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1895
C, H,Williams
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OBRAS DE JOSÉ DE ALENCAR
O GUARANY
TOMO II
PALIS . TYT . PORTUG . DE SIMON RICOS E COMP . , RUA D’ERFIRTII, 1 .
J. DE ALENCAR
GUARANY
ROMANCE BRASILEIRO
TER CE IR A EDIÇÃO
REVISTA PELO AUTOR
TOMO SEGUNDO
RIO DE JANEIRO
B. L. GARNIER , EDITOR
69 , RUA DO OUVIDOR , 69
1
!
1
TERCEIRA PARTE
OS AY MORÉS
11
.
I
PARTIA
-
Olá ! A' frente toda a banda !
Os aventureiros chegárão-se formando um circulo
ao redor de Ayres Gomes ; Ruy já tinha tido occasião
de lançar uma palavra ao ouvido do italiano; e ambos,
um pouco pallidos mas resolutos, esperavão o desfecho
daquella scena.
- O Sr. D. Antonio de Mariz , disse o escudeiro,
por meu intermedio vos faz saber a sua vontade : e
manda que ninguem se afaste um passo da casa sem
sua ordem . Quem o contrario fizer pereca morte na
tural.
Um silencio morno acolheo a enunciação desta or
dem ; Loredano trocou uma vista rapida com os seus
dous complices .
Estais entendidos ? disse Ayres Gomes .
O que nem eu , nem meus companheiros enten
demos é a razão disto , retrucou o italiano avançando
um passo .
Sim ; a razão ? exclamou em côro a maioria dos
aventureiros.
PREPARATIVOS
1
- 17 -
1
vez contou
cardos; 01
tureiros na
escrevêra l'
1
succumbir
1
migos .
Alvaro
do italiano
Ago
bem saiao
Não
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Fica
Marizi
IN
VERME E FLOR
VER ME E FLOR
- E o fogo ?
— Prompto.
Aonde ?
Nos quatro cantos .
Quantos sobrão ?
Dous apenas.
Seremos nós .
Precisais de mim ?'
Sim .
Houve uma pequena pausa , em que um dos aventu
reiros parecia reflectir profundamente emquanto o ou
tro esperava ; por fim o primeiro ergueo a cabeça :
- Ruy, vós me sois dedicado ?
Dei -vos a prova .
- Preciso de um amigo fiel.
- 30 -
- Contai comigo.
-
- Obrigado.
O desconhecide apertou a mão de seu companheiro .
Sabeis que amo uma mulher ?
- Vós m'o dissestes .
- Sabeis que é mais por essa mulher do que por
esse thesouro fabuloso que concebi este plano horri
vel ?
Não ; não o sabia .
- Pois é a verdade ; pouco me importa a riqueza ;
-
- Qual ? Dizei !
Hoje esta mulher me pertencerá ; entretanto se
por qualquer acaso eu vier a morrer, quero que ...
O desconhecido hesitou
Quero que nenhum homem possa ama-la, que
nenhum homem possa gozar a felicidade suprema que
ella póde dar .
· Mas como ?
- Matando - a !
Ruy sentio um calafrio.
- 31
protegião a innocencia,
Loredano approximou-se tremendo, pallido e offe
gante ; toda a força de sua vigorosa organisação, toda
a sua vontade poderosa e irresistivel , estava ahi ven
cida , subjugada, diante de uma menina adormecida.
0 que sentio quando seu olhar ardente cahio sobre o
leito , é difficil dizer, é talvez mesmo difficil de com
prehender. Foi a um tempo suprema ventura e horri
e
vel supplicio .
A paixão brutal o devorava escaldando-lhe o sangue
37
NA TREVA
algum .
A tres leguas do Paquequer, inventou um pretexto
- 45
DEOS DISPÕE
REVOLTA
- Ides já ?
- Neste instante .
