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Codigo do trabalho : 999

Título:
Influência da precipitação na biorremediação de águas residuárias da suinocultura via microalgas

Autores:
CAROLINA FERRARI SILVEIRA; LETICIA RODRIGUES DE ASSIS; ADRIANA PAULO DE SOUSA OLIVEIRA;
GIORDANNA MISSE MIRANDA; MARIA LÚCIA CALIJURI.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA - MG - BRASIL.

Apresentador: GIORDANNA MISSE MIRANDA

Forma apresentação: PÔSTER

Tema: II - EFLUENTES SANITÁRIOS E INDUSTRIAIS: CARACTERIZAÇÃO, COLETA, TRATAMENTO, DISPOSIÇÃO,


REUSO, LODO E BIOSSÓLIDOS

Sub Tema: 04 - TRATAMENTO-LAGOAS

Existe conflito de interesse?


Não

Introdução

Diante do esgotamento dos recursos naturais, novas alternativas estão sendo estudadas para otimizar o
tratamento das águas residuárias visando a recuperação de água, nutrientes e energia. As águas
residuárias da suinocultura (ARS) são fontes de nutrientes e matéria orgânica, tendo destaque no
contexto da economia circular em razão do potencial de recuperação de recursos e reaproveitamento em
sua própria cadeia produtiva (Chen et al., 2020).

O cultivo de microalgas está entre as rotas de valoração da ARS mais promissoras, uma vez que ao
mesmo tempo que ocorre o polimento eficiente do efluente, uma biomassa rica em proteínas,
carboidratos e lipídeos é obtida e pode ser aplicada dentro da produção suinícola (Silveira et al., 2020;
Pham et al., 2020). No entanto, para garantir alta produtividade dessa biomassa com valor agregado é
essencial compreender os fatores que afetam o crescimento de microalgas em águas residuárias
(Sutherland et al., 2020).

Diversos aspectos afetam o crescimento das microalgas, entre eles, destacam-se os ambientais, como a
radiação solar, precipitação, temperatura; os operacionais, como incremento de CO2, profundidade,
tempo de detenção hidráulica (TDH); e os biológicos, como a presença de organismos competidores e
predadores, espécie dominante, toxicidade (Kumar et al., 2015).

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As lagoas de alta taxa (LATs) são uma remodelagem das lagoas de estabilização convencionais,
geralmente construídas em formato de canais abertos, em torno dos quais as águas residuárias circulam,
objetivando seu tratamento aliado ao cultivo das microalgas (Kumar et al., 2015). Esse sistema além de
permitir a adoção de um menor TDH, apresentam produtividade de biomassa de 2 a 3 vezes maior que as
lagoas de estabilização convencionais (Craggs et al., 2014).

Os fatores que limitam o desenvolvimento das microalgas são dinâmicos e requerem interpretação
singular de adaptação do processo (Pham et al., 2020). Nesse contexto, para consolidação do uso dessa
biotecnologia no tratamento da ARS é preciso compreender a relação entre a carga de nutrientes e de
matéria orgânica aplicada e o desempenho das microalgas, de forma a atingir remoções ótimas
combinada à máxima produtividade de biomassa com valor agregado.

Objetivo do Trabalho

O objetivo do presente trabalho foi avaliar o crescimento das microalgas submetidas a diferentes cargas
de nutrientes e matéria orgânica no seu meio de cultivo, decorrentes da influência da precipitação. Para
avaliar este objetivo, reatores foram operados em fluxo semi-contínuo, simulando os processos que
ocorrem nas LATs durante o tratamento de efluentes. Os dados de precipitação foram relacionados aos
resultados de caracterização física e química do afluente e efluente do processo de biorremediação da
ARS com microalgas, de forma a avaliar o desempenho do reator em termos de produção de biomassa e
remoção de nutrientes.

