 teria apenas um capitão mor,
39
No cargo de Capitão Mor: a Câmara comunicava a vacância ao Corregedor ou Provedor da Comarca
que junto a Câmara indicavam três pessoas, estes nomes eram remetidos ao general ou cabo comandante
das armas locais, que juntamente com as informações sobre os concorrentes reunidas pela Câmara,
propunham os nomes pelo Conselho de Guerra, que sugeria um nome ao Rei. Nos cargos de Sargento
Mor e Capitão: a lógica era a mesma do Capitão Mor, porém junto a Câmara escolhia o Alcaide Mor ou o
Capitão Mor, faltando estes as pessoas residentes nos limites da localidade decidiam, mas cabia no fim ao
Conselho de Guerra a indicação final do nome para autorização régia – claro que o rei podia rejeitar. Os
cargos de Alferes e Sargento: eram nomeados por “nombramento” pelo próprio Capitão da Companhia,
escolha que teria que ser aprovada pelo Capitão Mor e confirmada pelo Governador das Armas – tanto
nombramento como aprovação e confirmação são etapas jurídicas distintas, onde as duas primeiras dão
permissão ao exercício do posto mas somente a confirmação atribui o cargo. O cargo de Ajudante era
eleito e nomeado pelo Capitão Mor. Segundo MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 72-73 e
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 34-35.
40
Em todo período colonial os únicos cargos militares que renumerava era nas Tropas Regulares ou de
Primeira Linha, que exigia dedicação exclusiva, pois pela constituição implantou um trabalho contínuo
para tropas permanentes e sempre a “postos”.
41
Há uma diferença básica entre carta patente e provisão, enquanto a provisão no período colonial é um
ato régio que confere algum beneficio ou cargo, a carta patente é um diploma que atesta a concessão de
mercê pelo o rei ou alguém que recebeu essa autoridade, neste há uma regra em trono do cargo e
freqüência. Retirou-se uma relação mais intima, pois envolveu outros organismos. BELLOTTO, Heloísa
Liberalli. Como fazer análise diplomática e análise tipológica de documento de arquivo. São Paulo:
Arquivo do Estado, Imprensa Oficial, 2002.
42
Neste momento o Estado norte da América portuguesa abrangia: as capitanias do Ceará, Piauí, Pará,
Maranhão numa faixa litorânea que começa no Cabo de são Roque até a fronteira não demarcada no
período no Pará. MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 43
43
Cada vila tem um terço e suas respectivas companhias e esquadras.
30
vilas; sendo que as vilas com menos de cem habitantes não teria capitão mor e o
exercício, para irem entrando nos postos que vagarem nos seus distritos” 45. A mesma
lei determinou ainda que as áreas litorâneas devessem ter Terços de Auxiliares e que os
patentes.46
entanto esta lei passou ao governador das capitanias a função de passar patente ao que
ele achasse mais apto dentre os propostos pela Câmara para o cargo. Houve nesta Lei
uma modificação na duração da nomeação ao posto de capitão mor que antes era três
Senado47 sofreu um redução na sua ingerência nos Corpos de Ordenança, onde as datas
das reuniões para a eleição dos outros postos passou a ser decidida pelo capitão mor, e
somente na morte deste ou na criação de outra tropa que a Câmara elegia. A historiadora
Marquês de Pombal tem a frente o Tratado de Madri que lhe exigira esforços de
impureza de sangue dado aos indígenas ou aos naturais da terra mestiços, este último
ampliava os habitantes aptos a dedicarem sua lealdade ao rei, lhe dando direitos e
deveres49 baseado na relação de débito ao favor real e a serviço do servo, o ato de dar
concessões régias podem ser vistas como fonte vital do Estado Absoluto; (...)
num só documento. A Provisão das Ordenanças visava reunir num único documento as
ocorreram. A provisão determinou que todas as sedes das capitanias deveriam ter
48
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 75-76.
49
Informo quanto a isto que haviam direitos ou privilégios próprios a mudança de status e principalmente
para estes indígenas pois sua ascendência ainda lhe dava um duplo privilégio de influência local.
Benéfico a ambos.
50
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 78-79.
32
deveria ser dada pelo governador e confirmada pelo rei. A provisão ainda extinguiu os
cargos civis de meirinho e escrivão das companhias, passando as funções deles para o
Ordenança.51
Entre os anos de 1756 e 1763 ocorreu na Europa a Guerra dos Sete Anos entre
Guaranítica na área dos Sete Povos das Missões, mas ainda sim a constante indecisão
das fronteiras, pois o Tratado de Madri foi anulado em 12 de fevereiro de 1761 pelo
Tratado do Pardo. Quando a Espanha ficou do lado da França seguiu o Pacto das
Famílias52 que complicou a situação portuguesa que era aliado da Inglaterra, que não
pode mais ser neutro na questão53. Somente em 1763 é que a paz foi assinada e os
territórios são devolvidos a Portugal, porém a questão não é decidida 54. Em 22 de março
de 1766 uma carta régia dirigisse a colônia, reiterando que as tropas militares se
livro de Ribeiro Sanches foi paradigma para a educação civil e militar, suporte
educacional após a saída dos padres da educação que deixou de ser domínio religioso
para ser governamental, laica, propunha uma “Escola Militar ou dos Nobres”. Tanto as
uma nova roupagem ao serviço militar, onde a pedagogia militar não se dirigia apenas
para a prática do combate, mas para uma ordem e disciplina no Estado, o soldado
concepção militar era objetiva para toda população – pobres, nobres, mestiços, negros,
englobava toda população não militar de oficio 58 em prol do bem maior para o Estado,
século.
56
Na colônia foi tenente-coronel austríaco João Henrique Böhm que foi responsabilizado pela
organização militar “(...) influenciado pelo modelo de Lippe, bem, como pelo morgado de Mateus, D.
Luís Antônio de Souza, e pelo Marquês de Lavradio, dois dos aristocratas mais eficientes que haviam
trabalhado com Lippe...”. Segundo: COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 41.
57
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 36.
58
“A organização militar, capaz de englobar amplas camadas da população, definira para cada morador o
seu lugar na hierarquia do corpo militar, e o seu na República, subordinando todos à univocidade da
vontade do soberano. (...) As propostas estratégicas (...) eram de incorporação e intervenção: por um lado,
a integração da população aos corpos militares através de um conjunto de medidas para os recrutamentos;
por outro, a repressão pura e simples de qualquer desordem (...), o sistema manteria o controle sobre a
população nas armas e pelas armas.” MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 84-85.
34
Na segunda metade do século XVIII é que se insere este trabalho, num momento
promovia a presença efetiva portuguesa em todo Ultramar e nos mais diversos âmbitos.
controlando o sistema de vigias nos locais de litoral e passou a poder decidir quando e
recursos judiciais, que junto com o auditor-geral e o cabo de maior patente dariam o
empreendidas por Dom José I tinham por objetivo com que os habitantes do Império
visavam uma maior subordinação do posto de capitão mor frente ao poder régio. Na
medida em que atribuía mais autonomia ao capitão mor o vinculava ao governador com
as posteriores mudanças de atribuição que lhe deram mais poder. A força desse dois
postos refletem a relação constituída: o capitão mor era escolhido entre os “principais da
terra”, tendo uma clara relação com as questões locais, mas sua permanência e
local com o tempo. A historiadora Fátima Lopes nos fala sobre o envolvimento dos
59
O parágrafo é todo a partir de MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 77-78.
35
“principais da terra” como uma estratégia de desarticulação do poder local 60, esta
questão envolve outros fatores, mas é importante frisar que a relação entre colônia e
metrópole era dinâmica, sendo dual mesmo que desigual onde os dois lados
negociavam. Nas relações entre os poderes metropolitanos havia uma clara troca: o
Pode-se entender a peculiaridade de cada tropa por seu caráter eletivo essencial.
eram escolhidos por agentes metropolitanos entre as elites locais, eram uma força
autônoma as Câmaras. As Tropas de Ordenança tinha seus cargos eleitos nas Câmaras
entre os habitantes locais, mesmo com as mudanças no cargo de capitão mor e sua
separado entre disputas locais das Ordenanças com os Senados. 62 A historiadora Shirley
Nogueira afirma que na Amazônia ao longo da segunda metade do século XVIII houve
60
LOPES, Fátima Martins. Oficiais das Ordenanças de Índios: Novos Interlocutores nas Vilas da
Capitania do Rio Grande. Anais do XXV Simpósio Nacional de História. Simpósio Temático 36: Os
Índios na História, 13-17 de julho de 2009.
61
Sobre a relação entre colônia e metrópole há uma vasta literatura, porém para este trabalho seguiu-se a
linha de estudos da Cultura Política e a nova noção de Pacto Colonial. Esta linha de trabalho é pensada
desde a década de 80 com as novas leituras numa relação de contato com as ciências sociais e literatura,
principalmente com a antropologia. Posteriormente esta questão será desenvolvida.
62
SALGADO, Graça (cood), 1986. Pp. 108; COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 40 e MELLO,
Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 49 e 76.
36
um progressivo aumento dos Corpos Auxiliares e em sentido aposto um decréscimo das
sendo por tradição lugar de destaque para aqueles de nobreza herdada e depois a aqueles
que tinham qualidade de nobreza apesar de não possuí-la. “De acordo co a legislação e
com a tradição lusitana, não haveria Ordenanças de homens de cavalo formadas por
brancos. (...) Os homens pardos e negros estariam agrupados, basicamente, no caso das
corpos militares em Minas Gerais, no seu foco estão os chamados Paisanos Armados ou
escravos, pois o caráter da formação dos Corpos de Ordenança era muitas vezes fruto de
63
NOGUEIRA, Shirley Maria Silva. A estrutura militar no Grão-Pará setecentista. In.: BEZERRA
NETO, José Maia; GUZMÁN, Décio de Alencar (orgs.). Terra Matura: Historiografia e História Social
na Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2002. Pp. 197-206.
64
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 45-46.
65
COTTA, Francis Albert. Os Terço de Homens Pardos e Pretos Libertos: mobilidade social via postos
militares nas Minas do século XVIII. In.: Revista de Humanidades – MNEME. Rio Grande do Sul. Vol.
03; N. 06, p. 71-95, out./nov. de 2002. Em 2005 o historiador Francis Albert Cotta defendeu sua tese de
doutoramento na Universidade Federal de Minas Gerais: No rastro dos Dragões: universo militar luso-
brasileiro e as políticas de ordem nas Minas Gerais.
37
Fonte: SAMPAIO, Patrícia Melo. Espelhos Partidos: etnia, legislação e desigualdade na colônia. Tese
(Doutorado) em História, Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2001.
formado em geral por filhos segundos das famílias, pois eles não herdavam o status
Dentro desta pesquisa este corpo de oficiais regulares não é objeto de estudo,
mas sua compreensão é imprescindível. São justamente das tropas regulares que os
posterior Diretório Pombalino os indígenas podem ascender a altos postos 66, são
vassalos reais.
local. Estes cargos eram vinculados a vila, a própria arregimentação era vinculada ao
Fonte: SAMPAIO, Patrícia Melo. Espelhos Partidos: etnia, legislação e desigualdade na colônia. Tese
(Doutorado) em História, Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2001.