Uma voz calma, sonora e de grave entonação , uma
voz que fez estremecer todos os aventureiros, soou na
entrada do alpendre :
Não é preciso irdes, pois que vim . Aqui me ten
des .
D. Antonio de Mariz , calmo e impassivel , adiantou
se até o meio do grupo , e cruzando os braços sobre o
peito, volveo lentamente pelos aventureiros o seu olhar
severo .
OS SELVAGENS
DESANIMO
della .
Muitos acontecimentos se tinhão passado entre elles
nestes dous dias ; ha circumstancias em que os senti
mentos marchão com uma rapidez extraordinaria, e
devorão mezes e annos n'um só minuto .
ESPERANÇA
dos de amarello .
7
|
X
NA BRECHA
Veremos .
Então ?
— Não ha duvida. D'aqui a duas horas dou-vos isto
prompto .
Martim Vaz , depois da morte de Ruy Soeiro e Bento
Simões, tinha-se tornado o braço direito de Loredano ;
era o unico a quem o italiano confiára o seu segredo ,
occulto para os outros em quem receiava ainda a in
fluencia de D. Antonio de Mariz.
O italiano deixou o aventureiro no seu trabalho, e
voltou pelo mesmo caminho ; chegando á cozinha, sen
tio-se suffocado por uma fumaça espessa que enchia
todo o alpendre . Os aventureiros acordados de re
pente blasphemavão contra o autor de semelhante
lembrança .
Quando Loredano no meio delles procurava indagar
a causa do que succedia , João Feio appareceo na en
trada do alpendre .
Havia na sua physionomia uma expressão terrivel de
colera e ao mesmo tempo de espanto ; de uin salto
approximou-se do italiano , e chegando -lhe a boca ao
ouvido, disse :
- Renegado e sacrilego, dou -te uma hora para ires
entregar -te a D. Antonio de Mariz, e obter delle o nosso
perdão , e o teu castigo . Se o não fizeres dentro desse
tempo, é comigo que te has de avir.
120
OFRADE
cimento extraordinario .
O aventureiro a quem Loredano mandára rondar a
esplanada, emquanto elle entrava , tinha começado o
>
Elle ! ...
O homem , que não era outro senão o nosso antigo
conhecido mestre Nunes, contou então, exagerando
com o fervor de seus sentimentos religiosos, aquillo
que sabia da historia de Loredano .
O aventureiro horrorisado, tremendo de raiva , não
deixou mestre Nunes acabar a sua historia ee lançou -se
para o alpendre, onde vio-se a ameaça que fez ao ita
liano .
128
DESOBEDIENCIA
- Tu duvidas ?
De ti não ; mas do soccorro .
-
O fidalgo a comprehendeo :
- Não, Pery ; eu, D. Antonio de Mariz, não consen
tirei nunca em semelhante cousa . Se a morte de alguem
podesse trazer a salvação de minha Cecilia e de minha
157
COMBATE
0 PRISIONEIRO
1
QUARTA PARTE
A CATASTROPHE
1
1
ARREPENDIMENTO
preço .
Que exigis então ? disse Martim Vaz .
Exijo que me acompanheis, que me obedecais
cegamente , succeda o que succeder .
Podeis ficar descansado, disse um dos aventurei
ros ; eu respondo pelos meus companheiros .
Sim ! exclamarào os outros.
Bem ! Sabeis o que vamos fazer, já , neste mo
mento ?
Não ; mas vós nos direis .
Escutai ! Vamos acabar de demolir esta parede e
atira-la dentro ; entrar nessa sala , matar tudo quanto
encontrarmos, menos uma pessoa .
E essa pessoa ...
É a filha de D. Antonio de Mariz, Cecilia . Se
algum de vós deseja a outra , póde toma - la ; eu vol- a
dou .
- E depois disto feito ?
166
fogos.
SV
Adianle; continuai .
Como a expedição de sahir é a mais perigosa e
arriscada , tomo-a sobre mim ; vós me acompanhais
e marchamos. Sómente em lugar de marchar sobre
- 167
0 SACRIFICIO
SORTIDA
promptos.
