Você está na página 1de 17

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE POLÍTICA
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA
DOUTORADO EM CIÊNCIAS HUMANAS: SOCIOLOGIA E POLÍTICA

NOTAS SOBRE A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL E SUAS APLICAÇÕES

Trabalho apresentado como avaliação


parcial das disciplinas Introdução à
Teoria da Escolha Racional,
ministrada pelo Prof. Bruno
Wanderley Reis, no doutorado em
Ciências Humanas da UFMG, no
primeiro semestre de 2003.

OSVALDO ROSA VALENTE

Belo Horizonte/Minas Gerais


Janeiro/2004
É possível pensar no crime como fruto de uma escolha racional? Pegando outro
exemplo, seria possível analisar uma disputa judicial do ponto de vista da teoria dos
jogos e ver os querelantes como jogadores com estratégias distintas? Em ambos os
casos a questão que as subjaz é a seguinte: podemos abordar o comportamento social,
qualquer comportamento social, com as ferramentas advindas da Teoria da Escolha
Racional? Se sim, estaríamos diante de uma teoria geral do comportamento social
humano?
Esse é um debate que tem movido uma boa parte do debate contemporâneo em
ciências sociais. O objetivo deste trabalho, contudo, não é enfrentá-lo em todas as suas
muitas minúcias – e até ressentimentos. O objetivo aqui é tão somente verificar como a
Teoria da Escolha Racional foi aplicada na análise de temas distintos como o crime e os
conflitos judiciais.
Para tanto, vai-se seguir um esquema muito simples. Inicialmente vai-se analisar
a natureza e o escopo da Teoria da Escolha Racional. Em seguida, vai-se fazer algumas
considerações sobre um aspecto particular da teoria ou, por outras palavras, como
posições diversas podem dar tratamentos diferentes para uma questão sensível da teoria,
a saber, o problema das preferências do agente. Depois, vai-se analisar como tal teoria
pode se propor a analisar fenômenos fora do âmbito puramente econômico – campo em
que se originou. Por fim, vai-se ver como é aplicada no estudo de sistemas legais.

1 – Teoria da Escolha Racional: Natureza e Escopo.

Segundo ELSTER (1986), a capacidade explicativa da Teoria da Escolha


Racional repousa em três pilares: Intencionalidade, Racionalidade e Otimalidade. Na
verdade, trata-se de três condições para que uma ação seja passível de ser explicada pela
teoria. Ademais, para o que segue, deve-se supor a relação entre três componentes
básicos de uma explicção: o comportamento (B), um quadro de cognições (C) e um
quadro de Desejos (D) mantidos pelo indivíduo.
1.1 – Intencionalidade.
A primeira delas parece ser a mais facilmente explicada. De uma forma bem
simples o ator (agente) que faz uma ação tem de ter a intenção de realizá-la. Para tanto,
ou seja, para que uma ação seja intencional, é necessário que os desejos e as crenças
(uso aqui a palavra proposta por ELSTER (1986), aparentemente no lugar de cognições)
sejam razões para o comportamento. Isto é formalizado da seguinte maneira ou, o que é
o mesmo, significa desmembrar a exigência básica em três dimensões que são as
seguintes:
(1) Dado C, B é o melhor meio de realizar D (Dado o quadro cognitivo, o
comportamento apresentado é o melhor meio de realizar o desejo).
Como nota ELSTER (1986), “a presença de tais razões não é suficiente para a
ocorrência do comportamento para os quais elas são razões”. Com isso ele indica que
um comportamento que realiza um determinado desejo nem sempre é o produto do
quadro cognitivo ou do desejo. Ele cita o exemplo de um ator que, mesmo sabendo que
deve tremer em determinado da cena, não consegue fazê-lo, mesmo que o queira e saiba
que isso é importante. Ele pode tremer em função da presença de uma cobra em cena,
por exemplo. Mas isto seria involuntário. Assim, é necessário adicionar a segunda
exigência para que uma ação seja intencional:
(2) C e D causaram B (O quadro cognitivo e o desejo causaram o
comportamento).
A qualificação para este postulado é muito interessante. ELSTER (1986) trabalha
com o seguinte exemplo: um caçador mira o seu alvo. Ele tem tudo para alcançar o seu
desejo, faltando apenas apertar o gatilho para que abata a caça. Mas, o seu desejo de
realizar o que quer é tão intenso que ele treme, puxa o gatilho e erra o alvo. E o Autor
comenta: “... aqui o forte desejo de abater a caça age como uma causa, mas não como
(qua) razão”. O interessante aqui é que causa não é razão. No exemplo de Davidson
citado por ELSTER (1986) isso fica ainda mais evidente. Ali o forte desejo age de tal
forma que o alpinista acaba por se livrar de seu fardo, mas ele não o fez
intencionalmente. Involuntário, seu comportamento não pode ser visto como razão, mas
apenas como causa. E isso não é suficiente para a explicação racional. Esta segunda
exigência é importante porque exclui qualquer tipo de coincidência como causa de um
comportamento. A ênfase aqui é que as crenças e os desejos causaram o
comportamento. Pouco importa se, no final, o tremor da mão ou do corpo levaram o
agente ao sucesso ou ao insucesso. Assim, chegamos ao terceiro postulado para que um
comportamento seja de fato intencional:
(3) C e D causaram B como (qua) razões (O quadro cognitivo e o desejo
causaram o comportamento como razões).
Esta exigência é importante pelos motivos que foram apresentados acima. Apenas
deve-se acrescentar que ela é necessária, segundo Elster, para eliminar um certo tipo de
coincidências acidentais, não cobertas pela cláusula (2) anterior.
A essas três cláusulas o autor de Ulisses Unbound adiciona a idéia de
oportunidade para que um comportamento seja realizado pelo agente. De alguma forma
ele já a dá como suposta, como se pode depreender da seguinte afirmação: “ (...)
Quando uma pessoa se engaja em um certo tipo de comportamento, já sabemos que ela
teve a oportunidade. Se ela o fez, ela pode fazê-lo” (ELSTER, 1986: 62). Devemos estar
atentos para esta introdução, digamos, estrutural no argumento não é algo de somenos
importância. Até aqui, as cláusulas sempre apontaram para a “maquinaria mental” do
agente. A introdução de algo externo ao ator é importante porque é justamente o campo
onde uma acirrada disputa intelectual vai se dar e que da qual trataremos mais adiante.
Principalmente, o que se introduz aqui é uma espécie de constrangimento externo à ação
do agente e o que isso representa em termos de explicação para o seu comportamento.
Em suma, trata-se de saber em que nível podemos operar analiticamente. E Elster está
bem ciente disso. Segundo ele: “O ponto é que a satisfação das cláusulas (2) e (3) requer
que escrutinemos a verdadeira máquina mental trabalhando, o que é algo que somente
excepcionalmente podemos fazer. Em contraste, estabelecer motivo, oportunidade,
conhecimento e habilidade é uma tarefa bem mais fácil (o que não significa dizer que é
em geral uma tarefa fácil)” (ELSTER, 1986: 62).

