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Codigo do trabalho : 1032

Título:
Reatores de biofilme algal: efeito da inclinação na produção de biomassa

Autores:
LETICIA RODRIGUES DE ASSIS; ADRIANA PAULO DE SOUSA OLIVEIRA; RAFAEL CARVALHO NOGUEIRA DA
GAMA; GIORDANNA MISSE MIRANDA; MARIA LÚCIA CALIJURI.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA - MG - BRASIL.

Apresentador: GIORDANNA MISSE MIRANDA

Forma apresentação: PÔSTER

Tema: II - EFLUENTES SANITÁRIOS E INDUSTRIAIS: CARACTERIZAÇÃO, COLETA, TRATAMENTO, DISPOSIÇÃO,


REUSO, LODO E BIOSSÓLIDOS

Sub Tema: 03 - TRATAMENTO-REATORES

Existe conflito de interesse?


Não

Introdução

Atualmente, cerca de 90% da produção de biomassa algal do mundo é obtida em sistemas abertos, como
lagoas de alta taxas, apesar das tecnologias de reatores apresentarem maior potencial em termos de
produtividade e controle das condições da cultura (Pruvost et al., 2015). Os reatores de biofilme algal
são recentes no cenário do cultivo de microalgas e têm se mostrado eficientes para aumentar a produção
de biomassa em sistemas abertos e para facilitar os mecanismos de colheita da biomassa, facilmente
realizada por raspagem (Christenson; Sims, 2012; Gross et al., 2013, Lee et al., 2014; Assis et al., 2017).
Além disso, esses reatores minimizam a limitação de luz e aumentam a transferência de massa de CO2,
quando comparados às lagoas de alta taxa (Johnson; Wen, 2010; Gross et al., 2013, 2016).

Os reatores de biofilme algal planos ainda podem ser posicionados em diferentes inclinações, de modo a
maximizar a área superficial para receber radiação direta e, assim, otimizar a produção de biomassa. De
acordo com Pruvost et al. (2015), a quantidade de luz que chega ao reator reduz com a variação do
ângulo de incidência solar, modificando também a transferência de luz na cultura, o que diminui a
produtividade da biomassa. Nesse sentido, alguns autores vêm trabalhando com diferentes configurações
de reatores na tentativa de minimizar esses problemas. Por exemplo, o estudo de Lee et al. (2014)
apresentou uma produtividade de 9,1 g.m-2.dia-1 em um reator com ângulo de inclinação de 90°,
utilizando o esgoto doméstico como meio de cultura e exposto às condições ambientais reais. Chen et al.
(2014) avaliaram um reator com 20° de inclinação, com meio de cultivo artificial, condições controladas

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e atingiram uma produtividade de 6,0 m-2.dia-1. Assis et al. (2017) avaliaram um reator de biofilme de
90º de inclinação adaptado a uma lagoa de alta taxa, tendo esgoto doméstico como meio de cultivo e
exposto às condições ambientais reais, e encontraram uma produtividade de 9,1 g.m-2.dia-1.

Objetivo do Trabalho

A pesquisa teve como objetivo avaliar a interferência da inclinação de reatores de biofilme algal na
produção de biomassa. Especificamente, foram estudados três reatores com diferentes ângulos de
inclinação: 15º, 45º e 90º. Os reatores estiveram expostos diretamente à radiação solar e tiveram como
meio de cultivo o esgoto doméstico pré tratado em tanque séptico. O estudo comparou os resultados de
produção de biomassa entre os reatores e a remoção de nutrientes do esgoto doméstico.

Metodologia Utilizada

A configuração experimental consistiu em três reatores para crescimento aderido da biomassa algal, que
possuíam diferentes inclinações em relação ao plano horizontal, sendo elas: 15º, 45º e 90º (Figura 1). Em
cada reator havia uma placa de acrílico (51 x 33,5 cm) (2 mm, Plasttotal) revestida por um material
suporte poliéster (Sk Textil, oxford, 100% poliéster) (51 x 33,5 cm) (Assis et al., 2017). O recipiente (55 x
35 x 9 cm; Plasútil) utilizado para apoiar o isopor e permitir a recirculação do esgoto até os materiais
suportes aderentes, apresentava uma abertura longitudinal na região inferior central de 17,6 cm², por
onde o efluente escoava por gravidade. Esse recipiente estava apoiado em uma bancada à 45,5 cm do
solo. Os reatores tiveram como meio de cultivo o esgoto doméstico primário, coletado de um tanque
séptico, e foram operados em vazão semi contínua de 5 L.dia-1. O esgoto recirculava do recipiente
apoiado no solo (caixa de plástico 33 x 27 x 46 cm, 15L) para ser distribuído nos materiais suportes
aderentes através de uma bomba submersa (Litwin 700/550) operada com vazão 550 L.h-1.