66
Em todos os campos: Defesa, Fazenda, Justiça e Governo.
39
Tropas de Ordenança ou Tropas Irregulares
Fonte: SAMPAIO, Patrícia Melo. Espelhos Partidos: etnia, legislação e desigualdade na colônia. Tese
(Doutorado) em História, Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2001.
Sampaio em sua tese67 que tratada do norte da América colonial portuguesa, os dois
O Corpo de Ordenanças era marcado pela estrita vinculação local. Apesar das
mundo local, ao contrário disso. Com cada vez mais presença de oficiais vinculados
diretamente ao poder metropolitano nas Câmaras para decidir junto os indicados aos
dentre essas tinham ampla ingerência nas Ordenanças. No século XVIII são os
principais rivais dos vereadores, o poder régio se tornou mais forte justamente por
distribuir o poder, diminuindo o poder dos senhores de vassalos. A área de atuação das
deslocados para outras áreas69. A composição entre brancos e índios são deve ser
entendida a rigor, os historiadores Arno Wehling e Maria José Wehling 70 nos lembram
que os recenseamentos feitos para alistar os moradores hábeis a pegar em armas era
feito por declaração e mesmo os declarantes tinham imprecisão com as idades, logo há
apenas para este corpo de defesa, mas sua relação com as Milícias revelaram outra
situação.
tropas regulares, tropas não remuneradas que seriam periodicamente treinadas. Foram as
tropas que introduziram a organização militar em terço. Foram criadas vinculadas aos
69
Na Amazônia isso não era tão incomum. No setecentos ainda haviam ataques indígenas, e na segunda
metade do século houveram as fortificação de fronteiras, principalmente em razão dos Manaus – nio
Branco – e dos Muras e Mundurucus, também no Cabo Norte. SANTOS, Francisco Jorge dos. Além da
Conquista – Guerras e rebeliões indígenas na Amazônia pombalina. 2ª ed. Manaus: Editora da
Universidade do Amazonas, 2002; e FARAGE, Nádia. As Muralhas dos Sertões. Os Povos indígenas no
Rio Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e Terra; ANPOCS, 1991.
70
WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José. O Funcionário colonial: entre a sociedade e rei. In:
PRIORE, Mary (org.) Revisão do Paraíso. Os brasileiros e o Estado em quinhentos anos de História.
Rio de Janeiro: Campus. 2000.
71
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Índios e Mestiços no Rio de Janeiro: Significados Plurais e
Cambiantes (Séculos XVIII-XIX). Revista Memória Americana. N. 16, v. 1. 2008.
41
Regimentos Regulares e a Coroa, os cargos de alto escalão – mestre de campo e capitães
– eram escolhidos pelo rei os cargos intermediários – sargento mor e ajudante – eram
Mello fala que as vantagens destas tropas visavam atrair os mais prestigiados, os oficiais
destas tropas eram os responsáveis pelos alistamentos de suas próprias tropas, isto lhe
atribuiu um poder local, pois as listas de Ordenanças muitas vezes mão eram levadas em
uma necessidade de defesa dos territórios e fronteiras. A criação dos terços de auxiliares
vassalos armados, súditos fiéis a Coroa disciplinados tanto militar como civilmente
componha bem o ideário constituído por Ribeiro Sanches. Essa perspectiva atendia as
vasto império.
qualquer estudo sobre a região norte do atual Brasil encontra problemas, principalmente
possuem em sua maioria família e posses na localidade que habitam. Eram elementos de
suma importância tanto para os poderes locais quanto para o poder central, junto das
sua pratica política do Antigo Regime é objeto de análise aqui, pois uma revisão destes
Apesar das mudanças na legislação militar que retirou das Câmaras o amplo
poder nas Ordenanças e da criação dos Auxiliares que retirar a exclusividade local das
Ordenanças, a partir das reflexões de Christiane Mello pode-se entender que essas
centralizadora75.
militares e que de fato eram substanciais. A colônia norte da América portuguesa revela
73
São poucos os historiadores que trataram da região, nascidos aqui somente Arthur Cesár Ferreira Reis
possui renome.
74
MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009. Pp. 36 -37. Grifo próprio.
75
O processo de centralização acusado pela historiografia do período também acaba por nos ser
interessante, pois creio que há uma simplificação de um processo por uma palavra, que não deveria ser
posta isolada.
43
uma grande preponderância em militares dentre os funcionários, em razão de um caráter
militar da região. Foi apresentada uma parte da legislação sobre o campo da Defesa, no
caso as Leis, Decretos e Regimentos que mais se vinculam aos corpos de Ordenança e
Auxiliares. O que nos propomos aqui é expor os rastros do corpo militar mais envolvido
com a instância local. Foram encontrados 22, entre estes os cargos que informavam as
Existem pessoas que estão em cargos diferentes, pois o interesse aqui é ver os cargos
ocupados. Mas existem caso curiosos como um integrante da Cavalaria Auxiliar que
44
segundo a estruturação abordada nas Tropas Irregulares não deveria haver cavalaria, e
dos principais princípios da justiça do Antigo Regime: cada parte do corpo tem sua
função. Entrar no corpo militar colonial trazia vantagens, privilégios, porém nada além
do que cada qual poderia receber. Quando da criação da Ordenança seu alvo foi a classe
intermediária da sociedade76, que detinha bens e riqueza, mas não reconhecimento sendo
social e o valor de nobreza. Ter valor de nobreza não é o mesmo que ser, primeiro, pois
isto não pode ser herdado ou dado em herança, o reconhecimento do rei em certos
A historiadora Ana Paula Pereira da Costa dirigiu sua atenção ao caso das Minas
Gerais, na Amazônia talvez o tom seja outro. Observou-se que nas tropas do Estado do
período destaco o trabalho do historiador Rafael Ale Rocha80 que aborda que na reforma
Flávio Gomes81 ao abordar os fugidos na região norte entre os séculos XVIII e XIX fala
do constante apoio dado mesmo por militares e que muitos dos mocambos e quilombos
Ale Rocha, ele expõe outra situação onde o oficio militar era um dos mais solicitados,
79
COSTA, Ana Paula Pereira, 2006. Pp. 41
80
ROCHA, Rafael Ale. Levantes e deserções militares na Amazônia pombalina. Trabalho de
Conclusão de Curso. Manaus: UFAM, 2006.
81
A Hidra e os Pântanos, do historiador Flávio Gomes.
46
Capítulo 2
É preciso ter em ótica o que afirmou Maria Fernanda Bicalho, de que existe um
erro conceitual – para ser suave – em crer que cerca de trezentos anos foram
homogêneos por todo o continente82. Isso também se aplica a região norte da colônia
de Carvalho e Mello, que na segunda metade do século XVIII foi nomeado Ministro do
então recém rei Dom José I, acumulando poder e cargos ao longo de duas décadas, nas
quais o ultramar foi um de seus pontos de atenção. 84 O trabalho de pesquisa tinha como
82
BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Pacto colonial, autoridades negociadas e o império ultramarino
português. In.: SOIHET, Rachel; BICALHO, Maria Fernanda B. e GOUVÊA, Maria de Fátima Silva.
Culturas políticas: ensaios de história cultural, história política e ensino de história. Rio de Janeiro:
Mauad, 2005. Pp. 85-105.
83
A questão do currículo escolhido pelo Ministério da Educação e a própria escolha da História Oficial,
hierarquizando os conhecimentos em conceitos hoje desmistificados, como: erudito, popular ou regional e
nacional, não entra aqui. O que importa é que as escolhas influem na propagação das pesquisas e na
própria percepção das pessoas sobre o que hoje é o Brasil. Por estes direcionamentos vindos do Estado
temos situações de preconceito regional e mesmo no campo cientifico graves erros de interpretação e falta
de dialogo historiográfico.
84
O titulo “Era Pombalina” ao período deve-se a titulação que Sebastião José de Carvalho e Mello
recebe. Na década de 1760 é titulado Conde de Oeiras, mas somente em 1778 recebe o título de Marquês
de Pombal, quando já havia falecido. Em decorrência do reconhecimento a este título para o poderoso
ministro optamos por manter a pratica de referência a ele e a época pelo titulo do marquesado.
47
2.1. A região Amazônica no período colonial
Durante o século XVI o norte da América do Sul foi alvo de diversos corsários,
nada além de navegações pelos rios da região. Somente na década de 20 do século XVII
primeiros conflitos com nações indígenas. O historiador Arthur Cézar Ferreira Reis
– que habitavam toda costa do atual Brasil – e tão rápido as relações se constituíam tão
rápido se desfaziam e isto era resultante do próprio caráter da população 86. Quanto aos
85
REIS, Arthur Cézar Ferreira. ....In.: História da Civilização Brasileira.
86
MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São
Paulo: Companhia das Letras, 1997.
87
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Semeador e o Ladrilhador. In.: Raízes do Brasil
48
abertos os navios aos dispostos a vir a possessão – além dos degredados, somente
uma segunda alternativa para os que queriam enriquecer, e já não encontravam mais
espaço no Nordeste.
A região representou uma oportunidade, principalmente aos que não tinham espaço no
‘plantation89’, mas este não deu muito resultado principalmente porque o interesse dos
naturais abundantes para o comércio. As “drogas dos sertões” foram o principal foco de
interesse dos colonos, no século XVII Portugal começava a perder possessões na Ásia o
88
SANTOS, Francisco Jorge. Além da Conquista: guerra e rebeliões indígenas na Amazônia pombalina.
2 ed. Manaus: EDUA, 2002. Pp. 15. Grifo próprio.
89
O sistema de ‘plantation’ foi empregado principalmente nas Antilhas e no Nordeste, onde uma grande
extensão de terra, geralmente de um senhor local apenas, era empregada para a produção agrícola de
apenas um produto com uso de mão-de-obra intensiva, tanto escrava ou trabalho compulsório.
Geralmente eram plantados cana-de-açúcar, algodão, arroz e trigo – os dois primeiros principalmente no
norte e nordeste e os dois últimos no sul.
49
que significava perder o lucrativo comércio das especiarias das Índias Orientais –
crítica a ação dos colonos, pois nada produziam na região e dependiam única e
que lhes trazia um lucro certo. Uma das conseqüências da priorização da coleta de
responsáveis pela ida a mata e coleta justamente pelos seus conhecimentos da região.
Durante sua estadia o padre António Vieira crítica o uso indiscriminada dos índios, pois
nada os brancos faziam sem eles, e que a razão de suas misérias era sua preguiça.