1.2 – Racionalidade.
Em termos gerais este segundo pilar da explicação racional aponta, segundo
ELSTER (1986), para relações muito específicas entre os desejos e crenças por um lado
e a ação por outro. São condições mínimas para que haja racionalidade em um
comportamento:
(4) O quadro de crenças C é internamente consistente (traduzindo livremente do
inglês teríamos: as crenças devem ser internamente consistentes).
(5) O quadro de desejos D é internamente consistente.
A discussão que Elster faz destas duas condições de racionalidade é das mais
curiosas. Em primeiro lugar parece claro que se um desejo é internamente inconsistente
(por exemplo, viajar e ficar no mesmo lugar ao mesmo tempo) não se pode pensar em
escolher o melhor meio de realizá-lo, simplesmente porque é irrealizável. Mas, e se o
agente acreditar que ele é realizável? O ponto é que, como já indicamos acima, a
explicação racional repousa sobre o indivíduo e não no seu enquadramento social ou
institucional. A questão se torna ainda mais grave quando se considera a relutância de
Elster em assentar a explicação racional sobre a competência mental do agente.
Certamente que soa preconceituoso afirmar que a um agente que acredita ser realizável
um desejo internamente incoerente falta competência mental. Mas, o que mais sobra?
Sobra, como podemos ver no ensaio de ELSTER (1986), a idéia de que as crenças
devem ter como parâmetro as evidências disponíveis. Mas, vale a pena citar Jon Elster
para ver como ele parece relutante em exigir que as crenças, para serem racionais,
cumpram esta exigência. Eis a passagem:
“Pode-se demandar mais racionalidade das crenças e desejos do que a mera
consistência. Em particular, pode-se requerer que as crenças sejam, em algum sentido,
substantivamente bem sedimentadas, isto é, indutivamente justificadas pelas evidências
disponíveis. Isto, por certo, é um noção altamente problemática; mesmo assim aqui eu
assuma doravante que é uma noção significativa” (ELSTER, 1986: 63).
Como se pode ver, Elster hesita. Ficamos sem saber exatamente porque ele
considera a justificação indutiva como “altamente problemática”. E isso é algo que se
deve estranhar em um autor conhecido pelo rigor da argumentação. Mas, talvez a
dificuldade se deva ao fato de ele ter substituído a noção mais rigorosa de “quadro
cognitivo” por outra, bem menos precisa, “crença”. De fato, se em vez de “crença”,
Elster se ativesse ao “quadro cognitivo”, a utilização tanto da competência mental,
quanto da “indução” como parâmetros para a medição da racionalidade do desejo não
soaria menos estranha. Se não por nada, porque tiraria do âmbito das crenças
explicáveis pela teoria da escolha racional tudo o que se referi a um enquadramento
menos sedimentado no empiricamente observável. Um bom exemplo disso seriam todas
as crenças religiosas de vida após a morte ou na vinda do messias. Um indivíduo que
acredite na possibilidade de “viagens astrais”, por exemplo, acredita piamente que é
possível viajar e permanecendo corporalmente no mesmo lugar.
É verdade que os exemplos citados no artigo do autor de Marx Hoje (e aqui
também) em nada ajudam. São simples demais, óbvios demais. Têm apenas o propósito
de tornar claro algo bem mais complicado. Em ciências sociais não se lida com o
problema de ator achar que pode operar a trissecção do ângulo de um triângulo da forma
como Elster indica, ou com aqueles que acreditam em viagens astrais, como indicamos
nós. Sociólogos e cientistas políticos não lidam com este tipo de agente. Os contextos
em que os agentes vão fazer escolhas são bem menos obviamente qualificáveis como
racionais ou irracionais.
Um exemplo talvez torne o que estamos indicando mais facilmente visualizável.
Consideremos, assim, o relato que Jung Chang, a autora de Cisnes Selvagens, faz da
China no período do “Grande Salto Para Frente”. Em termos econômicos, o grande salto
que a economia chinesa deu no período foi para trás. Tanto que a conseqüência foi uma
epidemia de fome em todo país, especialmente entre os camponeses e as camadas mais
pobres das cidades (geralmente as pessoas que não faziam parte do partido comunista
chinês). O Grande Salto foi uma idealização pessoal de Mao Tse Tung. Seu objetivo
político era mostrar que a China era capaz de crescer em moldes não capitalistas.
Acontece que o campo tem uma maneira correta de ser cultivado que não depende da
forma do sistema político. Daí que as safras tenham sido prejudicadas por formas
incorretas de cultivo. A terra, afinal, não possuía então, nem possui nunca, simpatias
