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CADERNO DE PESQUI SAS EM ADMI NI STRAÇÃO, SÃO PAULO, V. 1, Nº 11, 1º TRI M./ 2000
CI CLO DE VI DA DE SI STEMAS ERP
ERP o amadurecimento das opções disponíveis no compartilhar práticas e dados comuns através de toda a
mercado, a evolução da tecnologia utilizada por esses empresa e produzir e acessar informações em tempo
pacotes (bancos de dados relacionais, processamento real”. Embora as empresas possam desenvolver
cliente/servidor) e algumas histórias de sucesso de internamente sistemas com estas características, o
empresas no início da década. termo ERP está normalmente associado a pacotes
No final da década de 90 a utilização de sistemas comerciais.
ERP já está consolidada como solução para a Os sistemas ERP possuem uma série de
construção da infra-estrutura tecnológica das empresas características que tomadas em conjunto claramente os
e dificilmente o desenvolvimento interno de um distinguem dos sistemas desenvolvidos internamente
sistema que atenda às funções já contempladas pelos nas empresas e de outros tipos de pacotes comerciais.
sistemas ERP será considerado. Também no final da Essas características são importantes para a análise dos
década o mercado assistiu a um movimento das possíveis benefícios e dificuldades relacionados com a
grandes empresas fornecedoras de sistemas ERP em sua utilização e com os aspectos pertinentes ao sucesso
direção ao mercado de empresas de médio porte, em de sua implementação. A seguir destacam-se estas
virtude da maioria das grandes empresas já terem senão características.
implementado pelo menos optado por um dos
a) Os ERP’s são pacotes de software comerciais
fornecedores. Além disso, as implementações em
empresas não industriais, tais como serviços, varejo e A idéia básica da utilização de pacotes comerciais é
telecomunicações, ainda estão se iniciando. resolver dois dos grandes problemas que ocorrem na
O objetivo deste artigo é discutir aspectos construção de sistemas pelos métodos tradicionais de
importantes envolvidos na escolha, implementação e análise e programação: o não cumprimento de prazos e
utilização de sistemas ERP. Inicialmente serão de orçamentos. Segundo GIBBS (1994), “Em média os
apresentadas as principais características desses projetos de desenvolvimento de software ultrapassam o
sistemas e proposto um modelo para o seu ciclo de cronograma em 50%. Projetos maiores geralmente
vida. A seguir serão feitas considerações a respeito de ultrapassam mais.”. Diversas alternativas têm sido
aspectos considerados importantes para cada uma das usadas para tentar resolver esse problema tais como o
etapas do ciclo de vida com base na literatura e na uso de metodologias de desenvolvimento mais
experiência dos autores deste trabalho. atualizadas, a prototipação, a utilização de ferramentas
CASE (Computer-Aided Software Engineering) e as
NATUREZA DOS SISTEMAS ERP linguagens e metodologias orientadas a objeto que têm
como objetivo permitir a reutilização de componentes
Os sistemas ERP podem ser definidos como de software. Entre essas alternativas também está a
sistemas de informação integrados, adquiridos na utilização de pacotes comerciais de software.
forma de pacotes comerciais de software, com a BROOKS (1987) afirma que “a mais radical solução
finalidade de dar suporte à maioria das operações de para os problemas da construção de software é não
uma empresa (suprimentos, manufatura, manutenção, construí-lo mais”. Segundo o autor, “ O custo do
administração financeira, contabilidade, recursos software sempre foi o de desenvolvimento, não o de
humanos etc.). Exemplos de sistemas ERP existentes replicação. Dividindo esse custo entre diversos
no mercado são o R/3 da empresa alemã SAP, o Baan usuários, mesmo que poucos, reduz-se radicalmente o
IV da Holandesa Baan, o OneWorld da americana JD custo por usuário.”
