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Instituto Navarro de Paiva

Alunos

Trabalho académico elaborado para a unidade curricular de Teorias e Instituições


Contemporâneas de Educação do Curso de Mestrado em Educação Especial – Domínio Cognitivo e
Motor, da Escola Superior de Educação de Castelo Branco.

Junho e 2021

Índice

Conteúdo
Índice ........................................................................................................................................................ 1
Introdução .............................................................................................................................................. 2
Teoria da Eugenia ................................................................................................................................ 3
Teoria do Higienismo ......................................................................................................................... 5
Definição de Delinquência ................................................................................................................ 6
Breve História da Instituição........................................................................................................... 7
Missão e Valores ................................................................................................................................... 9
Centros Educativos............................................................................................................................10
Eficácia do Centro Educativo: resposta no processo de autonomização e
desvinculação do jovem delinquente .........................................................................................12
Objetivos da Intervenção Educativa ...........................................................................................13
Unidades Residenciais e Lotação .................................................................................................14
Análise do Instituto Navarro de Paiva através da Revista Sollicitare ...........................15
Relatório da visita ao Centro Educativo Navarro Paiva ......................................................16
Conclusão ..............................................................................................................................................16
Bibliografia ...........................................................................................................................................17
Anexos ....................................................................................................................................................18
Noticias da Época ..........................................................................................................................18
Revista Sollicitare (Edição º22) ...............................................................................................26
Relatório da visita ao Centro Educativo Navarro Paiva .................................................28
Decisão do juiz nos EUA, para a esterilização de um cidadão: ....................................38

Formação, Programas e Atividades – FILIPE


Parceria- FILIPE

Introdução

No âmbito da Unidade Curricular Teorias e Instituições Contemporâneas de


Educação do Curso de Mestrado em Educação Especial- Domínio Cognitivo e
Motor, da Escola Superior de Educação de Castelo Branco foi-nos proposto a
elaboração de um trabalho sobre a Instituto Navarro de Paiva.
Este trabalho é caracterizado por uma pesquisa exaustiva sobre esta
temática, tal como a análise de documentos representativos deste Institulo que nos
trnsportam para esta realidade.
Serão salientados aspetos tais como a teoria da eugenia, da degeneração e
teorias higienistas dos séculos XIX/ XX, e sua relação com o aparecimento dos
institutos para delinquentes e anormais. Em 1924, O Juiz Conselheiro Dr. José da
Cunha Navarro de Paiva deixa um legado testamentário destinado à fundação de
uma instituição para menores delinquentes. A Portaria 4.882 de 6 de maio de
1927, viria a classificar os menores delinquentes em categorias e respetivas
medidas privativas da liberdade, incluindo os classificados de anormais.
Partiu-se do enquadramento da delinquência juvenil para a importância dos
centros educativos, tal como a valorização destes no processo de reinserção dos
jovens delinquentes juvenis. Ainda assim, elaborou-se uma explicação sobre a
história e funcionamento do Centro Navarro de Paiva em Portugal.

Teoria da Eugenia
Durante o sec. XIX surgiram várias teorias científicas nomeadamente ao nível da
biologia e da economia que serviram para a emergência de teorias sociais que
sustentaram políticas e ações em vários países do mundo.
Segundo Luppi (2009) o termo eugenia – “eu: boa; genus: geração” que significa (
bem nascido) – foi criado em 1883 pelo cientista britânico Francis Galton, Galton
(1822- 1911) acreditava que as habilidades humanas estavam relacionadas com a
hereditariedade. Galton definiu eugenia como “o estudo dos agentes sob o
controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das
futuras gerações seja física ou mentalmente". A eugenia é uma teoria baseada
na genética de que seria possível criar seres humanos com características
melhoradas e perfeitas a partir do controle genético dos mesmos. Esses
melhoramentos não seriam, porém, apenas biológicos, mas também sociais,
psicológicos, económicos e culturais. Francis Galton, primo de Charles Darwin, que
se dedicava aos estudos da hereditariedade e à transmissão de características pela
hereditariedade, foi influenciado pelas teorias de Mendel (1822-1884) que foi um
monge checo e botânico. Segundo Matos (2010) Mendel realizou cruzamentos
entre ervilhas de casca rugosa e lisa e obteve na primeira geração só ervilhas com
casca rugosa. Hoje facilmente interpretamos o fenómeno à luz dos conhecimentos
da genética, no entanto, naquela época começou a emergir a teoria da degeneração.
Tal como acontecia com as ervilhas, ao cruzarmos duas variedades e no final a de
características inferiores se sobrepõe à de qualidades superiores, também ao
permitir-se a miscigenação de raças e a reprodução das pessoas com
características físicas, mentais, higiénicas, económicas, literárias inferiores
poderíamos estar a contribuir para o a extinção da espécie humana uma vez que as
características dos degenerados se iriam sobrepor. A teoria do naturalista inglês
Charles Darwin confirmava o que Gregor Mendel havia dito anteriormente: –
unidades hereditárias não sofriam influência do meio ambiente, ou seja, ainda que
fossem realizadas alterações no ambiente social, isso não resultaria em melhorias
permanentes ou duradouras das características hereditárias. Galton , segundo
Luppi (2009) definia a eugenia como uma ciência que buscava compreender as
leis da hereditariedade, com o objetivo de melhorar o que as raças possuíam de
melhor, sejam essas características físicas ou mentais, e garantir saúde às gerações
futuras. Matos (2010) refere que Galton em 1907 foi presidente da Sociedade de
Educação Eugénica ,em Inglaterra, tendo sido sucedido no cargo pelo sétimo filho
de Darwin.
No início do século XIX assistiu-se em Portugal ao principiar da afirmação da
superioridade biológica de uma população que se queria com características de
dominância e superioridade. Surgiram alguns propósitos vindos da antropologia e
da medicina que tentavam promover a superioridade racial da população
portuguesa. Uma das formas de promover a pureza da raça seria através da
eugenia, e através de debates que alertavam para os perigos da miscigenação com
indivíduos de outros grupos raciais ( Matos 2010)
Sobre a eugenia em Portugal no início do séc. XX, Matos (2010) refere o seguinte:
Deverão ser adotadas medidas para manter e conservar a raça portuguesa:
 Introdução do exame pré-nupcial;
 A proibição do casamento entre doentes de corpo e de espírito;
 O isolamento de indivíduos perigosos para a raça.