O fidalgo apertou-lhe аa mão :
- Salvai-o !
Oh ! sim , exclamou Cecilia , salvai-o, Sr. Al
varo .
REVELAÇÃO
0 PAYOL
12 .
210
morte violenta .
O fidalgo resolveo esgotar os ultimos recursos antes
de confessar -se vencido ; queria morrer com a conscien
cia tranquilla de ter cumprido o seu dever, e de haver
feito o que fosse humanamente possivel . Chamou Al
varo e entreteve -se com o moco durante algum tempo
em voz baixa ; concertavào um meio de realisar essa
idéa , de que dependia toda a esperança de salvação .
Ao mesmo tempo que isto se passara, os aventurei
ros reunidos em conselho, julgavão a Frei Angelo di
Luca, c o condemnavão por um voto unanime.
>
TREGO A
deita -las fóra, muito felizes ainda por não terem sido
victimas dellas .
Loredano fechando a porta da despensa é que os ti
nha salvado ; apenas dous dos aventureiros que o l.a
vião acompanhado tinhão tocado nessas bebidas, e
por isso poucas horas depois cabirão mortos, como
vimos, na ' occasião em que ião atacar D. Antonio de
Mariz .
Não erão porém essas scenas de luto e a situação cri
tica em que se achavão, que infundião nesses homens
sempre alegres e tão galhofeiros aquella tristeza que
não lhes era habitual. Morrer com as armas na mão,
batendo-se contra o inimigo, era para elles uma cousa
natural, uma idéa a que a sua vida de aventuras e de
perigos os tinha aſfeito.
O que realmente os entristecia, era não terem uma
boa cêa, e um cangirão de vinho diante de si ; era o
>
PELEJA
que estava a seus pés fez della uma arma terrivel , uma
clava formidavel, cujo poder em breve sentirão os Ay
morés . Apenas se vio livro do turbilhão dos inimigos
o indio tomou Alvaro nos seus hombros , e abrindo
caminho com a sua arma temivel, lançou-se pela flo
resta e desappareceo .
Alguns o seguirào; mas Pery voltou-se c fè - los arrc
pender-se de sua ousadia ; livrando-se do peso que
levava, carregou a espingarda com as munições que
Alvaro trazia e mandou uma bala aquelle que 0o perse
guia mais de perto ; os outros , que o conhecião pelo
combate da vespera, retrocedèrão.
A idéa de Pery era salvar Alvaro , não só pela ami
zade que lhe linha, como por causa de Cecilia , que elle
suppunha amar o cavalleiro ; vendo porém que o corpo
continuava inanimado, acreditou que Alvaro cstava
morto. Apezar disto não desistio do seu proposito ;
morto ou vivo devia leva-lo aquelles que o amavão , ou
para o restituirem á vida , ou para derramarem sobre o0
seu corpo o pranto da despedida .
Quando Pery acabou a sua narração , o fidalgo com
movido chegou -se á beira do sofá, e apertando a mão
gelada e fria do cavalleiro, disse :
Até logo, bravo e valente amigo ; até logo ! A
nossa separação é de poucos instantes ; breve nos reu
231
NOIVA
te negará.
Promettes cutào ? exclamou Isabel , cujos olhos
brilbárão com uma expressão de alegria.
Sim , Pery te promelte .
- Vem !
Dizendo essa palavra , a moça fez um gesto ao indio
ec dirigio-se acompanhada por elle á sala que ainda es
tava deserta como tinha deixado . Parou junto do sofá,
e apontando para o corpo inanimado de seu amante ,
acenou a Pery que o tomasse nos seus braços .