Figura 1. Sistema de reatores de biofilme algal com diferentes inclinações em relação ao plano
horizontal: (a) 15º, (b) 45º, (c) 90º.

O monitoramento da biomassa suspensa e aderida dos reatores ocorreu semanalmente. Na biomassa


suspensa foram mensurados oxigênio dissolvido (OD), temperatura e pH por meio da sonda Hach HQ40d
(Luminescent Dissolved Oxygen–LDO–para OD). Foram também obtidas as concentrações de sólidos
suspensos voláteis (SSV; 2540E), nitrogênio amoniacal (N-NH4+), nitrato (N-NO3-) e fósforo solúvel (Ps;
amostras filtradas a 0,45 µm), seguindo a metodologia APHA (2012). O acompanhamento da biomassa
aderida ocorreu através da determinação de STV (APHA, 2012) para a quantificação da biomassa total. A
radiação fotossinteticamente ativa (PAR) incidente foi medida com um radiômetro LI-COR LI-193
“Underwater Spherical Quantum Sensor”, entre o intervalo de 12:00h e 13:00h.

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O programa Minitab 17 ® foi utilizado para avaliar as diferenças entre os valores médios das variáveis
medidas nos reatores de biofilmes. Uma análise de variância (ANOVA) também foi realizada. O
experimento usado foi um delineamento inteiramente casualizado para teste Tukey com 5% de
probabilidade.

Resultados Obtidos ou Esperados

Na Figura 2 são apresentados as produções de biomassa total e os períodos em que as raspagens foram
efetuadas. Observa-se que as curvas apresentaram um comportamento semelhante entre os reatores e
que os picos de produção acompanharam o período em que a PAR também apresentou maiores valores e
que não houve precipitação (Figura 3). Durante todo o inverno, o reator 15º foi o que apresentou maiores
produções de biomassa total (312 g STV.m-2), representando cerca de 15% a mais de biomassa em relação
aos ângulos com inclinações de 45º e 90º. A partir de então, na primavera, o reator 90º foi o que
apresentou maiores produções em relação aos demais. Sua produção de biomassa total foi de 113 g
STV.m-2, sendo este resultado cerca de 5 e 2 vezes maior do que a produção dos reatores de 15º e 45º,
respectivamente.

Figura 2. Produção de biomassa total (STV) nos reatores com diferentes inclinações.

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Figura 3. Radiação fotossinteticamente ativa (PAR) e precipitação.

A temperatura do esgoto doméstico e dos meios de cultivo dos reatores mantiveram-se entre 20 e 24ºC,
faixa favorável para a realização da fotossíntese e a divisão celular da maioria das espécies de
microalgas (Ras et al., 2013). Os meios de cultivo de todos os reatores apresentaram valores de pH
próximos a 9 e saturação de OD de cerca 125%.

Os resultados referentes à remoção de nutrientes não apresentaram diferença estatística para N-NH4+
(maior que 90%) e Ps (entre 61 e 74%) entre os reatores com diferentes inclinações (p>0,05). A exceção
ocorreu para o N-NO3- (p=0,046), em que o reator com inclinação de 15º obteve um incremento de cerca
de 354%, ao passo que os demais reatores apresentaram aumento de, aproximadamente, 195 e 30%,
respectivamente, para os reatores de 45º e 90º.

Análise dos resultados

Os ângulos das inclinações dos reatores interferiram nesses resultados, uma vez que eles estiveram
expostos às condições ambientais e, a frequente precipitação ocorrida no período da primavera (Figura
3) removeu a maior parte da biomassa aderida nos reatores de 15º e 45º. O contato da chuva em contato
direto sobre estes reatores carrearam toda a biomassa já aderida, enquanto que no reator de 90º, a
chuva escoou paralelamente à biomassa, mantendo-a aderida ao reator.