Edwards, o Oracle Financials da americana Oracle, o
b) Os ERP’ incorporam modelos padrão de
Magnus da brasileira Datasul, o Microsiga da empresa
processos de negócios
brasileira de mesmo nome e o Logix da brasileira
Logocenter. Processos de negócios podem ser definidos como
Segundo CORRÊA, GIANESI e CAON (1999), os um conjunto de tarefas e procedimentos
sistemas ERP podem ser entendidos como uma interdependentes realizados para alcançar um
evolução dos sistemas MRP II na medida em que, além determinado resultado empresarial. O desenvolvimento
do controle dos recursos diretamente utilizados na de um novo produto, o atendimento de uma solicitação
manufatura (materiais, pessoas, equipamentos), de um cliente, ou a compra de materiais são exemplos
também permitem controlar os demais recursos da de processos. Segundo DAVENPORT e SHORT
empresa utilizados na produção, comercialização, (1990), uma das características dos processos de
distribuição e gestão. Uma pesquisa da DELOITTE negócios é que normalmente eles cruzam fronteiras
(1998) os define como “um pacote de software de organizacionais, isto é, as tarefas de um mesmo
negócios que permite a uma companhia automatizar e processo podem ser realizadas por diferentes
integrar a maioria de seus processos de negócio, departamentos em uma empresa.
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Assim como os demais pacotes comerciais os Os sistemas ERP realmente integrados são
sistemas ERP não são desenvolvidos para um cliente construídos como um sistema empresarial que atende
específico. Eles procuram atender requisitos genéricos aos diversos departamentos da empresa, em oposição a
do maior número possível de empresas, justamente um conjunto de sistemas que atendem isoladamente a
para explorar o ganho de escala em seu cada um deles. Entre as possibilidades de integração
desenvolvimento. Portanto, para que possam ser oferecidas por sistemas ERP estão o compartilhamento
construídos é necessário que incorporem modelos de de informações comuns entre os diversos módulos, de
processos de negócio. Esses modelos são obtidos por maneira que cada informação seja alimentada no
meio da experiência acumulada pelas empresas sistema uma única vez, e a verificação cruzada de
fornecedoras em repetidos processos de implementação informações entre diferentes partes do sistema. Um
ou são elaborados por empresas de consultoria e exemplo é a verificação de notas fiscais de entrada, no
pesquisa em processos de benchmarking. recebimento, comparando-as com os dados de pedidos
O termo best practices (melhores práticas) é de compra e garantindo o recebimento apenas com
utilizado amplamente por fornecedores de sistemas preços e quantidades corretos. Outra possibilidade é o
ERP e consultores para designar esses modelos-padrão, fornecimento instantâneo de informações, assim que
mas é preciso certo cuidado quanto ao seu real são alimentadas no sistema, para todos os módulos que
significado. DAVENPORT (1998) afirma que “[no delas se utilizem. Conforme os conceitos apresentados
caso dos sistemas ERP] é o fornecedor, e não o cliente, por ALSÈNE (1999), é importante ressaltar que o fato
que define o que ‘melhor’ quer dizer” e que “em alguns de um sistema ERP ser integrado não leva
casos as suposições do sistema podem ir realmente de necessariamente à construção de uma empresa
encontro aos interesses da empresa”. Apesar desse integrada. O sistema é meramente uma ferramenta para
cuidado na definição do termo é importante salientar o que este objetivo seja atingido.
fato de os sistemas ERP disponibilizarem um
d) Os ERP’s utilizam um banco de dados
"catálogo" de processos empresariais criado a partir de
corporativo
um extenso trabalho de pesquisa e experimentação. O
acesso a este catálogo por si só já pode ser interessante Entre as diversas formas de se desenvolver sistemas
para as empresas. Muitas vezes estão incluídos nesse totalmente integrados está a utilização de um único
catálogo processos e funções que fazem parte dos banco de dados centralizado denominado banco de
planos de desenvolvimento de sistemas da empresa, dados corporativo. Isto interpõe desafios
mas que por alguma razão ainda não foram organizacionais significativos para a empresa,
implementados. A adoção de um sistema ERP torna-se, entretanto, as dificuldades de implementação são em
então, uma oportunidade para que estes processos geral plenamente compensadas pelas vantagens que
sejam realmente incorporados aos sistemas da empresa. esta solução traz consigo. Esta prática em geral é
preconizada pelos sistemas ERP.
c) Os ERP’s integram as diversas áreas da
empresa e) Os ERP’s possuem grande abrangência
funcional
Segundo ALSÈNE (1999), existe certa confusão
entre os termos "empresa integrada" e "sistemas O termo função designa as diferentes operações
integrados", pois o primeiro é um objetivo e o segundo realizadas em um sistema informatizado. No caso dos
é um meio para atingi-lo. Segundo o autor “o objetivo sistemas ERP a composição de todas as funções
final [da integração da empresa por meio de sistemas disponíveis forma o sistema de informações
informatizados] não é interconectar os sistemas transacional que dá suporte aos processos de negócio.