Metodologia Utilizada

A água residuária da suinocultura (ARS) foi proveniente de uma lagoa aerada, etapa de tratamento
posterior a um biodigestor anaeróbio, de uma unidade de tratamento de efluentes. Para avaliar o efeito
da carga aplicada sob o tempo de detenção hidráulica (TDH), o experimento foi realizado em duas Fases.
Na Fase 1, o reator foi operado por um período de 10 semanas, com início em 16 de janeiro e fim em 19
de março, período correspondente ao verão, tipicamente quente e chuvoso na cidade de Viçosa, Minas
Gerais. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a precipitação acumulada
foi de 800,2 mm e a temperatura média do ar foi 22,0 ºC (Figura 1a). Na Fase 2, o mesmo reator foi
operado durante 10 semanas, dessa vez entre 21 de abril e 29 de junho, período correspondente ao
outono, marcado por temperaturas mais amenas, que teve sua média próxima a 17,3 ºC e precipitação
acumulada de 62,6 mm (INMET) (Figura 1b).

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Figura 1- Precipitação e temperatura média compensada ao longo da (a) Fase 1 e (b) Fase 2.
O TDH adotado para ambos os experimentos foi de 9 dias, valor próximo ao apontado por Silveira et al.
(2020) como mais adequado para o cultivo de microalgas em ARS pré digerida anaerobicamente. Em
ambas as Fases, os experimentos foram conduzidos em casa de vegetação, com um reator operado em
fluxo semi-contínuo, volume de 15 litros e altura útil de 23 cm. A circulação da massa líquida era
garantida por meio de um misturar do modelo Litwin 700/550. Ressalta-se que a ARS foi coletada
periodicamente durante as duas Fases experimentais.

A caracterização da ARS afluente e afluente ao reator foi realizada semanalmente quanto aos valores de:
pH, oxigênio dissolvido (OD) e condutividade elétrica (CE), por meio de sonda multiparâmetro (Hach
modelo HQ30D/LDO); nitrogênio total Kjeldahl (NTK), nitrogênio amoniacal (N-NH4+), demanda química
de oxigênio solúvel (DQOs), alcalinidade e sólidos suspensos voláteis (SSV) de acordo com APHA (2012); e
clorofila-a (chl-a) (Nederlands Norm, 1981; Nush, 1980).

Resultados Obtidos ou Esperados

Uma vez que a ARS afluente esteve exposta às condições ambientais, a variação da temperatura e da
precipitação durante as estações do ano influenciaram o desempenho da biotecnologia de microalgas,
tornando imprescindível o seu monitoramento. A temperatura média da Fase 1 foi cerca de 4,7 ºC mais
alta que a média da Fase 2.

A precipitação acumulada durante a Fase 1 foi cerca de 13 vezes maior que a acumulada durante a Fase
2. É importante destacar que esta ocorreu apenas sobre a lagoa aerada instalada na estação de
tratamento, onde o efluente foi frequentemente coletado, o que pode ter provocado uma diluição na
ARS utilizada na Fase 1, proporcionando menor carga aplicada durante essa Fase. As cargas médias
aplicadas de DQOs foram de 175 e 489 mg/dia e de NTK foi de 152 e 782 mg/dia, durante a Fase 1 e Fase
2, respectivamente. Dessa forma, observou-se que a ARS afluente ao reator durante o outono (Fase 2)
tinha carga de nutrientes mais alta quando comparada com a utilizada durante o verão (Fase 1).

A diluição, resultado das precipitações intensas da Fase 1, pode ter contribuído para a baixa
concentração de N-NH4+ (89,4 mg/L), de SSV (68,5 mg/L) e de CE (1,5 mS/cm) observados na ARS
afluente. Esses valores estavam abaixo dos estabelecidos por Deng et al. (2018) para ARS pós digestão
anaeróbia, que relataram N-NH4+ de 104,3 mg/L, SSV de 330,0 mg/L e CE de 2,9 mS/cm. Portanto, pode-
se concluir que essas variáveis não foram inibitórias ao desenvolvimento das microalgas na Fase 1.

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Porém, a ARS afluente ao reator na Fase 2 possuía concentração de N-NH4+ de 402 mg/L e SSV de 765
mg/L e CE de 4,6 mS/cm, o que levou a uma menor concentração de chl-a (1,79 mg/L) em comparação
com a Fase 1 (2,13 mg/L).