Mendes Correia, em 1927 referiu no Congresso Nacional de Medicina que era


urgente “tomar medidas eugénicas” no intuito de salvarmos a raça.
Foi nos Estados Unidos que a eugenia ganhou contornos mais negativos: o controle
de quem se reproduziria e quem não teria esse direito. "Isso acontecia porque os
Estados Unidos pareciam estar se 'degenerando' - essa era a palavra usada na
época",
A ação eugénica, em Portugal, não esterilizou nem exterminou por razões
«biológicas». A luta pela “qualidade da população portuguesa” prendeu-se,
sobretudo, com o desenvolvimento”.
Segue em anexo, um documento, elaborado por um Juiz, nos Estados Unidos da
América, sobre o veredito de um cidadão que deveria ser esterilizado em prol da
eugenia.

Teoria do Higienismo
“MOVIMENTO HIGIENISTA” E HISTORIOGRAFIA.--- “MOVIMENTO HIGIENISTA”
NA HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL: DO HOMOGÊNEO AO
HETEROGÊNEO—artigo

Segundo DELGADO (citado por Martins 2020, p. 2) “A criança e a sua


infância são objetos de estudos e de investigações de várias ciências, convertendo-
os em centro de políticas, práticas e análises conceptuais, a partir da
Modernidade”. (DELGADO, 1998).
Tal como refere Edivaldo Góis Junior, no fim do século XIX e início do XX,
surgia uma nova mentalidade que se propunha a cuidar da população, educando e
ensinando novos hábitos designando-se pro “movimento higienista”. Pretendia-se
dar respostas na melhoria das condições de saneamento e por sua vez das
condições de saúde da população.
Tal como refere (MARINS, 1998:133) citado por Junior, nesta época as
populações pobres eram “acusadas de atrasadas, inferiores e pestilentas; essas
populações seriam perseguidas na ocupação que faziam das ruas, mas sobretudo
ficariam fustigadas em suas habitações”.
Com o passar dos tempos, houve um crescente desenvolvimento da
medicina e pretendiam conhecer as origens e suas possíveis curas, para as doenças
da sociedade. Com isto, pretendia-se evitar a mortalidade infantil originária de
doenças resultantes de natureza social, tal como doenças epidémicas. (CORREIA,
1934, Citado por Martins, 2020, p. 11).
Santos e Junior defendem que,
O Higienismo idealizava obter cidadãos com conduta racional no que diz
respeito à doença, era a “simples prática da educação sanitária [...], ou seja,
um meio destinado a combater os preconceitos e a ignorância do público”. A
estratégia passava por enquadrar, controlar todos os gestos, atitudes,
comportamentos, hábitos e discursos da população convencionou-se
chamar os problemas de higiene e saúde em higiene social. O higienismo
também abriu o campo para a proliferação das tecnologias políticas que
investigaram sobre o corpo, a saúde, as formas de se alimentar e morar, as
condições de vida, o espaço completo da existência das classes menos
favorecidas. (p.702)

Definição de Delinquência

Este conceito compreende um conjunto de comportamentos considerados


desviantes e/ou ilegais praticados por jovens, normalmente entre os 12 e os 16
anos, contudo a definição deste conceito não é linear pois, depende de vários
fatores, como por exemplo a época, o país ou a cultura. Nesta idade não é permitido
que o jovem seja julgado criminalmente como se fosse um adulto, beneficiando de
um sistema penal especial, o qual se suporta, essencialmente, dos centros
educativos.
De acordo com Sampaio (2010) Sampaio, M. (2010). O outro lado da vida:
Delinquência Juvenil e Justiça (Dissertação de Mestrado). Instituto de ciências
biomédicas Abel Salazar, Porto. delinquência juvenil é um subconjunto das normas
desviantes que violam as regras por imprudência, interesse, recusa ou desafio.
Sobre a deliquência juvenil Campos (1990) Campos, B. (1990). Psicologia do
desenvolvimento e educação de jovens (Vol II). Lisboa: Universidade Aberta. diz que
existem três classes indispensáveis: a delinquência menor, que se refere a atos
considerados ilegais devido, somente, à idade do infrator. O consumo de álcool ou a
condução de veículos sem as necessárias habilitações são dois dos exemplos mais
comuns; a delinquência de predação, que compreende atos de gravidade média
como vandalismo e o roubo; a delinquência agressiva, a qual abrange atos de
gravidade mais séria, tal como o homicídio, a violação ou o rapto entre outros que
envolvem, normalmente, força física.
No âmbito Lei Tutelar Educativa Lei N.º 166/99 de 14 de Setembro (Artigo
1.º) a prática, por menor com idade compreendida entre os 12 e os 16 anos, de
facto qualificado pela lei como crime dá lugar à aplicação de medida tutelar
educativa em conformidade com as disposições da presente lei. As medidas
tutelares educativas, visam a educação do menor para o direito e a sua inserção, de
forma digna e responsável, na vida em comunidade. As causas que excluem ou
diminuem a ilicitude ou a culpa são consideradas para a avaliação da necessidade e
da espécie de medida.
São medidas tutelares:
- A admoestação;
- A privação do direito de conduzir ciclomotores ou de obter permissão para
conduzir ciclomotores;
- A reparação ao ofendido;
- A realização de prestações económicas ou de tarefas a favor da comunidade;
- A imposição de regras de conduta;
- A imposição de obrigações;
- A frequência de programas formativos;
- O acompanhamento educativo;
- O internamento em centro educativo.