90
O então Estado do Maranhão e Grão-Pará entrou no Império Ultramarino
historiadora Nádia Farage92 nos fala que a entrada dos europeus no circuito relacional
transformou as relações entre as nações, onde inicialmente eles eram mais um elemento,
agentes interessados. Clássico exemplo das disputas surgidas é o combate aos Manau na
região do Rio Branco93, onde o interesse das nações envolvidas e dos holandeses
chocou-se com a expansão dos portugueses. Isto expõe em claro que não somente os
90
O Estado tornou-se efetivamente independente do Estado do Brasil em 1624 onde era ligado
diretamente a Lisboa, aglutinando as capitanias do Pará, Maranhão, Ceará, Piauí e Rio Negro, e as outras
que eram de particulares até o século XVIII – exceto a real Capitania de Gurupá, área que foi mantida
sempre como pólo administrativo real local e o Rio Negro que foi criado no século 18. A constituição do
Estado do norte da América portuguesa variou conforme o tempo, as capitanias do Piauí e Ceará
passaram por vezes para ingerência do Estado do Brasil. Até o período final da pesquisa temos
nomeações para a Capitania do Piauí: Ordenança – 54 e Auxiliares – 50. Foi: Estado do Maranhão em
1612; Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1654; Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1751 e Estado do
Grão-Pará e Rio Negro em 1772.
91
Creio que a analise econômica da região deve ter em vista as particularidades da região e de seu
processo histórico, que é resultado da escolha de seus habitantes.
92
FARAGE, Nádia. As Muralhas dos Sertões. Os Povos indígenas no Rio Branco e a colonização. Rio
de Janeiro: Paz e Terra; ANPOCS, 1991.
93
Atual estado do Amapá.
50
europeus articulavam-se, havia interesse indígena em questão e eles eram essenciais. A
não ‘anulam’ os dominados, ainda que haja extremo desequilíbrio de forças entre os
dois lados.94”. A partir disso tem-se em mente que a colonização foi um projeto que teve
inimigo comum e Arthur Cézar Ferreira Reis fala da fluidez das alianças, as duas falas
mostram um certo equilíbrio inicial95. Quando escreve sobre São Paulo colonial John
Monteiro mostra que os portugueses aderiram a práticas indígenas, Nádia Farage para
nos fala que mesmo séculos depois os utensílios portugueses não faziam tanta diferença
seriam vistos variou conforme a força de barganha dos missionários e dos colonos.
que ninguém nega aqui – ela continua sendo relevante: “As Idéias nele [legislação,
decretos, alvarás] contidas são muito mais do que mera retórica destinada a permitir a
leis são discutidas, colonos e jesuítas recorrem a princípios comuns, pertencentes a uma
portuguesa deveriam ser respeitados e reconhecidos. A legislação foi refeita não por
razões estritamente pessoais, mas sim argumentações lógicas baseadas nos paradigmas
Todo período colonial passa por uma constante instabilidade, pois as alianças
lados opostos, a depender de alianças que lhe são próprias e outras geradas ao longo do
período colonial. Deste modo não é mesmo freqüente as queixas contra os indígenas, a
historiadora Maria Regina Celestino de Almeida98 nos fala das negativas de populações
de índios de maus tratos por parte dos missionários, como ela defende em sua tese: há
um claro limite de controle por parte dos missionários e colonos. A colonização impõe
limites desde populacionais, onde os portugueses eram em menor numero, até culturais
onde até o século XIX havia populações que apesar de não falarem mais sua língua
pela busca de indígenas que iam rareando nas áreas de habitação de colonos. A
liberdade absoluta ocorreu em dois momentos que não duraram além de meses que
forma cheios de revolta dos colonos e padres. Esse período não é nosso objetivo, mas é
importante frisar a inconstância que determinou pólos de combate, onde padres eram a
a legislação era para um tipo de índio, o rebelde. Os aliados eram encarados de forma
diversa, e a legislação se modificava procurando privilegiar esse tipo especifica que era
que deveriam ser respeitados, pois havia sempre o risco de abandono. Foi nesse período
que surgiram os primeiros núcleos coloniais permanentes, onde havia também revoltas e
era alvo de ataques, e mesmo entre as ordens religiosas existiam conflitos 101. A mudança
Regimento da Missões, que vigorou até 1755. Que não solucionou a questão de todo, é
válido o que afirmou Beatriz Perrone-Moisés: que foi a questão indígena o motor da
Tratar do período colonial amazônico é falar das relações que se dão em torno
do índio, a primeira metade do século XVIII não é muito diferente do anterior. Mas na
101
A Amazônia foi loteada entre as ordens religiosas: capuchos – franciscanos da Provincia de Santo
Antônio – Ilha de Marajó, São José, Bom Jesus, Paru e Urubuquara, dos sete núcleos que tinham entre o
rio Amazonas e Nhamundá; jesuítas: margens direita e esquerda do sul do Rio Amazonas; os carmelitas:
área do Rio Negro e Solimoes; mercedários: rio Urubu e parte do baixo rio Negro; e os capuchos da
Piedade – franciscanos da Provincia da Piedade – área ao redor do Gurupá, com os distritos do rio
Amazonas até Nhamundá tendo o Xingu e o Trombetas. SANTOS, Francisco Jorge dos, 2002.
102
PERRONE-MOISÉS, Beatriz, 1992.
53
segunda metade do século um elemento modifica um pouco: o Diretório Pombalino,
por ele. O historiador Mauro Cesar Coelho103 argumenta que as medidas implantadas
pela administração metropolitana eram resultado das negociações entre os agentes locais
Belém do Pará, esta mudança é significativa, primeiramente, pois oficializa uma pratica
que na sede oficial – São Luis, segundo ponto, a modificação externa a política do
103
COELHO, Mauro Cesar. Do sertão para o mar. Um estudo sobre a experiência portuguesa na
América, a partir da colônia: o caso do Diretório dos Índios (1751-1798). Tese de Doutoramento. São
Paulo: USP, 2005.
104
COELHO, Mauro Cesar, 2005. Pp. 92 e 93.
54
diplomata espanhol o Tratado de Madri para resolver o problema da fronteira entre
Portugal e Espanha; herança dada a Pombal quando ele assumiu o posto, Kenneth
Maxwell105 afirma que apesar de discordar com o Tratado este teria de ser cumprido e
dessa forma ele nomeou em 30 de abril de 1753, seu irmão Francisco Xavier de
portuguesa106.
dos que se casam com índios; em 6 de junho de 1755 a Lei que “restituiu aos índios do
Grão-Pará e Maranhão a liberdade de suas pessoas, bens e comércio na forma que nela
jurisdição temporal dos regulares sobre os índios do Grão-Pará e Maranhão (...) ordena
que preferencialmente, fossem designados nas vilas, para juízes ordinários, vereadores e
oficiais de justiça, os índios naturais delas, reputados como idôneos para os cargos. E
dispõe que fossem as aldeias governadas pelos seus principais, tendo estes como
o Diretório e determinou que ele fosse aplicado também ao Estado do Brasil; e em Lei
região, na medida em que exigiu que fossem estabelecidas ocupações estáveis com
105
MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal. Paradoxo do Iluminismo. 2º Ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1996.
106
A Espanha encarregou no norte D. José de Iturriaga. REIS, Arthur César Ferreira. História do
Amazonas. 2a ed. Itatiaia Limitada: Belo Horizonte, 1989.
107
SANTOS, Francisco Jorge, 2002. Pp. 47-48.
55
para fazerem e auxiliarem as demarcações. O trabalho de conclusão de curso de Rafael
Ale Rocha nos fala das deserções militares 108, a documentação é recorrente em afirmar
indígenas passam a ser “as muralhas dos sertões111” seu conhecimento da região e sua
tutela, um novo espaço de manobra. O debate deixou de ser os índios, mas sim as terras
108
ROCHA, Rafael Ale, 2006.
109
Ao longo das décadas estudadas se encontrou correspondências: “sobre o empréstimo feito junto da
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, para o pagamento das tropas.” Em 15 de
outubro de 1761. AHU ACL CU 013, Cx. 51, Doc. 4623. Em 11 de julho de 1763 remete sobre a
necessidade de fardamento e o soldo dos soldados, que está atrasado a 10 meses. AHU ACL CU 013, Cx.
54, Doc. 4964. Em 20 de fevereiro de 1764 um oficio é “sobre o empréstimo solicitado aos
administradores da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, para pagamento de um
ano de soldos e côngruas às Tropas, ministros da Sé e vigários daquele Estado.” AHU ACL CU 013, Cx.
55, Doc. 5044. Em 21 de julho de 1766 é enviado ofício “para pagamento dos empréstimos concedidos
pela Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão para suprir as despesas da fortificação
da Praça de São José do Macapá (...)”. AHU ACL CU 013, Cx. 58, Doc. 5280. Em 10 de março de 1769
um ofício remete uma relação com os “os empréstimos concedidos pelos administradores da Companhia
Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, para a realização das obras da fortificação da vila de São
José do Macapá, do pagamento dos soldos das Tropas das fortificações daquele Estado (...).” AHU ACL
CU 013, Cxs. 63 e 64, Docs. 5526 e 5527. Em 19 de setembro de 1770 um oficio do provedor ao
secretario de estado Marinha e Ultramar fala das despesas do estado: “sobre as principais despesas da
Provedoria para pagamento dos soldos dos dois regimentos de Infantaria, de um sargento-mor agregado
com exercício de engenheiro, dos ajudantes de doze Terços de Auxiliares e Ordenanças, das obras de
fortificação de São José do Macapá, das madeiras para a construção do Arsenal da cidade do Pará, das
folhas civil e eclesiástica, e para prestar apoio às capitanias do Mato Grosso e Rio Negro.” AHU ACL
CU, Cx. 66, Doc. 5688. Grifos próprios.
110
Essa perspectiva é romana, do direito clássico, onde seria considerado dono da terra aquele que nela
residisse e produzisse, era sua por direito de uso.
111
FARAGE, Nádia, 1991.
56
2.2. Os Indígenas nas Tropas Militares
O Diretório dos Índios re-tutelou os indígenas, agora ao Estado. Como visto a lei
de suas pessoas, como deve-se esperar isto causou uma confusão absurda no estado.
que não tinham condições de comprar negros. Em 1755 foi criada a Companhia Geral
seria usada como assalariado e por tempo determinado. Devo dizer que na pratica isso
não funcionou.
questões locais para coibir os vícios. A questão indígena passou para o “governo civil”,
o diretor dos índios112 deveria defender os interesses dos índios, que estavam em fase de
civilização. O projeto do Diretório visava uma civilização dos índios pela convivência
indígena ainda era um estrato inferior da sociedade, mas era parte dela, no seu local
devido: “Os fatores culturais são os mais essenciais na estratificação: em primeiro lugar
o idioma e a indumentária (...) É o índio cultural e não o índio biológico que constitui o
A historiadora Fátima Martins Lopes em seu artigo 115 nos fala do uso estratégico
onde o reconhecimento do líder dar-se por ações dele, que não o diferencia dentro da
sociedade ele deve ser o primeiro a fazer as atividades, não há privilégios de isenções 116,
e a falha lhe tira a posição tão logo a liderança dificilmente é herdada. Ao tornar os
índios vassalos abria-lhes direitos de reconhecimento de terras, não podiam ser forçados
postos. Maria Regina Celestino de Almeida em sua tese relata que os indígenas
principais da terra, que seriam aqueles que tivessem reconhecimento social de sua
113
COELHO, Mauro Cesar. Os limites da igualdade: a inserção indígena na sociedade colonial
paraense do Diretório dos Índios (1757-1798). Canoa do Tempo: Revista do Programa de Pós-Graduação
em História da Universidade Federal do Amazonas. Vol. 2. N. 1 jan./dez. 2008. Manaus: EDUA, 2010.
