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O SINIFICADO DO No DE VOLUMES POR HORA ESPECIFICADO

PARA FINS DE RENOVAÇÃO E FILTRAGEM

1. Objetivo

Este tema tem por objetivo desvincular a determinação do cálculo das vazões
mínimas de ar exterior e de insuflação, dos volumes reais dos ambientes
beneficiados, com a utilização dos números de volumes por hora para fins de
renovação e para fins de movimentação do ar nos referidos ambientes,
chamados números de trocas de ar(“Air Change Rates”), mais utilizados em
projetos de Tratamento de Ar em Salas Limpas e em Estabelecimentos
Assistenciais de Saúde.

2. Vazão mínima de renovação


A vazão mínima de renovação de ar é determinada para fim precípuo de
manter a concentração máxima de CO2, pelo equilíbrio dinâmico entre as
entradas e saídas de CO2 no ambiente, se traduzindo portanto conforme as
considerações abaixo:

Vazão mássica de entrada de CO2 no ambiente (ME), proveniente das pessoas


e da vazão mássica de CO2 contida no ar exterior:

Logo

ME = Cae * MAE +C*MR + Cp * N

onde

MR = Vazão mássica de retorno


MAE = vazão mássica de ar exterior
Cae = concentração de CO2 no ar exterior em massa de CO2 por unidade de
massa de ar seco.
Cp = vazão mássica de CO2 emitida por pessoa.
N = número de pessoas no ambiente
C = Concentração máxima limite de CO2 no ambiente, expressa por massa de
CO2 por unidade de massa de ar seco

Vazão mássica de saída de CO2 do ambiente (MS) através do ar de retorno e de


escape por frestas.

Logo
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MS = C*Mesc + C*MR

onde:

Mesc = Vazão mássica do ar de escape pelas frestas

Pelo Princípio da Conservação da Massa, Mesc = MAE

Logo MS = C*(MR + MAE)

O equilíbrio dinâmico impõe que ME = MS

Logo

Cae * MAE +C*MR + Cp * N = C*(MR + MAE)

De onde MAE = N*Cp/ (C-Cae)

A expressão acima evidencia que a vazão de renovação não depende do volume


do ambiente.

A vazão de renovação se distribui pela área de trabalho e pode ser referida a um


volume do ambiente obtido pelo produto da área de piso por um pé-direito
padrão(altura do forro), obtendo-se o número de trocas de renovação.

A obtenção do volume pelo produto da área de piso pelo pé-direito real, pode ser
insuficiente ou exagerada, uma vez que a vazão mínima de ar externo é
conseqüente da contaminação por CO2, independentemente do volume real ou de
referência.

Por esta razão é que na Norma Suíça, na qual se baseou a NBR 7256 de 04/82, a
vazão de ar exterior de renovação é dada em termos de (m3/h) por m2 de área de
piso, e não por trocas de ar. Os dados de outras fontes, que utilizam as trocas
para renovação, se explicitam como 1/3 dos relativos à área de piso e portanto se
referem a volumes de 3,0 m de pé-direito, elegendo este valor como pé-direito
padrão.

Assim, a aplicação do No de trocas de renovação, com pé direito real de 6,0 m, a


vazão mínima de ar externo empregada para diluição de CO2, dobraria de valor e,
com pé-direito inferior a 3,0 m, seria insuficientes.

Os dados relativos a vazões volumétricas mínimas por pessoas também derivam


da manutenção da concentração interna de CO2 limitada em 1000 ppm, com ar
externo a 400 ppm, de onde também derivam os 27 m3/h por pessoa
estabelecidos na Portaria No 3523 do Ministério da Saúde.
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3. Vazão mínima de insuflação para fins de filtragem


A vazão mínima de insuflação, que corresponde às necessidades de filtragem,
é decorrente do equilíbrio dinâmico dos fluxos de partículas de entrada e de
saída do ambiente de forma a manter no interior do mesmo, uma
concentração máxima de partículas, que, em Salas Limpas, define a
“Classe de Limpeza” do ambiente.