Demais parâmetros como a alcalinidade (2248,5 mgCaCo3/L) e pH (em média 8,6) estiveram adequados
para o cultivo das microalgas em ambas as fases. As remoções de N-NH4+ e NTK foram maiores durante a
Fase 1, que caíram de 91% para 50% e de 71% para 40%, respectivamente. Além disso, foi observado
incremento de DQOs (13%) durante a Fase 2. Esses resultados sugerem que o aumento da carga aplicada
comprometeu a remoção da matéria orgânica e dos nutrientes.

Por fim, a qualidade da biomassa produzida foi avaliada a partir da relação chl-a/SSV, que foi de 1,87
para a Fase 1 e de 0,29 para a Fase 2, sugerindo uma cultura saudável de microalgas apenas na primeira
fase (Veloso et al., 1991).

Análise dos resultados

Para o tratamento eficiente das águas residuárias com microalgas, é fundamental a manutenção dos
microrganismos que trabalham em uma relação de simbiose. O pH próximo da neutralidade favorece o
desenvolvimento de bactérias e microalgas e a manutenção da alcalinidade é indispensável para garantir
a capacidade tamponante do meio, evitando variações bruscas no pH. Os resultados de alcalinidade
deste estudo foi suficiente para garantir a capacidade tampão do meio, mantendo o pH próximo a
neutralidade nas duas fases.

Sutherland et al. (2014) avaliaram as remoções de N-NH4+em LATs operadas com esgoto doméstico e
obtiveram resultados de maiores eficiências de remoção nos meses mais quentes, quando comparado aos
períodos mais frios do ano. Resultados semelhantes foram obtidos neste estudo, no qual durante o verão
foi alcançado cerca de 91% de remoção de N-NH4+ e durante o outono, esse valor ficou próximo a 50%. O
pH durante as duas fases esteve abaixo de 9, e portanto, a N-NH4+ não foi passível de volatilização, e
provavelmente foi removida por assimilação ou por nitrificação.

A DQOs representa a concentração de matéria orgânica disponível no meio de cultivo, e a remoção


alcançada durante a Fase 1 indica oxidação efetiva pelo consórcio bactérias-microalgas. Assim como
observado na Fase 2, outros autores também não observaram remoção de DQO quando a carga orgânica
aplicada aumentou (Deng et al., 2018).

A relação chl-a/SSV abaixo de 1,0 na Fase 2 indica uma população não saudável de microalgas,
provavelmente em razão da competição por nutrientes ou predação (Veloso et al., 1991). Dessa forma, a
maior produção de SSV na Fase 2 deve-se, em sua maioria, a presença de bactérias e outros
microrganismos, hipótese sustentada pela menor concentração de OD atingida durante essa fase. É
provável que o desenvolvimento das microalgas neste reator foi inibido pela alta concentração de sólidos
suspensos, de DQOs e de N-NH4+ na ARS afluente ao reator (Cheng et al., 2020). Além disso, o TDH de 9
dias não foi suficiente para adaptação das microalgas ao meio de cultivo, sendo necessário a modificação
desse parâmetro à medida que as características da ARS são alteradas.

Conclusões/Recomendações

Os resultados desse estudo demonstraram que quando a ARS afluente está mais concentrada, é
necessário que TDHs mais longos sejam aplicados, de forma que as microalgas tenham mais tempo para
se adaptar ao meio de cultivo e assimilar esses nutrientes em excesso. Essa interpretação foi obtida no
reator operado durante a estação seca (Fase 2, outono), em que precipitação não influenciou na diluição
da ARS afluente.

Portanto, sugere-se que durante o tratamento da ARS via microalgas, as condições meteorológicas sejam
monitoradas, juntamente com a carga de nutrientes afluente, de modo que modificações no TDH sejam
adaptados ao período do ano, evitando o desequilíbrio do consórcio microalgas-bactérias.

Referências bibliográficas

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Palavra-chave 1: Biomassa algal Palavra-chave 2: Remoção de poluentes Palavra-chave 3: tratamento


de efluentes Palavra-chave 4: carga orgânica Palavra-chave 5: lagoas de alta taxa

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