Pp. 232. Grifo próprio, negrito do autor.
114
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000. Pp. 153. Grifo Próprio.
115
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000; COELHO, Mauro Cesar, 2005; MONTEIRO, John
Manuel, 1997.
116
Em algumas nações ele pode ter mais de uma esposa.
58
distinção e de seu caráter117. A historiadora narra em que os indígenas entendiam bem
Ao avaliar o exercício dos cargos por indígenas, Fátima Martins Lopes encontra
solicitações a superiores que sua posição seja respeitada, na Amazônia isto não é
ameaça retirar-se do local – em certos casos são atendidas em outros não118 - o que
especializações e quantitativos populacionais que lhe dão valor dentro do império 119. A
historiadora Fátima Lopes em seu artigo chama a atenção para a nomeação como uma
enfraquecendo a união do grupo, tão logo a resistência dele frente ao poder central 120. A
penúria era grande. O texto procura não ater-se somente aos indígenas, seu foco de
estudo são as Tropas Irregulares e as Milícias, que se vinculavam mais com as vilas e
117
LOPES, Fátima Martins. Oficiais das Ordenanças de Índios: Novos Interlocutores nas Vilas da
Capitania do Rio Grande. Anais do XXV Simpósio Nacional de História. Simpósio Temático 36: Os
Índios na História, 13-17 de julho de 2009.
118
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000. E ROCHA, Rafael Ale. Os Oficiais Índios na
Amazônia Pombalina: Sociedade, Hierarquia e Resistência (1751-1798) – Dissertação de Mestrado.
Niterói, RJ: UFF, 2009.
119
As maiores vila, grande população indígena, são Portel e Melgaço que seus líderes têm respeito e
deferência. ROCHA, Rafael Ale, 2006 e 2009, em 1761 Melgaço tinha 312 indigenas e Portel 524, a
terceira maior (Veyroz) tinha 149. AHU ACL CU 013, Cx. 49, Doc. 4519. Ver Anexos, Tabela 01.
120
LOPES, Fátima Martins, 13-17 de julho de 2009.
59
2.2.1. Etnias indígenas
Pode parecer um tanto estranho uma inflexão tão grande para falar dos indígenas
maioria de indígenas na região pede esta inflexão. Apesar de agora serem vassalos do
rei tal como o restante da pouca população ‘branca’ os indígenas ainda carregam um
partir do momento que assumi o posto na colônia, inicia um processo de instauração das
dos Índios foi feita a partir das observações de D. Miguel de Bulhões e Francisco Xavier
de Mendonça Furtado, e que o primeiro tivera uma péssima impressão da atuação dos
padres nas missões122, sendo uma proposta intervencionista que tinha nexo com as
expectativas locais123.
121
Durante a década de 1750 o governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado foi nomeado
plenipotenciário das Demarcações, e em 1753 ele dirigiu-se para a Capitania do Rio Negro para
encontrar-se com a comissão espanhola. A comissão portuguesa ficou anos esperando, já mapeando o
local e edificando a sedo do governo da capitania: Vila de Barcelos, antiga Mariúa. Nos momentos de
ausência do governador – para muitas vezes inspecionar o interior do Estado, assumia interinamente o
bispo do Estado do Grão-Pará e Maranhão, D. Miguel de Bulhões.REIS, Arthur César Ferreira, 1989.
122
A ordem dos carmelitas era constantemente acusada de manter relações de negociação da mão-de-obra
indígena, não cuidando da evangelização e da civilidade dos indígenas.
123
COELHO, Mauro Cesar, 2005.
60
postas, mas as nomeações de índios são diferentes. As cartas patentes índias são
nomeação, que era assinada pelo secretário e não pelo governador. Dentro da
Maranhão 18 indígenas com sua nomeação vinculada a aldeia e a nação, estes não são
12 Capitães de Aldeia, apesar destes cargos serem relevantes, são cargos locais e o texto
da nomeação demonstra que eram nomeados entre os de sua nação. O texto das
nomeações vincula a aldeia à nação, e é sabido pela historiografia que para uma maior
origem e já na aldeia diversas etnias passaram a conviver num mesmo espaço. Apesar
supor que os cargos eram para as nações dentro das aldeias, sendo um reconhecimento
de uma sociedade dentro da organização maior que era a aldeia. Como afirma Maria
124
Aldeia/vila refere-se aos locais que antes das leis da década de 1750 eram aldeia, e com o processo de
lusitanização da região tornaram-se vila, muitas com o nome indígena retirado para um português.
125
Exemplo de nomeação, a grafia foi atualizada e os corroídos foram corrigidos: “Ao Indio Miguel da
Costa se passou Patente de Capitão da Aldeia de Guariurû dos de sua Nação Mamayanâ em 23 de Agosto
de 1752.” APP, Cód. 58, imagem 25, doc. 53, nomeação 89.
126
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Índios e Mestiços no Rio de Janeiro: Significados Plurais
e Cambiantes (Séculos XVIII-XIX). Revista Memoria Americana. N. 16, v. 1. 2008.
61
sociedade portuguesa tencionava-os eles criavam resistências dentro de seus espaços de
liberdade127
Abaixo temos o quadro das aldeias128 e nações, com os cargos dos indígenas:
Cremos que todos estes são nomeados do Corpo dos Auxiliares, pela sua
vinculação com a aldeia. E pela nomeação dar-se a partir de órgão externo. A pesquisa é
preliminar, mas revelou a existência de militares indígenas, no caso aqui exposto temos
a importância das etnias, pois a nomeação expõe que são indígenas e suas etnias. É claro
que as reflexões desenvolvidas são conjecturas, não há fontes escritas diretamente pelos
127
É necessário rever conceitos das relações entre dominador e dominado, há sempre um limite de
pressão. Angela de Castro Gomes ao longo de seu texto trata dos espaços de negociação, por mais forte
que seja o dominador para a manutenção de sua posição é necessário a atuação do dominado, é uma
relação dinâmica, não estática. GOMES, Ângela de Castro. História, historiografia e cultura política no
Brasil: algumas reflexões. In.: SOIHET, Raquel; BICALHO, Maria Fernanda Baptista e GOUVÊA,
Maria de Fátima Silva (orgs.). Culturas Políticas. Ensaios de historia cultural, história política e ensino
de história. Rio de Janeiro: Mauad, 2005. Pp. 21-44.
128
Em Anexos, Tabela 01 contém as aldeias e vilas com o contingente de índios habitantes em 1760.
62
indígenas, mas os escritos de brancos e mestiços revelam passos da população tanto
Como foi dito os 18 militares indígenas tem em sua nomeação o nome da nação,
que é atrelada a sua posição entre sua etnia. Em 1755, os indígenas passaram a ser
indignos de ocupar certas posições por suas origens. Assim passaram a receber
privilégios: de ser tratado com a dignidade natural ao seu posto, de não poder ser
obrigado a ir aos sertões podendo enviar indígenas em seu lugar para beneficio próprio.
absoluta penúria. Segunda Rafael Ale Rocha dentre os ofícios que haviam, o que todos
representava um problema, por isso uma das maiores preocupações era a reorganização
Entre 1756 e 1763 ocorreu a Guerra dos Sete Anos, a qual Portugal ficou neutro
boa parte. Ocorre que a Espanha entrou na Guerra forçando Portugal a decidir-se, pois a
França pelo Pacto das Famílias exigia que Portugal lhe desse apoio, acontece que a
129
Não encontramos na pesquisa Mestre de Campo índio, mas a historiografia firma que há.
130
ROCHA, Rafael Ale, 2006.
131
NOGUEIRA, Shirley Maria Silva. A estrutura militar no Grão-Pará setecentista. In.: BEZERRA
NETO, José Maia; GUZMÁN, Décio de Alencar (orgs.). Terra Matura: Historiografia e História Social
na Amazonia. Belém: Paka-Tatu, 2002. Pp. 197-206.
63
posição lusa foi favorável a Inglaterra. Em 1761 o Tratado de El Pardo (12/02/1761)
com maiores detalhes e formalidade, além de não mais citar a nação. Apesar de parecer
documento revela que pelo menos para certos elementos da população havia um
os relatores e escrivães são ‘brancos’ podendo ter interesse em desmerecer, mas também
em louvar o índio (!) – a ciência, que no mínimo as lideranças, tinham da posição que os
132
WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José. Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1994.
133
Com será visto no capitulo seguinte, é no final da década que ocorre o aumento substancial de
nomeação de indivíduos.
134
Creio que essa brancura deve ser relativizada, pois muitos eram filhos de índias com brancos, ou já de
muitas gerações mestiços.
135
GOMES, Ângela de Castro, 2005.
136
Grande exemplo dessa avaliação é: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Ilustríssimo chefe
indígena. In.: http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1967.
64
cargos passaram a ser dados referenciando-se apenas: o nome, posto, vila/aldeia e data,
nas nomeações que são curtas no modelo da primeira metade do século XVIII. Nas
nomeações de índios segundo a forma detalhada branca não se fala a nação. Entende-se
Maria Regina Celestino de Almeida nos falam em suas teses sobre o processo por parte
dos índios, argumentam eles que dentro do cotidiano da aldeia onde o processo colonial
juntou diversas etnias, novas alianças forma construídas e um novo entendimento das
aldeias foi feito fazendo o equilíbrio das relações dos poderes locais e o poder central
variar de localidade para localidade. Existiam aldeias/vilas que tinham mais força do
que outras, desse modo, oficiais indígenas mais fortes do que outros137. Quando se
atrelação do posto, logo do indígena e dos seus a aldeia/vila, que é uma organização
137
Não apenas força de numero, braços, mais estratégica, produtiva e simbólica.