Breve História da Instituição

O Instituto Dr. Navarro de Paiva foi criado, pelo Decreto nº18.375, de 17 de


maio de 1930, enquanto entidade destinada ao internamento de menores, entre 9 e
16 anos, delinquentes e indisciplinados do sexo masculino, portadores de
deficiência mental e sujeitos à jurisdição dos tribunais de menores, constituindo-se
um serviço especial do refúgio Anexo à Tutoria Central da Infância de Lisboa. Em
1924, O Juiz Conselheiro Dr. José da Cunha Navarro de Paiva deixa um legado
testamentário destinado à fundação de uma instituição para menores
delinquentes. Por consequência, e pela Portaria nº 3.981, de 7 de abril de 1924, o
estado aceita o legado testamentário do juiz conselheiro Navarro de Paiva, de 670
contos que é entregue à Administração e Inspeção-Geral dos Serviços
Jurisdicionais de Menores, organismo responsável pela jurisdição de menores,
optando-se pela criação de um instituto destinado a menores delinquentes
portadores de deficiência mental. A Portaria 4.882 de 6 de maio de 1927, viria a
classificar os menores delinquentes em categorias e respetivas medidas privativas
da liberdade, incluindo os classificados de anormais.
Em maio de 1931 é apresentado o anteprojeto do Instituto Dr. Navarro de
Paiva no “IIº Salão dos Independentes”. Em 17 de dezembro são transferidos para
o Reformatório Padre António de Oliveira 12 anormais patológicos, devido à
carência de instalações adequadas.
Em 1932, a Direção Geral dos Serviços Jurisdicionais de Menores (DGSJM) adquire
uma propriedade na Estrada de Benfica, com cerca de dez mil metros quadrados.
O projeto definitivo deste instituto, elaborado pelo arquiteto Carlos
Chambers Ramos, viria a ser aprovado em janeiro de 1932.O Instituto teria a
capacidade para internar 45 menores. A sua construção seria iniciada em 9 de
maio de 1933, sob a coordenação da DGEMN, com um orçamento de 1.093294$65.

O Centro Educativo Navarro de Paiva (CENP) sofreu múltiplas alterações


funcionais e organizacionais e até de denominação desde a sua idealização no
início do século XX, até às atuais incumbências, estrutura e designação. Na génese
da sua criação e evolução histórica, estão as crescentes preocupações com os
menores em risco, os delinquentes e os “anormais delinquentes”, preocupações
subjacentes na Lei de Proteção da Infância de 1911 (A27 de maio de 1911 foi
criada a Lei de Proteção da Infância e foi instituída a primeira Tutoria de Infância,
que mais tarde veio a dar origem aos tribunais de família e menores. O primeiro
artigo da lei define que esta pretende "prevenir não só os males sociais que podem
produzir perversão ou crime entre os menores de ambos os sexos e de menos de
16 anos ou comprometer a sua vida ou saúde, mas também para curar os efeitos
desses males". Os jovens com menos de 16 anos tornaram-se penalmente
inimputáveis e passaram a comparecer perante estas Tutorias da Infância.)e
também na Reforma de 1925.
Parafraseando Rogério Canhões (2004), o ano de 1961 constitui um
assinalável ponto de viragem para o Instituto Dr. Navarro de Paiva: é outorgada
autonomização à direção e passa a depender da Direcção-Geral dos Serviços
Jurisdicionais de menores (mais tarde Direcção-Geral dos Serviços Tutelares de
Menores) e abre as suas portas às menores do sexo feminino. A revisão da
Organização Tutelar de Menores de 1978, com o Decreto-Lei n.º 506/80, de 21 de
Outubro, originou uma alteração na denominação do Instituto que passou a
designar-se Instituto Médico-Psicológico, alargando a autonomia ao sector
administrativo e redefinindo as competências do Instituto. Começou, então, a
destinar-se “à observação de menores mentalmente deficientes ou irregulares e à
colocação dos mesmos, com exceção dos deficientes irrecuperáveis”, passando,
ainda, a abranger menores de 18 anos que, não tendo praticado infração criminal,
estivessem em risco, como nos casos de desadaptação, abandono, negligência,
mendicidade, vadiagem, prostituição, libertinagem e consumo de aditivos. A
entrada em vigor da Lei Orgânica do Instituto de Reinserção Social (IRS),
DecretoLei n.º 58/95 de 31 de Março, determina a extinção da Direcção-Geral dos
Serviços Tutelares de Menores em 1995. O Instituto Médico-Psicológico é
integrado no IRS e passa a denominar-se “Colégio Navarro de Paiva” destinado ao
“acolhimento de grupos específicos de menores, em função da sua situação de
saúde mental”, prosseguindo, não obstante, os deveres atribuídos pela OTM de
1978 aos institutos médico-psicológicos. A última década do século XX foi
demonstrando as crescentes insuficiências do modelo de justiça de menores
vigente, ressalvando a necessidade de mudança ao originar uma profunda Reforma
do Direito de Menores em Portugal, a qual vigora até ao momento atual no quadro
da Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro, Lei de Proteção de Crianças e 50 Jovens em
Perigo e da Lei n.º 166/99, de 14 de setembro, Lei Tutelar Educativa. Ora, como
atrás assinalámos estas duas leis introduziram uma alteração radical no tipo de
intervenção do Estado junto dos menores, distinguindo os menores em
risco/perigo – LPCJP – dos menores com comportamento delinquente – LTE. No
decorrer desta reforma, é criado o atualmente designado Centro Educativo
Navarro de Paiva através da Portaria n.º 1200-B/2000 de Dezembro, bem como o
regulamento dos centros educativos – Decreto- Lei n.º 323-D/2000 de 20 de
Dezembro – que determina “as matérias relativas à organização, competência e
funcionamento dos centros educativos e as relativas à regulamentação do regime
disciplinar” aplicáveis ao Navarro de Paiva.
Ao longo de quase um século, a função protetora, reguladora e educadora do
Centro Navarro de Paiva tem sido alargada, reforçada e garantida de modo a ir de
encontro às necessidades de intervenção sobre os menores delinquentes e, mais
especificamente, de forma a responder à problemática da saúde mental. A LTE e o
Regulamento dos Centros Educativos permitiram, de modo mais organizado e
sustentado, assegurar o acolhimento, a socialização, a escolarização e a educação
para o direito dos menores delinquentes com vista à integração na sociedade.

