Você está na página 1de 6

Carta 2bis – à Senhora Martin1

08/outubro/1863

Querida Amiga,
Só poderei chegar a Alençon segunda-feira; o tempo me parece longo, tarda-me
estar junto a ti.
É inútil dizer-te que tua carta me deu grande prazer, exceto por ver que te cansavas
um pouco demais. Por isso, aconselho-te vivamente a calma e a moderação,
principalmente no trabalho. Tenho alguns pedidos da Compagnie Lyonnaise; mais uma
vez, não te preocupes tanto, chegaremos, se Deus quiser, a fazer uma bela casinha.
Tive a felicidade de comungar em Nossa Senhora das Vitórias, que é como um
pequeno paraíso terrestre. Também mandei acender uma vela na intenção de toda a
família.
Abraço todas vós de coração, esperando a felicidade de ser reunido a vós. Espero
que Maria e Paulina estejam se comportando!
Teu marido e verdadeiro amigo, que te ama por toda a vida.
(Luís Martin)

Carta 46 – a Luís Martin, em viagem de negócios

1869

Meu querido Luís,


Recebi essa manhã tua carta, que estava esperando com grande impaciência.
Como fiquei impressionada por ver que, contra toda esperança, tinhas chegado a fechar
alguns negócios2. Foi Nossa Senhora das Vitórias quem te protegeu.
Fui ver a pequena Celina domingo. Ela é muito forte e vigorosa, se visses como
ela engatinha; em um mês, seu peso aumentou em uma libra e meia.

1
Por ocasião de uma viagem de negócios a Paris, para tratar do Ponto de Alençon.
2
O sr Martin estava em Paris para tratar das encomendas do Ponto de Alençon.
Não tens necessidade de inquietar-te por causa das crianças; infelizmente, com
certeza não terei mais filhos. Sempre esperava, porém, ter um menininho, mas, se o bom
Deus não quer, resigno-me à sua vontade.
Sem dúvida, todo mundo sabe que não estás aqui, pois não vejo ninguém. Ainda
não percebi ladrões. Vigio a loja, não ouso subir. Sexta-feira à noite, vigiei até uma hora
da manhã.
Quando receberes esta carta, estarei ocupada arrumando teu estabelecimento; não
será preciso perder a paciência, não perderei nada, nem mesmo um lenço velho, nem uma
quina de móvel, enfim, nada; depois, estará bem limpo em cima e em baixo! Não dirás
que “somente mudei a poeira de lugar”, pois não haverá mais.
Disse às meninas que estava em Paris e que tinhas passado por Lisieux, que
voltarias quinta-feira à noite, mas que não poderias vê-las no Mans, apesar do grande
desejo que tinhas.
Eu te abraço de todo o meu coração; estou tão feliz hoje, ao pensar que vou te ver,
que não consigo trabalhar.
Tua esposa, que te ama mais que à sua própria vida.

Carta 108 – a Luís Martin

Lisieux, 31/outubro/1873

Meu caro Luís,


Chegamos ontem à noite, às quatro e meia; meu irmão nos esperava na estação e
estava encantado por nos ver. Ele e sua esposa fazem tudo o que podem para nos
proporcionar distrações.
Esta noite, domingo, há uma bela recepção em nossa honra na casa deles. Amanhã,
segunda-feira, partida para Trouville; terça-feira, jantar na casa da Sra. Maudelonde e,
talvez, passeio de carro à casa de campo da Sra. Fournet 3. As crianças estão fascinadas;
se o tempo estivesse bom, elas estariam no auge da felicidade.

3
Em Saint-Ouen-le-Pin, perto de Lisieux.
Mas eu sou difícil de distrair! Nada disso me interessa! Estou absolutamente como
os peixes que arrancas fora da água; eles não estão mais em seu elemento, têm que
perecer!
Isso me causaria o mesmo efeito se minha estadia tivesse que prolongar-se muito.
Sinto-me pouco à vontade, não estou em meu estado normal, o que influi no físico, e estou
quase ficando doente. No entanto, raciocino e trato de tomar as rédeas; estou em espírito
ao teu lado o dia todo; digo a mim mesma: “Ele está fazendo tal coisa neste momento”.
Tarda-me muito estar perto de ti, meu querido Luís; eu te amo de todo o meu
coração e sinto redobrar ainda mais minha afeição pela privação que sinto de tua presença;
para mim, seria impossível viver afastada de ti.
Essa manhã assisti três missas; fui à das seis horas, fiz minha ação de graças e
minhas orações durante a das sete e voltei para a missa solene.
Meu irmão está contente com os negócios; eles vão muito bem.
Tentarei te escrever amanhã, se for possível, mas não sei a que horas voltaremos
de Trouville. Apresso-me; esperam-me para fazer visitas. Retornamos quarta-feira à
noite, às sete e meia. Como me parece longo!
Eu te abraço como te amo. As meninas me recomendam dizer-te que estão muito
contentes por ter vindo a Lisieux e te mandam um abraço bem forte.