65
Capitão de Infantaria 09
Alferes de Infantaria 11
Vila de São José do Macapá Sargento do Numero 10
Sargento Supra 11
Total 31
Capitão de Infantaria 02
Capitania do Maranhão Alferes de Infantaria 03
Total 05
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210. Retirou-se os cargos que não há índios
São 89 índios nomeados para as Ordenanças, onde nenhum tem o nome da nação
organização era irregular, os militares localizados referem-se mais aos anos de 1769 a
numero. O mesmo processo dar-se nas Milícias, que estão expostas abaixo:
66
Capitão de Infantaria 09
Alferes de Infantaria 09
Vila de São José do Macapá Sargento do Numero 09
Sargento Supra 10
Total 37
Capitão de Infantaria 06
Alferes de Infantaria 08
Fortaleza de Maranbitenas Sargento do Numero 10
Sargento Supra 10
Total 34
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210. Retirou-se os cargos que não há índios.
O quadro que apresenta os militares índios nas milícias inclui os índios que
em 127 indígenas. A soma dos dois corpos resulta em 216 principais da terra de origem
indígena que estão liderando terço e companhias pelo estado. É claro que como afirma
Maria Regina Celestino de Almeida a maioria dos trabalhos eram efetuados pelos
liderança de tropa, como o Capitão. Na historiografia lida citam-se outros cargos aos
quais os índios passaram a ser nomeados. Cremos a partir do trabalhado que os cargos
dirigiam-se aos índios que mais estavam vinculados aos interesses em questão, as
maiores vila e mais produtoras eram mais ouvidas e atendidas em seus anseios140. Em
parte o projeto pombalino operou nesse sentido, as etnias deixaram de sobressair sobre a
138
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000.
139
É um termo que se refere aos que são nascidos na colônia.
140
ROCHA, Rafael Ale. Os Oficiais Índios na Amazônia Pombalina: Sociedade, Hierarquia e
Resistência (1751-1798) – Dissertação de Mestrado. Niterói, RJ: UFF, 2009.
67
aportuguesamento foi espaço de sobrevivência índia e na Amazônia especialmente
assumiu seu posto no estado no ano de 1751, um de suas principais avaliações era o
estado militar do estado, e como já dito anteriormente a palavra que melhor exprime é:
minerações no centro do que hoje é o Brasil, dentro disso cria-se uma outra preocupação
com a região norte da colonial. A região mineradora incluía as capitanias de São Paulo,
Minas e Mato Grosso, acontece que está última era particularmente próxima a Capitania
Mendonça Furtado fala sobre a chegada dos fardamentos dos regimentos militares do
correspondências informam que a relação das Capitanias onde as tropas do Pará foram
141
Apenas alguns: ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000; SANTOS, Francisco Jorge dos, 2002;
PERRONE-MOISÉS, Beatriz, 1992.
142
Criada em 1748, no mesmo ano que a Capitania de Goiás, antes mesmo que o Tratado de Madri
regulasse as terras a Portugal. WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José, 1994.
143
15/10/1761, AHU ACL CU 013, Cx. 51, Doc. 4624.
68
prestar socorro a Capitania do Mato Grosso144, o teor das últimas correspondências
regimentos que assegurem uma comunicação das minas do rio Tocantins com as vilas
da Capitania do Pará145, a região do Mato Grosso é um dos pontos de atuação das tropas
Miguel Lopes de Lavre148. Apesar de ser parte do Estado do Brasil, sua organização e
apoio militar vinha pelo Estado do Grão-Pará e Maranhão, o que incidia maior urgência
Regulares, que foram atuar primeiramente em Belém do Pará. Sendo a vinda destes dois
144
28/02/1764, AHU ACL CU 013, Cx. 55, Doc. 5047; 09/03/1764, AHU ACL CU 013 CX. 55, Doc.
5054; e em 1769 informa um oficio do provedor da Fazenda Real do Pará que a Companhia Geral de
Comércio do Grão-Pará e Maranhão dera apoio financeiro a Capitania do Mato Grosso, 10/03/1769, AHU
ACL CU 013, Cx. 63 Doc. 5526 e AHU ACL CU, Cx. 64, Doc. 5527. E em 19 de setembro de 1770 um
oficio provedor da Fazenda do Para sobre os gastos da Fazenda, entre eles com apoio à Capitania do Mato
Grosso, AHU ACL CU 013, Cx. 66, Doc. 5688.
145
07/08/1752, AHU ACL CU 013, Cx. 33, Doc. 3129.
146
A Vila de Borba, na foz do rio Madeira, era um importante entreposto com a capitania do Mato
Grosso.
147
Avisos são dentro da administração colonial, diplomas expedidos pelo secretario de estado para outros
secretários ou presidentes de tribunais, em nome do soberano para um destinatário especifico.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli, 2002.
148
31/10/1752, AHU ACL CU 013, Cx. 33, Doc. 3139; 01/11/1752, AHU ACL CU 013, Cx. 33, Doc.
3141.
149
Em trabalho de iniciação cientifica para levantamento de agentes da administração, foram localizados
94 militares entre 1720 e 1730; 137 entre 1731 e 1740; 166 entre 1741 e 1750; e 393 militares entre 1751
e 1760, apenas na Capitania do Pará. Apesar do progressivo aumento foi um salto de mais que o dobro da
década anterior ao Diretório Pombalino.
69
conforme consulta do Conselho Ultramarino de 23 de Outubro de
1752, se proceda a criação de dois Regimentos de Infantaria um na
Cidade do Pará e outro para a Fortaleza do Macapá, compostos por
dez Companhias de cinquenta Praças cada, designando-se os
respectivos oficiais superiores e menores, um Capelão, mantendo o
mesmo cirurgião já em funções em outros Regimentos da mesma
Cidade, e devendo adoptar-se as mesmas ordens para os Regimentos
de Granadeiros, Engenheiros e Artilheiros, e em todas as fortalezas e
postos adjacentes a Belém do Pará, destacando Parú, Gurupá, Tapajós,
Rio Negro e Rio Branco.150
pois mestres de campo, sargentos mores, ajudantes e capitães viam destes regimentos.
Na medida em que se observa que a capitania do Pará recebia mais encargos e tropas,
abaixo:
Oficiais militares
80 60
60 48 50
39 Ordenanças
40
9 9 12 Auxiliares
20 1
0
Capitania Capitania Capitania Capitania
do Pará do Rio do do Piauí
Negro Maranhão
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210. O quantitativo aqui posto refere-se
apenas as nomeações que indicam a Capitania.
têm ampla maioria de militares e segundo que somente na capitania do Piauí é que o
150
AHU ACL CU 013, Cx. 33, Doc. 3148.
151
AHU ACL CU 013, Cx. 34, Doc. 3159.
70
numero na Ordenança é maior que no Pará e que nessa capitania há mais Auxiliares que
na capitania do Piauí. E é essencial analisar esse quadro para o local onde foram
cidade onde devem exercer o cargo, o que é particularmente estranho para as tropas em
questão, lembre-se que eram corpos vinculados ao espaço local, e temos 228 onde a
nomeação fala apenas a capitania. O que ao se cruzar informações com outras fontes
entre 150 a 300 homens, conta-se soldados o que seriam cerca de 1 a 3 companhias – e
a documentação nos fala do constante trânsito das tropas, o que nos leva a questionar até
onde estas tropas irregulares e a milícia ficaram relegadas ao espaço das vilas e cidades,
será que ao haviam tropas que itineravam pelo estado? Está é uma pergunta que a
pesquisa não permite responder, por outro lado pode ser que a pergunta não tenha
cabimento.
quadro não mostra tendências absolutas, expõe apenas uma situação encontrada, que é
curiosa, há diversos outros militares nomeados que são dirigidos a locais específicos
possui: Cidade de Oeyra , Vila de Valença, Vila de Jaromenga, Vila de Pamagoá, Vila
de Campo de Mayor, Vila de Marvão, Vila de São José de Parmayba todas com 1
Uma das cidades mais importante para a região é Belém do Pará, primeiro por
sua posição estratégica e por sua história que lhe agregou como centro populacional. As
área já estava estabilizada como capital local, e tornou sede do estado. Logo se tornou
centro irradiador das expedições militares para os sertões, como dito acima, apesar de
sinaliza uma estabilização procedente com a posição da cidade no estado num numero
9
22% Ordenança
32 Auxiliar
78%
. FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
comparação a vila de São José do Macapá, que é no Cabo Norte – no atual estado do
Amapá. Existem diferenças entre estas duas localidades que não permitem que sejam
72
comparadas indistintamente. A vila do Macapá é um fundação recente, e principalmente
esta numa fronteira, a vila foi fundada intentando ser uma barreira aos franceses, que
haviam estabelecido uma colônia ao norte da Amazônia 153, o que era um problema
bélico aos portugueses. A vila seria junto com uma fortaleza, que foi erguida
1750. Foi na década de 50 e 60 que casais dos Açores e da Ilha da Madeira forma
31
39%
Ordenança
Auxiliar
48
61%
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
são índios e todos os militares das Ordenanças são índios. Em nossa percepção os 11
que atuam na Tropa Auxiliar são militares providos das Tropas Regulares, o que é
próprio a tropa. É justamente por ser uma área estratégica e nova em povoação, foi a
primeira povoação a receber cavalaria em 1761155, com o projeto de uma fortaleza que
os enviados para atuarem são nativos, já adaptados ao clima local, e aos inimigos locais
153
A área hoje corresponde ao Suriname e Guiana.
154
17/03/1755, AHU ACL CU 013, Cx. 38, Doc. 3527.
155
NOGUEIRA, Shirley Maria Silva, 2002. Pp. 199.
73
2.3.1. As Fortalezas e Fortins pela Linha de Demarcações
sede Belém do Pará, tinha as “Instruções Régias públicas e secretas” com as principais
diretrizes que deveria implementar. Nas instruções que recebeu tinham tarefas militares:
“(...) diligência para examinar as Fortalezas e repará-las, quando for possível, como,
o que a este respeito achardes sobre a (matéria), e especialmente sobre a fortaleza que
Maranbitenas (1762), São Gabriel da Cachoeira (1762), São José do Macapá (1765),
157
São Francisco Xavier de Tabatinga (1770) e São Joaquim do Rio Branco (1777) .
Todos estes fortes estavam em locais estratégicos e a exceção da Fortaleza de São José
Macapá e de São Joaquim do Rio Branco todas eram em fronteiras com a colônia
espanhola. Existiam ainda outras fortalezas menores: Fortalezas dos Pauxis, Fortaleza
fortim. Segundo observamos nos mapas da tese do historiador Tadeu Valdir de Freitas
que antes eram aldeias e eram estabelecimentos mais antigos, a capitania do Rio Negro
para onde a economia regional expandiria. O historiador Fabiano Vilaça dos Santos
Negro159.
em questão com a Holanda e França na época estava em aberto para os dois lados, logo
a vila de São José do Macapá tinha uma grande relevância estratégica, pois estava
na base da área conhecida como ‘cabeça de cachorro’, próximo onde hoje é a fronteira
tríplice dos hoje países Colômbia e Venezuela com o estado do Amazonas, atual Brasil.
158
SAMPAIO, Patrícia Melo, 2001. Pp. 55 e 56.