ideológicas. A propaganda oficial, contudo, afirmava o sucesso do projeto. Números
altissonantes propalavam o enorme crescimento da produtividade tanto no campo
quanto na indústria. A fome (infelizmente também sem simpatias ideológicas) era
creditada a catástrofes naturais.
Como classificar o comportamento de Mao? Pode-se classificar seu
comportamento como irracional, se considerarmos as evidências disponíveis. A questão
é que de outro ponto de vista, justamente aquele que reluta em considerar o fator
indutivo como sinal de racionalidade, teríamos que nos defrontar com o seguinte
argumento: uma vez que Mão acreditou ser perfeitamente possível submeter a
agricultura e a indústria a uma lógica “socialista” que seria tão ou mais eficiente que a
capitalista, seu comportamento seria perfeitamente racional.
Isso é forçar o argumento, por certo. Mao soube quase imediatamente, dado os
resultados da economia, que seu Grande Salto Para Frente estava fadado ao fracasso.
Sua crença (ou demência) não ia tão longe até o ponto de não ser capaz de reconhecer
seu fracasso. A questão é que ele não podia reconhecer seu fracasso tão imediatamente,
pois isso significaria perder sua posição de poder na estrutura do partido comunista
chinês. Mas não podia insistir na sua política pelo simples fato de que isso também
significaria desacreditar o Partido e a si próprio diante da população. Estava, portanto,
em uma armadilha. Por cinco anos insistiu na sua política e condenou os chineses à
fome. Porém, teve de se render às... evidências.
Não interessa aqui como Mao resolveu a questão política no Partido. Sabe-se que
após o fracasso do Grande Salto Para Frente, ele teve que devolver a condução da
economia à corrente mais moderada, liderada por Deng Xiaoping. Interessa, sim, o que
isso diz a respeito do critério de racionalidade de desejos e crenças. E as evidências não
costumam perdoar o comportamento que nelas não está baseado.
Elster, portanto, mesmo a contragosto, também tem de considerá-las em sua
argumentação. E, novamente, três condições têm que ser satisfeitas para o bem da
racionalidade:
(1b) A crença deve ser a melhor crença, dada a evidência disponível.
(2b) A crença deve ser causada pela evidência disponível.
(3b) A evidência deve causar a crença “da maneira certa”.
A primeira condição implica na aceitação da inferência indutiva como condição
de formação da crença. A segunda reforça o argumento indicando que o processo para
se chegar à crença deve ser necessariamente baseado na indução e não em “wishful
thinking” que, coincidentemente, pode ter levado o agente à alcançar os mesmos
resultados. A terceira é ainda mais exigente. Não basta que o agente chegue,
considerando as evidências, à crença que é garantida pelo processo de argumentação (ou
consideração das evidências) – é necessário que o processo de ponderação das
evidências seja o processo correto.
Elster chega, então, a fazer mais um postulado de racionalidade que inclui as
evidências (E) disponíveis:
(W) A relação entre C e E deve satisfazer (1b), (2b) e (3b).
Chama atenção, contudo, para o fado deste postulado ser incompleto. O motivo
da incompletude: ele precisa ser suplementado por uma condição sobre quanta
evidência é racional coletar.
Com relação à consistência interna dos desejos, Elster formula mais um
postulado:
(6) Dado C, B é a melhor ação com respeito ao quadro completo de desejos bem
ponderado.
Este postulado visa, segundo Elster, evitar o comportamento acrático ou a
fraqueza da vontade. O ponto é que um indivíduo pode possuir vários desejos, ou até
desejos conflitantes com respeito a um mesmo objeto ou objetivos. Isto posto, um
comportamento é racional se, bem ponderados os desejos e suas conseqüências, o
indivíduo escolher realizar aquele desejo que lhe for mais benéfico. O seu exemplo é o
do indivíduo que, mesmo desejando parar de fumar, não rejeita um cigarro quando um
lhe é ofertado. Ciente dos malefícios do tabagismo, este indivíduo mesmo assim opta
pelo cigarro. Ora, este comportamento não é racional. Não pode ser objeto de uma
explicação racional. É importante salientar a explicação que Elster aceita para este
comportamento: a falta de uma ligação causal (ou uma ligação causal defeituosa) entre
os desejos e as ações. A razão mais fraca bloqueia a mais forte de entrarem em
operação. Ou seja, estamos, querendo-se ou não, bem no meio de mecanismos
psicológicos que exercem um papel explicativo para o comportamento do agente.