Carta 179 – a Luís Martin

24/dezembro/1876

Meu querido Luís,


Cheguei a Lisieux ontem à noite, às quatro e meia. Meu irmão estava me
esperando com um carro, onde encontrei uma boa escalfeta. Chegando à casa dele, vi a
Sra. Fournet, o Sr. E a Sra. Maudelonde, que me acolheram muito bem.
Depois do jantar, fiz tudo que era possível para alegrar meu irmão e dar-lhe um
pouco de coragem; ele me falou muito do Sr. Vital, que lhe escrevera no mesmo dia
contando sobre a consulta do Doutor X. e conjurando-o a agir energicamente e levar-me
a Paris. Queria muito ter lido essa carta, mas não me deixaram.
Enfim, dormi perfeitamente bem essa noite, contrariando minha expectativa. Mas
estava cansada da viagem. O médico chegou essa manhã, às oito e meia; examinou o mal
e disse que estava totalmente de acordo com o parecer do Doutor X., que a operação não
era necessária, que seria uma grande bobagem tenta-la. Prescreveu pílulas e não sei mais
o quê. Agora meu irmão está mais calmo e não quer mais levar-me a Paris.
Doutor Notta acha lamentável que, desde o princípio, não tenham feito a operação,
mas agora é muito tarde.
Todavia, ele parece dizer que posso ficar muito tempo desse jeito. Assim,
coloquemo-nos nas mãos do bom Deus, Ele sabe melhor que nós aquilo de que
precisamos: “É Ele que fere e cura”4. Irei a Lourdes na primeira peregrinação e tenho
esperança de que a Santíssima Virgem me curará, se isso for necessário. Enquanto
esperamos, tranquilizemo-nos.
Fico muito alegre por rever todos; como o tempo me parece longo! Como gostaria
de voltar hoje! Só fico contente contigo, meu querido Luís.
Preciso terminar, pois já é hora da sopa, e o Sr. e a Sra. Fournet tomarão parte nela
conosco. Acabo de passar contigo o melhor momento de meu dia, pois me aborreço um
pouco fazendo e recebendo visitas, mas isso não vai durar muito tempo.
Vou à missa de meia-noite com me irmão; a Sra. Maudelonde vai também pela
primeira vez em sua vida.
Preciso, porém, acabar, mas lamento o papel que me resta em branco. O que ainda
teria a dizer-te?
Parto amanhã de manhã5, às nove e meia, para chegar a Alençon à uma e quarenta.
Abraço todos vós. Adeus.

Carta 208 – ao Senhor Martin


Angers, junho/1877

Meu querido Luís,


Leônia e eu chegamos ao Mans6 e ouvimos uma missa antes de ir à Visitação. Às
nove e meia, mandei chamar Maria e Paulina, que já estavam preocupadas conosco!

4
Inspirado em Jó 4,5 (tradução da época).
5
26 de dezembro.
6
Domingo, 17 de junho
A Superiora mandara preparar para nós um bom desjejum com café, sobremesas
de todo tipo; veio nos ver e prometeu-me orações e uma Comunhão geral. Terça-feira à
noite, todas as religiosas e alunas fizeram, em minha intenção, uma peregrinação nos
jardins onde se encontra uma estátua de Nossa Senhora de Lourdes. Interessam-se por
mim tanto quanto é possível.
Após o desjejum, partimos para Angers, onde chegamos às três horas. Uma Irmã
veleira nos esperava na estação, conduziu-nos ao Hôtel de France, justamente em frente
à estação. Peguei minhas bagagens, já que era tão perto. Temos aqui um quarto com duas
camas. A boa Irmã veio instalar-nos e nos levou em seguida à Visitação, vamos sair por
volta de oito e meia.
Irmã Marie-Paula não quer deixar as crianças; chorou ao revê-las, Maria também.
A Madre Superiora passou uma hora conosco, ela manda toda a Comunidade rezar por
mim. O capelão, que parece um santo, também veio nos visitar durante quarenta e cinco
minutos, nunca vi um padre tão agradável e tão bom. Eu estava decidida a tomar, na volta
o trem que sai de Angers à seis da manhã, para chegar cedinho ao Mans e estar em casa
às cinco da tarde, mas esse excelente padre me disse que, se eu fosse curada, ele mesmo
gostaria de dizer, no sábado uma missa de ação de graças e fazer uma bela cerimônia, que
me explicou; não me recordo mais, ele faz questão que haja muita gente!
Enfim, se eu for curada, não acredito que poderei chegar em Alençon antes de oito
da noite, será para cinco e meia.
Vimos, na Visitação de Angers, o bispo de Évreux7, que nos falou com bondade
e nos fez beijar seu anel.
Escrevo-te enquanto Irmã Marie-Paula fala às duas mais velhas, das quais não
quer se separar. Paulina sente um prazer extremo na Visitação de Angers; em
contrapartida, Leônia está aqui, ao meu lado, muito entediada!
A surpresa que a boa Irmã tinha me anunciado é que a Irmã veleira irá em
peregrinação conosco.
Partimos amanhã de manhã, às sete e meia. Termino, pois a noite está chegando;
abraça por mim as meninas.
Toda tua.

7
Monsenhor François Grolleau, bispo de Évreux de 1870 a 1890.
Cartas extraída do livro “Santos Luís e Zélia Martin, Pais de Santa Teresinha,
Correspondência Familiar 1863-1888”

Tradução de Frei José Gregório Lopes Cavalcante Júnior, OCD

Você também pode gostar