A referida concentração é determinada pelo quociente do fluxo de partículas


em part/minuto pelo fluxo de ar que as arrasta, medições estas feitas no
ambiente ou no duto de retorno; desta forma a unidade da concentração será
de (part/min)/(m3/min) = part/m3 ou (part/min)/(ft3/min) = part/ft3.

A vazão mínima do ar de insuflação é então determinada por simulação da


concentração referida na análise dos fluxos e concentrações envolvidas em
termos de equilíbrio dinâmico, conforme abaixo:

Chamando Npart(E) = fluxo de entrada de partículas em part/min


N = part/min geradas no ambiente
Cins = concentração no ar de insuflaçâo
Qins = Vazão de insuflação na condição do ar padrão, tem-se:

Npart(E) = N + Cins*Qins

Chamando por outro lado

Npart(S) =fluxo de saída de partículas

QR = Vazão padrão de retorno


QESC = Vazão de escape por frestas, tem-se:
C = concentração correspondente à “Classe de Limpeza” (imposta)

Npart(S) = C* QR + C* QESC

As vazões na condição padrão do ar são proporcionais às vazões


mássicas.Logo, pela Lei da Conservação da Massa, a vazão de escape se
iguala à de ar exterior(QAE) e portanto

Npart(S) = C*(QR +QAE)

Mas QR +QAE =Qins

e Npart(S) = C*Qins
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O equilíbrio dinâmico dos fluxos de partículas impõe a igualdade entre Npart(E) e


Npart(S).Logo,

Qins * Cins + N = C*Qins (equação 1)

Chamando P1 a penetração no pré-filtro, P2 no filtro terminal e Cm a concentração


de partículas na mistura, tem-se:

Cins = P1*P2*Cm (2)

Com P1 = (1-EFFPF/100) e P2 =(1- EFFFT/100)


Onde EFF = eficiência de filtragem em termos porcentuais.

Mas Cm = (QR * C + QAE*CAE)/Qins , com CAE = concentração de partículas no ar


exterior.

Fazendo QR = (Qins - QAE) , tem-se Cm = [ Qins – Qae)*C +Qae * CAE)/Qins

Substituindo Cm em (2), resulta:

Cins =P1*P2*[(Qins - QAE)*C + QAE*CAE]/Qins

De onde Cins = P1*P2*[Qins*C + QAE * (CAE – C)]/Qins

Logo Qins*Cins = P1*P2*[Qins*C + QAE * (CAE – C)] (equação 3)

Substituindo Qins*Cins da equação 3 na equação 1, tem-se:

P1*P2*[Qins*C + QAE * (CAE – C)] +N =C*Qins

Explicitando Qins na equação acima, tem-se

Qins = [ N+P1*P2*QAE*(CAE –C)]/ [C*(1-P1*P2)]

A expressão acima evidencia também que a vazão de insuflação não depende do


volume do ambiente.

A vazão de insuflação da mesma forma como a de ar exterior, se distribui pela


área de trabalho e pode também ser referida a um volume do ambiente obtido
pelo produto da área de piso por um pé-direito padrão obtendo-se o número de
volumes por hora também conhecido como “No de trocas por hora” ou “Air
Change Rates” ou ainda “No de movimentações por hora”.

De forma análoga à observada para o ar de renovação a obtenção do volume pelo


produto do pé-direito real pela área de piso, para o cálculo da vazão mínima de
insuflação, aplicando o “número de trocas” especificado, pode ser insuficiente ou
exagerado, uma vez que a vazão mínima de ar de insuflação é conseqüente da
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imposição da concentração de partículas correspondente à Classe de Limpeza,


independentemente do volume real ou de referência.

As mesmas considerações são válidas para a determinação da vazão de


insuflação em “Estabelecimentos Assistenciais de Saúde”, cujos dados também se
referem ao pé-direito padrão de 3.0 m, a menos que haja indicação do pé-direito
de referência nas tabelas correspondentes.

A tabela 2 encontrada na página 16.11 do manual “Applications” da ASHRAE


2003, com relação às vazões de insuflação de Salas Limpas, evidencia a variação
do “Air Change Rate” com as alturas dos forros (pés direitos) de 2,5 m, 3,0 m, 6,0
m, 9,0 m, 12,0 m e 18,0 m, para as classes de limpeza 1, 10 ,100,1.000 ,10.000,
100.000 e 1.000.000 onde se nota que o ”No de volumes por hora” é inversamente
proporcional ao “pé direito” da sala.