informatizados existentes ou que serão implementados Normalmente as funções correspondentes a uma
no futuro, mas sim construir um todo empresarial mesma divisão departamental (vendas, finanças,
coerente a partir das várias funções que originam-se da produção, planejamento da produção) são reunidas
divisão do trabalho nas empresas”. Ressalte-se ainda constituindo módulos. Os módulos são os menores
que há diferença entre os termos "empresa integrada conjuntos de funções que podem ser adquiridos e
por meio de sistemas informatizados" e "empresa implementados separadamente em um sistema ERP. A
integrada" pois este segundo objetivo pode ser totalidade das funções disponíveis em um sistema ERP
alcançado por outros meios, além da utilização de constitui o que se denomina funcionalidade do sistema.
sistemas informatizados. Genericamente os sistemas Uma diferença entre os sistemas ERP e os pacotes
integrados podem ser caracterizados como sistemas de software tradicionais é a abrangência funcional dos
informatizados que são utilizados em conjunto por primeiros, isto é, a ampla gama de funções
membros de diferentes departamentos dentro de uma empresariais cobertas por estes aplicativos.
mesma organização. Normalmente no caso dos demais pacotes apenas uma
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tradicionais, principalmente no que se refere à sua uma revisão da literatura a respeito da seleção,
abrangência funcional e à integração entre seus implementação e utilização de sistemas ERP,
diversos módulos. Uma proposta para um modelo de principalmente BANCROFT, SEIP e SPRENGEL
ciclo de vida de sistemas ERP é apresentada na Figura (1998), LOZINSKY (1996) e DAVENPORT (1998). O
1. Este modelo foi delineado com base nas modelo considera as seguintes etapas: decisão e
características do ciclo de vida de pacotes comerciais, seleção, implementação e utilização. Cada uma destas
nas características específicas dos sistemas ERP e em etapas é discutida a seguir:
novas necessidades
conhecimento novo acumulado
novos parâmetros
fase n
DECISÃO E IMPLEMEN-
UTILIZAÇÃO
SELEÇÃO TAÇÃO fase 2
fase 1
pacote selecionado
plano de implementação
módulos parametrizados
dados migrados
usuários treinados
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custos associados à implementação de sistemas ERP tecnológica do futuro. Os critérios arquitetura técnica,
sugerem que a maioria das empresas deveria analisar saúde financeira e visão do futuro do fornecedor estão
este investimento exclusivamente por meio de seu associados ao fato de que a escolha de um sistema ERP
potencial de redução de custos”. é um compromisso de longo prazo. Após a sua
Para a escolha do fornecedor é interessante implementação é muito difícil mudar rapidamente de
comparar as diversas alternativas disponíveis no fornecedor caso este cesse suas operações ou deixe de
mercado, por exemplo, mediante o uso de critérios e adequar permanentemente seus produtos às
pesos. Por meio desse processo primeiro se necessidades do mercado.
estabelecem os critérios que deverão ser utilizados para Além da seleção do fornecedor do sistema deve ser
a comparação e sua importância relativa. Cada uma das considerada nessa etapa a análise de alternativas para a
alternativas é então avaliada atribuindo-se notas ao realização dos serviços de implementação. Em função
desempenho das alternativas frente aos critérios da magnitude dos projetos ERP, da multiplicidade de
estabelecidos. Em princípio o fornecedor que obtiver a conhecimentos envolvidos e das mudanças
melhor nota final será o escolhido. Uma variação organizacionais requeridas alguns autores recomendam
interessante desse processo é a sua realização em duas a utilização de consultorias para auxiliar ou conduzir as
etapas. Na primeira etapa, a de pré-seleção, considera- diversas fases do processo de implementação. A exata
se o maior número possível de candidatos utilizando-se forma dessa terceirização dos serviços de
um número reduzido de critérios, que sejam de implementação depende das estratégias da empresa em
verificação rápida, mas fundamentais de acordo com relação ao domínio do processo e do conhecimento.
