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BANGUÊ

Quando finalmente retornei ao engenho de Santa Rosa me faz ter várias recordações de minha
velha e boa infância, o engenho que antes era motivo de animação, brincadeira e aconchego
agora vem com um peso da responsabilidade de saber administrá-lo. Os meus estudos em
Recife já se acabaram, agora eu, bacharel em direito homem feito com seus 24 anos voltava na
incerteza e um sentimento de vazio para o lugar onde deveria ser considerado "Lar". Mas ao
voltar, volto com a certeza da morte do meu avô, José Paulino já estará velho, seus olhos azuis
pesados e a pele enrugada entrega como o tempo age. Ao olhar para o meu avô me veio o
peso da vida em meus ombros, sendo agora herdeiro de um senhor de engenho, tenho eu
agora a consciência que o engenho não vai ser mais um lugar de férias durante a minha
jornada acadêmica, irei me tornar o que José Paulino é hoje; mas de certa forma tenho um
orgulho de nascer em berço de gente como essa, pensava em montar no humilde Santa Rosa o
luxo dos meus antepassados. Daria festas e encheria o Santa Rosa de todos os luxos que me
cabem.

Quando cheguei no casarão, não me via mais lá. Agora tenho que encarar a responsabilidade,
agora estou cercado dos meus, indo a favor da vontade de uma família numerosa.E ainda
tendo que encarar a dúvida de minha responsabilidade dentro do engenho.
Tia Sinhazinha era a primeira a indagar.

- Só Carlos mesmo para tomar conta de engenho... O que ele quer é rede e jornais.

O que mais mexia comigo era ver o declínio do meu avô, José Paulino não tinha mais a
imponência que o era dado. O velho antes não parava, montava em seu cavalo para ver o
corte, gritava para os carreiros, para o maquinista, mandava recado para o mestre de açúcar,
tudo dependia de suas ordens. Dormia pensando no trabalho e acordava às três da manhã
pensando no trabalho. O velho tudo sabia do engenho, nada era feito sem, acompanhava todo
o processo da fabricação do açúcar, não deixava escapar nada.

- Na época de Cândido eu não precisava me preocupar com isso, aquilo que era um homem
que fez a casa de encher de açúcar cor de ouro, nunca mais encontrei alguém como ele!

E o velho José Paulino de fazia presente em tudo no canavial, sabia o nome de todos os
trabalhadores que davam de serviço. De inverno a verão o trabalho era o mesmo.

- Só negro cativo, Zé Paulino quer abarcar o mundo com as pernas!! (Fala de tia Sinhazinha)

E realmente era verdade, tudo o que meu avô um dia o desejou e conseguiu, tudo o que um
dia ele pensou em ter.

Tempos, meses, semanas, dias já se passaram desde a minha volta ao engenho e o sentimento
de vazia só aumentava. Minha vida resumisse em ficar deitado na rede e ler jornais, jornais e
mais jornais, nunca pensei que Santa Rosa seria tão entediante. Quis sair um pouco dessa
solidão, montei no cavalo e comecei a rodar pelas terras do engenho, via agora as pessoas que
brincavam comigo trabalhando. Encontrei um homem que brincava na época de criança já
estava casado, tinha filhos e trabalhava no engenho.

Depois encontrei o meu avô e seus criados Não lhe perguntei nada. Senti uma espécie de
vergonha de estar ali fingindo de senhor. Demorei-me um bocado, mas o meu olho de chefe
não alcançava o que devia alcançar. Na volta disse ao meu avô que estivera no eito.
- Quantos homens tinham lá?

Não havia contado. Riu-se para mim. E como se me desse uma resposta fulminante:
- O moleque já trouxe os jornais do correio.

No quarto comece a refletir a minha situação os parentes não estavam vendo com bons olhos
um neto dentro da casa de um avó rico para morrer. Tio Joca cuidava mais dele do que de mim
Doeu-me esta suposição. Calcular com a morte do meu velho avô, do velho pai. Bem triste
condição está a que me reduziam. Fazia medo aos outros. Talvez que suspeitassem de algum
testame pois fora criado pelo velho e cresciam os olhos para o neto.

À noite, ouvi o meu avó roncando no quarto. Ainda a bem vivo, bulindo e já cogitavam de sua
morte, friamente.

A única companhia que eu tinha era da pequena negra Josefa, menina velha com seus 10 anos
de idade. Ficava em meu quarto enquanto a sua avó arrumava, brincava com as minhas meias
sujas, com as figuras nas revistas que eu sempre costumava ler. Ficava encantado ao ver a
alegria daquela menina.

Um dia andando pelo casarão, ouvia choro e gritos de agonia e ao fundo o barulho da conta
estralando.

- Vamos sua negra safada, me conte o que aconteceu! Fale, fale!

Todo esse barulho saia do quarto de tia Sinhazinha, estava Josefa com a bunda para cima e sem
calcinha apanhando. O motivo da surra?? Tia Sinhazinha inventou uma história que eu estaria
abusando de negrinha, quanta blasfêmia contra a minha pessoa, e as peias era para a coitada
admitir toda a história criada por Sinhazinha.

E o boato do rapaz que tinha abusado de uma pobre negrinha começou a rodar por toda região

Com toda a rotina do engenho,cada dia que passava se tornava mais intediante ,me faltava um
amor,todas as mulheres que passaram por mim no Recife, principalmente Luiza se fazia
presente na minha cabeça.
Mas chegará no engenho de Santa Rosa Maria Alice, mulher bonita, boa de carne, mas era
casada e não batia bem da cabeça. Sua doçura e companhia preenchia os meus dias tristes e
solitários, nossa amizade foi se firmando. E ver o cuidado que ela tinha por meu avô era muito
bonito. Já sonhei com ela uma noite ,uma noite inteira e que sonho despudorada!
QUANDO ABRI OS OLHOS estava apaixonado por Maria Alice. Por- que só podia ser mesmo
paixão aquela inquietude toda que me invadia, se por acaso deixasse de vê-la, se a não
encontrasse à tarde procurando sabe na cadeira de balanço, lendo. E com uma mulher casada
que não mostrava nenhum interesse por mim. Dava-me atenção como a s engenhos, das
qualquer outro que estivesse ali. Amava o seu marido, esperando as suas cartas com
ansiedade.
Os nossos passeios se tornaram frequentes, andamos de cavalo, sentia sua cabeça cheirosa
encostar em meu ombro e parecia um menino com satisfação do seu primeiro amor. Todos
esses momentos eram acompanhados de “não faça isso”. Um tempo depois lhe dei um beijo na
boca ,contidos por muito tempo o sentimento de alegria e satisfação era imenso.
Todas as noites de amor foram jogadas fora quando seu marido retornou, tive que me fazer de
desinteressado por ela, doía meu coração fingir que nada daquilo tinha acontecido. Ô vida
cruel, Maria Alice tinha me deixando e embarcou para a vida de boa esposa novamente.
Tempo se passou e o que eu temia aconteceu, o velho José Paulino, senhor de engenho do
Santa Rosa morreu. A dor de perder meu avô e várias recordações do passado vem na cabeça.
De noite, sozinho, na sala de jantar, com o candeeiro de gás e a mesa somente posta na
cabeceira, lembrei-me das noites de chá dos velhos tempos, da lâmpada de álcool
prateando tudo, a mesa cheia de gente, o meu avô contando histórias. E aquilo não era de
época remota: era de ontem, quase.
Com a mineradora querendo dominar as terras de Santa Rosa a qualquer custo e a incerteza do
progresso do canavial, me encontrei em uma situação de incerteza, acabar com o engenho ou
seguir com anos de domínio da minha família....
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