Missão e Valores
O Centro Educativo Navarro de Paiva é hoje um estabelecimento dependente,
orgânica e hierarquicamente, da Direção Geral de Reinserção Social e dos Serviços
Prisionais (DGRSP), tutelada pelo Ministério da Justiça. A DGRS tem como
incumbência as políticas de prevenção criminal e reinserção social, nomeadamente
de prevenção da delinquência juvenil, das medidas tutelares educativas e de
medidas penais alternativas à prisão. Conforme estipulado pelo “Projeto de
Intervenção Educativo” (PIE,2011), a missão do CENP visa “proporcionar aos
jovens sujeitos a medida tutelar de internamento a aquisição de conhecimentos,
competências e valores sociais com vista ao sucesso da reinserção social e
profissional.”. Tal propósito está de acordo com o Regulamento Geral e Disciplinar
dos Centros Educativos que determina que o “… educando, por via do afastamento
temporário do seu meio habitual e da utilização de programas e métodos
pedagógicos.

Centros Educativos
Em Portugal existem 6 centros educativos A rede atual é composta por 6 centros
educativos: Centro Educativo de Santa Clara; Centro Educativo de Santo António;
Centro Educativo dos Olivais; Centro Educativo Padre António Oliveira; Centro
Educativo Navarro de Paiva e o Centro Educativo da Bela Vista.
De acordo com o Decreto-Lei n.º 323-D/2000 de 20 de dezembro, o qual aprova o
Regulamento Geral e Disciplinar dos Centros Educativos. O internamento em
centro educativo constitui a medida de último recurso destinada a menores cuja
necessidade educativa, evidenciada na prática de ato qualificado pela lei penal
como crime, deva ser satisfeita mediante um afastamento temporário do seu meio
habitual e com recurso a programas e métodos pedagógicos específicos.
Substancialmente diferentes dos estabelecimentos existentes, até à data do
decreto-lei, sobretudo pela introdução de três regimes de execução - aberto,
semiaberto e fechado - e pela limitação temporal do internamento, os centros
educativos são objecto de regulamentação extensa e minuciosa de forma a
acautelar o exercício dos direitos, liberdades e garantias dos internados e a
assegurar a sua vocação eminentemente educativa e ressocializadora. A
importância desta regulamentação foi realçada pelo legislador, ao fazer depender
da sua entrada em vigor o início da vigência das leis que marcam a reforma do
direito de menores: Lei Tutelar Educativa, aprovada pela Lei n.º 166/99, de 14 de
Setembro, e Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, aprovada pela Lei n.º
147/99, de 1 de Setembro. De acordo com o artigo 8º do Decreto-Lei n.º 323-
D/2000 de 20 de dezembro, os centros educativos têm a seguinte Natureza e
finalidades: Os centros educativos são estabelecimentos integrados na estrutura
orgânica do Instituto de Reinserção Social. Os centros educativos destinam-se
exclusivamente, consoante a sua classificação e âmbito:
a) À execução da medida tutelar de internamento;
b) À execução da medida cautelar de guarda em centro educativo;
c) Ao internamento para a realização de perícia sobre a personalidade, quando
incumba aos serviços de reinserção social;
d) Ao cumprimento da detenção;
e) Ao internamento em fins-de-semana.
3 - Para a execução de internamentos em regime aberto ou semiaberto, o Instituto
de Reinserção Social pode, através de acordo de cooperação, confiar a gestão de
centros educativos a entidades particulares sem fins lucrativos.
Na Diferenciação e faseamento (Artigo 12.º), os regimes de execução do
internamento são fixados pelo tribunal e diferenciam-se pelo grau de limitação da
liberdade e da autonomia dos educandos, designadamente na relação com o meio
exterior. Em cada regime de execução, a intervenção desenvolve-se por fases
progressivas, as quais são definidas no projeto de intervenção educativa de cada
centro e possibilitam ao educando, de acordo com o grau de cumprimento do seu
projeto educativo pessoal, adquirir maior liberdade e autonomia. O incumprimento
dos objetivos subjacentes a uma determinada fase pode determinar a regressão do
educando dentro do mesmo regime, ou, sendo caso disso, a proposta ao tribunal
com vista à revisão da medida.
Os Centros educativos podem ser em regime aberto (Artigo 13.º), aqui os
educandos residem e são educados no estabelecimento mas frequentam atividades
no exterior previsto no seu processo educativo, de acordo com a oferta existente
no meio exterior. As saídas sem acompanhamento serão autorizadas de forma
gradual, de acordo com a evolução do projeto educativo pessoal do educando. Nos
centros educativos em regime semiaberto (Artigo 14.º) os educandos têm as aulas
e atividade no centro educativo, mas poderão ser autorizados a frequentar
actividades no exterior, desde que se revele necessário para a execução inicial ou
faseada do seu projeto educativo pessoal, nesses casos serão acompanhados por
pessoal de intervenção educativa. Nos centros educativos em regime fechado
(Artigo 14.º).Existem ainda de acordo com o Artigo 16.º Centros ou unidades
especiais que se caracterizam pelo desenvolvimento de projetos de intervenção
educativa e terapêutica especialmente orientados para grupos de educandos com
necessidades específicas, nomeadamente no domínio da saúde ou decorrentes do
tipo de comportamento delinquente. Nos centros educativos especiais existem dois
subdiretores, sendo um deles responsável pelas questões técnicas de saúde
(art.º127.º).