os objetivos do projeto. Escolhem-se então dois ou três Deve ser observado que em geral as empresas de
finalistas que serão submetidos a um estudo mais consultoria são especializadas na implementação de
rigoroso na etapa de seleção final. sistemas ERP específicos de determinado fabricante
O critério que merece o maior peso e que exige constituindo efetivas parcerias com estes. Essa
maior esforço para a sua avaliação é o de adequação do terceirização envolve muitas questões que fogem ao
pacote aos requisitos dos usuários. O levantamento escopo deste trabalho, razão pela qual não serão
desses requisitos equivale à fase de levantamento de discutidas.
requisitos do ciclo de vida de sistemas tradicional. No Após a seleção do fornecedor deve-se proceder ao
entanto, é preciso considerar que se trata de um sistema planejamento do processo de implementação.
com abrangência muito maior do que aqueles BANCROFT, SEIP e SPRENGEL (1998) sugerem
normalmente desenvolvidos internamente pelas alguns passos para esse planejamento: a definição do
empresas. Isto indica que é necessário, por questões de líder do projeto, a formação de um comitê executivo, a
tempo, que a avaliação se fixe nos pontos considerados estruturação das equipes do projeto e a definição do
essenciais pelos usuários. Por outro lado, um estudo plano geral de implementação. LOZINSKY (1996)
superficial pode trazer problemas. Muitas vezes os sugere que o papel do líder de projeto seja dividido
usuários se encontram tão imersos em seu contexto que entre um coordenador do projeto da empresa e o
não conseguem perceber os requisitos que precisam ser consultor responsável pela equipe de projeto. O comitê
contemplados ou os consideram como obviamente executivo tem por objetivo desenvolver o plano geral
atendidos pelo pacote. No momento da implementação de implementação, definir as equipes de projeto e
verifica-se, com surpresa, que aquela funcionalidade acompanhar os resultados do projeto como um todo,
não é atendida. Segundo MARTIN e MCCLURE bem como tomar decisões que possam exigir liberação
(1983), “Uma das armadilhas dos pacotes de software de recursos adicionais ou mudanças no cronograma.
resulta do cuidado insuficiente em verificar a A definição do plano geral de implementação refere-
adequação do pacote à empresa. Sutilezas não se à definição de quais módulos, onde e em que ordem
percebidas na pressa da compra podem aparecer mais serão implementados. Existem basicamente duas
tarde, quando se transformarão em severos problemas alternativas: implementação em fases onde os módulos
de manutenção”. são implementados sucessivamente com diferentes
Embora a funcionalidade deva ser o foco principal datas para início de operação, ou a implementação
do processo de seleção do fornecedor existem outros completa (big-bang) onde todos os módulos são
aspectos que em conjunto são tão ou mais importantes. implementados ao mesmo tempo. A definição da
HECHT (1997) recomenda que o critério melhor estratégia depende dos objetivos do projeto, de
funcionalidade não deve ter mais do que um terço do restrições e possibilidades da arquitetura tecnológica
peso total na decisão e apresenta outros cinco critérios existente, da predisposição pela mudança, dos
que devem ser considerados na seleção do fornecedor: investimentos que se deseja fazer, dos benefícios que
a arquitetura técnica do produto, custos, seu serviço e se pretende obter, dos riscos que se deseja correr, entre
suporte pós-venda, sua saúde financeira e sua visão outros. Se a empresa possui mais de uma unidade de
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instalados e configurados, que os funcionários que irão existem outras alternativas, por exemplo, pode-se usar
interagir com o sistema e que os supervisores e uma combinação de mudanças no pacote e na
gerentes que irão supervisioná-los estejam organização ou não mudar nem o pacote nem a
devidamente treinados, e que as condições para obter organização mas empregar normas e controles
suporte e auxílio tenham sido disponibilizadas de paralelos. A alteração do pacote quando feita por meio
forma adequada. Esta etapa contempla as tarefas que da customização pode conduzir a uma série de custos
vão desde o término da elaboração do plano de de manutenção adicionais e que tendem a se repetir
implementação até o momento do início da operação. enquanto se utilizar o pacote. Esses custos, que não são
A questão da compatibilidade entre a organização e normalmente computados em um projeto de
as características dos sistemas ERP mantém relação implementação de um sistema ERP, podem ser muito
com a etapa de implementação. LUCAS (1985) elevados se somados o tempo gasto na resolução de
apresenta um modelo para implementação de pacotes problemas, no suporte aos usuários e na correção de
comerciais que introduz o conceito de “discrepância” dados. A utilização de normas e controles paralelos é a
entre o pacote e a organização. De acordo com esse alternativa mais barata a curto prazo, mas deve ser
modelo o pacote é considerado como uma solução ao usada apenas em discrepâncias onde a intervenção
atendimento de requisitos de sistema gerados a partir paralela não ofereça maiores riscos.