O indio obedeceo , e acompanhou Isabel até um ga
binete retirado a um lado da casa ; abi dcilou o seu
fardo sobre um leito, cujas cortinas a moça entreabrio,
corando como uma noiva ,
Corava porque o gabinele onde tinha entrado era
o quarto em que habitára c encontrava ainda po
voado de todos os sonhos de seu amor ; porque o leilo,
que recebia seu amante, era o seu leito de virgem casta
e pura ; porque ella era realmente uma noiva do tu
mulo .
Pery, tendo satisfeito o desejo da moça , retirou --se c
241
0 CASTIGO
CHRISTÃO
258
EPILOGO
tacazes .
II . 16
- 278
que perdêra.
Um sentimento de tristeza profunda annuviava o seu
semblante, lembrando-se de seu pai , de sua mãi , de
Isabel , de Alvaro, de todos que amava e que formavão
o universo para ella ; então o que a consolava era a es
296
de teu pai .
- Deixará ! ... exclamou a menina , empallidecendo .
Tu queres me abandonar ?
– Pery é um selvagem , disse o indio tristemente ;
não pode viver na taba dos brancos .
- Porque ? perguntou a menina com anciedade .
Não és tu christão como Cecy?
Sim ; porque era preciso ser christão para te
te sal
var ; mas Pery morrerá selvagem como Ararê .
-
-Oh ! não , disse a menina, eu te ensinarei a co
nhecer Deos , Nossa Senhora, as suas virgens e os seus
anginhos . Tu viverás comigo e não me deixarás
nunca !
- Vê, senhora : a flor que Pery te deo já murchou
porque sahio de sua planta ; e a flôr estava no teu
seio . Pery na taba dos brancos , ainda mesmo junto de
ti , será como esta flôr; tu terás vergonha de olhar
para elle .
- Pery !... exclamou aa menina offendida.
Tu és boa ; mas todas as que têm a tua côr nào
têm o teu coração . Lá , o selvagem seria um escravo
dos escravos ; e quem nasceo o primeiro pode ser teu
17 .
298
Espera !
Olhal respondeo o indio inquieto apontando para
o rio .
A canôa , desprendida do tronco a que estava amar
rada , resvalava á discrição das aguas, e, gyrando sobre
si , desapparecia levada pela correnteza .
Cecilia depois de olhar se voltou sorrindo :
– Fui eu que soltei !
... Tu, senhora ! Porque?
Porque não precisamos mais della .
Fitando então no seu amigo os lindos olhos azues ,
disse com o tom grave e lento que revela um pensa
mento profundamente reflectido e uma resolução ina
balavel .
– Pery não pode viver junto de sua irmã na cidade
dos brancos ; sua irmã fica com elle no deserto , no
meio das florestas.
II . 18
1
1
Era alta noite ; sombras espessas cobrião as margens
do Paralıyba .
De repente um rumor surdo e abafado, como de um
tremor subterraneo, propagando-se por aquella solidão,
quebrou o silencio profundo do ermo .
Pery estremeceo : ergueo a cabeça e estendeo os
olhos pela larga esteira do rio , que , enroscando-se como
uma serpente monstruosa de escamas prateadas , ia
perder-se no fundo negro da flores'a.
O espelho das aguas , liso e polido como um crystal ,
reflectia a claridade das estrellas, que já desmaiavão
com a approximação do dia ; tudo estava immovel e
quêdo .
316
II . 19
NOTAS
DO TOMO SEGUNDO
TERCEIRA PARTE
OS AYMOR ÉS
1. Partida . . 3
II . Preparativos. 15
JIJ . Verme e flòr . .
27
IV . Na treva. 39
V. Deos dispõe 51
VI Revolta .. 65
VII . Os selvagens . 77
VIII . -
Desanimo. 89
IX . Esperança . 99
X. Na brecha.. 111
332
XI . - 0 frade .. 121
XII Desobediencia .. 131
1
QUARTA PARTE
A CATASTROPHE
I. 163
Arrependimento.
II . - O sacrificio .. 175
Notas. 327
15 !
183
197
207
217
017
258
267
257
016
-2
>