1.3 – Otimalidade
O terceiro pilar explicativo da teoria está assentado na idéia de que o agente se
comporta escolhendo a melhor maneira de atingir seu objetivo. Ele está presente já no
postulado inicial (1). Os problemas com esta exigência são muitos, pelo que se pode
depreender das considerações de Elster. E ele apresenta essencialmente dois. Em suas
palavras, “por um lado, pode haver várias opções que são igualmente e maximamente
boas; por outro, pode haver nenhuma ‘melhor’ opção de todo” (ELSTER, : 65).
Com relação ao primeiro caso, a não-unicidade de escolha ótima, ele pode surgir
porque o ator é indiferente às várias opções. Nenhuma é melhor que a outra. Esta
possibilidade põe em questão tanto a Teoria do Equilíbrio Geral, como na Teoria dos
Jogos – onde, como nota Elster, jogos com múltiplos ótimos abundam.
O caso anterior aponta para a indiferença do agente diante de vários ótimos. O
problema se torna ainda mais sensível quando não existe um ótimos entre duas opções.
O caso aqui é de incomparabilidade. E se apóia, em parte, nas considerações de Sen e
Williams sobre decisões que dizem respeito ao bem-estar alheio.
Mas, as considerações de Elster se tornam ainda mais instigantes quando ele
considera situações em que decisões têm de ser tomadas em contextos de incerteza. De
fato, a maioria das escolhas são feitas em tais contextos. Simplesmente não se tem
informações completas disponíveis para cada grupo de decisões a serem tomadas.
Isto é retomar o argumento da escolha feita diante das evidências disponíveis que
foi discutido acima. Quando da formulação da cláusula (W) Elster já havia indicado a
sua incompletude. Não há, em suma, como saber que as evidências coletadas são
suficientes para embasar uma escolha que seja segura quanto ao seu resultado. Por outro
lado, não se pode saber com segurança em qual ponto se deve parar de coletar
informações. Ainda mais: não se sabe qual o ponto em que os custos marginais da coleta
de evidências vai superar os seus ganhos.
Como isto tudo é muito vago, vaga é a condição que se pode impor sobre E:
(N) Deve-se coletar uma quantidade de evidência que fique entre os limites mais
altos e mais baixos que são definidos pela situação-problema, incluindo D.
E Elster finaliza afirmando que se pode impor a seguinte condição sobre a relação
entre evidência, crença e desejos:
(7) A relação entre C, D e E deve satisfazer (1b), (2b), (3b) e (N).
Elster chama atenção, a certa altura de sua argumentação, para o seu objetivo no
ensaio: explorar a utilização da explicação da Teoria da Escolha Racional no domínio
da racionalidade individual. Com isso, evita pensar em sujeitos coletivos, na
coordenação da ação entre diversos indivíduos e, por fim, naquilo que se pode chamar
de influências exteriores ou circunstâncias exteriores ao domínio do indivíduo. Pelo
menos faz este esforço neste ensaio. A questão é saber se se pode pensar numa
explicação para o comportamento do indivíduo centrando a atenção apenas em seus
desejos, cognições e nas evidências disponíveis que ele processa cognitivamente.
Anteriormente indicamos que a incorporação de Elster das evidências disponíveis
é algo relutante. Não se deve estranhar esse aspecto. As evidências disponíveis estão aí
meio que de contrabando. É algo que o indivíduo vai internalizar, mas não são algo que
advenham do próprio indivíduo, do seu psiquismo. Na verdade Elster se esforça por
limpar sua argumentação de fatores externos, como ficou claro aqui quando citamos sua
frase acerca da “facilidade” de análises que os incorporam.
Mas, este ponto é por demais importante para que fique de fora das propostas
explicativas assentadas na Teoria da Escolha Racional. De fato, parece que sua
aplicabilidade, os modelos explicativos propostos por aqueles que a advogam, não
podem prescindir de fatores externos ao psiquismo do indivíduo.
No que se segue, gostaríamos de expor como aqueles que advogam uma postura
mais externalista da Teoria da Escolha Racional apresentam seus argumentos.