Para a classe de limpeza 10.000, extrai-se da tabela o intervalo recomendado de


50 a 100 volumes por hora para 3,0 m de “pé direito”, o que resulta 150 a 300
m3/h por m2 de piso.

Portanto multiplicando-se o “No de volumes por hora” pelo pé-direito padrão,


obtém-se a “Vazão por unidade de área de piso”.

Assim com 150 a 300 (m3/h)/m2 obtém-se os resultados equivalentes de “No de


volumes por hora” para qualquer “pé direito”, bastando dividir as “Vazões por
área de piso” pelo pé direito real conforme abaixo, para comparar os resultados da
“conversão” com a tabela do ASHRAE, para a Classe de Limpeza 10.000:

Pés 2,5 m 3.0 m 6,0 m 9,0 m 12,0 m 18,0 m


direitos:
Conversão 60 a 120 50 a 100 25 a 50 17 a 33 12 a 25 8 a 17
ASHRAE 60 a 120 50 a 100 24 a 48 15 a 30 12 a 24 8 a 16

Como se pode observar os resultados são praticamente os mesmos com ligeira


prevalência dos obtidos pela conversão das “Vazões por unidade de área de piso”
para o “No de Volumes por hora” (“Air Change Rates”).

Por outro lado os “Dados Orientativos para Projeto de Salas Limpas” da


autoria do Eng. Bend Metzner, que são normalmente utilizados nos projetos de
Salas Limpas, dados estes apresentados no “Curso de Projetos de Salas
Limpas” ministrado pelo Eng. Miguel Ferreiros, os números de movimentações
correspondentes a 3,0 m de “pé-direito” se enquadram em média nos
apresentados na tabela 2 da ASHRAE , acima referida, para o mesmo “ pé-
direito”.

4. Conclusões relativas aos “Números de volumes por hora”


especificados para fins de renovação e para fins de filtragem
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a) Esses números são referências para estimativas das vazões


correspondentes e são inversamente proporcionais às respectivas alturas
de forro (pés direitos).

b) Não havendo indicação do pé-direito de referência, para aplicação dos


mesmos, sub-entende-se que o pé-direito padrão seja de 3,0 metros,
para cálculo do volume a ser considerado.

5. Observações complementares sobre as condições de operação das


instalações
a) Todos os dados, em termos de vazões volumétricas, nos projetos, manuais,
catálogos, livros e normas se referem à condição padrão do ar de 1,204
kg/m3 de densidade, que portanto são proporcionais às respectivas
vazões mássicas e não se alteram com a variação das condições termo-
higrométricas do ar.

b) As medições locais de vazões volumétricas implicam nas medições das


variáveis locais de temperatura, umidade relativa, que, juntamente com a
altitude local, permitem determinar os multiplicadores para definir os valores
correspondentes nas condições de projeto (padrões) e compará-los com os
de projeto para efeito de balanceamento.

c) A densidade do ar exterior (que varia no decorrer do ano e das horas do


dia), através de sistema micro-processado, deverá ser permanentemente
calculada, a partir de sensores de temperatura e umidade externas, a fim
de definir a variável virtual da vazão de ar externo e comparar com a do
“set-point” (vazão padrão de projeto) para atuar sobre o “damper” de ar
exterior a fim de introduzir permanentemente a vazão de ar exterior de
projeto no sistema, independentemente da variação das condições
externas.

d) A densidade do ar na aspiração do ventilador deverá também ser, através


de sistema micro-processado, permanentemente calculada, a partir de
sensores de temperatura e umidade relativa, situados na câmara de
aspiração do ventilador, a fim de definir a variável virtual da vazão total
de ar de insuflação e, comparando-a com a do “set-point” (vazão padrão
de projeto), atuar sobre o conversor de freqüência, a fim de introduzir
permanentemente a vazão de insuflação de projeto no sistema,
independentemente da variação das condições locais na câmara de
aspiração do ventilador.

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