da combinação das necessidades impostas pelo O modelo da etapa de implementação proposto está
ambiente da organização e das necessidades e apresentado na Figura 2. Esse modelo se baseia no
expectativas dos usuários. Todavia é improvável que o conceito de que a implementação de um sistema ERP é
pacote combine perfeitamente com os requisitos. O um processo pelo qual se busca a melhor adaptação
autor chama de discrepâncias estas diferenças entre a entre o pacote e a organização. O processo de
funcionalidade do pacote e os requisitos do sistema. implementação é realizado em várias etapas de
Segundo essa abordagem a etapa de implementação é adaptação, uma para cada módulo ou grupo de
principalmente uma atividade de eliminação dessas módulos, que ocorrem simultânea ou seqüencialmente
discrepâncias até que a operação possa ser iniciada de acordo com o que foi definido no plano geral de
com razoável segurança. A etapa é finalizada pelas implementação. O plano detalhado de implementação é
atividades de treinamento dos usuários e preparação do um cronograma completo com todas as atividades
ambiente de operação contínua. necessárias para a execução do projeto. Ele também
Durante o processo de implementação tenta-se inclui a definição de pontos de verificação e a definição
inicialmente resolver essas discrepâncias de duas dos responsáveis por cada uma das atividades
maneiras: ou muda-se o pacote, por meio da previstas. Esse plano deve ser elaborado pelo líder do
parametrização ou customização, ou mudam-se os projeto.
procedimentos da organização. Contudo, é claro que
adaptação do treinamento
módulo 1 conversão
operação do módulo 1
plano treinamento
adaptação do
detalhado de
módulo 2 conversão
implementação
operação do módulo 2
adaptação do treinamento
módulo n conversão
plano geral de
operação do módulo n
implementação
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Cada uma das etapas de adaptação é composta por O processo de eliminação de discrepâncias pode ser
uma série de sub-etapas. Tanto as etapas quanto as sub- muito rápido com o uso de parametrizações locais e
etapas admitem paralelismo entre si. Na Figura 3 está desde que não envolva extensas negociações entre as
representada a etapa de adaptação de um módulo ou diversas equipes. Se forem exigidas customizações, o
conjunto de módulos qualquer. A análise dos processos processo pode se tornar extremamente lento,
da empresa e o estudo dos processos previstos no dependendo de como serão desenvolvidas e da
pacote ocorrem simultaneamente. À medida em que as necessidade de se alterar ou não o sistema ERP padrão.
equipes aumentam seu conhecimento a respeito do Muitas vezes a solução de discrepâncias específicas
pacote, por meio de tentativas, treinamento e testes, pode ser adiada, por consenso dos envolvidos, para
elas conseguem visualizar de forma mais clara como etapas posteriores do projeto após a implementação do
seus processos de negócio poderão ser implementados. sistema ERP. Enquanto não são resolvidas os usuários
Da mesma forma, à medida em que as equipes estudam comprometem-se a conviver com elas, muitas vezes
os seus processos de negócio de maneira estruturada e utilizando controles paralelos.
sistemática elas percebem quais oportunidades de
melhoria são possíveis com o novo sistema.
entender o mudanças em
processo processos
identificar
discrepâncias prototipação
e decidir parametrização e testes
eliminação
entender o
pacote customização
parametrização
customização
requisitos e mudanças em processos módulo
objetivos do projeto de/para módulos relacionados adaptado
Prototipação é o nome dado ao processo pelo qual desta forma acelerar a tomada de decisões. Os testes
os usuários "modelam" seus processos no sistema e devem ser os mais completos possíveis envolvendo
realizam testes da maneira mais completa possível, inclusive os aspectos de integração entre os módulos.
identificando problemas não previstos, necessidades de Além das rotinas do dia-a-dia também devem ser
configuração em outros módulos relacionados, testadas rotinas mensais e semanais tais como
problemas de integração etc. A empresa deve montar fechamentos contábeis, inventários, fechamento de
um "laboratório de prototipação", isto é, uma sala onde custos etc.