2 – Um ponto controverso na teoria: externalismo vs. internalismo.

Em artigo claramente polêmico, SATZ e FEREJOHN (1994) propõem nada


menos que uma discussão acerca da natureza da Teoria da Escolha Racional. Para os
autores, ainda que as pessoas ajam como a teoria prediz (e o uso deste verbo parece-nos
importantíssimo para a compreensão de sua argumentação), a melhor explicação
baseada na escolha racional de suas ações pode não ser uma individualista, psicológica,
mas, asseguram, não-psicológica.
Segundo SATZ e FEREJOHN (1994) ao se interpretar a Teoria da Escolha
Racional como uma espécie de instrução ao agente para satisfazer maximamente seu
esquema geral de preferências, está-se na verdade apenas trabalhando com uma
concepção formal e estreita de racionalidade. O problema, em essência, com esta
posição é que o conteúdo das preferências do agente torna-se irrelevante. Não importa,
segundo eles, que razões o ator tem para ter aquelas preferências, ou porque ele chegou
a tê-las. O que faz uma ação racional é a relação abstrata mantida entre as preferências.
A exigência de transitividade, por exemplo. A crítica que fazem é em suma ao alto grau
de formalização do modelo explicativo que, para chegar a tel nível de formalização,
abstrai todo e qualquer contexto e atem-se aos mecanismos mentais a que o agente
recorre quando diante de uma escolha. Ao lado disso, o forte caráter normativo presente
na exigência de otimalidade também concorre para o alto nível de abstração
apresentado.
Os autores são partidários do chamam de “externalismo moderado”, espécie de
terceira via entre o internalismo (fortemente psicologizante e reducionista) e o
externalismo. Segundo eles, na posição externalista moderada “algumas das explicações
baseadas na escolha racional ganham sua força de características do ambiente do agente.
A psicologia do agente em tais casos é uma inteiramente imputada: ‘preferências’ são
derivadas tomando por base a localização do agente em uma estrutura social” (SATZ e
FEREJOHN, 1994: 72).
Quando os Autores dizem que as características da psicologia dos agentes são
“imputadas” ou “derivadas”, eles estão reafirmando o alto grau de abstração da Teoria
da Escolha Racional. Mais, chamam atenção também para o papel ativo do analista na
imputação de tal psicologia. Porém, lembram que essa imputação pode ser melhor
sucedida se se levar em conta o ambiente no qual o agente em análise se movimenta.
Levam seu argumento mais adiante afirmando que, “explicações baseadas na
Teoria da Escolha Racional são mais plausíveis em situações nas quais a ação do
indivíduo está severamente constrangida, e assim onde a teoria ganha seu poder
explicativo de interesses gerados na estrutura e não da verdadeira psicologia individual”
(SATZ e FEREJOHN, 1994: 72).
A diferença é que os autores querem dar substância aos interesses dos indivíduos.
É por isso que a estrutura social e política (ou qualquer outra, como a econômica, por
exemplo) é tão importante. Os interesses referem-se à estrutura “objetiva” na qual os
agentes se movimentam. Não são gerados na sua psicologia pura e simplesmente.
Isso não significa abrir mão de uma das principais características da teoria, o
comportamento maximizador do agente. Apenas esta característica é sutilmente
modificada. Como dizem os autores, “dizer que as pessoas agem consistentemente não é
dizer porque eles agem; nem mesmo é dizer que têm razões pata agir. Mas é dizer que
algumas de suas ações podem ser descritas como se elas tivessem razões, como se suas
ações fossem dirigidas ao objetivo (goal-directed)” (SATZ e FEREJOHN, 1994: 75). O
“como se” é que o mais importante na citação anterior. Pode-se presumir que os agentes
atuam como se seu comportamento fosse maximizador. O analista imputa tal
característica, nada mais. Trata-se de um modelo abstrato.
Vale a pena citar o exemplo que SATZ e FEREJOHN (1994) retiram da teoria da
firma.
“A teoria da firma é um exemplo paradigmático de uma explicação baseada na
teoria da escolha racional que se baseia em uma teoria estrutural dos interesses. A
suposição que a firma neoclássica age para maximizar lucros não se aplica à firma em
virtude de suas crenças e desejos internos. Mais exatamente, um ambiente de mercado
de capitais competitivo atua como um seletor sobre as firmas. Em um mercado
competitivo, somente firmas que agem para maximizar lucros irão sobreviver. Os
interesses da firma surgem das características do seu ambiente e não precisam surgir de
nenhum fato psicológico particular em seus membros” (SATZ e FEREJOHN, 1994:
778-9).
O exemplo acima é bastante esclarecedor. É interessante notar como ele coloca a
explicação em outra chave. O que chama atenção é que os interesses ganham
substância. E, mais importante, o analista não se vê preso à difícil tarefa de procurar
descobrir o psiquismo do agente (suas crenças e desejos). Imputa-os, simplesmente,
considerando o ambiente. Evidentemente, isso modifica e muito a discussão sobre a
racionalidade.
Se voltarmos a considerar o exemplo de Mao acima indicado, podemos ver como
a postura mais externalista coloca o problema da racionalidade de outra forma. A
questão é: como explicar o seu comportamento (a imposição de uma condução da
economia de forma extravagante) no quadro proposto pelos autores? Se olharmos o
ambiente institucional da China pós e pré-revolucionária talvez seu comportamento
ganhe um pouco mais de sentido. A China era, essencialmente, um país de caudilhos até
que foi unificada sob um imperador. Bem entendido, o imperador teve que se associar
aos caudilhos para solidificar seu próprio poder. Só neste instante é que se conhece a
China como um rudimento de Estado-Nação. Antes disso, ela era uma abstração – pois
nenhum manchu, por exemplo, se via como “chinês”.
É sobre esta tradição que se instala o novo regime comunista dirigido por Mao.
Com os anteriores, o regime partilhava o fato de não ser democrático. Suas instituições
reforçavam o poder do partido e, numa clara sobrevivência dos tempos pré-
revolucionários, o poder do líder máximo do partido. Ora, regimes ditatoriais são
regimes mais propensos ao experimentalismo, justamente por não comportarem espaços
para a discussão. Não se possui mecanismos que possam fazer valer o controle do
Estado pela sociedade. Neste sentido, pode-se prever, com algum grau de certeza, a
ação de governos absolutos, imputando certas características de seu comportamento em
função do ambiente institucional. Não se trata de dizer que Mao foi irracional ou
racional, mas de dizer que o seu experimentalismo econômico presente no Grande Salto
Para Frente só poderia acontecer em tal enquadramento.
Acima dissemos que o uso do verbo “predizer” parecia-nos importantíssimo para
a compreensão da argumentação dos autores. De fato, no exemplo da firma, o que o
analista faz é em grande parte é predizer o comportamento do agente, a partir de sua
análise da lógica do ambiente. Só essa análise torna possível a predição. Predição esta
que não se quer premonitória, mas probabilística, assentada nas evidências disponíveis.
Como o comportamento do ator quase sempre acontece em um ambiente de incerteza,
assim também é a análise do observador. Observe-se que o problema que tanto angustia
Elster em sua análise, isto é, a quantidade de informação necessária para uma ação
racional está aqui em segundo plano. Presume-se que o agente tenha já alguma
informação sobre seu ambiente. Mas, e isto é interessante, em alguns modelos advindos
da Teoria da Escolha Racional pode-se presumir também informação perfeita. Modelos
são bons para explicar, mas também para pensar.