De acordo com o (Artigo 21.º) a execução da medida tutelar de internamento é


estruturada e desenvolvida com base no projeto educativo pessoal do educando,
nos termos do artigo 164.º da Lei Tutelar Educativa e do presente Regulamento, o
educando é incentivado a participar na elaboração do seu projeto educativo com o
intuito de promover o seu empenho na execução do mesmo. Os pais ou
representantes legais também dão o seu parecer aquando da elaboração do
projeto. Segundo o art.º24, é criado um dossier individual do educando, no qual têm de
constar as decisões judiciais e os documentos técnicos, devendo estar regularmente
atualizado, o qual é único para cada educando e acompanha-o em caso de
transferência ou mudança de centro educativo e deverá ser destruído decorridos
cinco anos sobre a data em que o jovem a quem respeitarem completar 21 anos.
Existem Actividades formativas obrigatórias (Artigo 26.º), no âmbito dos
programas educativos e terapêuticos desenvolvidos em centro educativo. Estas
atividades devem ter em conta a idade, as características do educando, o regime e a
finalidade do internamento, bem como a salvaguarda de períodos de descanso e de
refeições e o período de descanso noturno tem a duração mínima de oito horas
seguidas. Além das atividades formativas obrigatórias, são desenvolvidos em
centros educativos, entre outros, os seguintes programas:
a) De formação escolar (art.º 27.º);
b) De orientação vocacional e formação profissional (art.º29.º);
c) De animação sociocultural e desportivo (art.º28);
d) De educação para a saúde e terapêuticos (art.º30 e 31.º);
e) De satisfação de necessidades educativas específicas associadas ao comportamento.
Estão estabelecidas as normas de funcionamento do centro dentro dos limites
da Lei e do Regulamento Geral e Disciplinar dos Centros Educativos. Das dez matérias
a consagrar no regulamento interno (art.º18.º), destacam-se as seguintes:
a) Horários e regimes de funcionamento interno;
b) Regras para o acolhimento dos educandos, fornecimento de roupas, calçado e
artigos de higiene pessoal, bem como guarda e entrega de objetos e valores pessoais;
c) Regras de contacto dos educandos com o diretor; d ) Regime de entradas, saídas e
visitas ao centro.
Apesar do extremo cuidado na elaboração da longa regulamentação relativa aos
centros educativos, não nos devemos esquecer que, tal como o próprio Decreto-Lei n.º
323- D/2000 o enuncia, estes deverão constituir sempre uma medida de último
recurso.
O diretor é auxiliado por um subdiretor, que o substitui em caso de falta e
impedimento.

A vida nos centros educativos deve, tanto quanto possível, ter por referência a vida
social comum e minimizar os efeitos negativos que o internamento possa implicar
para o educando e seus familiares, favorecendo os vínculos sociais, o contacto com
familiares e amigos e a colaboração e participação das entidades públicas ou
particulares no processo educativo e de reinserção social (Artigo 38.º).

Eficácia do Centro Educativo: resposta no processo de


autonomização e desvinculação do jovem delinquente

Segundo Almeida (2009) a autonomia é frequentemente invocada como um


dos eixos centrais da constelação de valores que caracterizaria a
contemporaneidade. (p. 15)
Os jovens inseridos nos Centros Educativos eram acompanhados por
equipas técnicas que providenciavam apoios necessários. Eram realizadas
atividades tanto de grupo como individuais baseadas num plano individual
devidamente estruturado para fortalecer a autonomia, empenho e independência
dos educandos, sendo estes a tomar as suas próprias decisões. Com isto pretende-
se que estes jovens ganhem confiança e sejam capazes de fazer escolhas de modo a
prepará-los para a saída da instituição.
Barreiro (2015), refere que cada jovem tem acesso a um plano formativo e
vocacional que abrange áreas profissionais do seu interesse que podem ajudá-lo a
incluir-se na sociedade quando a sua saída. Durante este processo, por vezes, são
elaborados protocolos com empresas que intervêm de modo a dar formação
profissional a estes jovens.
Refere ainda que, é de extrema importância a articulação com as famílias e
com a comunidade. A integração na comunidade tem sido deficiente, e
concomitantemente, origina um elevado grau de reincidência,
“Aliás, os números indicativos de reincidência dos jovens delinquentes
internados são os melhores identificadores do nível de eficácia dos centros
educativos. Sendo este um fator primordial na abordagem desta
problemática, deparamo-nos com a ausência de dados credíveis a este nível,
afirmou Licínio Lima Sub-diretor geral da Direção- Geral de Reinserção e
Serviços Prisionais (à susana em 6/06/2013) “Existem apenas estimativas a
partir de outros trabalhos pelos técnicos da direção-geral em 2011, segundo
as quais a reincidência global dos jovens que estiveram sujeitos a medidas
de internamento ronda os 48%,” e, para nossa maior surpresa, “a estimativa
verificou que os jovens que não estiveram internados em centros
educativos apresentam baixos valores percentuais quer de reincidência,
quer de indícios de reincidência.”