é disponibilizado o acesso a um ambiente de teste que Após cada sub-etapa de adaptação de um módulo
deve reproduzir da melhor maneira possível o futuro deve-se realizar o treinamento dos usuários finais e
ambiente de produção. Nesse ambiente os usuários acionar a conversão de dados para o novo sistema
podem fazer a modelagem dos seus processos e testes dando início à operação do módulo. O aspecto mais
de configurações alternativas. Preferencialmente o crítico a ser considerado é a definição do momento em
laboratório deve ser comum a todos os módulos para que se considera a adaptação do módulo encerrada.
permitir fácil comunicação entre as diversas equipes e Trata-se de um processo de balanceamento entre risco
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verificação e digitação de dados contábeis e de custo. que já implementaram sistemas ERP e encontram-se na
Com a implementação de sistemas ERP essa fase de utilização e que mostra que muitos benefícios
responsabilidade tende a ser transferida para os obtidos pelas empresas só foram percebidos passado
departamentos que dão origem aos dados (recebimento, algum tempo do início das operações. Segundo a
produção, almoxarifados etc.). pesquisa o início da operação do sistema (going-live) é
No que concerne ao treinamento de usuários finais é geralmente o único objetivo ou benefício atingido com
importante que ele não se limite a ensinar as funções e a implementação. Os demais benefícios são obtidos em
telas que o usuário irá operar. Entre outras coisas é etapa sucessiva naquilo que a pesquisa chama de
essencial que o treinamento enfatize a importância da "segunda onda" dos sistemas ERP, isto é, à medida em
entrada de dados corretos e que dados incorretos que a empresa começa a perceber todas as
propagam informações incorretas ao longo do sistema potencialidades da utilização do sistema. A pesquisa
em tempo real. Desta forma a imprevidência de um mostra que a segunda onda ocorre quando todas as
departamento pode gerar impactos imediatos em outros forças atuantes no sistema ERP finalmente se juntam: a
departamentos. Usuários de sistemas convencionais tecnologia, o redesenho de processos e,
não estão acostumados a situações onde erros de principalmente, as pessoas operando e executando os
entrada de dados podem repercutir rapidamente em novos processos.
toda a empresa. Segundo DAVENPORT (1999) a implementação de
De qualquer forma é improvável que tudo saia sistemas ERP tem sido tratada como um projeto na
conforme planejado. A implementação de sistemas em maioria das empresas, isto é, tem início, meio e fim.
geral interpõe desafios enormes e muitos deles só são Entretanto, está se percebendo que um projeto ERP não
efetivamente reconhecidos quando o processo estiver é um projeto, mas “um meio de vida”. Para obter todos
em curso. Conforme ZWICKER (1999), necessidades e os benefícios desejados dos sistemas ERP é preciso
requisitos de informações também são determinados encará-los dessa maneira e tomar as medidas gerenciais
pelas contingências e apenas eventualmente serão necessárias, por exemplo, a alocação de recursos para
reconhecidos quando estas contingências estiverem em um centro permanente de adaptação do sistema ERP à
curso. Posto de outra forma por BANCROFT, SEIP e novas necessidades. Segundo a pesquisa da
SPRENGEL (1998): “tenha certeza de que ocorrerão DELOITTE (1998), os benefícios dos sistemas ERP só
problemas porém comprometa-se com a mudança”. podem ser obtidos na etapa de utilização se após a
implementação a empresa mantiver o foco e esforços
A ETAPA DE UTILIZAÇÃO na obtenção dos resultados.