159
SANTOS, Fabiano Vilaça dos. Caminhos e “descaminhos” da colonização portuguesa em São
José do Rio Negro no governo de Joaquim Tinoco Valente (1763-1779. Canoa do Tempo: Revista do
Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas. Vol. 2. N. 1 jan./dez.
2008. Manaus: EDUA, 2010. Pp. 210.
75
Militares na Fortaleza de São José de Maranbitenas
2
7%
Ordenança
Auxiliar
25
93%
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
um Miliciano e um militar das Tropas de Ordenança eram brancos, 93% dos militares
área de fronteira, onde não encontramos registros de vila próxima 160, pode indicar que
os militares para lá locados são de relações antigas com o processo colonizador, onde
podiam ser deslocados de sua povoação carregando distinção na própria pessoa. Era
comum a organização indígenas que elemento de distinção fosse dado pelos próprios
índios, podendo ser retirado caso ele perdesse o prestigio junto a sua população. A
Ajudante do Terço das Ordenanças e era branco e o outro branco era Capitão dos
Auxiliares, compondo parte das Companhias com os 25 índios que eram: Capitão de
160
Rafael Ale Rocha analisa os mapas populacionais da capitania do Rio Negro, e em 1767 não encontra
nenhum morador branco em Maranbitenas e na Fortaleza do Rio Negro, mas encontra 31 moradores
índios na Fortaleza do Rio Negro capazes de pegar em armas e em Maranbitenas 105 índios. Tendo em
Maranbitenas 128 índios e famílias e a Fortaleza do Rio Negro 66 índios e famílias. In.: Quadros: 1,2,3.
ROCHA, Rafael Ale, 2006.
161
As formas de resistências eram diversas, e as populações indígenas não eram uniformes tão pouco
tinham padrões de atitudes comuns a todas.
76
Infantaria (03), Alferes de Infantaria (08), Sargento do Numero (10) e Sargento Supra
(10). Temos dentro de período cerca de 03 a 10 companhias entre 1762 e 1772 atuando
Justamente por ser uma contenção para três lados – espanhol, holandês e
português – era necessário ter militares que fossem capaz de andar pela região, contra o
tráfico (ou a favor dele162) e pelo reconhecimento do território como português, eram
atacaram povoações por todo o Rio Negro, fortalezas e vilas estratégicas garantiriam a
***
fortaleza indica que não eram apenas pontos de defesa militar, o projeto de colocar
postos nas fronteiras era também para habitar a região de fronteira. A convocação destes
dois corpos tanto pode ser de pessoas para lá direcionadas ou que já estavam nestes
território. A Vila de São José do Macapá foi fundada antes da Fortaleza e a Fortaleza de
São José de Maranbitenas recebeu um bom numero de postos oficiais que eram
baseados em áreas de habitação, mas neste poucos eram de Ordenanças. Mesmo que ao
redor da fortaleza tenha surgido área de vilarejo sua importância nunca alcançou Macap
162
SANTOS, Fabiano Vilaça dos, 2010.
77
Capítulo 3
civilização dos índios eram comuns, juntamente com as revoltas e ataques indígenas.
reforma militar. A assinatura do Tratado de Madri tornou mais urgente a reforma das
Como já foi dito entramos no governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado com
que causou um falta de mão-de-obra, o Diretório foi uma resposta a essas queixas, pois
portuguesas e espanholas não se encontraram e com a Guerra dos Sete Anos (1756-
1763) ambos não estavam de acordo com a proposta e em 1761 o Tratado de El Pardo
habitada por súditos leais à Sua Majestade Fidelíssima – o rei português – o que na
prática, assegurava as terras para Portugal, pois como vassalos reais podiam e seriam
importante entender esse ponto, porque a nova condição dava-lhes privilégios, mas
ascender até certo limite – tal como todo vassalo – e podendo ser punido por crimes de
mecânicos para acesso a distinções, Kenneth Maxwell afirma que esta foi uma das
Freire [Alexandre de Gomes Freire, governador geral da capitania do Rio de Janeiro] em receber de
imediato a região dos Sete Povos geraram desconfianças sobre a devolução de Sacramento pelos
portugueses. Finalmente, o inicio da Guerra dos Sete Anos, em 1756, complicou o quadro das relações
entre os países ibéricos, que acabaram mais uma vez em campos opostos da política européia.”
WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José, 1994. Pp. 183. Segundo o historiador Kenneth Maxwell esta
atitude de Gomes Freire foi uma orientação de Pombal, pois desde a época da assinatura do tratado existia
a perspectiva de anulá-lo. MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal. Paradoxo do Iluminismo. 2º Ed.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
166
COELHO, Mauro Cesar, 2005; ROCHA, Rafael Ale, 2006 e 2009.
167
Dois requisitos básicos para se comprovar um processo colonizador é a presença de: instâncias
administrativas – mesmo que mistas – e o desenvolvimento de atividades produtivas. BICALHO, Maria
Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs), 2001.
168
Logo a prática de contrabando e comércio sem pagamentos a Fazenda ou com estrangeiros poderia ser
punida, isso assegurava os índios no lado português da fronteira. O historiador Fabiano Vilaça dos Santos
argumenta em seu artigo que a não efetuação das Demarcações era uma possibilidade de lucros aos lusos,
havendo interesse em deixar a questão em aberto permitindo um lucrativo comercio que aumentava a
receita da capitania. SANTOS, Fabiano Vilaça dos, 2010.
79
principais lutas de Pombal dentro da administração e que foi essa a razão de tanto ódio
por parte da nobreza para com ele, dentro das instituições que foi encarregado e criou
militares era considerado indigno pelas cortes portuguesas, mas nas colônias eram
como ocupar e guarnecer uma região tão vasta e inóspita. Nesse sentido devemos crer
que a idéia de torná-los vassalos não é ruim, pois como tais poderiam ser alistados (e
como qualquer outro súdito no Império) deveriam servir. Nesse entremeio o conde
Lippe recebe do Ministro Sebastião José de Carvalho Mello autorização para uma
reforma militar, como já dito a perspectiva do general alemão era de uma disciplina não
somente de serviço militar, mas para uma disciplinação do homem social. O alistamento
neste ano que o Diretório dos Índios é instalado na região, segundo se aprende da leitura
Mendonça Furtado para a capitania do Rio Negro, para liderar as Demarcações. A partir
169
MAXWELL, Kenneth, 1996.
170
O único cargo que carregava honra por tradição era o alto posto na Índia, por uma tradição de
conquista oriental cavalheiresca. MELLO, Christiane Figueiredo Pagano, 2009; BICALHO, Maria
Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs), 2001.
171
Principalmente o trabalho de conclusão de curso de Rafael Ale Rocha e de Francisco Jorge dos
Santos. ROCHA, Rafael Ale, 2006 SANTOS, Francisco Jorge dos, 2002.
172
AHU ACL CU 013, Cx. 39, Doc. 3635
80
metrópole, construímos a situação da década de 1750, um decênio onde a política que
sobre as deserções de soldados da Tropa do Estado e fuga deles para o Reino 174, isto
quatro anos após a vinda de regimentos pagos do Reino. A situação militar e financeira
do estado era péssima, o estado não tinha como pagar o soldo e prover o sustento da
tropa175. As Demarcações exigiram do estado boa parte dos militares e dos indígenas
capitania do Rio Negro, para frear o avanço estrangeiro sobre a fronteira que ficou
Branco176. Mas é somente nessa década que a reforma nos corpos militares no estado
ocorre, são 341 militares encontrados entre 1761 e 1772, cerca de 62% de 22 anos de
analise correspondem a 10 destes anos. Durante esse período a região sofria os conflitos
173
COELHO, Mauro Cesar, 2005
174
AHU ACL CU 013, Cx. 41, Doc. 3825.
175
Em 14 de junho de 1756, o Conselho Ultramarino faz Consulta sobre desconto que fariam nos soldos
dos regimentos de Infantaria da cidade do Pará e do Macapá, para pagar as fardas, farinhas e munições, já
prevendo as sublevações que acorreriam por causa disso. AHU ACL CU 013, Cx. 3759. Em 22 de
fevereiro de 1759, um ofício do provedor do Pará, Feliciano Ramos Nobre Mourão, para o secretário de
estado Marinha e Ultrarmar, Tomé Joaquim da Costa Corte Real, relata das despesas, entre elas a
dificuldade de pagar os 02 Regimentos militares, em razão da falta de rendimentos. AHU ACL CU 013,
Cx. 44, Doc. 4045.
176
SANTOS, Fabiano Vilaça dos, 2010.
177
SANTOS, Francisco Jorge dos., 2002.
81
178
proteger as populações dos ataques indígenas” . A maioria das fortalezas é construída
na década seguinte, e para dirigir e ocupar estes locais são nomeados diversos militares
nas capitanias do Rio Negro e Pará – na capitania do Maranhão apenas 03 – nas vilas 179,
indígenas.
recurso a uma articulação entre o poder central – o rei ou o governador 180 - e local,
espaço de poder das Câmaras, dando ao Capitão Mor autonomia e as listas das
ser feita pela listagem da Milícia. O gráfico nos mostra valores absolutos das
Ordenanças e das Milícias por ano e temos uma clara maioria dos últimos: Ordenanças
tem 196 e Milícia tem 402, sendo 67,22% do total. O mesmo gráfico nos revela a
distinguindo as tropas. Nos anos de 1752, 1757, 1767, e entre 1769 e 1771, foram os
178
AHU ACL CU 013, Cx. 38, Doc. 3603.
179
Aparecem nominadas: Gurupá, Ourém, Por[c]hem, Oeyras, Soure, Obidos, Monforte, Melgaço, Porto
de Moz, Monsaras e lugares de Poyares, de Nossa Senhora do Posto Salvo, Mondim e Outeiro. Lugares
dão áreas adjacentes a Vilas, que viram no século XIX bairros de índios, pois geralmente eram onde os
indígenas mais moravam tendo suas roças .
180
Em 28/06/1756, uma Carta Régia permite ao governador prover todos os postos militares do Estado do
Grão-Pará e Maranhão, até o Coronel dos Regimentos Regulares. ROCHA, Rafael Ale, 2006.
181
É aumento de nomeações não de quantitativo militar necessariamente. Como em todo o trabalho
foram contabilizados os oficiais que tiveram seus nomes localizados nos cargos.
82
100
Valores absolutos por ano
80
60
Quantidade
40
20
0
1751
1753
1757
1759
1761
1765
1755
1763
1767
1769
1771
-20
Anos
Ordenança Auxiliares
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
localizadas, todas as pessoas são militares da Tropa Auxiliar, esse pico indica uma
83
possível relação com o projeto Demarcatório. Temos a partir de 1768 uma progressiva
estado que nesse ano passou a ser parte do Estado do Brasil e uma capitania geral que
numero menor, já que não estavam mais sob sua jurisdição administrativa as capitanias
de Piauí e Maranhão.