3 – Aplicação ou modelos explicativos do comportamento humano baseados


na Teoria da Escolha Racional.

A aplicação da Teoria da Escolha Racional proposta por SATZ e FEREJOHN


(1994) parece-nos bastante coerente e, de fato, parece também ser a preponderante
quando se observa os modelos explicativos propostos por alguns autores. Talvez o caso
mais emblemático seja o do influente economista Garry Becker.
BECKER (1976) propõe o que chama de aproximação ou abordagem econômica
do comportamento humano. Segundo ele tal abordagem pode ser usada em uma
variedade de contextos e situações. (É necessário dizer que é essa forma de utilização da
TER que levanta o debate referido na introdução deste trabalho, isto é, do modelo
explicativo derivado da economia como uma espécie de Teoria Geral do
comportamento humano.) A abordagem econômica se caracteriza segundo Becker pelo
fato de assumir o comportamento maximizador do ator de forma mais explícita e
extensiva. Note-se, qualquer ator: seja ele a dona-de-casa, o governo, o sindicato, ou a
firma. Ademais, tal abordagem assume a existência de mercados que, com graus
variados de eficiência, coordenam as ações dos diferentes participantes, de tal forma que
seus comportamentos se tornam mutuamente consistentes. Quanto às preferências, elas
são dadas como constantes no tempo, não sendo muito diferentes entre pessoas ricas ou
pobres, ou mesmo entre pessoas em diferentes sociedades ou culturas.
As preferências que são dadas como estáveis não se referem a bens e serviços de
mercado, mas a objetos de escolha subjacentes que são produzidos por cada casa usando
os bens e serviços do mercado, seu próprio tempo, e suas próprias entrada. Essa
suposição de preferências estáveis provê uma fundação estável para gerar predições
sobre respostas a várias mudanças, e previne o analista de sucumbir à tentação de
simplesmente postular a mudança requerida nas preferências para “explicar” toda a
aparente contradição em suas explicações (BECKER, 1976: 5).
Estes três fatores (comportamento maximizador, equilíbrio de mercado e
preferências estáveis) formam o coração da abordagem econômica do comportamento
humano proposta por Becker. Além disso, o Autor em consideração faz as seguintes
observações acerca da abordagem econômica:
1 – Ela claramente não se restringe bens e desejos materiais, nem mesmo ao setor
de mercado (BECKER, 1976: 6);
2 – Ela não assume que todos os participantes em qualquer mercado
necessariamente têm informação completa ou se engajam em transações sem custos.
Informação incompleta ou transações custosas não devem, contudo, com
comportamento irracional ou volátil (BECKER, 1976: 7);
3 – Ela não assume que as unidades de decisões são necessariamente conscientes
de seus esforços para maximizar ou que podem verbalizar ou, de outra forma, descrever
de formar informativa as razões para o padrão sistemático de seu comportamento
(BECKER, 1976: 8).
De posse de todos esses postulados, Becker pode afirmar, então, que chegou à
conclusão de que a abordagem econômica é do tipo compreensivo e que é aplicável a
todo comportamento humano, qualquer comportamento. Todavia reconhece que tal
abordagem não tenha provido insights iguais sobre e entendimentos de todos os tipos de
comportamento (BECKER, 1976: 9).
O breve resumo acima das posições de Becker apontou para uma postura analítica
mais próxima, achamos, da postulada por SATZ e FEREJOHN (1994). Se bem
observado, pode-se ver que a preferência do agente existe dentro de um certo
enquadramento. Não se está dizendo que ele não pode escolher. Está-se dizendo,
apenas, que ele escolhe a partir de certas posições que o mercado torna possível. O que
se supõe, ademais, é que seu comportamento é maximizador. Mas, também, pode-se
supor que um agente pode simplesmente optar por minimizar os riscos. De qualquer
forma, supõe-se isso. Não se está dizendo que a psicologia dos agentes seja
efetivamente essa.
Existem utilizações da Teoria da Escolha Racional em vários campos da ação
humana. Iremos explorar brevemente um tipo de aplicação: o dos estudos sobre
sistemas legais. É necessário lembrar, contudo, que não se vai reproduzir todos os
aspectos do estudo, mas apenas parte deles, justamente aqueles que, achamos, lançam
luzes novas sobre o objeto em consideração.
GALANTER (1975) está interessado nas características gerais do sistema legal.
Antes de passarmos a especificar sua análise, talvez seja útil lembrar algo sobre o que se
entende modernamente como justiça. Todo o sistema formal de justiça moderno foi
pensado como uma estrutura que garantiria a imparcialidade e a impessoalidade das
decisões tomadas. Este princípio básico seria garantido pela formalização do direito
moderno, que teria três grandes características. Em primeiro lugar, a estruturação
sistemática de um corpus de proposições jurídicas claramente analisadas coloca as
normas vigentes numa ordem visível e controlável. Em segundo lugar, a forma da lei
abstrata e geral, não configurada para contextos particulares especiais, nem dirigida a
destinatários determinados, confere ao sistema de direitos uma estrutura uniforme. E,
em terceiro lugar, a vinculação da justiça e da administração à lei garante uma aplicação