Objetivos da Intervenção Educativa


A Lei Tutelar Educativa estipula no art.º 145º as finalidades do Centro Educativo,
as quais radicam na observância de medidas tutelares educativas. Estas
apresentam diferentes modalidades conforme o projeto educativo de cada
educando: medida tutelar de internamento em Centro Educativo; medida cautelar
de guarda; internamento para realização de perícia de personalidade;
cumprimento da detenção e internamento em fins-de-semana. A sua execução tem
como objetivo a educação para o direito do jovem infrator de forma a garantir a
convivência social e o seu desenvolvimento como pessoa e cidadão, com sentido de
responsabilidade.
O Projeto de Intervenção Educativa (PIE), consagrado respetivamente, no art.º
162º da LTE e no art.º 17º do RGDCE, configura um papel essencial na estrutura e
organização da intervenção educativa em Centro Educativo. Esta intervenção
assenta em quatro princípios-chave:
- A responsabilização do jovem

O jovem deve compreender o impacto jovem deve compreender o impacto dos


seus atos nos lesados e estar disposto a reparar o dano causado. Deve, assim, ser
considerado um sujeito responsável, sendo o principal agente na execução do seu
projeto educativo pessoal.
- O internamento como oportunidade de mudança

A intervenção deve ser encarada pelo jovem como uma oportunidade de moldar o
seu futuro, através de uma reestruturação cognitiva e reorganização de aspetos
afetivos e relacionais, que estimulem a aprendizagem de novos comportamentos.
- Modelo Sistémico

O contexto familiar e social e os recursos existentes na comunidade têm que


constituir parte integrante da intervenção de modo a permitir a (re)inserção do
jovem no meio de origem.
- A relação como motor de mudança
A intervenção deve realizar-se num ambiente afável, consistente e disciplinado,
com base na relação pedagógica entre agentes educativos e jovens, coadjuvado
pelo aconselhamento e tutoria.

Unidades Residenciais e Lotação


O Centro Educativo Navarro de Paiva é constituído por três Unidades Residenciais,
duas destinam-se aos jovens do género masculino e uma, num outro edifício, às
jovens do género feminino. A Unidade Masculina reúne duas Unidades
Residenciais distintas: a Unidade de Acolhimento (UA) cujas instalações se situam
no 2º andar e a Unidade de Progressão (UP) localizada no 1º andar.
A lotação para a Unidade Masculina é de 24 camas, dispondo a Unidade Feminina
de apenas 12. De acordo com o PIE, os educandos de ambos os sexos não
frequentam os mesmos espaços do Centro educativo, excetuando festas de Natal,
celebração do dia da Criança e manhãs desportivas, entre outros. Por outro lado, os
educandos das duas Unidades Masculinas frequentam em conjunto as atividades
planeadas nos seus horários.
O Acolhimento e a Progressão dos educandos estabelecem-se de acordo com o
Mapa de Faseamento e Progressividade, que compreende 4 fases, sendo a Fase 1
aplicada ao Regime Fechado e as Fases 2, 3 e 4 aplicadas aos Regimes Aberto e
Semiaberto em conformidade com a Lei Tutelar Educativa, onde se encontram
descritos os três
aquisição de recursos que lhe permitam, no futuro, conduzir a sua vida de modo
social e juridicamente responsável.”
Na sequência do acima disposto, os valores do CENP estão alicerçados na dimensão
social e no espírito de equipa, assentando na responsabilidade e na orientação para
os resultados.

Análise do Instituto Navarro de Paiva através da Revista


Sollicitare
Segundo informação reunida através da Revista Sollicitare (Edição n.º 22),
destacamos dois casos com nomes fictícios que organizam novos projetos, novos
objetivos, novos sonhos de vida, tal como uma nova oportunidade, tal como a uma
breve caracterização do Instituto Navarro de Paiva.
Para além dos casos relatados, nesta revista destaca-se a existência de seis os
centros educativos em Portugal, localizados em Lisboa, Coimbra, Porto e Vila do
Conde. Recebem jovens com idades entre os 12 e os 21 anos. Dos 12 e os 16, caso
tenham praticado atos que sejam considerados crimes pela Lei, são aplicadas
medida de internamento num dos seus três regimes:
 Aberto- O jovem dorme no Centro Educativo mas continua a frequentar a
mesma escola e a passar férias com a família;
 Semiaberto- Controlo e a vigilância ocorrem em níveis mais elevados,
podendo a prática de atividades no exterior estar condicionada;
 Fechado- Apenas sai do centro educativo para receber cuidados médicos
ou comparecer no tribunal.
Refere-se também que naquele espaço existe medidas e o “objetivo não é
punir”, porém, consiste em educar para que se entenda o que é direitos, deveres,
valores e justiça. Com isto, pretendia-se que estes jovens futuramente fossem
integrados na comunidade e que fossem responsáveis.
Neste Centro Educativo o dia começa de madrugada, separado através de
arame farpado, eram recebidos rapazes e raparigas. As regras, rotinas e hábitos
eram cumpridos escrupulosamente. Quanto aos horários às quais eram
apreendidas logo na primeira etapa de um percurso composto por: integração,
aquisição, consolidação e autonomia.
Contavam com a presença de Técnicos Superiores de Reinserção Social (TSRS)
e Técnicos Profissionais de Reinserção Social (TPRS) para auxiliar no processo de
acolhimento e integração neste meio.
João (nome fictício). Tinha 15 anos de idade e encontrava-se no Centro
Educativo Navarro de Paiva, em Lisboa. Mas, quando conclui a medida que lhe foi
aplicada, refez a sua vida. Criando os seus próprios projetos objetivos e criou as
suas oportunidades. Quanto à Maria (nome fictício) tinha 18 anos e referia que
quando saísse do Instituto ia para a Alemanha estudar uma vez que queria ser
educadora de infância.

Relatório da visita ao Centro Educativo Navarro


Paiva
Num relatório de visita ao Centro Educativo Navarro Paiva, recolhido no
ano de 2004, faz-se uma breve caracterização de:
 Número de crianças e jovens institucionalizados segundo as faixas
etárias;
 Duração das medidas;
 Nacionalidade dos educandos;
 Tipos de crimes efetuados;
 Inserção do agregado familiar;
 Número de processos por tribunal;
 Caracterização do alojamento;
 Alimentação;
 Relação com o exterior;
 Recursos humanos,
 Etc.