Nos picos de nomeação foram localizadas 280 pessoas o que são 69,65% das
nomeações para o Corpo de Auxiliares para todo o período em apenas 06 anos. O corpo
provável que parte de todas as 402 pessoas que tiveram sua nomeação encontrada nos
Costa Corte Real, sobre o casamento de 32 soldados europeus com índias na capitania
do Pará e 03 oficiais – Capitão José Antonio Salgado, Tenente José Correa de Lacerda e
o Ajudante Engenheiro Henrique Wilkens – aos quais deu baixa de seus postos, e que
Wilkens continuou a atuar como militar183. Mas foram encontrados: Manoel Rodriguez
182
31/07/1759, AHU ACL CU 013, Cx. 45, Doc. 4100. Sendo que encontramos 05 índios e 01 não índio
(?) com nomes semelhantes, faltando um sobrenome, não sabemos se são estas 32 pessoas ou filhos delas
com as índias que casaram, ou apenas coincidência
183
REIS, Arthur César Ferreira, 1989.
84
Ferreira foi encontrado em 1770 na Vila de Macapá como Sargento Supra; Silvestre
Infantaria Auxiliar em 1770. Estas baixas dadas em razão do casamento são para os
estado – segundo o documento – não deixando de serem aptos a prática militar, pois
tinham entre 20 e 60 anos de idade e condições financeiras – por casarem-se com índias
recebiam privilégios e dons entre as nações e do poder português 184 – logo podiam ser
local, pois o posto pertencia à vila, este tipo de tropa era um laço direto do poder central
com os principais da terra – e o casamento com indígenas criava uma posição nova de
por parte dos índios que aumentava a importância e a capacidade de mando destes
oficiais, os casamentos também podem ser vistos como uma resignificação das políticas
parecido, porém a carta patente a identificava como índia. Abaixo temos os terços e
companhias de Milícia no estado no qual 132 pessoas (32,83%) eram índios 187. Levando
184
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de, 2000; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de
Fátima; FRAGOSO; João (orgs.), 2001; COELHO, Mauro Cesar, 2005.
185
Apesar de a mestiçagem ser comum nas colônias americanas, é somente em 1755 que o casamento
com os índios é autorizado e reconhecido com a lei de 04/04/1755.
186
As duas palavras agregam sentidos diferentes, a primeira refere-se as atitudes dos índios e a segunda a
política externa para os índios. PERRONE-MOISÉS, Beatriz, 1992.
187
Por exemplo: Em 24 de dezembro de 1767 um aviso do secretário de estado da Marinha e Ultramar,
Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para o conselheiro do Conselho Ultramarino, António Freire de
Andrade Henriques, sobre a confirmação de patentes dos postos auxiliares concedidos a índios, pelo
governador do estado, Fernando da Costa de Ataíde e Teive Sousa Coutinho. AHU ACL CU, Cx. 61,
Doc. 5419. Grifo próprio.
85
em consideração o que foi dito até aqui devemos questionara te aonde estes não índios,
não eram de fato índios e se estes 67,17% de ‘brancos’ eram de fato brancos e não
nomeações que devem ser relativizadas. É claro que haverá mais capitães que mestres
de campo, pois este liderava os terços que agregavam as companhias lideradas pelos
estado nestes terços. Por isto são dois gráficos separados em altos postos (terço) e
oficias da companhia:
39; 40%
Mestre de Campo
Sargento Mor
Ajudante
37; 37%
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
Capitão
Alferes
Sargento
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
86
Como é possível observar dentro da pesquisa encontramos 07 cargos com
maioria de Ajudante dentro dos terços e Capitães dentro das companhias, não achando
nenhum Tenente nas fontes utilizadas. Os números sintetizam ofícios que foram
Ajudantes de Aldeia e Ajudantes Supras. Dentro das companhias há: nos Capitães os
os cargos Auxiliares existem apenas dois tem pagamento: Sargento Mor e Ajudante, que
apesar de o serem, não possuem caráter estável e ainda em 1760 o soldo não estava
determinado188.
Ao analisar os dados temos que ter cuidado em não acreditar que atuavam entre
renovadas. Assim os valores nos terços e nas companhias podem indicar que em
Mello ocorriam disputas em tornos dos postos, ao passo de certas pessoas nunca serem
convocadas e outras eram rotineiramente189. Tanta era a irregularidade que uma carta
régia para o governador do estado, Fernando da Costa de Ataíde Teive Sousa Coutinho,
188
Em 04 de março de 1760 o Ajudante Supra, Francisco Manuel de Sá e Morais, envia um requerimento
ao rei D. José I solicitando que se determine o seu soldo e o dos demais oficiais do Terço de Auxiliares da
capitania do Pará, em seu requerimento fala ainda: mandando expedir as ordens necessárias, na mesma
forma, que se passarão para outro governo do Estado do Brasil, a este Respeito. AHU ACL CU 013, Cx.
45, Doc. 4179, a grafia foi atualizada. Ele foi por 14 anos soldado voluntário, inicialmente em Lisboa e
veio por vontade para o estado, e foi anteriormente Cabo de Esquadra, mas não fala a tropa.
189
MELLO, Christiane, 2005.
87
nas Tropas Auxiliares do estado mandou alistar todos os moradores sem exceção,
“fossem estes nobres, plebeus, brancos, mestiços, pretos, ingénuos e libertos” para a
ano seguinte um aumento de nomeações, onde em 1768 cai novamente para dar um
poderes locais e metrópole, onde por mais que delegasse poder e status à particulares
locais, isto se definia a partir da metrópole, não dando tempo para grupos locais
envia carta para o rei, D. José I, remetendo mapas com os números dos corpos da
10 Alferes, 10 Sargentos do Numero, 10 Sargentos Supras e 501 Soldados (no total 545)
191
, o mapa mostra o total de um terço, pois há apenas 01 Mestre de Campo e 01
Sargento Mor, enquanto que devem existir 09 Companhias distintas para nove vilas ou
soldados – menos do que o indicado na legislação. Esta carta mostra que a situação
nomeação das tropas de Ordenança que da mesma forma que as tropas Auxiliares eram
encarregadas de proteger as vilas e cidades nas quais estes militares moravam – eram
principalmente por seus oficiais saírem destas tropas, muitas promoções das tropas
pode expor a situação de que as tropas Auxiliares passaram a mover-se dentro do estado
sem seres decompostas, quando se observa a convocação das Ordenanças para a Defesa.
basear-se nas pessoas ocupantes de cargo – identificadas pelo nome – ocorreu uma
Maranhão era o Terço de Ordenança. A situação expõe uma das primeiras medidas de
reforma militar no estado: a limitação de atuação das Ordenanças que perdem espaço
para as Milícias194.
Dentre as mudanças que foram feitas, a que mais afetou as Ordenanças foi a
vitaliciedade do cargo de Capitão Mor – existente apenas neste corpo, que quase anulou
a ingerência das Câmaras no âmbito militar. Desde sua formação este regimento militar
192
COTTA, Francis Albert. Milícias negras na América Portuguesa. Defesa territorial, manutenção da
ordem e mobilidade social.
193
As tropas de Ordenanças já existiam no estado desde 1711, a Cavalaria surgiu em 1761 no estado
NOGUEIRA, Shirley Maria Silva. A estrutura militar no Grão-Pará setecentista. In.: BEZERRA NETO,
José Maia; GUZMÁN, Décio de Alencar (orgs.). Terra Matura: Historiografia e História Social na
Amazonia. Belém: Paka-Tatu, 2002. Pp. 197-206.
194
Anteriormente haviam dois corpos: os Regulares e Irregulares, as Milícias assumem um espaço maior
que o que fora ocupado pela Ordenança, agindo dentro e fora da vila.
89
era extremamente vinculado ao Senado, na segunda metade do século XVIII ocorreu
mostramos que a grande maioria dos provimentos foi para os Auxiliares, toda via temos
para a Ordenança 196 nomeações. Em 1755 são nomeados 03 Capitães Mores, e este
legislação passou a prever isso. Mas como se pôde observar que ocorriam convocações
Ourém, Vila de S[c]ncra, Fortaleza de Maranbitenas, Vila de São José do Javary, Vila
de Macapá e Belém do Pará, além de ser indicado para as capitanias sem menção ao
nome da vila.
diminuindo quanto mais distante do litoral for: a Capitania do Rio Negro possui 9,18%
com o terço de Auxiliares são movimentos opostos, não numa especialização, mas numa
Francisco Xavier de Mendonça Furtado são 21 aldeias/vilas, sendo 3,5%, mas temos
128 pessoas nomeadas para ao capitanias. Foram nomeadas 65,30% das pessoas sem
90
especificação de vila, nos cargos de: Sargento Mor de Cavalaria, Capitão de Infantaria,
4; 44%
Sargento Mor de Cavalaria
5; 56% Ajudante
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
61; 32%
Capitão Mor
63; 34% Capitão
Alferes
Sargento
54; 29%
FONTE: AHU 013; APP Cód. 58; APP Cód. 183; APP Cód. 210.
91
Como se pode observar existe diferenças substanciais entre as tropas de
Auxiliares e de Ordenança: nas Milícias temos nomeações para Mestre de Campo e para
Irregulares temos nomeações para o Capitão Mor, e o posto de Furriel não existe nas
Ordenanças. Percentualmente os Capitães Mores não parecem ser tão substanciais, mas
sua permanência é vitalícia, as nomeações são entre 1755 e 1764. São nove locais para
os quais eles são nomeados: Aldeia de Cametâ, Aldeia de São José de Maytapûe, Lugar
Pará e a Aldeia de Santo António do Gurupá, a última aldeia tem duas pessoas
nomeadas em 1762 neste mesmo lugar. Logo nessas nove aldeias e vilas existem mais
cartas patentes citavam a etnia juntamente com a aldeia com o seguinte anúncio: “aldeia
de (...) doz Indios dasua nasçaõ ...”, sendo possível uma aldeia ou vila ter mais de um
índio para determinada função no mesmo lugar. Entretanto em 1762 é nomeado dois
Capitães Mores para a aldeia de Gurupá. O posto de Capitão Mor era um dos mais
importantes dentro do espaço local, era o posto mais alto nas companhias e vitalício,
fato duas pessoas diferentes, não temos informações se o primeiro faleceu ou se oficio
nesta vila se especializou para uma população ou para um tipo de tropa, não há na
Em 1739 uma ordem indica que nas vilas onde o numero de habitantes não
superasse 100 pessoas195, não haveria Capitão Mor, apenas o Capitão da Companhia.E
195
Os habitantes eram contados entre os homens adultos, solteiros ou casados. Lembrar que os
alistamentos eram feitos pelos sargentos mores e ajudantes, o numero de habitantes era os que podiam
exercer ofício. MELLO, Christiane, 2005. WEHLING, Arno; WEHLING, Maria José. 2000.