ponderada e conforme ao processo, bem como uma implementação confiável dessas leis
(HABERMAS, Direito e sociedade, p.195-6).
GALANTER (1975) acrescenta, menos preocupado com os princípios, mas com
o funcionamento efetivo do sistema legal, que o sistema formal de justiça é composto
por quatro elementos básicos: 1 – Regras, 2 – Cortes, 3 – Advogados, e, finalmente, 4 –
As partes. Além desses atores e cenários básicos, o autor faz uma série de suposições
das quais, para efeito de economia, citaremos apenas algumas. Talvez a mais básica seja
a desigualdade entre os atores em termos de diferenças de quantidade de riqueza e
poder. Além disso, outra característica desse cenário é que ele requer o emprego de
agentes altamente especializados como mediadores das demandas – como quer que seja,
se o autor parece pensar nos advogados, pode-se pensar aqui que o acesso a tal sistema
pressupõe o domínio de sua linguagem que quase sempre permanece opaca para os
leigos. Além dessas suposições, GALANTER (1975) estabelece uma tipologia das
partes que é muito útil para se pensar em por quê, ainda que tal sistema vise em tese a
imparcialidade e eqüidade, ele, na verdade, é uma estrutura que finda por reproduzir as
desigualdades que se encontram presentes na sociedade inclusiva. Os tipos-ideais dos
litigantes são basicamente dois: os RPs (“repeat players”), isto é, uma unidade que tem
tido e antecipa litígios repetidos, que tem apostas baixas no resultado de qualquer caso,
e que tem os recursos para perseguir seus interesses de longo termo; o outro tipo-ideal é
os OSs (“one-shotters”), isto é, uma unidade cujas reivindicações são muito grandes
(relativamente ao seu tamanho) ou muito pequenas (relativamente ao custo dos
recursos) para serem manipuladas rotineira e racionalmente. Evidentemente que as
disputas entre partes com tais características só podem ser marcadas pela desigualdade.
Um lado possui experiência, recursos (dinheiro, advogados especializados, tempo, etc.),
influência, e suas apostas podem ser calculadas caso a caso; o outro lado é vítima de
tudo o que está nas antípodas da caracterização anterior: inexperiência, falta de recursos,
nenhuma influência, e apostas que não conhecem um meio termo que poderia lhe
garantir paciência e tranqüilidade para esperar o resultado de uma disputa.
É preciso, contudo, evitar as simplificações. Nem todas as disputas que chegam às
cortes são entre atores tão desiguais (GALANTER (1975) afirma mesmo que as
disputas entre OSs respondem pela maioria dos casos que chegam às barras dos
tribunais). Por outro lado, nem todo ator individual ou particular (caso por excelência
dos OSs), é um “one-shotter”. Como lembra o autor: criminosos contumazes são RPs.
Uma das suposições iniciais de GALANTER (1975) acima não utilizadas, mas
que serve de ponte para o tema do papel da justiça informal na resolução de conflitos, é
de que os “recursos no lado institucional são insuficientes para pontualmente atender a
adjudicação em todos os casos, de tal forma que às partes é permitido ou mesmo
encorajado privarem-se de trazer casos [à corte] e a negociarem casos, isto é, a
barganhar [até alcançarem] um resultado mutuamente aceitável”. Aqui, claro, está-se
diante dos acordos entre as partes que, ao que parece, é um recurso muito comum nos
EUA. Mas, queremos nos limitar àquilo que aparece como condicionante dos acordos: a
ausência de recursos suficientes para julgar em tempo todos os casos que chegam aos
tribunais. Desta incapacidade resulta o abarrotamento dos tribunais e a conseqüente
demora nos julgamentos. Destes dois fatores, em conseqüência, advém a insatisfação
com a justiça e as queixas dos usuários.
A estrutura da argumentação de GALANTER (1975) é a de analisar uma disputa
jurídica com as ferramentas da Teoria dos Jogos. Assim, as grandes empresas e
corporações (RPs, por excelência) só têm interesse em ingressarem em disputas
judiciais ou, o que é praticamente o mesmo, só investem pesado em tais disputas se as
conseqüências futuras de uma decisão judicial vai lhe prejudicar profundamente. Por
exemplo, se uma decisão da Corte Suprema dos EUA obriga uma grande empresa
fabricante de cigarros a pagar indenização a um fumante pelos danos causados pelo
vício, essa decisão prejudicará sensivelmente a própria existência da empresa enquanto
tal. É em função disso que, nesses casos, as grandes empresas empenham-se em acordos
entre as partes.
Por outro lado, um OS, digamos, um fumante individual, prefere fazer um acordo
a correr o risco de perder completamente quando o caso for à julgamento. Esse jogador
individual sabe que seus poucos recursos e experiência judiciais são insuficientes para
enfrentar uma grande corporação em um tribunal. Assim, ao escolher fazer um acordo,
seu comportamento é perfeitamente racional, dada a estrutura do ambiente no qual se
movimenta. Da mesma forma como o comportamento da corporação é perfeitamente
racional, pelos mesmos motivos. Ambos maximizam suas ações. Ambos conhecem o
“mercado” que disputam. Em suma, pode-se analisar seus comportamentos imputando-
lhes preferências. Como uma margem de acerto bastante razoável pode-se acertar. E
isso tudo sem ser necessariamente acrítico.