Conclusão
Bibliografia

 Revista Sollicitare (Edição n.º 22),


http://osae.pt/pt/reportagemprint/revista-sollicitare/1/1/6/125
 Martins, E.M. (2020). A Representação Social da ‘Outra Infância’ no
Contexto de Oitocentos e Parte de Novecentos em Portugal. 4(3). p. 2- 11.

 Santos, T. N., & Junior, O. C. S. (2015, Fev). Higienismo e Eugenia no Curso de


Especialização em Visitadora Social. Revista de Enfermagem, UFPE On Line,
p. 702.

Barreiro, S,M,(2015). O Papel dos Centros Educativos no Processo de Reinserção


dos Jovens Delinquentes – O Centro Navarro de Paiva. Dissertação defendida em
provas públicas na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias para
Obtenção de Grau de Mestre em Serviço Social

Matos, P. (2010). "Aperfeiçoar a “raça”, salvar a nação: eugenia, teorias


nacionalistas e situação colonial em Portugal". Trabalhos de Antropologia e
Etnologia, V. 50, pp. 89-111. ISSN: 0304-243X
Luppi, S. (2009). A EUGENIA E O PROJETO DE APERFEIÇOAMENTO DO POVO
BRASILEIRO 1900-1933. ANPUH – XXV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA.

Direção-Geral do Património Cultural (DGPC).O SIPA – Sistema de Informação para


o Património Arquitetónico
http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SitePageContents.aspx?id=
08a335ea-db85-4fdd-862b-fe6e623e44a8
 Almeida L. P. R. (2009). Juventude, Família e Autonomia, Entre a norma
social e os processos de individuação. Tese Doutoramento, Universidade De
Lisboa (Instituto De Ciências Sociais) Repositório Institucional da
Universidade de
Lisboa.https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/319/1/21209_ulsd0578
15_td.pdf

Anexos
Noticias da Época

“O alerta chegou pouco depois à central da PSP sob a forma de ‘Motim no


Centro’, mas já ninguém conseguiu evitar que um segurança fosse espancado a
murro, pontapé, à cabeçada e à dentada.
Assim que os ponteiros do relógio marcaram 01h30 do dia de Ano Novo, a maior
parte dos 42 jovens detidos avançou em bloco contra os únicos três elementos –
um deles preparava-se para deixar o serviço – de uma empresa de segurança
privada que estavam nas instalações. A revolta foi de tal forma violenta que um dos
elementos da segurança foi obrigado a receber assistência médica no Hospital de
Santa Maria, em Lisboa: foi espancado a murro e pontapé por vários jovens, levou
uma cabeçada na boca e ainda lhe morderam a mão.
Numa primeira fase, o descontrolo foi total. Os seguranças não conseguiram
controlar a ira dos jovens, mas um deles conseguiu ligar ao director do instituto e à
PSP. Devido às fortes medidas físicas de segurança – portões electrónicos, muros
altos com arame farpado, entre outros – e à chegada do director, Paulo Rio, os
jovens acabaram demovidos das suas intenções.
Uma equipa de intervenção rápida da PSP, formada por sete agentes fortemente
armados, bem como três patrulhas da 3ª Divisão de Benfica já se tinham deslocado
para o local, onde tiveram de aguardar a abertura dos portões bem protegidos.
Quando entraram, já a situação estava controlada.
Contactada pelo CM para comentar este incidente, a Direcção--Geral de Reinserção
Social, que gere o Centro, não respondeu até à hora de fecho desta edição.”