De acordo com Von Sperling (2005), ambientes com presença de organismos fotossintetizantes possui
elevado valor de pH, uma vez que tais organismos assimilam a acidez carbônica do meio. Sendo assim,
em meios com pH maior que 9 e altas temperaturas, como encontrado nesse experimento, a
volatilização é favorecida. Portanto, além da assimilação algal e da nitrificação, a alta remoção de N-
NH4+ (maior que 90%) em todos os reatores foi também favorecida pela volatilização.

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A remoção de Ps em todos os reatores (entre 61 e 74%) foi considerada maior quando comparada aos
processos convencionais de tratamento de esgotos (até 35%) (Von Sperling, 2005). A remoção desse
nutriente foi realizada pela assimilação algal e também pelo mecanismo da precipitação, uma vez que o
pH atingiu valores altos (pH > 9) (Von Sperling, 2005).

Ao contrário dos demais nutrientes, notou-se um aumento da concentração de N-NO3- em todos os


reatores. A nitrificação foi favorecida juntamente com a assimilação de N-NH4+ pelas microalgas. Além
disso, os microrganismos nitrificantes possuem preferência por ambientes estáticos, justificando-se,
assim, o maior incremento no reator 15º, devido ao maior estabelecimento da biomassa aderida. Demais
autores como Babu et al. (2007) observaram um aumento da nitrificação mediante a presença de
biofilme. O reator com inclinação de 15º foi o que apresentou maior porcentagem de incremento,
seguido pelos reatores com inclinações de 45º e 90º.

Conclusões/Recomendações

Todos os reatores foram eficientes na remoção de amônia (> 90%) e fósforo (entre 61 e 74%) do esgoto
doméstico. Em relação à produção de biomassa, o reator de 90º foi o que melhor se manteve biomassa
aderida durante as diferentes estações (seca e chuvosa), obtendo picos de até 268 g STV.m-2 no inverno e
de até 128 g STV.m-2 na primavera. Recomenda-se que as avaliações da interferência das inclinações na
produção de biomassa algal sejam realizadas em maiores escalas, expostas as condições ambientais, para
obtenção de resultados de aplicabilidade técnica dos reatores de biofilme.

Referências bibliográficas

American Public Health Association – APHA. 2012. Standard Methods for the Examination of Water and
Wastewater, 22nd ed. APHA-AWWA-WEF, Washington, DC. 2012.

Assis, L.R., Calijuri, M.L., Couto, E.A., Assemany, P.P. Microalgal biomass production and nutrients
removal from domestic sewage in a hybrid high-rate pond with biofilm reactor. Ecological Engineering,
v.106, p.191-199, 2017.

Babu, M.A.; Mush, M.M.; Van Der Steen, N.P.; Hooijimans, C.M.; Gijzen, H.J. Nitrification in bulk water
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Christenson, L. B.; Sims, R.C. Rotating Algal Biofilm Reactor and Spool Harvester for Wastewater
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2013.

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Johnson, M., Wen, Z. Development of an attached microalgal growth system for biofuel production.
Applied Microbiology and Biotechnology, v. 85, n. 3, p. 525 – 534. 2010.

Lee, S. H.; Oh, H. M.; Jo, B. H.; Lee, S. A.; Shin, S. Y.; Kim, H. S.; Lee, S. H.; Ahn, C. Y. Higher Biomass
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Ras, M., Steyer, J.P., Bernard, O., 2013. Temperature effect on microalga: a crucial factor for outdoor
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Pruvost, J., J.F. Cornet, F., Le Borgne, V. Goetz, J. Legrand. Theoretical investigation of microalgae
culture in the light changing conditions of solar photobioreactor production and comparison with
cyanobacteria. Algal Research, v.10, p. 87–99, 2015.

Von Sperling, M. Lagoas de estabilização. 2ª ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais; v.3, p. 196. 2005.

Palavra-chave 1: esgoto doméstico Palavra-chave 2: microalgas Palavra-chave 3: tratamento de


efluentes Palavra-chave 4: condições ambientais Palavra-chave 5: crescimento aderido

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