4 – Considerações Finais

O objetivo deste trabalho foi de levantar os pilares básicos de uma explicação


baseada na Teoria da Escolha Racional. Dentro do possível, procuramos elucidar pontos
que nos eram particularmente interessantes. Assim, não levantamos o debate sobre
internalismo vs. Externalismo por acaso. Certamente o debate possui desdobramentos
que vão para além do que foi aqui apresentado. Mas, procuramos nos ater a um ponto
que nos parece crítico: a estrutura de preferências do agente.
É evidente que ELSTER (1986) está ciente de que não se pode pensar tal estrutura
de preferências fora do ambiente no qual atores interagem. Apenas nos pareceu que isso
não está suficientemente claro em sua apresentação da Teoria da Escolha Racional.
Isso é tão mais importante quando se observa que nas suas aplicações ou nas
postulações abstratas de sua aplicação – caso específico de BECKER (1986) –, tal
ambiente tem um papel destacado. Como já se disse acima, não se trata de afirmar que o
ambiente determina a escolha do ator, mas de reconhecer que este é, em grande medida,
qualificado por aquele. E isso tanto na sua abrangência, como no seu conteúdo. Mesmo
as estratégias disponíveis partilham essa característica, como se pode aduzir do estudo
de GALANTER (1975) aqui comentado.

BIBLIOGRAFIA

CHANG, Jung – Cisnes Selvagens, São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
BECKER, Garry – “The economic approach to human behavior”, in: ELSTER, Jon, ed.
Rational Choice. New York University Press, 1986.
ELSTER, Jon – “The nature and scopr of rational choice explanation”, in: Actions and
Events, ed. E. Lepore e B. McLaughlin. Basil Blackwell, 1986.
GALANTER, Marc – “Why thr ‘haves’ como out ahead: speculations on the limita of
legal change”, in: ABEL, Richard L., The Law & society Reader, New York
University Press, 1975.
HABERMAS, Jürgen – Direito e Democracia: entre facticidade e validade, v. II, Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
SATZ, Debra e FEREJOHN, John – Retional choice and social theory”, Journal of
Philosophy, 91: 71-87.

Você também pode gostar