Jovem de 17 anos estava há dois no Centro Educativo Navarro Paiva, JOÃO GASPAR
Um jovem de 17 anos suicidou-se na semana passada no Centro Educativo Navarro
Paiva, em Lisboa, um dos seis centros que existem no país e que acolhem menores
que tenham cometido crimes. De acordo com o Ministério da Justiça, o adolescente
estava internado nesta instituição há dois anos e, apesar de receber
acompanhamento psicológico desde Novembro, "nada fazia prever" que pudesse
pôr termo à vida.
“Aqui se conta como um bando de miúdos a cumprir medidas tutelares
educativas se prepara para dar corpo e voz a “O monstro que há em mim”, um
espetáculo inspirado na figura de Fernão de Magalhães e que é também uma lição
sobre superação e medo”
18:12 - 19/10/15 - POR LUSA, PAÍS DGRSP
“As estatísticas da DGRSP relativas ao mês de setembro indicam que o número de
jovens internados em centros educativos continuou a diminuir, descida que se
verifica desde julho de 2014.
A DGRSP adianta que relativamente ao mês de setembro de 2014 registou-se uma
diminuição de 29,52 por cento, quando estavam internados 210 jovens.
As estatísticas referem também que, desde novembro de 2014, a lotação é inferior
nos centros educativos, sendo atualmente a taxa de ocupação de 74 por cento.
Dos 148 jovens internados em setembro, seis encontravam-se em ausência não
autorizada, não regressando aos centros educativos após autorização de saída.
A maioria dos jovens internados (92 por cento) encontrava-se em cumprimento de
medida tutelar de internamento, 11 % em cumprimento de medida cautelar de
guarda e um jovem encontrava-se internado para realização de perícia sobre
personalidade.
A DGRSP indica igualmente que 68 por cento dos jovens estava em regime
semiaberto, encontrando-se em regime fechado 18 por cento.
As estatísticas de setembro refere também que metade dos jovens internados
cometeram crimes contra o património, nomeadamente roubos e furtos, e 44 por
cento praticaram crimes contra as pessoas, como ameaça e coação e ofensas à
integridade física.
Os dados indicam ainda que a maioria dos jovens internados (87,16%) eram
rapazes com 16 ou mais anos e foram alvo de processos oriundos de tribunais da
área da Grande Lisboa.
A 30 de setembro de 2015 encontrava-se ainda em centro educativo 40 jovens com
medida de internamento em regime de fim de semana, 10 com a medida de
internamento suspensa, quatro sem centro educativo atribuído e 84 indicados aos
tribunais, ou seja, que aguardavam para o início do cumprimento de medida, o que
totaliza 286.”
SOCIEDADE 27 de fevereiro 2015
«A “transição” das crianças e jovens do sistema de promoção e protecção para o
sistema tutelar educativo – onde são punidos por crimes cometidos antes dos 16
anos –, é cada vez mais preocupante, alertam os especialistas ouvidos pelo SOL.
Magistrados e técnicos não acreditam, por isso, que a nova lei tutelar educativa, em
vigor há menos de uma semana, venha atenuar o problema da justiça juvenil.
“O mais assustador é que estes miúdos foram retirados da família porque estavam
em perigo e alguns acabaram por cometer crimes dentro da própria instituição”,
disse ao SOL Maria do Carmo Peralta, presidente da Comissão de
Acompanhamento dos Centros Educativos.» A “transição” das crianças e jovens do
sistema de promoção e protecção para o sistema tutelar educativo – onde são
punidos por crimes cometidos antes dos 16 anos –, é cada vez mais preocupante,
alertam os especialistas ouvidos pelo SOL. Magistrados e técnicos não acreditam,
por isso, que a nova lei tutelar educativa, em vigor há menos de uma semana,
venha atenuar o problema da justiça juvenil.
Roubos, furtos e abusos sexuais são os crimes mais comuns cometidos pelos 198
jovens que estão actualmente nos seis centros do país. Mas aqui há também
condenados por crimes mais graves, como homicídios.
No total das 1.639 medidas tutelares em execução em 2013, 287 (17,5%) eram
internamentos em centro educativo. Ou seja, a maioria das medidas passava por
obrigações cumpridas no exterior. Os números mostram ainda uma tendência de
diminuição dos processos tutelares e dos internamentos desde 2011. Os centros
educativos também já não estão sobrelotados, como ocorreu no Verão, quando
fechou o centro de Santa Clara.
Passam por dezenas de técnicos antes do crime
Maria do Carmo Peralta reconhece as melhorias da nova lei (ver caixa) mas
considera que o problema está a montante da justiça juvenil. “Há falta de políticas
públicas eficazes de prevenção que façam o acompanhamento sério destas famílias
e não passem só por dar-lhes subsídios ou habitação”, diz a procuradora-geral
adjunta, criticando também o funcionamento de alguns lares.
André Rodrigues, investigador na área da delinquência juvenil, tem outros dados
que evidenciam esta realidade. Ao analisar 200 jovens com medida tutelar aplicada
pelo Tribunal de Família e Menores de Lisboa em 2009, concluiu que 41% já
tinham estado em lares de promoção e protecção.
O perfil destes jovens é claro: 64% chumbaram mais de três vezes, 80% viviam em
bairros sociais, 67,5% usufruíam do rendimento social de inserção, 63% já tinham
tido medida de promoção, 40% tinham pelo menos um familiar preso, 43%
queixas de violência doméstica na família e 83% sido referenciados pelo sistema
de justiça. “Passaram por seis equipas técnicas: da Segurança Social, autarquia,
polícia, comissão de menores, reinserção social e do sistema tutelar educativo. Mas
as intervenções não evitaram que viessem a cometer crimes”, disse ao SOL.
Mais velhos, com consumos e problemas do foro mental
Travar esta escalada de problemas é muito difícil, sublinha Fátima Duarte, da
Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco. “Quem está em
perigo é muito mais vulnerável à delinquência. Quando estes jovens chegam às
instituições de acolhimento já vêm com histórias de vida muito complicadas”, diz,
sublinhando a desestruturação familiar comum a estes casos. Há ainda outro
problema, alerta: “a partir dos 13, 14 anos nem sequer há instituições para colocá-
los. Têm medida de acolhimento decretada e não há vaga”.
O investigador André Rodrigues diz que o perfil de quem entra no sistema de
acolhimento mudou muito nos últimos anos. São mais velhos, têm problemas mais
complexos (saúde mental, dependências, comportamentos desviantes) e muitos
têm indícios de pre-delinquência. “Acolher já não é só dar cama, comida e roupa
lavada. Só são acolhidos no limite e o sistema não tem ferramentas para intervir”.
A pedido dos tribunais, a psicóloga forense Rute Agulhas faz a avaliação pericial de
jovens que cometeram crimes, entre os quais estão muitos já sinalizados em
criança por estarem em risco. “Atestamos se têm traços de psicopatia avaliando o
crime, as motivações, vendo se este foi premeditado, impulsivo, se o jovem agiu
para tirar prazer ou para ser aceite num grupo”, explicou ao SOL. Nessa avaliação,
os técnicos vão à raiz dos problemas. “Há quase sempre um somatório de factores
de risco. Há miúdos que já desde muito novos testam os limite. Mas se não têm
supervisão parental, são mal tratados ou crescem num ambiente onde a violência é
uma forma legítima de se ter o que se quer, tudo piora”, sublinha a perita forense.
Idade penal nos 18 anos?
O subdirector da Direcção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Licínio Lima,
também admite a “dificuldade em acabar com a linha contínua que leva os miúdos
da promoção e protecção ao tutelar educativo e depois à prisão”. Ao SOL, defendeu,
por isso, “uma nova política para a infância e juventude e uma tutela conjunta
sobre estes dois sistemas, embora com identidades diferentes e sem permitir que
os jovens se misturassem”.
Licínio Lima também não esconde que seria desejável aumentar a maioridade
penal para os 18 anos. Uma ideia que agrada aos outros especialistas ouvidos pelo
SOL.
rita.carvalho@sol.pt
Revista Sollicitare (Edição º22)
Relatório da visita ao Centro Educativo Navarro Paiva
Decisão do juiz nos EUA, para a esterilização de um cidadão:

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