Uma vez implementados os sistemas ERP mantêm-
Após o processo de implementação a utilização do se em evolução contínua. As empresas fornecedoras
sistema passa a fazer parte do dia-a-dia das operações. procuram incorporar novos recursos para atender novas
ORLIKOVSKI e HOFMAN (1997) apresentam um necessidades de seus clientes, corrigir problemas
estudo da introdução de novas tecnologias e relatam a detectados e apresentar novas e melhores formas de
dificuldade em conhecer de antemão todas as suas executar os processos abrangidos pelos pacotes. Este
possibilidades de uso. Este conhecimento só se processo não é simples, pois cada atualização pode ter
concretiza após certo tempo de uso continuado da complexidade que varia desde a simples mudança de
tecnologia, por meio de idéias que surgem durante o uma tela até mudanças drásticas na filosofia do pacote.
processo de utilização. Esta é uma consideração Há situações onde esta evolução pode conduzir a
importante para a etapa de utilização de sistemas ERP, situações que caracterizam novas implementações. A
pois geralmente não se conhecem todas as necessidade de atualização constante e gerenciamento
possibilidades de uso no momento da implementação, das versões de sistemas ERP é uma das principais
quando o esforço é canalizado para fazer combinar o dificuldades da etapa de utilização destes sistemas.
pacote com a organização. Somente após esta etapa é
possível vislumbrar novas alternativas e possibilidades CONCLUSÕES
de uso na empresa. Desta forma a etapa de utilização
realimenta a etapa de implementação com novas A utilização de sistemas ERP constitui uma opção
necessidades que possivelmente serão atendidas por extremamente interessante para empresas que desejam
novos módulos e com a alteração de parâmetros já construir um sistema de informações integrado. Além
estabelecidos do sistema em uso. Evidentemente estas dos benefícios da integração são evidentes outros, por
alterações também causam mudanças em exemplo, os decorrentes da terceirização do
procedimentos operacionais. desenvolvimento de sistemas tais como redução dos
A DELOITTE (1998) relata os resultados de uma custos de informática e permanente atualização
pesquisa realizada em agosto de 1998 com 64 empresas tecnológica. Apesar destes sistemas serem adquiridos
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"prontos" de forma nenhuma constituem aparatos tipo Controle da Produção: MRP II / ERP. São Paulo:
plug-and-play. Estes sistemas possuem um ciclo de Editora Atlas, 1999.
vida não trivial e cuja complexidade decorre de uma DAVENPORT, Thomas H. The new industrial
série de fatores aos quais é imprescindível que se esteja engineering: information technology and business
atento. process redesign. Sloan Management Review,
Este artigo apresentou um modelo para o ciclo de Summer 1990, pp.11-27.
vida destes sistemas tentando retratar esta DAVENPORT, Thomas H. Putting the Enterprise into
complexidade. Para tanto foram discutidos diversos the Enterprise System. Harvard Business Review,
aspectos considerados importantes para o sucesso das Jul.-Ago. 1998, p.121-131.
diversas etapas do ciclo de vida: decisão e seleção, DAVENPORT, Thomas H. Living with ERP. CIO
implementação e utilização de um sistema ERP. Magazine, 01/12/1998. Disponível no site
Também foi discutido como estas etapas se subdividem http://www.cio.com/archive/120198_think_
em etapas menores eventualmente recorrentes e a content.html, 1999
necessidade de realimentação de etapas sinalizando um DAVENPORT, Thomas H. e SHORT, James E. The
processo que possivelmente nunca se encerra por new industrial engineering: information
definitivo. technology and business process redesign. Sloan
A recomendação para as empresas que estão Management Review, summer 1990.
planejando a implementação de um desses sistemas e DELOITTE. ERP’s Second Wave: Maximizing the
para as empresas que já implementaram em parte Value of ERP-Enabled Processes. Relatório de
algum deles, é que analisem cuidadosamente as pesquisa publicado pela Deloitte Consulting
dificuldades e os aspectos importantes em cada uma disponível no site http://www.dc.com/
das fases do seu ciclo de vida. Conhecendo esses whatsnew/second.html, 1998
aspectos pode-se planejar melhor o processo de GIBBS, W. Wayt. Software’s chronic crisis. Scientific
seleção, de implementação e de utilização de sistemas American, Set. 1994, p.72-81.
ERP. A expectativa é de que profissionais alertas a HECHT, Bradley. Chose the right ERP software.
estas questões consigam resolver melhor os problemas Datamation, Mar. 1997.
inerentes a uma mudança organizacional de grande LAUDON, Kenneth C. e LAUDON, Jane P.
porte que implicitamente sempre acompanha a adoção Management Information Systems. 4ª ed. Upper
destes sistemas. Saddle River: Prentice Hall, 1996
LOZINSKY, Sérgio. Software: tecnologia do negócio.
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