92
as companhias teriam: 1 Capitão, 1 Alferes, 1 Sargento do Numero e 1 Sargento Supra e
os Cabo de Esquadra necessários – 4 por Companhia. 196 Podemos então perceber que
Auxiliares, as Ordenanças tinham datas para serem formadas para vistoria e disciplina –
e que temos 09 grandes aldeias e vilas com mais de uma companhia e uma vila que
pode ter mais de um terço, isto é entre 3 ou 6 companhias. Temos uma correspondência
Ataíde Teive Sousa Coutinho, para o rei, D. José I, que remete mapas com os números
dos corpos da capitania do Pará entre elas da Tropa de Ordenança: 01 Mestre de Campo,
03 Sargentos do Numero, 03 Sargentos Supras e 541 Soldados (no total 557) 197. Pode-se
observar que existiram Mestre de Campo nas Ordenanças e que esta relação não
informa os Capitães Mores, o que talvez signifique que os mapas listem apenas os
cargos temporários.
1766 o rei D. José I envia carta régia ao governador do estado, Fernando da Costa de
Ataíde Teive Sousa Coutinho, sobre a irregularidade e falta de disciplina nas do estado,
“mandando alistar todos os moradores sem excepção, fossem estes nobres, plebeus,
respectivas198”. Isto sinaliza que a situação militar do estado ainda era deficitária. A
196
SALGADO, Graça (cood), 1986. Pp. 107.
197
Governador “remetendo os mapas das munições de guerra da capitania e dos soldados que constituem
o corpo das Tropas Pagas, Auxiliares e Ordenanças no Pará”, neste é apenas o “Mapa das Ordenanças da
Capitania do Pará em 12 de Novembro de 1763”, assina o Ajudante das Ordens Manoel Joaquim Pereira
de Souza Feijo. AHU ACL CU 013, Cx. 55, Doc. 5005. A grafia foi atualizada e as abreviaturas desfeitas.
Esses quantitativos não contaram nas analises, pois não citam os nomes.
198
AHU ACL CU 013, Cx. 58, Doc. 5270.
93
ocorre obrigatoriamente em locais de habitação estável e de tamanho populacional
substancial, do encontrado 58, 16% era indígena. Nas áreas de fronteira pode indicar a
surgindo residências.
família e negócios no estado, portanto não mais podendo ser dedicados exclusivamente
ao serviço militar. A nomeação analisada era para oficiais que permaneciam no cargo
mesmo se a tropa não atuasse, ficando indisponível para outro serviço nesse período,
Costa Corte Real, sobre o casamento de 32 soldados europeus com índias na capitania
199
do Pará e 03 oficiais das Tropas de Linha , esta carta é significativa, pois representa a
decisão de estes 35 militares morarem no estado, podendo ser convocados aos Terços e
199
31/07/1759, AHU ACL CU 013, Cx. 45, Doc. 4100. Sendo que encontramos 05 índios e 01 não índio
(?) com nomes semelhantes, faltando um sobrenome, não sabemos se são estas 32 pessoas ou filhos delas
com as índias que casaram, ou apenas coincidência
200
Como foi dito encontramos: Manoel Rodriguez como Alferes de Infantaria Auxiliar em 1770; Vicente
Ferreira como Sargento Supra dos Auxiliares em 1770 e Silvestre José dos Santos como Capitão de
Infantaria Auxiliar em 1770. Os dois primeiros na Vila de São José do Macapá e o último na Fortaleza de
Maranbitenas, na Capitania do Rio Negro.
94
casaram e mantiveram-se na região. É interessante lembrar que as pessoas da carta de
31/06/1759 atuavam na cidade de Belém, o que pode indicar que se moveram pela
colônia ou que foram indicados a postos nas tropas Auxiliares – nos três casos
encontrados – em locais que não residiam, revelando que o alistamento podia ocorrer
Regulares para a capitania do Pará: 427 militares Combatendo debaixo das Armas, 454
aproximadamente 100 soldados com seus respectivos oficiais cada202, sendo que no rio
Negro havia 100 praças privados e no rio Solimões 100 praças 203. Em seu trabalho de
Rio Negro encontrando: em 1764, 260 soldados; em 1766, 273 soldados; em 1767, 280
soldados; em 1769, 223 soldados; em 1771, 161 soldados; e em 1772, 159 soldados, nos
mapas esta a povoação onde residiam esses militares, que estavam dispersos pela
capitania nas povoações. No mesmo trabalho informa que em 1767 havia em Barcelos
01 Capitão Mor que era branco, e na mesma vila haviam 01 Sargento Mor, 01 Capitão
201
Governador “remetendo os mapas das munições de guerra da capitania e dos soldados que constituem
o corpo das Tropas Pagas, Auxiliares e Ordenanças no Pará”, neste é apenas o “Mapa da Infantaria Paga
da Capitania do Pará em 12 de Novembro de 1763”, assina o Ajudante das Ordens Manoel Joaquim
Pereira de Souza Feijo. AHU ACL CU 013, Cx. 55, Doc. 5005. A grafia foi atualizada e as abreviaturas
desfeitas. Esses quantitativos não contaram nas analises, pois não citam os nomes.
202
ROCHA, Rafael Ale, 2006.
203
TORRES, Simei Maria de Souza, 2002.
95
Sargento, segundo o historiador todos estes são brancos 40T% do total; no quadro 02
tinha nesse ano 1283 índios e 90 brancos moradores aptos a pegar em armas204.
quantidade de pessoas circulando pelo estado tanto servindo quanto fugindo. Índios que
alistamento obrigatório são algumas das razões de fugas entre soldados e oficiais.
204
ROCHA, Rafael Ale. 2006. Quadro 1 e 2. Pp. 44 e 45. Ver Anexos.
205
SANTOS, Francisco Jorge dos, 2002.
206
Flávio Gomes, A Hidra e os Pântanos.
207
COELHO, Mauro Cesar, 2005.
96
CONCLUSÃO
O reino de Portugal tinha sérios problemas para administrar o vasto império que
tinha, e para compor o corpo de funcionários aglutinou os poderes locais para conseguir
fazê-lo, a relação que se estabeleceu foi também uma exigência jurídica já que a base
das leis e direitos era o respeito ao direito costumeiro. Entende-se assim, que além de
ser algo pratico era um obrigação, as nações que estabeleceram relações de auto-
Moisés nos fala que as políticas indigenistas eram para dois tipos de indígenas: os que
segundos livres, a depender da situação, não vistos como índios 208. No período
da questão indigenista ao governo. O Diretório dos Índios trouxe a tutela civil dos
índios para os Diretores dos Índios nas vilas, e a gestão do trabalho ficou a cargo do
governador, a questão indígena passou a ser localizada por vila, onde havia desníveis a
depender da força dos moradores, e logo das nações com suas redes de relações 209. As
208
PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios Livres e Índios Escravos. Os princípios da legislação indigenista
do período colonial (séculos XVI a XVIII). In.: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos
índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras; Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. Pp.
115-132; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Política Indigenista de Pombal: a proposta
assimilacionista e a resistência indígena nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. E ALMEIDA, Maria
Regina Celestino de. Índios e Mestiços no Rio de Janeiro: Significados Plurais e Cambiantes
(Séculos XVIII-XIX). Revista Memoria Americana. N. 16, v. 1. 2008.
209
BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima; FRAGOSO; João (orgs.). O Antigo
Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001.
97
relações no império ultramarino português foram ampliadas com a entrada dos índios na
hierarquia social, entre os campos de aceso abertos um deles foi as tropas militares:
últimas forma as tropas estudas. A Defesa foi um dos campos de integração local e de
justamente por isso apresente o maior numero de nomeações. A Milícia era um corpo
militar que tinha recebia mais instrução militar e era mais treinada do que as
Ordenanças, e este último corpo era extremamente restrito ao espaço da vila e seus
rivalizando com as Câmaras em poder local. Os oficiais das tropas que foram
mecanismo de relação direta da Corte com os espaços locais, mesmo que esta relação
fosse intermediada pelo governador, que deveria no espaço colonial representar o rei.
é uma área que integrou índios e brancos – não que a definição no documento
que a ascensão na hierarquia era possível, pois temos noticias de índios Mestre de
Campo, porém a ascensão dependia das relações de força nas quais o principal da terra
os níveis e as diferenças.
98
Os oficiais das tropas militares também eram homens de destaque, não
eram militares pagos que foram promovidos para estas tropas, e continuavam sendo
pagos eram encarregados da instrução das tropas Auxiliares. O cargo de Capitão Mor
existente nas Ordenanças era responsável por eleger os outros postos junto a Câmara, e
passou com o tempo a centralizar o comando das companhias, foi no corpo militar
Tropas Regulares, sendo nomeados, moradores que assentaram praça no estado, mas
ainda eram aptos ao serviço militar, sendo mesmo movidos de localidade em função do
oficio.
autônomas entre si. A pesquisa vislumbrou uma nova realidade na região, não
polarizada entre indígenas e brancos, mas entre os que ‘promoviam’ o projeto português
para defender sua própria autonomia modificando-o e aqueles que resistiam a qualquer
negociação. O que na verdade temos um poder central com diversas políticas coloniais e
99
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SP: UNESP; Portugal, PO: Instituto Camões, 2000. Coleção História.
107
Anexos:
108
Tabela 02: Moradores da Capitania do Rio Negro Aptos a Pegar em Armas em
1764210
210
Tabela feita a partir de: Quadro 01 e 02, ROCHA, Rafael Ale. Levantes e deserções militares na
Amazônia pombalina. Trabalho de Conclusão de Curso. Manaus: UFAM, 2006. Pp. 44 e 45.
109
Tabela 03: Cidades/Ano – Ordenança
17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17
? Total
55 58 59 62 63 64 66 68 69 70 71 72
Aldeias no
02 02
Pará*
Aldeia/Vila de
01 01 02
Mortuguza
Lugar de
03 03
C[c]a[c]rena
Lugar de
01 01
Poyares
Aldeia/Vila de
(Santo
04 04
Antonio do)
Gurupá
Vila Nova de
01 01
Ourém
Vila de
01 01
S[c]ntra
Vila de
41 01 12
Macapá
Belém do Pará 01 01 04 01 02 02 11
Capitania do
01 28 10 39
Pará
Vila de São
13 01 14
José do Javary
Fortaleza de
01 01 02
Maranbitenas
Capitania do
01 01
Rio Negro
Capitania do
06 02 01 09
Maranhão
Capitania do
48 48
Piauí
Sem Lugar 02 01 02 05
*: São as aldeias de: Cametâ, São José de Maytapûe.
[c]: são as letras corroídas.
110
Tabela 04: Auxiliares
Estado do Grão-Pará e
Todos os Cargos
Maranhão
116
Tabela 05: Ordenanças
Total de
Lugar Ano Índio
Todos os Pessoas
Cargos Estado do Grão- Pará e
1755-1772 114 196
Maranhão
119